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Os meios de comunicação de massa como aparelhos de hegemonia

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Academic year: 2017

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(1)

-

. , ,

.... 4I'FUNDACAo

" GE11JIJO VARGAS

Biblioteca Mario Henrique Slmonsen

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM EDUCAÇÃO

SONIA MARIA RUMMERT

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA COMO APARELHOS

DEHEMONIA

-~ ..

_~-~.-TIIESAE R937

~

Rio de laneiro, 1986

'~.'

...

(2)

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I . , ,

".:' J

\

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

COMO APARELHOS DE HEGEMONIA

Sonia Maria Rummert

(3)

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

COMO APARELHOS DE HEGEMONIA

SlJnia . Mana Rumme rt

Dissertação submetida como . requ~

s~ to parcial para obtenção do grau.

de mestre em Educação

Rio de Janeiro

Fundação Get~lio Vargas

Instituto de Estudos Avançados em Educação

Departamento de Administração de Sistemas Educacionais

1986

(4)

-,.'

"

quantas vezes me perguntei se era po~

stvel o ligar-se a uma massa se jamais h~ via gostado de alguém( ... ) se era posst-.

v~l amar uma coletividade se nao se era amado profundamente por criaturas

huma-nas" .

Gramsci -- Carta a Jú1ia

(6/3/1924)

Para SJ:RGIO

(5)

-AGRADECIMENTOS

b tarefa difícil expressar, no pequeno espaço fornal

reservado aos agradecimentos, o que gostaria de dizer

'aqueles que marcaram sua presença amiga durante a

e lab oração deste t rábalh.o • Vêm. então.. à lemb rança,

colegas da sexta turma de Mestrado do IESAE, o Prof.

Carlos· Alberto PIas tino. que primeiro lançou a idêia

que viria, depois, a se transformar no projeto des

ta dissertação e o Prof.Cândido Grzybowski,

cuida-doso leitor do referido projeto que foi aprimorado

a partir de suas críticas.

Ao POrof. Elter Dias Maciel - meu ori~ntador

de-sejo expressar profundo reconhecimento por ter

si-do. acima de tudo, um amig~ que .soube compreender.

apoiar e incentivar. Pela sua importante particip~

ção neste trabalho e pela amizade que surgiu de nos

so encontro, meu muito obrigada. Também não

pode-ria deixar de agradecer, por sua participação, ao

Prof. Gaudêncio Frigotto que, desde meu curso de

graduação, tem estado presente em importantes momen

tos de minha vida profissional. Para o Prof. Leandro

Konder desejo reservar um agradecimento especial,

por ter compreendido as intenções deste trabalho e

por tê-lo enriquecido com valiosas contribuições.

(6)

-SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.

...

PRIMEIRA PARTE: A TEORIA DE ANTONIO GAAMSCI ••

·

...

'

...

lo CONCEITO DE HOMEt.1 ••••••••• ' . 1 . . . . ••••

11. IDEOLOGIA.

...

,

...

..

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... .

III. HEGEMONIA ..•••...•.••••••••.••. , •.••..•.••••..

Pago

01

06

08

11

21 O Princípio da Hegemonia em Gramsci e L~nin... 22 O Princípio da Hegemonia até 1926.. •.•.••...••.• 25 O Principio d~ Hegemonia nos Cadernos do Circere- 26 Aparelhos de Hegemonia.... •...•.••••..••.••....•. 39

IV. ESTADO ..

.

. .

.

. . .

.

.

.

.

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.

.

.

.

.

'"

...

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...

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.

42

V. CULTURA. ,

... .

• • • • • I t . • • • • 47

, VI. RELAÇOES PEDAGOGICAS.

...

,

...

58

SEGUNDA PARTE: OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

cm,tO

APARELHOS DE HEGE~IONIA, •.•••....•••••••• I I " • • • •

...

I. COMUNI CAÇl\O. E CULTURA DE MASSA - DI FERENTES A~r~

11.

LISES .•...•.•.

.

.

.

.

. .

.

. .

• I •

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Abraham Moles .•.

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...

Robert f\lerton e Paul

Marshall McLuhan . . ,.

Lazarsfe1d •. ,

.

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... .

.

.

...

Dwight MacDonald.

·

... . ...

Theodor Wiesengrud Adorno.

·

....

CUL TUIV\ ...•..•....

Cultura Popular. Cultura de Massa

...

,

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.

...

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... .

....

·

... .

• • • • • • • 15 •

65

67

69

73

78 82

87

101

103

a)

b)

Origem Hist5rica ...•

...

. . . ~ ... ~ 109 Conceito de Cultura de Massa •.• • • • t· • • • • 111

IIl. INDOSTRIA CULTURAL .•

·

...

·

... .

••.... - 122

(7)

-Pago

IV. OS MEIOS DE COMUNICAÇJW DE MASSA COMO APARELHOS

DE HEGEMONIA . . . - 133

TERCEIRA PARTE~ OS MEIOS DE COMUNICAÇ.i\O DE MASSA. NA

AM~ RI CA LATI NA •••••••••••••••••••••••••••••••••••• - 144

I. A 'AMERICA ,LATINA ••••••••••••••• ' •••••••••••••••• - 145

11. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA NO BRASIL ••••• - ,161

O régime militar de 1964 e sua influ~ncia nos

meios de comunicação •.•••.••••.•..••.•.. ; .•.... - 178

111. A TELEVISÃO BRASILEIRA APds 1964 ••••••• ~ ••• ~ ••• - 191

Função econômica .••.••••••.•..••••.•••••• " ....• - 194

Função pol·ítica . . . - 19·9

'IV. A REDE GLOBO DE TELEVISÃO •••••••••••••••••••••• -225

Primeira fase . . . ~ •• ,0 ••••••••• - 237 Segunda fase •••••• ~ . . . " ••••• - 241

.Jornal Nacional ••.•••• 1·1 I • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • - 263

Fantástico - o Show da Vida .•• ~ •••.•..•.•••.•• - 278

CONCLUSÃO ••••••••••••••••.••••••••••••• 1 • • • • • • • • • • • • • • - 289

.BIBLIOGRA.FIA ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• _ 307

(8)

-RESUHO

Nas sociedades fundadas no modo de produção capit~

lista, os meios de comunicação de massa exercem funções polf ticas e.econômicas fundamentais, atuando no sentido de incul car a ideologia.que di sustentação a"esse modelo econômico, A compreensão crítica de tais funções, pode ser obtida toma~

do-se como referência a teoria de Antonio Gramsci que situa, com precisão, através de seus conceitos de homem, ideologia, Estado, hegemonia, cultura e relações pedagógicas, a impor-tância política dos meios de comunicação de massa, entendi-dos como aparelhos de hegemonia dQ Estado.

No contexto específico da América Latina, os meios de comunicação de massa assumem dupla importância na medida em que suas priticas hegemanic~s atendem, concomitantemente, aos interesses do capitalismo internacional - sobretudo aos dos Estados" Unidos - e aos interesses das classes dominantes de cada um dos países deste continente, envolvidos em alian-ças político-econômicas, com as na~ões que detêm a ~egemonia

internacional.

