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Análise dos impactos socioeconômicos e ambientais da carcinicultura marinha no município de Santo Amaro: estudo de caso do distrito de Acupe

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Academic year: 2021

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ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA CARCINICULTURA MARINHA NO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO:

ESTUDO DE CASO DO DISTRITO DE ACUPE

Trabalho de conclusão de curso a ser apresentado no curso de graduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata

SALVADOR 2008

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carcinicultura marinha no município de Santo Amaro: estudo de caso do distrito de Acupe / João Augusto Nunes Carneiro. –

Salvador, 2008. 83 f. Il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Economia) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal da Bahia. Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata

1. Carcinicultura. 2. Mariscos. 3. Pesca. I. Cordeiro, João Augusto Nunes. II. Mata, Henrique Tomé da Costa. III. Título.

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ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA CARCINICULTURA MARINHA NO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO: ESTUDO DE CASO DO DISTRITO DE ACUPE

Aprovada em 11 de dezembro de 2008.

Orientador: __________________________________________ Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata

Faculdade de Economia da UFBA

__________________________________________ Prof. Dr. Vitor de Athayde Couto

Faculdade de Economia da UFBA

__________________________________________ Prof. Mc. Arismar Cerqueira Sodré

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estudassem e, também em memória, a meus irmãos Rubem, Ivonildes e Rita.

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Agradeço, primeiramente, ao universo por permitir minha existência; aos professores da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia, especialmente, Henrique Tomé e Vitor Athayde, por terem me repassado seus preciosos conhecimentos; a todos os meus colegas de FCE, pelas horas de estudos conjuntamente, pelas sadias discussões e brincadeiras; a Gileno Novaes Paiva Júnior e Guillermo Javier Pedreira Etkin, pelas dicas e ajudas prestadas; aos moradores de Acupe, a Neilon, a Murilo e, especialmente, a Helinho, pelas indicações, pelos acompanhamentos, pela solicitude e por dedicar um pouco de seus tempos comigo. Sem vocês este trabalho tornar-se-ia muito mais difícil.

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A carcinicultura em Acupe, a exemplo do que acontece em todo o nordeste brasileiro, é praticada em estuários; em áreas de preservação permanente, preferencialmente, mangues e apicuns; gera poucos empregos formais e informais de caráter temporário, em época de despesca e de construção de viveiros; pagando muito pouco (até um salário mínimo) à maior parte dos trabalhadores; a maioria das fazendas não cumpre as determinações da Resolução CONAMA 312/2002; quase a totalidade das empresas não possui licença ambiental, gera muitos conflitos de uso (de terras e de águas) com as comunidades onde se instalam. A renda gerada na atividade não fica na localidade onde as empresas estão instaladas. O presente estudo se propõe a identificar e descrever não só os impactos sócio-econômicos e ambientais da carcinicultura em Acupe, como também identificar o padrão tecnológico, a quantidade e qualidade dos empregos gerados, a contribuição das empresas para a melhoria da qualidade de vida da população local e como esta população vê a atividade. Os resultados indicam que a atividade opera desordenadamente. Somente duas empresas possuem registro comercial; o padrão tecnológico, exceto o da empresa estatal Bahia Pesca, é rudimentar, não possuem os equipamentos básicos para garantir a qualidade e a quantidade adequada do produto final, de acordo com a matriz de insumo/produto. Nenhuma das empresas possui licença ambiental para funcionar, inclusive a estatal. As condições de vida da população local pioraram, já que a renda média caiu e o número de pessoas que dependiam do mar e do mangue para sobreviver aumentou, a comunidade tem a pior impressão da atividade, pois, além de poluir o meio ambiente, diminuiu a área, de onde, antes, podia retirar seu sustento.

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Figura 01 – Total dos desembarques e despescas globais de pescados...14

Gráfico 01 – Principais países produtores de camarão cultivado (em 2005)...15

Gráfico 02 - Principais resultados das fazendas de engorda do Brasil...18

Gráfico 03 - Evolução das exportações de camarões (toneladas/ano)...19

Gráfico 04 - Evolução do preço médio de camarões exportados (US$ Fob/ Ano)...20

Gráfico 05 - Evolução das exportações de camarões (US$ 1.000,00 fob/ano)...21

Gráfico 06 – Principais estados brasileiros produtores de camarão (em 2005)...27

Gráfico 07 - Evolução da área de cultivo de camarão (em hectares)...27

Figura 02 – Localização do distrito de Acupe, Santo Amaro, Bahia...29

Quadro 01 – Quadro geral da carcinicultura marinha por Estado – ano 2004...29

Foto 01 – Ilustração de modelo de bandeja para colocação de ração para alimentar Camarões...33

Foto 02 – Ilustração de modelo de comporta de despesca de camarões dos viveiros da Região...33

Figura 03 – Ilustração de criação de camarões em gaiolas flutuantes, Guarapuá, BA...36

Quadro 02 – Cadeia produtiva da carcinicultura convencional e as externalidades Produzidas...36

Figura 04 – Estufa para o cultivo superintensivo de camarões na Estação Marinha de Aquacultira (EMA) da FURG, Brasil...38

Figura 05 – Estufa para cultivo superintensivo de camarões no Waddell Mariculture Center, Carolina do Sul, EUA...38

Figura 06 – Floco microbiano colonizado por protozoário ciliado...39

Figura 07 – Cianobactérias filamentosas auxiliando a formação do floco microbiano...39

Figura 08 – Núcleos do floco formado pela aglomeração de cianobactérias filamentosas, bactérias e colonizado por protozoários...39

Quadro 03 – Classificação dos empreendimentos de carcinicultura segundo a Resolução CONAMA nº. 312/2002...44

Quadro 04 – Classificação dos empreendimentos de carcinicultura segundo a Norma Técnica NT – 001/99...45

Foto 03 – Símbolo da Bahia Pesca na Fazenda Oruabo em Acupe...47

Foto 04 – Maquete da Fazenda Oruabo em Acupe...47

Foto 05 – Ilustração de um viveiro de camarões cheio de água...48

Foto 06 – Ilustração de um viveiro de camarões vazio...48

Gráfico 08 – Grau de instrução dos entrevistados...49

Gráfico 09 – Ocupações dos entrevistados hoje...50

Gráfico 10 – Faixa de renda dos entrevistados (em Reais)...51

Gráfico 11 – Renda familiar média mensal (em Reais)...52

Gráfico 12 – Ocupações dos entrevistados antes da instalação da carcinicultura na região..52

Gráfico 13 – Faixa de renda dos entrevistados antes da instalação da carcinicultura na Região...53

Gráfico 14 – Opinião Sobre a Carcinicultura, Antes e Depois de a Atividade se Instalar na Região...55

Gráfico 15 – Opinião dos Entrevistados Quanto à Melhor Opção de Desenvolvimento para a Região...56

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Foto 10 – Ilustração de bomba utilizada para encher os viveiros...60

Foto 11 – Ilustração de bomba que derrama diesel no mangue...60

Foto 12 – Ilustração de óleo lubrificante derramado no mangue...61

Foto 13 – Ilustração de sujeira dentro e fora de viveiro...62

Foto 14 – Ilustração de contaminação da água de viveiro...62

Gráfico 16 – Proporção entre homens e mulher por faixa etária...66

Gráfico 17 – Comparação entre os níveis de rendas per capta médias das atividades principal e secundária hoje e antes da instalação da carcinicultura na região..67

Tabela 01 – Condições de vida após a instalação da carcinicultura na região...67

Gráfico 18 – Opinião dos trabalhadores com 40 anos ou mais, sobre suas condições de vida antes da instalação das fazendas de carcinicultura na região...68

Foto 15 – Ilustração dos impactos ambientais gerados através da emissão de resíduos estranhos no mangue...69

Foto 16 – Ilustração de estrutura de apoio...71

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1 INTRODUÇÃO 11

2 PANORAMA DA CARCINICULTURA 14

2.1 A CARCINICULTURA NO MUNDO 14

2.2 A CARCINICULTURA NO BRASIL 16

2.3 A CARCINICULTURA NA BAHIA 27

2.4 A CARCINICULTURA NO DISTRITO DE ACUPE 30

2.5 A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA 31

2.6 DESCRIÇÃO DE ALGUNS PROJETOS ESPECIAIS DE CARCINICULTURA 37

3 ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS AO SETOR 41

4 RESULTADOS 47 4.1 PRODUTORES 47 4.2 TRABALHADORES 49 4.3 MORADORES 49 5 DISCUSSÃO 57 5.1 PRODUTORES 57 5.2 TRABALHADORES 64 5.3 MORADORES 65 6 CONCLUSÃO 70 REFERÊNCIAS 73 ANEXOS 79

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1 INTRODUÇÃO

A carcinicultura é a atividade de criação de crustáceos. Porém, explica Willian Severi apud Gardini (2003, p.3), "O termo é empregado genericamente para referir-se ao cultivo de crustáceos, sejam camarões, lagostas, caranguejos ou crustáceos microscópicos. Entretanto, seu uso é mais comumente associado ao cultivo de camarões”.

