• Nenhum resultado encontrado

Estratégias de estudo divulgadas no YouTube: uma análise sob a ótica das teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estratégias de estudo divulgadas no YouTube: uma análise sob a ótica das teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior."

Copied!
143
0
0

Texto

(1)

Tenisziara de Moura Ferreira

Estratégias de estudo divulgadas no YouTube: uma análise sob a ótica das teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior.

Uberaba - MG Fevereiro de 2018

(2)

Tenisziara de Moura Ferreira

Estratégias de estudo divulgadas no YouTube: uma análise sob a ótica das teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como requisito para obtenção do título de Mestra.

Linha de pesquisa: Gestão de Operações Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Gaydeczka

Uberaba - MG Fevereiro de 2018

(3)
(4)
(5)

Dedico este trabalho a: Pedro Henrique de Oliveira, meu esposo, por compreender os momentos de minha ausência, e meus queridos pais Telson Alves Ferreira e Maria Gildete de Moura Ferreira, que sempre estiveram presentes em minha caminhada. À Profa. Beatriz Gaydeczka, minha orientadora que, com seu profissionalismo e sabedoria, me transmitiu a energia e confiança necessárias à construção desta dissertação.

(6)

AGRADECIMENTOS

Quando nascemos nosso Deus nos entrega um caderno de desenhos, a vida. Aos poucos nossos pais vão adicionando canetas coloridas, lápis de cor, canetinhas, gizes de cera, glitters, lantejoulas e confetes. Cada item representa um passo em nossa formação humana e profissional.

Inicialmente, temos dificuldades em manusear todos esses materiais. Então nos apresentam uma moça muito gentil que pega em nossas mãozinhas e nos ajudam a fazer os primeiros desenhos: nossa primeira professora, que aos poucos vai nos soltando e começamos a fazer nossos primeiros rabiscos sozinhos.

Nestes tempos os desenhos ainda parecem sem forma e as cores desconexas. Mas nossos pais sabem que estamos fazendo o nosso melhor e conseguem ver, no abstrato, as imagens mais lindas. Isto é possível porque enxergam com o coração.

São os primeiros a acreditarem em nosso potencial. Os únicos a depositarem em nós suas maiores riquezas: suas próprias vidas. Aos poucos nossos desenhos vão tomando formas e, então, são os primeiros a exclamarem orgulhosamente: eu sabia!

O tempo vai passando e vamos aprendendo a arte de viver. Cada ensinamento vai sendo utilizado nos momentos certos. E até aquelas coisinhas que achávamos que nunca seriam úteis, se revelam como grandes sabedorias existenciais.

É quando descobrimos que tudo o que somos e tudo o que temos só foi possível graças a Deus e a eles. Nossos primeiros investidores. Nossos primeiros fãs e torcedores. Deus e nossos pais!

Desta forma, quero agradecer primeiramente a Deus por ter me proporcionado a vida e permitir que tudo isto acontecesse. Aos meus queridos pais Telson Alves Ferreira e Maria Gildete de Moura Ferreira, por todas as ferramentas necessárias que me permitiram chegar até aqui.

Agradecer também ao meu querido esposo Pedro Henrique de Oliveira, que passou a fazer parte de minha vida em meio ao processo de mestrado. Pelo carinho e compreensão nas noites mal dormidas, nos momentos de estresse e dificuldades.

(7)

Especialmente à minha orientadora Beatriz Gaydeczka, que aceitou prontamente me orientar, que mesmo em processo de gestação e, posteriormente, com o Francisco nos braços, passou horas a fio me auxiliando, sempre com seu jeito calmo, profissional e compreensivo. Agradecer também por ter respeitado meu desejo de pesquisa e ter me permitido estudar uma temática de meu interesse.

Agradecer a todos os professores do Programa de Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica, pois foram fundamentais na construção deste trabalho. Ao secretário do mestrado, Enio Umberto Alves dos Santos, que sempre prestativo e educado, me atendeu.

Às professoras Daniervelim Renata Marques Pereira e Graziela Giusti Pachane, que deram suas contribuições fundamentais no exame de qualificação.

À banca examinadora desta dissertação: Graziela Giusti Pachane, Geovana Ferreira Melo, Orlando Fernández Aquino e Sandra Eleutério Campos Martins.

Aos colegas de trabalho, pela compreensão e colaboração neste momento complexo de minha vida.

E a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse até aqui.

(8)

“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”

(9)

FERREIRA, T. M. Estratégias de estudo divulgadas no YouTube: uma análise sob a ótica das teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior. 2017. 143 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica) – Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2017.

RESUMO

Esta pesquisa faz análise de estratégias de estudo divulgadas por estudantes em vídeos de depoimentos do YouTube sob a ótica de teorias de aprendizagem voltadas ao ensino superior, a fim de contribuir, por meio da produção de um material didático audiovisual, com o desenvolvimento da capacidade de compreensão, apreensão e fixação de conhecimentos no ensino superior. A problemática da pesquisa decorre ao baixo desempenho de estudantes do ensino superior por não conhecerem e aplicarem estratégias de estudo. Metodologicamente, foi empregada análise de conteúdo, Bardin (2010), a fim de identificar e categorizar os comportamentos estratégicos utilizados por estudantes em 50 vídeos selecionados. Estes comportamentos foram agrupados em seis categorias de análise, depreendidas da recorrência temática dos vídeos, sendo elas: (1) Estudo individual. (2) Organização para os estudos. (3) Interação. (4) Comportamento durante as aulas. (5) Bem estar físico e mental e (6) Preparação para as avaliações. Do total de vídeos analisados, seis foram transcritos para análise, relacionando com as teorias de aprendizagem e os estudos que tratam sobre o tema. Observou-se que ainda são incipientes as pesquisas referentes ao desenvolvimento e aplicabilidade de estratégias de estudo no ensino superior. Os Youtubers apresentaram conhecimento superficial e empírico sobre a temática, reproduzindo modelos comumente praticados nas instituições ensino. Suas estratégias estão baseadas em experiências pessoais e são apresentadas como verdades absolutas, que podem ser reproduzidas de forma generalizada, desconsiderando contextos e peculiaridades. Embora se possa identificar relação dessas estratégias de estudo com as teorias de aprendizagem, fica evidente que os autores dos vídeos as desconhecem. Apresentam certa consciência com relação à importância de ser organizado, cuidar da saúde física e mental,ser frequente e prestar atenção nas aulas, estudar regularmente e ser comprometido. A questão é como tornar essas percepções estratégicas, eficientes e eficazes. Dessa forma, identifica-se a necessidade de mais pesquisas referentes à temática, no sentido de contribuir na orientação aos estudantes desde os anos iniciais da vida escolar, uma vez que, no que se refere a estratégias de estudo, o universitário carrega referências da educação básica e o que foi construído anteriormente tenderá a ser reproduzido e aperfeiçoado no ensino superior.

Palavras-Chave: Aprendizagem. Teorias de Aprendizagem. Estratégias de Estudo. YouTube. Ensino Superior.

(10)

FERREIRA, T. M. Study strategies released on YouTube: an analysis from the perspective of learning theories applied to higher education. 2017. 143 p. Dissertation (Master in Technological Innovation) – Postgraduate Program in Technological Innovation, Federal University of the Triângulo Mineiro. Uberaba, 2017.

ABSTRACT

This research examines study strategies published by students in YouTube testimonials videos from the perspective of the learning theories dedicated to higher education. It aims at contributing, through the production of audiovisual teaching material, to the development of the ability of understanding, apprehending and internalizing knowledge at higher education. The research problem is due to the low performance of academic students because they don't have background knowledges and don't know how to apply the study strategies With respect to the Methodology, content analysis was used, Bardin (2010), in order to identify and categorize the strategic behaviors adopted by students in 50 selected videos. Such behaviors were grouped into six categories comprising the thematic recurrence of the videos: (1) Individual study; (2) Organization for studies; (3) Interaction; (4) Behavior during class; (5) Physical and mental well-being and (6) Preparation for evaluations. Of the total videos examined, six were transcribed for analysis and were related to the learning theories and to the studies on the theme. It could be observed that research on the development and applicability of study strategies in higher education is still incipient. The Youtubers presented superficial and empirical knowledge on the subject, reproducing models commonly practiced at the educational institutions. Their strategies are based on personal experiences and are introduced as absolute truths that can be reproduced on a general basis, disregarding contexts and peculiarities. Although it is possible to identify the relationship between these study strategies and the learning theories, it is evident that the authors of the videos are not aware of them. They have a certain awareness regarding the importance of being organized, of taking care of physical and mental health, of attending and paying attention at classes, of studying regularly and being committed. The matter is how to make these perceptions strategic, efficient and effective. In this way, it is identified the need for more research on this subject in order to contribute at mentoring students from the early years of school life. As far as study strategies are concerned, university students carry references from elementary education in a way that what was built earlier tends to be reproduced and improved in higher education.

