CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
PROPRIEDADES TRIBOMECÂNICAS DE SUPERFÍCIES DE
TITÂNIO CARBONITRETADAS POR PLASMA
Ricardo César da Silva Rocha
Orientador: Prof. Dr. Clodomiro Alves Junior
Março de 2012 Natal - RN
2012
PROPRIEDADES TRIBOMECÂNICAS DE SUPERFÍCIES DE
TITÂNIO CARBONITRETADAS POR PLASMA
Orientador: Prof. Dr. Clodomiro Alves Júnior
Natal 2012
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, familiares, amigos e à minha
esposa Anaile Rosana e o meu filho José Ricardo. Essas pessoas sempre
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por ter me dado saúde e força para enfrentar este
caminho.
Ao meu orientador professor Dr. Clodomiro Alves Junior, responsável por todo
conhecimento e sucesso que adquiri durante todo esse tempo como seu aluno.
Aos professores Dr. Marcos A. Zen Vasconcellos, Dra . Ruth Hinrichs e Dr.
Cristiano Krug que me orientaram durante minha permanência em Porto Alegre
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aos quais peço
conselhos até hoje.
Aos professores do PPGCEM (UFRN) que me transmitiram parte do
conhecimento para a realização desse trabalho, ao professor Dr. Custódio L. B.
G. Neto pelos conselhos e o apoio oferecido.
Aos amigos e colaboradores do LABPLASMA: Júlio Barbosa, Danilo Braz,
Antonio Nunes, Jussier de Oliveira, Maria de lourdes, Thiago Medeiros, Arlindo
Balbino e a todos os integrantes deste laboratório que tem muito a oferecer para
a comunidade científica.
Aos grandes amigos e pesquisadores do Instituto de Física da UFRGS: Eduardo
Blando, Saulo Jacobsen, Ivan Kaufmann, Júlio Schoffen, Fabrício Casarin e
Saulo Lima.
RESUMO
Compostos intersticiais de titânio têm sido extensivamente estudados devido à larga
faixa de propriedades adquiridas quando átomos de C, N, O e H são adicionados. Neste
trabalho, superfícies de TiCxNy foram produzidas por tratamento termoquímico auxiliado por
plasma de diferentes misturas de N2 + Ar + CH4. Foi fixado o fluxo de Ar em 4 sccm
variando-se os fluxos de N2 e CH4. Durante o tratamento termoquímico, o plasma foi
monitorado por EEO para investigação da influência das espécies ativas. Após o tratamento,
as superfícies das amostras foram analisadas quanto ao perfil de concentração de C e N, fases
cristalinas e fases amorfas. Também foram analisadas suas propriedades tribomecânicas
através da medida de nanodureza e da determinação do coeficiente de atrito. As áreas
desgastadas foram avaliadas por perfilometria e microscopia eletrônica de varredura (MEV)
com o intuito de verificar os mecanismos de desgastes presentes em cada material.
Verificou-se que propriedades como dureza e coeficiente de atrito variavam com a intensidade das
espécies, sugerindo o uso da mesma como parâmetro de processos a plasma.
ABSTRACT
Interstitial compounds of titanium have been mainly studied due to the large range of
properties acquired when C, N, O and H atoms are added. In this work, surfaces of TiCxNy
were produced by thermochemical treatments assisted by plasma with different proportions of
Ar + N2 + CH4 gas mixture. The Ar gas flow was fixed in 4 sccm, varying only N2 and CH4
gas flows. During the thermochemical treatment, the plasma was monitored by Optical
Emission Spectroscopy (OES) for the investigation of the influence of active species. After
treatments, C and N concentration profile, crystalline and amorphous phases were analyzed
by Nuclear Reaction (NRA). Besides tribomechanical properties of the Ti surface were
studied through the nanohardness measurements and friction coefficient determination. The
worn areas were evaluated by profilometry and Scanning Electronic Microscope (SEM) in
order to verify the wear mechanism present in each material. It has been seen which the
properties like nanohardness and friction coefficient have strong relation with luminous
intensity of species of the plasma, suggesting a using of this characteristic as a parameter of
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Curva característica de voltagem X corrente entre dois eletrodos, numa descarga
elétrica em gases (ALVES JR, 2001)...23
Figura 2 - Perfil visual do plasma em regime anômalo que retrata as regiões da bainha e
luminescência catódica (BARBOSA, 2010)...25
Figura 3 - Esquema básico de um equipamento de nitretação iônica (ALVES JR,
2001)...27
Figura 4- curva de voltagem versus corrente elétrica, mostrando a condição onde ocorre a
nitretação iônica (BARBOSA, 2007)...28
Figura 5- Representação simplificada das interações do plasma com a superfície (BARBOSA,
2010)...32
Figura 6 - Ilustração representativa das duas fases alotrópicas do titânio com os seus seguintes
parâmetros de rede. Em (a) fase α e (b) fase (LUTJERING, G., WILLIAMS, J.C.,
2003)...36
Figura 7. Fluxograma do plano de trabalho resumindo todas as etapas desde o diagnóstico de
plasma até as análises do material processado...42
Figura 8 - Esquema de montagem do reator com o sistema de EEO (BARBOSA,
2007)...44
Figura 9 - Espectro de emissão de N2 + Ar + CH4, condição em que todos os gases estão com
o fluxo de 4 sccm...45
Figura 10 - Curva das intensidades das espécies presentes no plasma de 4 N2 + 4 Ar quando
adicionados diferentes quantidades de CH4...46
Figura 11 - Esquema do reator de plasma usado para o processo de carbonitretação
juntamente com o sistema de alimentação de gases exaustão...48
Figura 13 - Diagrama de estados energéticos quando o laser incide no substrato. Esta imagem
simplifica as formas de interação do feixe com a matéria (a) espalhamento Rayleigh; (b) e (c)
Stokes; (d) espalhamento Raman anti-Stokes (e) fluorescência (LIMA, S.C.,
2010)...55
Figura 14 - Desenho esquemático do sistema de nanoindentação (OLIVER, W.C.,
1992)...57
Figura 15 - Representação esquemática da geometria da superfície da amostra em dois
momentos de uma indentação (OLIVER, W.C., 2003)...58
Figura 16 - Ciclo completo de carregamento e descarregamento de um teste de
nanoindentação (OLIVER, W.C., 2003)...58
Figura 17 - Tribômetro tipo pino-sobre-disco PLINT TE 79...60
Figura 18 - Perfil de intensidades luminescentes associadas a três espécies em função do
acréscimo de gás CH4 na mistura de plasma de 3 N2 - 1 Ar - x CH4...64
Figura 19 - Perfil de intensidades luminescentes associadas a três espécies em função do
acréscimo de gás CH4 na mistura de plasma de 2 N2 - 4 Ar - x CH4...66
Figura 20 - Perfil de intensidades luminescentes associadas a três espécies em função do
acréscimo de gás CH4 na mistura de plasma de 4 N2 - 4 Ar - x CH4...67
Figura 21 - Perfil de concentração em profudidade de 14N para a reação 15N(ρα,ɣ) para amostras de Ti tratadas para a configuração 3 N2 - 1 Ar - x CH4 (onde x varia de 1,2 e 3
sccm)...68
Figura 22 -. Perfil de concentração em profudidade de 12C para a reação 12C(α,α)12C para amostras de Ti tratadas para a configuração 3 N2 - 1 Ar - x CH4 (onde x varia de 1,2 e 3
amostras de Ti tratadas para a configuração 2 N2 - 4 Ar - x CH4 (onde x varia de 2,3 e 4
sccm)...70
Figura 24 - Perfil de concentração em profudidade de 12C para a reação 12C(α,α)12C para amostras de Ti tratadas para a configuração 2 N2 - 4 Ar - x CH4 (onde x varia de 2,3 e 4
sccm)...70
Figura 25 - Perfil de concentração em profudidade de 14N para a reação 15N(ρα,ɣ) para amostras de Ti tratadas para a configuração 4 N2 - 4 Ar - x CH4 (onde x varia de 2,3 e 4
