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Comparação do teste de caminhada de 6 minutos em crianças com asma moderada/grave com valores de referência parasaudáveis.

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Academic year: 2017

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© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. www.jped.com.br

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2013.08.006

Como citar este artigo: de Andrade LB, Silva DA, Salgado TL, Figueroa JN, Lucena-Silva N, Britto MC. Comparison of six-minute walk test in children with moderate/severe asthma with reference values for healthy children. J Pediatr (Rio J). 2014;90:250-7.

* Autor para correspondência.

E-mail: ftliviabandrade@gmail.com, liviabandrade2005@yahoo.com.br (L.B. Andrade).

ARTIGO ORIGINAL

Comparison of six-minute walk test in children with moderate/

severe asthma with reference values for healthy children

Lívia Barboza de Andrade*, Diogo A.R.G. Silva, Taíza L.B. Salgado, José N. Figueroa,

Norma Lucena-Silva e Murilo C.A. Britto

Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Recife, PE, Brasil

Recebido em 20 de junho de 2013; aceito em 21 de agosto de 2013

KEYWORDS

Asthma; Children;

Pulmonary function; Quality of life

Abstract

Objective: to compare physical performance and cardiorespiratory responses in the six-minute walk test (6MWT) in asthmatic children with reference values for healthy children in the same age group, and to correlate them with intervening variables.

Methods: this was a cross-sectional, prospective study that evaluated children with moderate/severe asthma, aged between 6 and 16 years, in outpatient follow-up. Demographic and spirometric test data were collected. All patients answered the pediatric asthma quality of life (QoL) questionnaire (PAQLQ) and level of basal physical activity. The 6MWT was performed, following the American Thoracic Society recommendations.

Comparison of means was performed using Student’s t-test and Pearson’s correlation to

analyze the 6MWT with study variables. The significance level was set at 5%.

Results: 40 children with moderate or severe asthma were included, 52.5% males, 70%

with normal weight and sedentary. Mean age was 11.3 ± 2.1 years, mean height was 1.5 ± 0.1 m, and mean weight was 40.8 ± 12.6 Kg. The mean distance walked in the 6MWT

was significantly lower, corresponding to 71.9% ± 19.7% of predicted values; sedentary

children had the worst values. The difference between the distance walked on the test

and the predicted values showed positive correlation with age (r = 0.373, p = 0.018) and

negative correlation with cardiac rate at the end of the test (r = –0.518, p < 0.001). Regarding QoL assessment, the values in the question about physical activity limitations showed the worst scores, with a negative correlation with walked distance difference (r = –0.311, p = 0.051).

Conclusions: asthmatic children’s performance in the 6MWT evaluated through distance walked is significantly lower than the predicted values for healthy children of the same age, and is directly influenced by sedentary life style.

(2)

PALAVRAS-CHAVE

Asma; Crianças;

Função pulmonar; Qualidade de vida

Comparação do teste de caminhada de 6 minutos em crianças com asma moderada/ grave com valores de referência para saudáveis

Resumo

Objetivo: comparar o desempenho físico e cardiorrespiratório do teste de caminhada de seis minutos (TC 6 min) em crianças asmáticas com valores de referência para saudáveis da mesma faixa etária e correlacioná-los com variáveis intervenientes.

Métodos: estudo transversal, prospectivo, em crianças com asma moderada/grave, entre seis e 16 anos, em acompanhamento ambulatorial. Coletaram-se dados demográficos e espirométricos. Os pacientes responderam questionário de qualidade de vida em asma (PAQLQ) e nível de atividade física basal. O TC 6 min foi realizado segundo recomen-dações da American Thoracic Society. Para comparações de médias usou-se teste t e correlação de Pearson para analisar o TC 6 min com variáveis estudadas. Nível de signi-ficância de 5%.