Essa criação pode ser feita com camarões de água doce ou salgada, em gaiolas submersas na água ou em tanques/viveiros escavados no chão. Este processo que utiliza tanques escavados no chão é chamado de convencional ou tradicional, o qual será o objeto de pesquisa deste trabalho.

A crescente demanda mundial por camarões fez com que a atividade crescesse assustadoramente no Brasil, na década de 1990. Os Estados Unidos e a Europa vêm apresentando um incremento anual de demanda da ordem de 60 mil toneladas de camarão. (BNDES, 2004, p.103).

O Nordeste do Brasil é responsável por mais de 90% da produção de camarões em cativeiro do país. Sendo a Bahia o terceiro maior produtor nacional, ficando atrás do Rio Grande do Norte e do Ceará (BAHIA PESCA1, 2006). Porém o rápido crescimento dessa indústria é

associado pelos ambientalistas à destruição e poluição ambiental, a conflitos com pescadores, marisqueiros e catadores de crustáceos (existem fazendas que impedem o acesso destes aos mangues, apicuns, restingas, etc.), à desorganização social e cultural das comunidades locais, expulsão destas de suas terras.

Conforme a Pires Advogados & Consultores (2005, p.3) a atividade é concentradora de renda e voltada à exportação, os lucros e da renda gerada no setor podem estar beneficiando populações de outros estados e países.

Os ambientalistas acusam os carcinicultores de deixar para trás enormes passivos ambientais, dívidas sociais e ecológicas, como é o caso do Equador e da Tailândia, por exemplo, (BATISTA; TUPINAMBÁ, 2004, p. 1) e que, decididamente, não se incorporam aos balanços contábeis das empresas envolvidas na lucratividade sempre crescente que a atividade proporciona.

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Esse rápido e enorme crescimento da atividade tem preocupado muito os ambientalistas, pois em todas as três etapas do processo produtivo (larvicultura, engorda e beneficiamento) ocorrem externalidades negativas2, impactos ambientais, sociais e culturais consideráveis que merecem muita atenção quanto às suas conseqüências.

Sob o ponto de vista econômico, é um dos segmentos aqüícolas mais rentáveis, permitindo um retorno do capital investido em menos de três anos (ASSAD, 2002 apud LIMA, 2004).

A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar e identificar os impactos socioeconômicos e ambientais da carcinicultura e seus reflexos na comunidade local3. Quanto aos objetivos específicos, estes são três, quais sejam: 1) Analisar a estrutura do mercado de trabalho depois da instalação da atividade carcinicultora na região, 2) Identificar e determinar as percepções e motivações sociais e ambientais da comunidade em relação à atividade local da carcinicultura e 3) Identificar o padrão tecnológico de produção da carcinicultura na região. Ao final desta pesquisa, através destes objetivos, espera-se conseguir analisar e identificar as relações que a atividade mantém com a comunidade, com seus empregados e com o meio ambiente.

Esta pesquisa é do tipo descritivo-qualitativa, com fontes de informação primárias e secundárias. Os dados primários foram obtidos, principalmente, através da aplicação de questionários, com os moradores, os produtores e seus trabalhadores. Como já se sabia de antemão que a quantidade de produtores e trabalhadores era pequena e das dificuldades que se colocaria para conseguir entrevistá-los, decidiu-se aplicar o maior número de questionários possível. Quanto aos moradores, tinha-se o tamanho da população de Acupe no ano de 2000 e o da sua Sede, Santo Amaro, nesse ano e em 2007, que mostrava uma diminuição do número de moradores. Então, se resolveu considerar a população do distrito como tendo se mantido estável, em 7.522 habitantes (hoje, sabe-se que a população de Acupe, assim como a de Santo Amaro, regrediu para 6.978 habitantes). Tentando tornar a amostra o mais representativa possível, optou-se por uma amostragem probabilística aleatória simples. Decidiu-se por um erro amostral de 5%, o que, segundo a fórmula para cálculo do tamanho da amostra: n=N.n0/N+n0 (onde n é o tamanho da amostra, N é o tamanho da população e n0 é a primeira aproximação do tamanho da amostra, sendo n0=1/E2, onde E é o erro amostral tolerável), dá

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uma amostra de aproximadamente 378 indivíduos. Porém, devido ao prazo para apresentação deste trabalho à FCE/UFBA e a questões de ordem financeira, só se conseguiu aplicar 304 questionários aos moradores. No entanto, como a população de Acupe diminuiu, os 304 questionários aplicados nos dá um nível de confiança de 94,4%.

O questionário aplicado aos produtores teve como itens mais importantes os referentes à quantidade e à qualidade da mão-de-obra, tipo de relação trabalhista (formal/informal; permanente/temporário) com os trabalhadores, período e prazo de contratação; os referentes ao uso de técnicas, máquinas e equipamentos no ciclo produtivo; à produção e à produtividade; ao tratamento de efluentes; ao relacionamento com a comunidade e com o órgão ambiental encarregado de fiscalizar a atividade e os relacionados aos impactos ambientais provocados pela atividade. Já o questionário aplicado aos trabalhadores, os itens mais importantes para a pesquisa foram os relacionados à qualificação e ao nível de escolaridade dos trabalhadores; ao tipo de relação trabalhista com a empresa; à renda obtida com o trabalho na empresa e fora dela, (inclusive as transferências governamentais); à satisfação com o trabalho; e os relacionados aos impactos ambientais provocados pela atividade. No questionário dirigido à comunidade, buscou-se saber, prioritariamente, o nível de escolaridade, a quantidade de pessoas por família; o tipo de ocupação/trabalho exercido e as relações trabalhistas, o nível de renda pessoal e familiar, a opinião acerca da atividade e as condições de vida (antes e após a instalação da carcinicultura na localidade) e a opinião sobre a melhor alternativa para desenvolver a região. Utilizou-se dois pesquisadores, fixos, para aplicação dos questionários. Contratou-se um barco para poder fazer visitas a alguns viveiros, já que ficam em pequenas ilhas da localidade. Conversou-se e entrevistou-se produtores, trabalhadores, técnicos, moradores e com representantes de órgãos públicos encarregados de incentivar e de fiscalizar a atividade, em Acupe, distrito de Santo Amaro e em Salinas das Margaridas, Bahia.

O total de entrevistas foi de 323, 6 com produtores, 13 com trabalhadores e 304 com moradores.

A tabulação e a análise dos dados primários foram feitas com o auxílio do software estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 15.0.

3 Agrupamentos humanos (pescadores, agricultores, índios, marisqueiros, caiçaras, etc.) que vivem nas proximidades das áreas onde as

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2 PANORAMA DA CARCINICULTURA

2.1 A CARCINICULTURA NO MUNDO

“A atividade de criação de camarão em cativeiro originou-se há pelo menos cinco séculos”. (BATISTA; TUPINAMBÁ, 2004).

A carcinicultura faz parte de uma atividade mais ampla denominada aqüicultura4. Denomina-se aqüicultura marinha (maricultura) a que é praticada em águas do mar ou de estuários e aqüicultura continental a que é praticada em águas continentais, portanto, predominantemente, águas doces. A aqüicultura é a atividade de produção de alimentos que mais cresce no mundo atualmente. Ela é de extrema importância para a humanidade, não só pela capacidade de produção de alimentos, mas também por diminuir a pressão sob os estoques pesqueiros naturais, feita através da captura no meio ambiente. Para se ter uma idéia, em 1975, da oferta total de pescado no mundo (68.153.992 toneladas), a aqüicultura representava apenas 7,7% (5.219.513 toneladas). Segundo Tacon (2007, p. 24) em 2005 esse percentual chegou a 40%, (62.959.046 toneladas), avaliadas em 78,4 bilhões de dólares. Tacon (2007, p. 24) afirma que “a produção aqüícola dobrou desde 1995, e segue crescendo, em média, 8,7% ao ano, desde 1950. A pesca, por outro lado, cresceu apenas 2,9% ao ano nesse mesmo período”. A Figura 01, a seguir, apresenta a evolução da captura de pescados na natureza e da aqüicultura, desde 1950 até 2004.

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Figura 01 – Total dos desembarques e despescas globais de pescados Fonte: FAO, 2007 apud revista Panorama da Aqüicultura, vol. 17, nº. 100, p 25, março/abril 2007).

Segundo Tacon (2007, p. 25), “no que se refere à economia dos países produtores, a participação dos países em desenvolvimento aumentou de 42,4% (271.101 toneladas) em 1950 para 93,3% (58.75 milhões de toneladas) em 2005”.

A Ásia se destaca mundialmente tanto na pesca extrativa como na produção aqüícola, sendo, em ambas as modalidades, o maior produtor mundial, inclusive na carcinicultura, cuja produção mundial em 2005 atingiu 3.143.212 toneladas, sendo que, desse total, 85,11%, (2.675,336 toneladas) foi de camarão marinho e o restante de camarão de água doce. (TACON, 2007, p. 28).