De acordo com essa perspectiva, podemos compreender o significado político do processo de implantação e desenvo! vimento dos meios de comunicação, sobretudo da televisão, no Brasil e explicitar o sentido dessa prática hegemônica que assumiu papel de maior relevância após o golpe militar de 1964, quando a ideologia da Segurança Nacional encontrou, na comunicação de massa, difusora dos produtos da indGstria cul tural, o canal mais adequado para desenvolver sua estratégia de atuação, denominada ação psicológica, objetivando con~ui~

tar

i

anuência da totalidade social ao regime político que, então, se instalou no país.

o

caso específico da Rede Globo de Televisão, se

(9)

-con~titui num dos mais tontundentes exemplos da concretização desta prá~ica e pode, quando analisado, elucidar, através de fatos ~oncretos, os mecanismos hegem6nicos internacionais e nacionais que se encontram presentes desde o histôrico da implantação da referida emissora em nível de rede nacional, até os processos diários de produção de programas como o Jor nal Nacional'e o Fantástico - o Show da Vida.

Esta análise, entretanto, não pode deixar de ressal tar que o processo de inculcação ideolôgica encontra diver-sos obstáculos a seu êxito integral junto is classes subal-ternas, que não podem ser compreendidas como meras receptoras passivas das mensagens produzidas pela classe dominante. Os mecariismos de resistência dessas classes existem e, embora não sejam, ainda, suficientemente conhecidos, não podem dei-xar de ser considerados quando O que se pretende

é

compree~

der o real significado das funções e do alcance dos meios de comunicação na sociedade.

(10)

-ABSTRACT

In societies which rely on the capi talist production . mode, the m~ss media play key political and economic roles, since they are supposed to inculcate the ideas this economic model is rooted on. A cri tical understanding of 'such roles can be achieved with the help of Antonio Gramsci's

since through his concepts of man, id~ology, State, culture. and pedagogical relations the mass media's role as a toei for keeping the nation's hegemony established.

theory, hegemony, poli tical can be

In Latin America, specifically, the mass media play a twofold role since i ts hegemony-creating. effects serve both th,e world .capitalism's interests -- particulàrly the U.S. 's -- and those of the ruling classes of each country in this continent, alI involved in political-economic alliances with the world's ruling nations.

According to this perspective, one can understand both the political role of the whole process of implementing and developing the mass media in Brazil - particularly tel~

vision --: and the meaning of .this hegemony-creating practice, which became alI the more important after the military coup in 1964. It was then that the National Secuiity ideology singled out the mass media -- the outlet for the culture industry products -- as the fittest vehicle for developing its strategy, the so-called psychological-action stra tegy', aiming at gaining the whole society' 5 consent to the political

regime then in force.

The Globo TV Network's case is one of the most illustrative examples of this strategy put in to practice and i t can h elp cl ari fy, through conc rete fac ts, the national and international hegcmony-creating mechanisms. These mechanisms

(11)

-can be identified eyerywhere, from the establishment of the aforesaid TV station's coast-to-coast network to the daily production routines of such shows as the

and the "Fantástico - o Show da Vida".

"Jornal Nacional"

This analysis, however, cannot fail to emphasize that this 'ideology-inculcation process faces several drawbacks that prevent its ultimate success within the inferior classes, which should not be seen as mere passive recelvers of the

,

ruling classes' 'messages. The resistance mechanisms of the inferior classes do exist and aI though they are not adequately recognized yet, one cannot fail to take them into consideration, when what is meant is the understanding of the real meaning of the mass media's roles and scope within society.

(12)

-"Conhecer.-se" a si mesmo significa ser o

pro§..

prio~ isto é~ ser senhor de' si' mesmo,

di-ferenciar-se~ sair fora do caos~ ser um

elemento de orde~~ mas da ordem p~6pria e da disciplina própria em relação a um

ideal. Mas nao se pode conseguir isto se

nao se conhecer também os outros, a sua

história~ o suceder-se de esforços que

eles têm feito para serem o que sao, para

criarem a civilização que criaram e que

nós queremos substituir pela nossa. Sign~

fica possuir noções do que é natureza e

do que são as suas leis para conhecer as

leis que governam o espí.rito. E tudo apr~m

der sem perder de vista o objetivo último

que é o de conhecer me lhor a si mesmo atra

vés dos outros e os outros através de si

mesmo".

Crarnsci, Antonio. 11 Crido deI Popolo

29/1/1916

(13)

-INTRODUÇÃO

'Este trabalho'foi elaborado a partir da premissa de que a educação, que ocupa uma posiçio política de fundamen . tal importãncia na complexa estrutura social moderna, deve ser compreendida, em seu sentido amplo, como o conjunto de relações pedagógicas que se apresentam implícitas a toda a prática social e que transcendem os estreitos limites estabe lecidos pelo ensino formal. Tal compreensão da questão edu-cativa abriu, para nós, um vastíssimo campo de anilise, cons tituido por todo o conjunto de relações e práticas sociais vi venciadas pelos indivíduos

e

apontou para a teoria de Antonio Gramsci que, identificando o amplo significado do que é, efe tivamente, a educação, soube tradüzir a pritica cotidiana dos homens em uma permanente açao pedagógica.

Gramsci nao minimiza a importincia. da escola em sua obra, ao contrário, as' referências

ã

pedagogia .. a organiz~

ção do sistema escolar e ao princípio educati~o se fazem pr! sentes, ao longo de seus escritos, sob a fbrma de críticas e de propostas renovadoras. Entretanto ,acredi tamos que a gran de contribuição desse teórico, para a educação, est5' em ha ver mostrado que a mesma envolve a estrutura social em seu conjunto - com' todo o seu vasto leque de conexões - e que ignorar tal princípio é transformar aS reflexões sobre este tema em uma prática estéril, divorciada da realidade e incapaz di contribuir para o efetivo aprimoramento dos individuos. O profundo sentido que a educação assume para Gramsci 6 ressal

~ado, com muita propriedade por Angelo Broccolli ao afirmar que "0 nexo gramsc-iano teoY'ia-pY'ática é experiência pessoal de l..:ida

an-tes de ser objeto de estudo e aprofundamento cultural. Em todo caso, se

ja como atividade concY'eta, seja como l">efZexão acerca das possibilidades

(14)

2

~as massas e dos individuos".l

o

trabalho pedagógico assume grande importância, na teoria gramsciana, uma vez que é através dele que se poderá conduzir o homem a uma prática social coerente, unitária e capaz de forj ar as transformações históricas. t também a pr! tica pe~agógica, verificada no seio das sociedades fundadas no antagonismo entre as classes sociais fundamentais, que irá plasmar, de "forma a-crítica e desagreg~da, a consciência do homem, alijando-o, conse.qtientemente,d,e uma participação ativa em seu tempo histórico. Assim entendida, a questão p~

dagôgica assume um caráter mui to particular na obra de Gramsci,

~ue pode ser sititetizado por sua afirmação de que "toda rela

çao de 'hegemonia' é necessariamente uma relação

ca" . 2

pedagõgi-E

precisamente esta afirmação que se constitui no eixo do trabalho que desenvolvemos. Ao analisar os

diferen-tes recursos sociais através dos quais s~ matetializam as re lações pedagógicas, designados ppr Gramsci como aparelhos de hegemonia, verificamos que, em nossa ~ociedade, poderíamos destacar como os mais significativos: a escola, a igreja, os partidos políticos, diferentes organiz~ções culturais e o conjunto de meios de comunicação de massa. Tornando-se

ne-cessário eleger apenas um, dentre esses a~arelhos de hegemo-nia, para nosso estudo, devido às diversidades de caracterís ticas dos mesmos, optamos pelos meios de comunicação social, que ocupam luga'r de fundamental imp,ortância nas sociedades modernas. Podemos, portanto, definir nosso trabalho como uma análise das práticas pedagógicas inerentes aos meios de comunicação de massa, tomando como referência suas funções hcgcm6nicas e destacando a importância dos mesmos para a con

1 Brocco1 i, Angelo. Antonio ,Gramsci y la educaaión como 'hegemonia. Mexi

co , Editorial Nueva Imagem, 1981, p. 36.

