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Uso de grupos operativos como alternativa educacional no ensino superior

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Academic year: 2021

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USO DE GRUPOS OPERATIVOS COMO ALTERNATIVA

EDUCACIONAL NO ENSINO SUPERIOR

Use of operative groups as alternative education in higher education El uso de grupos operativos como alternativa educativa en la

educación superior

RESUMO

A educação do ensino superior encara na atualidade uma modificação de panoramas e paradigmas que envolvem variáveis como o número de alunos presentes nas instituições de ensino superior, a heterogeneidade dos alunos, a capacidade das instituições em receber e formar os alunos, as normas que regem a formação superior, os profissionais que trabalham nas instituições e nas concepções educacionais/pedagógicas que os alunos são formados. Dentro dessa problemática, o uso de métodos que antes eram improváveis, hoje se mostra possível e plenamente executável. Frente este cenário, o trabalho justifica-se por propor o uso da técnica do grupo operativo como método de ensino de formação superior e para tanto, a metodologia adotada foi de rever teoricamente o assunto, apoiando-se materialmente em textos acadêmicos. Em conclusão, considerando as limitações da técnica como número de alunos e conhecimentos prévios dos comportamentos e papéis adotados pelos alunos trata-se de uma boa alternativa pedagógica para a educação superior unindo várias disciplinas numa visão interdisciplinar.

Descritores: Grupos Operativos, Educação, Interdisciplinaridade.

ABSTRACT

The education of higher education today faces a change of scenery and paradigms that involve variables such as number of students present in institutions of higher education, the diversity of students, the capacity of institutions to receive and train the students, the standards governing the higher education, professionals working in institutions and educational concepts / teaching that students are trained. Inside this issue, using methods that were unlikely today proves feasible and fully enforceable. Facing this scenario, the work is justified in proposing the use of the technique of the operative group as a teaching method for both higher education and the methodology adopted was to review the subject theory, relying materially from academic texts. In conclusion, considering the limitations of the technique as the number of students and prior knowledge of the behaviors and roles adopted by the students it is a good alternative to higher education pedagogical uniting several disciplines in an interdisciplinary view.

Descriptors: Operative Groups, Education, Interdisciplinarity.

RESUMEN

La educación superior enfrenta actualmente un cambio de panorámicas y paradigmas que involucran variables como el número de estudiantes presentes en las instituciones de educación superior, la heterogeneidad de los estudiantes, la capacidad de las instituciones para recibir y formar a los estudiantes, las normas que rigen la formación de la educación superior, los profesionales que trabajan en las instituciones educativas y conceptos/pedagógicas que se forman los estudiantes. Dentro de este problema, el uso de métodos que antes eran improbables hoy muestran ser posibles y completamente ejecutables. Frente este escenario, el trabajo se justifica por proponer el uso del grupo operativo del método de enseñanza superior y por lo tanto, la metodología adoptada fue revisar teóricamente la materia, basándose textos académicos materialmente. En conclusión, teniendo en cuenta las limitaciones técnicas, como el número de alumnos anteriores y el conocimiento del comportamiento y los roles adoptados por los estudiantes es una buena alternativa educativa para la educación superior uniendo varias disciplinas en una visión interdisciplinaria.

Descriptores: Grupos Operativos, Educación, Interdisciplinariedad. Ricardo Bandeira

Biomédico. Especialista em Processos de Ensino e Aprendizagem pela FMU. Docente da Faculdade Estácio FNC. Pesquisador Técnico de Laboratório da USP. Email: ricardoban@gmail.com Josemberg Baptista Fisioterapeuta. Doutor em Fisiopatologia Experimental (FMUSP). Mestre em Ciências Morfofuncionais (ICB/USP). Email: josemberg.baptista@ufes.br

Jodonai Barbosa da Silva Educador Físico. Mestre e Doutor em Ciências pela USP. Professor adjunto da UFPI. Email: jodonai@hotmail.com

