• Nenhum resultado encontrado

A dinâmica familiar na visão de pais e filhos envolvidos na violência doméstica contra crianças e adolescentes.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A dinâmica familiar na visão de pais e filhos envolvidos na violência doméstica contra crianças e adolescentes."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

1 Enferm eira, Dout oranda, e- m ail: cam illa@eerp.usp.br; 2 Orient ador, Professor Tit ular. e- m ail: caroline@eerp.usp.br; 3 Professor Dout or; e- m ail: m aiossi@eerp.usp.br; 4 Graduanda do curso Bacharelado em Enferm agem , Bolsist a de I niciação Cient ífica do CNPq, e- m ail: nideusp@yahoo.com .br; 5 Bacharel em Direito, Assistente Social do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Brasil, Doutoranda, e- m ail: caroline@eerp.usp.br. Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvim ento da Pesquisa em Enferm agem , Brasil

A DI NÂMI CA FAMI LI AR NA VI SÃO DE PAI S E FI LHOS ENVOLVI DOS NA VI OLÊNCI A

DOMÉSTI CA CONTRA CRI ANÇAS E ADOLESCENTES

Cam illa Soccio Mar t ins1 Mar ia das Gr aças Car v alho Fer r iani2 Mar t a Angélica I ossi Silv a3 Nide Regina Zahr4 Kát ia Michelli Ber t oldi Ar one4 Eliana Mendes de Souza Teix eir a Roque5

Nest a invest igação buscou- se com preender a dinâm ica fam iliar para pais e filhos envolvidos na violência dom ést ica cont ra crianças e adolescent es inst it ucionalizados no Cent ro de At endim ent o à Criança e ao Adolescent e Vitim izado (CACAV), na cidade de Ribeirão Preto, SP. O estudo é qualitativo, utilizando-se de entrevistas sem i-estruturadas aplicadas a seis fam ílias, entre pais e filhos envolvidos na violência dom éstica. Tratou-se os dados através da análise de conteúdo. Utilizou-se, com o referencial teórico, a ecologia do desenvolvim ento hum ano. A violência dom éstica esteve presente nos discursos, em bora seja com preendida com o prática usual para essas fam ílias. I dentificou-se que a ótica dos pais favorece a negação da violência perpetrada. Já as crianças apontam que vínculos de am or e afeição são m ais significat ivos para seu desenvolvim ent o do que os vínculos fam iliares est abelecidos por m eio de consangüinidade. Acredita-se que, a partir do conhecim ento de com o a violência é experienciada, pode-se trazer possíveis contribuições para se pensar estratégias de intervenção capazes de rom per o ciclo perverso das relações fam iliares violentas.

DESCRI TORES: v iolência dom ést ica; fam ília; cr iança; adolescent e

FAMI LY DYNAMI CS FROM THE PERSPECTI VE OF PARENTS AND CHI LDREN I NVOLVED I N

DOMESTI C VI OLENCE AGAI NST CHI LDREN AND ADOLESCENTS

We sought, in this investigation, to understand the fam ily dynam ics in the view of parents and children involved in Dom estic Violence against children and adolescents institutionalized in the Center of Assistance to the Victim ized Child and Adolescent (CACAV), in Ribeirão Preto-SP, Brazil. This is a qualitative study with sem i-structured interviews applied t o parent s and children from six fam ilies involved in dom est ic violence. The dat a were analyzed t hrough cont ent analysis. Ecology of hum an developm ent was used as theoretical reference. Dom estic violence was reported, though it is understood as com m on practice for the fam ilies. We identified that the parents’ view favors the denial of the violence perpetrated. The children, on the other hand, point that love ties and affection are m ore significant for their developm ent t han blood relat ions. We believe t hat t he knowledge acquired as how violence is experienced, can cont ribut e wit h intervention strategies capable of breaking the perverse cycle of violent fam ily relationships.

