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INCLUSÃO DIGITAL: O AVANÇO TECNOLÓGICO À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS

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Academic year: 2021

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O AVANÇO TECNOLÓGICO À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS

Josefina Elvira Trindade Ramos Rios1

RESUMO

Este artigo é o resultado de um esforço para contextualizar em linhas gerais a sociedade do conhecimento e sua relação com inclusão digital e direitos humanos. Sabe-se que nos últimos anos, o avanço das novas tecnologias da informação e comunicação tem exercido um papel transformador na sociedade pós-moderna, permitindo o rompimento de barreiras geográficas e a livre circulação de informação e conhecimento. O atual cenário é promissor, mas apresenta obstáculos, pois ainda está muito distante de abranger toda a população. O problema da exclusão digital é visto como dos maiores desafios desse século, com implicações diretas e indiretas sobre os mais variados aspectos de nossa sociedade contemporânea. A desigualdade registrada entre pobres e ricos entra agora na era digital e ameaça se expandir com a mesma rapidez da informática. Nessa perspectiva e visando proporcionar uma compreensão sobre a questão da inclusão digital, realiza-se uma breve revisão bibliográfica abordando assuntos sobre a evolução da sociedade, Internet, exclusão e inclusão digital, isto é, iniciativas associadas aos avanços tecnológicos à luz dos direitos humanos e da democratização da sociedade.

Palavras-chave: Informação. Sociedade do conhecimento. Inclusão digital.

Direitos humanos. Internet. Exclusão digital. Cidadania.

1

Bacharelanda em Direito – 6º semestre (F2J); Pós-graduada em Gestão Estratégica Pública (UNICAMP); Pós-graduada em Administração de Serviços (UFBA); Graduada em Serviço Social (UCSAL); Graduada em Administração (Escola Bahiana de Administração).

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1. INTRODUÇÃO

Tratar sobre os aspectos que envolvem a sociedade do conhecimento e sua relação com direitos humanos e inclusão digital, de imediato, identifica-se a necessidade levantar alguns marcos da evolução da sociedade e que leva-nos a entender uma sucessão de profundas mudanças e transformações sociais.

Tomando como início a Sociedade Agrícola, para Alvin Toffler (1980, p.27), o aparecimento da agricultura constitui o primeiro ponto decisivo do desenvolvimento social humano, caracterizando essa fase pelo cultivo sistemático da terra, capaz de fixar o homem em seu ambiente e de produzir seus alimentos. Essa sociedade, ainda não havia se exaurido pelo fim do Século XVIII, quando a Revolução Industrial se desencadeou na Europa provocando uma ruptura nos interesses agrícolas, caracterizada pela evolução tecnológica aplicada à produção e a consequente revolução no processo de produção e nas relações sociais.

Com os efeitos desse processo, surge a era da pós-industrialização quando a economia assume tendências globais e a informação passou a ser considerada como um capital precioso, desempenhando um papel crescente na vida econômica, social, cultural e política. É o surgimento de uma nova sociedade: Informacional ou da Informação que, acentuada com o dinamismo da informação e transitando em velocidades e quantidades crescentes em redes de comunicações globais, dá lugar para a sociedade em que vivemos, caracterizada como Sociedade do Conhecimento.

2. SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E SUA RELAÇÃO COM INCLUSÃO DIGITAL E DIREITOS HUMANOS

Cabe salientar que, inseridos nessa Sociedade do Conhecimento nos deparamos com o tema e ações voltadas para Inclusão Digital, assunto de ampla dimensão e universal, reconhecido pelos governos, iniciativas privadas, organizações do terceiro setor e, de forma imprescindível, pelo pensamento acadêmico, face às exigências que permeiam a sociedade do conhecimento, de modo que, a população para estar capacitada a sobreviver na contemporaneidade, deve desenvolver as habilidades de obter, fazer uso e

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gerenciar a informação alinhando-a aos recursos estratégicos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

Paralelamente e diante do contexto contemporâneo, o desafio é assegurar Direitos Humanos e de imediato, identificamos o Art. 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), que traz em seu conteúdo elementos importantes para os assuntos abordados, senão vejamos:

Artigo 19 – Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentes de fronteiras.