O camarão hoje ocupa posição de destaque entre as commodities do agronegócio dos paises que exportam esse produto. Em volta da grande agroindústria camaroneira mundial existe toda uma estrutura montada para incentivar a atividade. Desde fábricas de máquinas e equipamentos específicos (aeradores, grupos geradores, bombas de sucção, estufas, oximetros, salinômetros, etc) até as indústrias de rações que se desenvolveram muito atuando junto e interagindo com as fazendas de criação/engorda e os laboratórios de reprodução de pós-larvas, no intuito de desenvolver rações cada vez mais apropriadas à dieta dos animais. A agroindústria camaroneira, também, com o apoio de governos federais, estaduais e municipais; de universidades e instituições de pesquisa para desenvolver a atividade.

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Muitos países litorâneos de clima tropical, a exemplo do Brasil, incentivaram o desenvolvimento desta atividade em seus países visando às divisas geradas pelo setor, cujas importações mundiais, entre 2000 e 2007, realizadas principalmente por países desenvolvidos, cresceram, em média, 7% ao ano. Com um total de 2.108.489 toneladas exportadas, o que gerou uma receita de US$14.782.260,00, em 2007. Bom para os governos, melhor ainda para os produtores que obtiveram grandes lucros com a atividade.

Segundo Lima (2004, p. 21), “o cultivo de camarão marinho tem-se tornado um investimento cada vez mais atrativo em muitos países de clima tropical que possuem ecossistemas estuarinos planos, os quais proporcionam condições ideais para o desenvolvimento da atividade”.

O gráfico a seguir apresenta os 10 principais paises produtores de camarão cultivado, com suas respectivas produções, tamanhos da área de produção e produtividades, referentes ao ano de 2005: 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 China Tailân dia Vietnã Indo nésia Índia Equa dor Méx ico Bras il Bang lade sh Filipi nas

Produção (T ) Área em Produção (ha) Produtividade [(kg/ha/ano) x10] Gráfico 01 – Principais paises produtores de camarão cultivado (em 2005)

Fonte: FAO 2008 apud Associação Brasileira de Criadores de Camarão.

Com relação às importações mundiais, segundo Rocha (2007, p. 62):

...estas cresceram de 1.410.920 t, em 2000, para 2.160.530 t, em 2006. A taxa de crescimento anual é de aproximadamente 7,4%. Inclusive, destaca-se o aumento das importações norte-americanas, com uma taxa de 11,7% no volume de 2006 (590.299

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ton) em relação ao de 2005 (528.446 t), cuja participação do camarão brasileiro foi inferior a 1%.

Os principais paises importadores mundiais de camarões são: Estados Unidos, Japão, Espanha, França, Países Baixos, Itália, Bélgica.

2.2 A CARCINICULTURA NO BRASIL

Segundo Lima (2004, p. 21):

Os estudos que serviram de base ao desenvolvimento da carcinicultura datam de 1930; entretanto a carcinicultura, com potencial de rentabilidade capaz de atrair a atenção de investidores, surgiu entre 1975 e 1985, quando o novo agronegócio foi consolidado definitivamente a partir da produção de pós-larvas em laboratórios comerciais.

No Brasil as experiências com a atividade remontam aos anos 70. Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC, 2006), o Rio Grande do Norte é onde teve início a carcinicultura brasileira:

... o primeiro projeto de produção comercial do camarão cultivado ocorreu no período entre 1978 e 1984. O Governo do Rio Grande do Norte importou a espécie Penaeus japonicus e reforçou o ‘Projeto Camarão’ [....] Esse período caracteriza a primeira fase do camarão cultivado no Brasil, onde predominaram cultivos extensivos de baixa densidade de estocagem, reduzida renovação da água e uso da alimentação natural produzida no próprio viveiro. (ABCC, 2006).

Apesar de não se ter obtido sucesso com a produção comercial do P. japonicus (a espécie não se adaptou ao regime de chuvas da região) as experiências conseguidas foram proveitosas; assevera a ABCC:

... os resultados favoráveis em relação à reprodução e larvicultura e ao processo de crescimento e engorda, serviram de base para a mobilização dos mecanismos federais de incentivos e financiamentos à iniciativa privada da época como FINOR, BNCC, FISET e SUDEPE. A realização em Natal, em setembro de 1981, do “I Simpósio Brasileiro Sobre Cultivo do Camarão” também teve papel decisivo na divulgação do desempenho da espécie importada do Japão e na implantação das primeiras fazendas de camarão no Nordeste. (ABCC, 2006).

Logo depois da experiência com o camarão japonês tentou-se cultivar espécies nativas como o

L. subtilis, L. paulensis e L. Schimitti. Nesta época, alguns cultivos passaram a adotar uma

maior densidade de povoamento (de 4 a 6 camarões por m² de espelho d’água), taxas de renovação de água de 3% a 7% e alimento concentrado. Ficou caracterizado nesta fase o

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primeiro intento de estabelecer um sistema semi-extensixo para produzir o camarão confinado no Nordeste. (ABCC, 2006).

Contudo a produtividade de 400 a 600kg/ha/ano alcançada pelas espécies aborígenes eram, segundo a ABCC, suficientes apenas para cobrir os custos diretos de produção das melhores fazendas. Assim se encerrou a segunda fase da carcinicultura nacional.

Novamente o acúmulo de experiências foi muito importante para se chegar ao estágio atual da carcinicultura brasileira. Ainda na década de 1980, foram importadas pós-larvas e reprodutores da espécie Litopenaeus vannamei, originária da costa oeste do Pacífico.

A partir do momento em que laboratórios brasileiros dominaram a reprodução e larvicultura do L. vannamei e iniciaram a distribuição comercial de pós-larvas, o que vem a ocorrer na primeira metade dos anos 90, as fazendas em operação ou semiparalisadas adotaram o cultivo do novo camarão, obtendo índices de produtividade e rentabilidade superiores aos das espécies nativas. As validações tecnológicas foram intensificadas no processo de adaptação do L. vannamei e a partir de 1995/1996 ficou demonstrada a viabilidade comercial de sua produção no País. (ABCC, 2006).

Com a domesticação do L. Vannamei (atualmente a única espécie cultivada comercialmente em larga escala no país), adveio à viabilidade econômica para a produção comercial. Entretanto, o aumento da produção só ocorreu em meados da década de 1990, com o aumento da demanda mundial, associada aos altos preços do produto. Nessa época o governo brasileiro criou um órgão para incentivar a aqüicultura e a pesca, o DPA (Departamento de Pesca e Aqüicultura), e começou a conceder financiamentos para a atividade visando a exportações. Hoje esse Departamento transformou-se em Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República – SEAP/PR.

A carcinicultura marinha é uma atividade que se encontra em franca expansão, sendo, atualmente, o segmento da aqüicultura que mais cresce no cenário mundial, com grandes perspectivas de ampliação de mercado.

Atualmente a carcinicultura é a atividade que mais se destaca na aqüicultura nacional. Segundo dados do IBAMA, a produção aqüícola brasileira em 2005 alcançou 257.780 toneladas, com 179.746 toneladas provenientes da aqüicultura continental e 78.034 da aqüicultura marinha, sendo que destas, 63.133,5 toneladas, ou seja, 81% da produção da maricultura foram provenientes da carcinicultura.

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Como pode ser constatado no gráfico 02, abaixo, a carcinicultura teve um extraordinário crescimento nos últimos anos: de 1997 para 2004 a área de cultivo cresceu mais de 367%; nesse mesmo período a produção teve um extraordinário crescimento da ordem de 2008%, resultado, em parte, devido ao aumento da produtividade, que no mesmo período cresceu aproximadamente 350%. 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 100.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Área de viveiros (ha) Produção (ton) Produtividade em Kg/ha/ano Gráfico 02 - Principais resultados das fazendas de engorda do Brasil

Fonte: ABCC apud Bahia Pesca

De acordo com a ABCC (2007), a queda de produção verificada nos anos de 2004 e 2005 (gráfico 02), deveu-se a fatores tais como uma ação antidumping movida por pescadores estadunidenses contra o camarão brasileiro e de outros países, o que provocou uma redução de 50% das exportações nacionais para os Estados Unidos, nesse período, chegando a, praticamente, zerar em 2007, quando o volume exportado para aquele país foi de apenas 327kg, gerando uma receita de US$4.140,00 (quatro mil e cento e quarenta dólares americanos); em 2003 esses números foram de respectivamente 19.061.486kg e receita de US$85.762.223,00 (oitenta e cinco milhões, setecentos e sessenta e dois mil e duzentos e vinte e três dólares). Assim, a nossa participação nas importações americanas de camarão que era de 5,48%, em 2003, caiu para 0,00008%, em 2005. Outro fator importante na queda da produção, foi causado pelo vírus da Mionecrose Infecciosa, no Nordeste e o vírus da Mancha Branca, em Santa Catarina, que provocaram redução da produtividade nestas localidades, chegando a 80% de perdas na produção.

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De fato, observando-se a gráfico acima se constata que a trajetória ascendente que as exportações vinham percorrendo desde 1997 foi interrompida a partir de 2004 (gráfico 03).