Keywords: Learning. Learning Theories. Study Strategies. YouTube. Higher Education.

(11)

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS Figura 1: Critérios utilizados para busca dos vídeos no YouTube. Figura 2: Estudante mostrando o novo computador.

Figura 3: Estudante explicando sobre o ensino no CNA.

Figura 4: Estudante demonstrando as consequências de estudar em ambiente inadequado.

Figura 5: Cronograma de atividades para organização. Quadro 1: COMPORTAMENTALISMO POR WATSON Quadro 2: COMPORTAMENTALISMO POR GUTHRIE Quadro 3: COMPORTAMENTALISMO POR THORNDIKE Quadro 4: NEOBEHAVIORISMO DE HULL

Quadro 5: COMPORTAMENTALISMO DE SKINNER Quadro 6: COMPORTAMENTALISMO DE BLOOM Quadro 7: CONSTRUTIVISMO DE PIAGET

Quadro 8: SOCIOINTERACIONISMO DE VYGOSTSKY Quadro 9: COGNITIVISMO DE AUSUBEL

Quadro 10: CONSTRUTIVISMO DE VERGNAUD Quadro 11: HUMANISMO DE ROGERS

Quadro 12: CONSTRUTIVISMO DE BRUNER Quadro 13: CONSTRUTIVISMO DE GARDNER Quadro 14: SOCIOCULTURALISMO DE FREIRE Quadro 15: Fases do processo de aprendizagem. Quadro 16: APRENDIZAGEM POR KOLB

Quadro 17: APRENDIZAGEM POR FELDER E SILVERMAN

Quadro 18: Número de publicações encontradas nas plataformas de busca. Quadro 19: Descrição dos 6 vídeos selecionados para análise de conteúdo.

Tabela 1: Distribuição de subcategorias de acordo com a temática “Estudo individual”.

Tabela 2: Distribuição de subcategorias de acordo com a temática “Interação”.

Tabela 3: Distribuição de subcategorias de acordo com a temática “Organização para os estudos”.

Tabela 4: Distribuição de subcategorias de acordo com a temática “Comportamento durante as aulas”.

Tabela 5: Distribuição de subcategorias de acordo com a temática “Preparação para avaliações”.

Tabela 6: Distribuição de subcategorias de acordo com a temática “Bem estar físico e mental”.

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1MEMORIALDESCRITIVO ... 13

1.2JUSTIFICATIVADAPESQUISA ... 16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 21

2.1ESTRATÉGIASDEESTUDONOENSINOSUPERIOR ... 21

2.1.1 Estratégia de estudo versus método ou técnica. ... 21

2.1.2 A diferença entre aula e estudo. ... 23

2.1.3 A diferença entre aluno e estudante ... 24

2.1.4 O ensino superior e construção da expertise... 25

2.2TEORIASECONCEPÇÕESDEAPRENDIZAGEM:ABORDAGENSGERAIS 26 2.3APLICABILIDADEDASTEORIASDEAPRENDIZAGEMNOENSINO SUPERIOR ... 38

2.4APRENDIZAGEM ... 39

2.4.1 Teoria das hierarquias de aprendizagem de Gagné e Piazzi ... 40

2.4.2 Aprendizagem subordinada, superordenada e combinatória de Ausubel ... 43

2.4.3 Estilos de aprendizagem ... 43

2.4.4 Aprender a aprender ... 46

2.5ESTRATÉGIASDEESTUDONOENSINOSUPERIOR ... 47

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 48

3.1PESQUISABIBLIOGRÁFICA ... 49

3.2PROCEDIMENTOSPARACOLETADEDADOS ... 51

3.3CRITÉRIOSDELEVANTAMENTOESELEÇÃODOSVÍDEOS ... 51

3.4ANÁLISEDECONTEÚDO ... 53

4 ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS ... 55

4.1ANÁLISEDETÓPICOSPRESENTESNOSCINQUENTAVÍDEOS ... 55

4.2ANÁLISEDECONTEÚDODOS6(SEIS)VÍDEOSSELECIONADOS ... 69

4.2.1 Os contextos de desenvolvimento e estilo dos vídeos ... 71

4.3ESTRATÉGIASDEESTUDOIDENTIFICADASEMCADACATEGORIA ... 75

4.3.1 Modelo de ensino e de estudo ... 75

4.3.2 Organização para os estudos ... 78

4.3.2.1 Ambiente de estudos ... 78

4.3.2.2 Agenda/Cronograma/Organização ... 79

4.3.3 Bem estar físico e mental ... 81

4.3.3.1 Alimentação ... 81

4.3.3.2 Atividade Física ... 82

4.3.3.3 Descanso ... 83

4.3.4 Comportamento durante as aulas ... 84

4.3.4.1 Frequência às Aulas ... 84

4.3.5 Estudo individual ... 86

4.3.5.1 Autorregulação/Procrastinação/Distração ... 86

5.3.5.2 Materiais para estudo ... 89

4.3.5.3 Estudar a matéria logo após a aula ... 90

(13)

4.3.5.5 Pesquisa online ... 92

4.3.5.6 Resumos ... 93

4.3.5.7 Responder questões ... 95

4.3.5.8 Recursos para associação ... 95

4.3.6 Interação ... 96

4.3.6.1 Estratégias de estudo individual ... 96

4.3.6.2 Leitura ... 98

4.3.6.3 Assistir a Vídeos ... 100

4.3.6.4 Grupo de estudos ... 101

4.3.7 Preparação para avaliações ... 102

4.3.7.1 Avaliações e concepções de aprendizagem ... 102

5 CONCLUSÃO ... 105

REFERÊNCIAS ... 110

APÊNDICE A ... 114

APÊNDICE B ... 117

APÊNDICE C (TRANSCRIÇÃO DOS VÍDEOS) ... 118

T1-MAISERA -SEMANADEPROVAS ... 118

T2-DEPOISEUESTUDO.QUEMNUNCA? ... 119

T3-COMOEUESTUDO+DICASPARASEDARBEMNASPROVAS ... 120

T4-COMOEUESTUDO/MEORGANIZOPARAASPROVAS(NAATI WEILER) . 122 T5-COMOEUPASSEIEMMEDICINA-ROTINADEESTUDOS ... 123

T6-PORQUEEUESTUDOISSO?FALAAI. ... 127

(14)

1 INTRODUÇÃO

1.1 MEMORIAL DESCRITIVO

Ao longo de minha jornada profissional, tive a oportunidade de estar na condição de estudante que busca aprender a aprender melhor e na condição de facilitadora para que outros estudantes aprendam com qualidade.

Nascida no ano de 1984, em São Paulo, capital, ali permaneci até os 11 anos de idade, quando minha família mudou-se para Uberaba – MG. Meus três primeiros anos de escola, até o antigo “prezinho”, foram cursados em instituição particular e, a partir da 1.ª série até o Ensino Médio, sempre estive em instituições públicas.

Em 2003, iniciei o curso de Licenciatura em Letras Port./Ingl. na Universidade de Uberaba – UNIUBE e, paralelamente, o curso Técnico em Informática no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET, hoje intitulado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – IFTM.

Em 2006, já formada no curso Técnico em Informática e cursando meu último ano de faculdade no curso de Letras, comecei a trabalhar na Superintendência Regional de Ensino de Uberaba - MG como Assistente Técnico Educacional. Já concursada, atuei na área de informática, gestão de projetos educacionais, participação no Programa de Intervenção Pedagógica e organização de eventos educacionais. Essa experiência me oportunizou amadurecimento profissional e contato direto com professores, diretores e estudantes de várias escolas de muitas cidades da região, bem como, da Secretaria de Estado de Educação.