sccm)...72
Figura 26 - Perfil de concentração em profudidade de 12C para a reação 12C(α,α)12C para amostras de Ti tratadas para a configuração 4 N2 - 4 Ar - x CH4 (onde x varia de 2,3 e 4
sccm)...72
Figura 27 - Difratograma de raios X em ângulo rasante de 0,5° da matriz de plasma 3 N2 - 1
Ar - x CH4. Onde x varia de valores de 1,2 e 3 sccm de CH4...74
Figura 28 - Difratograma de raios X em ângulo rasante de 0,5° da matriz de plasma 2 N2 - 4
Ar - x CH4. Onde x varia de valores de 2,3 e 4 sccm de CH4...75
Figura 29 - Difratograma de raios X em ângulo rasante de 0,5° da matriz de plasma 4 N2 - 4
Ar - x CH4. Onde x varia de valores de 2,3 e 4 sccm de CH4.………...76
Figura 30 - Análise de espectroscopia micro-Raman das amostras tratadas com 3 N2 -1 Ar - x
CH4 (onde x varia de valores de 1,2 e 3 sccm de CH4)..………...78
Figura 31 - Análise de espectroscopia micro-Raman das amostras tratadas com 2 N2 -4 Ar - x
CH4 (onde x varia de valores de 2,3 e 4 sccm de CH4)..………...79
Figura 32 - Análise de espectroscopia micro-Raman das amostras tratadas com 4 N2 - 4 Ar - x
Figura 33 - Curvas de nanodureza versus profundidade de indentação, matriz (3 N2 -1 Ar - x
CH4)...82
Figura 34 - Curvas de nanodureza versus profundidade de indentação, matriz (2 N2 -4 Ar - x
CH4)...83
Figura 35 - Curvas de nanodureza versus profundidade de indentação, matriz (4 N2 -4 Ar - x
CH4)...83
Figura 36 - Coeficiente de atrito para amostras com diferentes fluxos de CH4 (das matrizes a)
3 N2 -1 Ar - x CH4, b) 2 N2 - 4 Ar - x CH4 e c) 4 N2 - 4 Ar - x CH4)...85
Figura 37 - Perfil da trilha de desgaste Profundidade versus Distância para as amostras
tratadas com diferentes fluxos de CH4 (matriz 3 N2 - 1 Ar - x
CH4)...86
Figura 38 - Perfil da trilha de desgaste Profundidade versus Distância para as amostras
tratadas com diferentes fluxos de CH4 (matriz 2 N2 - 4 Ar - x
CH4)...87
Figura 39 - Perfil da trilha de desgaste Profundidade versus Distância para as amostras
tratadas com diferentes fluxos de CH4 (matriz 4 N2 - 4 Ar - x
CH4)...88
Figura 40 - Fotos de MEV das trilhas desgastadas das amostras tratadas com diferentes fluxos
de CH4 (matriz 3 N2 - 1 Ar - x CH4, tratadas com a) 1, b) 2 e c) 3 sccm CH4)...89
Figura 41 - Fotos de MEV das trilhas desgastadas das amostras tratadas com diferentes fluxos
de CH4 (matriz 3 N2 - 1 Ar - x CH4, tratadas com a) 1, b) 2 e c) 3 sccm CH4)...90
Figura 42 - Fotos de MEV das trilhas desgastadas das amostras tratadas com diferentes fluxos
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Quadro de comparativo das propriedades do Ti e outros metais comerciais
(LUTJERING, G.; WILLIAMS, J. C, 2003)………...36
Tabela 3.1 - Transições das espécies selecionadas para o diagnóstico de plasma...45
Tabela 3.2 - Em cada grupo de tratamento as condições de fluxo de N2 e Ar (em sccm) foram
mantidos constantes sendo variável apenas o fluxo de CH4...49
Tabela 4.1. Dados das posições das bandas D e G, largura da meia altura e suas
intensidades...80
Tabela 4.2. Dados das intensidades integradas das bandas D e G e a relação ( ) que se
comportam inversamente proporcional ao tamanho de cristalito ...81
LISTA DE SÍMBOLOS
C – Átomo de carbono O – Átomo de oxigênio N – Átomo de nitrogênio H – Átomo de hidrogênio N2 – Gás nitrogênio
Ar – Gás argônio CH4– Gás Metano
C2H2– Gás acetileno
SCCM (Standard Centimeter Cubic per Minute) - Unidade de vazão de gás
e – Elétron
TiCN- Carbonitreto de Titânio
TiC – Carbeto de Titânio TiN – Nitreto de Titânio
Go– Partícula neutra no estado fundamental
G+ - Partícula carregada positivamente no estado fundamental
Ve– Potencial elétrico
Vbmin– Potencial mínimo de plasma
Vb– Potencial de ruptura
EEO – Espectroscopia por emissão óptica N2+ - Espécie molecular iônica
CH – Espécie radical Hα – Espécie atômica
– Comprimento de onda
NRA – Análise por Reação Nuclear
α - Partículas
ɣ - Raios gama p – Prótons
15
N – Isótopo
GIXRD - Difração de raios x em ângulo rasante
D – Banda de energia G – Banda de energia
( ) – Intensidade das bandas He – Hélio
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO... ... ...18
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ... 22
2.1 O PLASMA. ... 22
2.2 MODIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIE POR PLASMA ... 26
2.2.1 O processo ... 27
2.2.2 interação do plasma sobre a supericie ... ...31
2.3 TITANIUM: ASPÉCTOS GERAIS ... 32
2.3.1 Estrtura, propriedades físicas e mecânicas do titânio ... 35
2.3.2 classificação das ligas de titânio ... 37
2.3.3 Carbonitreto de titânio (TiCxN1-x)... 39
3. MATERIAIS E MÉTODOS ... 42
3.1 Diagnóstico do plasma da mistura N2 - Ar - CH4 usando diferentes fluxos ...43
3.1.1 Gráficos das Intensidades das espécies versus fluxo de CH4 ...45
3.1.2 Seleção Das Condições De Realce Das Espécies Para Tratamento Termoquímico...47
3.2 TRATAMENTO TERMOQUÍMICO EM DISCOS DE TITÂNIO ... 47
3.3.1CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS CARBONITETADAS...50
3.3.2 Análise por reação nuclear (NRA)...50
3.3.3 Difração em ângulo razante (GIXRD) ... 52
3.3.4 Espectroscopia micro-Raman ... 53
3.4.7 Ensaios de perfilometria...61
3.4.8 Microscopia eletrônica...61
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 64
4.1 SELEÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRATAMENTO TERMOQUÍMICO POR DIAGNOSTICO DE PLASMA ... 64
4.2 ANÁLISES POR REAÇÃO NUCLEAR RESSONANTE...68
4.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X EM ÂNGULO RASANTE (GIXRD) ... 73
4.4 ESPECTROSCOPIA MICRO-RAMAN ... 77
4.5 NANODUREZA...81
4.6 ENSAIO DE PINO - SOBRE - DISCO...84
4.7 PERFILOMETRIA...86
4.8 MICROSCOPIA ELETRONICA DE VARREDURA (MEV)...88
5 CONCLUSÕES ... 93
1 INTRODUÇÃO
O titânio e suas ligas possuem várias propriedades que as habilitam para serem usadas
em muitas aplicações industriais. Algumas de suas vantagens são: excelente resistência à
corrosão e à erosão, baixa densidade e alta razão E/m (módulo de elasticidade/massa),
permitindo a construção de estruturas mais leves e mais resistentes; capacidade de trabalho
em altas temperaturas e, em alguns casos, propriedades criogênicas. Entretanto, elas
apresentam algumas limitações que reduzem o seu campo de aplicações, especialmente
naquelas que requerem boas propriedades tribológicas (por exemplo, aplicações de engenharia
como engrenagens e rolamentos). Este problema pode ser superado utilizando tecnologias de
modificação de superfície como revestimentos, deposição de filmes finos, tratamentos
térmicos e termoquímicos (ZHECHEVA, 2005; FANG, 2004). Em diferentes contribuições,
já se demonstrou que o tratamento de nitretação pode melhorar as propriedades tribológicas
da superfície dos materiais (BERBERICH, 2001; CHEN, 1997). O Ti, por ser um metal muito
sensível à presença de elementos intersticiais, tem suas propriedades físico-químicas
diretamente alteradas. Isto porque a última camada de sua distribuição eletrônica é incompleta
([Ar] 3d2 4s2) e está organizada de tal forma que permite apresentar cinco estados diferentes
de oxidação (Ti-I, Ti0, TiII, TiIII, TiIV) o que possibilita ao mesmo reagir e formar solução
sólida com elementos com menor raio atômico como oxigênio, carbono, nitrogênio e
hidrogênio, onde estes se alojariam nos interstícios de sua rede (JOSHI, 2006; GUEMMAZ et
al., 1996).