2. 27 7 2. 62 3 4. 81 3 13. 228 23 .4 07 39 .9 60 60 .8 46 54 .3 58 45. 033 34 4 37 8 2.26 5 10.0 14 21 .2 86 37 .6 93 57 .9 59 51 .7 90 41 .6 80 4, 5 26 ,4 43 5 2.43 4 4. 18 0 4. 56 7 5. 536 5. 01 5 3. 76 5 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Brasil Nordeste Bahia Gráfico 03 - Evolução das exportações de camarões (toneladas/ano) Fonte: ABCC

A alta lucratividade proporcionada pela atividade em meados dos anos 1990 foi a responsável pelo seu colossal crescimento. “Sob o ponto de vista econômico, é um dos segmentos aqüícolas mais rentáveis, permitindo um retorno do capital investido em menos de três anos (ASSAD, 2002, apud LIMA, 2004)”. Assim, como prescreveram os Teóricos Neoclássicos: “a obtenção de lucros extraordinários atrai competidores no longo prazo”. E foi o que aconteceu com a entrada de grandes produtores no mercado, como Malásia, China e Tailândia, que passaram a produzir, também, o litopenaeus vannamei, aumentando muito a oferta, o que fez os preços caírem gradativamente (gráfico 04), chegando em 2004 a ser quase um terço do que era em 1997, diminuindo a rentabilidade do negócio.

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10, 88 10 ,1 6 8, 36 7, 95 5, 52 4, 38 4, 37 4 4,25 7, 43 6, 34 7,21 5, 02 4, 11 3, 91 3, 81 3,94 12, 32 3, 64 6, 43 7, 8 4, 97 4, 04 3, 83 3, 22 3,47 8, 78 0 2 4 6 8 10 12 14 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Brasil Nordeste Bahia

Gráfico 04 - Evolução do preço médio de camarões exportados (em US$/ton; Fob/Ano) Fonte: PROMO apud Bahia Pesca

Se por um lado o setor perdeu com o declínio do preço médio, por outro continuou auferindo bons lucros, pois, o volume das exportações em 2004 foi vinte e quatro vezes maior que em 1997 (gráfico 03), o que proporcionou ao setor vendas que atingiram o montante de US$216.683.000,00 (duzentos e dezesseis milhos e seiscentos e oitenta e três mil dólares), conforme gráfico 05, abaixo. Contudo, o setor não resistiu. O golpe fatal foi dado pela depreciação do Dólar americano frente ao Real (R$/US$). Até 2003 as coisas iam muito bem: a moeda americana teve cotação média acima dos R$3,00 (três reais), bateu-se os recordes de produção (90.000 toneladas), de produtividade (6.084 kg/ha/ano), de volume exportado (58.455 toneladas) e o recorde de receita nesta operação (226 milhões de dólares). Porém, a partir de 2004 as coisas começaram a mudar: a ação antidumping e as enfermidades acima mencionadas e o Dólar americano, que desde meados de 2003 vinha percorrendo uma trajetória descendente, chegou ao final de 2005 com uma cotação média R$2,43 (dois reais e quarenta e três centavos), ao final de 2006, essa média foi de R$2,17, em 2007 a moeda americana teve cotação média de R$1,90 e chegou a R$1,55 (um real e cinqüenta e cinco centavos) em agosto de 2008. Essa apreciação do Real de mais de 60%, fez os carcinicultores brasileiros inundar o mercado interno com camarões a preços (R$7,50), antes, jamais vistos. Isso sem falar das fortes chuvas que caíram no Nordeste em abril de 2008 e provocaram cheias, principalmente no Rio Grande do Norte, que é o maior produtor nacional. Esse

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conjunto de fatores (enfermidades nos animais, ação antidumping, apreciação do real e cheias) segurou as rédeas da indústria carcinicultora brasileira, nos últimos quatro anos.

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Brasil Nordeste Bahia Gráfico 05 - Evolução das exportações de camarões (em US$1.000,00; fob/ano) Fonte: PROMO apud Bahia Pesca

Se esses fatores não tivessem atuado, provavelmente, o Brasil já seria o principal centro produtor de camarões marinhos da América Latina e, talvez, o mais avançado do mundo. Pois, com um crescimento exponencial médio de 71% ao ano, registrado entre 1997 (3.600 ton) e 2003 (90.180 ton), (Rocha, 2007); uma área de produção de 15.000 hectares, maior produtividade entre os países produtores (6.048kg/ha/ano, contra 4.500kg/ha/ano do segundo colocado), 36 laboratórios de produção de pós-larvas, gerando quase 16 bilhões de indivíduos ao ano; tinha-se 46 unidades de processamento e estocagem, com capacidade para estocar 16 mil toneladas e processar 925 toneladas por dia, já se estaria no topo ou ter-se-ia entrado em colapso.

Esse acelerado desenvolvimento da carcinicultura nacional, em especial na região Nordeste (atualmente esta Região responde por mais de 95% do total produzido no país), apoiado por vultosos e crescentes investimentos, coloca em pauta, com destaque, a questão da sustentabilidade ambiental da atividade nos próximos anos e a correta avaliação dos riscos aos quais nossos ecossistemas estão sendo submetidos. (BNDES, 2004).

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Segundo Batista e Tupinambá (2004, p. 2) o rápido crescimento da carcinicultura no país “não se trata de um fenômeno espontâneo. Na verdade, uma política de desenvolvimento e incentivo à criação de camarão, pautada na lógica do agronegócio, implementada pelo Estado brasileiro, é a responsável pelo crescimento vertiginoso da atividade”.

Os impactos atribuídos à atividade vêm provocando muita polêmica entre os que são a favor e os que são contra. Alguns dos pontos mais divergentes entre estas pessoas são os referentes à capacidade de geração de emprego e renda pela atividade, à inclusão das comunidades locais no processo, à segurança alimentar5 e aos impactos ambientais, que se refletem social, cultural e economicamente nas comunidades. A partir da observação dessas discussões, alguns questionamentos se manifestaram, quais sejam: por que as comunidades locais são contra a atividade, já que os carcinicultores afirmam gerar 3,5 empregos por hectare e contribuírem para a segurança alimentar, dentre outros benefícios alardeados. Todos esses aspectos, se comprovados ou não, geram impactos (positivos ou negativos) na qualidade de vida das comunidades tradicionais que habitam as redondezas dos empreendimentos.

Esta atividade utiliza intensivamente recursos naturais na sua cadeia produtiva e gera efluentes sólidos e líquidos que precisam ser tratados antes de serem descartados no meio ambiente por causa da grande concentração de produtos orgânicos e químicos neles presentes. Porém, boa parte dos produtores não cumpre a legislação (Resolução CONAMA nº. 312/2002) que disciplina a atividade e que impõe o controle daqueles tipos de resíduo, dentre outras exigências. Localizada, em sua grande maioria, às margens de rios, lagoas e manguezais, (de onde retiram água, juntamente com microrganismos presentes nela, para abastecer os viveiros), a atividade, do jeito que vem sendo praticada, é vista pelos ambientalistas e pelas comunidades locais como vilã, pois, segundo eles, é prejudicial não só ao meio ambiente, mas também às comunidades locais e à sociedade como um todo, o que vem provocando sérios conflitos de produtores com as comunidades locais e os ambientalistas, que temem acontecer no Brasil o que ocorreu em paises como Filipinas, Tailândia, Taiwan, China, Indonésia, México, Honduras e Equador, onde o desenvolvimento acelerado e desordenado da atividade provocou sérios danos econômicos, ambientais, sociais e culturais.

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Em entrevista concedida à Assessoria de Comunicação do Centro de Recursos Ambientais (CRA), em outubro de 2006, o carcinicultor Alexandre Alter Wainberg, que pratica a carcinicultura orgânica, indicou os principais erros cometidos pelos carcinicultores brasileiros, que nada mais são do que os impactos negativos provocados pela atividade atualmente, quais sejam:

· Destruição de ecossistemas costeiros, tais como, manguezais;

· Poluição dos recursos hídricos com nutrientes provenientes da ração e fertilização química; · Introdução de espécie exótica no meio ambiente natural;

· Utilização de produtos químicos, tais como, cloro, conservantes e medicamentos não controlados;

· Interferência sobre os usuários tradicionais dos recursos naturais, tais como, pescadores e marisqueiros.

Tradicionalmente, os membros das comunidades locais que vivem ao longo do litoral brasileiro têm como principal atividade produtiva, fonte de renda e de sobrevivência os mariscos, os crustáceos, os peixes, etc., que são capturados nos espaços marinho-costeiros e suas áreas de influência (maguesais, apicuns, salgados, gamboas, etc.), para consumo próprio e/ou venda do excedente, no intuito de obter dinheiro para comprar outros produtos de que necessitam. Os pesquisadores Martins e Souto destacam a importância de um desses ambientes marinhos para as comunidades locais:

Os manguezais estão entre as áreas alagadiças mais importantes da faixa tropical e constituem um dos tipos de ecossistemas mais produtivos do planeta. Além de desempenharem funções ecológicas importantes, esses ecossistemas representam a principal fonte de renda e subsistência para inúmeras comunidades pesqueiras tradicionais, como a comunidade de Acupe (Santo Amaro, Bahia). (2006, p. 98).

