Difusão do conhecimento pela Cultura Livre
André Amaral Ribeiro, Bábara Borges Fernandes, Davidson Gualberto Viana, Thaís Amorim de Araújo, Vitor Célio Soares
Resumo
O termo “cultura livre” surgiu com o ideal de liberdade de distribuir, modificar trabalhos e obras criativas. Para muitos, o bem cultural e científico é patrimônio da humanidade, sendo a idéia de copyrights algo inaceitável. Entretanto, leis que limitam o compartilhamento na internet, como a SOPA, PIPA e ACTA têm surgido. Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise crítica de opiniões contra e a favor da cultura livre e suas implicações na difusão do conhecimento, através de entrevistas públicas relacionadas e leituras atualizadas sobre o tema.
Palavras chave: Cultura livre. SOPA, PIPA e ACTA. Compartilhamento do conhecimento.
1 - Introdução
A ideia de cultura livre se baseia na liberdade de distribuir, modificar trabalhos e obras criativas. A cultura livre apóia e protege os criadores e inovadores, através da garantia de direitos sobre a propriedade intelectual. O termo “pirataria” trata-se de uma construção moderna para fazer referência, de forma genérica, à infração ao direito de propriedade intelectual, que pode ser dividida em dois grandes grupos: o direito autoral e a propriedade industrial. No primeiro campo estão as obras literárias, artísticas ou científicas, como livros, filmes, músicas (e softwares). No Brasil, é regulado pela lei federal nº 9.610, criada em 1998 e conhecida como a Lei de Direito Autoral (LDA). No segundo campo estão as obras uma finalidade prática específica. Nesse campo estão as invenções, as marcas, o desenho industrial e etc. Patente é forma pela qual protegemos as invenções.
Copyright ou direito de reprodução diz respeito ao objeto do direito (a obra) e a prerrogativa patrimonial de se poder copiar. Assim, protege-se a obra em si, ou seja, o produto, dando ênfase à vertente econômica, à exploração patrimonial das obras através do direito de reprodução. O titular dos direitos autorais poderá colocar à disposição do público a obra, na forma, local e pelo tempo que desejar, a título oneroso ou gratuito.
Segundo Lessig (2005), “Essa regulamentação se estende a todos, uma vez que todos são capazes de fazer cópias, e o ponto principal de uma lei de copyright é a cópia. (...) Ainda que possa parecer óbvio que, em um mundo anterior à Internet, as cópias fossem o estopim para a lei de copyright, após alguma reflexão deveria estar claro que, em um mundo com a Internet, as cópias não devem ser alvo da lei. Mais precisamente, elas não devem sempre ser o estopim para a lei de copyright. (...) A Internet deveria, ao
menos, nos forçar a repensar as condições em que as leis de copyright automaticamente se aplicam, porque é certo que o atual alcance desse direito jamais foi cogitado, e muito menos planejado por seus legisladores.”
Sendo assim, a sociedade moderna questiona sobre pirataria e propriedade, obrigando a revisão da legislação do direito autoral, impulsionada pelos interesses editoriais e fonográficos das grandes corporações, que são os mais atingidos.
Neste sentido, tem sido criados projetos de lei para combater a pirataria na Internet, como SOPA, sigla do inglês “Stop Online Piracy act”, cuja tradução é “Lei de combate a pirataria online”, criado em 26 de outubro de 2011, tem por objetivo principal: “promover a prosperidade, criatividade,
empreendedorismo e inovação, combatendo o roubo de propriedade dos Estados Unidos, e para outros fins”. (http://www.govtrack.us/congress/bills/112/hr3261)
Basicamente, este projeto propõe fechar qualquer site suspeito de hospedar materiais que violem os direitos autorais ou propriedade intelectual de seu autor original e estão sendo compartilhados sem o consentimento do mesmo. Além disso, ferramentas de busca seriam obrigadas a apagar dos seus resultados links para esses sites com conteúdo “pirata”. Sendo assim, é considerado de extrema rigidez, e dá ao governo dos EUA a liberdade de perseguir o proprietário de qualquer site que fosse suspeito de infringir o copyrigth ou mesmo permitir a propagação de conteúdo considerado ilegal, seja o site hospedado ou não nos EUA. Atualmente, este projeto encontra-se arquivado por tempo indeterminado devido à onda de protestos realizado por sites e usuários, que incluíram desde invasões hacker’s até suspensão de funcionamentos de alguns sites, como o Wikipédia.
Outro projeto com o mesmo intuito é o PIPA, sigla em inglês de “Project Intelectual Property
Act”, cuja tradução é “Lei para proteger a propriedade intelectual”, é similar ao SOPA, cuja diferença
principal é que o SOPA foi proposto na Câmara dos representantes nos EUA e o PIPA foi proposto pelo senado dos EUA. Assim como o SOPA, o PIPA encontra-se arquivado pelos mesmos motivos.
Há ainda a ACTA, sigla em inglês de “Anti-Counterfeiting Trade Agreement”, que pode ser traduzido como “Acordo comercial Anti-falsificação”, é um acordo internacional negociado desde 2007 por representantes de diversos países do mundo, entre eles EUA, Japão, e Comissão Européia. Assim como o SOPA e o PIPA, o ACTA tem por objetivo principal defender as propriedades intelectuais e direitos na internet, de maneira a combater a pirataria online entre os países do acordo, entretanto, aplicado a diversas áreas, a exemplo a proibição da venda de produtos falsificados com a determinação de um rígido esquema de penas para diversos setores. Atualmente, o acordo ainda corre sobre certo sigilo e está sendo discutido por diversos países da Europa e os EUA. O governo brasileiro, até então, não tem interesse em assinar o acordo.
