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2000 - Tecnologia, Educação e Legislação- Seus Impactos sobre o Emprego - Pastore

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PASTORE, José. Tecnologia, Educação e Legislação: Seus Impactos sobre o Emprego. Instituto Euvaldo Lodi, 2000. <<Disponível em: http://www.josepastore.com.br/artigos/ed/ed_022.htm. Último acesso: 02/08/2012 às 10:00h.>>

Tecnologia, Educação e Legislação

(Seus Impactos sobre o Emprego)

Introdução

O debate sobre a relação entre tecnologia e emprego tem sido constante. Virou lugar comum dizer-se que o mundo está passando por uma epidemia de automação, mecanização, informatização e robotização, alastrando-se, por causa disso, o chamado "desemprego estrutural". Nessa visão, a tecnologia seria causa do desemprego.

De fato, nos últimos 20 anos, as máquinas ficaram muito baratas e excepcionalmente inteligentes. Nessas condições, elas passaram a competir com os seus criadores - os seres humanos. Ao longo da década de 90, o preço dos robôs na Europa baixou mais de 70%, enquanto que o custo do trabalho aumentou cerca de 30%, e com demandas crescentes no que tange a jornadas, turnos, formas de trabalhar, proteções contra acidentes, doenças profissionais, etc.

Os robôs são operários muito especiais. Trabalham 24 horas por dia, com curtas paradas para manutenção. Não páram aos sábados, domingos e feriados; não tiram férias; não reclamam; não fazem greve; não ficam doentes; pegam cargas de 250 quilos, entram no meio de altos fornos, trabalham em ambientes ensurdecedores e não se acidentam. Quando algo acontece na sua estrutura, basta repor a peça avariada. E, quando se tornam obsoletos, basta trocá-los por outros melhores.

A demografia dos robôs é bem diferente da demografia dos seres humanos. A taxa de crescimento das populações humanas vem caindo, enquanto que, a dos robôs vem aumentando. Na década de 50, a população mundial crescia mais de 3% ao ano; hoje cresce menos de 2%. Em contrapartida, a população de robôs, cresceu 45% ao ano na década de 80 e 74% na primeira metade da década de 90 (ONU, 1995). São diferenças impressionantes. Ao término do ano 2.000, estima-se que estoque de robôs em todo o mundo deve ultrapassar a casa dos 2 milhões. É comum dizer-se que, onde entra a máquina, sai o trabalhador. Dentro dessa perspectiva, a humanidade estaria destinada a ficar sem trabalho. Isso levou muitos autores a se tornarem "best sellers" com livros que tratam da morte do emprego e o fim do trabalho (Rifkin, 1994; 1996). Um triste destino. Outros, de igual popularidade, antevêem o nascimento da sociedade do ócio (De Masi, 1999a; 1999b).

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A maioria dessas obras passou por cima da complexidade da relação entre tecnologia e emprego. Tomemos o caso dos robôs, citado acima. Em 1996, havia cerca de um milhão de robôs em operação em todo o mundo. Argumentava-se que, como cada robô desemprega, em média, quatro pessoas, nos próximos anos, os robôs provocariam a destruição de 4 milhões de empregos.

Mas, o quadro foi outro. A expansão econômica trazida pelos robôs ao longo do período de 1996-98, permitiu a criação de mais de 2 milhões de postos de trabalho em atividades até então subdesenvolvidas devido às dificuldades do emprego do trabalho humano. Outros 2 milhões de pessoas passaram a trabalhar direta e indiretamente na construção e manutenção de robôs. O desastre previsto foi substituído pela criação de 4 milhões de empregos (Pastore, 1998).

Os robôs, que eram artefatos de uso exclusivo da indústria nos anos 80, hoje em dia, entra com grande rapidez no setor de serviços tais como bancos, lazer (cinema e TV), laboratórios de pesquisa, etc. Os grandes hospitais dos Estados Unidos, por exemplo, esperam adquirir cerca de 10 mil robôs nos próximos anos para arrumar as camas, limpar os quartos, ajudar os pacientes a irem no banheiro e outras tarefas simples. No lar, espera-se a entrada de 50 mil robôs para ajudar a lavar a louça, limpar a casa e colaborar na cozinha (Port, 1997).