Ane Kelly Lima Educadora Física. Doutora em Ciências pela USP. Email: anykelly.lima@yahoo.com Karina do Valle Marques Educadora. Mestrado em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres pela USP. Professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFU. Email: karinadovalle@yahoo.com Fabio França Lucas Biólogo. Técnico de Laboratório da USP. Email: fabioflucas@hotmail.com Marcelo Arthur Cavalli Odontologista. Mestrado e Doutor em Ciências pela USP. Professor no curso de Odontologia da FMU. Membro do corpo clínico do Hospital Alvorada de Moema, Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hospital São Luiz Itaim. Email: maccavalli@hotmail.com Liliana Ribeiro Educadora Artística. Fisioterapia pela Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande. Email: lilianaribeiro@ig.com.br

Flavio Silva Tampelini Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia na Ortopedia, Traumatologia e Desportiva pela PUC-PR. Mestre em Ciências Morfofuncionais pelo USP. Professor Assistente II da UFMT. Email: flaviotampelini@gmail.com

Alethéa Vollmer Saldanha Psicóloga. Mestre em Ciências Criminais com ênfase em violência. Pré-Doutorado em Sociologia pela USP. Docente no MBA de Gestão de Marcas - Branding pela Universidade Anhembi Morumbi. Email: vollmer.ale@gmail.com

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I n t r o d u ç ã o

As mudanças sociais relacionadas ao ambiente profissional tiveram um grande câmbio devido, em grande parte, à globalização. A união, compartilhamento e contato de diversas culturas, povos e sociedades causaram grandes impactos no mundo da economia e tal efeito causou por sua vez, grandes impactos na vida da população em geral1.

As transformações das carreiras, das exigências do mercado de trabalho atingiram diretamente a educação. As exigências da formação e aquisição de conhecimento da população economicamente ativa ordenaram a complacência da educação, principalmente daquela que tange a formação e educação superior (do ensino profissionalizante, tecnológico, da graduação e da pós-graduação), como o número de vagas, variedade de cursos, oferta de período de aula, e, sobretudo, preço2.

Deste modo, as Instituições de Ensino Superior (IES) tiveram que se adequar as novas tendências de mercado, além das exigências oriundas do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Como exemplo, uma das formas de adequação foi o modo imperativo ao qual um professor é formatado aos moldes da atual cobrança mercantil. Vale salientar o viés que envolve este profissional “formatado” ao molde necessário, pois, neste contexto, não são todos os professores que tem uma formação que lhe permita atuar como tal de forma plena. Mesmo havendo o gabarito da titulação, esta não é mais sinônimo totalitário de qualidade, e tampouco de experiência profissional3.

A dificuldade apresentada pelos docentes pode ser pensada apenas como um trabalho possível e não uma habilidade para lidar com o processo de

ensino-aprendizagem e consequentemente com tudo o que dele emana. Poder-se-ia dizer que os professores “estão” e não “são” integralmente mestres na arte de ensinar.

Isto significa que, por circunstâncias de mercado de trabalho, profissionais que tem a habilidade e conhecimento para lecionar migram para este mercado e por fim não executam o trabalho da maneira mais acertada. Esta mudança de postura do ‘estar’ professor causa um prejuízo de aprendizado do aluno, e isto acarreta um prejuízo do egresso perante o mercado de trabalho, queda nos índices de avaliação da instituição de ensino perante os órgãos reguladores, vulgarização da profissão professor perante o aluno, instituição e sociedade. Numa relação tão díspar ao passado próximo, o professor deve se adequar em sua formação para garantir em suprassumo a realização de seu trabalho e manutenção de sua profissão. Processo este defasado na atualidade, pois, existem poucos cursos que pontuam esta temática, o mercado de trabalho não estimula este feito, o processo de formação do educador, seja pela formatação dos cursos de graduação quanto pela pós-graduação não estimulam ou induz a geração de uma formação específica ao professor de ensino superior, além do histórico comportamento de considerar o professor aquele que “sabe”, pleno também na arte de ensinar4.

Na temática da execução da aula, o professor ainda se depara com o enigma de como realizar sua aula. Devido às mudanças sociais, a democratização e heterogeneidade de alunos, o aumento da exigência de tempo de dedicação, número de alunos e

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conteúdos curriculares que precisa desenvolver e ainda a desvalorização de sua profissão, o professor encara o problema de qual concepção pedagógica adotar, que ferramentas usar, se as concepções e ferramentas são adequadas, eficazes e ainda se são éticas5.