DESCRI PTORS: dom est ic v iolence; fam ily ; child; adolescent

LA DI NÁMI CA FAMI LI AR EN LA VI SI ÓN DE LOS PADRES Y NI ÑOS I NVOLUCRADOS EN

VI OLENCI A DOMÉSTI CA CONTRA NI ÑOS Y ADOLESCENTES

En est a inv est igación, buscam os com pr ender la dinám ica fam iliar par a padr es y hij os inv olucr ados en Violencia Dom éstica contra niños y adolescentes institucionalizados en el Centro de Atención al Niño y al Adolescente Víct im a ( CACAV) , en Ribeirão Pret o- SP, Brasil. El est udio es cualit at ivo, ut ilizándose ent revist as sem iest ruct uradas aplicadas a seis fam ilias, entre padres y hij os involucrados en violencia dom éstica. Tratam os los datos a través del análisis de cont enido. Ut ilizam os com o referencial t eórico la ecología del desarrollo hum ano. La violencia dom ést ica estuvo presente en los discursos, aunque sea com prendida com o práctica usual para esas fam ilias. I dentificam os que la ópt ica de los padres favorece la negación de la violencia perpet rada. Los niños apunt an que vínculos de am or y afección son m ás significativos para su desarrollo que los vínculos fam iliares establecidos m ediante consanguinidad. Creem os que, a part ir del conocim ient o de com o la violencia es vivida, podem os t raer posibles cont ribuciones para pensar est rat egias de int ervención capaces de rom per el ciclo perverso de las relaciones fam iliares violent as.

(2)

I NTRODUÇÃO

O

en f r en t am en t o d a v iolên cia n a f am ília const it ui t ar efa com plex a na sociedade at ual, com su a s ca r a ct er íst i ca s e d i m en sõ es p ecu l i a r es em r e l a çã o a v á r i o s a sp e ct o s so ci a i s, m o r a i s, geopolít icos, hist ór icos, econôm icos e psicológicos. Razão pela qual se t or na per t inent e apr ofundar os est udos acerca desse fenôm eno, um a vez que suas con seq ü ên cias são d esast r osas e r ep er cu t em em t odos os segm ent os da sociedade, inclusive no que diz respeit o ao agravo à saúde.

A fam ília t em sido foco de pr eocu pação e cuidado para a área de enferm agem , pois seu papel é de ext rem a relevância nas est rat égias prevent ivas na área da saúde, no planej am ent o e na assist ência à criança e ao adolescente. De certa form a, o cuidado cent rado na fam ília envolve t odos os seus m em bros e u m a im p or t ân cia esp ecial é d ad a n as r elações est abelecidas en t r e eles, en t en dida com o u m dos det er m inant es do pr ocesso saúde- doença.

O f a t o d e a v i o l ê n ci a o co r r e r n o m e i o dom ést ico pode levar à desest rut uração fam iliar, cuj a m an u t en ção é r ef er ên cia par a o desen v olv im en t o af et iv o, p sicológ ico e social. Pod e- se d izer q u e a v iolên cia dom ést ica r om pe o v ín cu lo de con f ian ça básica par a o desenv olv im ent o da v ida em fam ília, en t r an do n a sear a das r elações f am iliar es e seu s significados.

A v i o l ê n ci a d o m é st i ca é g e r a l m e n t e car act er izad a p or ab u so d o p od er d iscip lin ad or e coercit ivo dos pais, ou responsável, em que a vít im a é co m p l e t a m e n t e o b j e t i f i ca d a , e se u s d i r e i t o s fundam entais com o a vida, a liberdade e a segurança são desrespeitados( 1). Essa violência traz em si noções

culturais e socialm ente construídas, tais com o a noção de prot eção à infância, de cast igo com o inst rum ent o pedagógico, hier ar quia fam iliar e de dom inação do m ais fort e( 2).

Em bora esse tipo de violência sej a fenôm eno de difícil ent endim ent o pelas cont rovérsias que gera, pode- se classificá- lo em suas for m as e expr essões. São qu at r o pr in cipais t ipos de v iolên cia: v iolên cia f ísica, v iolên cia sex u al, v iolên cia p sicológ ica e a n e g l i g ê n ci a / a b a n d o n o . To d a s e ssa s f o r m a s sã o definidas com o pr át icas abusiv as, t r ansgr edindo os direit os de crianças e adolescent es( 3).