O tratamento termoquímico auxiliado por plasma é uma técnica bastante aplicada na
modificação de superfícies de titânio, pois esta técnica permite a inserção de diferentes tipos
tribomecânicas, de molhabilidade, de refletância óptica, rugosidade, textura da superfície,
entre outras (BRAZ, 2010).
Carbetos e nitretos de metais de transição despertam grandes interesse devido às suas
propriedades como alta dureza e módulo de elasticidade, alta condutividade elétrica,
considerável resistência mecânica a altas temperaturas, alta resistência a corrosão e a
decomposição (TOTH, 1971). Camadas de TiCN apresentam um baixo coeficiente de atrito e
uma melhor resistência ao desgaste que camadas de TiN, independente do material associado
(KNOTEK, 1992). As múltiplas fases dos filmes finos de TiCN, combinam as vantagens de
alta dureza do TiC e alta ductilidade e força de adesão do TiN, possuindo melhores
propriedades mecânicas que uma única fase de TiC ou TiN (RANDHAWA, 1987; HUBER,
2003). A morfologia, estrutura e composição do TiCN foram investigadas em vários estudos
(SCHNEIDER, 1995; BULL, 2003). Foi mostrado que o TiCN consiste de uma solução sólida
de TiN e TiC , numa larga faixa de composição (TiC0,71 a TiC0,98) que incorpora as vantagens
e características de ambos. O desempenho de camadas de TiCN é especialmente superior ao
de camadas de TiN em aplicações tribológicas onde o mecanismo de desgaste abrasivo é
dominante. Isto é devido à diferença de dureza e a presença do carbono que age como
lubrificante diminuindo o desgaste e o coeficiente de atrito (WEI, 2001; DRIEMEIER, 2008;
KARLSSON, 2000). O comportamento tribológico de filmes de TiCN é variado devido a
mudanças dos fatores de recobrimento que incluem o substrato, parâmetros de deposição,
estequiometria, mecanismos de desgaste, etc. (BERBERICH, 2001; CHEN, 1997).
O presente trabalho teve como objetivo modificar amostras de titânio utilizando
diferentes atmosferas de N2 + Ar + CH4. Neste caso, foram realizadas análises de
espectroscopia de emissão óptica com o intuito de caracterizar as espécies presentes no
plasma e qual a influência destas nas propriedades tribomecânicas do material. Assim, foram
No capitulo 2 é apresentado uma pequena abordagem sobre os seguintes assuntos: o
plasma e seus fundamentos, titânio e suas propriedades e aplicações dos carbonitretos.
No capitulo 3 é apresentada a metodologia utilizada para a obtenção e caracterização
das amostras de carbonitreto de titânio, desde lixamento até as análises realizadas. A análise e
a discussão dos dados são realizadas no capítulo 4 e as conclusões são apresentadas no
CAPÍTULO 2
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
2.1. O PLASMA
O plasma é geralmente definido como o quarto estado da matéria (ELIESER, S.,
ELIESER, Y, 2001). O termo “plasma”, também referido como “descarga elétrica”, “descarga
gasosa” ou “descarga luminescente”, se aplica a um gás contendo espécies neutras e
eletricamente carregadas como elétrons, íons positivos, íons negativos, átomos e moléculas.
De uma forma geral, um plasma é eletricamente neutro, sendo que qualquer
desbalanceamento de carga resultará em campos elétricos que tendem a mover as cargas de
modo a restabelecer o equilíbrio. Como resultado disso, a densidade de elétrons mais a
densidade íons negativos deve ser igual à densidade de íons positivos. O parâmetro grau de
ionização está relacionado ao número de espécies neutras que são ionizadas pelo plasma
quando este está ativo. O plasma que apresenta um grau de ionização muito menor que a
unidade, é denominado plasma frio. Em geral as características do plasma se diferenciam de
acordo com os átomos e moléculas constituintes, densidade, energia e grau de ionização deste
(ALVES JR, 2001).
Quando uma diferença de potencial é aplicada entre dois eletrodos em uma câmara
contendo um gás a baixa pressão, uma descarga pode ser iniciada entre os eletrodos. Onde,
elétrons e íons são acelerados por meio de um campo elétrico, colidindo com outras partículas
e produzindo assim mais íons e elétrons. Esse efeito é representado pela equação (equação
e- + G0→ G+ + 2e (2.1) onde G0 é o átomo ou molécula do gás no estado fundamental e G+ representa um íon deste
gás (AHMED, 1987).
Devido a essa produção de cargas, é gerada uma corrente elétrica que leva que varia
com a diferença de potencial entre os eletrodos, conforme mostra a curva da figura 1 (ALVES
JR, 2001).
Figura 1 – curva característica de corrente versus voltagem entre dois eletrodos, numa descarga elétrica em gases (ALVES JR, 2001).
A curva apresentada na figura 1 pode exibir três regiões distintas: na primeira região a
corrente é baixa devido à colisão de poucas partículas com o cátodo e à pequena quantidade
de partículas ionizadas. Isto se deve a baixa velocidade em que os íons e elétrons podem se
mover para os eletrodos. Nesta condição o gás se comporta como um mal condutor, cuja
condutividade depende de alguns parâmetros como a velocidade de produção de íons e
elétrons, o coeficiente de recombinação e da mobilidade das cargas. À medida que a tensão
o coeficiente de recombinação, e consequentemente, um decaimento na taxa de aumento da
corrente com a tensão. Logo, com o ritmo de produção dos íons e elétrons permanecendo
constante com aumento da voltagem, chega-se a uma condição limite nas quais todos os íons
e elétrons alcançam os eletrodos antes que tenha tempo de recombinar-se, sendo gerada uma
corrente de saturação. Se depois da saturação, continuar-se elevando a tensão entre os
eletrodos, a corrente voltará a aumentar devido a energia dos átomos ser suficiente para a
produção de elétrons adicionais. Assim, uma avalanche de cargas é produzida e uma tensão de
ruptura Vb surge como resposta ao circuito externo, apresentando uma variação brusca na
corrente. Esta região de descarga é usualmente chamada de descarga “Townsend”. Assim
íons, fótons e partículas neutras começam a bombardear o cátodo, elevando a taxa de elétrons
secundários tornando a descarga auto-sustentável. Os secundários são acelerados e passam a
interagir com átomos e moléculas do gás residual, produzindo pares íons-elétrons através de
colisões inelásticas. Os íons são acelerados pelo campo elétrico e atingem o cátodo
produzindo mais elétrons secundários. Assim, o gás que apresentava resistência elétrica, agora
exibe um caráter de condutor permitindo o fluxo eletrônico aplicando uma menor tensão que a
necessária para a formação do plasma. Essa região é chamada de descarga normal. A partir
daí a densidade de corrente elétrica fica diretamente proporcional a tensão para uma pressão
constante. Esta região, chamada de região “anômala”, sendo usada para processos de
deposição por plasma, devido a sua maior densidade de corrente e, portanto maior eficiência,
além de proporcionar um tratamento superficial uniforme (AHMED, 1987; ALVES JR,
2001).