Num panorama conturbado como o

apresentado, faz-se necessário a proposta do uso de métodos diferentes daqueles excessivamente usados pelo professor, como a aula expositiva e seminários. Métodos que permitem uma avaliação do processo, não do resultado, algo já não bem visto nas recentes propostas educacionais. É necessária uma proposta que permita que o professor execute seu conteúdo, e que facilite sua relação com outras abordagens educacionais como a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade e que permita sobremaneira o aprendizado pelo aluno, permitindo, sobretudo, uma formação global e generalista, não reducionista e especialista como tem se tornado comum nas IES brasileiras.

Justifica-se assim, o uso de modelos educacionais que permitam a interação entre professor/aluno de melhor modo frente aos demais estilos de aula, que este permita a aproximação entre os colegas de turma, que seja valorizada e aprimorada as relações interpessoais, e que estas relações tenham o foco de solucionar problemas propostos e ainda democratizar o aprendizado e o conhecimento a todos os participantes da turma.

Neste sentido, um método que se encaixa neste intento é o grupo operativo. Este método foi criado pelo suíço Pichon-Rivière que, pela prática clínica, identificou comportamentos grupais que poderiam

ser usados sagazmente para a cura, tratamento, ensino e elemento de interação e convivência entre pessoas. Baseado nestes comportamentos, e refinando esta técnica na Argentina, onde morou a maior parte do de sua vida, estabeleceu-se pontos importantes de identificação do estado individual e grupal (como a pré-tarefa, tarefa e projeto) possibilitando o acompanhamento e modulação dos participantes na mediação de conflitos, contato e concretização do conhecimento, além da importante nuance de fazer uma avaliação quanto o processo de aprendizado e de autoconhecimento6,7. Este método

se mostra interessante e transformacional, no entanto pouco se descreve na literatura acerca do mesmo, aliado ao ensino em escolas da área da saúde.

Sendo assim, e perante o que foi exposto, propõe-se estudar a técnica de grupos operacionais como ferramenta educacional, utilizando-se de revisão bibliográfica de bases cientificamente conhecidas.

M a t e r i a l e M é t o d o

Foi realizada uma investigação em material acadêmico formal disposto em livros, teses, monografias e artigos científicos publicados em bases bibliográficas específicas e inespecíficas (Periódicos CAPES e Google). Foram coletados e analisados artigos científicos que tratassem dos seguintes descritores: grupos operativos, educação, concepções pedagógicas, interdisciplinaridade, e educação para a área da saúde. Além disso, o critério de busca nestas bases bibliográficas foi ponderado principalmente pelo número de descritores associados à publicação.

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O trabalho não foi submetido a comitê de ética, porém a propriedade intelectual foi respeitada e não há conflito de interesse.

R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o

A evolução humana é um processo contínuo que não somente sucedeu-se na biologia do ser humano, mas também em graus mais elevados e elaborados como nas suas mudanças alimentares, sua manipulação e confecção de instrumentos e utensílios, uso e manipulação de seu habitat deixando de ser nômade, na constituição e formação de seu meio de convivência com seus familiares. Este último, com o passar do tempo tornou-se tão elaborado que se transformou inevitavelmente em seu meio social.

Tratando-se desta evolução devido à própria característica biológica do ser humano - aquela de transformar e adaptar o meio conforme suas necessidades particulares de sobrevivência - se observa que é inevitável a modernização de seu meio de vida, assim como, no meio social, onde pode-se perceber intrinsecamente quanto a convivência é mutável e transformante.

Como exemplo informal, contanto, não menos importante que um experimental ou científico, é a absorção de informações que muitos jovens, pelo menos em algum momento de seu crescimento, através de encontros, contatos e conversas com indivíduos mais experientes, idosos ou maduros. Se não fossem estas situações de trocas de informações e conceitos entre jovens e idosos não haveria os tão famosos “tabus” ou discordâncias destas diferentes gerações.