As eq u ip es d e saú d e, assim com o ou t r as especialidades, vivenciam cot idianam ent e os efeit os d a v i o l ê n ci a d o m é st i ca e su a s co n se q ü ê n ci a s,

i n t e r f e r i n d o n o cr e sci m e n t o e d e se n v o l v i m e n t o int egral de crianças e adolescent es. Port ant o, é com a perspect iva de produzir conhecim ent o, a part ir do senso com um , para sistem atizá- lo em um perspectiva so ci o l ó g i ca e p si co sso ci o l ó g i ca , v i su a l i za n d o o significado da dinâm ica fam iliar para pais, filhos e/ ou r esp on sáv eis, v ít im as d a v iolên cia d om ést ica, f oi r ealizada est a pesquisa, para possibilit ar, t am bém , ao profissional repensar suas prát icas e facilit ar seu t rabalho no enfrent am ent o desse fenôm eno.

OBJETI VO

Com pr eender a dinâm ica fam iliar par a pais e filhos envolvidos no episódio da violência dom éstica cont ra crianças e adolescent es inst it ucionalizados no Cent r o de At endim ent o à Cr iança e ao Adolescent e Vit im izado ( CACAV) , na cidade de Ribeirão Pret o, SP.

REFERENCI AL TEÓRI CO

Par a en t en d er m el h o r com o a f am íl i a se configura diant e da violência dom ést ica de m aneira am pla e sistêm ica, esta análise foi em basada em um r ecor t e d o m od elo ecológ ico d o d esen v olv im en t o hum ano( 4).

O estudo das relações sociais violentas dentro da fam ília requer est rut ura t eórica capaz de explicar as v ar iáv eis cau sais n o seu con t ex t o m ais am plo. Ne sse se n t i d o, a Te o r i a d e Br o n f e n b r e n n e r d o s Si st e m a s Eco l ó g i co s( 4 ) t r a z su b síd i o s p a r a

co m p r e e n d e r a f a m íl i a e m se u co n t e x t o d e desenvolvim ent o e as com plexas relações ent re seus m em b r os.

O t e r m o “ e co l ó g i co ” é e m p r e g a d o p a r a designar um am bient e nat ural, obj et os e at ividades d a v id a cot id ian a n o con t ex t o d a p esq u isa. Já o d e se n v o l v i m e n t o h u m a n o é e n t e n d i d o co m o t ransform ação duradoura na m aneira pela qual um a pessoa percebe e lida com o seu am bient e, sendo o se r h u m a n o co n si d e r a d o u m a e n t i d a d e e m cr e sci m e n t o e d i n â m i ca , q u e p r o g r e ssi v a m e n t e penet ra no m eio em que reside e o reest rut ura.

(3)

O m icrossist em a é o prim eiro am bient e que o ser h u m an o em d esen v olv im en t o se in ser e, d e acor d o com os p ad r ões societ ais. Esse am b ien t e p o ssu i a t i v i d a d e s e r e l a ci o n a m e n t o s q u e sã o a sso ci a d o s a d e t e r m i n a d o s co m p o r t a m e n t o s e expect at ivas com o, por exem plo, a r elação da m ãe com a criança. Fat os ocorridos em um m icrossist em a e st ã o r e l a ci o n a d o s e se e n t r e l a ça m co m o q u e acont ece em out ros m icrossist em as.

Com o um sist em a de encaixes cont idos uns nos outros, o m icrossistem a está inserido em sistem as m a i s a m p l o s q u e o i n f l u e n ci a m e é p o r e l e s influenciado. Os dem ais sist em as são denom inados: m esossist em a, ex ossist em a e m acr ossist em a.

O m esossist em a const it ui- se na int eração de dois ou m ais am bient es em que a pessoa par t icipa at ivam ent e. Ent ão, um m esossist em a é um sist em a de m icr ossist em as.