Na descarga luminescente anômala, existe uma série de espaços escuros e luminosos
que podem ser distinguidos pela distribuição de potencial, densidade de cargas e corrente
Figura 2 – Perfil visual do plasma em regime anômalo que retrata as regiões da bainha e luminescência catódica (BARBOSA, 2011).
A região luminosa próxima ao cátodo é chamada de luminescência catódica. A cor da
luminescência é característica do gás e do material do cátodo. Ela surge devido à excitação e
decaimento entre dois níveis quânticos das partículas presentes no plasma. O espaço escuro
entre o inicio da luminescência e o cátodo é chamado de bainha catódica que é uma região de
baixa concentração de cargas devido ao gradiente de potencial. Após esse espaço escuro
existe uma região de alta luminosidade, denominada de luminescência negativa. A
luminescência negativa juntamente com a região catódica é responsável pela quase totalidade
de tensão aplicada entre os eletrodos, sendo aí aonde ocorrem os fenômenos como
transferência de carga, ionizações, excitações e produção de elétrons secundários (AHMED,
2.2. MODIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIE POR PLASMA.
A compreensão do plasma para aplicação na indústria tem proporcionado novos
caminhos para a fabricação de produtos avançados. O seu uso não só tem melhorado a
qualidade de vida, como também vem oferecendo novos desafios para a comunidade
científica. O grande interesse em sua aplicação está na combinação do baixo custo e melhor
desempenho quando comparadas a outras técnicas de modificação de superfície (ELIESER, S,
2001). A implantação de átomos intersticiais, tais como nitrogênio, carbono, oxigênio e
hidrogênio, alteram consideravelmente as propriedades tribomecânicas de metais ferrosos e
não ferrosos de forma a atender as exigências de nossas indústrias (KAZEMEINI, M. H.,
BEREZIN, A. A. FUKUHARA, N., 2000)
Processos termodinamicamente ativados por plasma como a nitretação e a cementação
iônica são utilizados para a modificação de superfícies de materiais ferrosos e não ferrosos,
onde as características estruturais são controladas pelas variáveis de processo, tais como:
tensão, corrente elétrica, potência, fluxos e composição dos gases, pressão de trabalho e
temperatura (SPALVINS, 1989).
A nitretação a plasma é um método de modificação de superfícies que se utiliza de um
plasma para introduzir nitrogênio na superfície de um metal que posteriormente difunde para
o interior do mesmo (HUDIS, 1973; EDENHOFER, 1974). O processo também é conhecido
como nitretação iônica ou nitretação em descarga luminosa e foi patenteado em 1931 por J.J.
Egan nos Estados Unidos e em 1932 por Berghaus na Alemanha, mas somente em 1960 teve
início o seu uso comercial.
No Brasil a técnica ainda não é muito conhecida tanto no meio empresarial como
aos resultados de pesquisas desenvolvidas em universidades e apresentadas em congressos ou
publicadas em revistas nacionais (AHMED, 1987; ALVES JR, 2001).
O processo de nitretação iônica será discutido mais a frente, cuja técnica é semelhante
ao processo de carbonitretação iônica. Essas técnicas tornam-se diferentes pelas espécies
reativas apresentadas na atmosfera de plasma.
2.2.1 O Processo
A figura 3 ilustra um equipamento típico de nitretação iônica. Ele é constituído
basicamente de um sistema de vácuo, uma fonte de potência e um reator.
Figura 3. Esquema básico de um equipamento de nitretação iônica (ALVES JR, 2001).
O sistema de vácuo deve ser capaz de atingir em torno de 10-² torr de pressão e possuir
válvulas para controlar a vazão dos gases introduzidos no tratamento. A fonte de potência
possui uma saída d.c com uma voltagem máxima de aproximadamente 1500 V e uma corrente
capaz de fornecer energia a peça para que ela seja aquecida a uma temperatura entre 300 a
600 °C (ALVES JR, 2001). No reator estão dois eletrodos onde o cátodo é também o porta
amostra. Ainda no reator, devem existir saídas para a medida de pressão, temperatura e outras
variáveis desejadas para melhor controle do processo, e ainda, uma entrada para o sistema de
gás, para formar a atmosfera nitretante.
Após atingir a baixa pressão, aplica-se uma diferença de potencial entre os eletrodos,
entre 400 e 1200 V e então introduz-se o gás nitretante, tipicamente uma mistura de H2 e N2
(para a carbonitretação adiciona-se uma gás rico em carbono como CH4 ou C2H2), no reator
até atingir a atmosfera a pressão de trabalho (1-20 torr). Para pressões baixas, a descarga
apresenta um brilho de cor rósea de pequena intensidade que é característico do material do
cátodo, geralmente aço, e do gás de trabalho. À medida que se aumenta a pressão, este brilho
inicialmente espalhado, vai se tornando bem localizado em torno do cátodo, até que atinge a
condição de descarga propícia à nitretação, como é mostrado na figura 4.
Nesse momento o plasma já está revestindo completamente o cátodo e a peça a ser
nitretada. Os íons deste plasma estão sendo acelerados para a superfície do cátodo onde
diversos efeitos ocorrem, dentre eles o aquecimento da peça devido ao bombardeamento pelos
íons (EDENHOFER, 1974). A temperatura da peça é então controlada pela corrente até a
temperatura de tratamento. A partir daí é contado o tempo de duração do processo. Após este
tempo a fonte é desligada e a peça resfria em vácuo.
O sucesso da nitretação iônica se deve, além do caráter ecológico, às inúmeras
vantagens da mesma sobre os processos convencionais. Entre elas a ausência de resíduos
poluentes, baixa temperatura de tratamento, controle de camada formada, menor tempo de
tratamento, possibilidade de desnitretação, possibilidade de escolha da região da peça que
deva ser nitretada, penetração do plasma em pequenos furos, etc (KURNEY, A. S. W.;
MOHAN, R.M.; MALLYA, R. M, 1986).
Em temperaturas baixas, da ordem de 300°C, já é possível realizar o tratamento
termoquímico, evitando distorções dimensionais que normalmente ocorrem em tratamentos
em maiores temperaturas. Esta técnica permite obter camada uniforme e o controle desta
através das variáveis de processo, podendo ainda, produzir camada monofásica. Há
possibilidade de selecionar áreas na peça para serem nitretadas, evitando regiões nas quais
não há interesse em fazer o tratamento termoquímico, para isso, basta aplicar uma proteção
isolante ou metálica nessas áreas. O tempo de tratamento é inferior aos processos
convencionais. O processo pode ser reversível, com a imersão da amostra em plasma de
hidrogênio. E para finalizar, temos uma técnica relativamente econômica.
Obviamente existem limitações neste processo. Algumas dessas limitações já possuem
soluções e outras são aproveitadas, ou seja, passam a serem vantagens em outros aspectos:
Efeito em cátodo oco – este efeito surge em peças que apresentam geometria
regiões que possuem pequenos furos ou cavidades que levam a um aumento da
concentração de elétrons secundários na região. Assim, o aumento desta densidade
afetará a temperatura da peça e a taxa de sputtering na superfície próxima a esta
região. Este efeito é quase sempre indesejável porque leva a um maior aquecimento
nas partes da peça que possuam geometrias complexas. Num tratamento de nitretação
em peças com pequenos furos (ɸ ≤ 5 mm), a diferença de temperaturas entre partes planas e o fundo do furo pode chegar mais que 100°C (ALVES JR., C.;
CASTELETTI, L.C.; RODRIGUES, J.A, 1993)
Efeito da razão A/V – No processo de nitretação iônica, diferentemente dos métodos
de aquecimento convencionais, a energia para o aquecimento da peça é cedida através
do bombardeamento de íons e espécies neutras energéticas na superfície da peça. O
efeito igualmente indesejável na nitretação de peças e o superaquecimento em partes
da peça que possuam uma maior relação entre a área superficial e o volume (A/V). A
densidade de potência na superfície da peça não é constante, ela depende
significativamente da densidade de corrente, que por sua vez está relacionada com a
geometria da peça.