Durante esse processo, sempre fui estudando, aperfeiçoando e me preparando para outros concursos. A preparação para concurso público requer dedicação, disciplina e profissionalismo. Nessa busca constante por melhores resultados nas avaliações, experimentava várias estratégias de estudo e buscava aperfeiçoar minha capacidade de aprendizagem.

Foi quando descobri que, assim como eu, milhares de outros estudantes estavam preocupados com essa temática e muitos divulgavam suas experiências pessoais na Internet, na tentativa de ajudar outros estudantes. Observei que, aparentemente, não apresentavam fundamento científico em suas “dicas”, baseando-se fundamentalmente em conhecimento empírico, de tentativas e erros pessoais.

(15)

Como minha formação era na área de educação, sempre questionava se essas estratégias funcionavam para todas as pessoas e em que situações e concepções de aprendizagem elas eram eficientes.

Com o tempo, percebi que nem eu mesma sabia quais estratégias funcionavam melhor para minha aprendizagem. Foram horas, dias, meses e anos de estudo utilizando estratégias ineficientes, que não me garantiam um resultado proporcional ao esforço investido.

Em 2009, fui aprovada no concurso para o cargo de Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, onde permaneço até os dias atuais. Esse trabalho me proporcionou uma nova experiência em outro nível educacional: o ensino superior. Nesse contexto, descobri que muitos jovens chegam à universidade sem considerável autoconhecimento sobre as estratégias de estudo mais eficientes para si. Simplesmente não sabem estudar, de forma a atingir os resultados almejados.

Muitos possuem concepção superficial de aprendizagem, com alto potencial cognitivo, porém, pouca capacidade de autorregulação1.

Essa situação traz como consequência altos índices de retenção, evasão e desequilíbrios emocionais. Há alunos que chegam a cursar a mesma disciplina quatro ou cinco vezes e, em casos mais extremos, jubilam.

Como é possível uma pessoa, em plena sanidade, estudar o mesmo conteúdo, por quatro ou cinco semestres, sem êxito? Se há todas as condições favoráveis ao aprendizado, pode haver alguma falha relacionada às estratégias de estudo.

Assim, a proposta desta pesquisa surgiu a partir da preocupação em relação aos altos índices de retenção identificados nos cursos de graduação da UFTM. Essa questão vem sendo uma das propostas de estudo do grupo de pesquisa em Ingresso Permanência e Conclusão nos Cursos de Graduação da UFTM - GEIPeC, do qual sou integrante, bem como do Serviço de Acompanhamento Pedagógico da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis - PROACE, onde trabalho.

1

A autorregulação é a capacidade que o estudante tem de monitorar/controlar fatores que podem influenciar seus objetivos acadêmicos (ROSÁRIO, 2005).

(16)

Em princípio, pretendeu-se realizar uma pesquisa de campo na própria universidade, a fim de diagnosticar como esses alunos estudam. Para isso, seria necessário um instrumento de pesquisa validado que contemplasse os questionamentos. No entanto, após investigação, foram identificados apenas três instrumentos e esses não atenderiam à demanda da pesquisa.

Assim, elaborar um questionário e validá-lo já seria objeto para uma dissertação de mestrado, sem contar toda a burocracia administrativa em seu processo de aplicação.

Então buscou-se outra perspectiva para a análise de informações que já foram tornadas públicas. Dessa forma, escolheu-se buscar essas informações na Internet, mais especificamente, no YouTube, que é um ambiente interativo de comunicação. O YouTube permite que pessoas comuns tenham seus próprios canais de vídeos, tornem-se celebridades e conquistem uma legião de seguidores.

As mais variadas temáticas são tratadas nesse ambiente digital e, dentre elas, os hábitos de estudos dos estudantes. Um estudante que, em sala de aula pode ser considerado apenas um número, passivo e desconhecido, no YouTube torna-se protagonista, tem a liberdade de se expressar, ensinar e compartilhar experiências com outras pessoas. Observou-se que as informações extraídas desse ambiente construiria uma representação do comportamento de milhares de estudantes do país, em vários níveis de formação. Dessa maneira, esta pesquisa, partindo das partes para o todo, identificou estratégias de estudo individuais e a relação delas para o comportamento coletivo.

O uso de estratégias de estudo é uma questão complexa e multifacetada, no entanto, devido às limitações do tempo de uma dissertação de mestrado, o foco será a aprendizagem dos estudantes.

Outra questão a ser ressaltada é a perspectiva com que tratamos o termo "aprender a aprender". É um termo polêmico, pois, do ponto de vista das políticas neoliberais, a responsabilidade de aprender é atribuída ao estudante. Nesse trabalho, por outro lado, o termo é empregado no sentido de resgatar as responsabilidades do estudante com relação à participação efetiva em seu processo de aprendizagem, buscando estratégias e alternativas para superar dificuldades, junto ao professor.

(17)

A construção deste trabalho me permitiu desenvolver a capacidade de realizar pesquisas científicas, compreender um pouco mais as teorias de aprendizagem e como têm sido aplicadas no cotidiano acadêmico, bem como, possibilidades de estratégias de estudo que podem contribuir para a aprendizagem.

1.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

Uma das maiores problemáticas que as universidades públicas e particulares enfrentam hoje no Brasil é a questão do elevado número de retenções em alguns cursos de graduação. Há casos em que o aluno repete a mesma disciplina até cinco vezes ou mais. Isso pode levá-lo à desmotivação, ao jubilamento e ao abandono.

Um estado preocupante quando se pensa na qualidade do ensino superior no país. Em alguns casos, o problema acontece devido à falta de base (Ensino Fundamental e Médio) para cursar algumas disciplinas, como por exemplo, disciplinas da área de exatas como Cálculo, Programação Computacional e Geometria Analítica.

No entanto, a partir do momento em que o estudante ingressa na universidade pressupõe-se que o mesmo cumpriu os pré-requisitos de educação básica exigidos e o mesmo passa a ser de responsabilidade da instituição superior.

O papel da universidade, a partir de então, é proporcionar condições favoráveis para que seus estudantes consigam superar as dificuldades, permanecer e concluir seus cursos no tempo estimado.

No entanto, muitas vezes, não é possível se adaptar ao contexto universitário rapidamente. É necessário que as escolas e Universidades incentivem seus alunos a se tornarem estudantes, levando o aluno a aprender a aprender, pois, quem sabe aprender, aprende em qualquer circunstância, em qualquer ocasião, dentro ou fora da sala de aula.

Gum (2016) afirma que devemos formar "aprendedores", nesse sentido diz que um dos problemas são as instituições, chamadas de ensino, mas que deveriam ser de aprendizagem.

Nesse contexto, evidencia-se-se as diferenças entre ser universitário e ser estudante universitário. O primeiro está apenas na condição de matriculado,

(18)

enquanto que o último considera o curso superior como uma profissão que exige responsabilidade, comprometimento, disciplina, foco, autonomia e perseverança.

A universidade é um espaço que exige do aluno maturidade estudantil, uma vez que, na transição da educação básica para a educação superior, ocorrem muitas mudanças na vida do estudante. Nessa nova realidade, ele precisa buscar sozinho alternativas para superar muitas de suas dificuldades.

Com o surgimento das tecnologias digitais e introdução da mídia World Wide Web, alguns alunos mais preocupados com seu desempenho acadêmico, têm buscado por conta própria ampliar seus potenciais em espaços não formais de aprendizagem. Dessa forma, muitos procuram na Internet materiais, profissionais ou depoimentos de internautas, que possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias eficazes de estudo e aprendizagem.

No mundo da Internet, milhares de pessoas, a partir de suas experiências pessoais, vêm assumindo o papel de pseudo “especialistas” em diversos assuntos, o que não é diferente com o tema estratégias de estudo. Assim, ocorre a difusão de suas “teorias” como verdades absolutas, muitas das vezes, sem embasamento teórico, metodológico ou confirmação científica.