Já o exossist em a com preende os am bient es nos quais apenas um ou m ais m em br os da fam ília m ant êm relações diret as. No ent ant o, essas relações se reflet em indiret am ent e nos out ros m em bros que não part icipam desse am bient e( 4).

O m acrossist em a é o sist em a m ais am plo e abrange todos os outros. Ele é form ado por um padrão global de ideologias, crenças, valores e organização social com um a um a det erm inada cult ura.

As polít icas sociais de com bat e à violência e de prom oção de educação e saúde são exem plos de m a cr o ssi st e m a s q u e i n f l u e n ci a m d i r e t a m e n t e o d esen v olv im en t o d o sist em a f am iliar. A v iolên cia d o m é st i ca se i n se r e n o m i cr o ssi st e m a , p o i s se m anifest a nas relações pais- filhos, cont udo, pode t er essen ci al m en t e su as cau sas e con seq ü ên ci as n o si st e m a su b se q ü e n t e o u a t é m e sm o n o m acr ossist em a.

De acor do com o ex post o acim a, j ulgou- se d e f u n d a m e n t a l i m p o r t â n ci a , n e st a p e sq u i sa , a co m p r een sã o , p el o p o n t o d e v i st a d a cr i a n ça e adolescent e e não só apenas dos pais, de com o o am bient e fam iliar é experienciado nos diversos níveis de desenv olv im ent o ecológico.

MÉTODOS

Op t ou - se p ela ab or d ag em q u alit at iv a q u e abarca a totalidade dos seres hum anos, concentrando-se na ex per iência hum ana. O pesquisador que usa essa abordagem acredit a que seres hum anos únicos

at ribuem significados a suas experiências e que elas derivam do cont ext o de vida( 5).

O recorte desta pesquisa se dá no Centro de At en dim en t o à Cr ian ça e Adolescen t e Vit im izados ( CACAV) na cidade de Ribeirão Pret o, SP, um abrigo para crianças e adolescentes de 2 a 17 anos, vítim as de v iolência dom ést ica em r isco gr av e. De acor do com o referencial t eórico, o abrigo é considerado o m i cr o ssi st e m a i m e d i a t o d e ssa s cr i a n ça s e a d o l e sce n t e s v i t i m i za d o s. Acr e d i t a - se q u e o m i cr o ssi st e m a d e l i n e i a , a p a r t i r d e a sp e ct o s relacionais e com portam entais, a com preensão acerca da fam ília para esses at ores sociais.

Os su j e i t o s e n v o l v i d o s n o e st u d o f o r a m m em bros das fam ílias que possuem criança( s) e/ ou adolescente( s) institucionalizado( s) no CACAV, no ano 2 0 0 4 , p o r est a r em en v o l v i d o s n o s ep i só d i o s d e violência dom ést ica, t ot alizando oit o fam ílias. Todos esses atores sociais são de im portância central para a presente pesquisa, pois cada um representa um a faceta da problem ática da violência dom éstica aqui estudada. Elegeu - se com o in st r u m en t o de colet a de dados a ent revist a sem i- est rut urada e ident ificou- se as ent r ev ist as dos pais/ r esponsáv eis e ir m ãos das cr ian ças e ad olescen t es ab r ig ad os com a let r a F, represent ando a fam ília. Por sua vez, as ent revist as d a s cr i a n ça s e a d o l e sce n t e s a b r i g a d o s se r ã o ident ificadas com a let ra A.

Ut ilizou- se, para o t rat am ent o dos dados, a t é cn i ca d e a n á l i se d e co n t e ú d o , m o d a l i d a d e t em át i ca( 6 ). Essa t écn i ca co n si st e em cl assi f i car

elem ent os que com põem a ent r ev ist a const it uindo-se em n ú cleos t em át icos sob u m t ít u lo g en ér ico, agrupando os assunt os em com um .