Aberturas de arcos catódicos – este efeito surge em peças que apresentam
geometrias complexas como furos, arestas, pontas, etc. (SCHWIRZKE, 1991). São
nitretadas, havendo um confinamento de plasma nesta região. Caso este confinamento
gere uma densidade de corrente superior à existente na descarga anômala, ocorrerá a
abertura de arcos elétricos (ROSSNAGEL, S.M.; CUOMO, J.J.; WESTWOOD, W.D,
1989). Quando ocorre este efeito, há uma queda de potencial e, como este novo
lado, se o equipamento for de alta potência, haverá uma fusão localizada, que poderá
danificar a peça.
Efeito de borda – este efeito ocorre quando peças com geometria complexas são
tratadas. Assim, aparecendo anéis próximos a borda das peças. Estes anéis podem ser
vistos a olho nu pelo gradiente de coloração entre a borda e a parte mais interna da
peça. Sendo caracterizado por menor microdureza devido a falha na formação da
camada.
2.2.2 Interação do plasma sobre superfície
Devido à complexidade das espécies presentes no plasma, da interação entre estas
espécies e também destas com a superfície a ser tratada, torna-se impossível apresentar um
modelo único de transferência de massa dos elementos intersticiais para a peça. Por isso
vários modelos já foram propostos para descrever os mecanismos de interação plasma
superfície (RIE, 1989). Com já sabemos o plasma é divido em partes que apresentam papéis
específicos. A região catódica é responsável por vários dos fenômenos ocorridos na superfície
do sólido durante o tratamento a plasma. Dentre estes eventos destacam-se a emissão de
elétrons secundários, o “sputtering” de átomos da superfície, a dissipação de calor pelo
bombardeamento das partículas, a criação de defeitos na rede cristalina do cátodo, a deposição
de nitretos e a adsorção e difusão de nitrogênio (CHAPMAN, B 1980, HESS, 1990). A Figura
5 ilustra uma simplificação de alguns dos possíveis efeitos das partículas do plasma sobre um
Figura 5 – Representação simplificada das interações do plasma com a superfície (ASSMAN, 2011).
2.3. TITÂNIO: ASPECTOS GERAIS.
O titânio é um metal que apresenta rede cristalina com estrutura hexagonal compacta
em temperatura ambiente, e em condições normais de pressão e temperatura é sólido. Possui o
quarto lugar entre os elementos mais abundantes do mundo (ultrapassando apenas pelo
alumínio, ferro e manganês). Ele é um metal de transição com peso atômico 47,90 e número
atômico 22, e detectado em meteoritos, na lua, no sol e em outras estrelas. Apresentando
aproximadamente 0,6% de concentração na crosta terrestre (BOYER R, 1994). O titânio foi
descoberto em 1971, pelo reverendo inglês William Gregor que reconheceu o titânio como
ilmenita. Alguns anos depois, em 1975, foi descoberto no seu minério como rutilo, pelo
alemão Martin Heinrich Klaproth que o batizou de titânio.
Partículas Elétrons Secundários
Reflexão De partículas
Formação de Compostos
I pla
Colisões Em cascata
Defeitos de Pontos
Ondas de Choque Reações
Químicas
Mudança De
topografia
ads
Difusão
Adsorção
Os dois minerais mais comuns que contêm titânio são a ilmenita e o rutilo. Os maiores
depósitos de rutilo e ilmenita são encontrados em areias de praias. Onde, devido à erosão e a
intemperização ocorreu à lixiviação dos outros elementos, resultando em concentrações
elevadas destes minerais (http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/mcs). A ilmenita, do qual é
obtida a maior parte do titânio, é um minério preto composto de óxidos de ferro e titânio
(FeTiO3). O rutilo é um oxido de titânio, TiO2, e dos três óxidos de titânio (rutilo, anatásio e
brookita), ele é o mais abundante. Os países que apresentam as maiores reservas de minérios
de titânio são: Austrália, África do Sul, Canadá, Noruega e Ucrânia, que juntos são
responsáveis por aproximadamente 86% das reservas mundiais conhecidas. O Brasil produz
parte do dióxido de titânio que consome, mas importa cerca de 30% das suas necessidades
(ALVES JR, 2006).
Devido as suas excelentes propriedades, o titânio tem se tornado um material muito
atrativo para a indústria, se comparado com o aço, material que desde muito tempo tem sido
adotado em muitas aplicações metalúrgicas. O titânio apresenta características bem
interessantes, entre elas está à leveza, já que a densidade desse material é cerca de 60% a
densidade do aço. Apesar disso, esse metal é extremamente resistente a esforços mecânicos,
além de apresentar um alto ponto de fusão (1668 °C). O titânio também é especial por causa
de suas propriedades fotocatalíticas e anticorrosivas (BOYER, 1996; MALINOV, 2003; MALINOV, 2002). Assim, o titânio é bem visto pela ciência e tecnologia, devido a sua biocompatibilidade que proporciona a uma grande demanda na fabricação de implantes,
válvulas, e outros diversos dispositivos biomédicos (CHEN, 2006, CHU, 2002).
A alta resistência, baixa densidade e excelente resistência à corrosão são as principais
propriedades do titânio que são atraentes para uma variedade de aplicações (LUTJERING, G.,
WILLIAMS, J.C., 2003). Podemos destacar alguns exemplos de aplicações industriais, tais
Aeroespacial: A baixa massa específica e suas excelentes propriedades mecânicas e de
resistência à corrosão, colocam o titânio entre os materiais mais utilizados para a
fabricação de estruturas ultraleves, possibilitando sua utilização em altas temperaturas
e em meios corrosivos. Assim pode ser utilizado na fabricação de componentes de
turbinas de aviões, bem como partes de asas, engrenagens e revestimentos.
Trocadores de calor: o titânio também é muito usado na produção de trocadores de
calor, principalmente quando o meio de atuação é a água salobra ou poluída.
Destacam-se por terem grande durabilidade e eficiência, não apresentado falhas
frequentes devido à corrosão no sistema de resfriamento.
Indústria química: equipamentos como vasos, trocadores de calor, tanques agitadores
tubulações, torres, entre outros, são fabricados de titânio devido à sua resistência à
corrosão e ao ataque químico. Atualmente o mercado de titânio para a indústria
química está em fase de crescimento acelerado.
Indústria naval: são empregadas ligas de titânio em pequenas embarcações, navios e
submarinos. Estão presente em válvulas, bombas, trocadores de calor, fuselagem,
material do casco, sistema de propulsão a água e tubulações.
Indústria nuclear: é empregado na fabricação de recuperadores de calor em usinas de
Indústria bélica: devido à necessidade de armamentos mais leves e resistentes, o
titânio, é utilizado na fabricação de armas. Uma tecnologia emergente para a produção
de artefatos e armamentos pesados de titânio manufaturado “Laser Shock Peening”. O
metal também é utilizado em componentes tais como engrenagens de transmissão em
helicópteros, em aeronaves e componentes de veículos terrestres para melhorar a
eficiência operacional em combate.
Indústria de consumo: o titânio utilizado em produtos de arquitetura, acessórios para
banheiros, bicicletas e equipamentos esportivos, óculos relógios, computadores, entre
outros.
Aplicações biomédicas: por esse metal não ser tóxico, confere ao mesmo
biocompatibilidade, motivando o seu o uso para confecção de biomateriais. Sendo
usado para componentes de bombas de coração artificiais, marca-passo, válvulas
cardíacas, prótese dentaria e implantes de juntas e ossos (BRAGA, N. A.; FERREIRA,
N. G.; CAIRO, C. A. A. 2006).
2.3.1 Estrutura, propriedades físicas e mecânicas do titânio.
São duas as fases alotrópicas apresentadas pelo titânio. Na figura 6, estão às estruturas
hexagonal compacta (fase α) está presente a temperatura ambiente. Em 882°C ocorre à transição para a fase que apresenta estrutura cubica de corpo centrado. Elementos substitucionais e intersticiais influenciam fortemente na, temperatura exata de transformação
Figura 6. Ilustração representativa das duas fases alotrópicas do titânio com os seus correspondentes parâmetros de rede. Em (a) fase α e (b) fase (LUTJERING, G., WILLIAMS, J.C., 2003).
