• Nenhum resultado encontrado

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR

"El juicio es un mecanismo delicado como un aparato de relojería: basta cambiar la posición de una ruedecilla para que el mecanismo resulte desequilibrado e comprometido".1

Ação Penal n.º 5046512-94.2016.4.04.7000/PR

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA e MARISA LETÍCIA LULA DA SILVA, já qualificados nos autos da ação penal em epígrafe, vêm, por seus advogados infra-assinados, à presença de Vossa Excelência, respeitosamente, expor e requerer o que segue.

I. NÃO RECONHECIMENTO DA COMPETÊNCIA E DA LEGITIMIDADE DO JUÍZO

Primeiramente, necessário salientar que os Peticionários não reconhecem a competência do Juízo da 13ª Vara Criminal de Curitiba para a condução e julgamento do presente feito, pois ainda estão sub judice exceções de suspeição e incompetência opostas pela Defesa.

1

(2)

II. A INICIATIVA PROBATÓRIA DO JUÍZO

Outrossim, em 23.11.2016, Vossa Excelência, agindo de ofício na instrução do presente feito, requisitou à 10ª Vara Federal de Brasília/DF informações acerca da fase atual de ações penais que tramitam perante aquele Juízo em desfavor do Primeiro Peticionário, bem como o encaminhamento de cópia das respectivas denúncias (evento 264).

Em resposta, a 10ª. Vara Federal de Brasília/DF encaminhou a este Juízo informações processuais a respeito de duas ações penais que lá tramitam em desfavor do Primeiro Peticionário, bem como cópia da denúncia e do aditamento referente à ação penal n.º 0042543-76.2016.4.01.3400 e, ainda, cópia da denúncia referente à ação penal n.º 16093-96.2016.4.01.3400 (evento 278).

No entanto, data venia, tais documentos devem ser desentranhados, (i) seja porque ferem o sistema acusatório, (ii) seja porque não encontram ligação com o objeto da presente ação penal.

Senão, vejamos.

III. DA VIOLAÇÃO AO SISTEMA ACUSATÓRIO E DE MAIS UM ATO QUE DEMONSTRA AGIR O JUIZ NO PAPEL DE ACUSADOR

De longa data o Peticionário demonstra que Vossa Excelência perdeu a necessária imparcialidade para julgá-lo. Nessa linha, eis alguns fatos que foram devidamente comprovados:

(i) buscas e apreensões na residência e escritório do Primeiro Peticionário e de seus familiares, com fundamentação destoante das disposições legais de regência e antecipação de juízo de valor sobre os fatos postos em controvérsia; (ii) sua condução coercitiva sem prévia intimação, com manifesta infringência ao disposto no artigo 260 do Código de Processo Penal;

(iii) determinação da interceptação telefônica dos terminais de titularidade do Primeiro Peticionário, familiares e advogados, com afronta às regras da Lei n.

(3)

9.296/96 e à garantia constitucional da inviolabilidade das comunicações (CF/88, artigo 5º, XII);

(iv) monitoramento da estratégia da defesa técnica, em afronta aberta ao princípio maior da ampla defesa (CF/88, artigo 5º, LV) e do livre exercício da própria advocacia;

(v) ilícito levantamento do sigilo de diálogos interceptados e gravados, decisum que, sobre ser ilegal, denota fins estranhos ao processo;

(vi) usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal ao divulgar e fazer juízo de valor sobre diálogos mantidos com autoridades detentoras de foro especial por prerrogativa de função na Corte Excelsa;

(vii) exteriorização de juízo de condenação preconcebida ao prestar informações ao STF;

(viii) confissão expressa da ilegalidade por si próprio cometida, com subsequente pedido de escusas ao STF;

(ix) infinitas e sucessivas prorrogações de competência, com dedicação exclusiva de Vossa Excelência à cognição dos feitos relativos à Operação "Lava-Jato", em afronta ao artigo 5º, XXXVII, da Constituição Federal;

(x) proximidade com setores da imprensa, que promovem o vazamento sistemático de atos processuais e dados pessoais do Peticionário;

(xi) participação em eventos organizados por inimigos políticos que se opõem ao Primeiro Peticionário, hostilizando-o;

(xii) edição de 03 (três) livros que tem por tema a pessoa de Vossa Excelência e a Operação "Lava-Jato" — com a presença do magistrado em pelo menos um dos lançamentos, corroborando o conteúdo da obra inclusive em relação às acusações feitas ao Primeiro Peticionário;

(xiii) pessoal, direto e completo envolvimento nos atos da fase investigatória, a contaminar sua imparcialidade para decidir a causa.