Isso não significa que as tecnologias são neutras no campo do emprego. Ao contrário, elas provocam uma grande revolução nas empresas que são levadas a demitir, admitir, treinar, retreinar, reciclar e reconverter seus trabalhadores. Certas profissões são mais atingidas do que outras. Na indústria automobilística, por exemplo, cerca de 15% dos soldadores e 17% dos pintores foram deslocados pela entrada de robôs.

Alguns autores acham que os robôs reduzem empregos de forma definitiva. O seu impacto é maior ou menor dependendo do que acontece com o emprego indireto, no mesmo e em outros setores. Alguns pesquisadores simularam o que acontecerá com o emprego do setor automobilístico depois da entrada de tantos robôs concluindo que (1) a introdução de robôs ao longo do tempo resulta, de fato, em uma redução do emprego; (2) essa redução é modesta no início, e se acelera durante o processo de difusão; (3) mas, com os ganhos de produtividade, redução de preços, aumento de qualidade, diversificação dos produtos e expansão de outros setores, a redução do emprego será mínima, podendo até crescer (Edler e Ribakova, 1994).

Os Impactos da Tecnologia sobre o Emprego

O principal impacto da automação é na composição da força de trabalho. A introdução de computadores nos processos produtivos, por exemplo, tende a aumentar a proporção de trabalhadores mais qualificados. Os computadores estimulam a multiplicação de empresas de menor porte e que trabalham como subcontratadas de empresas maiores - cadeias produtivas. As empresas

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subcontratadas diversificam seus produtos, testam suas experiências no mercado, introduzem elementos de flexibilidade na produção e administração e, finalmente, ampliam sua participação no comércio nacional e internacional. Tudo isso tem um forte impacto na quantidade e qualidade dos profissionais requeridos.

Afinal, no balanço final, as tecnologias empregam ou desempregam? Na literatura especializada há respostas para todos os gostos - desde as que vêm a tecnologia como a grande responsável pelo desemprego e desigualdade de renda até as que a consideram como a grande saída para se criar novos postos de trabalho e melhorar o bem estar humano.

O tema é controvertido. Dizer que as tecnologias substituem trabalho é fácil. É só mostrar, por exemplo, que uma cortadeira de cana de açúcar substituiu 200 lavradores. Mas provar que as tecnologias geram desemprego na sociedade, é muito difícil. Mais especificamente, demonstrar que a elevação do nível tecnológico de uma sociedade é a causa do desemprego é praticamente impossível.

A simples coincidência de avanços tecnológicos com aumento de desemprego em alguns países do mundo não é suficiente para se concluir que as inovações tecnológicas são destruidoras de empregos.

As tecnologias têm os mais variados impactos sobre o trabalho. Esses impactos podem ser quantitativos (número de trabalhadores afetados) e qualitativos (natureza das profissões). Além disso, há os impactos diretos e indiretos. No campo do emprego, uma tecnologia pode ter um impacto direto destrutivo e outro indireto construtivo, através dos ganhos de produtividade.

Os impactos podem ser ainda imediatos (curto prazo) ou mediatos (longo prazo). Numa mesma empresa, uma tecnologia pode destruir empregos hoje e criar amanhã. Tudo depende dos efeitos que ela provoca na saúde econômica da empresa. Quando uma tecnologia provoca redução de preços e melhoria de qualidade, ela tende a instigar a demanda, e gerar empregos. Vejamos alguns exemplos.

Em 1960, uma ligação telefônica de três minutos entre o Brasil e os Estados Unidos custava cerca de US$ 45.00 (em valores de 2000). No ano 2000, passou a custar US$ 3.50 e até menos. As telecomunicações passaram a ser usadas de forma intensiva o que, por sua vez, movimentou novos negócios, facilitou transações, melhorou processos, criou produtos e gerou oportunidades de trabalho.

Em 1960, a viagem aérea mais baixa entre São Paulo e New York custava US$ 3,000.00 (em valores de 2000). No ano 2000, custava US$ 600.00 e até menos. O barateamento do transporte aéreo ampliou as oportunidades de trabalho na área do turismo e de carga. Os pacotes turísticos explodiram nos últimos 30 anos, e a geração de empregos nesse setor foi imensa. O turismo emprega, em média, 10%

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da força de trabalho do mundo. Nos países de grande vocação turística, como a França e o Caribe, por exemplo, o emprego nesse setor ultrapassa a casa dos 20% da força de trabalho.