Resultados: incluídas 40 crianças, 52,5% meninos, 70% eutróficas e sedentárias. A média

deidade 11,3 ± 2,1 anos, altura 1,5 ± 0,1 m e peso 40,8 ± 12,6 Kg. A média da distância

percorrida no TC 6 min foi significativamente inferior correspondendo a 71,9% ± 19,7 dos

valores previstos, onde as crianças sedentárias exibiram os piores valores. A diferença entre a distância percorrida no teste e os valores preditos mostrou correlação positiva

com a idade (r = 0,373, p = 0,018) e negativa com a frequência cardíaca ao final do

teste (r = –0,518, p < 0,001). Na avaliação da qualidade de vida, os valores do quesito limitações das atividades físicas, demonstraram pior pontuação com correlação negativa com a diferença das distâncias percorridas (r = –0,311,p = 0,051).

Conclusões: o desempenho do TC6 min em crianças asmáticas avaliado através da dis-tância percorrida é significativamente inferior aos valores previstos para saudáveis da mesma faixa etária, sendo influenciado diretamente pelo sedentarismo.

© 2013 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

Introdução

A asma é uma afecção comum, caracterizada como uma doença inflamatória na qual diversas células e mediadores têm forte participação,1,2 que repercute sobre o portador e

sua família de forma complexa e prolongada.2 A prevalência

no Brasil entre escolares e adolescentes é estimada entre

19% e 24%, respectivamente, com variações regionais.3

Crianças asmáticas geralmente são menos ativas que seus pares não doentes.4 Essa redução na atividade física é justificada por fatores como: comportamento em relação à doença, tabus da família, orientações mal embasadas,

per-cepção inacurada dos sintomas, dentre outros.4,5 A redução

da capacidade de exercitar-se, participação em atividades recreacionais e a própria dispneia geram limitação funcio-nais, de modo que é criado um ciclo vicioso que deteriora progressivamente a performance cardiorrespiratória.4-6

O sedentarismo pode estar entre os fatores de risco mais citados para aumento na prevalência e severidade da

asma.6 Rasmussen et al.demonstraram, em 757 crianças

dinamarquesas, que a diminuição da atividade física correlacionou-se ao surgimento de asma na

adolescên-cia.7 Recentemente, foi observado que crianças com asma

apresentam redução do consumo máximo de oxigênio e

endurance dos músculos de membros inferiores quando

comparadas às saudáveis.8

A medição objetiva da aptidão física em crianças asmá-ticas parece importante para determinar a capacidade de exercício, a fim de orientar a prescrição de atividade física

e reabilitação adequadas à gravidade da doença.9

Testes de caminhada são utilizados na avaliação da capa-cidade funcional de pneumopatas com limitação ao esfo-rço. Apresentam-se fáceis de executar, reprodutíveis, de baixo custo, e demonstram boa correlação com o consumo máximo de oxigênio obtido em testes cardiopulmonares máximos.10,11

Apesar da descrição de testes de esforço submáximos em

adultos pneumopatas,12 a literatura é escassa em crianças

asmáticas, especialmente com doenças moderada e gra-ve. Em pesquisa nos últimos dez anos no Pubmed com as palavras-chaveexercise, test, child e asthma, observa-se que a maioria dos estudos tem enfoque no broncoespasmo induzido por exercício, deixando pouco clara a avaliação da capacidade funcional e suas relações com função pulmonar, nível de atividade física, índice de massa corpórea, uso de medicações e qualidade de vida, justificando este estudo.

Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi comparar o desempenho físico e as respostas cardiorrespiratórias obti-das no TC 6min em crianças com asma moderada e grave com valores de referência para saudáveis de mesma faixa etária, e correlacioná-las com possíveis variáveis interve-nientes.

Material e métodos

(3)

da Asma,1 com idade entre seis e 16 anos, recrutadas no ambulatório de pneumologia pediátrica e fisioterapia res-piratória do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), no período de outubro de 2011 a março de 2013. Na avaliação, as crianças se encontravam com esta-bilidade clínica, fora do período de crise e com capacidade cognitiva para realizar os procedimentos.

Foram excluídos portadores de outras doenças pulmona-res ou musculoesqueléticas crônicas, assim como portado-res de dificuldade cognitiva suficiente para não compreen-der as solicitações das provas.

Pais e responsáveis assinaram termo de consentimento livre eesclarecido, e o estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do IMIP, parecer nº (1.900-10). Não foi oferecido qualquer tipo de remuneração para a partici-pação no estudo.