2Cramsci, Antonio. Concepção dialética da histôria. Rio de Janeiro, Ci

(15)

3

quista e manutenção da supremacia pela classe dominante.

Para desenvolver este estudo, analisaremos, pa Pr! meira Parte do trabalho, a importância das relações pedagóg~

cas na estrutura das sociedades de classes. a partir da teo-ria de Anton~o Gramsci, procurando elucidar a profunda cone xão existente entre essas relações e a política. De acordo com este enfoque, nos deteremos, inicialmente, nos conceitos gramscianos de homem, ideologia, hegemonia, Estado e cultu-ra,

a

fim de que possamos, então, explicitar o amplo e rico significado da expressão "relações pedagógi.cas", utilizada como referência ao longo de todo o nosso estudo.

A Segunda Parte do trabalho consistiri na abordagem de questões pertinentes aos meios de comunicação de massa, de acordo com os conceitos da teoria gramsciana e desenvolv~

da, também, a partir de recursos ·obtidos em estudos especÍf~

cos sobre a comunicação social e a cultura de massa. Trata-remos, assim, em primeiro lugar, de elaborar uma sÍntese-crÍ tica de estudos realizados por Abraham Moles, Robert :'!erton e Paul Lazarsfeld, Ma,rshall McLuhan, Dwight .MacDonald e Theodor Wiesengrund.· Adorno, detendo-nos neste último por ser sua obra um dos màis importantes estudos sociológicos da cultura de massa. A seguir, analisaremos os conceit.os de cultura-em particular de cultura de massa e de indústria cultu-ral, para, então" explici tarmos as funções hegemônicas dos meios de comunicação de massa.

Definidos os conceitos teóricos que explicitam as funções dos meios de comunicação, enquanto aparelhos de heg~

(16)

4

do entre esse meio de comunicação e o regime militar vigente no país a partir do golpe de 1964.

Tod-o o processo de elaboração deste trabalho funda mentou-se, como já afirmamos, na teoria de Antànio Gramsci, a qual, por um lado, nos permi tiu perceber, com clareza, os r~ .

cursos através dos quais as classes dominantes procuram di-fundir sua concepção de mundo, transmitindo os padrões de comportamento e os valores que prevalecem na sociedade, por meio -das relações pedag5gicas. Por outro lado, a teoria gramsciana tamb~m nos mostrou a necessidade de considerar que as experiências de vida das classes subalternas impedem

a ap~eensão passiva daquilo que ~ alheio a seu universo, a

suas especificidades de classe. Desta forma, as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa, com o objet~

vo de exercera prática hegemônica, podem, simultaneamente,

propiciar o surgimento, ainda qu~ difuso, de reações de re-sistência. Esta percepção do caráter contradit5rio, ineren-te ã inculcação da ideologia dominante pelos meios de comunl cação, nos leva a formular as seguintes questões: De que fo!. ma as classes subalternas apreendem as me~sagens elaboradas pela classe dominante? Qual o verdadeiro grau de resistên-cia das classes subalternas ao exercício hegemônico dominan te? Em quais segmentos dessas classes a resistência se veri fica com maior ou menor intensidade?

Entendemos que somente uma pesquisa estruturada a partir das categorias fundamentais da teoria gramsciana e

r~alizada junto a diferentes segmentos das classes subalter

nas, poderá, efetivamente, fornecer respostas precisas a tais questões. O presente trabalho, entretanto, antecede a esta etapa de estudo do problema, uma vez que somente um prévio conhecimento te6rico dos meios de comunicação, poderá possi-litar a elaboração de uma pesquisa que venha a elucidar o grau e a forma da resist~ncia das classes subalternas ã pra-tica de inculcação ideo16gica a que estão expostas pela açao

(17)

con-5

cluirmos o presente trabalho, tomaremos. como referência, a premissa gramscianade que "A estrutura da força exterior que

subjuga o homem, assimilando-o e o tornando passivo,

trans-forma-se em meio de liberdade, em instrumento para criar uma

nova forma ético-pol-íti.ca, em fonte de novas iniciativas". 3

Partindo desta compreensão gramsciana da contradição e recor rendo· a diferentes pesquisas que. embora não estejam apoiadas em nosso referencial te5rico, relatam diferentes manifesta-ções de resistência das classes subalternas ao exercício he gemônico dominante, evidenciaremos o caráter contraditório inerente à atuação dos meios de comunicação~ Será, precisa-mente, o pressuposto de que as classes subalternas elaboram

meca~ismos de resistência aó processo de inculcação da

ideo-logia dominante e que, conseqUentemente, os meios de comuni cação não concretizam, de. forma absoluta e irreversível, suas funções hegem6nicas, que irá constituir o ponto de partida de estudos posteriores que nos permitirão obter os concreto entendimento da relação existente entre as classes subalter-nas e a função hegem6nica dos meios de comunicação.

, .. ,)

3Cramsci, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de .Janeiro, Ci

(18)

PRHIElRA PARTE:

(19)

7

A TEORIA DE ANTONIO GRAMSCI

A primeira parte deste trabalho objetiva analisar a importância das relações pedagógicas na estrutura da socieda de de classes, a partir da teoria de Antonio Gramsci, que si tua estas relaç~es, em seu sentido amplo, çomo o conjunto das priticas pedagógicas que se apresentam implícitas na totali-.dade social. Voltada basicamente para a análise política, a

teoria gramsciana ressalta a profunda· ligação existente

en-t~e política e educação, podendo, em nosso entender, forne-cer os elementos necessários i compreensao das funções polf ticas das relações pedagógicas numa determinada sociedade.

A concepção gramsciana de educação requer, para seu real entendimento, que nosso referencial teórico se construa .a partir dos çonceitos de homem, ideologia, hegemqnia,

Esta-do e cultura,a fim de que possamos, entãó, elucidar

6

amplo significado da expressão "relações pedagógicas" utilizada co

mo refer~ncia ao longo de todo o trabalho-.

Torna-se necessário ressaltar, inicialmente, que es ta apresentação temática de alguns conceitos fundamentais da obra de Gramsci possui-somente um caráter metodológico. Na

_ver~ade, sua obra, constituída, em grande parte, por notas re

ferentes a variados campos ~o sab~r, mostra-se permanenteme~

(20)

8

l. CONCEITO DE HOMEM

De. acordo com nossa perspectiva, o entendimento da teoria de Gramsci deve partir da compreensão de seu conceito de homem, definido por sua singularidade, em determinado mo-mento histórico.

E

necessário compreender o homem antes de

tudo, corno "um processo~ precisamente o processo de seus

atos"l. Devemos, portanto. ~itui-Io histo~icamente e.

prin-cipalmente, saber at6 ~ue ponto pode este homem construir seu

próprio destino. Esta reflexão remete a urna p~rgunta funda-mental: "o que i que o homem pode se tornar?"2

·Respondendo a e~ta questão podemos compreender, en-tão, o homem corno um complexo de relaç6es .ativas onde a indi' vidualidade, embora possua enorme importância, não pode cons tituir o fator preponderante na formulação do conceito de ho mem. Na realidade, o hom~m reflete a própria humanidade que se comp6e de três elementos básicos: o indivíduo, a natureza e os outros homens. A conjugação destes tr~s elementos nos remete ~s relaç6es sociais ~ue se manifestam tanto nas rela-ç6es &omem/homem, quanto nas relarela-ç6es homem/natureza~

E

es-ta interaç50 orgãnica, denominada,. em seu conjunto, de "rela ções sociais", que, situada em'determinado contexto históri-co, i rá de fini r o próprio homem. "O homem deve ser cpncebido como um bloco hist5rico de elementos puramente individuais e

subjetivos e de elementos de massa e objetivos ou materiais

com os quais o indiv-íduo está em relação ativa,,3.