Os empregos gerados pelo barateamento da carga aérea também foram enormes. Graças aos avanços da aviação, as flores da Cooperativa de Holambra, em Jaguariúna, São Paulo, por exemplo, são embarcadas diariamente por avião, no Aeroporto de Viracopos (Campinas), e chegam aos consumidores de New York em menos de 24 horas. O mesmo ocorre com as frutas plantadas, colhidas e embarcadas por via aérea em Petrolina, Pernambuco.

Nos dois casos, foram gerados muitos empregos. As oportunidades de trabalho em Jaguariúna e Petrolina seriam muito menores não fora a sua participação no comércio internacional. Toda vez que os ganhos de produtividade alavancam novos negócios e facilitam a conquista de novos mercados, eles expandem as oportunidades de trabalho.

Tecnologia, Instituições e Emprego

Os impactos das tecnologias sobre o nível de emprego dependem também do ambiente institucional em que operam. Tecnologias que enfrentam leis trabalhistas inflexíveis, mais destroem do que criam empregos. Tecnologias que entram em quadros legais flexíveis, mais geram do que destroem postos de trabalho.

A maior prova disso é dada pelos países do Primeiro Mundo. Todos usam intensamente as novas tecnologias. Mas os impactos sobre o emprego são bem diferentes.

Nos países onde as instituições trabalhistas são flexíveis, o desemprego é baixíssimo. Esse é o caso dos Estados Unidos onde, no início do ano 2000, o desemprego atingiu apenas 4,1%). E do Japão que, no mesmo ano, apresentou uma taxa de 4,0% assim como dos Tigres Asiáticos que tiveram uma desocupação de 5%, em média.

Nos países onde as instituições do trabalho são mais rígidas, o desemprego, naquele ano, manteve-se em patamares elevados: Alemanha (11%); França (10%); Itália (13%); Espanha (15%).

Mas, na própria Europa, os países que flexibilizaram as leis trabalhistas e os contratos coletivos de trabalho, tiveram uma taxa de desemprego inferior a 4% no início do ano 2000 como foi o caso da Inglaterra e Holanda.

A natureza das instituições do trabalho, portanto, afeta a capacidade de geração de empregos. Nos Estados Unidos, para cada 1% do crescimento do PIB há um crescimento de 0,5% no emprego. Na média da Europa, para o mesmo 1%, o emprego cresce apenas 0,06%. É uma diferença enorme e que não tem nada a

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ver com as tecnologias ou com a educação (que é igualmente alta entre americanos e europeus) - mas sim, com as instituições do trabalho.

Em ambientes flexíveis e competitivos, as tecnologias se expandem, transformam os mercados de trabalho e ampliam o emprego. Trata-se de um processo complexo, mas de compreensão intuitiva. Vejamos mais alguns exemplos.

A indústria dos Estados Unidos começou nas margens dos rios da Nova Inglaterra (costa leste) porque ali havia energia hídrica e facilidades de transporte. A mudança da energia hídrica para a energia do vapor - e mais tarde para a eletricidade - tornou as indústrias mais produtivas e mais móveis geograficamente. As inovações tecnológicas que transformaram o transporte hídrico em transporte ferroviário e, finalmente, em transporte rodoviário e aéreo provocaram um grande deslocamento de empresas e trabalhadores. A interiorização da indústria, por sua vez, facilitou o desenvolvimento da agricultura nas mais variadas regiões do pais. O telégrafo ajudou na mesma direção, ao facilitar as comunicações e promover a expansão das ferrovias no interior dos Estados Unidos.

Trata-se, assim, de um somatório de transformações geradas pelas novas tecnologias, dentro de um ambiente de liberdade econômica e instituições flexíveis, cujo impacto sobre o emprego é notável. Ao longo das transformações citadas, as novas tecnologias destruíram e criaram empregos. Por exemplo, entre 1909-19, os produtores de carruagem nos Estados Unidos caíram de 70 mil para 26 mil. Em contrapartida, os trabalhadores das indústrias automobilísticas passaram de 85 mil para 394 mil. Entre 1930-70, os trabalhadores ligados à telegrafia caíram de 87 mil para 24 mil e a telefonia gerou 536 mil novos empregos.

