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Experiência de estágio: grupo de autoajuda com mães em luto Internship experience: self-help group with mourning mothers Ana Paula Deon Acadêmica de

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Academic year: 2021

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Experiência de estágio: grupo de autoajuda com mães em luto Internship experience: self-help group with mourning mothers

Ana Paula Deon

Acadêmica de Psicologia- IMED/RS. Email: anapauladeon123@hotmail.com Yasmin Damiani

Acadêmica de Psicologia-IMED/RS. Email: yasmindamianisantos@gmail.com Muriane Zimmer

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Resumo

O luto pode ser caracterizado como um processo muito doloroso que ocorre quando há uma perda significativa. Após a perda, o processo de luto pode ocorrer em diferentes fases, podendo ocasionar intenso sofrimento, sendo vivenciado de forma particular para cada

sujeito. A morte de um filho pode ser caracterizada como uma dor de difícil elaboração, sendo indispensável o apoio familiar e social para que seja possível ressignificar o processo de luto. A partir de um breve relato de experiência de estágio, embasado em uma revisão de literatura, este artigo objetiva apresentar alguns aspectos observados no processo de

elaboração do luto materno pela perda de filhos adultos jovens e como tais aspectos influenciam nos eventos de vida das mães, bem como compreender o impacto do luto aos demais familiares, sendo vivenciado de maneira subjetiva por cada um. A experiência de estágio no grupo de mães em luto demonstrou a capacidade das mães de fortalecimento e ressignificação da dor a partir da vinculação em um grupo de autoajuda.

Palavras-chave: luto; grupo de autoajuda; luto materno. Abstract

Mourning can be characterized as a very painful process that occurs when there is a significant loss. After the loss, the process of mourning can occur in different phases, which can cause intense suffering, being experienced in a particular way for each subject. The death of a child can be characterized as a pain of difficult elaboration, being necessary the familiar and social support so that it is possible to resignify the process of mourning. Based on a brief report of internship experience, based on a literature review, this article aims to present some aspects observed in the process of elaborating maternal mourning for the loss of young adult children and how these aspects influence the life events of the mothers, As well as to

understand the impact of mourning on other relatives, being experienced in a subjective way by each one. The training experience in the group of mourning mothers demonstrated the capacity of mothers to strengthen and re-signify pain from attachment in a self-help group.

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Key words: mourning; self-help group; maternal mourning. Introdução

A morte está presente na vida das pessoas e faz parte do desenvolvimento humano. No entanto, a maioria dos seres humanos não acredita na finitude, em nossa própria morte, age-se como se ela não existisse, fazem-se planos para o futuro, numa tentativa de evitar pensar sobre a morte. Observa-se que, o medo é a principal resposta psicológica quando se trata de falar sobre morte, o medo de morrer atinge a todos e é composto por diversas situações (Kovács, 1992).

A morte de um filho é uma perda que altera e inverte a ordem natural da vida, na qual se espera que os pais morram antes dos filhos, dessa forma é considerada como uma morte que está fora do tempo. Os pais podem jamais se consolar após a morte de um filho. Pais que possuem uma vida produtiva e cheia de afeto, jamais deixam de chorar a morte do filho, apegar-se a dor é compreendido como um ato de fidelidade ao filho que morreu, enquanto, que ceder ao tempo é compreendido como um esquecimento (Viorst, 2008).

A morte do outro, é experienciada como a vivência da morte sem ter morrido de fato, é como se uma parte de nós morresse, uma parte que está ligada ao outro que morreu, pelos vínculos estabelecidos com essa pessoa. A morte compreendida como perda,

demonstra um vínculo que foi rompido, o outro ficará internalizado nas memórias e recordações, quando o luto for elaborado (Kovács, 1992).

O processo de luto deve ser analisado de forma individual, pois cada indivíduo irá vivenciá-lo de uma maneira diferente. A experiência da mãe enlutada deve ser respeitada, de modo que ela possa atuar diante da perda de um filho observando suas próprias

limitações e necessidades, independente das determinações e cobranças que a sociedade possa vir impor a ela (Freitas & Michel, 2014). A experiência de luto para uma mãe que perde um filho, jamais é superada, no entanto, ela pode ir modificando-se ao longo do tempo,

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à medida que a mãe busca meios para conseguir suportar a perda do filho. Estes meios podem estar vinculados a rituais, novos projetos e na ressignificação das experiências vividas, que são direcionadas no fortalecimento de vínculos familiares e sociais, uma vez que, o luto não ocorre de forma individual, mas sim, de forma relacional (Freitas & Michel, 2014).

A morte refere-se a muito mais do que a pessoa que morreu, refere-se também aqueles que ficam, que ela deixa para trás. Os sobreviventes possuem muitas tarefas para difíceis cumprir, a figura materna deve reconhecer a perda irreversível do filho e a dor que isso lhe provoca. Pela aceitação desta dor, pode ganhar forças para construir uma nova vida (Freitas, 2000).