Souto e Marques, (2006, p. 106), afirmam:

Os manguezais são ecossistemas altamente produtivos e por esta razão bastante utilizados por populações humanas que tradicionalmente vivem da mariscagem e da pesca artesanal, como é o caso da que habita o Distrito de Acupe em Santo Amaro -BA, situado na margem oeste da Baía de Todos os Santos (BTS).

A carcinicultura vem sendo alvo de sérias acusações por parte de comunidades locais, ambientalistas, pesquisadores, etc., o que vem gerando uma grande polêmica entre os envolvidos direta e indiretamente com a atividade e outras pessoas. Ao final do SEMINÁRIO

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MANGUEZAL E VIDA COMUNITÁRIA: OS IMPACTOS SÓCIOAMBIENTAIS DA CARCINICULTURA, realizado em Fortaleza-Ceará, em agosto de 2006, os 166 participantes do evento, (representando 15 estados brasileiros) elaboraram um documento denominado “Carta de Fortaleza dos Povos das Águas”, que faz sérias denúncias e acusações não só à atividade de carcinicultura, mas também a governos estaduais e federal e instituições privadas e públicas (como polícias militar e civil), que fomentam e protegem a atividade ou fazem vistas grossas aos impactos por ela provocados.

O primeiro dos dezesseis itens desse documento assevera o seguinte:

Afirmamos que ocorre de forma acelerada a destruição dos manguezais no Brasil, e de maneira predominante pela atividade de carcinicultura ou cultivo de camarão, com privatização sem precedentes de água e de terras públicas e indígenas, expulsão das populações locais, desmatamento de manguezais, salinização de água doce, poluição de rios, gamboas e estuários, diminuição crescente do pescado (mariscos, crustáceos e peixes) e empobrecimento dos Povos das Águas. Essa destruição dos manguezais e de outros ecossistemas costeiros segue avançando e a ela se soma uma violação sistemática dos direitos humanos e ambientais dos Povos do Mar, dos Mangues e dos Rios. (2006, p. 01).

A Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) rebateu essas acusações:

Mais uma vez os pseudo-ambientalistas capitaneados pelo oportunista João Alfredo6

e pelo deliberado alienismo do Instituto Terramar, dão uma clara demonstração de que estão a serviço dos interesses contrariados “além mar.

Consideramos extremamente sensacionalistas as acusações e afirmações contidas na “Carta de Fortaleza”, documento elaborado sob a liderança da ONG Terramar, entidade descomprometida com o social e ambiental e que, através da manipulação de populações carentes da zona rural do litoral Nordestino ligadas a pesca artesanal e extrativista, vem apresentando a mídia informações inverídicas, distorcidas e tendenciosas sobre impactos ambientais e sociais da atividade de cultivo de camarão.

Entendemos que o verdadeiro objetivo desta “Carta de Fortaleza” é garantir a continuidade dos recursos advindos de fontes internacionais como a Inter-American Foundation (IAF), Fundação Avina e Fundação BankBoston, que financiam as atividades da ONG Terramar, representante no Brasil da Red Manglar International, entidade que tem a função de coordenar campanhas contra a aqüicultura e articular o financiamento internacional para suas filiadas, a exemplo do Terramar em nosso país (Ambientalismo o Novo Colonialismo-Editora Capax Dei, 2005), cuja principal função parece ser a oposição à carcinicultura através da agitação e da manipulação de populações carentes.

6 Deputado Federal pelo Estado do Ceará. Foi o Relator do Grupo de Trabalho que realizou, em 2004, um estudo sobre a carcinicultura no Nordeste, condenando a atividade.

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A polêmica é tão grande que os Ministérios Públicos Estaduais e Federal vêm tendo que intervir constantemente (cassando licenças e embargando obras, etc.) para resolver os conflitos de interesses envolvidos.

Buscando o reconhecimento e apoio da sociedade para a atividade, a ABCC (Associação Brasileira de Criadores de Camarão) utiliza-se de vários argumentos, que por sua vez são contestados pelos outros atores envolvidos no conflito. Dentre os argumentos utilizados pelos produtores para justificar a atividade estão os de que a carcinicultura gera empregos e é a grande alternativa para acabar com a pobreza no litoral nordestino; que a atividade é realizada principalmente por pequenos produtores, contribuindo com a distribuição de renda; que o cultivo de camarão contribui para a segurança alimentar; que a água que sai dos viveiros é benéfica ao ecossistema manguezal, ou não o prejudica por ser rica em nutrientes.

Os produtores também têm divulgado que a atividade gera 1,89 empregos diretos por hectare, com base em uma pesquisa que teve como metodologia a aplicação de questionários nos centros de processamento, fazendas de engorda e laboratórios de produção de larvas (BATISTA; TUPINAMBÁ, 2004, p. 6). Já os outros envolvidos na questão argumentam que dados oficiais do antigo Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA) apontam a geração de 0,7 empregos por hectare cultivado, sendo que nas grandes fazendas o valor é ainda menor, de 0,2 emprego / hectare cultivado, o que corresponde a 20 empregados (relações formais) em uma fazenda de 100 hectares. Afirmam ainda que, na prática, prevalecem contratações de mão-de-obra temporária, em caráter informal, nos períodos de despesca7 ou de construção de novos viveiros, nas pequenas fazendas, geralmente, predominam as propriedades familiares, portanto, não gerando emprego significativo e que os números apresentados nesse campo devem ser relativizados em face da quantidade de pescadores e marisqueiras locais que ficam sem trabalho e renda em razão da destruição de manguezais, privatização de áreas de uso comum e poluição das águas, além do valor econômico nunca contabilizado dos "serviços ambientais" prestados pelos ecossistemas costeiros. Também é preciso pôr em questão as condições de segurança e saúde do trabalho a que estão submetidos os empregados das fazendas, pois doenças de pele e intoxicação por metabissulfito de sódio têm sido relatadas. Afirmam também que 4% das fazendas concentram 47,6% das áreas cultivadas do país. Dessa forma, caberia a 96% dos produtores apenas pouco mais da metade da produção nacional.

7 Momento no qual os animais são retirados dos viveiros. Esse processo é feito colocando-se uma rede na comporta do viveiro, por onde toda a água escoa, pela ação da gravidade.

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Além disso, os programas de agenciamento ou parceria de que depende grande parte dos pequenos produtores fazem com que a renda acabe se concentrando nas grandes empresas, pois elas determinam a remuneração pelo produto. Nesses casos, as empresas fornecem os insumos e a assistência técnica em troca da exclusividade na compra da produção, assim, o valor do produto será determinado pela empresa e, portanto, muito menor que o valor de mercado. Quanto à contribuição para a segurança alimentar não é verdade porque, além de não se tratar de um produto para consumo das classes populares, o destino da maior parte da produção é o mercado externo. Em 2005 (estando em crise), 71% da produção nacional foi exportada. A Rede Manglar (ONG de defesa do meio ambiente) rebate esse argumento, asseverando:

Verifica-se justamente que se opera uma política contrária à segurança alimentar e nutricional: devastamos nossos recursos naturais e as fontes de alimentos das populações tradicionais do litoral para abastecer um padrão de consumo insustentável. Isso sem falar na contaminação por medicamentos, fertilizantes químicos, produtos sanitários e antioxidantes que são utilizados pela atividade. Em certas localidades, os moradores são obrigados a migrar pela falta de alimentos e inviabilidade do extrativismo e da pesca artesanal causada pela degradação ambiental. O acesso aos rios, às lagoas, às praias, às áreas de pesca e de trabalho também é dificultado, quando não totalmente inviabilizado, em muitos casos, porque os viveiros de camarão são construídos em áreas coletivas tradicionalmente utilizadas e ocupadas pelas famílias, contando inclusive com vigilância ostensiva e intimidação da população local.

A atividade gera muita renda, mas de forma concentrada. Os recursos naturais e os locais que deveriam ser de uso comum, com preferência para as populações tradicionalmente associadas a eles, são apropriados por interesses privados de poucos.

2.3 A CARCINICULTURA NA BAHIA

Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), dos trinta e seis laboratórios de produção de pós-larvas de camarão existentes no Brasil, em 2004, nove estavam na Bahia e produziam cerca de 1,9 bilhões de indivíduos anualmente. O Estado ocupava, em 2005, a terceira posição na produção nacional de camarão. O gráfico 06, abaixo, apresenta os principais estados brasileiros produtores de camarão.