Tecnologia e Migração de Empregos

As tecnologias têm um grande impacto na criação de novos processos e, em conseqüência, novos tipos empregos. Essas tecnologias elevam a eficiência produtiva através da redução de custos e da economia de componentes da produção, desde a energia e matéria prima, até o trabalho e organização. Numa palavra, as tecnologias de processos permitem melhorar a produtividade que, por sua vez, libera uma série de forças que acabam gerando novas oportunidades de trabalho no setor onde entram ou em outros setores.

Mas, é claro, que o ambiente precisa ser favorável. Essas tecnologias elevam o nível de emprego quando (1) reduzem os preços dos bens e serviços; (2) estimulam o aumento dos investimentos; (3) aumentam a renda das pessoas; (4) ampliam a demanda dos consumidores; (5) e introduzem máquinas e equipamentos que necessitam novos trabalhadores (Vivarelli, 1995).

A eficiência desses mecanismos, outra vez, depende da situação em que as tecnologias entram. A redução de preços só funciona quando há um aumento do

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poder de compra, o que significa uma boa distribuição dos rendimentos pessoais. O aumento de renda só se traduz em aumento de investimentos e empregos quando, no agregado, os novos projetos (em outros setores) permitem o uso de mais mão-de-obra (Vivarelli, 1997). Nas economias abertas e competitivas, essas condições geralmente estão presentes e, apesar de toda a destruição de empregos que as tecnologias causam no setor onde entram, o balanço final acaba sendo positivo.

As tecnologias são responsáveis também pela criação de novos produtos, contribuindo para a expansão do emprego nesses setores. O mundo atual está repleto de casos de tecnologias que criaram novos produtos e geraram novas demandas e novas oportunidades de trabalho. A televisão, o videocassete, o CD player, o tênis, a calça jeans, o McDonald's, o telefone celular, as academias de ginástica, etc. são exemplos de inovações bem recebidas pelos consumidores e que geraram uma grande quantidade de postos de trabalho - diretos e indiretos. Quando os ganhos de produtividade são bem distribuídos, as tecnologias ajudam o emprego. Caso contrário, atrapalham.

Mas, tanto as tecnologias de processos quanto as tecnologias de produto tendem a provocar mudanças profundas nos modos de produzir e vender, dentre elas, a redução dos quadros de pessoal que trabalham de maneira direta e ampliação dos que trabalham de forma indireta através de terceirização, subcontratos, teletrabalho - no mesmo e em outros setores.

Por exemplo, o emprego no setor bancário do Brasil encolheu 50% no período de 1986-96. O avanço da automação teve grande responsabilidade nesse processo. Juntamente com a automação, os bancos introduziram inúmeras inovações de processos para melhorar a sua eficiência naquilo que é o seu "business" central, ou seja, as atividades financeiras.

Em conseqüência, as instituições bancárias passaram para fora uma grande variedade de serviços de apoio que nada tinham a ver com as atividades financeiras como, por exemplo, a produção de refeições para funcionários; a impressão de cheques; as atividades de manutenção elétrica e hidráulica; os serviços de transporte de valores, limpeza e segurança; e até mesmo as operações de compensação bancária.

Assim, a redução dos empregos de bancários foi bem menor do que os 50% indicados. A maioria dos profissionais dispensados não foi de bancários. Ademais, a sua atividade não terminou. Houve apenas um deslocamento. O que era produzido dentro dos bancos passou a ser produzido fora deles. Os empregos migraram, e os trabalhadores foram atrás deles, passando a exercer suas ocupações em outros setores e empresas, como empregados ou como autônomos. deixando de integrar o setor financeiro.

Ao lado disso, as novas tecnologias das telecomunicações e informática foram responsáveis pelo forte crescimento das atividades de crédito realizadas por

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instituições não-bancárias - empresas comerciais, de cartão de crédito, consórcios - assim como das atividades conexas ao setor financeiro como é o caso das tradings, seguradoras e comércio eletrônico.