E precisamente no âmbito das relaç6es sociais que

lCramsci. A. Concepção diaZitica da história. Rio de Janeiro, Civiliza ção Brasileira, 1978, p. 38.

2Ibid., p. 39.

3Cramsci, A. Cadernos do Cárcere. In: PoZ.-ítica e hi3tóna em Gramsci.

(21)

9

iremos encontrar a essência da concepçao marxista de hqmem, na qual se evidencia a importância do trabalho como fator de definição da própria natureza dos indivíduos. O homem, se cons titui em uma totalidade histórica concreta, que constrói a si mesmo através das relações de trabalho que vivencia com os demais homens. Estas relações englobam todas as formas de

atuaçã~ na sociedade e caracterizam o homem como sujeito ati vo, plasmador do conhecimento e produtor da históiia.

Na manifestação concreta das relações sociais, pod~

mos identificar uma açao recíproca e contínua, que ocorre em todas as instâncias e que torna o cotidiano dos indivíduos uma permanente relação pedagógica. Esta relação es.tâ presente tan to na relação particular do indivíduo com os outros indiví-duos, como na sociedade'em seu conjunto.

Estando o homem sempre vinculado a diferentes gru-pos sociais, sua própria concepção de mundo reflete as rela-ções sociais nas quais esti envolvido ~ que podem ser viven-ciadas com maior ou menor 'grau de participação ativa e cons

ci~ncia crítica.

E

exatamente este grau de participação so

cial que determina as diferentes dimensões em que Gramsci nos aprisenta 6 homem.

o

"homem-massa" é aq,uele que não possui consciência do significado de sua própria ação, não podendo, portanto, avaliar criticamente sua forma de partjcipação no processo histórico; que pensa de modo desagregado e ocasional, assu-mindo como sua uma concepçao de mundo que lhe é imposta pela

classe que detém o poder. Esta concepçao de mundo, subalter nà e heterog~nea. que reflete, fundamentalmente, os padrões impostos pela classe dominante, influi diretamente sobre a ação do "homem-mas s a", impedindo-o de agi r de modo crí t i co e coerente.

(22)

la

sição no modo de produção e que t~m. por conseguinte, exper!

~ncias de'vida semelhantes. Esta percepção, embora

fragmen-tada e contradit6ria. possibilita a presença, em diferentes níveis, de uma forma de resist~ncia i absorção integ~al da concepçãQ de mundo que a classe dominante procura impor ~s

classes subalternas.

Gramsci nos fala, tamb~m, do homem consciente que conhece a si mesmo e identifica a importincia de seus atos nos rumos do processo hist6rico da sociedade i qual pertence, sendo. por isso, capaz de criticar sua concepção de mundo e sua açao. Tem participação'ativa na construção de seu pró-prio',destino e no desenvolvi~ento do processo histórico, tO! nando-se um agente de conscientização em seu grupo social, pois,ao transformar a si mesmo. atua como elemento de trans-formação no conjunto de relaç6esso~iais em que est~ envolv! do. Esse homem ~ capaz de elebor·ar tta própria concepção de mundo de uma maneira crítica e coerente. tendo, portanto, con diç5es de "partioipar ativamente na produç5o da Hist5ria do

mundo~ ser o guia de s.i mesmo e n50 aoeitar do 'exterior., pa~

siva e serviZmente~ a maroa da pr5pria personaZidade"4.

As duas dimensões de homem aquI apresentadas

reme-tem ã questão das relações pedagógicas, pois ambos vivenciam

de diferentes formas estas relações. Retomando-se a

pergun-ta "o que o homem. pode se tornar?",podemos perceber que no

conceito de "homem-massa" encontramos o embrião da transfor-maçao deste homem em um indivíduo cuja postura crítica e co~

rente possibilita a participação ativa no processo hist6rico.

A consci6ncia fragmentada do homem-massa leva-o a possuir uma concepção de mundo "imposta" pelo mundo exterior e assumida sem crítica, mas não o impede totalmente de perc~

ber. ainda que de modo difuso, sua ligação com outros indiví

(23)

11

duos que compartilham as mesmas experiências e que ocupam, em conjunto, um lugar definido na transformação da realidade, lu gar este que possui uma origem e um sentido históricos. ~ exatamente esta percepção difusa que constitui o objeto de qualquer prática pedagógica, 'seja ela voltada para a domina-' çio ou par~ a transformação do homem submisso em homem

cons-ciente e participante, que passará a vivenciar as relações

pedagó~icas, implícitas na totalidade social, de 'forma crrt!

ca e coerente, extraindo delas os elementos que possibilit~

rao seu contínuo aperfeiçoamento.

P'artindo destas colocações iniciais .devemos. agora, relacionar a questio das relações pedagógicas ~om o conceito de ideologia" no qual se apoiam 'questões fundamentais que pr~ curaremos elucidar ao longo deste trabalho.

I I. IDEOLOGIA

(24)

12

expressavam a relação entre o homem biológico e o meio ruIDien te.

Durante algum tempo,este grupo foi o porta-voz do pensamento revolucionário francês e buscou, num acordo com Napoleão, a· forma de concretizar o ideal de construir uma ciência dos homens como alicerce para toda a vida política e social. Ao romper com os ideólogos, Napoleão acu~ou-os de criarem tim sistema de id6ias que ignorava o real e pretendia adaptar, de modd arbitrário, a realid~de ~ suas leis. O sen tido atribuído, a p~rtir dessa 6poca. ao conceito de ideolo-gia por diversos teóricos ligou-o a um juízo de desvalor, passando a ideologia a ser entendida como uma ~epresent~ção

ilusória das condições sociais concretas, com o .objetivo de ocultar a realidade.

Predominantemente no marxismo, a concepçao de ideo-logia gira em torno da id6ia de ocultação da realidade para atender aos interesses de uma determinada classe social. Em

"A ideologia alem~" (184~!1846) Marx e Engels afirmam que:

"As id~ias da alasse dominante s5o~ em aada.ipoaa~ as idiias

dominantes; isto i~ a alasse que i a força material

dominan-te da soaiedade ·i~ ao mesmo tempo~ sua força espiritual

(ideo-l6giaaJ dominante.· ( ... JAs idiias dominantes nada mais sao

·do que a .express5o ideal das ~eZaç5es materiais dominantes~

as relações materiais dominantes aonaebidas aomo idiias; po~

tanto a express50 das relações que tornam uma alasse ·a

alas-se dominante; portanto aS idiias de sua dominaç~o"5. Nesta

obra, embora o termo ideologia não seja,em nenhum momento, definido' com rigor. tem o significado de ilusão, de id6ias er-rôneas e detu rpadas. produz idas no seio de um modo de pro-dução alienado, com a função de garantir-lhe a estabilidade.