E estes "especialistas" conquistam milhares de seguidores em blogs, canais do YouTube, sites e redes sociais. Isto se deve ao fato de que, na sociedade da informação, com o avanço tecnológico e a democratização das informações, em que a busca pelo conhecimento se renova cotidianamente, aprender mais e melhor, em menos tempo, torna-se uma necessidade essencial das pessoas. Aprender deixa de ser a atividade própria de uma época da vida para converter-se em algo permanente na vida do ser humano.

Criado no ano 2000, o YouTube é um site interativo de compartilhamento de vídeos enviados pelos usuários por meio da Internet. Esses vídeos podem conter conteúdos profissionais ou amadores, extensos ou curtos. Um ambiente virtual que se popularizou em pouco tempo no mundo inteiro. O termo vem do Inglês “you” que significa “você” e “tube” que significa “tubo” ou “canal”, mas é usado na gíria para designar “televisão”. Portanto, o significado do termo “YouTube” poderia ser “você transmite” ou “canal feito por você”. Nessa conjuntura, o YouTuber é o sujeito

(19)

Sendo assim, pessoas e empresas, em vários cenários e sobre vários assuntos, produzem seus vídeos e publicam gratuitamente no YouTube. Compartilham suas experiências pessoais, profissionais e opiniões acerca das mais variadas temáticas; dentre elas, e como recorte de interesse nesta pesquisa, estratégias que experimentaram e consideraram mais eficientes para a aprendizagem.

Mesmo se tratando de orientações, muitas vezes, não científicas, esses ambientes instrucionais são apontados por Badia e Monereo (2010) como úteis para o ensino de estratégias. É um movimento recente do paradigma tecnológico que instaura e modifica tanto as práticas sociais quanto as educacionais.

Estamos vivenciando a terceira revolução educacional. A primeira aconteceu na Grécia Antiga, nos Séculos V e IV a.C., com a criação da escola. A segunda se deu com a criação do livro impresso, no Século XV, na Europa, e a terceira aconteceu com o desenvolvimento das tecnologias digitais no Século XXI (MOTA; SCOTT, 2013).

Antigamente as transformações ocorriam de forma lenta. No entanto, desde a revolução científica, ocorrida a partir do Século XVII, o conhecimento tem avançado em ritmo acelerado. Estima-se que, nos últimos 20 anos, a humanidade evoluiu mais que nos últimos séculos e, nos próximos 30 anos, toda esta realidade estará obsoleta.

As crianças do Século XXI nascem e crescem num contexto em que o letramento digital2 acontece naturalmente. Não hesitam, não estranham, não temem, transitam e interagem nas redes com familiaridade.

No entanto, os jovens do Século XXI têm apresentado uma grande dificuldade de concentração. Há certa incapacidade de mapeamento, seleção, tabulação e transformação de informações em conhecimentos. E os poucos conhecimentos construídos têm se tornado cada vez mais superficiais. De acordo com Pimenta (2002) "conhecimento não se reduz a informação. Este é um primeiro estágio daquele. Conhecer implica um segundo estágio, o de trabalhar com as informações classificando-as, analisando-as e contextualizando-as."

2

Letramento digital inclui as habilidades de localizar, organizar, entender, avaliar e analisar informações usando tecnologias digitais (MOTA; SCOTT, 2013).

(20)

Esse descompasso, mais evidente recentemente, prejudica a qualidade do ensino e, por conseguinte, da aprendizagem. Uma vez que, esse novo aluno anseia por mais independência e autonomia na forma de pensar. E, por que não, na forma de estudar?

Assim, há a necessidade de desenvolver ferramentas inovadoras de estudo, de pensar estratégias de estudo que se adaptem a um novo conceito de estudante em um novo contexto de mundo, sem desconsiderar a importância das instituições de ensino e dos profissionais da educação.

O ensino de estratégias de aprendizagem aos alunos pode promover maior autonomia pessoal e aumentar sua consciência e responsabilidade sobre o próprio processo de aprendizagem, o que pode levar a melhorar seu desempenho acadêmico, embora, muito pouco se tem estudado sobre esta temática no âmbito universitário.

Um estudo realizado por Martins e Zerbini (2014), identificou apenas três instrumentos validados na literatura internacional para mensurar o uso de estratégias de aprendizagem em contextos escolares: Self-Regulated Learning Interview Schedule (SRLIS) de Zimmerman e Martinez-Pons (1986), Learning and Study Strategies Inventory (LASSI) desenvolvido por Weinstein, Zimmerman e Palmer (1988) e Motivated Strategies for Learning Questionnaire (MSLQ) de Pintrich e Groot (1989). Esses questionários não serão utilizados nesta pesquisa, porém, a título de conhecimento, demonstra que, apenas a partir da década de 80, o mundo começou a reconhecer a importância do desenvolvimento de estratégias para uma aprendizagem mais eficiente e eficaz.

Mesmo diante de tais iniciativas, pouco se tem desenvolvido e aprofundado nessa temática. Após levantamento em cinco repositórios digitais de publicação de artigos, teses e dissertações (SCIELO, BDTD, ERIC, SCIENCE DIRECT e PUBMED)3, apenas 403 publicações relacionadas ao tema foram identificadas nos últimos cinco anos. Com a realização de uma triagem, avaliando os títulos e os resumos das publicações, apenas 16 (6 em língua portuguesa, 3 em língua espanhola e 7 em língua inglesa) apresentaram relevância para esta pesquisa por

3

(21)

se tratarem especificamente das temáticas: “teorias de aprendizagem” e “estratégias de estudo” no “ensino superior”.

O baixo número de pesquisas relacionadas à temática revela uma grande lacuna do conhecimento. Isso sinaliza a necessidade de desenvolvimento de pesquisas voltadas para a melhoraria e diversidade das formas de estudar, pensar e discutir as estratégias de estudo individual que são ou poderiam ser utilizadas por alunos para levar à aprendizagem efetiva. O aprofundamento no conhecimento dessas estratégias poderia contribuir para uma educação de maior qualidade, bem como a redução dos altos índices de retenção e reprovação em cursos de graduação.

Foram encontrados menos de dez trabalhos que adaptaram e aplicaram instrumentos de pesquisa em escolas e universidades no Brasil. Não foi detectada nenhuma pesquisa que se propusesse a analisar publicações do YouTube de depoimentos pessoais de estudantes, tratando a respeito de estratégias de estudo.

Neste contexto, lançou-se os seguintes questionamentos:

 Quais estratégias de estudo são popularmente divulgadas e utilizadas pelos estudantes Youtubers brasileiros?

 Quais as principais abordagens de teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior são reconhecidas na literatura científica do campo da educação?

 É possível identificar as abordagens de teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior presentes (mesmo que implicitamente) nos depoimentos dos estudantes Youtubers?

Dessa maneira, a partir da identificação das principais abordagens de teorias de aprendizagem aplicadas ao ensino superior, esta pesquisa objetiva analisar as estratégias de estudo divulgadas em vídeos de depoimentos do YouTube sob a ótica dessas teorias, a fim de contribuir, por meio da produção de um material didático pedagógico, com o desenvolvimento da capacidade de compreensão, apreensão e fixação de novos conhecimentos.

Assim, foram selecionados 50 vídeos do YouTube que tratam de experiências pessoais de estudantes com as estratégias de estudo, para identificação e agrupamento dos conteúdos por categorias.

(22)

A partir destes, selecionou-se seis vídeos com maior número de visualizações para a análise de conteúdo, segundo a teoria de Bardin (2010), sob a ótica das teorias de aprendizagem e publicações científicas aplicadas ao ensino superior.

E, finalmente, foi realizada a construção do produto final desta pesquisa, contemplando uma relação entre teorias de aprendizagem, experiências pessoais dos estudantes e publicações científicas aplicadas ao ensino superior.

A seguir, esta dissertação está organizada em quatro seções. A primeira é a fundamentação teórica, na qual estão sistematizados aspectos conceituais a respeito de estratégias de estudo, as características ativas do papel do estudante, durante as aulas e o estudo. Em seguida, são apresentadas sínteses a respeito da principais correntes teóricas sobre processos de aprendizagem, bem com definições de aprendizagem e sua relação com a aprendizagem no ensino superior. A outra seção trata dos procedimentos metodológicos empregados para o desenvolvimento desta pesquisa. A seção "análise de dados e resultados" apresenta a categorização desenvolvida a partir do exame preliminar dos vídeos, seguida de análise de conteúdo de excetos transcritos dos vídeos e sua triangulação com abordagens da fundamentação teórica.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ESTRATÉGIAS DE ESTUDO NO ENSINO SUPERIOR

Nesta seção apresentamos as diferenças entre conceitos que, embora façam parte do repertório de definições largamente empregado no contexto da educação superior, nem sempre são compreendidas com clareza.