Em suma, nos últimos anos a destruição de empregos decorrente da introdução de novas tecnologias no setor bancário foi parcialmente compensada pela criação de trabalho em outros setores sendo que, em muitos casos, assistiu-se a uma expansão das oportunidades de trabalho.

O mesmo fenômeno ocorreu nos setores da indústria, transporte, comércio, hospitais, escolas, etc. As tecnologias modernas permitiram melhorar os processos de produção, administração e comercialização, o que provocou uma extensa realocação da mão-de-obra e modificação do relacionamento subordinado entre empresa-empregado. Países que usam intensamente as novas tecnologias, por terem expandido suas economias, apresentam baixos níveis de desocupação como é o caso dos Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos.

Tecnologia, Produtividade e Emprego

Quando analisados em perspectiva histórica, os dados mostram uma forte associação entre aumento de produtividade e aumento de emprego. Mesmo onde é nítida a destruição de empregos, esta é mais grave nos setores de baixa produtividade. Esse foi o padrão do passado e continua no presente - apesar da natureza revolucionária das novas tecnologias. Vejamos alguns exemplos recentes.

No caso do Brasil, entre 1990-95, a indústria destruiu cerca de 450 mil empregos por força de modernização tecnológica e abertura da economia. Mas, mesmo aí, os impactos negativos foram menores onde a produtividade era mais alta. Os setores que registraram produtividade elevada, de 8,5% ao ano (exemplos: material elétrico, comunicações, plásticos, bebidas, mobiliário, material de transporte, produtos alimentícios) dispensaram a metade dos empregados que foram dispensados pelos setores de que apresentaram ganhos de produtividade pequenos, da ordem de 2% ao ano (exemplos: madeira, fumo, têxtil, vestuário, calçados, artefatos de tecidos, couros e peles), Em outras palavras, os setores de baixa produtividade destruíram o dobro de empregos quando comparados com os setores de alta produtividade (Pastore, 1998).

Nos anos mais recentes, o fenômeno está se repetindo. Por exemplo, laboratórios de análise clínica (por exemplo, o Laboratório Fleury em São Paulo), que realizaram investimentos pesados em robótica e tecnologia da automação e aumentaram a sua produtividade, ampliaram substancialmente a sua capacidade de atendimento. Tais laboratórios passaram a fazer parte de grandes redes de postos de coleta e análise de material, o que ampliou em 30% o quadro de empregados.

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Na Embraer, graças aos avanços tecnológicos, a empresa passou a arrecadar, no ano 2000, uma receita de US$ 300 mil por empregado, enquanto que em 1995, arrecadava US$ 71 mil. Isso permitiu à empresa reduzir o preço das aeronaves que fabrica, aumentar a qualidade, ganhar novos mercados e ampliar o seu quadro de pessoal em 100% naquele período (Camargo, 2000).

Tecnologia, Educação e Emprego

O principal impacto das mudanças tecnológicas é na composição da força de trabalho. De um modo geral, as novas tecnologias demandam trabalhadores mais qualificados. Um bom nível educacional facilita a readaptação da mão-de-obra e mantém alto o nível de emprego. Uma educação precária, dificulta a readaptação e provoca desemprego.

Educação não gera postos de trabalho de forma direta. Mas, educação atrai capitais e investimentos produtivos que, por sua vez, geram muito trabalho. O Brasil está em 37o. lugar no "ranking" mundial de trabalho qualificado - o que compromete severamente a adoção de novas tecnologias e a elevação da competitividade. Nossa força de trabalho possui apenas 5 anos de escola - e má escola. A dos Tigres Asiáticos, tem 10 anos de boa escola. A do Japão tem 11 e a dos Estados Unidos e Europa tem 12. Isso é essencial para o deslocamento e adaptação dos trabalhadores de um setor para outro ou de uma profissão para outra.

No Brasil, já nos primeiros meses da retomada do crescimento econômico, no ano 2000, notaram-se os primeiros sinais de falta de mão-de-obra qualificada. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, no primeiro semestre daquele ano, 66% das pequenas empresas e 53% das grandes estavam enfrentando dificuldades para contratar trabalhadores qualificados.