Esclarece- se, aqui, que est a pesquisa obt eve aprovação do Com itê de Ética em pesquisa da Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto - USP, Protocolo nº 0120/ 2000, conform e a resolução 196, de 1996, do Con selh o Nacion al d e Saú d e. Só f or am u t ilizad as neste estudo as entrevistas devidam ente autorizadas.

RESULTADOS

Núcleo t em át ico - o cont ext o fam iliar

(4)

Subt em a 1 - fam ília ideal

Ne st e su b t e m a p r o cu r o u - se a g r u p a r d ef in ições d e f am ília, d e u m a p er sp ect iv a id eal, ident ificados nos discur sos dos suj eit os env olv idos no est udo.

Quant o à configuração fam iliar, a visão dos pais agressores traduz- se na fam ília nuclear, ou sej a, a i d eal i zação d e u m a f am íl i a v i n cu l ad a aos p ai s biológicos e laços consangüíneos. Destaca- se tam bém a exist ência de um a relação hierárquica deles sobre os filhos. Em um est udo com fam ílias brasileiras de baix a r enda const at ou- se que o m odelo idealizado de fam ília é aquele baseado no parentesco, na fam ília nuclear burguesa onde predom ina a estrutura do pai, m ãe e filhos. Som ente esse m odelo é capaz de prover as condições necessárias para o desenvolvim ent o de u m a cr i an ça( 7 ). O r el at o ab ai x o d em o n st r a essa

idealização.

Um con j u n t o d e p essoas q u e t em alg u m v ín cu lo

sangüíneo( F5) .

Algu m as pesqu isas n o Br asil sobr e fam ília m o st r a m a d i v e r si d a d e n a su a o r g a n i za çã o , com posição e f or m a de sociabilidade. At u alm en t e ex ist em est r ut ur as fam iliar es difer ent es coex ist indo em nossa sociedade, e pode- se encont r ar cônj uges com filhos de casam ent os ant er ior es, j ov ens m ães solt eir as e pais separ ados div idindo as despesas e cuidados com os filhos( 8). Em bor a t enham ocor r ido

t od as essas m u d an ças n a com p osição d a f am ília afetando substancialm ente a vida dom éstica, incidindo sobr e as r elações est r ut ur ais e definindo o m odelo fam iliar, os pais agressores m ant êm a visão nuclear de fam ília, ou sej a, aquela com post a por pai, m ãe e f ilh os. En t en de- se qu e essa con cepção de f am ília ainda perm anece social e cult uralm ent e est abelecida em nossa sociedade.

A m a i o r i a d a s cr i a n ça s e a d o l e sce n t e s entrevistadas, por seu lado, considera com o m em bros d e su a f am íl i a aq u el es p el as q u ai s n u t r e al g u m se n t i m e n t o d e a f e i çã o e d e co n f i a n ça , e st a n d o v inculada m ais ao sent im ent o de am or do que aos laços de sangue. As falas seguint es m ost ram isso.

Considero m inha fam ília t odos que m e aj udam , que

ainda t em um a esperança por m im ( A1) .

Pessoas com quem eu convivo eu t am bém considero

com o irm ão, com o as pessoas aqui do abrigo ( A4) .

De acor do com a an álise das en t r ev ist as, p o d e- se d i zer q u e, em d eco r r ên ci a d a v i o l ên ci a dom éstica, ou pelo fato de estarem institucionalizados

p r o v i so r i a m e n t e , a s cr i a n ça s e a d o l e sce n t e s con st r oem u m a d et er m i n ad a v i são sob r e f am íl i a f u n d a m e n t a d a e m u m a p e r sp e ct i v a e co l ó g i ca e psicológica.

Quanto à função da fam ília, tanto as crianças e a d o l e sce n t e s co m o se u s p a i s e r e sp o n sá v e i s ca r r e g a m co n si g o u m a ca r g a d e e x p e ct a t i v a s. Esper am qu e ela sej a capaz de f or n ecer t odo u m aparat o afet ivo e social para o desenvolvim ent o dos seus m em bros em níveis do m acro e do m icrosistem a, a fam ília é vist a com o inst it uição sólida e saudável. I sso pode ser evidenciado na fala.