2.1.1 Estratégia de estudo versus método ou técnica.

O termo "estratégia" constitui a expressão mais adequada para esta pesquisa, uma vez que, o conceito de “estratégia” é delineado por Badia e Monereo (2010), como a tomada consciente e intencional de decisões, adaptadas às condições do contexto em que se realizará a ação e consistente na ativação de conhecimentos de natureza diversa, para alcançar um objetivo de aprendizagem.

(23)

Weinstein e Mayer (1986) citados por Galvão, Câmara e Jordão (2012) relacionam “estratégias de estudo” a ensaio, elaboração, organização e monitoramento.

Para Haugen (2015), as “estratégias de estudo” podem ser descritas como maneiras específicas de pensar e agir em relação ao conhecimento escolar. Complementa que comportamentos e abordagens de bons aprendizes podem ser ensinados aos alunos com comportamentos não estratégicos, o que pode torná-los alunos melhores.

A literatura tem empregado o termo “estratégia de estudo” referindo-se tanto às estratégias cognitivas (destinada a levar o estudante a um objetivo cognitivo) quanto às estratégias metacognitivas (que se propõem avaliar a eficácia da primeira) (TEIXEIRA; ALLIPRANDINI, 2013).

Assim, o ensino e aperfeiçoamento dessas estratégias implicariam, não necessariamente, a mudança dos procedimentos instrucionais, mas afetariam a maneira como os aprendizes procedem ao aprender, podendo melhorar seu aproveitamento nos cursos. Quando o aluno melhora o seu desempenho, passa a acreditar em suas potencialidades e, dessa forma, passa a desenvolvê-las.

Ao destacarmos o conceito de estratégia4 e não técnica ou método de estudo, queremos enfocar que não se trata de técnica, por não se referir a um conjunto de regras, normas ou protocolos. Também não se trata de método, pois não se pode garantir que determinadas ações determinarão a aprendizagem.

O caminho do estudo é tortuoso, instável, surpreendente. Desta forma, não é possível definir um único caminho para chegar até ele. Há que se pensar em um universo de possibilidades, sem normas ou protocolos singulares sistemáticos. Possibilidades de ações que podem culminar em aprendizagens.

4

De acordo com Pozo (2002), estratégias são procedimentos que se aplicam de modo controlado, dentro de um plano projetado deliberadamente com o objetivo de se obter uma meta. Por outro lado, técnicas são um conjunto de regras, normas ou protocolos que se utiliza como meio para chegar a uma certa meta e, de acordo com Lakatos e Marconi (2010), método é um conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar objetivo.

(24)

2.1.2 A diferença entre aula e estudo.

A aula pode ser considerada uma etapa do processo de aprendizagem. A oportunidade que o estudante tem para compreender os conteúdos, tirar dúvidas, compartilhar experiências. É possível aprender durante as aulas, se forem utilizadas metodologias de ensino adequadas, em que o estudante exerça participação ativa.

De acordo com Rays (2002) a aula tem vários interlocutores além dos educandos: a ciência, os saberes do cotidiano, a prática social, a realidade sociocultural. Portanto, a aula passa a ser sinônimo de concepções políticas possíveis e conscientes, por meio de intencionalidades e intervenções pedagógico-científicas, que tem como características a problematização dos conteúdos, as múltiplas relações entre os saberes, o que exige intenso movimento dos estudantes em situação de aprendizagem.

Durante as aulas, o estudante entende o conteúdo que está sendo ensinado e essa informação fica armazenada na memória de curto prazo (PIAZZI, 2013). Para que a mesma seja transferida para a memória de longo prazo é necessário leituras, revisões, resolução de questões, participação de grupos de estudo, dentre outras atividades que requerem atuação protagonista do estudante. É com o estudo que o estudante aprofunda, reconstrói, revisa, retifica, ratifica e aprende efetivamente.

O sistema educacional brasileiro tem se fundamentado na carga horária presencial em aula. Nesse contexto, acredita-se que quanto maior o número de aulas, maior a qualidade do ensino. E assim persistem as constantes discussões e projetos que visam fazer com que o aluno passe o maior número possível de horas dentro da escola. Crucial seria aumentar o estudo. Não as aulas (DEMO, 2008).

É preciso entender o processo de aprendizagem como uma oportunidade de interação em que o aluno é o centro e o professor exerce papel fundamental como mediador e facilitador da aprendizagem. É preciso reconhecer que em uma sociedade conectada em rede, a informação está à disposição. Dessa forma, a mera reprodução de conteúdos não é mais suficiente. É necessário que o professor estimule o estudante a pensar.

Espera-se de um professor que o mesmo seja um intermediário entre os estudantes e a informação. Que desperte nos aprendizes a curiosidade em buscar.

(25)

Que norteie esse processo de pesquisa. Que ensine a aprender a aprender, para que, saindo da condição de aluno, esse torne-se um aprendiz em qualquer situação.

Assim, há que se pensar na formação dos profissionais da educação superior, a fim de conhecerem as diferenças entre as formas de estudar e, por conseguinte, de aprender, para preparar os graduandos, por meio de aulas específicas, de abordagens explicativas durante as aulas, de cursos, de materiais pedagógicos, dentre outros.

A ação de ensinar está incontestavelmente ligada à ação de aprender, por isso é preciso respeitar o movimento do pensamento, pois, a aprendizagem está sujeita à influência de fatores internos e externos, individuais e coletivos.

O simples fato de assistir às aulas pode não consolidar o aprendizado. É lendo, revisando, exercitando, fazendo resumos e discutindo sobre os conteúdos que se faz um aprendizado consistente. O professor sozinho pode não se fazer suficiente. Auxilia o aluno a compreender e construir o conhecimento. Para isso, utiliza métodos de ensino. Mas o aluno precisa conhecer as estratégias de estudo, porque, saindo da sala de aula, inicia-se outra etapa do processo.

Outro fator importante a se observar é o ambiente de aprendizagem. Quando se fala de ambiente, costuma-se fazer referência apenas às questões externas como iluminação, assentos, temperatura, etc. Apesar de esses elementos serem considerados, é importante ressaltar as condições internas necessárias para criar um clima mental que melhore a capacidade de aprendizagem (MOLINA; ONTORIA; GÓMEZ, 2004).

Durante a aula o aluno escuta, gesticula, lê, movimenta-se na classe, manipula objetos, executa operações, associa, compara, avalia, interpreta, classifica, estabelece hipóteses, compreende, imagina, julga, reflete, memoriza, reconhece, recorda (NETTO, 1987, p.1).

O segredo da boa memória é o exercício contínuo. Assim, o assistir ou dar aulas precisa ser substituído pela ação conjunta do fazer aulas (ANASTASIOU; ALVES, 2012; NETTO, 1987). E fazer aulas requer preparação para a aula, atuação durante a aula e dedicação após a aula, por parte do professor e do aluno.

2.1.3 A diferença entre aluno e estudante

Nem todo aluno é estudante e nem todo estudante é aluno. O simples fato de frequentar a sala de aula não faz do indivíduo um estudante. Estudar requer

(26)

iniciativa, atitude, foco, determinação, autoria, motivação e perseverança. Torna-se necessário fazer-se um profissional do estudo com planejamento, estratégias fundamentadas e compromisso cotidiano. Segundo Piazzi (2013), o Brasil possui milhões de alunos e pouquíssimos estudantes.

Não há aqui a intenção de desconsiderar ou desvalorizar a importância de se frequentar um curso para a formação ou a aula para a compreensão dos conteúdos no processo de aprendizagem, mas sim esclarecer o perfil de um estudante e o verdadeiro papel da aula. A aula é a oportunidade que o estudante possui para compreender, esclarecer, tirar dúvidas e socializar os novos conhecimentos. Mas ela por si só certamente não é suficiente.