Procedimento de mensuração e coleta de dados

Após entrevista para preenchimento da ficha de anamnese e identificação, foram coletados dados referentes à avaliação do nível de atividade física basal, mensuração do peso e estatura e aplicado questionário de qualidade de vida. Por fim, procedeu-se o teste de função pulmonar e as crianças foram encaminhadas para realização do TC 6min. Os testes foram realizados pela pesquisadora principal (LBA) e um pro-fissional colaborador devidamente treinado (DARGS).

Para avaliar o nível de atividade física basal, foi aplicado

um escore adaptado a partir do questionário HLPA (Habitual

level physical activity) de Santuz et al.13 Nele, as gradações estabelecidas foram: 0 (sedentário), 1 (atividade regular até 2 horas por semana) e 2 (atividade competitiva ou rea-lizada mais que 2 horas por semana).

A mensuração da altura (metros) e peso (Kilogramas) foi feita em balança antropométrica (Filizola®, São Paulo, SP, Brasil), com as crianças descalças e usando roupas leves (shorts e camisetas). Com as medidas obtidas, os participan-tes foram classificados em eutróficos, sobrepeso e obesida-de, conforme o índice de massa corpórea para o gênero.

Função pulmonar

A avaliação da função pulmonar foi realizada através da espirometria, utilizando-se um espirômetro portátil digital

(Clement Clarke International – England, modelo OneFlow®)

e os procedimentos técnicos, critérios de aceitabilidade e

reprodutibilidade seguiram as normas da ATS/ERS.14 Foram

determinados o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), a capacidade vital forçada (CVF), o pico de fluxo expiratório (PFE) e a relação VEF1/CVF. Para reali-zação da espirometria, as crianças não utilizaram bronco-dilatador de curta duração até quatro horas antes do teste. Foi necessário um tempo de 5 a 10 minutos para repouso antes da sua realização.

Após instruções, as crianças foram orientadas a iniciar o exame. Enfatizou-se uma inspiração máxima, seguida de uma expiração máxima, rápida, seguindo os critérios estabeleci-dos pela ATS.14 Os testes foram realizados individualmente, em posição ortostática com uso de clipe nasal. Para melhor visualização dos resultados, os valores espirométricos foram expressos em valores absolutos e percentual do previsto.15

Teste de caminhada de seis minutos

Foi avaliada a capacidade funcional submáxima através do

TC 6min,conforme padronização da ATS,11 em um corredor

plano de 30 metros. Após repouso de 20 minutos, a criança foi orientada a caminhar a maior distância possível durante seis minutos, sem correr, podendo interromper o teste a qualquer momento. A cada minuto era estimulada verbal-mente, conforme padronização, e ao final de seis minutos foi solicitado que parasse onde estivesse, para registro da distância percorrida total em metros.

Os parâmetros avaliados no pré e pós-teste incluíram frequência cardíaca (FC) e saturação de pulso de oxigênio

(SpO2) através do oxímetro de pulso (marca EMAI®, modelo

OXP-10, Equipamentos médicos hospitalares – São Paulo), pressão arterial através de um esfigmomanômetro (CE0050, Tycos/Welch Allyn, Skaneateles Falls, New York), frequên-cia respiratória (FR) (contados pelas incursões da parede torácica por minuto) e a pontuação da escala modificada

de Borg para medir a intensidade da dispneia.16

Os critérios de interrupção do teste foram cansaço ou dispneia intensa expressos pelo paciente, SpO2 < 85% ou recusa em continuar o exame.

A partir dos valores de referência sugeridos por Priesnitz et al.17 para crianças brasileiras saudáveis, foi calculada a

distância percorrida predita no TC 6min para as crianças asmáticas, utilizando-se a fórmula TC 6min = 145,343 +

[11,78 × Idade(anos)] + [292,22 × Altura(metros)] + [0,611 ×

(FCFinal-FCInicial)] − [2,684 × Peso(Kg)] para avaliação do desem-penho no teste. A escolha para a aplicação desta fórmula se deve ao fato de que foi a única desenvolvida para crianças brasileiras, embora tenha sido elaborada para indivíduos saudáveis. Além disso, o cálculo da distância prevista leva em consideração variáveis que também foram avaliadas no estudo, como idade, altura e peso. A partir desses valores obteve-se a diferença de médias entre a distância percorri-da pelo paciente no TC 6min (DPpac) e distância percorripercorri-da prevista (DPprev).