(xiv) antecipação de juízo de valor condenatório em decisão que recebeu a denúncia que deflagrou a ação penal.

Não bastasse, os fatos que demonstram a ausência de um julgamento justo e imparcial para os Peticionários se avolumam a cada dia. A própria condução das audiências de instrução também serve para corroborar esse cenário, máxime quando Vossa Excelência acusa a Defesa de atuar de forma “retórica” e “sem argumentos”.

(4)

Como exposto acima, desta feita, a Defesa se depara com iniciativa probatória de Vossa Excelência ao requisitar informações e cópia de ações penais que tramitam perante a 10ª. Vara Federal de Brasília.

Essa situação, à toda evidência, colide com o sistema acusatório adotado pelo direito pátrio.

De fato, a despeito de o art. 156 do Código de Processo Penal possibilitar a produção de provas de ofício pelo Magistrado, tem-se que tal possibilidade fere de morte o sistema acusatório, atribuindo a este verdadeiro papel inquisitorial, contrariando o disposto na Constituição da República (art. 129, I).

A assunção dos papéis de julgador e de investigador pelo magistrado é incompatível, pois afeta a necessária – e imprescindível – imparcialidade do juiz.

A esse respeito, luminosa a percepção de AURY LOPES JR.:

"Fica evidente a insuficiência de uma separação inicial de atividades se, depois, o juiz assume um papel claramente inquisitorial. O juiz deve manter uma posição de alheamento, afastamento da arena das partes, ao longo de todo o processo. Deve-se descarregar o juiz de atividades inerentes às partes, para assegurar sua imparcialidade. Nesse contexto, o art. 156 do CPP funda um sistema inquisitório, pois representa uma quebra da igualdade, do contraditório, da própria estrutura dialética do processo. Como decorrência, fulminam a principal garantia da jurisdição, que é a imparcialidade do julgador. Está desenhado um processo inquisitório." (destacou-se)2

Com a maestria que lhe é habitual, também lecionou NEREU GIACOMOLLI, destacando, igualmente, que a iniciativa probatória judicial culmina o processo inquisitivo:

"Parte-se do devido processo, engendrado pela convencionalidade e constitucionalidade, razão de ser da delimitação funcional dos sujeitos no processo penal. Montero Aroca afirma que o denominado processo inquisitivo

2

LOPES JR. Aury. Bom para quê(m)? Boletim IBCCRIM, ano 188, Julho/2008. Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/3684-Bom-para-quem> Acesso em: nov. 2016

(5)

(contraditio in terminis, por não se tratar de processo) nunca foi um verdadeiro processo, não havendo processo se o acusador é, ao mesmo tempo, juiz ou assume poderes materiais, inclusive de realizar prova de ofício. (...) Nesse modelo acusatório incumbe à acusação e não ao magistrado a proposição e a produção da prova condenatória. A única admissibilidade válida é da atuação ex officio do magistrado para garantir e proteger os direitos e a liberdade do imputado, como guardião das liberdades. A função do juiz no processo é analisar a admissibilidade dos meios de prova e da metodologia probatória, avaliando o que for produzido nos autos."3 (destacou-se)

Nessa senda, EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA destaca a violação não só ao sistema acusatório, mas também à paridade de armas.