2 - Cultura Livre: Diferentes opiniões 2.1 - Aspectos favoráveis à cultura livre
Opiniões eminentes dão amparo à cultura livre. Uma concepção de destaque é a de Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web (www), sobre às leis americanas SOPA e PIPA, as quais Lee as denomina de projetos antidemocráticos que desrespeitam os direitos humanos. Seguramente, todo e qualquer projeto que tem como objetivo de alguma maneira acabar com a liberdade de expressão e eliminar divulgações de opinião são criticáveis.
Ainda falando sobre as leis americanas, um ponto importante a se destacar é que as leis, por mais que estejam voltadas apenas para o EUA, possui abalo real sobre o mundo inteiro, já que hoje não existe mais o conceito de fronteira em uma era tão globalizada. Desse modo, decisões como essas têm impacto mundial e deveriam ser tomadas por todos os envolvidos.
Algumas empresas, ao defender leis que têm o conteúdo de SOPA e PIPA, argumentam que perdem anualmente bilhões com a pirataria. Porém, muitas vezes se esquecem da grande arrecadação causada pela cultura livre, já que a divulgação e propagação dos artistas e produtos muitas vezes está relacionada a desempedida troca de informações. O que tais empresas podem fazer é encontrar alternativas para lucrar através da cultura livre. Um exemplo é a ação de Steve Jobs. Ao criar o iTunes, ele proporcionou uma boa forma de explorar a internet e certamente rendeu-lhe lucros.
2.2 - Opiniões contrárias à cultura livre
Dentre os contrários à propagação e difusão da cultura livre e distribuição gratuita de conteúdo na Internet encontra-se principalmente as grandes gravadoras e produtoras, interessadas particularmente em lucrar com a venda de seus produtos. Estas empresas apoiam abertamente a criação de leis protetoras da propriedade intelectual, como a SOPA e a PIPA.
Contraditoriamente, estes mesmos grupos são responsáveis por parte do finaciamento de empresas como Google e Facebook, defensores declarados da liberdade na Internet. Estes últimos, por sua vez, financiam instituições que lutam pelo livre compartilhamento de conteúdo na Internet como o Creative Commons, que em 2008 recebeu US$ 1,5 milhão do Google. Portanto, indiretamente, os grupos defensores da liberdade na Internete estariam sendo financiados por aqueles contrários à propagação da cultura livre. Este argumento é apresentado pelo jornalista americano Robert Levine através do seu livro “Free Ride” (“Carona Grátis” em tradução livre), em que contesta a disseminação de todo conteúdo gratuitamente na Internet.
Para Levine, as empresas de entreterimento, como gravadoras e produtoras, são responsáveis pela produção e divulgação de seus produtos e por isso nada mais justo que as mesmas lucrem com seus investimentos, é a lógica do capitalismo.
Outro ponto a ser considerado é levantado por Jairon Lanier, também estudioso do assunto. Caso as empresas de entreterimento não lucrem com suas produções e o livre compartilhamento seja difundido, haverá outras empresas lucrando com esta livre distribuição de conteúdo. No caso, os sites de buscas e compartilhamento estariam lucrando com anúncios em cima da divulgação e promoção de conteúdo livre. Ou seja, o lucro apenas estaria sendo transferido de um grupo de empresas para outro.
Por fim, Levine faz um distinção entre os direitos autorais de músicas, filmes, livros e jornais para o direito sobre patentes. Para ele, não há um forte argumento que justifique a não existência dos direitos autorais para o conteúdo artístico. Por outro lado, é no mínimo questionável a quebra de patentes quando isto leva à produção, por exemplo, de remédios capazes de salvar a vida de milhares ou até mesmo milhões de pessoas.
3 - Conclusão
Com a popularização da Internet, o compartilhamento de informações tornou-se mais fácil e rápido. As grandes corporações da indústria cultural começaram então a pressionar o Estado para tornar mais rígidas as leis de proteção autoral. Desde então, acordos como ACTA, SOPA e PIPA têm sido negociados com o intuito de combater a pirataria online.
Para a maioria dos usuários da rede estes acordos são extremamente rígidos. Eles defendem que tais leis ferem o direito da liberdade de expressão e que o conhecimento é patrimônio da humanidade, devendo ser livremente compartilhado.
Os argumentos contrários a cultura livre baseiam-se em grande parte naqueles ligados a gravadoras e produtoras, interessadas em não perder seus lucros. No entanto, escritores americanos têm feito novos questionamentos. Segundo Lanier, se essas empresas diminuem seus lucros, outras lucrarão com o compartilhamento livre. E segundo Levine, os grupos defensores da liberdade da Internet são indiretamente financiados por aqueles contrários a propagação da cultura livre.
O fato é que a proposta de leis que limitam o compartilhamento de informações fez com que a sociedade entrasse na discussão. O SOPA e o PIPA encontram-se arquivados depois de alguns sites suspendeem o seu funcionamento, de invasões hacker’s e de protestos de sites e usuários.
4 - Referências bibliográficas
LESSIG, Lawrence. Cultura livre: Como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade. Trad. Rodolfo Cardoso. São Paulo: Trama, 2005.
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