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Com relação à opinião da comunidade a respeito de qual a melhor alternativa para desenvolver a região, a opção pela industrialização, talvez não seja a melhor alternativa, pois, levando-se em consideração as características geográficas, sociais, ambientais e culturais da localidade, observa-se que essa opção não seria a melhor, vejamos: 1) a localidade só possui uma via de acesso (BA 878) terrestre e está é muito estreita e a pavimentação muito precária, o que dificultaria o escoamento da produção; 2) as pessoas da comunidade possuem uma escolaridade muito baixa, o que, praticamente, as colocaria à margem do processo; por estar rodeada por rios, manguezal e Mata Atlântica, ecossistemas muito frágeis e ameaçados pela ação antrópica, a industrialização, com seus efluentes sólidos, líquidos e gasosos seria uma ameaça real e iminente. Portanto, creio que a industrialização pesada não seja a melhor opção para se resolver o problema de desenvolvimento da comunidade. Talvez, primeiramente, investimentos na qualificação dos moradores; criação de cursos profissionalizantes na área de pesca e aqüicultura, com conscientização ecológica; desenvolvimentos de pólo pesqueiro e de turismo ecológico, cultural e étnico (afinal a comunidade é remanescente de um quilombo e lá ocorrem grande manifestações que remontam ao tempo da escravidão, como é o caso do Negro Fugido, que é representado, todos os anos no mês de julho), que são suas duas vocações naturais, fossem as melhores alternativas para resolver o problema em questão.

6 CONCLUSÃO

Como a maioria das commodities agrícolas, o camarão também é produzido, principalmente, nos países em desenvolvimento. Como pode ser visto no gráfico 01, em 2005, os dez principais paises produtores de camarão (China, Tailândia, Vietnã, Indonésia, Índia, Equador, México, Brasil, Bangladesh e Filipinas) são países considerados, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos.

Em 1996 a carcinicultura participava com cerca de 26% da oferta mundial de camarões, enquanto 74% provinha da captura. Em 2006 a participação do camarão cultivado atingiu a marca de 48%, enquanto o capturado participava com 52%. Isso demonstra o declínio dos estoques naturais devido à sobrepesca e o crescimento da agroindústria camaroneira mundial.

No Brasil, esta atividade, está, praticamente, resumida à região Nordeste, onde as condições hidrológicas, de solo e de clima favoráveis, conferem certa vantagem comparativa aos produtores locais em relação a outros centros produtores. O Rio Grande do Norte, além de ter sido o precursor da atividade, é o principal produtor, seguido pelo Ceará, Bahia e Pernambuco. Nestes dois primeiros estados, que respondem por mais de 60% da produção nacional, a carcinicultura está mais bem estruturada. Neles a atividade está organizada em aglomerados produtivos (clusters) que transformaram a vantagem comparativa em vantagem competitiva. Não é por acaso que em 2003 o país bateu o recorde mundial de produtividade, 6.084 kg/ha/ano, apesar do pouco tempo de desenvolvimento da atividade. O cluster da carcinicultura no Rio Grande do Norte e no Ceará está montado com laboratórios de produção de pós-larvas de camarão (litopenaeus vannamei), fábricas de rações, máquinas e equipamentos, universidades (que montaram cursos nas áreas relacionadas à atividade) e têm o apoio de seus respectivos governos estaduais para poderem crescer e serem competitivas mundialmente, já que a maior parte do camarão produzido é exportada, pois está agroindústria tem competidores mundiais bastante fortes, como os já mencionados, alguns chegam a possuir vinte vezes o tamanho da área de cultivo do Brasil, como é o caso da China, que possui 300.000 hectares de área cultivada e pratica a atividade há mais de 70 anos.

Há também os incentivos governamentais, a exemplo de menor tarifa de energia elétrica, linhas de crédito para incentivar a produção e as exportações, com taxa de juros menores, assistência técnica a produtores. Existem, também, várias cooperativas de pequenos e médios

produtores e a ABCC (Associação Brasileira de Criadores de Camarão), com sede em Recife, Pernambuco.