"Nesse ponto, o princípio acusatório imposto pela Constituição Federal de 1988, no qual foram delimitadas as funções do juiz e as atribuições do Ministério Público, deverá funcionar como um redutor e/ou controlador da aplicação do mencionado dispositivo, em face da imparcialidade que deve nortear a atuação judicial. (...) Falamos, agora, na imparcialidade no que se refere à atuação concreta do juiz no processo, de modo a impedir que este adote postura tipicamente acusatória no processo, quando, por exemplo, entender deficiente a atividade desenvolvida pelo ministério Público. O juiz não poderá desigualar as forças produtoras da prova no processo, sob pena de violação dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, ambos reunidos na exigência de igualdade e isonomia de oportunidades e faculdades processuais."4 (destacou-se)

Nesse sentido, também é o entendimento de GERALDO PRADO:

"Quem procura sabe ao certo o que pretende encontrar e isso, em termos de processo penal condenatório, representa uma inclinação ou tendência perigosamente comprometedora da imparcialidade do julgador. Desconfiado da culpa do acusado, investe o juiz na direção da introdução de meios provas que sequer foram consideradas pelo órgão de acusação, ao qual, nestas circunstancias, acaba por substituir. Mais do que isso, o mesmo tipo de comprometimento psicológico objeto das reservas quanto ao poder do próprio juiz iniciar o processo, aqui igualmente se verificará, na medida em que o juiz se fundamentara, normalmente, nos elementos de prova que ele mesmo incorporou ao feito, por considerar importantes para o deslinde da questão, o que afastará da desejável posição de seguro distanciamento das partes e de seus interesses contrapostos, posição esta apta a permitir a melhor ponderação e conclusão."5 (destacou-se)

3

GIACOMOLLI. Nereu José. O devido Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2014, p. 181.182

4

OLIVEIRA,Eugênio Paccelli. Curso de processo penal. São Paulo: Atlas, 2014, p. 338.

5

PRADO, Guilherme. Sistema acusatório: a conformidade constitucional das leis processuais penais. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 137.

(6)

Veja-se que, sob o mesmo entendimento, decidira o E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

“Cabe à acusação, preleciona o jurista Fernando da Costa Tourinho Filho, ´provar a existência do fato e demonstrar sua autoria. Também lhe cabe demonstrar o elemento subjetivo que se traduz por dolo ou culpa. Se o réu goza de presunção de inocência, é evidente que a prova do crime, quer a parte objecti, quer a parte subjecti, deve ficar a cargo da acusação` (Processo Penal. 14.ed. Saraiva: São Paulo, 1993. v. III, p. 213). Assim, não tendo o Ministério Público Federal arcado com o ônus material de provar a imputação penal atribuída ao réu na denúncia, encargo que lhe é conferido pelo art. 156, 1ª parte, do CPP, deve ser reformada a r. sentença condenatória em relação aos crimes dos arts. 334, § 1º, alínea "c", e 288, ambos do CP.” (TRF4, ACR 2005.04.01.009927-8, OITAVA TURMA, Relator PAULO AFONSO BRUM VAZ, D.E. 10/01/2007)

---

PENAL. PROCESSUAL PENAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA

PREVIDENCIÁRIA. ARTIGO 168-A C/C ARTIGO 71, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. ARTIGO 156, CAPUT E INCISO II, DO CÓDIGO PENAL. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS DA AUTORIA DELITIVA. ABSOLVIÇÃO. ARTIGO 386, VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. 1. Em face do princípio acusatório que deve reger o processo penal brasileiro, a iniciativa e consequente ônus probatório deve ficar prioritariamente nas mãos das partes e apenas supletivamente nas mãos do órgão jurisdicional. 2. O artigo 156, II, do Código Penal expressa que a determinação, por parte do magistrado, de diligências, antes de proferida a sentença, é permitida nos casos em que se pretende dirimir dúvida sobre ponto relevante, o que não se confunde com substituir a atividade do órgão acusatório, o qual, in casu, não requereu a produção de nenhuma prova que corroborasse a sua tese. 3. Se o Ministério Público Federal não se desincumbiu de provar a imputação penal consubstanciada na denúncia, ônus que lhe é atribuído pelo artigo 156, 1ª parte, do Código de Processo Penal, impõe-se absolvição do réu, forte no artigo 386, VII, do referido diploma legal. (TRF4, ACR 0000322-82.2008.404.7116, OITAVA TURMA, Relator VICTOR LUIZ DOS SANTOS LAUS, D.E. 23/05/2013)

Dessa forma, resta evidente que, ao agir de ofício, determinando a juntada das referidas denúncias – que, conforme se verá, sequer guardam relação com os autos –, Vossa Excelência, vênia concedida, afrontou o preceito constitucional do sistema acusatório. Ao assumir o papel de juiz-acusador, demonstra-se, mais uma vez, a perda da necessária imparcialidade para julgar os aqui Peticionários.

