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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 894.385 - RS (2006/0226618-6)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : BANCO FINASA S/A

ADVOGADO : SÉRGIO GONZALEZ E OUTROS RECORRIDO : JEFERSON LUIS ROSA DA SILVA

ADVOGADO : TÚLIO MARCANTÔNIO RAMOS FILHO E OUTRO

EMENTA

Bancário. contrato de financiamento com alienação fiduciária em garantia. cláusulas abusivas. cdc. aplicabilidade. juros remuneratórios. limitação em 12% ao ano. impossibilidade. capitalização mensal. possibilidade, desde que pactuada. comissão de permanência. possibilidade, desde que não cumulada com juros remuneratórios, correção monetária, juros moratórios e/ou multa contratual. mora. descaracterização, quando da cobrança de acréscimos indevidos pela instituição financeira. busca e apreensão. impossibilidade. compensação e repetição do indébito. possibilidade. inscrição do devedor em órgãos de proteção ao crédito. impossibilidade, desde que presentes os requisitos estabelecidos pelo stj (resp 527.618). precedentes.

- Aplica-se aos contratos bancários as disposição do CDC.

- Nos termos da jurisprudência do STJ, não se aplica a limitação da taxa de juros remuneratórios em 12% ao ano aos contratos bancários não abrangidos por legislação específica quanto ao ponto.

- Nos contratos celebrados por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, posteriormente à edição da MP nº 1.963-17/00 (reeditada sob o nº 2.170-36/01), admite-se a capitalização mensal de juros, desde que expressamente pactuada.

- Admite-se a cobrança de comissão de permanência após a caracterização da mora do devedor, desde que não cumulada com juros remuneratórios, correção monetária, juros moratórios e/ou multa contratual.

- A cobrança de acréscimos indevidos importa na descaracterização da mora, tornando inadmissível a busca e apreensão do bem.

- Admite-se a repetição e/ou a compensação dos valores pagos a maior nos contratos de abertura de crédito em conta corrente e de mútuo celebrados com instituições financeiras, independentemente da prova de que o devedor tenha realizado o pagamento por erro, porquanto há de se vedar o enriquecimento ilícito do banco em detrimento deste.

- O STJ, no julgamento do REsp 527.618 (Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 24/11/03), decidiu que a concessão de medida impedindo o registro do nome do devedor em cadastros de proteção ao crédito fica condicionada à existência de três requisitos, quais sejam: (i) a propositura de ação pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; (ii) efetiva demonstração de que a contestação da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; (iii) o depósito do valor referente à parte tida por incontroversa, ou a prestação de caução idônea ao prudente arbítrio do juiz.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Castro Filho, Humberto Gomes de Barros e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília (DF), 27 de março de 2007 (data do julgamento).

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 894.385 - RS (2006/0226618-6) RECORRENTE : BANCO FINASA S/A

ADVOGADO : SÉRGIO GONZALEZ E OUTROS RECORRIDO : JEFERSON LUIS ROSA DA SILVA

ADVOGADO : TÚLIO MARCANTÔNIO RAMOS FILHO E OUTRO RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cuida-se de recurso especial interposto pelo BANCO FINASA S.A., com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas “a” e “c” da CF, contra acórdão proferido pelo TJ do Rio Grande do Sul.

Ação: de revisão de contrato de financiamento para aquisição de veículo, com pacto adjeto de alienação fiduciária, ajuizada por JEFERSON LUIS ROSA DA SILVA, ora recorrido, em desfavor do recorrente, pleiteando a revisão da taxa de juros, com exclusão da capitalização mensal, a exclusão da comissão de permanência, a limitação dos juros moratórios em 1% ao ano, a limitação da multa em 2%, a correção monetária pelo IGP-M/FGV e a repetição dos valores pagos a maior.

A liminar pleiteada foi deferida, para determinar ao recorrente que se abstivesse de incluir o nome do recorrido em qualquer cadastro de proteção ao crédito, bem como para manter o recorrido na posse do veículo, desde que fossem mensalmente depositadas as parcelas vincendas do contrato.

Ademais, diante da existência de ação de busca e apreensão ajuizada pela instituição financeira em desfavor do recorrido, foi determinado o apensamento dos feitos para julgamento conjunto.

Sentença: julgou procedente o pedido da ação revisional, para limitar os juros remuneratórios em 12% ao ano, permitir a capitalização dos juros anualmente, fixar os juros moratórios em 1% ao mês, considerar nula a cláusula que prevê a incidência da comissão de permanência e definir a correção monetária com base no IGPM-FGV. Já o pedido da ação de busca e apreensão foi julgada improcedente, com a condenação do recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de ambos os processos (fls. 114/133).