O aconselhamento para pessoas em luto pode ser oferecido por pessoas

especialistas, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e é direcionado à família, podendo ser feito de maneira coletiva ou individual. O auxílio pode também ocorrer entre pessoas que já passaram pela mesma perda, pois sabem o que a outra pessoa está passando. O apoio social, além da religiosidade podem ser fatores muito importantes para auxiliar o enlutado (Parkes, 1998).

De acordo com Pascoal (2012) o trabalho em grupo para pacientes enlutados é uma modalidade viável que proporciona resultados positivos, uma vez que, o sofrimento que é trazido pela morte do outro, pode atuar como o início de uma maturidade emocional, desta forma, o trabalho psicológico pode auxiliar na construção desta nova realidade.

Ainda que as mães tenham sofrido perdas muito dolorosas, são capazes de enfrentá-las ao reconstruírem significados para este acontecimento que as obrigou a reexaminar sua identidade, visão de mundo e seus relacionamentos. Mesmo com muito sofrimento, o que cada mãe faz com sua dor, refere-se a sua resiliência. Como a resiliência revela-se em situações de crise, os indivíduos encontram recursos em si, que nem sabiam

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que possuíam, o que gera uma oportunidade de crescimento e de transformação (Franqueira et al., 2015).

Método

A intervenção com o grupo de autoajuda a mães enlutadas foi realizada com quatro mães que já participavam do grupo e eram suas fundadoras. A intervenção ocorreu

quinzenalmente, aos fundos da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida em Passo Fundo –RS. As atividades e intervenções foram supervisionadas, durante o Estágio Básico II. A proposta de agregar estagiários de Psicologia aos encontros do grupo surgiu da fundadora do grupo, sendo que, isto já vinha ocorrendo em anos anteriores. A partir disto, foram sendo construídas intervenções que pudessem ser realizadas em grupo, referentes à temática do luto pela perda de um filho adulto jovem. As atividades propostas partiram das demandas

observadas no grupo, sendo trabalhadas questões referentes ao acesso das emoções, a negação do luto por parte da sociedade, à passagem do tempo como um amenizador da dor, mas nunca como uma negação desta, pois a dor de perda do filho jamais será superada, e as formas de lidar com esta dor.

Relato de experiência

O grupo de mães em luto caracterizou-se por ser um espaço em que mães que perderam os filhos puderam realizar trocas de experiências, expor seus conflitos e

dificuldades, encontrando um ambiente de escuta e acolhimento. O grupo ocorreu de forma quinzenal, sendo em um formato aberto, e contando com a participação assídua de quatro mães. As estagiárias participaram do grupo durante um ano, contribuindo com atividades e auxílio psíquico. Por ser um grupo aberto, caracterizou-se por acolher e receber mães ou pessoas que estivessem em processo de luto pela perda de um filho.

Ao longo dos encontros, foram trazidas inúmeras vivências e experiências

relacionadas ao luto, e atividades cotidianas desenvolvidas pelas participantes. Ao relatarem a relevância do grupo em sua vida, as participantes referiram que o grupo foi muito importante

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para elas, pois uma podia auxiliar a outra, e todas que estão ali compreendem o que a outra mãe está passando, pois vivenciam a mesma dor, sendo ali um espaço de reflexão e trocas. Os grupos de ajuda recíproca atuam com a proposta de que um membro auxilie o outro,

empregando um sentido positivo às conquistas alcançadas pelos membros no enfrentamento das dificuldades, procurando superá-las. A partir do sofrimento compartilhado, utilizam-se da força da motivação grupal, como forma de ação terapêutica (Osório, 2003).

A média de idade dos anos da perda dos filhos varia entre 4 a 14 anos. As mães relataram que se sentiam muitas vezes coagidas pelos amigos e familiares a de certa forma, esquecer o acontecido. Referiam que eram cobradas, como se por ter passado tanto tempo, as mesmas não deveriam mais estar sofrendo. A dor que uma mãe sofre após a perda de um filho, deve ser frisada, uma vez que, em nosso contexto social, as mães são vistas como tendo de manter discrição na expressão de suas emoções. Esta é caracterizada como uma

experiência que jamais será superada, no entanto, tende a modificar-se ao longo do tempo, à medida que a mãe busca meios para conseguir suportar a perda do filho (Freitas & Michel, 2014).

Foram trabalhadas dinâmicas e atividades que reforçaram a oportunidade de continuar vivendo, partilhando a dor, e aprendendo a lidar com ela. Enfatizando que existem muitas coisas boas ainda para serem vivenciadas, reforçando experiências positivas que as mães possuíam em suas vidas. As novas experiências de vida podem estar vinculadas a rituais, novos projetos e na ressignificação das experiências vividas, que são direcionadas no fortalecimento de vínculos familiares e sociais, uma vez que, o luto não ocorre de forma individual, mas sim, de forma relacional (Freitas & Michel, 2014).

Uma das atividades realizadas ao longo dos encontros e que foi utilizado de forma contínua pelo grupo, foi o objeto da palavra. Usado como um meio para que a mãe que estivesse com ele, fosse ouvida com atenção e sem interrupções. As mães aceitaram muito

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bem a proposta e o objeto passou a ser utilizado em todas as reuniões, tendo recebido, como sugestão das mães, o nome de Renascer.