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25.063 17.356 5.844 3.568 2.924 2.726 2.239 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 Rio G rande do N orte Cear á Bahia Pern ambu co Serg ipe Sant a Cat

arina Piauí

Gráfico 06 – Principais estados brasileiros produtores de camarão (toneladas em 2005) Fonte: Censo ABCC, 2004 apud Bahia Pesca

Enquanto a área de cultivo no Brasil quadruplicou seu tamanho (de 3.548, em 1997 para 14.824, em 2003), na Bahia ela aumentou apenas 14% (de 1.520, em 1997 para 1.737, em 2003) (gráfico 07). 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 18.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Brasil Bahia Gráfico 07 - Evolução da área de cultivo de camarão (em hectares) Fonte: ABCC (Brasil) e Bahia Pesca (Bahia)

Porém, nossa produtividade média que era de 566 kg/ha/ano, em 1997, atingiu o patamar de 4.730 kg/ha/ano, em 2003, um crescimento de oito vezes. Enquanto a produtividade nacional

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ficou seis vezes maior (de 1.015 kg/ha/ano para 6.084 kg/ha/ano) no mesmo período. Em 2005, essas produtividades estavam em 2.598 kg/ha/ano, Bahia e 4.333 kg/ha/ano, Brasil.

Na Bahia os grandes empreendimentos predominam na atividade carcinicultora. Apenas duas empresas, a Valença da Bahia Maricultura (maior empresa de carcinicultura do país, com área de 1.020 ha) e a Lusomar Maricultura (450 ha), respondem por mais de 75% do total da área ocupada por fazendas de criação de camarões no Estado, ver quadro abaixo.

Número de Fazendas Área Produção Estado

número % hectare % toneladas %

Produtividade Kg/ha/ano RN 381 38,2 6.281 37,8 30.807 40,6 4.905 CE 191 19,2 3.804 22,9 19.405 25,6 5.101 BA 51 5,1 1.850 11,1 7.577 10,0 4.096 PE 98 9,8 1.108 6,7 4.531 6,0 4.089 PB 68 6,8 630 3,8 2.963 3,9 4.703 PI 16 1,6 751 4,5 2.541 3,3 3.383 SC 95 9,5 1.361 8,2 4.267 5,6 3.135 SE 69 6,9 514 3,1 2.543 3,4 4.947 MA 7 0,7 85 0,5 226 0,3 2.659 PR 1 0,1 49 0,3 310 0,4 6.327 ES 12 1,2 103 0,6 370 0,5 3.592 PA 5 0,5 38 0,2 242 0,3 6.368 AL 2 0,2 16 0,1 102 0,1 8.667 RS 1 0,1 8 0,0 20 0,0 2.500 TOTAL 997 100,0 16.598 100,0 75.904 100,0 4.573 Quadro 01 – Quadro geral da carcinicultura marinha por Estado – ano 2004

Fonte: ABCC, 2004 apud Bahia Pesca

Pelo que se observa, o Governo do Estado dá prioridade aos grandes empreendimentos, haja vista, também, o mais novo projeto em implantação no Estado, a Coopex (Cooperativa de Produtores de Camarões do Extremo Sul da Bahia), que possui 1.517 hectares, cujos donos dizem que irão investir R$60 milhões, o maior investimento do Brasil neste ramo. Inclusive, segundo o Jornal do Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, 05/11/06, pp. 16-21, os então senadores pelo Estado da Bahia, Srs. Antonio Carlos Magalhães (falecido), César Borges e Rodolfo Tourinho, com seus pares pelo Estado do Espírito Santo, Senadores João Batista Motta – sócio do empreendimento – Magno Malta e Marcos Guerra, entraram com um Projeto de Decreto Legislativo para derrubar a Portaria nº. 39/2006 do IBAMA, (que criou a Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, objetivando restringir atividades que tragam impactos ao meio ambiente no entorno do Parque). Contudo, antes mesmo de o decreto ser aprovado, a zona foi suspensa em julho do ano passado, quando uma decisão judicial alegou inadequação no instrumento legal utilizado para criá-la. Por que o favorecimento dos grandes empreendimentos em detrimento dos

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pequenos produtores? Já que o correto seria incentivar pequenos produtores das comunidades tradicionais para levar-lhes trabalho, renda, maior consciência ambiental, a fim de mantê-los em seus locais de origem, evitando o êxodo rural, preservando o meio ambiente e as tradições locais.

2.4 A CARCINICULTURA EM ACUPE

Acupe é um distrito do município de Santo Amaro (cidade do Recôncavo Baiano, distante cerca de 70 km de Salvador), localizado a cerca de 23 km ao sul da sede municipal, oeste da Baía de Todos os Santos (12°39’39”S e 38°44’34”W), à margem da rodovia BA 878 (figura 02).

Figura 02 – Localização do distrito de Acupe, Santo Amaro, Bahia (Governo do Estado da Bahia).

Na localidade existe um grande manguezal onde deságuam o rio Acupe e vários riachos como o da Olaria, o da Mulata, e o São Gonçalo e está situado entre as barras do Paraguaçu e do Subaé.

Para Batista (1999) apud Martins e Souto (2006, p.98), o distrito é o maior pólo pesqueiro do litoral do Recôncavo Baiano.

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Segundo o Secretário Municipal de Agricultura e Pesca, Sr. Arilson Magalhães, a população local (de aproximadamente 7.000 habitantes) é muito pobre e tem como atividades predominantes a pesca artesanal, a mariscagem e a cata de caranguejos. No entanto, muitos desses trabalhadores exercem outras atividades, como forma de complementar suas rendas, quando não estão trabalhando nas suas atividades principais, quais sejam: trabalhos de vendedor ambulante, pedreiro, carpinteiro, marceneiro, pintor, diarista, etc. Fato esse confirmado pelo Sr. João Sacramento Ribeiro, presidente da Colônia de Pescadores (Z 27) da localidade. O Sr. João Ribeiro também me informou que existem oitocentas pessoas cadastradas naquela associação, sendo que 350 são catadores e marisqueiros e os outros 450 membros são pescadores. A comunidade também é rica culturalmente. Dentre as manifestações culturais que ocorrem na comunidade, o Samba de Roda, a Chula e, principalmente, a representação do “Nego Fugido” (heranças de origem quilombola da comunidade) são as que mais se destacam.

A carcinicultura na região teve início em outubro de 1985, quando lá se instalou uma unidade da Bahia Pesca (Fazenda Experimental Oruabo), que é uma Empresa Pública do Estado da Bahia encarregada de fomentar a aqüicultura e a pesca, sendo que a unidade de Acupe é voltada predominantemente para a carcinicultura. Ela produz e comercializa camarões e pós-larvas de camarões. Segundo o Sr. Gerônimo Souza, gerente da Bahia Pesca no local, atualmente na região existem, além da fazenda da Bahia Pesca, com 70 hectares de viveiros, mais duas fazendas, uma com 25ha e outra com 14ha de viveiros.

Existem, também, cerca de seis viveiros, com cerca de 5ha (área total), que produzem de forma rudimentar. Uma análise mais detalhada da atividade em Acupe será apresentada nos capítulos 4 e 5, quando da apresentação dos resultados e discussões desta pesquisa.

2.5 A CADEIA PRODUTIVA DA CARCINICULTURA

A carcinicultura marinha tem proporções intercontinentais. está inserida entre as atividades consideradas como agroindústrias,

O conceito de cadeia produtiva representa o processo produtivo como um todo e devidamente integrado, desde o fornecedor de matéria-prima, transporte, vendas, planejamento de

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materiais, suprimentos, planejamento da produção, manufatura, armazenagem e comercialização do produto final (LUANA, 2007).

A cadeia produtiva do camarão comporta três etapas básicas: a primeira é a de produção de larvas (larvicultura), a segunda que é a de engorda e a terceira é a de beneficiamento.

Antes de se transformar em adulto, o camarão passa por várias outras fases, quais sejam: ovos, náuplius, protozoéa, misis, pós-larva, juvenil e adulto. Nas primeiras fases os animais são extremamente frágeis, necessitando de cuidados especiais ostensivamente. De acordo com Lima (2004, p. 38), na fase de pós-larva, que demora cerca de vinte dias, os animais são encaminhados:

...para o setor de preparação, denominado de pré-berçário, ou seguem diretamente para os viveiros de engorda, onde são estocadas em densidades que variam a depender do sistema de cultivo utilizado. O período de engorda do L.vannamei dura em média três a quatro meses, e os animais são geralmente despescados quando atingem 14 a 16 gramas.

Durante os primeiros períodos os animais se alimentam de microalgas e depois de artêmias (micro crustáceo). Na fase de pós-larva eles são comercializados pelas fazendas, que as produzem para si e/ou para comercialização. O transporte até as fazendas tem que ser feito preferencialmente à noite (evitando-se temperaturas elevadas) e o mais rápido possível, devido à sua fragilidade e para não causar-lhes estresse, o que deixá-los-ia suscetíveis a ataques de organismos patógenos. Segundo a revista Panorama da Aqüicultura (vol. 17, nº. 100, p 60, mar/abr, 2007) os preços médios de comercialização do milheiro de pós-larvas de camarão marinho nos principais estados produtores giram em torno de R$5,00, no Piauí, R$4,65, no Ceará, R$4,53, no Rio Grande do Norte, R$4,55, em Pernambuco e 5,00, na Bahia, o que dá uma média geral de R$4,75.