O Brasil chegou a ter uma grande vantagem competitiva, sobre os outros produtores mundiais, que era a produtividade (6.048kg/ha/ano, contra 4.500kg/ha/ano do segundo colocado), mais de um terço maior que a produtividade do segundo colocado, isso sem falar no total domínio da técnica de reprodução do camarão alvo da criação; na quantidade de ciclos produtivos, que no Nordeste brasileiro pode ocorrer até três vezes ao ano.

Porém, assim como os outros países, cometeu-se o erro de aumentar a densidade de camarões/m2, sem se preocupar com o manejo e tecnologia adequados à situação, com a origem das pós-larvas, com as condições sanitárias e medidas de biossegurança adequadas. Então, tivemos os mesmos problemas (doenças viróticas: síndrome de Taura, mionecrose infecciosa, mancha branca, etc.) que outros países tiveram e que fez a produtividade média despencar para até 2.500kg/ha/ano.

Mesmo assim, o camarão, hoje, ainda ocupa posição de destaque entre as commodities do agronegócio dos paises que exportam esse produto. No Nordeste brasileiro ele ocupa a segunda posição em termos de geração de divisas (só perde para os produtos provenientes da cana-de-açúcar), proporcionando, em 2004, uma receita de US$216.683.000,00(duzentos e dezesseis milhões de dólares), de US$191.485.000,00 (cento e noventa e um milhões de dólares), em 2005, e de US$154.822.000,00 (cento e cinqüenta e quatro milhões de dólares) em 2006.

Os principais paises importadores do camarão brasileiro são: França, Espanha, Japão, Holanda, Portugal e Estados Unidos. Este, que era o principal pais impotador do camarão brasileiro, passou a ser o sexto devido à ação antidumping, já mencionada neste trabalho.

Quanto à carcinicultura em Acupe, esta, além de não estar estruturada em um cluster, APL, ou algum outro tipo de aglomerado industrial, é praticada à margem da lei, pois, nenhuma das fazendas pesquisadas possui licença ambiental.

A atividade é exercida desordenadamente: pessoas que desmatam manguezais e apicuns em qualquer lugar, colocam as pós-larvas e deixam o cultivo ao “deus dará”, sem manejo e sem

ração apropriados. Apenas duas fazendas possuem máquinas e equipamentos adequados. O nível de escolaridade dos produtores é muito baixo (1º grau incompleto), dos seis apenas dois possuem nível superior, sendo que um é funcionário da Bahia Pesca.

O camarão cultivado é o litopenaeus vannamei, em aproximadamente 110 hectares de viveiros. A Bahia Pesca é a principal fornecedora de pós-larvas. A ração é comprada diretamente do distribuidor por três produtores e os outros três compram de um dos produtores que atua, neste caso, como atravessador.

A produção total gira em torno de 114 toneladas/ano e sua maior parte é comercializada na região ao preço médio de R$8,00 o quilograma. A produtividade média entre os produtores é de 1.500kg. A lucratividade média é de 45% e os maiores custos são com ração, pós-larva e energia elétrica.

Os efluentes da produção são lançados no corpo hídrico sem nenhum tipo de tratamento prévio. Apesar de os produtores informarem não haver divergências com a comunidade, esta informa o contrário, asseverando que os conflitos são freqüentes.

O padrão tecnológico da atividade na região, exceto o da Bahia Pesca, é rudimentar. As empresas não utilizam sequer os aparelhos básicos, como disco de Secchi, salinômetros, termômetros, oxímetros, etc. Isso sem falar nas condições sanitárias dos viveiros (fotos 13 e 14 acima apresentadas) e instalações de apoio, (fotos 16 e 17, abaixo).

Foto 16 – Ilustração de estrutura de apoio