... fam ília é união, é am or, é carinho, é com preensão e

respeit o... ( F3)

A co m p l e x a si t u a çã o d e cr i se so ci a l e econôm ica pode provocar m odificações nos padrões sociais aceit os pelas pessoas, par t icular m ent e nas ident ificações de fam ília. Pode- se evidenciar isso na fala seguint e.

Eu queria t er um a fam ília com o era ant es, m eu pai era

rico e eu t inha biciclet a e o Papai Noel foi lá em casa e levou duas

caixas de bolacha ( A6) .

A relação de bens m at eriais com o conceit o d e f a m íl i a p o d e se r e x p l i ca d o n o co n t e x t o d a i n st i t u ci o n a l i za çã o , o n d e m u i t o s d o s ca so s d e abr igam ent o t êm com o pano de fundo dificuldades f in an ceir as, q u e f in d am p or d et er m in ar a p r óp r ia dissolução da unidade fam iliar.

As d e t e r m i n a çõ e s so ci a i s d a v i o l ê n ci a possuem espect ro m uit o am plo de desenvolvim ent o, a pobreza em si não explica a violência, m as cria ou facilita a delinqüência e o banditism o, num a econom ia m a r ca d a m e n t e d e se m p r e g a d o r a , se l e t i v a e ex cludent e( 9).

A idealização dos papéis dos pais, quando esses est ão ausent es, t am bém é fat or m ar cant e. A inst it ucionalização, de algum a form a e em algum as sit uações, cont ribui para preservar um a im agem de pais com pr een siv os e cu idadosos. Há n ecessidade const ant e das cr ianças e adolescent es de v alor izar as pessoas ausent es.

Out ro enfoque que vale ressalt ar é a visão, de um a perspectiva ideal, de com o os filhos deveriam ser educados pelos pais. A m aioria dos discursos tanto das crianças com o dos adult os gira em t orno de que a m elhor m aneira de educar os filhos é por m eio do diálogo, onde a agressão física nunca deveria est ar pr esent e.

(5)

sobre a disciplina a ser adot ada na criação de seus filhos, um a v ez que j á for am agr essor es e v ít im as em pot encial.

Para as crianças, há expect at iva em relação à m aneir a de disciplinar e de educar seus fut ur os filhos. Os discursos m ostram a necessidade de rom per com o m odelo educacional pr at icado pelos pais. A princípio, condenam a punição corporal e m encionam o desej o de adot ar out ras form as disciplinares com o o diálogo e a punição rest rit iva

Eu t rat aria m eus filhos m uit o diferent e da m inha m ãe,

t ot alm ent e. Seria m uit o at enciosa ( F1) .

Subt em a 2 - fam ília real

Quando se observa as relações int erpessoais das fam ílias em estudo, a idéia inicial da fam ília ideal é logo subst it uída por um a visão que est á de acordo com a dura realidade da violência subm et ida.

As cr ian ças e adolescen t es af ir m ar am , n o subt em a ant erior, que a fam ília represent ava união e font e de carinho. Nos discursos, pode- se apreender q u e o m icr ossist em a f am iliar se car act er iza p ela p r e se n ça d e si t u a çõ e s d e p e r d a , a b a n d o n o , afast am ent o e abuso.

Nos ach ad os, d est a p esq u isa, ob ser v a- se considerável dificuldade em relação à aut oridade nas i n t e r - r e l a çõ e s f a m i l i a r e s. A f i g u r a d a m ã e n ã o consegue im por aut or idade e lim it es, cabendo isso ao pai que, por sua v ez, pode não est ar pr esent e par a ex er cê- la, fazen do com qu e o m icr ossist em a f am iliar d a cr ian ça sej a d ef icien t e n o q u e se d iz respeit o à colocação de lim it es.

Coer en t em en t e com o r ef er en cial t eór ico, aqui usado, ver ificou- se que a falt a de um sist em a d e a p o i o , q u e o f e r e ça r e sp a l d o p o r m e i o d e orient ações fam iliares adequadas, t am bém favorece os conflit os, com o se apreende a seguir.