A tabela 2.1 apresenta os valores de algumas propriedades físicas e mecânicas do
titânio comparadas a outros metais.
Tabela 2.1. Quadro de comparativo das propriedades do Ti e outros metais comerciais (LUTJERING, G., WILLIAMS, J.C., 2003).
*Em temperatura ambiente.
Ti
Fe
Ni
Al
Temperatura de Fusão (°C) 1670 1538 1455 660
Transformação Alotrópica (°C) – 882
–α ɣ
- 912 -α - -
Estrutura Cristalina bcc – hex
fcc - dcc fcc fcc
Módulo de Elasticidade E* 115 215 200 72
Densidade (g/cm3) 4,5 7,9 8,9 2,7
Resistência a Corrosão Muito Alta
Baixa Média Alta
Reatividade com o Oxigênio Muito Alta
Baixa Média Alta
2.3.2 Classificação das ligas de titânio.
O titânio apresenta uma camada incompleta na sua estrutura eletrônica (1s2, 2s2, 2p6,
3s2, 3p6, 4s2, 3d2) o que ocasiona fácil interação química entre elementos intersticiais tais
como hidrogênio, carbono, oxigênio e nitrogênio, permitindo a formação de soluções solidas,
promovendo assim uma ampla modificação de suas propriedades. A adição de elementos de
liga juntamente com tratamentos termoquímicos permite o desenvolvimento de uma grande
quantidade de ligas, alterando e melhorando diversas propriedades. A incorporação desses
elementos de liga altera a temperatura de transição da fase α para a fase , e dependendo da circunstância, permite a coexistência das duas fases em uma ampla faixa de temperatura
(JOSHI, V. A., 2006).
As propriedades do titânio e suas ligas são determinadas inicialmente pelo o arranjo,
fração de volume e propriedades individuais de cada uma das fases α ou . Vários elementos
formam solução sólida com o titânio sendo classificados como estabilizadores α (tais como: Al, Ga, N e C) ou estabilizadores (tais como: V, Mo, Nb, Fe, Cr e Ni). Metais como o Zn e
Zr são neutros, não estabilizando qualquer uma das fases α ou (JOSHI, V. A., 2006).
As ligas de titânio são classificadas de acordo com a estrutura cristalina de suas fases
como: ligas α, α+ , quaseα e metaestáveis, assim definidas:
Ligas alfa (α): Este tipo de liga é obtido com a adição de estabilizadores da fase α.
Essas ligas apresentam estrutura hexagonal compacta, como consequência, apresentam
boas propriedades em altas temperaturas (resistência a fluência), apresentando boa
Ligas ( ): Com a adição de quantidades suficientes de elementos estabilizadores da
fase resulta na sua retenção como fase estável em temperatura ambiente. Apresentam
propriedades semelhantes a metais refratários em sua alta densidade e baixa
ductilidade. Possuem grande resistência a altas temperaturas e a corrosão. Como
exemplos podemos citar Ti-10V-2Fe-3Al, Ti-15V-3Cr-3Al-2Sn e Ti-
11,5V-2Al-11Zr.
Ligas α+ : contem estabilizadores α e . Esta liga pode ter suas propriedades
melhoradas com tratamentos térmicos.
Ligas quase α: Contém elementos estabilizadores da fase α e pequenos teores (1 ou até 2%)
de estabilizadores melhorando suas propriedades . Pode-se estabelecer nessas um bom
compromisso entre a alta resistência mecânica das ligas α+
Ligas metaestáveis: Contêm estabilizadores com concentração em torno de 10 a 15% (em massa). A fase é retida em temperatura ambiente em condição
metaestável. Possui excelente forjabilidade, tenacidade, capacidade de endurecimento
em uma grande faixa de temperatura. Sua alta densidade e baixa resistência a
2.3.4 Carbonitreto de titânio (TiCxN1-x)
Normalmente a indústria apresenta custos com substituição de peças e ferramentas que
atuam em ambientes com atmosferas agressivas, submetendo-as a desgaste a corrosão. Isso
reflete em grandes despesas. Nos países industrializados, os altos custos com substituição e
manutenção de peças é cerca de 3 a 4% do produto interno bruto ao ano. Estima-se que 40%
do valor empregado, poderia ser economizado se houvesse aplicação de revestimento nestas
peças (CARVALHO 2007). A aplicação de revestimentos para proteção é bem comum, pois
ele possibilita o uso de materiais de baixo valor agregado onde sua superfície possui
propriedades de materiais de melhor desempenho.
A inserção de elementos intersticiais como hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio
na rede cristalina do titânio, está sendo extensivamente estudadas devido as suas diversas
aplicações industriais (KAZEMEINI, M. H., BEREZIN, A. A., FUKUHARA, N. 2000). A
grande afinidade que o titânio apresenta com esses elementos, formam soluções sólidas, pois
sua camada incompleta (1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6, 4s2, 3d2) ocasiona fácil interação química que
promove uma ampla modificação de suas propriedades mecânicas (JOSHI, V. A., 2006).
Camadas de TiN e TiC têm sido usados com sucesso para aumentar o tempo de vida útil de
ferramentas (SU. et al; 1997).
Camadas de TiCN apresentam um baixo coeficiente de atrito e uma melhor resistência
ao desgaste que camadas de TiN, independente do material associado (KNOTEK, 1992). As
múltiplas fases dos filmes finos de TiCN, combinam as vantagens de alta dureza do TiC e alta
ductilidade e força de adesão do TiN, possuindo melhores propriedades mecânicas que uma
única fase de TiC ou TiN (RANDHAWA, 1987; HUBER, 2003). A morfologia, estrutura e
composição do TiCN foram investigadas em vários estudos (SCHNEIDER, 1995; BULL,
faixa de composição (TiC0,71 a TiC0,98) que incorporam as vantagens e características de
ambos. O desempenho de camadas de TiCN é especialmente superior ao de camadas de TiN
em aplicações tribológicas onde o mecanismo de desgaste abrasivo é dominante. Isto é devido
à diferença de dureza e a presença do carbono que age como lubrificante diminuindo o
desgaste e o coeficiente de atrito (WEI, 2001; DRIEMEIER, 2008; KARLSSON, 2000).
Além de aplicações tribológicas esta camada também pode ser aplicada na área
biomédica. Há vários trabalhos que citam a possibilidade desse material ser aplicado como
biomaterial. Podemos citar Yan-Xia Dong e et al (2007) que publicaram um trabalho que
apresentou testes de compatibilidade do TiCN com sangue e de adesão de plaquetas, retirando
CAPÍTULO 3
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização desse trabalho foi construída inicialmente uma matriz de
conhecimento dos espectros obtidos por espectroscopia de emissão óptica do plasma da
mistura N2 – Ar - CH4, usando diferentes fluxos. Uma vez identificadas às espécies mais
importantes, foram construídas gráficos das intensidades dessas espécies em função do fluxo,
a fim de definir as condições de tratamento termoquímico das amostras de titânio.
Escolheram-se como condições de tratamento, os fluxos que resultaram em grandes variações
de intensidades relativas, de modo a facilitar a análise da influência de cada uma dessas
espécies nas propriedades do titânio tratado por plasma. Após o tratamento, as amostras
carbonitretadas foram caracterizadas quanto às fases superficiais, perfil de concentração,
perfil de dureza, coeficiente de atrito e resistência ao desgaste. O fluxograma da figura 7
ilustra, de maneira sintética, as etapas efetuadas no presente trabalho:
Figura 7. Fluxograma do plano de trabalho resumindo todas as etapas desde o diagnóstico de plasma até as análises do material processado.