Qualidade de vida em asma

A avaliação da QV foi realizada através do Pediatric asthma

quality of life questionnaire (PAQLQ), validado em

portu-guês.18 O PAQLQ contém 23 questões para grupos etários de

7 a 17 anos e abrange três domínios: sintomas (dez ques -tões), limitações das atividades físicas (cinco questões) e emoções (oito questões). As perguntas são realizadas face a face, sem a presença dos pais e direcionadas às expe-riências vivenciadas na semana anterior à entrevista. A avaliação é medida por uma escala de respostas de sete

pontos, onde 1 indica máximo prejuízo e 7 nenhum prejuí -zo, de maneira que, quanto maior o valor final, melhor será

a QV do paciente.18,19 Os resultados foram expressos como

médias dos escores totais.

Análise estatística

(4)

Para comparação de médias foi utilizado teste t Student. Para avaliar a correlação da diferença da distância perco-rrida no TC 6min e a prevista com variáveis intervenientes (função pulmonar, peso, altura, FC, diferença da FC, Borg e qualidade de vida) utilizou-se coeficiente de correlação de Pearson (distribuição simétrica). Adotado nível de signifi-cância de 5%. As análises e processamento dos dados foram realizados no STATA 12.1SE.

Resultados

Foram incluídas 40 crianças com asma moderada e grave, média de idade de 11,3±2,1 anos, sendo 52,5% do sexo mas-culino. A caracterização da amostra com os dados antro-pométricos, função pulmonar, trofismo, nível de atividade física basal, medicações em uso e distância percorrida no TC 6min estão demonstrados na tabela 1.

Tabela 1 Caracterização da amostra do estudoa

Variáveis analisadas Valor

Idade em anos (média ± DP) 11,3 ± 2,1

Sexo masculino 52,5%

Peso (média ± DP) 40,8 ± 12,6

Altura (média ± DP) 1,5 ± 0,1

IMC (média ± DP) 18,7 ± 3,5

Eutrófico 70%

Sobrepeso/obesidade 30%

Função pulmonar (% do previsto)

VEF1 79% ± 0,12

CVF 88% ± 14

Rel. VEF1/CVF 0,84% ± 0,09

PFE 341,3 ± 66,6

Nível de atividade física basal (horas/sem)

Sedentário 70%

> duas atividades 30%

Tipo de asma

Moderada 35%

Grave 65%

Uso de medicações

CI baixa/média dose 40%

CI baixa/média dose + b2 longa duração 60%

TC 6min

Distância percorrida pelo paciente (m) 430,4 ± 116,7 Distância prevista (m) 600,5 ± 42,9 IMC, índice de massa corporal; VEF1, volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF, capacidade vital forçada; PFE, pico de fluxo expiratório; CI, corticóide inalatório; b2, medicação broncodilatadora agonista de ação curta; DP, desvio padrão. TC 6min, teste de caminhada de seis minutos.

a Resultados apresentados em média e desvio-padrão da média.

A média da distância percorrida, em metros, no

tes-te caminhada de seis minutos (DPpac) foi 430,3 ± 116,7,

enquanto que a média da distância prevista pela fórmula (DPprev) foi 600,5 ± 42,9, sendo essa diferença significativa

(p < 0,001). A DPpac representou 71,9 ± 19,7% dos valores

previstos. Quanto maior a diferença entre DPpac e DPprev, menor condicionamento e aptidão física da criança são sugeridos.

A tabela 2 mostra a comparação de médias entre a DPpac com variáveis clínicas e demográficas. Houve influência sig-nificativa do nível basal de atividade física, onde as crianças sedentárias exibiram uma distância percorrida menor.

A diferença da DPpac com a DPprev demonstrou

corre-lação positiva com a idade (r = 0,373, p = 0,018) e corre

-lação negativa com a FC ao final do teste (r = −0,518, p <

0,001) e a diferença da frequência cardíaca (antes e após

TC6min) (r = −0,359, p = 0,023), como mostra a figura 1.