O Conselho Tut elar falou pra m im que bat er e espancar

o filho não pode, ent ão eu não sei com o é que a gent e faz porque o

dia que a polícia t rouxe ele aqui, disse que eu t inha que dar um

corret ivo nele ( F2) .

A r e d e d e a p o i o se ca r a ct e r i za p o r u m conj unt o de sist em as e de pessoas significat ivas que par t icipam do cont ex t o fam iliar e que é per cebido pelo indivíduo. A ausência desse t ipo de rede pode desencadear fat ores de risco para o desenvolvim ent o do m icrossist em a fam iliar.

Não se pode deixar de m encionar que, para alguns abrigados, a dificuldade em definir fam ília, sej a

ela no contexto ideal ou real, esteve presente. Pode-se explicar t al ocorrência pelo fat o de essas crianças e adolescen t es v iv er em u m pr ocesso den om in ado t r ian g u lação, ou sej a, eles est ão con st an t em en t e sendo abrigados diversas vezes, fogem para rua tanto d e su a s ca sa s co m o d o a b r i g o e essa d i n â m i ca t r i a n g u l a r r u a / ca sa / i n st i t u i çã o i m p l i ca e m desvinculam ent o dessas crianças e adolescent es com o sent im ent o de fam ília. Tam bém pode- se apreender q u e a i n st i t u ci o n a l i za çã o co n co r r e p a r a o enfr aquecim ent o desse r efer encial de or igem .

Diant e das consider ações apont adas nesse su b t em a, p en sar so b r e su a r eal i d ad e, d e f o r m a co n sci e n t e , p o d e r á a u x i l i a r e ssa s cr i a n ça s e adolescent es a desenv olv er em a r esiliência fam iliar e b u scar em r elações b asead as n a est ab ilid ad e e r ecipr ocidade.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

D e sd e a An t i g ü i d a d e e , so b r e t u d o , n a at ualidade, a fam ília represent a o espaço priorit ário e o alicer ce onde se est abelecem as opor t unidades de socialização, bem - est ar e pr ot eção nas r elações hum anas. As caract eríst icas de cada núcleo fam iliar, sua constituição, condições e qualidade de vida a que est á subm et ido im põe a esse núcleo um m aior ou m enor grau de vulnerabilidade e, conseqüent em ent e, m aior ou m enor grau de em poderam ent o.

A realidade da vida m oderna nos im põe um co n j u n t o d e f a t o r e s d e o r d e m m o r a l , so ci a l , econôm ica, política e cultural que concorrem para que a fam ília e a sociedade se organizem , m uit as vezes, desrespeit ando os princípios e valores fundam ent ais da vida e da convivência hum ana. A fam ília configura-se, assim , com o espaço que reproduz cotidianam ente o poder de hierarquia e subordinação do dom inant e sob r e o d om in ad o, d o d om ín io d e ad u lt os sob r e cr ian ças.

Em que pese os av anços alcançados at é o m om ent o, ainda prevalece um a perm issividade social e polít ica ao r edor da v iolên cia con t r a cr ian ças e adolescent es, a qual im pede que esse problem a sej a d et ect ad o e se assi st a e i n t er v en h a d e m an ei r a opor t una.

(6)

transitam entre o im aginário de um a fam ília ideal e a r e a l i d a d e d e u m a f a m íl i a co n cr e t a , co t i d i a n a , perm eada pela violência e, m uit as vezes, não dispõe nem de r ecur sos financeir os suficient es ou r ede de apoio com o suporte m aterial que facilite a elaboração de seus problem as e sua int ervenção.

Sabe- se qu e o ser v iço de saú de é espaço p r iv ileg iad o p ar a se at u ar n o cam p o d a v iolên cia d o m é st i ca e q u e sã o e n co n t r a d a s i n ú m e r a s dificuldades em lidar com o fenôm eno por part e dos p r o f i ssi o n a i s d a á r e a . En t r e a l g u m a s d e ssa s

dificuldades est á o desconhecim ent o e despr epar o desses profissionais para ident ificação, at endim ent o e en cam in h am en t o d as v ít im as, a d if icu ld ad e em pr oceder à n ot if icação dos casos con f ir m ados e a inabilidade em lidar com os agressores.