A carência atingia também os setores de comércio e serviços. Os novos hotéis de cinco estrelas, por exemplo, estavam recrutando pessoal qualificado através da "rapinagem" junto aos seus concorrentes. Esse caso ilustra de que forma a tecnologia muda a qualidade da mão-de-obra demandada. Os equipamentos da moderna hotelaria são completamente diferentes do que eram há 15 ou 20 anos atrás. Eles requerem funcionários que saibam lidar com controles remotos, aparelhos de ar condicionado centralizados, fax e "power-points" para palestrantes, que tenham o domínio de línguas e que conheçam um mínimo da geografia e a história locais.

Nas cozinhas dos modernos hotéis, a demanda é por pessoas que, além de dominar bem o seu ofício, tenham satisfação em cozinhar e ornamentar. Nos restaurantes, a demanda é por maitres e garçons que tenham prazer em servir. Esses ingredientes atitudinais fazem parte da qualificação dos novos profissionais, e não são fáceis de serem encontrados. No entanto, são esses hotéis - montados com tecnologias sofisticadas - que mais precisam de funcionários qualificados,

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provando que as tecnologias não destroem empregos, mas criam novos tipos de empregos.

No setor de pesquisa de petróleo, outro exemplo, onde entraram grandes empresas estrangeiras no final da década de 90, os pesquisadores da Petrobrás passaram a ser assediados por salários e benefícios sedutores. A pirataria de mão-de-obra avançou de forma expressiva, com ofertas muito atraentes, refletindo um nítido aumento de demanda por qualificação.

Esse fenômeno ocorre também nos níveis mais baixos de qualificação. O Centro de Solidariedade, ligado à Força Sindical (que faz o trabalho de intermediar informações sobre mão-de-obra em São Paulo), no meio de forte desemprego, dispunha, em meados do ano 2000, de 900 vagas, que estavam em aberto, há vários meses, devido à falta de candidatos qualificados: representantes comerciais, eletricistas de edifícios, mecânicos de refrigeração, técnicos em telefonia, engenheiros mecânico e outros.

A maioria das vagas possuía requisitos ligados às novas tecnologias. Quem estava preparado, era empregável e conseguia preencher a vaga. Quem não estava, ficava "inempregável". Mas isso não foi por culpa da tecnologia e sim por falta de empregabilidade - educação e formação profissional adequadas.

Os investimentos estrangeiros realizados nos últimos anos no Brasil concentraram-se em setores intensivos em capital, com grandes aportes de tecnologias avançadas - o que passou a requer pessoas treinadas, criativas, versáteis, conhecedoras de sua profissão e com espírito construtivo. As atitudes tornaram-se tão importantes quanto os requisitos cognitivos. Para os possuidores dessas características, há dias promissores pela frente. Para os carentes, só resta se reciclarem. Nesse interim, ficarão desempregados ou subempregados. Mas, outra vez, isso não decorre das tecnologias - e sim da pobreza do capital humano. Com o amadurecimento dos pesados investimentos que serão realizados no Brasil no início dos anos 2000 nas áreas de agrobusiness, energia, infra-estrutura em geral, mineração, metalurgia, comunicações, construção de aeronaves, shopping centers, supermercados, informática, engenharia médica, prevê-se um mercado de trabalho apertado para a mão-de-obra qualificada.

A raiz do problema da "inempregabilidade" está na má qualidade da educação geral. O Brasil ocupa o 74º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano. Trata-se de uma posição desvantajosa e devida, basicamente, à má qualidade da nossa mão-de-obra.

Em vista desse quadro e de mudanças tão rápidas no campo da tecnologia, a reciclagem e a reconversão profissionais são inevitáveis. Ocorre que a educação de má qualidade dificulta a tarefa de reciclar e reconverter as pessoas - o que reduz o ajuste da oferta de trabalhadores empregáveis às novas demandas de trabalho.