Diagnóstico do plasma da mistura N2 – Ar - CH4 usando diferentes fluxos
Construção das curvas de Intensidade das espécies ativas do plasma
Determinação das condições de carbonitretação
Carbonitretação das amostras de titânio
Caracterização das amostras carbonitretadas
Perfil de Carbono e nitrogênio
Perfil de dureza Determinação das
fases cristalinas e amorfas
Determinação do coeficiente
3.1 - Diagnóstico do plasma da mistura N2 - Ar - CH4 usando diferentes fluxos
A primeira etapa do presente trabalho foi à investigação do plasma para a produção de
uma matriz de conhecimento dos espectros do plasma de atmosfera de N2 - Ar - CH4,
analisadas por espectroscopia de emissão óptica, no qual foi mantido constante o fluxo de 2
gases, no caso argônio e nitrogênio, variando-se sistematicamente o fluxo de metano de 0 a 4
SCCM.
Para o diagnóstico do plasma foi montado um aparato conforme esquematizado na
figura 8. Foi usado um espectrômetro de emissão Acton Spectrapro 2500i com comprimento
focal de 500 mm, resolução espectral mínima de 0,05 nm, rede de difração de 1200 g/mm e
uma fibra óptica de 5 m de comprimento que interliga a luz proveniente do plasma ao
monocromador. Como detector, um fotodiodo de silício de 10 mm de diâmetro com resposta
óptica de 200-1100 nm. A fibra óptica foi posicionada na janela da câmara, apontando
diretamente para a descarga luminescente. Logo após a obtenção dos espectros, os picos
gráficos referentes às espécies encontradas foram comparados com os valores encontrados no
banco de dados disponível na página eletrônica do NIST
(http://physics.nist.gov/PhysRefData/ASD/lines_form.html). Para cada gráfico foi feita
uma normalização. A identificação das transições quânticas relativas ao sistema de bandas de
Figura 8. Esquema de montagem do reator com o sistema de EEO (BARBOSA, 2007).
Observando a figura 8 é possível acompanhar a trajetória da radiação. A mesma
atravessa a janela do reator, sendo capturada e conduzida pela fibra óptica até chegar ao
monocromador. A seguir, a radiação encontra um conjunto de espelhos (1 e 2) que direcionam
a onda até uma rede de difração (3) que separa as radiações em comprimentos de onda, as
quais são focalizadas sobre outros espelhos (4 e 5) até um sensor óptico (6) que converte luz
em corrente elétrica. As leituras de corrente elétrica são interpretadas pelo “Spectrahub” e
transformados em dados computacionais (BARBOSA, 2007).
Para o diagnóstico do plasma os fluxos dos gases Ar e N2 foram mantidos constantes
em 2 e 4 sccm para alguns grupos, enquanto o CH4 variava entre 0 e 4 sccm. Após cada
varredura de CH4, fazia-se outra combinação de fluxo de Ar e N2 e repetia-se a varredura.
Assim obteve-se uma matriz de conhecimento dos espectros presentes na combinação y N2 +
x Ar + z CH4, com x, y e z variando entre em valores discretos de 1, 2, 3 e 4 sccm.
O conhecimento da matriz levou a identificação das espécies do plasma e
determinaram-se as intensidades que as mesmas ocorriam para cada espectro. A figura 9
y N2 + x Ar + z CH4. Nele também estão indicadas as espécies identificadas como
importantes no processo de carbonitretação, a saber: N2+ (391,4 nm), CH (387,1nm), Hα
(656,3 nm) e Ar (750,4 nm), correspondentes às transições descritas na tabela 3.1.
Tabela 3.1. Transições das espécies selecionadas para o diagnóstico de plasma.
Espécie Transição (nm)
Ar 4p – 4s 750,4
Hα 3 – 2 656,3
N2+ B²Σu+ → X²Σg+ (0-0) 391,4
CH B²Σ → X²∏ (0-0) 387,1
Figura 9. Espectro de emissão de N2 + Ar + CH4, condição em que todos os gases estão com o
fluxo de 4 sccm.
3.1.1. Gráficos das Intensidades das espécies versus fluxo de CH4
Após a coleta dos espectros, construíram-se os gráficos de intensidades das espécies
adquiridas em função do fluxo dos gases, gerando três gráficos com a evolução das espécies
foram 3 N2 – 1 Ar – x CH4, 2 N2 – 4 Ar – x CH4 e 4 N2 – 4 Ar – x CH4, onde o valor a frente
do símbolo da molécula ou átomo representa o fluxo em sccm e variou-se o x de 0 a 4 sccm.
O espectro coletado de todas as proporções da matriz foi multiplicado por um fator de tal
forma que os picos associados ao argônio Ar (750,3 nm) tiveram os valores de intensidade
luminescente igualados. Assim, todas as outras espécies exibem valores de intensidade
luminosa referente à linha de emissão do argônio. Com posse dos valores da intensidade para
a diversas espécies do plasma, construíram-se curvas intensidade vs fluxo de metano para
diferentes combinações y N2 – x Ar, com x e y variando de 0 a 4 sccm. Para cada gráfico
foram apresentados os valores intensidade para as espécies N2+ (391,4 nm), CH (387 nm) e
Hα (656,3 nm),conforme ilustrado na figura 9, para a condição 4 N2– 4 Ar – x CH4.
0 1 2 3 4
N
2 +
(391,4)
CH (387,1)
H (656,3)
4 N2 - 4 Ar - x CH4
In
te
n
s
id
a
d
e
(
U
.
A
.)
Fluxo de CH4 (SCCM)
Figura 10. Curva da intensidade das espécies presentes no plasma de 4 N2 + 4 Ar quando
3.1.2 SELEÇÃO DAS CONDIÇÕES DE REALCE DAS ESPÉCIES PARA TRATAMENTO
TERMOQUÍMICO
A partir dos gráficos intensidades vs fluxo de CH4, procuramos as condições onde as
intensidades das espécies se destacavam, isto é, variações significativas de intensidade. No
exemplo ilustrado na figura 9, observa-se que as espécies CH é crescente até 3 sccm enquanto
a espécie Hα é decrescente. Por outro lado, as espécies N2 fica constante para 2 e 3 sccm e
depois decresce. Essas condições, denominadas de “condições de realce”, foram utilizadas
como estratégia para avaliar a influência das espécies durante os tratamentos termoquímicos
sobre as propriedades da superfície tratada.
3.2. TRATAMENTO TERMOQUÍMICO EM DISCOS DE TITÂNIO
Para a realização do tratamento foram utilizadas 63 amostras de Ti comercialmente
puro (grau II) medindo 15 mm de diâmetro e 1,5 mm de espessura, embutidas com resina
epóxi, lixadas com lixas de carbeto de silício na seguinte ordem de granulação: 220, 360, 400,
600, 1200, 2000 e polidas com uma solução sílica coloidal e peróxido de hidrogênio em
politriz automática com pano OP CHEM por um período de 30 min. Logo após o polimento,
estas foram desembutidas e limpas em ultrasom em 3 etapas. A primeira com detergente
enzimático, logo após com álcool etílico absoluto e finalmente com água destilada,
O tratamento das amostras foi realizado em um sistema desenvolvido no próprio
LABPLASMA – Laboratório de Processamento de Materiais por Plasma. O presente equipamento consiste de uma carcaça medindo 300 mm x 300 mm (diâmetro x altura),
fechada por flanges, ambos de aço inox (figura 11). Os contatos da carcaça com os flanges
são vedados com gaxetas de viton com perfil em “L”. O flange na extremidade inferior dispõe de conexões para a introdução de gases, sensor de pressão e para o sistema de vácuo, dispõe
do eletrodo (cátodo) onde fica o porta-amostra e o termopar (cromel-alumel) no interior do
mesmo. Na lateral do reator há uma janela de boro silicato onde se observa o processo e
posiciona-se a fibra óptica para a EEO. Para maior segurança, toda a carcaça do reator está
conectada ao potencial positivo da fonte de tensão devidamente aterrada. O sistema de vácuo
é composto por uma bomba mecânica rotativa Edwards (modelo E2M5), sensor de pressão de
membrana capacitiva Edwards (modelo barocel W600 3281) e um leitor de pressão
multicanal Active Gauge Controller RS 232 também da marca Edwards. A potência para a
formação do plasma por uma fonte de corrente contínua de 0 - 1200 V de tensão e corrente de
1,5 A. O sistema de alimentação de gases foi controlado por um controlador de fluxo de
volume digital MKS (modelo 247).