Várias vezes o termo ideologia será utilizado por Marx e Engels em obras posteriores sem, contudo, seguir-se de uma rigorosa definição, o que irá criar. in~meras

dificul-5Marx , Karl e Engels, Friedrich. A ideologia alem5. são Paulo, Livraria

(25)

13

dades metodo16gicas ; formulação de uma teoria marxista das ideologias. Dentre os textos que remetem a esta questão en-contramos o Preficio de "Para

d

critica da economia pol{ti-ca"(l859) ,em que o termo ideologia se faz acompanhar de um

enunciad6 que pode contribuir de forma sig~ificativa para es· clarecer seu sentido na teoria marxista.

Marx afirma no Preficio que: "( ... )0 modo de

produ-çaoda vida material é que condiciona o processo da vida

so-cial~ pol{tica e espiritual. N50 i a consciincia dos homens

que determina o seu ser., mas" inversamente,. o seu ser social

que determina a sua consciincia. ( .•. ) Com a transformaç50 do

fundamento econômico revoluciona-se" mais devagar ou mais de

pressa~ toda a imensa superestru'tura. Na consideraç50 de

tais revolucionamentos tem de se distinguir se~pre entre o revolucionamento material nas condições econômicas da

produ-ç50~ , o quql i constatáve l rigorosamente como' nas ciincias na-turais e as formas jur{dicas" pol{ticas" relig~osas"

art{sti-cas ou filosófiart{sti-cas" em suma" ideológiart{sti-cas em que os homens

ga-nham consciincia deste conflito e o resolvem,,6.

A ideologia, forma mediante a qual os homens tomam

con§ci~ncia de determinada 'realidade econBmico-social. repr~

senta um sistema de pensamento que s6 pode ser compreendido quando situado historicamente numa determinada formação so-cial da qual é expressa0. Porém, esta expressão não se faz de modo exato e fiel, mas sim através de uma "representação" da realidade. A ideologia, em si, não constitui uma ilusão, ela, na verdade, pode produzir um efeito social específico: a percepção ilus6ria da realidade, objetivando legitimar a otdem social vigente e contribuir para a sua manutenção. Nes

t~ sentido, na teoria marxista, a ideologia pode ser compre-endida, antes de malS nada, como uma representação deturpada da realidade ou. como, em "A ideologia alem5", falsa consci~n

6Marx , Karl.

escolhida;;.

Para a crítica da economia política -- Prefácio. In: Obras

(26)

14

tia. Entretanto, a relação falsa consci~ncia/ideologia sug~

Te a exist~ncia de uma forma de consci~ncia que deixari de

ser falsa, quando~ em lugar de expressar primordialmente os interesses de determinada classe social, tornar-se a expres-são do conhecimento integral da realidade.

Devemos ressaltar ainda que Marx e Engels impuseram limitações ao estudo da ideologia. p~r não terem formulado, rigorosamente, tima anãlise sobre a mesma. "No~ estudos que desenvolveram sobre economia e sociologia,não se ocuparam de . la e tamh~m não a incluíram no grande projeto de trabalho do qual Marx só cóncluiu a primeira parte: O Capital. Tal fato gera, at~ hoje, in6meras diverg~ncias nas críticas e estudos marxistas que se det~m no estudo da ideologia, como chegou a admitir o próprio Engels: "( ... )um ponto que, a bem dizer,

nunca foi reálçado nos "escritos meus" e de Marx,

relativamen-te ao qual ambos somos responsáveis." Trata-se do seguinrelativamen-te:. de

inicio empenhamo-nos em pôr a "tônica na dedução das represe?:!:. tações ideo lógicas-po li t'ica"s., juridicas e ou tras -. - bem como

das ações por elas condicionadas, a partir dos fatos econômi

cos que lhe estão na base, e tivemos razão. Foi isso que

porporcionou aos nossos adversários. a ocasião com que

sonha-vam para se entregarem a fazer interpretações falsas e

alte-- ( ),,7

raçoes .••

Aqui retornamos

ã

teoria gramsciana que, enriquecen do o conceito marxista da ideologia, abre novo espaço

ã

sua compreensao. Gramsci, assim como Marx e Engels, tamb~m evi-dencia o fato de que a ideologia dominante no modo de produ-ção capitalista busca revestir-se de um carãter de universa-lidade. Apresenta, assim, como natural e indiscutível,a de sigualdade entre os homens e atribui ã classe dominante o di reito de falar e decidir em nome de todo o bloco social, ga-rantindo, desta forma, sua própria sobreviv~ncia como classe

7Engc1s, Fiedrich. Carta a Franz Mehring, de 14 de julho de 1893. In:

Mehring, Franz. O materialismo histórico. Lisboa, Edições Antídoto,

(27)

15 no poder.

Encontramos, entretanto, no conceito gramsciano. uma nova perspectiva que o enriquecerá. Referimo-nos à questão da apropriação da ideologia pelas classes subalternas, que ocorre através de processos de acumulação, transformação e rej eição, faz'endo com que a ideologia que uni fica uma dada so ciedade signifique algo muito mais complexo que mero refle-xo ou expressão uniforme das idéias da classe dominante.

e

importante considerar que as experiências vividas pelas c1a~

ses subalternas, em sua especificidade de classes exploradas. as impedem de aceitar. de forma passiva e mecâ~ica, a ideo1~

gia dominante, que objetiva justificar a própria prática da

.

exploração.

Ao analisar a forma de.apropriação da ideologia do-minante pelas classes subalternas, devemos ressaltar a ques-tão da contradição inerente a qualquer fato social, já abor-dada ao nos referirmos ao conceito de "homem-massa" que abr~

ga, em sua fragmentada, concepção de mundo, a potencialidade de transformar-se em homem consciente e atuante na história,

que "a estrutura de'força exterior que subjuga o homem~

,

-Ja

assi

milando-o e tornando-o passivo~ transforma-se em instrumento

para cr~ar uma nova força ético-politica~ em fonte de novas

iniciativas"8.

Neste sentido, a ideologia, enquanto fato histórico real, reveste-se de uma iucntidade tão complexa e contradit~

ria quanto é complexa c contraditória a formação social da qual é parte necessária. Portanto, sua existência deve ser analisada tendo-se como base a totalidade da rea1idaue que ne la se expressa. Esta realidade engloba o papel de ambas as classes, pois, mesmo que a classe dominante disponha dos maIS variados meios de difusão e inculcação" sua ideologia, como

(28)

16

jã afirmamos, nao se impõe de forma absoluta no seio das clas ses subalternas.

E

importante ressaltar que o modo através do qual as classes subalternas se apropriam da ideologia do-minante e reagem a ela interfere de forma significativa nos

rumos que esta ideologia tomarã.~ Podemos dizer que, em . cer ta medida, as classes subalternas "regulam" a forma e o con-te6do da inculcação ideol6gica, que devem, necessariamente, estar em consonância com estas classes para que se

sobre eias a influência desejada.

exerça

A teoria gramsciana também aponta para outra ques-tão de fundamental importância que é a das contradições inter nas inerentes à ideologia, ressaltando o fato de que a pró-pria ideologia dominante nao representa a expressão uniforme das concepções da classe que a elabora. Apesar de apresen-tar-se sistematizada e ~evestida do Eariter de universalida de. e"sta ideologia, na verdade, resulta de "correlações de for ças existentes no interior do próprio bloco dominante, onde também se verificam fracionamentos.

Esta perspectiva política permite que se analise a questão da ideologia sem a utilizaç.ão de" cri térios de "verd~

de" ou "falsidade", como nas demais teorias. A validação de uma ideologia reside no grau em que esta ideologia correspo~

de ou não às potencialidades e aos movimentos de organização e luta das classes fundamentais da história e de acordo com a capacidade dessas classes de avaliar concretamente as si-tuações reais. Para Gramsc.i "A adesão ou não das massas a

uma ideoZogia é o modo pelo qual se verifica a critica real

da racionalidade e historicidade destes modos de pensar,,9.