Contudo, havendo ou não discordâncias, entre cada geração, é ponto pacífico que, entre cada geração, e de maneira geral, há evolução e desenvolvimento dos indivíduos - dado este já anteriormente citado como ponto de evolução contínua e característica do ser humano. Há evolução na sociedade, na tecnologia, nos meios de vida, na qualidade de vida, na saúde na economia e sociedade em geral. Isto pode ser mostrado, se usado como exemplo, as diferenças entre aquelas gerações pré e pós-guerra. Toda situação de adversidade gera num momento próximo uma determinada melhora.

Na educação, em sua plenitude, não poderia ser diferente. O Homem pode perceber nitidamente que sua evolução também ocorreu no ‘mundo’ da educação e ainda, deve-se pela educação. O que seria da evolução humana sem a capacidade de transmissão de seus conhecimentos ou ainda, o que é a evolução senão, além de outras variáveis, a capacidade de transmitir e gerar conhecimento. A educação é então um ponto chave da existência humana, não há ser humano sem a capacidade de gerar, passar e renovar seus conhecimentos conforme sua vivência e sucessivas gerações.

Dessa maneira é certo afirmar que a evolução e a educação convivem em regime simbiótico, onde dependem plenamente uma da outra, numa necessidade mútua. A evolução da educação pode ser acompanhada temporalmente e exemplificada por pertences da nossa própria nacionalidade, como os desenhos das cavernas brasileiras, artes que nada mais são que um artifício remoto de passagem de experiências entre as gerações. Outros exemplos podem ser dados como as atividades nos mosteiros

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europeus cristãos que envolviam, entre outras, a tradução de artigos e palavras religiosas nas línguas daquela época, como o latim. Ou mesmo, voltando para o exemplo tupiniquim, as cartas escritas durante a época de descoberta e desbravamento do nosso território, que tinham por finalidade informar o reino sobre os acontecimentos na nova terra. Não se pode, então, negar a função única da educação na formação do indivíduo. Função está tão fundamental e importante, que sociedades antigas e mais evoluídas como os egípcios, árabes e gregos tinham a educação como um dos principais alicerces de sua comunidade. A educação era tão importante para os gregos, que os mesmos fundamentaram um conceito de ímpar força - Paidéia - a formação do indivíduo em sua totalidade, seu corpo e mente deveriam ser exercitados ao ponto de atingirem o máximo de qualidade8. O esforço dos

gregos em educar seus cidadãos foi marcante, mas não único, a geração e transmissão de conhecimento pode ser visto como no exemplo europeu da medicina, onde o Anatomista Andries van Wesel (Andreas Vesalius), na mesma época do descobrimento das Américas, nulificava os conceitos anatômicos de Cláudio Galeno, os conhecimentos de Galileo Galilei, os estudos de Sigmund Freud. A geração de conhecimento e seu seguinte passe para o próximo transformou-se. A formalização e criação de parâmetros para a geração do conhecimento. A criação e a manutenção das formas físicas, estruturais da sala de aula e principalmente a forma do educar.

As sociedades supracitadas, em seu tempo, conseguiram transformar o meio em que viviam agregando valores a sua sobrevivência particular e social, juntamente com qualidade de vida a seus pares, e não somente valores monetários, mas

também filosóficos. Assim, a educação tornou-se ponto de partida, de parada, e de limitação para o desenvolvimento do indivíduo e de seu espelho, a sociedade a qual pertence, já que, não é da atualidade considerar que uma sociedade é evoluída e desenvolvida quanto os valores monetários que possui.

Atualmente, quais povos e sociedades podem ser citados como evoluídas? Os americanos, ingleses, espanhóis, suecos e japoneses? São sociedades que conseguiram agregar valores financeiros, na saúde e na educação. Conforme as publicações de fontes do mais alto respeito como a ONU e UNESCO, as pesquisas apontam que muitas dessas sociedades encabeçam as listas de países com melhor educação. Realidade diferente exibida no Brasil, onde as pesquisas apontam melhoras em valores globais, mais ainda são abaixo do necessário e do esperado para nossa sociedade9.