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Acórdão: o Tribunal a quo não conheceu do apelo do recorrido (fls. 183/193) e negou provimento ao apelo do recorrente (fls. 138/164), nos termos do acórdão (fls. 222/232) assim ementado:

“APELAÇÃO CIVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO REVISIONAL DE

CONTRATO CONEXA COM AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.

AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. Não se conhece do apelo do consumidor quando a sentença lhe foi inteiramente procedente e esse repete os pedidos deduzidos na inicial em manifesto equívoco quanto ao resultado do julgamento.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICABILIDADE E ALCANCE. Às operações de concessão de crédito e financiamento aplica-se o CODECON, visto que plenamente caracterizado o conceito de consumidor (art. 2°) e de fornecedor (art. 3°), nos exatos termos da lei consumerista, entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça ao editar a súmula n. 297. Sendo as normas de ordem pública e interesse social, cabe ao julgador a decretação de nulidade de cláusula contratual, inclusive de ofício, quando nula de pleno direito, entendimento pacífico nesta Câmara.

JUROS REMUNERATÓRIOS. Considera-se abusiva e, então, nula de pleno direito, a cláusula que fixa juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, visto que acarreta onerosidade excessiva. A limitação da taxa de juros, ao invés de causar grave desequilíbrio na relação estabelecida, reintroduz, sim, no pacto, o equilíbrio, a eqüidade e a simetria das prestações.

ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. O referencial deve ser o IGPM, por ser o fator que melhor repõe as perdas inflacionárias e que não contêm componente de remuneração financeira.

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. A capitalização de juros é admitida somente nos casos previstos em lei. Inexistindo previsão legal, como no contrato em espécie, a sua incidência é expressamente vedada, ainda que pactuada.

COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. Vedada sua cobrança, pois não deixa opção ao cliente - potestatividade - ficando ele submetido à vontade do credor; ofensa ao art. 51, IV, do CODECON e art. 122 do Código Civil.

JUROS MORATÓRIOS. Aplicável o percentual de 1% ao ano, diante da determinação do art. 5° do Decreto 22.626/33.

MULTA MORATÓRIA. A multa moratória deve respeitar o percentual de 2%, após a fixação pela Lei n. 9298/96, que deu redação ao §1° do art. 52 do CODECON. Incide sobre o valor das parcelas em atraso sem a presença de outros encargos.

MORA DESCARACTERIZADA. Constatada a abusividade dos valores cobrados atinentes à remuneração do capital, são inexigíveis os encargos decorrentes da mora, eventualmente incidentes, até o recálculo do débito.

CADASTRAMENTOS EM ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. A medida protetiva postulada pela parte autora para evitar o cadastramento em órgãos de restrição ao crédito é exercício regular de direito, na medida em que

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o valor apontado e exigido não corresponde ao devido.

MANUTENÇÃO DE POSSE. Da mesma forma, a posse deve ser mantida, vez que não restou caracterizada a mora.

COMPENSAÇÃO / REPETIÇÃO DO INDÉBITO. Constatada a cobrança de valores ilegais e abusivos, cabível a compensação e/ou repetição simples dos valores pagos indevidamente, sob pena de enriquecimento sem causa da instituição financeira.

DA BUSCA E APREENSÃO. Uma vez demonstrada a ausência de mora, impõe-se a improcedência da ação de busca e apreensão.

APELO DO CONSUMIDOR NÃO CONHECIDO. NEGADO

PROVIMENTO AO APELO DO BANCO, COM DISPOSIÇÃO DE OFÍCIO. ”

Embargos de declaração: opostos pelo recorrente (fls. 235/238), tiveram seu provimento negado pelo Tribunal a quo (fls. 241/242vº).

Recurso especial: alega a instituição financeira em suas razões (fls. 249/280) que o acórdão hostilizado:

I - ofendeu os arts. 1º, 2º, 3º, 6º, 42, 51, 52 e 54 do CDC, ao concluir pela aplicabilidade da legislação consumerista à hipótese dos autos;

II – violou os arts. 115, 145, 146, 1.062, 1.063, 1.125 e 1.262 do CC/16, o Decreto 22.626/33, a Súmula nº 121 do STF, o art. 25, I, do ADCT, a Lei nº 4.594/64 e divergiu de precedentes de outros Tribunais, ao limitar os juros em 12% ao ano;

III – negou vigência ao art. 4º da Lei nº 4.595/64, à Lei nº 1.521/51, aos arts. 4º e 9º do Decreto nº 22.626/33, às Súmulas nºs 121 e 596 do STF e ao art. 5º da MP nº 1.963-17/00 (reeditada sob o nº 2.170-36/01), bem como divergiu de precedentes de outros Tribunais, ao impedir a capitalização mensal;

IV – negou vigência à Circular nº 2.463/94 do Banco Central, ao fixar o IGP-M/FGV como índice de reajuste do contrato;

V – divergiu da jurisprudência de outros Tribunais, ao vedar a aplicação da comissão de permanência;