Utilizando-se de diferentes expressoes para nomear ideologia -- filosofias, concepções de mundo, sistemas de pc~

sarnento, modos de pensar, formas de consciência __ o e

ressal-9

(29)

17

tando que nao existe urna filosofia (ideolagia) ·em geral, mas sim diversas filosofias ,Gramsci destaca a importância do sen tido prãtico~social das ideologias -- na medida em que agru-pam os homens em torno de determinados objetivos -- indispen sável ao entendimento da pr~xis política em geral e da pr6-pria ideologia, .visto que ambas, ideologia e política, nao podem ser separadas.

Alguns aspectos do contei to gramscian.o de ideologia, decorrentes de seu enfoque voltado, basicamente, para a prá-·xis política, tais como o fato de, colocando a ideologia no

âmbito das supe~estruturas, identificá-la com todo o conheci mento (mesmo o conhecimento objetivo das ciências naturais) , recebem restrições de determinados críticos que atribuem tais "erros" às ligações de Gramsci com as correntes historicista e idealista. l

·o

Embora nao possamos, neste estudo. aprofundar tal questio, julgamos que a anáiise de tais críticas deve consi derar que, embora Gramsci diga que "na realidade a ciência é

uma superestrutura~ uma ideologia"ll. ·tal afirmativa nio

de-ve ser isolada do contexto integral. de ·su~ teoria, expresso de forma assistemática nos Cadernos e. portanto, apresentada em fragmentos que se enriquecem e complementam de modo desor denado. A compreensão de sua concepção de ciência e, mais especificamente, da questão da objetividade, deve ir aI€m de tal· afirmação para que possamos entender que,ao referir-se

à ciência, Gramsci o faz remetendo-se a sua evolução hist6rl ca, a seu desenvolvimento em determinado modo de produção e procurando situá-Ia.na esfera da filosofia da práxis, como o faz no fragmento "A Matiria", onde afirma: "Na realidade3 a

filosofia da pr~xiB nao estuda uma m~quina para conhecer e

estabelecer a estrutura atômica do material, as propriedades

lOVer Coutinho, Carlos Nelson. Fontes do pensamento polttico: Cy'amsci • . p.

78 e 86; Gruppi, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. p.

117-130.

(30)

18

ftsico-qutmicas dos seus componentes naturais (objeto de

es-tudo das ciincias exatas e da tecnologia), mas enquanto i o~

jetode propriedade de determinadas forças sociais, enquanto

expressa uma relação social e esta corresponde a um

determi-nado pertodo hist5rico"12.

T.ambém no texto "A Ciincia e as Ideologias Cienttfi

casff13

t Gramsci demonstra claramente ser seu po~icionamento

em relação às ciências resul tante de sua concepção do que vem a ser o mé~odo científico no seio da filosofia da prãxis e que vai ao encontro da afirmação de Marx: ~A hist5ria pode

ser examinada sob dois aspectos: história da natureza e

his-tóriados homens. Os dois aspectos" contudo, s.ão . inseparâ-veisj enquanto existirem homens,; a história da natureza e a

história dos homens se condicionarão mutuamente"14.

Retomando-se o concei to de ideologi'a em Gramsci, des' tacamos o fato de que sua perspectiva de análise traz enormes contribuições à teoria marxista da ideologia, dando-lhe um novo sentido ao evidenciàr sua importância,não apenas como legitimadora da prática da dominação, mas também como veícu-lo de aglutinação e conscientização das classes subalternas.

~ dentro desta perspectiva que se es tabelece urna di~

tinção entre as diferentes i4cologias. baseada no grau em que atendem ou rião aos interesses e potencialidades das classes subalternas. As ideologias se apresentam, então, como arbi-trãrias, impostas, assumindo um caráter não-orgânico, ou com um sistema de idéias historicamente necessário que irá cons-tituir

x

ideologia orginica.

12Cramsci, A •. Concepção' dialitica da história. p. 191 (grifo nosso).

13Ib id., p.64/72.

14.., "larx, K .

(31)

19

Ideologias não-orgânicas

São ideologias não-orgânicas ou~rbitririas, racio-nalistas, desejadas, como as denomina Gram~ci. aquelas volt!· das para a conciliação de interesses opostos e historicamen-te antag6nicos, que t~m como objetivo garantir o poder da classe dominante através do consentimento das classes subal-ternas. Estas ideologias~ como nos aponta Marx, objetivam ocultar a questão da luta de classes e de toda a contradição que l~e é inerente, apresentando a ordem social por ela sus-tentada como algo natural e, con~~qUentemente. imutivel.

Constituem. estas ideologias, "fatos históricos

re-ais.que devem ser combatidos e denunciados em sua natureza de instrumentos de domtnio~ n50 por raz5es demo~ciZidade etc~~

mas preci~amente por raz5es de luta poZttica"lS. Tal priti-ca possibilitari a destruição de uma ordem social ~mposta p~

la dominação, dando lugar a outra, orgânica, resultante da conscientização, por parte das classes subalternas, de sua pr6pria força e de seu real papel no desenvolvimento do pro-cesso hist6~ico.

Estas ideolrigias, mesmo estando voltadas para a pr! tica da dominação e deturpaçã? da realidade, não são totalmen te in6tefs e exclusivamente alienantes., ji que, em virtude das contradições que abrigam em seu interior, se contrapõem

~ realidade da pTitica social. evidenciando aquilo que pre-tendem ocultar.

Ideologias orgânicas

Entendidas como historicamente necessirias,· as ideo

(32)

20

logias orgânicas exercem uma função organizadora da vontade coletiva, aglutinando os homens-massa, antes dispersos e sub metidos a uma posição social de subordinação. Como tal, es-tas ideologias possuem uma "validade psicol6gica" na medida em que formam "o terreno sobre o qual os homens se

movimen-tam~ adquirem consciência de sua posição, lutam etc. "16

As ideologias orgânicas atuam sobre a estrutura so-cial, contribuindo para sua modificação e, na medida em que esta estrutura se modifica e evolui, tamb6m elas se transfoE mam acompanhando dialeticamente o desenvol~imento histórico.

Expre~sando as necessidades e aspiraç6es das classes subalternas, as ideologias orgânicas não pretendem resolver as contradiç6es sociais·e históricas apresentando verdades prontas e exteriores i realidade destas ~lassei~ Ao c6ntri-ri?, seap.resentam como a próprIa teoria destas contradiç6es, buscando captar 'seu movimento próprio, dotando a ação de uma direção consciente e correspondendo ao. desejo das classes su balternas de conhecérem ~ totalidade dos fatos sociais e de educarem a si mesmas para se tornarem dirigentes de seu pró-prio destino. Temos aqul o mais amplo e. elevado significado de c6ncepção de mundo, que se encontra, em sua profundidade,

nas artes~ no desenvolvimento da ci~ncia. enfim, em todas as

manifestaç6es de vida, tanto ~ndividuais quanto coletivas.

o

conceito de ideologia em Gramsci, que procuramos apresentar, de forma resumida, foi enfocado a partir de pon-to? que consideramos fundamentais

ã

compreensão da complexa questão das relaç6es pedagógicas. Na medida em que o coti-diano se apresenta como uma permanente pritica pedagógica,

to~na-se evidente a importância da ideologia enquanto fa

to histórico real -- que permeia as relaç6es sociais em todas as suas manifestaç6es.