Similares ao nosso país existem muitos. Quantas outras sociedades não apresentam um educar falho, senão pífio? Muitos países subdesenvolvidos apresentam um sistema de ensino deficiente em suprir as necessidades de sua população. São incapazes de formar seus indivíduos quanto às atividades primordiais como a interpretação de textos ou a confecção de simples cálculos matemáticos, que contemplam a população dos analfabetos funcionais10.

Retomando a discussão lançada anteriormente, ao qual se baseia o presente estudo, vê-se que a evolução humana é devida, pelo menos em parte, pela educação. Uma possível e simples ideia seria a globalização, o evento marco da sociedade moderna

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como oportunidade de eximir a falta de educação pela acessibilidade que existe neste fenômeno. A globalização atua como uma ferramenta de nivelamento da educação que poderia ser uma proposta para equalizar os conhecimentos entre as sociedades. A globalização, um evento de importância incalculável para a história da humanidade, não foi capaz até dado momento de transformar a educação como foi capaz de fazer com as relações econômicas, de consumo, de diplomacia. Não atingiu o mesmo feito na educação como fez nas relações das pessoas com o mundo, na facilitação de suas relações com outras pessoas pelo uso da tecnologia da informação.

Usando do parâmetro temporal, podemos acompanhar que a globalização, novamente como outros comportamentos instintivos humanos, era inevitável. Após tantos avanços e aumento de interações que não as bélicas entre as nações e o aumento exponencial das tecnologias, de fato, em algum momento ocorreria à disseminação e convergência de muitos pontos, como a economia e tecnologias ao redor do globo terrestre.

Não obstante ao feito global, tiraram maior proveito deste avanço aquelas sociedades que estavam mais preparadas para tal, ou sociedades tidas como desenvolvidas, nas quais já foram outrora citadas.

Tais sociedades, como a norte americana e europeias, não apenas tiraram maior proveito do feito, mas ditaram o ritmo e características gerais deste. Isso pode ser visto nas relações de trabalho e consumo. Ambas variáveis podem ser acompanhadas desde a revolução industrial, onde foram marcadas e formadas. Assim, mesmo com a globalização, ainda há

traços mais antigos nas relações de trabalho e de consumo e ambas, que foram, senão as principais, grandes transformadores globais.

Estas relações de trabalho podem ter sido benéficas para os mais preparados, mas, definitivamente, não foi o primor de transformação das sociedades menos favorecidas. Como a sociedade brasileira, outras sofreram com a globalização do trabalho. Revolução não positiva, mas, muito mais negativa desta relação. É fato que as relações de trabalho, o comportamento deste mercado de trabalho segregou e aumentou as diferenças sociais na situação atual. As diferenças de renda foram acarretadas em grande parte das relações de trabalho geradas com a globalização.

Isso traz uma pergunta: qual a relação da globalização, das relações de trabalho e a educação?

Realmente, a globalização transformou estas relações, e ambas transformaram a educação diretamente nas seguintes vertentes: na exigência da formação da sociedade, na própria relação de trabalho, e na formação do mesmo no ramo da educação.

A globalização mudou o mercado de trabalho exigindo profissionais não generalistas em formação, mas especialistas em atuação, além de “projetar” que estes fossem formados numa escala nunca antes vista. O sistema de educação, prioritariamente o de ensino superior, não estava preparado para receber e formar uma quantidade tão grande de pessoas. E neste sentido a globalização foi benéfica, proporcionou de alguma forma a um maior número de pessoas a formação superior11.

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Além disso, a globalização exigiu uma adequação do ensino superior, o aumento de vagas e o aumento de mão-de-obra dos profissionais da educação.

Há ainda outro grande ponto a ser tocado, os modelos de ensino. A evolução da educação deve-se a seus grandes estudiosos e pensadores como Lev Semenovich Vysgotsky, Morin, Japiassu, Enrique Pichon-Rivière e Freire. Aquela tão famosa “educação tradicional” não era mais suficiente para suprir as da nova e globalizada sociedade moderna12.