Par a isso, é n ecessár io f or t alecer e cr iar novos espaços de at enção às vít im as, com equipes m ultidisciplinares, dentro da lógica de rede de atenção e apoio que, t am bém , na v isão dos at or es sociais, deve incluir m aior em penho e com prom isso polít ico para a sua efet ivação.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

1. Guerra VNA, Sant oro M, Azevedo MA. Violência dom ést ica cont r a cr ianças e adolescent es e polít icas de at endim ent o: do silêncio ao com prom isso. Rev Bras Crescim ent o e Desenv. Hum ano 1992; 2( 1) .

2. Deslandes SF. Pr ev enir a v iolência: um desafio para os pr ofissionais de saúde. Rio de Janeir o ( RJ) : Fiocr uz/ Ensp/ Clav es; 1 9 9 4 .

3 . Min ay o MCS. O sig n if icad o social e p ar a a saú d e d a v iolência cont ra cr ianças e adolescent es. I n: West phal MF. Violência e cr iança. São Paulo ( SP) : EDUSP, 2002. p. 95-1 95-1 4 .

4. Bronfenbrenner U. A ecologia do desenvolvim ent o hum ano: ex per im en t os n at u r ais e plan ej ados. Por t o Alegr e: Ar t es Méd icas; 1 9 9 6 .

5. Wood GL, Haber J. Pesquisa em Enferm agem : m ét odos, av aliação cr ít ica e ut ilização. 4 ª ed. Rio de Janeir o ( RJ) : Guanabara Koogan; 2001.

6. Bardin L. Análise de cont eúdo. Lisboa: Edições 70; 1979. 7. Szym anski H. Teorias e “ t eorias” de fam ílias. I n: Carvalho MCB, organizadora. A fam ília cont em porâneo em debat e. São Paulo ( SP) : EDUC; 1997. p. 23- 27.

8. Rom anelli G. Aut oridade e poder na fam ília. I n: Carvalho MCB, organizadora. A fam ília cont em porânea em debat e. 2 ed. São Paulo ( SP) : EDUC/ Cort ez; 1995.

9 . Roq u e EMST, Fer r ian i MGC. Desv en d an d o a v iolên cia dom ést ica cont r a cr ianças e adolescent es sob a ót ica dos operador es do dir eit o na com ar ca de Jar dinópolis- SP. Rev Lat ino- am Enfer m agem 2002 m aio; 10( 3) : 334- 44.

Referências

Documentos relacionados

CALOR = energia térmica fluindo de um corpo para outro em consequência da diferença de temperatura entre eles.. Experimentos realizados nos revela com

interconexão de computadores, na qual ela (a comunicação) emerge e se transforma.. sólida devido à solidariedade entre seus pares, a partir dos desmandos e ações tomadas pelo

Acreditamos que o estágio supervisionado na formação de professores é uma oportunidade de reflexão sobre a prática docente, pois os estudantes têm contato

Vamos retomar o modelo prismático de base quadrada, usado para demonstrar a supressão de vistas iguais. Veja a perspectiva do prisma e, ao lado, duas vistas com supressão da

Morar, trabalhar e se divertir em Vancouver Island é um privilégio dos residentes da região e muitos dos estudantes internacionais que se formam no North Island College

A prova será de caráter eliminatório, cuja nota será graduada de 0 a 10, com peso 1, considerando-se habilitado para segunda etapa o candidato que obtiver, no mínimo, nota

Com relação às atitudes monológicas, observei nas rodas de conversa como a ―Pintando o sol‖ que a professora nega a criança o espaço de contestar a figura do sol que aos olhos

“Comunicação e cultura na sociedade do espetáculo: a pro- dução/destruição da cidade-espetáculo” é uma introdução ao livro, aqui o pensamento de Guy Debord, em especial o