(7)

IV. DA AUSÊNCIA DE RELAÇÃO ENTRE A PRESENTE AÇÃO PENAL E AQUELAS QUE TRAMITAM PERANTE A 10ª VARA FEDERAL DE BRASÍLIA.

Primeiramente, é preciso recordar que a ação penal nº 0042543-76.2016.4.01.3400 foi distribuída à Justiça Federal do Distrito Federal após r. decisão proferida pelo Eminente Ministro Teori Zavascki declinando a competência do Excelso Supremo Tribunal Federal. Naquela oportunidade, a Suprema Corte fez consignar que essa demanda não tem conexão com os processos da Lava Jato que tramitam perante este Juízo.

Para maior clareza, confira-se o seguinte trecho da r. decisão proferida pelo Eminente Ministro Teori Zavascki:

(...)

Não bastasse, é preciso reafirmar que os temas tratados nas ações penais 0042543-76.2016.4.01.3400 e 0016093-96.2016.4.01.3400 são distintos daqueles

(8)

tratados na presente ação penal, não havendo fundamento jurídico que justifique seu acautelamento nos presentes autos.

Relativamente à primeira ação penal supramencionada, acrescente-se, ainda, esta já se encontra em fase mais avançada, tendo a Defesa apresentado Resposta à acusação, no bojo da qual foram desconstruídas todas as acusações feitas ao Primeiro Peticionário. Também, em audiências realizadas nos dias 08.11.2016 e 28.11.2016, as testemunhas ouvidas nada imputaram ao Primeiro Peticionário e foram de encontro ao teor da denúncia.

V. DOS PEDIDOS

Dessa forma, é a presente para requerer o desentranhamento das denúncias acostadas no evento 278, vez não guardarem qualquer ligação com o objeto destes autos.

Caso Vossa Excelência assim não entenda, o que se aventa pela condescendência dialética, requer-se seja expedido novo ofício ao juízo da 10ª Vara Criminal Federal do Distrito Federal para que sejam encaminhados para estes autos os vídeos e áudios relativos aos termos de depoimento já prestados pelas testemunhas arroladas — os quais ainda não estão disponíveis para acesso da defesa.

É o que fica postulado.

Termos em que, Pedem deferimento.

Curitiba (PR), 05 de dezembro de 2016.

ROBERTO TEIXEIRA OAB/SP 22.823

CRISTIANO ZANIN MARTINS OAB/SP 172.730

JOSÉ ROBERTO BATOCHIO OAB/SP 20.685

JUAREZ CIRINO DOS SANTOS OAB/PR 3.374

Referências

Documentos relacionados

Este fundo de investimento em cotas de fundos de investimento não realiza depósito de margem de garantia junto às centrais depositárias, mas pode investir em fundos de

Apenas 01 (uma) resposta é correta. Não marque mais de uma resposta para a mesma questão, nem deixe nenhuma delas sem resposta. Se isso acontecer, a questão será anulada. 04 -

Afirma ainda que a vida fora da sociedade é exceção, se enquadrando em três hipóteses: “excellentia naturae, quando se tratar de indivíduo notavelmente virtuoso,

Para evitar danos ao instrumento ou ao dispositivo em teste, desco- necte a alimentação do circuito e descarregue todos os capacitores de alta tensão antes da medida de

Material Inicial Valor Entrada Valor Vlr.Médio Saída Valor Saldo

Depois de ser pressionado por diversas manifestações organizadas pelo Sindicato dos Professores do ABC e docentes da Fundação Santo André, o prefeito Carlos Grana pro- curou

Para José Jorge Maggio, presiden- te do sindicato “os professores são agentes transformadores e sociais, por isso devem estar preparados e politizados levando para a sala de

Designar os servidores FERNANDO JACOMETTI SOARES, Assistente em Administração, matrícula SIAPE 1587705, HUGO SARAPO COSTA, Assistente em Administração,