Assim, entendemos que há demanda social sobre iniciativas dos governos que vão, além de assegurar a transformação dos processos de governo e da entrega de serviços, ou uma nova interação com a sociedade, ou mesmo com a geração de progresso material. Trata-se de construir capital humano e social, transformando a ameaça de exclusão decorrente da revolução digital em oportunidade real de alfabetização digital e inclusão social, com isso alterando o atual quadro de exclusão, desigualdade e pobreza.

Diante dessas questões, não se pode ignorar o embasamento jurídico que sustenta os argumentos que possibilitem a plena conscientização do processo de erradicação da exclusão digital como política de Estado. Do ponto de vista legal, somado ao Art. 19 da Declaração de 1948, explicitamos o Art. 27, por sua vez, traz mais um importante direito do homem, a saber: “Todo o homem tem direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de fruir de seus benefícios”.

É relevante ressaltar que a Constituição da República Federativa do Brasil em 1988, considerada a constituição cidadã, contempla uma série de dispositivos advindos da Declaração de 1948, como se pode ver, no âmbito das garantias fundamentais, o consagrado Art. 5º, IX, que fundamenta a garantia ao acesso de informação, além da livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação independentemente de censura ou licença. Também, em seu Art. 219 é firme em estabelecer a relação à Ciência e Tecnologia que “mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o

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desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal”. Diante disso, podemos observar que a inclusão digital está plenamente prevista no ordenamento jurídico brasileiro, devendo o Estado promover todas as políticas que incentivem a sua expansão.

O novo paradigma gerado pela sociedade do conhecimento, a universalização dos serviços de informação e comunicação, é condição fundamental, ainda que não exclusiva, para se construir uma sociedade do conhecimento para todos. Segundo Sérgio Amadeu da Silveira (2001, p.30-31), “na sociedade da informação, a defesa da inclusão digital é fundamental não somente por motivos econômicos ou de empregabilidade, mas por razões político-sociais, principalmente para assegurar o direito inalienável à comunicação”.

Entender o acesso à Internet, também, como um direito de compartilhar as redes de comunicação e informação, é fundamental para assegurar seu uso cultural, social e cidadão. Entretanto, não podemos deixar de mencionar que o uso da Internet traz conseqüências na desigualdade social e econômica entre pessoas e nações, formando a classe dos excluídos socialmente, ou infoexcluídos. Eduardo Diniz (2002, p.6) explica esse fenômeno introduzindo o seguinte conceito:

Exclusão Digital é a impossibilidade de utilização dos serviços oferecidos através de canais eletrônicos resultante da dificuldade, por motivos sociais ou econômicos, de acesso às tecnologias básicas que permitam a conexão com o universo digital.

A exclusão digital tira de milhões de brasileiros a oportunidade de romper fronteiras e sonhar com o futuro, bem como, ofusca a democracia, a economia, o desenvolvimento e o bem-estar público traduzindo-se em questões de natureza global, tais como a indústria das drogas e a crescente violência. Estudos recentes mostram que 67% dos 188 milhões de brasileiros nunca se conectaram à Internet

e 54% nunca usaram um computador2.Segundo Marcelo Côrtes Neri (2003, p.6),

a “Inclusão Digital representa um canal privilegiado para equalização de oportunidades da desigualdade social, em plena era do conhecimento”. A

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Inclusão Digital é cada vez mais parceira da cidadania e da inclusão social, do apertar do voto eletrônico das urnas eletrônicas aos cartões eletrônicos, passando sempre pelo contato inicial ao computador como passaporte para a inserção no mercado de trabalho.

Para Tadao Takahashi (2000, p.33-34), “em relação à informação para a cidadania, tem sido importante a criação de conteúdos que facilitem a vida do cidadão”. Entre todos os agentes econômicos, o setor público, as concessionárias e as prestadoras de serviços de utilidade pública – nas áreas de seguridade social, saúde e educação, por exemplo, têm o maior potencial de serem as maiores fontes desse tipo de conteúdos.

No que tange ao acesso público à Internet, surge como proposta, segundo Sérgio Amadeu da Silveira (2001, p.33), a constituição de escolas comunitárias de informática e cidadania, salas do cidadão, dentre outros. Em especial, as Escolas Comunitárias de Informática, segundo Carlos Eduardo Cardoso de Oliveira (2003, p.9), geralmente, congregam a sociedade civil organizada, algumas delas, “as mais avançadas recebem apoio de empresas privadas voltadas para alta tecnologia, dos setores de informática, telecomunicações e outros, bem como do próprio governo”.