Dessa forma, é necessário que o estudante se torne protagonista em seu processo de aprendizagem, o que requer autoria (DEMO, 2008). Assim, a leitura, o hábito de pesquisa, a realização regular de exercícios e revisões são imprescindíveis para quem quer aprender.

Aprender, neste contexto, não se trata da reprodução automática e passiva de informações para as provas. É preciso que haja um processamento dessas informações por meio de análises, questionamentos e pesquisas que oportunizem a construção de conhecimentos consistentes.

2.1.4 O ensino superior e construção da expertise.

Adquirir a expertise em determinado assunto é o mesmo que especializar-se, em determinada área do conhecimento. É tornar-se competente em determinada área do saber. De acordo com Galvão, Câmara e Jordão (2012, p.628), “para a maior parte das áreas acadêmicas o desenvolvimento da aprendizagem para a expertise começa com a entrada do aprendiz no ensino superior”.

O estudo focalizado é indispensável para se alcançar a expertise em determinado conhecimento. Estima-se, por exemplo, que para se tornar um expert no jogo de xadrez, sejam necessários dez anos de dedicação intensa. No ramo da composição musical, 20 anos e na música instrumental dez mil horas de estudo e treino. Isso se deve à "Lei de potência de aprendizagem", que explica o estudo individual deliberado como sendo a base do processamento automático. O tempo que se leva para realizar uma performance diminui à medida que a prática se desenvolve (GALVÃO; CÂMARA; JORDÃO, 2012).

(27)

Apesar disso, muitos estudantes, por falta de conhecimento costumam utilizar estratégias de estudo superficiais, qualitativa e quantitativamente ineficientes, que tendem a ser influenciadas pelo tipo de aula que vivenciam e pela dinâmica curricular que orienta a ação pedagógica nos cursos (idem, 2012).

Para que a aprendizagem efetivamente ocorra é necessário conhecer e desenvolver estratégias eficientes de estudo, que partem desde a organização prévia, cuidados com a saúde e outros fatores influenciadores, até o ato efetivo de estudar. Essas estratégias são ainda pouco pesquisadas e difundidas nas instituições de ensino e, na maior parte das vezes, ficam sob a discricionariedade do aluno.

2.2

TEORIAS

E

CONCEPÇÕES

DE

APRENDIZAGEM:

ABORDAGENS GERAIS

Ao abordar o tema teorias de aprendizagem, não se faz com a intenção de explicar o funcionamento da mente humana, mas de limitar apenas um dos seus aspectos: os processos de construção do conhecimento. É um ramo da psicologia em educação que explica os processos de aprendizagem, realizados pelos indivíduos.

Acredita-se que a compreensão das teorias de aprendizagem, no sentido de adaptar estratégias para melhorar o processo de aprendizagem dos estudantes, o que tem reflexos no trabalhos do professor.

As teorias de aprendizagem são tentativas humanas de interpretar sistematicamente a área do conhecimento denominada aprendizagem (MOREIRA, 1999). Em uma primeira abordagem, foram identificados, na literatura, alguns estudiosos que marcaram historicamente as revoluções no ramo da aprendizagem, como Watson, Guthrie, Thorndike, Hull, Skinner, Piaget, Vygotsky, Ausubel, Vergnaud, Rogers, Brunner, Gardner, Freire e Bloom.

Netto (1987) apresentou, inicialmente, o comportamentalismo e o cognitivismo, mas observou um crescente ecletismo, que contrasta com as posturas rígidas e extremistas da primeira metade do Século XX. Segundo o autor, não haveria a necessidade de propor teorias dominantes. Nesse sentido, nenhuma teoria da aprendizagem seria capaz de cobrir mais do que uma pequena fração dos

(28)

fenômenos da aprendizagem. Apenas nos ajudam a encontrar soluções para problemas práticos de aprendizagem com os quais temos que lidar.

Já, Moreira (1999), trouxe à discussão três principais correntes teóricas, sendo elas:

Comportamentalismo: também conhecido como behavorismo, conexionismo ou associacionismo: teve como principais representantes Pavlov, Watson, Guthrie e Skinner. Alguns conceitos básicos referentes a esta teoria são o estímulo-resposta, condicionamento, reforço, objetivo-comportamental.

Cognitivismo: teve como principais pioneiros Piaget, Vygotsky e Ausubel. Tem como conceitos básicos esquema, signo, modelo mental, subsunçor5 e construto pessoal.

Humanismo: Seu pioneiro foi Rogers. Algumas ideias básicas são aprender a aprender, liberdade para aprender, ensino centrado no aluno e crescimento pessoal.

Por outro lado, Messeder (2014) identifica dois grandes grupos de teorias do conhecimento, detalhados a seguir:

 O primeiro é denominado ambientalismo, também conhecido como empirismo ou associacionismo (John Lock: o ser humano constrói o conhecimento por intermédio da sua interação com o ambiente, com os cinco sentidos).

 O segundo é denominado racionalismo (René Descartes: negligencia a importância dos sentidos para a aquisição do conhecimento. A aprendizagem somente é alcançada pela análise de proposições lógicas e possíveis de serem analisadas pelo ser humano). Sabe-se que uma teoria complementa a outra, apesar de terem sido consideradas antagônicas.

Messeder (2014) complementa que as teorias ambientalistas se dividem em teorias Behavioristas (comportamentalistas ou associacionistas) e teorias conexionistas. Já as teorias racionalistas se subdividem em inatismo (nativismo ou

5

Os novos conhecimentos que se adquirem relacionam-se com o conhecimento prévio que o aluno possui. Ausubel define este conhecimento prévio como "conceito subsunçor" ou simplesmente "subsunçor" (MOREIRA, 1999).

(29)

apriorismo) e interacionismo (construtivismo). O interacionismo se subdivide em interacionismo cognitivista (Jean Piaget) e interacionismo sociointeracionista (Lev Vygotsky).

Segundo ele, há pontos de convergência entre as duas principais correntes ambientalista e racionalista. Para os ambientalistas, as experiências e o contato com o ambiente externo são fundamentais para a aquisição do conhecimento. Esta também é uma característica comum ao interacionismo da corrente racionalista (Jean Piaget – ambiente físico e Vygotsky – ambiente social). Também, de acordo com os ambientalistas, condições presentes no meio influenciam o desenvolvimento humano e é importante ter o planejamento de condições ambientais para a aprendizagem de comportamentos pré-determinados, o que converge com o racionalismo.

Não obstante, há as correntes: humanista (Carl Roger), aprendizagem significativa (Ausubel), Gestalt (Dr. Fritz), socioafetiva (Henri Wallon) e o conectivismo (relacionado à ciência da computação).

A literatura é vasta, seus pensadores trouxeram grandes contribuições à educação e ao processo de aprendizagem. Dessa forma, segue um breve resumo dos principais conceitos e teóricos clássicos das principais correntes identificadas: Quadro 1: COMPORTAMENTALISMO POR WATSON

TEÓRICO: JOHN B. WATSON PERÍODO: 1878-1958

ORIGEM: Estados Unidos CORRENTE

TEÓRICA:

Comportamentalismo, também conhecido como Behaviorismo ou Conexionismo

CONCEPÇÕES

O comportamentalismo, também conhecido como behaviorismo, conexionismo ou associacionismo, foi fundado no mundo ocidental pelo norte americano Watson como uma reação à psicologia de até então, a qual se ocupava em estudar o que as pessoas pensavam e sentiam. Sua preocupação era com os aspectos observáveis do comportamento. A ideia era se ocupar do que as pessoas fazem. Supôs que o comportamento inclui respostas que podem ser observadas. Estava bastante influenciado pelo condicionamento clássico do russo Ivan Pavlov (1849-1936).

Watson fez experimentos com animais e seres humanos. Para ele, comportamento significava movimento muscular. Por exemplo, espirrar como resposta a uma irritação no nariz. Ao contrário de Skinner, outro estudioso que seguiu a mesma corrente anos mais tarde, Watson não se interessava pelo reforço ou pela punição como causas da aprendizagem. Considerava este conceito muito subjetivo para uma teoria objetiva. Acreditava que aprendemos a conectar o estímulo a uma resposta simplesmente porque os dois ocorrem juntos.