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Por isso, tendo vencida a batalha da quantidade no ensino de primeiro grau, o Brasil tem de realizar mutirão nacional de grande envergadura em favor da expansão do ensino de segundo e terceiro graus e, sobretudo, em favor da qualidade em todos os níveis. Nunca a vinculação entre produção de ciência, tecnologia, educação e emprego foi tão estreita como nos dias atuais. E assim deve continuar para as próximas décadas. No mundo atual, não há a menor possibilidade das empresas competirem fora dos avanços tecnológicos. Se a situação do emprego é difícil com tecnologia, ela será catastrófica sem ela.

A história contemporânea mostra que as tecnologias têm pouco a ver com o desemprego quando caem em ambientes concorrenciais, com boas instituições trabalhistas, com oferta abundante de mão-de-obra qualificada e com crescimento econômico. Por isso, para se avaliar o efeito final das tecnologias e dos sistemas de produção não basta examinar a destruição líquida de emprego que geralmente ocorre nos locais em que entram. É preciso examinar os efeitos de deslocamento de mão-de-obra e de criação de novas atividades e postos de trabalho em outros setores e empresas, assim como a qualidade da educação e das instituições do trabalho.

Tecnologia, Legislação e Emprego

Durante muito tempo, as tecnologias encontraram um tripé perverso no Brasil: (1) crescimento econômico anêmico; (2) educação de má qualidade; (3) e legislação trabalhista inflexível. A combinação desses três fatores conspirou, e continua conspirando contra o emprego, reduzindo a nossa capacidade de criar e preencher bons postos de trabalho.

No que tange ao crescimento econômico, o Brasil passou mais de dez anos com uma taxa média de 2% ao ano. Isso é muito pouco. No ano 2000, finalmente, o País retomou a trajetória de um crescimento mais acelerado, com perspectivas de ultrapassar a taxa dos 4%.

Os dados indicavam que seriam investidos, naquele ano, mais de US$ 200 bilhões no setor produtivo. Um fato alentador. Mas o Brasil precisa muito mais do que isso para atender as necessidades da população economicamente ativa. Mesmo assim, um maior volume de investimentos na produção seria uma condição necessária para a geração de empregos - mas não suficiente. Para tudo se transformar em crescimento sustentado, o Brasil teria de contar com uma série de outros fatores, dentre eles, energia, matérias primas, embalagens, transporte, portos e, também, facilidade para contratar, descontratar e remunerar o fator trabalho, ou seja, uma legislação trabalhista moderna, flexível e ajustada às características da nova economia.

No Brasil, em decorrência de dispositivos constitucionais e legais, a contratação legal de um trabalhador impõe despesas da ordem de 102% de encargos sociais, que são compulsórios e inegociáveis (Pastore, 1997). Isso tem sido um

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desestímulo para a contratação formal, e um estímulo para o trabalho informal. A informalidade desprotege o trabalhador e o Estado pois este continua com suas responsabilidades nos campos da educação, saúde e previdência sem nada arrecadar na rubrica da seguridade social.

Ademais, as novas formas de trabalhar, assim como inúmeras das novas profissões não encontram abrigo na legislação atual. A sua contratação legal é difícil, senão impossível. Esse é o caso, por exemplo, de consultores, técnicos que trabalham por projetos, pessoal que exerce atividades intermitentes, gente que trabalha em tempo parcial, em múltiplas empresas, etc. As nossas leis trabalhistas foram feitas para um tempo de economia fechada (anos 40), onde a concorrência internacional era inexistente, e a única forma de trabalhar era através do emprego por prazo indeterminado. No entanto, o mundo do trabalho passou por uma vasta revolução, que não foi acompanhada por uma modernização das nossas instituições do trabalho - CLT, Justiça do Trabalho, organização sindical, sistemas de negociação, etc.

Tudo isso dificulta a geração de empregos formais e tem pouco a ver com tecnologia. A CLT é um caso típico de fadiga institucional. Afinal, ela trabalhou por mais de meio século e, por isso, exauriu-se.

O Brasil precisa de flexibilidade nas leis trabalhistas e qualidade na educação (Pastore, 1993). Já foi o tempo em que as empresas tinham de se tornar competitivas. Hoje, elas têm de se manter competitivas. E, para tanto, precisam dispor de tecnologias eficientes e mão-de-obra preparada. Sem esses ingredientes, os problemas de emprego se agravarão. Jamais haverá trabalho sem empresas competitivas.

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Referências

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