A produção de pós-larvas é uma das partes mais avançadas tecnologicamente da cadeia produtiva, pois requer máquinas e equipamentos específicos (estufas, esterilizadores, microscópios, bombas, etc.) profissionais altamente especializados (zootecnistas, biotecnólogos, biólogos, veterinários, etc.). Há rígidas medidas de biosegurança e controle dos materiais e das pessoas que entram nos laboratórios. Procura-se desenvolver animais cada vez mais adaptados às condições ambientais brasileiras (já que o litopenaeus vannamei é originário do Oceano Pacífico), saudáveis (pois eles vão precisar viajar, às vezes, centenas de

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quilômetros até chagar às fazendas de engorda e passarem por um processo de aclimatação e adaptação até serem introduzidas nos viveiros) e livres de agentes patológicos, caso contrário, pode-se disseminar doenças, afetando a taxa de sobrevivência dos animais e podendo comprometer toda a produção atual e futura.

Há, no mercado brasileiro, diversos fabricantes de rações que (devido ao grande boom ocorrido no setor nos últimos dez anos) se especializaram na produção de rações específicas para cada fase de desenvolvimento dos animais. Existem diversas indústrias de máquinas e equipamentos (tratores, geradores, caiaques, aeradores, bombas, destiladores, microscópios, filtros de água, esterilizadores, tanques de fibra de vidro ou PVC, oxímetros, termômetros, etc.) que são utilizados na indústria carcinicultora. Fornecedores de calcário, de óxido de cálcio, de metabissulfito de sódio, etc. A mão-de-obra utilizada na cadeia produtiva é multidisciplinar, envolvendo engenheiros e técnicos em aqüicultura, engenheiros de pesca, biólogos, veterinários, oceanólogos, zootecnistas, etc. E várias universidades no Brasil oferecem cursos na área de aqüicultura: Santa Catarina (UFSC), Ceará (UFC), Pernambuco (UFRPE), Rio de Janeiro (UFRJ) Rio Grande do Norte (UFRN), por exemplo. Na Bahia, além do curso de Oceanografia Oferecido pela UFBA, será criada a Faculdade do Mar, que funcionará no antigo galpão da Fábrica de refrigerantes Fratelli Vita, próximo ao Largo de Roma, cidade baixa, salvador. Que também terá cursos na área naval.

Depois de preparados devidamente durante a fase de pós-larva, os camarões são colocados nos viveiros [que antes passaram por vários processos (secagem, calagem, aração), tiveram a camada superficial do solo revirada e foi utilizado óxido de cálcio, nas áreas mais úmidas, e calcário dolomítico para correção do pH e eliminação de possíveis predadores, ora enterrados] para engorda, que é a segunda etapa. Quando as condições físico-químicas (temperatura, salinidade, pH, turbidez, nível de oxigênio, etc.) da água e do solo devem ser checadas rotineiramente. A depender da densidade de camarões por m2, faz necessário o uso de aeradores artificiais e o acompanhamento das condições da água e do solo precisa ser mais freqüente. Alimentam-se os animais com ração (que pode ou não conter certos medicamentos para prevenir ou combater enfermidades) específica para a fase de desenvolvimento em que eles estão, colocando-a em bandejas (foto 01) que ficam submersas, ou então, lança-se a ração nos tanques (pouco utilizado devido às perdas para o ambiente). Quando os animais atingem o peso desejado (geralmente 12g ou mais) é realizada a despesca geralmente feita à noite, onde uma comporta (foto 02) que consiste a terceira é o beneficiamento, para posterior

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comercialização. Em cada uma dessas etapas ocorrem atividades geradoras de impactos ambientais, os quais não são computados nos custos da firma que os provocou.

Foto 01 – Ilustração de modelo de bandeja para colocação de ração para alimentar camarões

Fonte: foto do autor

Foto 02 – Ilustração de modelo de comporta de despesca de camarões dos viveiros da região

Fonte: foto do autor

Em cada fase de sua vida os camarões são alimentados com alimentos específicos, para se obter um maior aproveitamento. A taxa de sobrevivência dos animais depende de muitos fatores, dentre os quais, a qualidade da pós-larva utilizada, a densidade de animais por m2, as máquinas empregadas, as condições sanitárias das instalações, o manejo, a disponibilidade de alimentação adequada, etc.

Os sistemas de produção empregados são de fundamental importância para o sucesso da criação. Eles podem variar de acordo com a tecnologia e técnicas de manejo utilizadas pelo produtor. Pode-se praticar densidades que variam de 1 a 4 camarões/m2 (sistema extensivo) até 500camarões/m2 (sistema super intensivo). Obviamente quanto mais camarões/m2, maior a necessidade de suplementação alimentar, maiores os cuidados sanitários, mais eficiente tem que ser a tecnologia empregada, maior a freqüência de troca de água, maior produtividade, porém, maior o estresse dos animais e maior o risco de aparecimento de doenças.

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É no processo da despesca que ocorrem os principais impactos no meio ambiente, pois, os restos de todos os produtos que foram utilizados no processo produtivo são despejados no corpo hídrico receptor e vão se espalhar por toda a região de sua influência (isso, é claro, se não existirem na propriedade sistemas de tratamento dos efluentes (bacias de sedimentação, por exemplo), antes de os mesmos serem despejados no meio ambiente). A despesca é feita, geralmente, à noite, para se evitar as temperaturas elevadas durante o dia (ainda mais no Nordeste brasileiro, onde as temperaturas podem chegar aos 40º centígrados), coloca-se uma rede, com a malha apropriada para o tamanho dos animais, na saída da comporta e deixa-se a água escorrer por gravidade, pois os viveiros são construídos com um declive para a comporta, facilitando assim o processo e economizando-se dinheiro com energia (caso fosse utilizados bombas elétricas, como as que são usadas para enchimento dos viveiros), que já é bastante utilizada nas três fases do processo produtivo. Depois de capturados, os camarões são imediatamente colocados em tanques cheios de gelo e, onde também recebem metabissulfito de sódio para evitar a necrose prematura dos animais e o aparecimento de micróbios.

No beneficiamento o produto é lavado, depois se elimina os que estiverem fora dos padrões de qualidade exigidos pelo mercado, em seguida o produto é pesado e classificado por tamanho, resfriamento, elaborações ou tratamentos adicionais ao produto (ferventá-lo, descabeçá-lo, descascá-lo, defumá-lo, deixá-lo semipronto para o consumo, etc.), determinação do peso final, empacotamento e congelamento. Então, promove-se a distribuição e/ou a comercialização, que pode ocorrer com o produto in natura.

No Nordeste brasileiro, devido às condições ambientais favoráveis, o processo produtivo dura aproximadamente 110 dias para ser finalizado.

Em todas as suas etapas, a atividade usa intensamente recursos naturais, principalmente, água, que é captada dos rios, mares, estuários e lagunas, sem custo algum para o produtor.

Nas três fases da cadeia produtiva ocorrem externalidades negativas que não são computadas nos custos das empresas produtoras.

O Quadro 02, a seguir, apresenta as etapas e os respectivos aspectos e impactos ambientais relacionados à atividade.

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ETAPA ASPECTO AMBIENTAL IMPACTO AMBIENTAL Desmatamento das áreas de

mangue • Aumento da erosão, da temperatura e daevaporação e perda da biodiversidade e mudança na paisagem

Ocupação de faixa de praia • Mudança na paisagem com impacto visual • Conflito com outros usos, como turismo Lançamento de efluentes nos

cursos d’água • Contaminação dos corpos hídricos pelo aumentoda carga orgânica, substâncias químicas e geração de sedimentos

• Assoreamento, aumento da turbidez, eutrofização e redução da biodiversidade

Tratamentos microbiológicos • Possíveis alterações nas características físico-químicas e bacteriológicas da água

Larvicultura

Acasalamento contínuo entre

parentes • Maior susceptibilidade do camarão a doenças

Desmatamento das áreas de

mangue • Aumento da erosão, da temperatura e daevaporação e perda da biodiversidade Ocupação da faixa de praia • Mudança na paisagem com impacto visual

• Conflito com outros usos, como turismo Lançamento de efluentes dos

viveiros ricos em sedimentos • Contaminação dos corpos hídricos pelo aumentoda carga orgânica, substâncias químicas e geração de sedimentos

• Assoreamento, aumento da turbidez, eutrofização e redução da biodiversidade

Lançamento de efluentes de metabissulfito de sódio em corpos hídricos

• Morte da flora e da fauna por anoxia

Percolação de água salina e rica

em nutrientes dos viveiros • Salinização do solo e águas subterrâneas• Contaminação de águas subterrâneas pela lixiviação de nutrientes

Lançamento de efluentes salinos (aclimatação) em áreas interiores

• Salinização do solo e/ou de corpos hídricos

Escape de espécie exótica • Risco de entrada de doenças exógenas • Alteração na cadeia alimentar

Engorda

Consumo de grandes volumes

de água • Alteração do regime hidrológico de estuários erios • Conflitos entre usuários

Retirada da casca do camarão • Geração de resíduos sólidos orgânicos Beneficiamento

Lançamento de efluentes • Poluição dos cursos d’água Quadro 02 – Cadeia produtiva da carcinicultura convencional e as externalidades produzidas Fonte: Revista Econômica do Nordeste, n. 2, abr/jun. 2003 apud BNDES (2004, p.107)

Objetivando maior produção, portanto, maior lucro, alguns carcinicultores promovem um maior adensamento da população de camarões dentro dos viveiros, sem possuir condições para tanto. Assim, (como dito anteriormente) quanto mais camarões por metro quadrado, maiores os riscos de aparecimento de doenças nos animais e que podem se espalhar pelo meio ambiente ao redor, atingindo animais de outras espécies. Por exemplo, a doença do caranguejo letárgico, que atingiu e quase dizimou esses animais (caranguejo uçá) em todo o Nordeste brasileiro, é atribuída à carcinicultura. Sabe-se hoje que a doença é provocada por um fungo.