VI – ofendeu o art. 5º do Decreto nº 22.626/33, a Lei nº 4.595/64 e a Súmula nº 596 do STF, ao reduzir os juros de mora para 1% ao ano;

VII – violou os arts. 920 do CC/16 e 52, §1º, do CDC, ao afastar a multa moratória de 2%;

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mora do recorrido no cumprimento do contrato;

IX – negou vigência aos arts. 965, 1.013 e 1.531 do CC/16, ao art. 42 do CDC e ao art. 333, I, do CPC, ao determinar a compensação e a repetição do indébito;

X – divergiu da jurisprudência de outros Tribunais, ao impedir a inscrição do nome do recorrido no cadastro de órgãos de proteção ao crédito;

XI – ofendeu o Decreto-Lei nº 911/69 e divergiu de precedentes de outros Tribunais, ao manter o recorrido na posse do veículo.

Prévio juízo de admissibilidade: sem contra-razões, a Presidência do Tribunal a

quo admitiu o recurso especial (fls. 370/371), por considerar preenchidos os requisitos genéricos

e específicos.

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RECURSO ESPECIAL Nº 894.385 - RS (2006/0226618-6)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : BANCO FINASA S/A

ADVOGADO : SÉRGIO GONZALEZ E OUTROS RECORRIDO : JEFERSON LUIS ROSA DA SILVA

ADVOGADO : TÚLIO MARCANTÔNIO RAMOS FILHO E OUTRO VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Os tópicos veiculados no recurso estão prequestionados e os dissídios jurisprudenciais relativos aos temas encontram-se comprovados, possibilitando, destarte, a análise das razões recursais.

I – Da aplicabilidade do CDC

Encontra-se pacificado nesta Corte o entendimento de que são aplicáveis as disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários, em consonância com o disposto nos arts. 2º e 3º desse diploma legal.

Registrem-se os seguintes precedentes quanto ao ponto: REsp 747.936/RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ de 19/09/05; AgRg no REsp 544.813/RS, minha relatoria, DJ de 01/12/03; REsp 142.799/RS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ de 14/12/98; REsp 57.974/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 29/05/95.

Incide, na espécie, portanto, o entendimento consolidado na Súmula nº 83 do STJ.

II – Dos juros remuneratórios

Nos termos da jurisprudência assente no STJ, não se aplica o limite da taxa de juros remuneratórios em 12% ao ano aos contratos de financiamento celebrados com as instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, por força da Súmula nº 596 do STF, salvo nas hipóteses excepcionadas pela legislação específica.

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Confira-se a respeito os seguintes precedentes: REsp 286.554/RS, Rel. Min. Castro Filho, DJ de 30/09/02 e REsp 387.931/RS, Rel. Min. César Asfor Rocha, DJ de 17/06/02.

Eventual limitação dos juros com base no CDC dependeria da comprovação da abusividade na situação concreta examinada pelo TJRS, porquanto não se mostra abusiva a cláusula simplesmente por fixar taxas de juros superiores a 12% ao ano.

De fato, a limitação da taxa de juros em virtude de suposta abusividade somente teria sentido frente a uma demonstração cabal da excessividade do lucro da intermediação financeira, da margem do banco, um dos componentes do spread bancário , ou de desequilíbrio contratual, circunstâncias ausentes na hipótese dos autos.

Nesse sentido, destaquem-se os REsp's 407.097/RS e 420.111/RS, Rel. para acórdão Min. Ari Pargendler, 2ª Seção, DJ de 29/09/03 e 06/10/03, respectivamente.

Destarte, nesse particular merece reforma o acórdão objurgado.

III – Da capitalização dos juros

Este Tribunal já pacificou o entendimento de que, nos contratos celebrados por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, posteriormente à edição da MP nº 1.963-17/00 (reeditada sob o nº 2.170-36/01), admite-se a capitalização mensal de juros, desde que expressamente pactuada.

Nessa esteira, além dos precedentes suscitados pela própria instituição financeira, destaco ainda: AgRg no REsp 836.385, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 18/09/06; AgRg no REsp 791.172/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ de 02/10/06; e AgRg no REsp 842.571/RS, minha relatoria, DJ de 02/10/06.

O Tribunal a quo salientou expressamente que na espécie, “não há cláusula

contratual que informe ao consumidor a incidência de capitalização de juros no ajuste, tampouco a sua forma (anual, semestral ou mensal) ” (fls. 228vº). Essa assertiva não foi

contestada pelo banco, de sorte que a tenho como incontroversa nos autos.

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da capitalização de juros, inviável a sua incidência.

IV – Do IGP-M/FGV como índice de reajuste do contrato.