Ao longo da história da educação observa-se, como exemplo, que o tablado, púlpito e à palmatória deixaram de existir como ferramentas docentes em salas de aula. Fato colocado nos estudos de Michel Foucalt sobre o poder do soberano (rei) aos corpos de seus súditos condenados, o que pode ser visto como um ato de docilidade aos corpos. As concepções mais antigas, como as inatistas, que concebiam o aluno como um ser completamente inerte, não são mais capazes de propor um ensino numa sociedade com conceitos éticos e morais e com tantos conceitos de respeito à integridade do indivíduo13.

Outras metodologias precisaram ser implementadas na educação, o cognitivismo do suíço Jean Piaget e o sócio-interacionismo do russo já citado Vygotsky são exemplos de como o aluno deveria ter maior participação no seu processo de aprendizado.

Tratando-se da participação do aluno, a partir dos modelos psicopedagógicos dos grandes mestres citados anteriormente, foi proposto e validado as inter-relações existentes na sala de aula, entre professor e aluno, a qual, junto das mudanças das formas de educação, modificaram-se e apresentaram variações da posição de poder do professor; aquele

catedrático e absoluto em sua disciplina, frente um aluno submisso e “participativo” para uma posição menos hierarquizada e impositiva para uma relação de facilitação e compartilhamento de conhecimento. Assim se construiu uma relação mais fluida e flexível onde as disciplinas não constituem a “grade”, mas o conteúdo programático.

Deste modo, além das concepções, as relações interpessoais foram transformadas pelas novas relações entre as disciplinas. Da multidisciplinaridade, onde as disciplinas não possuem nenhum tipo de interação, passou-se pela pluridisciplinaridade e chegou-se à interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Estas duas últimas puderam agregar um conhecimento mais abrangente e generalista14.

O uso dessas novas posturas como a interdisciplaridade, aquela que apresenta a justaposição e entrosamento das “disciplinas comuns”, deve propor o compartilhamento de assuntos com a união de interpretação de linguagens, facilitando o consumo e entendimento do conteúdo pelo aluno.

Neste contexto de busca pelas melhores formas de se ensinar, ou como sugerem grandes instituições como a UNESCO, o ensinar a aprender, formas alternativas e que seriam pouco ortodoxas para outras épocas passaram a ser consciente e planejado, devido a necessidade do mercado de trabalho e da educação, e também pelos órgãos que incidem na legalização da educação como o MEC. Neste nicho encontra-se o uso da ferramenta que, se não usada como arma fundamental e primária, pode ser

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plenamente usada como artigo alternativo e complementar da educação, o grupo operativo.

O grupo operativo trata-se da técnica que usa de premissa a relação do indivíduo, na sua introspecção (conceitos íntimos, pessoais) e extroversão (comportamento social) e sua adoção de um determinado comportamento no grupo ao qual pertence frente uma proposta de tarefa/problema. Sendo assim, num exemplo simples, o professor dispõe sua turma em grupos e lhes oferece um exercício. Assim, a partir deste ponto, é possível identificar, acompanhar, persuadir e modular, pela ajuda dos comportamentos predeterminados e estereotipados dos alunos, como o líder, o bode expiatório, sabotador e outros15.

O grupo tem por função ser uma ferramenta de união, compartilhamento, e modificação dos conceitos destes participantes transformando seu conhecimento pelo combate e transformação das tarefas interna e externa, respectivamente, os valores pessoais e introspectivos, grupais e extrovertidos dos participantes.

Esta organização de trabalho pode ser usada como ferramenta de terapia (como em pacientes idosos, diabéticos) como de fato é feito em muitos programas de assistência médica ambulatorial ou em postos atendimento de menor porte; de diagnóstico e de aprendizado (em Instituições de Ensino Superior), ainda em menor escala, o uso deste método é pouco abordado16.

Devido o desconhecimento desta técnica, mesmo tendo vários usos, o grupo operativo não é usado rotineiramente como técnica pedagógica. Tão é verdade que os locais que adotaram a mesma são de

ensino na área da saúde, o que demonstra a adaptação da técnica pelos que a usam como ferramenta de terapia, como por exemplo, em escolas de enfermagem. Neste exemplo, aquilo que era usado como forma de tratar o paciente foi usado no ensino dos alunos, os quais serão futuros usuários da técnica. Pode-se perceber que tal abordagem demonstra a flexibilidade desta ferramenta, e aponta a formação de um ciclo que garante o aprendizado de conhecimentos específicos que se quer desenvolver, bem como de um procedimento de trabalho17, 18.