Dois princípios foram utilizados por Watson: frequência e recentividade. O primeiro explica que quanto mais frequentemente associamos uma dada resposta a um dado estímulo, mais provavelmente os associaremos outra vez. E o segundo, quanto mais recentemente associamos uma dada resposta a um dado estímulo, mais provavelmente associaremos outra vez.

(30)

influência na psicologia e instrução.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Moreira (1999).

Quadro 2: COMPORTAMENTALISMO POR GUTHRIE

TEÓRICO: EDWIN R. GUTHRIE PERÍODO: 1886-1959

ORIGEM: Estados Unidos CORRENTE

TEÓRICA:

Comportamentalismo, também conhecido como Behaviorismo ou Conexionismo

CONCEPÇÕES

O norte-americano Guthrie foi influenciado pelo condicionamento clássico de Watson. Pensava que se alguma coisa for feita em uma dada situação, certamente será feita novamente frente à mesma situação. Ou seja, o hábito é atingido na ocasião do primeiro pareamento. O que contrasta com o princípio da frequência de Watson, ou a ideia de que a prática melhora o desempenho. Assim como Watson, apoiou-se no princípio da recentividade, pois acreditava que quando o indivíduo apresenta diferentes movimentos em uma situação, é o último movimento que será associado a tal situação quando ela ocorrer outra vez.

Para Guthrie, a quebra de hábitos também é possível e estabeleceu três técnicas que podem ser utilizadas para substituir um hábito indesejável por outro desejável:

- Método da fadiga: repetir o sinal até que a resposta original canse e nova resposta desejada seja dada.

- Método do limiar: introduzir o estímulo que se deseja desconsiderar num grau tão fraco que não provoque a resposta.

- Método do estímulo incompatível: apresentar o estímulo quando a resposta não pode ocorrer. Watson e Guthrie não deram atenção ao conceito de reforço. O que dificultou a aceitação dessas teorias. Desta forma, coube a Thorndike introduzir a noção de reforço ao comportamentalismo. Fonte: Elaborado pela autora com base em Moreira (1999).

Quadro 3: COMPORTAMENTALISMO POR THORNDIKE

TEÓRICO: EDWARD L.

THORNDIKE

PERÍODO: 1874-1949

ORIGEM: Estados Unidos CORRENTE

TEÓRICA:

Comportamentalismo, também conhecido como Behaviorismo ou Conexionismo

CONCEPÇÕES

Influenciou grandemente a psicologia educacional norte-americana. Não entrou em detalhes neuroanatômicos, mas falava em conexões neurais para deixar claro que não se referia a consciência ou a ideias e sim a impulsos diretos para a ação. Para Thorndike, a aprendizagem consiste na formação de ligações estímulo-resposta, que assumem a forma de conexões neurais. Colocou ênfase nas consequências do comportamento como determinantes das conexões. Neste caso, as conexões eram entre estímulo e resposta e não entre resposta e recompensa, como propôs Skinner.

Para Thorndike a concepção de aprendizagem está ligada a três leis principais e cinco subsidiárias. Principais:

- Lei do efeito: consequência satisfatória fortalece e consequência irritante enfraquece. -Lei do exercício: fortalecimento com a prática e esquecimento com a descontinuidade. - Lei da prontidão: preparação para a ação.

Subsidiárias:

- Resposta múltipla: diante de um problema (estímulo) deve-se apresentar respostas variadas (solução) encontrar a adequada. Ensaio-e-erro.

(31)

- Prepotência de elementos: a capacidade de lidar compartes relevantes da situação torna possível a aprendizagem analítica e de insight.

- Resposta por analogia: a transferência de respostas de uma situação para outra depende da similaridade entre as duas.

- Mudança associativa: é possível mudar a resposta de um estímulo para outro. Fonte: Elaborado pela autora com base em Moreira (1999).

Quadro 4: NEOBEHAVIORISMO DE HULL

TEÓRICO: CLARK L. HULL PERÍODO: 1884-1952

ORIGEM: Estados Unidos CORRENTE

TEÓRICA:

Neobehaviorismo

CONCEPÇÕES

O também norte-americano Hull difundiu a teoria do reforço. Foi o mais formal dos teóricos behavioristas. Sua teoria é um sistema dedutivo-hipotético. Pode ser dita do tipo E-O-R: estímulo E, que afeta o organismo O, tendo como consequência a resposta R.

Diferencia-se dos demais teóricos comportamentalistas por acreditar que o que acontece no organismo, entre o estímulo e a resposta, é importante e estas variáveis são chamadas intervenientes. Hull pode ser considerado um neobehaviorista.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Moreira (1999).

Quadro 5: COMPORTAMENTALISMO DE SKINNER

TEÓRICO: BURRHUS F. SKINNER PERÍODO: 1904-1990 ORIGEM: Estados Unidos

CORRENTE TEÓRICA:

Comportamentalismo, também conhecido como Behaviorismo ou Conexionismo

CONCEPÇÕES

Embora o norte-americano Skinner não tenha se considerado um teórico da aprendizagem, exerceu enorme influência nos procedimentos e materiais usados em sala de aula. O pensamento de Skinner não se preocupa com o que acontece na mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem. O que interessa é o comportamento observável.

Concentra-se no controle e predição das relações entre as variáveis e imput (estímulo) e output (resposta). Sendo que as principais variáveis de imput são: estímulo (evento que afeta os sentidos do aprendiz), reforço (evento que resulta no aumento da probabilidade da ocorrência de um ato que imediatamente o procedeu) e contingências de reforço (arranjo de uma situação para o aprendiz, na qual a ocorrência de reforço é tornada contingente à ocorrência imediatamente anterior de uma resposta a ser aprendida). Já as variáveis de output são as respostas, que podem ser operantes (indivíduo atua sobre o meio) e respondentes (reflexo ou involuntário).

O ser humano tende a evitar punições e se comportar de modo a obter recompensas. Desta forma, o comportamento pode ser controlado por suas consequências: recompensas e punições. Esta é a teoria do reforço. Desta forma, é possível utilizar recompensas para modificar, implantar ou extinguir comportamentos. Uma recompensa pode funcionar como um reforço positivo ou não, depende de como é aplicada.

Ocorre o condicionamento quando é introduzido um reforçador positivo imediatamente após uma resposta, resultando um aumento na frequência daquela resposta. No entanto, não se deve confundir condicionamento com aprendizagem, uma vez que esta última é muito mais ampla e a primeira é específica e pontual.

Já o condicionamento operante é quando um reforçador vem imediatamente após uma resposta. Ou seja, um evento ou objeto que aumenta a frequência de uma resposta à qual se seguiu. Por outro lado, o condicionamento respondente acontece quando um estímulo reforçador é aquele que

(32)

seguramente elicia uma dada resposta, mas não precisa aumentar a frequência da resposta à qual segue. Por exemplo, quando um feixe de luz é incidido sobre o olho de uma pessoa, a pupila dilata. Agora, se um estímulo reforçador é emparelhado com um estímulo neutro, após repetidos emparelhamentos dos dois estímulos, o neutro adquire as características do reforçador, e passa, então a eliciar a resposta. Desta forma, se uma campainha é sempre tocada imediatamente antes de um feixe de luz incidir sobre o olho, a campainha acabará eliciando a pupila independente do feixe.

Todos estes teóricos do behaviorismo inspiraram-se de alguma maneira no pensamento de Ivan Pavlov (1849-1936), um Fisiologista Russo conhecido por seu condicionamento clássico. O mesmo falava de estímulo incondicionado e estímulo condicionado. Desta forma, de acordo com esta perspectiva, o som da campainha era um estímulo incondicionado para alguma outra resposta. Sua teoria aplicava-se especialmente à atividade glandular da saliva, pupilas dilatadas, contração dos vasos sanguíneos, atividades motoras, atividades musculares e arrepio dos pelos da pele. Mais tarde, considerou-se que esta teoria tratava-se exclusivamente de condicionamentos respondentes. Quando ocorre a suspensão do reforço de uma resposta condicionada, dá se nome de extinção. Já o esquecimento acontece quando uma resposta não foi emitida por tempo suficiente, diminuindo a probabilidade de que determinada resposta ocorra. Este último ocorre devido à falta de oportunidade para responder e o primeiro devido à resposta sem esforço.