Em relação à avaliação da qualidade de vida, o somatório total dos escores do PAQLQ verificado foi 5,13 ± 1,24. O quesito de maior comprometimento na qualidade de vida nas crianças foi limitação das atividades físicas 4,89 ± 0,11, seguido do item sintomas 5,03 ± 1,55 e, por fim, emoções 5,18 ± 0,14.

Observou-se correlação negativa significativa da dife-rença da DPpac com DPprev apenas com o critério

limi-tações das atividades (r = −0,311, p = 0,051). Com os crité -rios emoções e sintomas, assim como o somatório total do questionário, não houve correlação significativa (fig. 2).

Discussão

Os resultados demonstram que as crianças com asma mode-rada e grave apresentam uma distância percorrida no TC 6min inferior aos valores previstos para as saudáveis, com

média de 71,9% do previsto para idade e altura. Essa dife -rença média na distância sugere menor condicionamento físico dessa população.

Diversos fatores antropométricos, clínicos e emocio-nais podem influenciar a distância percorrida num tes-te de caminhada, tanto em saudáveis quanto doentes-tes. Demonstrou-se, no presente estudo, que crianças que possuíam uma atividade física basal menor, isto é, mais sedentárias, apresentaram menor distância percorrida no TC 6mim quando comparada as que praticavam mais que duas ou três horas de atividades semanais. Corroborando com essa afirmação, Teoh et al. relatam que até 30% das crianças asmáticas apresentam limitação ao exercício, com redução diária de atividade física.20 Iwana et al. também encontraram correlação significativa entre o nível de ati-vidade física basal e a distância percorrida no TC 6min em crianças asmáticas.21

Estudos prévios afirmam que vários fatores podem influenciar a habilidade do asmático para o exercício físi-co, dentre eles, o nível de atividade habitual é fortemente citado.21,22 Afirma-se ainda que, apesar de os sintomas da doença inclinarem as crianças a evitar atividades físicas, de acordo com diretrizes atuais de tratamento, o diagnóstico de asma não deve impedi-las de praticar atividade física, uma vez que atividades de intensidade moderada são um

(5)

Um estudo americano com 137 crianças asmáticas

demonstrou que estas são menos ativas que seus pares em todas as classificações utilizadas para definir nível de ati-vidade física.23 Na Alemanha, foi realizado um inquérito em 46 escolas, quando foram entrevistados 254 educadores físicos, verificando que somente 60% das crianças asmáti-cas participavam de atividades físiasmáti-cas.24

As crianças com doença respiratória podem ter reduzida atividade física, seja devido à limitação respiratória primá-ria ou ainda causas secundáprimá-rias. A retroalimentação nega-tiva pode ser criada, onde a redução da atividade habitual provoca um descondicionamento, levando a uma redução da capacidade de exercício. Isto poderá causar impacto sobre a saúde da criança em geral, bem-estar e qualidade

de vida.19 Lang et al. demonstraram que as crianças cujos

pais acreditam que o exercício pode melhorar o controle da asma são mais ativas.22

Estudo prévio que também avaliou capacidade funcional em crianças asmáticas observou que 88% dos asmáticos e 56% de crianças saudáveis realizavam menos que duas horas semanais de atividade física, sendo essa diferença signifi-cativa. Demonstram ainda que os pais relataram em ques-tionários que julgam a atividade física perigosa para seus filhos, por medo de desencadear crises.25 Por essa razão, a maioria das crianças é dispensada das atividades físicas obrigatórias nas escolas, fato também observado, apesar de não mensurado, em diversas crianças em nosso estudo.

Sabe-se que a quantificação da atividade física diária por meio de questionários tem a vantagem do baixo custo e da facilidade de aplicação, porém, depende de fatores como

compreensão das informações e características individuais, como idade, cultura, escolaridade. Estudos com sensores de movimento são sugeridos para que uma amostra real-mente sedentária seja avaliada.