Após a preparação das amostras, as mesmas foram divididas em grupos de sete
amostras por tratamento, sendo uma posicionada no centro e seis ao redor do porta amostras,
de forma que todas estivessem bem juntas. Antes de realizar o tratamento, foi realizada uma
limpeza por plasma de argônio (2sccm) e hidrogênio (2sccm) a uma temperatura de 300°C,
com o intuito de remover contaminantes (óxidos e hidrocarbonetos) presentes na superfície.
Os fluxos dos gases: N2,Ar e CH4, que compuseram a atmosfera de tratamento do reator, são
os únicos parâmetros que variaram no processo, enquanto os outros parâmetros: temperatura
(500°C), pressão (2,2 mbar) e tempo (1 hora de tratamento), foram mantidos constantes. A
tabela 3.2 abaixo mostra os parâmetros do processo de carbonitretação.
Grupo Fluxo (sccm)
1
3 N2 - 1 Ar - 1 CH4
3 N2 - 1 Ar - 2 CH4
3 N2 - 1 Ar - 3 CH4
2
2 N2 - 4 Ar - 2 CH4
2 N2 - 4 Ar - 3 CH4
2 N2 - 4 Ar - 4 CH4
3
4 N2 - 4Ar - 2 CH4
4 N2 - 4Ar - 3 CH4
4 N2 - 4Ar - 4 CH4
3.3.1 AMOSTRAS CARBONITETADAS
3.3.2. Análise por Reação Nuclear (NRA).
A análise por Reação Nuclear (NRA – “nuclear reaction analysis”) consiste numa técnica que permite obter o perfil de concentração de elementos nas regiões próximas à
superfície, sendo muito importante na identificação de elementos leves na presença de
elementos pesados (FOERSTER, 1994). A técnica consiste na incidência de um feixe de íons
numa amostra provocando reações nucleares sobre nuclídeos estáveis. A reação ocorre
somente se o íon projétil for adequado para a reação de interesse e tiver energia cinética
apropriada para penetrar a barreira Coulombiana do núcleo. Os produtos apresentados pelas
reações nucleares são geralmente, prótons, partículas α, raios ɣ ou nêutrons. Estes sinais gerados são processados eletronicamente, retornando um espectro de contagens em função
das energias das partículas detectadas.
Neste trabalho as análises foram realizadas no laboratório de Implantação Iônica da
UFRGS usando o acelerador Single-ended de 500 Kev da high Voltage Engineering Europa
B.V. A reação utilizada para determinar o número de átomos difundidos na rede cristalina do
titânio foi 15N(p, α )12C, em que em sua curva de seção de choque apresenta uma ressonância estreita de 429 KeV. Antes da quantificação atômica do N feita uma calibração com Si3(15N)4
sob as mesmas condições experimentais da amostra. Devido a certas limitações instrumentais
apresentada pelo equipamento foram utilizadas energias de até 450 KeV, o que permitiu
Para a quantificação do C foi utilizado o acelerador Tandetron 4130 HC da High
voltage engineering Europa B.V., equipados com fontes de íons dos tipos sputtering e de
plasma acoplados, tecnologia Tandem, até 3 MeV de tensão no terminal e quatro estações
experimentais em linhas distintas: PIXE, RBS/NRA, implantação iônica e PIGE. Para a
reação nuclear elástica 12C (α,α) 12C foi utilizada a ressonância de 4,26 MeV.
A detecção de N em filmes finos, utilizando a reação nuclear elástica 15N(p, α )12C com ressonância de 429 KeV é bastante difundida. Diferentemente da reação ressonante 12C
(α,α) 12
C a 4,26 MeV, onde apresenta reposta larga e assimétrica. Assim, tornando a
conversão dos dados um processo trabalhoso e pouco intuitivo.
Em 2008 DRIEMEIER e BAUMVOL desenvolveram um método que combina a excelente sensibilidade da reação 12C (α, α) 12C a 4,26 MeV de energia resulta em um espectro com características similares a Espectrometria de Retroespalhamento Rutherford (RBS, do
inglês Rutherford Backscatering Spectrometry). Em outras palavras, esta reação expressa a
relação do número de partículas “α” com a profundidade, sendo esse número proporcional ao
número de átomos presentes de C. Por ser uma técnica apenas semi-quantitativa, não permite
a comparação de diferentes amostras de uma série, porém não fornecendo com exatidão a
concentração de C. Em outras palavras, a reação ressonante expressa o número de partículas “α”
3.3.3. Difração de raios-X em ângulo rasante (GIXRD)
A difração de raios X é uma das ferramentas mais usadas para a caracterização de
materiais. A análise usando a geometria θ-2θ (Bragg Bretano) fornece informações sobre estruturas policristalinas, assim como também análises químicas, tais como estrutura
cristalina, tamanho de grão, composição, grau de cristalinidade através das intensidades,
ocorrência de texturas, posições e larguras de picos de difração. No caso filmes finos, cujas
espessuras são de ordem nanométrica, a geometria θ-2θ torna-se inconveniente, pois o
caminho percorrido pelo feixe dentro do filme é muito pequeno, proporcionando uma relação
sinal/ruído baixa e uma contribuição muito maior do substrato.
Para a caracterização de filmes finos usando raios X, é interessante utilizar uma
geometria na qual o ângulo de incidência é rasante e fixo, enquanto o detector faz a varredura
2θ (figura 12). Essa técnica é chamada de difração de raios X em ângulo rasante GIXRD (grazing incidence x-ray diffraction) promovendo um aumento no caminho óptico do feixe no
interior da camada modificada ou filme fino, de modo que as informações estruturais da
superfície contribuam com o difratograma de maneira mais efetiva que as mais profundas
(EDENHOFER, 1974).
A variação do ângulo de incidência altera de uma forma significativa a profundidade
do feixe de raios X. Assim, o ângulo α será diretamente proporcional à penetração do feixe. Logo, variando o ângulo de incidência de 0,5-6 , tem-se uma profundidade de análise de 0,25
m (0,5 ) a 3,0 m (6 ) (LIMA, S.C, 2010).
As medidas de difração de raios X em ângulo rasante (GIXRD) foram realizadas no
laboratório de microanálise do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), utilizando o difratômetro SHIMADZU XRD-6000, radiação Cu Kα, numa
varredura 2θ de 33,00 à 45,00 .
3.3.4 Espectroscopia micro-Raman
A espectroscopia micro Raman é uma técnica de espalhamento inelástico de fótons
que proporciona, em poucos segundos, informação de qualquer material, composto orgânico
ou inorgânico, permitindo assim a sua identificação. Sua análise se baseia na incidência de um
feixe de laser focalizado como fonte de excitação, que permite a análise micrométrica da
amostra. Trata-se de uma técnica de caracterização que se realiza diretamente sobre o material
em análise não necessitando de nenhuma preparação especial e não alterando a superfície da
amostra. Ao se incidir um feixe de radiação laser (monocromática) em um material, grande
parte é refletida (99%) e outra parte pode sofrer espalhamentos inelásticos levando a excitação
de modos eletrônicos, rotacionais e vibracionais característicos do material. Dois fenômenos
são os responsáveis pelos modos vibracionais: o espalhamento Raman e o Rayleigh (LIMA,