A avaliação do grupo operativo tem como base pontos-chave na relação dos participantes: a assunção dos personagens, o estabelecimento da comunicação, o enfrentamento da tarefa/problema, sua resolução e as trocas de experiências entre os participantes no fim da atividade. Do ponto de vista educacional, existe um direcionamento para a amplitude, horizontalização e generalização, o que pode ser colocado como “abrir o leque da instancia ensinar e avaliar”, no sentido de considerar o processo de aprendizagem, não somente o produto final, que levaria a repetição e segmentação generalizada do ensino.

Ainda quanto os moldes pedagógicos, o grupo operativo tende ao uso da interdiscipinaridade, uma vez que a constituição do grupo para a resolução de um problema é direciono para o uso de conhecimento não só retidos nas disciplinas, mas no compartilhamento e unificação de vários outros conteúdos, possibilitando a transposição de barreiras e, portanto, das “grades” curriculares que enclausuram cursos de ensino19.

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C o n c l u s ã o

A vertente da educação devido à globalização e mudanças sociais brasileiras modificou-se deveras. Suas bases precisaram ser modificadas. No que tange o ensino superior o mesmo ocorreu. O papel do professor, sua forma de atuar, as premissas da execução de seu trabalho, sua relação com os alunos, as expectativas e problemas com a sociedade facilitaram, por não dizer imprimiram, um ritmo e gama de mudanças na educação superior. O uso de ferramentas outras que não a aula expositiva, método já enfadonho pelo uso exaustivo, sobretudo por professores sem preparo, precisava vir à tona auxiliando ou em alguns casos substituindo os métodos ”tradicionais” de ensino.

Nesta lacuna, uma proposta como o grupo operativo pode servir de instrumento alternativo ou principal para facilitar as novas abordagens educacionais como a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Ferramentas estas que podem sobrepujar as dificuldades atuais de formar um graduando com deficiências de conteúdo, e acima de tudo de propostas de vida, como sugerido pelos gregos em sua Paidéia, ainda de forma totalitária e globalizada. O grupo operativo não pode ser encarado como panaceia para a educação, visto que existe uma problemática em sua aplicação dependendo do número de alunos que possa haver numa turma, na necessidade de determinação de pontos-base para a realização das aulas, como determinação de horários de aula, necessidade de preparo do professor para a identificação e modulação de seus alunos frente seus problemas, os eventuais empecilhos de relacionamento que possa haver dentro dos grupos,

na formulação de meios de avaliação que considerem questões não apenas objetivas, como a resolução da atividade, mas também questões subjetivas, como a progressão do aluno durante o processo, e os níveis de dificuldade que precisou transpor. Pode ser usado, além de instrumento terapêutico e de cura, como instrumento educacional, facilitando a diversificação de técnicas, permitindo o acesso do conteúdo pelos alunos e agregando valor ao curso e instituição.

Por fim, facilitará o trabalho do professor frente a um meio transformado, flutuante e que ainda não se estabeleceu perante as novas exigências de mercado, dos órgãos reguladores (devido as normativas da LDB e do MEC) e principalmente, como auxiliador do aprendizado para o aluno. O uso do grupo operativo constitui uma técnica de aprendizado que permite o ganho de saber por todos aqueles inseridos na atividade. Para o professor a contribuição gera uma nova forma de analisar, encarar sua turma, montar sua aula, realizar a mediação do aprendizado, e método de avaliação; ao aluno, como forma de renovação do ambiente de aprendizado e convivência com o meio, colegas e professor, além de permitir o combate aos conflitos introspectivos e extremos de sua particularidade enquanto indivíduo e finalmente ao meio de convivência. Em suma, o ambiente acadêmico ganhará com aumento do aprendizado dos alunos, na prática do profissional professor e na possibilidade de renovação e geração de conhecimento.

R e f e r ê n c i a s

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Referências

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