Não foi observada, neste estudo, associação da distância percorrida no TC 6min com sexo, severidade da asma, trofis-mo e medicações em uso. De acordo com nossos resultados, outro estudo também não observou relação da aptidão físi-ca e a severidade da asma, porém, relata forte associação do consumo máximo de oxigênio com fatores psicológicos, como a competência percebida durante atividade física e atitudes em relação ao exercício.23 A distância percorrida por crianças também não apresentou influência do sexo em diversos estudos com saudáveis,17,26,27 e tal resultado

pode ser explicado pela maior semelhança musculoesque-lética encontrada entre os sexos antes da adolescência. Em relação ao IMC, os resultados com crianças saudáveis são contrastantes.17,27 Não foram encontrados relatos na

literatura sobre a influência do uso de medicações e a

per-formance do TC 6min.

Neste estudo, foi avaliada a diferença da distância per-corrida pelo paciente e a prevista na equação de regres-são para crianças brasileiras saudáveis, sugerindo-se que, quanto maior essa diferença, menor o condicionamento e aptidão física da criança. Essa diferença das distâncias percorridas apresentou correlação positiva com a idade, onde se observou que crianças maiores apresentaram maior diferença. Estudos com crianças saudáveis relatam que, quanto maior a criança, maior será a distância percorrida no teste.17,26,28 Esses resultados são contrários ao nosso, e

Tabela 1 Comparação da distância percorrida, segundo variáveis demográficas e clínicas

Variável n Média DP Mínimo Máximo Valor pa

Sexo 0,778

Masculino 21 435,4 136,7 240,0 650

Feminino 19 424,8 93,3 226,6 564

Tipo de asma 0,807

Moderada 14 424,1 105,6 240,0 602

Grave 26 433,7 124.2 226,6 650

Nível basal de atividade 0,040b

Sedentário 28 409,0 110,6 226,6 602

Atividade até 2 h 10 495,9 110,2 260,0 650

> 3 h/esportes 2 402,1 185,5 270,9 533

Trofismo 0,515

Eutrófico 28 422,4 111,7 248,0 650

Sobrepeso/Obesidade 12 449,1 130,8 226,6 607

Medicação em uso 0,461c

CI baixa/média dose 16 418,6 133,1 240,0 649,5

CI baixa/média dose + b2 longa 23 446,5 100,9 226,6 602,2

CI alta dose + b2 longa 1 248,0 - 248,0 248,0

CI, corticoide inalatório; b2, medicação broncodilatadora agonista de ação longa; DP, desvio-padrão. a Teste t Student.

b Comparação dos grupos Sedentário e Atividade até 2 h.

(6)

pode ser justificado pelo fato de que nossa amostra contin-ha 65% de crianças com asma grave, o que pode explicar a baixa capacidade de exercício dessa população, ressaltan-do que não foram encontraressaltan-dos esturessaltan-dos que demonstrem essa correlação com crianças asmáticas.

Também foi observada correlação negativa da diferença entre as distâncias percorrida e prevista com a FC ao final do teste e com a diferença da frequência cardíaca (antes e após TC 6min), onde as crianças que obtiveram melhor des-empenho no teste, ou seja, se aproximaram mais dos valo-res previstos, apvalo-resentaram maior FC ao final do mesmo, e maior diferença nos valores da frequência cardíaca. Como era esperado, a FC elevou ao caminhar maiores distâncias, respondendo às demandas fisiológicas exigidas e correspon-dendo ao melhor desempenho obtido no teste.

Em crianças saudáveis, alguns estudos demonstram corre-lação entre altura e sexo com a distância percorrida, com os mais altos e do gênero masculino possuindo maior des-empenho17,26,27; porém, não foi observada essa associação

neste estudo.

Sugere-se que a avaliação da qualidade de vida deva ser incorporada à avaliação clínica, uma vez que a doença crô-nica repercute nas diversas dimensões da vida dos pacien-tes. A QV de crianças asmáticas pode ser influenciada por um conjunto de fatores que interagem, como gravidade dos sintomas, morbidade, sexo e capacidade de lidar com dificuldades, ficando clara a associação entre prejuízo na QV e asma.19,29 Neste estudo, observou-se um escore total do PAQLQ com média 5,13 ± 1,24, indicando boa QV; porém, ao avaliar os quesitos separadamente, verificou-se pior valor médio no aspecto limitação das atividades, que apresentou correlação negativa com a diferença das dis-tâncias percorrida e prevista, indicando que crianças com mais limitações físicas apresentaram pior performance na distância percorrida.