Não há como prosperar o recurso especial, também, no que tange à fixação do IGP-M/FGV como índice de correção monetária, tendo em vista que, nesses pontos, o recorrente não indica os dispositivos de lei que entende violados e, além disso, não aponta dissídio jurisprudencial, sendo certo, igualmente, que eventual contrariedade à Circular nº 2.463, do Banco Central, por ter natureza de ato administrativo, não ampara o processamento do recurso especial.

V – Da cobrança da comissão de permanência, dos juros e da multa moratórios

De acordo com o mais novo entendimento do STJ, esposado no julgamento do AgRg no REsp 706.368/RS, minha relatoria, DJ de 08/08/05, a 2ª Seção deste Tribunal entendeu ser admissível a cobrança de comissão de permanência após a caracterização da mora do devedor, desde que não cumulada com juros remuneratórios, correção monetária, juros moratórios e/ou multa contratual.

Presente a incidência de quaisquer desses encargos após a caracterização da mora, hão de ser afastados, mantendo-se tão-somente a comissão de permanência.

Assim, também neste aspecto merece reforma o acórdão recorrido, a fim de se afinar à jurisprudência assente no STJ.

VI – Da mora do recorrido e da sua manutenção na posse do veículo

De acordo com a instituição financeira, “não tendo havido o pagamento

confessado, e devidamente ciente do inadimplemento, justa e legal sua constituição em mora ” (fls. 269/270).

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Ocorre que, conforme salienta o acórdão verberado, não se pode falar em mora

debendi , eis que “os valores cobrados não correspondem ao efetivamente devido, sendo decorrência lógica a inimputabilidade dos encargos moratórios (art. 396 do CC) até o redimensionamento do débito em obediência aos parâmetros fixados na presente decisão. ”

(fls. 230vº).

Como se vê, o acórdão vergastado afastou a mora do devedor em razão da cobrança de encargos considerados ilegais.

A 2ª Seção do STJ decidiu que a cobrança de acréscimos indevidos importa na descaracterização da mora, tornando inadmissível a busca e apreensão do bem. Nesse sentido, veja o EREsp 163.884/RS, Rel. p/ acórdão Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 24/09/2001.

Para a solução da controvérsia quanto ao ponto, é necessário verificar se, com a parcial reforma do acórdão recorrido, subsiste a incidência de encargos ilegais referentes ao período anterior à inadimplência.

Na hipótese foi mantida a vedação da capitalização mensal dos juros, portanto, deve prevalecer a decisão que descaracterizou a mora e extinguiu a busca e apreensão, mantendo o recorrido na posse do veículo.

VII – Da compensação e da repetição do indébito

O acórdão recorrido não destoa da jurisprudência do STJ, que admite a repetição e/ou a compensação dos valores pagos a maior nos contratos de abertura de crédito em conta corrente e de mútuo celebrados com instituições financeiras, independentemente da prova de que o devedor tenha realizado o pagamento por erro, porquanto há de se vedar o enriquecimento ilícito do banco em detrimento deste (REsp 551.871, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ de 25/02/04 e AGREsp 595.136, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 19/04/04).

Nesse ponto, assim, nada há a reformar.

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O STJ, no julgamento do REsp 527.618 (Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 24/11/03), definiu três requisitos a serem observados para a concessão de medida impedindo o registro do nome de devedores nos cadastros restritivos de crédito, quais sejam: (i) a propositura de ação pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; (ii) efetiva demonstração de que a contestação da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; (iii) o depósito do valor referente à parte tida por incontroversa, ou a prestação de caução idônea ao prudente arbítrio do juiz.

Portanto, desde que presentes tais requisitos, fica vedada a inclusão do nome do recorrido em cadastros de devedores.

Forte em tais razões, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO para: (i) afastar a limitação dos juros remuneratórios em 12% ao ano; e (ii) admitir a incidência da comissão de permanência, nos termos referidos.

Em razão da sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, quanto as estes mantendo o valor fixado pelo juiz de primeiro grau, que serão reciprocamente distribuídos, suportados na proporção de 60% pelo recorrente e 40% pelo recorrido, devidamente compensados, conforme a Súmula 306 do STJ.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO

TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0226618-6 REsp 894385 / RS

Números Origem: 10400011192 10400014310 70014354716 70016361644 7110400014310

PAUTA: 27/03/2007 JULGADO: 27/03/2007 Relatora

Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro CASTRO FILHO Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS Secretária

Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO AUTUAÇÃO RECORRENTE : BANCO FINASA S/A

ADVOGADO : SÉRGIO GONZALEZ E OUTROS RECORRIDO : JEFERSON LUIS ROSA DA SILVA

ADVOGADO : TÚLIO MARCANTÔNIO RAMOS FILHO E OUTRO ASSUNTO: Civil - Contrato - Financiamento - c/ alienação fiduciária

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Castro Filho, Humberto Gomes de Barros e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília, 27 de março de 2007

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO Secretária

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