Dentro das propostas de inclusão digital, Tadao Takahashi (2000, p.38) afirma que várias “Organizações Não Governamentais - ONGs têm se dedicado a esforços de disseminação de informática e Internet entre instituições do Terceiro Setor, e especialmente entre a população mais carente”. Dentre elas, podemos citar o Comitê para Democratização da Informática – CDI cuja missão é transformar vidas e fortalecer comunidades de baixa renda através do uso das tecnologias da informação e comunicação, isto é combater a pobreza e a desigualdade, estimular o empreendedorismo e criar novas gerações de empreendedores sociais3.

Quanto às Salas do Cidadão, são espaços comunitários em que são disponibilizados os equipamentos de informática com acesso à Internet, cursos de informática básica, permitindo ao cidadão acesso às informações e serviços

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públicos digitais pertinentes às propostas do Governo Eletrônico, visando a inclusão digital.

Mas, o que define mesmo a qualidade de um plano, de uma proposta de inclusão digital não é o espaço físico, nem o número de máquinas ou o tipo dos softwares utilizados, mas sim sua capacidade de articular as comunidades com o universo de informações e oportunidades oferecido pelas novas tecnologias. É, portanto, necessário ir além buscando adotar uma pedagogia que incentive a aprendizagem personalizada a partir do interesse de cada comunidade, de cada um, que promova a educação para a cidadania e ao mesmo tempo viabilize a aprendizagem coletiva, a aprendizagem em rede e pela rede, fortalecendo as propostas da alfabetização digital ou tecnológica. É preciso formar o cidadão o que significa capacitar as pessoas para a tomada de decisão e para a escolha informada acerca de todos os aspectos na vida em sociedade de que os afeta, o que exige acesso à informação e ao conhecimento e capacidade de processá-los sem se deixar levar cegamente pelo poder econômico ou político.

Por fim, cabe ressaltar que para Schawartz, citado por Ana Maria Oliveira et al (2001, p.33), a exclusão digital não é ficar sem computador, sem Internet ou telefone celular. “É continuarmos incapazes de pensar, de criar e de organizar novas formas mais justas e dinâmicas, de produção e distribuição de riqueza simbólica e material”.

3. CONCLUSÃO

Longe de esgotar o tema, mas diante do exposto, compreendemos que na sociedade do conhecimento qualquer política de inclusão digital não é nada mais do que a garantia plena de uma conquista há muito tempo consolidada universalmente. Em verdade, todas as garantias alicerçadas pela Constituição Federal de 1988 e influenciadas pelo texto da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, só podem ser plenamente alcançadas dentro de um contexto de mundialização e convergência digital, a partir da compreensão de que os avanços tecnológicos devem ser compartilhados entre todos, sob pena dos direitos mais personalíssimos do ser humano restar cada vez mais distantes e além de incrementar o índice de exclusão digital.

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4. REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

DINIZ, Eduardo. Governo Digital na América Latina. Relatório Final de Pesquisa, 2002. Download feito a partir do site http://www.conip.com.br.

COMITÊ PARA DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMÁTICA. Disponível em <http://www.cdi.org.br>. Acesso em: 8 out. 2011

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas, 1948. Disponível em <http://www.planalto.gov.br>.Acesso em 6 out 2011.

NERI, Marcelo Côrtes. Mapa da Exclusão Digital. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas/Centro de Políticas Sociais, 2003. Download feito a partir do site <http://www.cdi.org.br>. Acesso em: 7 out 2011.

OLIVEIRA, Ana Maria et al. As relações públicas no Terceiro Setor -

Organização Não Governamental. Curitiba-Paraná. Escola de Comunicação

Social – Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Trabalho direcionado à disciplina Projeto Experimental, 2001.

OLIVEIRA, Carlos Eduardo Cardoso de. Inclusão Digital: reflexões sobre práticas de acesso às tecnologias da informação no Brasil. Salvador: [s.n.], 2003, p.9.

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão Digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001.

TAKAHASHI, Tadao (org). Sociedade da Informação no Brasil: Livro Verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.

TOFFLER, Alvin. A Terceira Onda. 7. ed. Tradução: João Távora. Rio de Janeiro: Record, 1980.

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