Alguns estudos também demonstraram valores semelhan-tes de escore total do PAQLQ em crianças asmáticas, que

variam com médias de 5,03 ± 0,730 e 5,7 ± 1,3.29 No estudo

de Basaran et al.,30 tal como no nosso, o escore que

apre-sentou pior valor foi limitação das atividades, onde 86% tinham dificuldades para correr, 52% para escaladas e 38% para jogar futebol ou outros esportes.

A redução dos níveis de atividade física, e, ao mesmo tempo, um aumento na incidência e prevalência da asma em crianças, é motivo de preocupação, sendo provável que resulte em um número crescente de indivíduos asmáticos que não conseguem atingir bom estado de saúde e quali-dade de vida.4

Testes formais de exercícios como TC 6min poderão aju-dar a determinar se a etiologia da capacidade reduzida ao exercício em crianças com doença respiratória é devida à limitação cardiorrespiratória ou ao mau condicionamento físico. Muitos autores têm relatado que o valor pontual do

VEF1 reflete fracamente experiências diárias dos pacientes

e não avalia o impacto que a asma causa no indivíduo.29,30

Por essa razão, sugere-se que testes de esforço submáximos possam ser incorporados na avaliação desses pacientes.

O tamanho da amostra, a forma de avaliar o sedentarismo e ausência de estudos com crianças asmáticas para compa-rar resultados são as principais limitações deste estudo. Futuros trabalhos com esses requisitos, além da inclusão de

400

300

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100

0

Distância pr

evista (m) - distância per

corrida (m)

r = 0,373 (p = 0,018)

6 8 10 12 14 16

Idade (anos)

400

300

200

100

0

Difer

ença da distância per

corrida - distância pr

evista

r = –0,433 (p = 0,005)

Frequência cardíaca final - Frequência cardíaca inicial

-20 0 20 40

400

300

200

100

0

r = –0,518 (p < 0,001)

Frequência cardíaca ao final do teste

60 80 100 120 140

Distância pr

evista (m) - distância per

corrida (m)

Figura 1 Coeficiente de correlação de entre a diferença da

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grupos comparativos e testes de esforço máximos, poderão contribuir para mais esclarecimentos sobre o tema.

Em conclusão, os resultados do presente estudo demons-tram que as crianças com asma moderada e grave avaliadas

apresentaram pior performance do teste de caminhada de

seis minutos quando a distância percorrida foi comparada a valores preditos para saudáveis, sendo o sedentarismo o principal fator que influenciou na distância percorrida. Os valores da diferença da distância percorrida pela criança e a predita se aproximaram nos mais jovens e nos que apre-sentaram maior frequência cardíaca ao final do teste.

A qualidade de vida apresentou-se boa no escore geral, porém, no quesito limitação de atividades físicas demons-traram piores valores, sendo este correlacionado com uma maior diferença nos valores da distância percorrida. Um melhor entendimento das associações e da evolução da capacidade funcional constitui-se tema de relevância para clínica pediátrica, contribuindo para aprimorar o acompan-hamento de crianças com asma

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

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200

100

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Distância pr

evista (m) - distância per

corrida (m)

r = –0,037 (p = 0,821)

Sintomas

2 3 4 5 6 7

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300

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0

Distância pr

evista (m) - distância per

corrida (m)

r = –0,295 (p = 0,064)

Emoções

2 3 4 5 6 7

400

300

200

100

0

Distância pr

evista (m) - distância per

corrida (m)

r = –0,311 (p = 0,051)

Limitação de atividade física

2 3 4 5 6 7

400

300

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100

0

r = –0,242 (p = 0,133)

Escore total (PAQLQ)

2 3 4 5 6 7

Distância pr

evista (m) - distância per

corrida (m)

Figura 2 Coeficiente de correlação de entre a diferença da distância percorrida no TC6min e os escores do PAQLQ (limitações

das atividades físicas, emoções, sintomas e escore total) respectivamente da esquerda para direita. TC6min, teste de caminha-da de seis minutos; PAQLQ, Pediatric Asthma Quality of Life Questionnaire.

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