As participantes expressaram ao longo dos encontros sentimentos de culpa referentes a morte do filho, revelando que sentiam-se incompletas, que faltava uma parte de si. Foram de certa forma castigadas, se fossem boas mães, Deus não teria levado seu filho. A perda de uma pessoa com a qual possuímos vínculos afetivos é uma experiência dolorosa, que expõe o ser humano a sua própria impotência. O luto causa dor física e psíquica e possui suas

particularidades, no entanto, o luto pela morte de um filho é geralmente o mais intenso. A morte de um filho afeta a dinâmica familiar, despertando sentimentos de culpa principalmente na figura materna. A dor da perda, que gera a culpa, pode ser compreendida como a dor pela perda de aspectos do próprio ego. A perda do filho, desperta na mãe sentimentos de que se perdeu uma parte de si própria Para trabalhar com o luto, procura-se adaptar os indivíduos a realidade, procurando renovar os vínculos com o mundo externo, ressignificando a perda e buscando reconstruir o mundo interno (Freitas, 2000).

Ao longo dos encontros, as mães relataram sobre atividades em que estavam

engajadas, procurando dar um sentido a sua vida. Dedicavam-se a atividades relacionadas à culinária, artesanato e costura. Durante as atividades proporcionadas no grupo, foi enfatizado que todos são bons em algo, e que precisamos valorizar as potencialidades da vida. Mesmo após sofrerem uma perda tão dolorosa, as mães possuem a capacidade de enfrentá-la,

ressignificando este evento, que as impeliu a rever sua própria identidade, a visão que tem do mundo e de seus relacionamentos. Mesmo com muito sofrimento, a maneira como cada uma lida com sua dor, refere-se a sua resiliência. Como a resiliência revela-se em situações de crise, os indivíduos são capazes de encontrar recursos internos que nem sabiam que possuíam, o que gera uma oportunidade de transformação e crescimento (Franqueira, Magalhães, & Féres-Carneiro, 2015).

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A morte refere-se a muito mais do que a pessoa que morreu, refere-se também aqueles que ficam, que ela deixa para trás. Os sobreviventes possuem muitas tarefas difíceis para cumprir, a figura materna deve reconhecer a perda irreversível do filho e a dor que isso lhe provoca. Pela aceitação desta dor, pode ganhar forças para construir uma nova vida (Freitas, 2000).

Resultados e Discussão

As atividades relacionadas ao luto proporcionaram estar em contato com esta temática que é muito importante em nosso contexto social. A proximidade com o sofrimento auxiliou a utilizar de recursos como a empatia, compreendendo a subjetividade de cada mãe, que convive a cada dia com sua dor. A partir desta atividade, foi possível observar os fins terapêuticos que um grupo de autoajuda pode desempenhar, onde os membros do grupo se auxiliam mutuamente compartilhando suas experiências e vivências que são semelhantes.

Esta proposta de intervenção possibilitou que houvesse um espaço para que as mães em luto pudessem reconhecer seus sentimentos de perda, de culpa e assim nomeá-los. O grupo pôde atuar como um continente das angústias e dificuldades, amparando-se mutuamente através da escuta e da empatia.

Considerações finais

A partir da experiência de estágio com o grupo de mães em luto, foi possível observar que recursos iam sendo utilizados ao longo dos encontros para que estas mães pudessem ir aos poucos ressignificando sua perda e encontrando maneiras de continuar vivendo.

Observou-se com esta intervenção, benefícios que ocorrem no espaço grupal, onde a empatia ocorre de forma mais profunda e circula entre todas as participantes, que se apoiam através de palavras, histórias e gestos de solidariedade.

Foi possível através da intervenção, perceber que as mães necessitavam de um local em que pudessem ser ouvidas sem julgamentos, onde fosse possível expressar seus

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sentimentos sem medo, e encontraram este local no grupo de autoajuda, pois, as participantes compartilhavam da mesma dor. Tais fatores foram indispensáveis para auxiliá-las a suportar o luto, o que contribuiu para a reorganização da vida e para a continuidade das atividades do dia a dia.

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Referências

Franqueira, A.M.R., Magalhães, A.S., & Féres-Carneiro, T. (2015). O luto pelo filho adulto sob a ótica das mães. Estudos de Psicologia, 32(3), 487-497.doi:

10.1590/0103166X2015000300013

Freitas, J.L de, & Michel, L. H. F. (2014). A maior dor do mundo: o luto materno em uma perspectiva fenomenológica. Psicologia em Estudo,19(2), 273-283.doi: 10.1590/1413-737222324010

Freitas, N.K. (2000). Luto Materno e Psicoterapia Breve. São Paulo: Summus.

Kovács, M. J. (1992). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo. Osorio, L.C. (2003). Psicologia grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto

Alegre, RS: Artmed.

Pascoal, M. (2012). Trabalho em grupo com enlutados. Psicologia em Estudo, 17 (4), 725- 729.

Parkes, C.M. (1998). Estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus. Viorst, J. (2008). Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos.

Referências

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