A teoria skinneriana abrange uma infinidade de desdobramento. Além de observar o comportamento infanto-juvenil, desenvolveu inúmeras pesquisas com animais, como ratos e pombos. Ficou conhecido como o criador da caixa de Skinner. Nesta caixa era colocado um rato sem alimentos. Desta forma, o rato emitia vários comportamentos aleatoriamente e quando ele se aproximava de uma barrinha perto da parede, Skinner introduzia uma gota d’água na caixa através de um mecanismo e o rato a bebia. As próximas gotas eram apresentadas quando o rato se aproximava um pouco mais da barra. As outras quando o rato encostava o nariz na barra. Depois as patas. E assim em diante até que o rato estava pressionando a barra dezenas de vezes até saciar completamente sua sede. Foi observado que os comportamentos do rato que eram seguidos de um estímulo reforçador (a água) aumentavam de frequência, enquanto outros diminuíam.

Skinner acreditava que a aprendizagem ocorria dependendo do reforço aplicado às respostas. Ou seja, importante não é concentrar-se no lado dos estímulos, mas sim do lado do reforço. A partir do reforço estabelecido para cada resposta é que aumenta ou diminui a probabilidade da resposta ocorrer novamente. Nesta linha de pensamento, o papel do professor seria dar reforço apropriado no momento apropriado.

Sua teoria pode ser aplicada em diversas abordagens, dentre elas:

- Instrução programada: a informação é apresentada em pequenas e fáceis etapas, facilitando a emissão de respostas a serem reforçadas e diminuindo a probabilidade de se cometer erros. Neste caso, o aluno aprende melhor se participa da aprendizagem, em seu próprio ritmo, sendo testado periodicamente. Na prática são textos programados, o estudante vai respondendo as questões em próprio ritmo e imediatamente verificando o que acertou. A resposta correta está de alguma maneira oculta, mas facilmente verificável. Ao acertar o estudante é reforçado.

- Método killer: segue o princípio da instrução programada. Neste método o curso é dividido em unidades, ou seja, pequenas etapas. O aluno trabalha em seu próprio ritmo, prepara-se e faz testes. Os testes são corrigidos pelo monitor imediatamente, na frente do estudante e as respostas erradas são analisadas junto ao mesmo. Elogios do professor são usados como reforço positivo.

- Objetivos operacionais: considerada a mais clara manifestação do comportamentalismo, dá ênfase na definição operacional de objetivos claramente definidos, que explicitam com exatidão aquilo que o estudante deveria ser capaz de fazer. Quando vêm os resultados positivos, considera-se que o mesmo aprendeu.

Do ponto de vista instrucional, a teoria comportamental sofreu muitas críticas, pois diz-se que esse enfoque promove muito mais a aprendizagem mecânica, automática, do que a aprendizagem significativa. No entanto, não se pretende com esta pesquisa valorizar ou desvalorizar métodos, mas sim verificar a aplicabilidade dos mesmos no cotidiano dos estudantes.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Moreira (1999).

Quadro 6: COMPORTAMENTALISMO DE BLOOM

TEÓRICO: BENJAMIN S. BLOOM PERÍODO: 1913-1999

(33)

CORRENTE TEÓRICA:

Comportamentalismo, também conhecido como conexionismo ou behaviorismo

CONCEPÇÕES

De acordo com Ferraz e Belhot (2010), a Taxonomia de Bloom, publicada em 1956, foi criada por Benjamin S. Bloom, em parceria com vários outros estudiosos. Ele liderou um projeto, proposto pela Associação Norte Americana de Psicologia em 1948, que tinha por finalidade discutir, definir e criar uma taxonomia dos objetivos de processos educacionais.

Trata-se de um instrumento para apoiar o planejamento didático-pedagógico. Auxilia a identificação e a declaração dos objetivos ligados ao desenvolvimento cognitivo, visando facilitar o planejamento do processo de ensino e aprendizagem. De acordo com esta teoria, a escolha do conteúdo, procedimentos, atividades, recursos, estratégias e instrumentos de avaliação devem ser decididos ao início da disciplina (FERRAZ; BELHOT, 2010).

Uma das grandes descobertas de Bloom e seus colegas foi que todos os alunos, nas mesmas condições de ensino, aprendem, porém se diferenciam em nível de profundidade. Esta particularidade poderia ser caracterizada pelas estratégias utilizadas e pela organização dos processos de aprendizagem para estimular o desenvolvimento cognitivo. Isto posto, a Taxonomia de Bloom é estruturada em níveis de complexidade crescente. Para adquirir uma nova habilidade pertencente ao próximo nível, o aluno deve ter dominado e adquirido a habilidade do nível anterior (FERRAZ; BELHOT, 2010).

Tal teoria foi influente na organização do currículo e ensino de conteúdos no Brasil, principalmente na década de 1970, estando presente a tendência à operacionalização dos objetivos comportamentais nas propostas curriculares consequentes da Lei Nº 5.692/716 (SILVA, 1989).

A princípio, as categorias do domínio cognitivo proposto por Bloom foram: (1) Conhecimento, (2) Compreensão, (3) Aplicação, (4) Análise, (5) Síntese e (6) Avaliação. Mas, em 2001, David Krathwohl e outro grupo de especialistas lançou algumas atualizações na Taxonomia de Bloom. Teorizaram que geralmente os objetivos declaram o que é esperado que os discentes aprendam, mas esqueceram de explicitar, de forma coerente, aquilo que deverão ser capazes de realizar com o conhecimento. Desta forma, substituiu os substantivos por verbos nas categorias anteriormente definidas por Bloom. Assim, ficou: (1) Lembrar, (2) Entender, (3) Aplicar, (4) Analisar, (5) Sintetizar e (6) Criar (FERRAZ; BELHOT, 2010).

Fonte: Elaborado pela autora com base em Ferraz e Belhot (2010), Silva (1989).

Quadro 7: CONSTRUTIVISMO DE PIAGET

TEÓRICO: JEAN PIAGET PERÍODO: 1896-1980

ORIGEM: Suíça CORRENTE TEÓRICA:

Cognitivismo, construtivismo

CONCEPÇÕES

Um dos maiores representantes do cognitivismo é Jean Piaget. Biólogo, nascido na Suíça, teve como foco a natureza do conhecimento humano. Dedicou a vida à observação científica do processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança. Elaborou a teoria da “inteligência sensório-motriz” que descreve o desenvolvimento espontâneo de uma inteligência prática, baseada na ação (PRÄSS, 2012).

Para Piaget, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. O conhecimento acontece por descobertas que a própria criança faz. Dessa forma, o conhecimento é construído pelo aluno e educar é estimular a procura do conhecimento. Este pensamento inaugura a corrente construtivista (FERRARI, 2008a).

6

Referências

Documentos relacionados

Isso, se “no meio do caminho”, o Governo não mudar a regra do jogo e subir a expectativa da vida, para um número maior, elevando de cara a idade mínima para 70 e 72 anos

Após a introdução, no primeiro capítulo tratamos a estrutura dramatúrgica de Bertolt Brecht, discutindo questões a respeito do teatro épico, do gestus, do

Ocorre que, passados quase sete anos da publicação da Lei n o  12.651/2012 e pacificadas as discussões sobre a sua aplicação, emendas a uma medida provisória em tramitação

The provisional measure addresses the necessary extension of the deadline for entry into the Environmental Regularization Program (PRA), but also contains amendments that aim

1) Nome indígena, nome em português, etnia, idade e função na comunidade. 2) Nesta comunidade, quais foram objetivos de solicitarem para o ensino da língua tukano no

A disputa acima mencionada, que é parte da controvérsia criacionista, sobre a influência da religiosidade particular de um ator político na sua atuação pública demonstra (como

Existe uma diferença terminológica nas dificuldades de aprendizagem entre vários autores; para uns, as dificuldades de aprendizagem correspondem a toda e qualquer dificuldade da

Benetton (1999) apresenta o caráter de funcionalidade na Terapia Ocupacional como tendo sido assumido por muitos autores, pelos precurssores da profissão (Meyer, Simon e Schneider)