(33)

21 As relações pedagógicas, norteadas por determinada ideologia (orgânica ou não-orgânica), integram a vida social, podendo possibilitar ao ho~em a compreensão de sua importân-cia e de sua função histórica, permitindo~~he abandonar aco~

dição de homem-massa ao tornar-se consciente e participante, ou, ao contrário, estas relações poderão estabelecer limites e impedimentós i formação da consciência critica, tornando restrita a liberdade do homem e negando-lhe as condições pa-ra conhecer a totalidade e o sentido real das relações so-ciais em que está envolvido ..

As ideologias se difundem e se afirmam como um pro-cesso através do qual uma classe conduz e mantém a unidade do bloco social. A compreensao deste processo, que nos permit!

râ identificar de que· fôrma se manifestam concretamente as relações ped~gógicas na vida social, est~ fundamentalmente ·ligada a um conceito sobre o qual Gramsci calca grànde parte de sua obra: o conceito de .hegemonia, que analisaremos a se-guir.

I rI. HEGEMONIA

(34)

L

22

eia dos intelectuais, desenvolve estudos sobre' o Estéldo, abor da questões ligadas à literatura e à cultura em geral ou pr~

põe estratégias de transição para o socialismo;. Gramsci tor na evidente a import~ncia deste conc~ito como elemento essen cial i compreensão de seu pensamento, afirmando que "a carac

teristica essencial da filosofia d~ pr~xis mais moderna

con-sis,te no conceito histórico-politico de hegemonia". 17

Para que possamos compreender o prin~ípio gramsciano de hegemonia em toda a sua amplitude, é n~ces'sirio que efe-·tuemos, p~imeiramente, um estudo da estreita relação .existe~

te entre as concepções de hegemonia em L~nin e em Gramsci, ji

que é a L~nin que Gramsci atribui a formulação do princípio

te6rico-pritico da hegemonia, afirmando ser esta '"a cont~bui

çao teópica m~xima de Ilitch (L~nin) à filosofia da práxis". 18

'Oprincfpio da hegemonia em Gramsci e L~nin

Diversos estudiosos do pensa~ento marxista: Bobbio, Bucci-Glucksmann, Coutinho, Gruppi, .Portelli, Tamburrano, de~

,tre outros, procuraram mostrar os pontos de aproximação e as distinções existentes entre os dois conceito~. apresentando sobre o assunto algumas divergências. Procuraremos aqui ex-por, resumidamente, alguns aspectos desta questão que nos p~

recem relevantes para melhor elucidar o princípio gramsciano de hegemonia.

o

princípio da hegemonia que se encontra presente nos escritos de Lênin, embora este não o utilize explicita-mente, refere-se, basicaexplicita-mente, à ditadura do proletariado e fundamenta-se, inteiramente, na especificidade da hist6ria

17

G ramSC1, • A.

histórico. são Paulo, Paz e Terra, 1977, Letcere deI circere. In: Portelli, H. p. 61.

18Gramsci, A. Concep~ão dialética da história. p. 52.

,

(35)

23

russa e na definição das tarefas políticas do proletariado. Tal princípio, "embora construído em situação hist6rica "dis-tinta daquela vivida por Gramsci, forneceu a este os elemen tos básicos que lhe permitiram construir o pr6prio conceito, ampliando e enriquecendo a concepçao leninista.

Gramsci atribui grande valor à questão da hegemonia em L~riin,"basicamente por ter reconhecido ~este o dirigente te6rico e prático da revolução, da ditadura do pioletariado. Esta unidade entre teoria e prática, teoria e a~ão política é fundamental, já que a hegemonia do proletariado representa a construçiode uma nova "ordem política, e~on6micae ideo16-gica, que se opera em todos os níveis da sociedade.

o

que permite a L~nin e a Gramsci elaborarem, em si tuações hist6ricas diferentes, o conceito de hegemonia

é

a compreensão que ambos t~m de que a sociedade é"um todo orga-nico e un~tário, que se explici a partir da base econ6mica, mas que não pode ser reduzida inteiramente a ela, pois tal

redução implicaria a negação da ação política e da pr6pria hegemonia. Sobre esta qúestão Gramsci afirma: "( ... }é neces

s~riocombater o economicismo ( ... }sobretudo na teoria e na

pr~ticd poZttica. Nesse campo~ a Zut~ pode e deve ser condu

zida desenvoZvendo o concei~o de hegemonia(_~.}". 19

Outro relevante pont~ de ligação entre ambos refere se à imp~rtincia dada ao sistema de alianças de classes, que permite a mobilização da maior parte possivel da população trabalhadora, oferecendo uma base s6lida ao Estado proletário. Isto significa que a hegemonia possui uma base social, ou s~

ja, que a classe que orienta o novo processo hegem6nico ne-cessita apoiar-se em grupos aliados para sustentar ~ conqui~

ta"e a efetivação da hegemonia.

Devemos ainda ressaltar outro aspecto comum que

(36)

1

I

I

J

24

side na organização intelectual da hegemonia através do pa~

tido, o qual representa o verdadeiro sujeito revolucionário. Afirma Lênin que cabe ao partido intervir em todos os

momen-tos da vida social e política e movimentar-se em todas as c~ madas da população, com o intuito de dar,aos operários,o co-nhecimento político necessário

ã

luta pela conquista da nova hegemonia. Gramsci iri retomar quase inteiramente a concep-çao leninista do partido, embora dando maior ênfase ã sua fim

çao educativa: "O moderno pr{ncipe (o partido) deve e n50 p~

de deixar de ser o propagandista e o organizador de uma

re-forma intelectual e moral".20

o

conceito gramscian.o de hegemonia estâ, como vimos, em alguns de seus fundamentos, bastante próximo da concepção

leninista. Caberi· a Gramsci. entretanto, aprofundá-lo e am-: plii-lo, ligando-o nao apenas ao nível da sociedade política como o faz Lênin, mas ã primazia da sociedade civil e enri-quecendo-o com o conceito de aparelho de hegemonia, como ve-remos posteriormente.

Não nos é possível, aqui, desenvolver a análise com

. .

parati va entre o p'ensamento de Lênin e Gramsc.i, mas julgamos importante transcrever o que diz Norberto Bobbio sobre esta questão, por considerarmos que a síntese que nos

além de situar claramente os referidos conceitos, compreensão do .amplo significado do concei to de gramsciana.

apresenta, nos·dá a hegemonia

Para Bobbio, o fato de, em Lênin, preponderar o si~

nificado da direção política, pode ser explicado tornando-se as profundas diferenças entre os momentos históricos em que ambos elaboraram seus conceitos de hegemonia. Na verdade, a diferença essencial encontra-se "na extens50 e, portanto, na

funç50 do conceito nos dois respectivos sistemas. Com re

Za-ç~o

a

extens5o, a hegemonia gramsciana ( ... ) abarca, com suas

2 o . .