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2.6 DESCRIÇÃO DE ALGUNS PROJETOS ESPECIAIS EM CURSO

Dentre os sistemas de produção de camarões existentes, alguns são considerados menos impactantes ao meio ambiente. Segundo Lombardi e Marques (2005) “o cultivo de camarões em gaiolas (figura 03) tem sido estudado, nestes últimos anos, como uma alternativa para reduzir os impactos social e ambiental da indústria camaroneira”.

Figura 03 – Ilustração de criação de camarões em gaiolas flutuantes, Guarapuá, BA. Fonte: Lima (2006, p. 60)

Este tipo de cultivo é direcionado a pequenos produtores familiares, com o objetivo de proporcionar-lhes renda ao longo do ano e mantê-los em suas comunidades de origem, evitando o êxodo rural e diminuindo a pesca extrativa, principalmente nas épocas do defeso. Esse sistema de produção possui muitas vantagens em relação ao convencional, pois, além dos benefícios aos pescadores e suas famílias, não provoca certos impactos no meio ambiente, como desmatamentos de mangues, apicuns e salgados, por exemplo. As condições do ambiente são praticamente as mesmas que os animais encontram na natureza. Segundo Lombardi e Marques, a densidade de estocagem é de 150 camarões/m2 e a produtividade do sistema gira em torno de 25 a 30 toneladas/ha/ano, enquanto a do sistema convencional é de aproximadamente 4 toneladas/ha/ano, segundo a ABCC (2006). Os custos de produção são menores, apesar de, também, utilizar rações para alimentação dos animais, porém, não utiliza vigias, pois os donos tomam conta, utilizando-se de casas flutuantes como base para essa

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tarefa e para monitoramento do cultivo e da estrutura das gaiolas, guarda de insumos, etc. (CARDOSO, 2005, p. 36); energia elétrica para encher, muito menos para iluminar viveiros, nem produtos químicos para correção do pH do solo e da água (cal desidratado) ou para matar possíveis predadores (cal virgem) e medicamentos para combater ataque de vírus, fungos e bactérias (antibióticos) estes, porém, podem estar presentes na composição da ração utilizada, que contém outros tantos elementos químicos; os animais não têm contato com os sedimentos do fundo dos viveiros, pois os camarões são animais bentônicos (como acontece no processo convencional); assim, os camarões têm melhor aparência, textura, etc., sendo mais valorizado no mercado (em média 30% mais caro). As gaiolas podem variar de tamanho (2x2x1m; 3x3x1,4m; 2,5x2x1,2m, etc.), sendo que cerca de 0,5m fica acima do nível da água para evitar fuga de animais; são sustentadas por madeiras ou tubos de pvc; podem ser facilmente removidas (de acordo com a conveniência de quem as opera); algas e outros organismos, que nelas se incrustam naturalmente, são removidos periodicamente, tais organismos, em quantidades razoáveis, são benéficos ao sistema produtivo, pois servem como elementos filtradores dos restos de ração e das fezes dos camarões e, também servem de alimentos para os camarões ou podem, como é o caso das sementes de mexilhões e sururus, serem aproveitados para um novo cultivo. A despesca é feita de acordo com o tamanho que se quer que os animais tenham: em média, após terem sido colocados nos viveiros de engorda, com 75 dias os animais terão cerca de 10cm; com 120 dias, 15cm.

Outra modalidade de produção de camarões é a denominada carcinicultura orgânica, que apesar de utilizar tanques escavados no chão, não pratica o tipo de manejo convencional. Para tanto, no processo de cultivo não são utilizados produtos químicos, pesticidas, antibióticos, hormônios e conservantes (manejo ecológico), o que contribui para a segurança alimentar; os insumos utilizados também são orgânicos (naturais); é praticado o cultivo extensivo (1 a 4 camarões/m2), e o policultivo (consórcio de culturas), ou seja, os camarões são cultivados juntamente com outros organismos aquáticos (ostras, siris, peixes, etc.) tentando-se reproduzir seu habitat natural, o que reduz o estresse dos animais; não é utilizada ração para alimentar os animais e sim a fertilização orgânica, que possibilita o desenvolvimento de plancton8 (parte da alimentação natural dos camarões). Segundo o Sr. Wainberg, proprietário da Fazenda Primar, os custos de produção são mais baixos e a produtividade é menor, porém os preços de venda são maiores.

8 Comunidade de pequenos animais (zooplâncton) e vegetais (fitoplâncton,), que vivem em suspensão nas águas doces, salobras e marinhas e servem de alimento a outros organismos.

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Objetivando principalmente reduzir os impactos ambientais das emissões dos efluentes e o risco de introdução e disseminação de doenças, pesquisadores estadunidenses vêm desenvolvendo, há cerca de cinco anos, um sistema fechado de criação de camarões que consiste em reduzir ao máximo a troca de água dos viveiros de produção. O sistema é chamado de Troca Zero ou cultivo em meio a Flocos Microbianos. O cultivo é realizado em estufas (figura 04 e 05) e “sem renovação de água através de uma biota predominantemente aeróbica e heterotrófica (organismos incapazes de sintetizar o seu próprio alimento e que necessitam de oxigênio para sobreviver)” (WASIELESKY, 2006, p. 15).

Figura 04 – Estufa para o cultivo superintensivo de camarões na Estação Marinha de Aquacultira (EMA) da FURG, Brasil (Foto: Dariano Krummenauer)

Figura 05 – Estufa para cultivo superintensivo de camarões no Waddell Mariculture Center, Carolina do Sul, EUA (Foto: Wilson Wasielesky)

Fonte: Revista Panorama da Aqüicultura, vol. 16, nº. 96, julho/agosto 2006.

Estes organismos são chamados de flocos microbianos (figura 06, 07 e 08) e:

... são formados durante o ciclo de produção, sendo constituídos principalmente de bactérias, microalgas, fezes, exoesqueletos, restos de organismos mortos, cianobactérias, protozoários, pequenos metazoários e formas larvais de invertebrados, entre outros. Uma vez formados, eles servem de suplemento alimentar aos animais, além disso, os microorganismos presentes no floco são capazes de assimilar os compostos nitrogenados originados da excreção dos camarões e dos restos do alimento em decomposição. (WASIELESKY, 2006, p. 15).

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Figura 06 – Floco microbiano colonizado por protozoário ciliado

Figura 07 – Cianobactérias filamentosas auxiliando a formação do floco microbiano

Figura 08 – Núcleos do floco formado pela aglomeração de cianobactérias filamentosas, bactérias e colonizado por protozoários

Fonte: Revista Panorama da Aqüicultura, vol. 16, nº. 96, julho/agosto 2006.

WASIELESKY, (2006, p. 15 e 16) asseveram que o sistema tem produtividade acima de 60 ton/ha/safra e admite densidades de estocagem de até 700 camarões/m2. As vantagens sistema são: troca de água zero, menor área de cultivo e aumento da produtividade (alta densidade de cultivo), incremento na biosegurança, redução da quantidade de proteína nas rações e mínimo impacto ambiental. E as desvantagens são: manejo rigoroso e intensivo, elevado gasto de energia (aeração), rigoroso controle de oxigênio dissolvido, investimento inicial elevado, risco do surgimento de microorganismos tóxicos e possível acumulo de fósforo no sistema (risco com cianobactérias).

Pesquisadores da Estação Marinha de Aquacultura (EMA) e do Laboratório de Ecologia do Fitoplâncton e Microorganismos Marinhos, pertencentes à Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), estão desenvolvendo pesquisas com esse tipo de sistema aqui no Brasil e promovendo intercâmbio com pesquisadores de outros países (WASIELESKY, 2006, p. 19).

Uma característica fundamental, comum aos três sistemas acima descritos, consiste em produzir respeitando o meio ambiente.

Atualmente, no mundo, existe um movimento que procura conscientizar as pessoas dos benefícios dos produtos orgânicos e estes têm ganhado destaque no mundo. A Alemanha lidera esse movimento. Com esse movimento surgiram as empresas que acompanham a produção desses produtos e fazem sua certificação. A produção da Primar é certificada pelo Instituto Biodinâmico de Botucatu-SP.

Referências

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