(37)

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I

.~

J

J

1

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l

t

,

I

25

entidades portadoras~ não só o partido~ mas todas as outras

instituiç5es da sociedade civil (entendida no sentido

grams-ciano) que tenham um nexo qualquer com a elaboração e a dif~

são da cultura. Com relação à função" a hegemonia não visa

apenas à formação de uma vontade coletiva capaz de criar um

novo aparelho estatal e de transformar a sociedade~ mas tam

bém à elaboração e" portanto" à difusão e à realização de uma

nova concepção de mundo ( •.• ) Nessa modificação de signific~

do ( ... ) reside a novidade do pensamento gramsciano de modo

que.hoje~ apesar da homenagem que Gra~sci presta a Linin

en-quanto teórico da hegemonia~ o te5rico por ~xcelincia da

he-gemonia não é Linin~ mas sim Gramsci".21

o

princíp10 da Hegemonia at6 1926

Para alguns estudiosos do pen5amento de Gramsci, co mo por exemplo. Luciano Gr"uppi, a questão da hegemonia teve seus contornos traçados na 6poca em que foi escrita A

Ques-tão Meridional.2~ Entretanto, a compreensao da origem teóri ca do conceito de hegemonia requer, como nos mostra Bucci-Glucksmann, que se identifique suas primeiras formulações, já

implícit~s na concepção do Estado e nas análises políticas apresentadas nos textos de Ordine NUOVO. 23

Estas prlmelras formulações estruturam-se gradativ!

me~te e já em 1924, Gramsci elabora teoricamente as bases de

seu princípio de hegemonia referindo-se à concepção

leninis-t~e apresentando a hegemonia corno direção da classe oper5ria constituída de forma autônoma e independente e exercida num contexto de política de alianças: liA revolução apresenta-se

21Bobbio, Norberto. O conceito de sociedade civil. Rio de Janeiro, Ed.

Graa1, 1982, p. 46-48 (grifos do autor).

22G ruppl, LUClano. • • O conce1.-to e egemon1.-a em Grams..c1.-. . d h ' . Rio de Janeiro,

Ed. Graa1, 1980, p. 56-58.

23 Buc i-G1ucksmann, Christine. Gramsci e o Estado. são Paulo, Paz e

(38)

1 26

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I

i

I

1

praticamente como hegemonia do proletariado que gu~a o seu aliado: a classe camponesaff.2~

Em A Questão Meridional, Gramsci retoma as análises do Ordine Nuovo, enriquecendo-as. A hegemonia sera, então, apresentada como a capacidade de compreender concretamente uma situação histórica, de identificar, na correlação de fo~

ças da sociedad~, aquelas que podem e devem ser mobilizadas na efetivação do pro~esso revolucionário. "0 'proletariado p~

de e deve tornar-se classe dirigente e dominante na medida em

que consegue criar um sistema de alianças de classe que lhe

permita mobilizar contra o capitalismo e o Estado burguês a

maioria da populaçao trabalhadora".25

o

conceito de hegemonia está, nessa época, estreita mente. ligado ao de ditadura do proletariado sem, no entanto, identificar-se inteiramente com ele. Um exame cuidadoso mos trará que, para Gramsci, a hegemonia é, na verdade, o que dá

ã

ditadura do proletariado sua base social, sua especificid~

de, seu caráter expansivo.

o

princípio da hegemonia nos Cadernos do Cárcere

o

princípio da hegemonia sofrerá, ao longo do tem-po, alterações que irão se configurar como uma ampliação do campo de análise, que deixará de estar circunscrito ao âmbi-to da ditadura do proletariado. 0Jos Cadernos do Cárcere, Gramsci passará a enfocar, de forma destacada, as práticas h~

gem6nicas das classes dominantes, evidenciando a importância

2~Gramsci, A. Ordine Nuovo. 01/03/84. In! BUCI-GLUCKSHANN, op. cito p. 231.

25

(39)

1

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1

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1

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I

)

27

das questões ligadas i direção cultural e moral que essas classes imprimem ao todo social. Seu estudovirâ, então, a englobar, progressivamente, as estruturas do Estado, vindo a enriquecer-se com um novo conceito: o de aparelhos de hegem~

nia.

Nos Cadernos, as anâlises sobre a hegemonia referem se tanto i hegemonia burguesa quanto i hegemonia das classes subalternas. Ao referir-se i hegemonia burguesa e is prãti-cas da classe dominante, seu intuito é o de aprofundar a an~

lise do Estado moderno, fundado no modo de produção capita-lista. Referindo-se i hegemonia das classes _ subalternas, Gr.ams.ci propoe estratégias qu.e podem guiar estas classes em um processo de transformação revolucionâria, a partir da cria ção de um novo bloco cultural, fruto de urna concepção de mun do unitâria e coerente.

o

princípio da hegemonia sublinha a grande importâ~

cia da direção cultural e ideológica que a classe que é ou se propoe ser fundamental. - hegemônica - imprime i ação das d~

---mais classes ,exercendo, sobre estas, urna a~ão primordialmen-te educativa. A hegemonia de urna classe signifi~a sua capa--cidade de subordinar intelectualmente as demais através da persuasão e da educação, esta entendida em seu sentido amplo. Gramsci enfatiza esia perspectiva afirma~do que "Toda peLaç~o

de 'hegemonia'·.é necessariamente uma reZaç~o pedagógica".26

Para conquistar a hegemonia é necessârio que a elas

S6 fundamental se apresente is demais corno aquela que

repre-senta e atende aos interesses e valores de toda sociedade, ob tendo o consentimento voluntário e a anuência espontnnca e garantindo. assim, a unidade do bloco social que, embora nao seja homogêneo, se mant6m articulado e coeso. Isto signifi-ca que a classe hegemônisignifi-ca deve ser signifi-capaz de converter-se em

2 f. G ramSC1. ' A. C 01'i.CCpçaQ - d' 1,avet1,.;:a 1 ... · · d . ' .... a l1.&stoY'&a. p. 37.

(40)

28

ciasse nacional, isto é, na clas se capaz de env.ol ver toda a sociedade em um mesmo projeto hist6rico e capaz de assumir~

como suas ,as reivindicações das clas.ses aliadas. Aqui fica clara a incompatibilidade existente entre hegemonia e corpo-rativismo, como o pr6prio Gramsci nos mostra ao referir-se

ã

hegemonia do proletariado: "O proZetariado poder~

desenvol-ver sua função'dirigente tão somente se possuir um rico esp{

rito de ~acriftcio e se for capaz de se libertar completame~

te de todo o res{duo de corporativismo reformista ou sindica

lista"27.

Ao afirmar que a classe hegemônica deve assumir, co mo suas,as reivindicações das demais classes, Gramsci aponta para a estreita relação entre hegemonia e economia. Na medi da em que as expressões da vontàde, os interesses e necessi-dades das classes aliad~s são, na verdade, manifestações co~

creta~ das necessidades econômicas, geradas por determinado modo de produção,

preciso que a classe hegemônica, ao for-mular seu projeto econômico; considere estas nec~ssidades,

sem, entretanto, descaracterizar seu proj·eto fundamerital de classe. "O fato da hegemonia pressupõ-e~ indubitavelmente~ que

se deve levar em conta os interesses e as· tendências dos gr~

pos sobre os quais a hegemonia ser~ exercida; que se forme

certo equil{brio de compromisso~ isto é~ que o grupo dirige~

te faça sacriftcios de ordem econômico-corporativa. Mas é

também indubit~vel que os sacrif{cios e o compromisso nao se

relacionam com o essencial~ pois se a hegemonia é ético-poli.

tica também é econômica; não pode deixar de se fundamentar na

função decisiva que o grupo dirigente exerce no núcZeo

deci-sivo da atividade econômica"2s.

A hegemonia pressupõe, como vimos, a capacidade da classe fundamental de dirigir as demais classes, calcada em sua condição de apresentar-se como classe nacional·, que tom3..t

2. 7 · •

GramSC1, A. In: Coutinho, C.N., p. 57.

Referências

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