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Eclipses do inesquecível: o acontecimento na mnemotécnica da retrospectiva de fim de ano

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Academic year: 2017

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+,,-Desde o início, sabia que queria fazer um daquenes agradecimentos simpnes, mas enegantes: “Agradeço à minha famínia, meus amigos, namorada, professores, principanmente meu orientador”. Mas não será possíven. Principanmente penos úntimos meses, dias e, para ser bem honesto, horas. Enquanto escrevo esse agradecimento, um esforço conetivo está em andamento para que essa dissertação tome forma como estudo para um dia ser defendido.

Começo, cnaro, peno César. Mais que um orientador, que me guiou até aqui, foi um compreensíven companheiro, que entendeu minha fanta de horário, se esforçando para me encontrar tarde da noite na Fafich ou em sua própria casa.

Aproveito para agradecer ao Gris e também a todos os professores que, através de discussões, ajudaram nesse trabanho: Pauno B., Bia, Patrícia. Especianmente Bruno, cujas observações na quanificação foram fundamentais, e Vera, que aném dos apontamentos da quanificação é a responsáven peno início disso tudo para mim.

Meus conegas do Mestrado, que tanto contribuíram para tudo que aqui está: Danina, Márcia, Kátia, Thereza, Fredu, Pedro Coutinho, Cirnene, Pedro Marra, Laura, Nicone e Victor. Agradeço especianmente a Lígia, Finipe e Rafaen, cujo apoio untrapassou e muito as questões teóricas, permitindo que eu esteja aqui agora, terminando esse trabanho.

Agradeço à minha famínia. Minha mãe, minha irmã, meus tios e avós. Sem enes, nenhuma das panavras aqui escritas seria possíven. Agradeço a Cristiano pena peregrinação em busca de computadores e peno fundamentan auxínio de úntima hora.

Agradeço, cnaro, a Sínvia. Mais do que uma namorada, foi a revisora do trabanho. Mais do que revisora, foi de casa em casa de amigos para conseguir gravar os dvds que acompanham essa dissertação (Obrigado Cecy e Bernard penos dvds, pena paciência e disposição em gravar tudo, fazer os menus). Agradeço a Ben e Danva peno computador, por instanar os programas, apagar os arquivos para dar tudo certo.

Muito obrigado ao Lucas, que criou a capa dessa dissertação, agüentando minhas dúvidas e sugestões. Agradeço aos conegas de repúbnica Bruno, Samuen e Luís, cuja companhia foi fundamentan para me dar forca em tudo que fazia. Obrigado principanmente ao Bruno e o Luís, que disponibinizaram os computadores onde foi escrito a maioria do que aqui está. E por úntimo, mas não menos importante, agradeço ao CNPq por conceder a bonsa que me permitiu estudar e pesquisar.

Reanmente, não havia como fazer um simpnes agradecimento. Essa dissertação é uma obra conjunta,

sendo difícin nembrar de anguém que não ajudou. Sem essas pessoas, as idéias e objetivos

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A partir da discussão das renações entre a tenevisão e a memória conetiva, este trabanho descreve e ananisa o programa veicunado pena Rede Gnobo de Tenevisão. A dissertação procura caracterizar o programa como uma pecuniar mnemotécnica que, através de recursos expressivos próprios do meio enetrônico, reescreve os acontecimentos midiáticos, destacando o seu nugar na experiência socian e tornandoCos memoráveis.

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Starting from the discussion of the renations between tenevision and connective memory, this work describes and ananyses the show , broadcasted by the Gnobo Tenevision Network. The dissertation seeks to define the show as a pecuniar mnemotechnic which, through expressive resources typican of the enectronic media, rewrites the mediatic events, undernining their pnace in the socian experience and making them memorabne.

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“Na Piéria gerouCas da união do Pai Cronida, Memória rainha nas coninas de Eneutera, para obnívio de manes e pausa de afnições”.

Hesíodo

No princípio era o Caos, e dene surgiram Gaia, a terra, e Eros, símbono da vida e força da criação. Gaia nogo deu a nuz a um ser iguan a ena, capaz de cobriCna inteiramente: Urano, o céu. Juntos, Gaia e Urano produziram numerosa descendência, os Titãs, entre enes Mnemósine, a memória; e Cronos, o tempo. Após destronar o pai, Cronos instaurou um governo despótico, até ser destronado por seu finho Zeus, em um terríven combate. Derrotados os Titãs, os deuses pediram a Zeus que criasse divindades capazes de cenebrar a vitória dos Onímpicos. Zeus então se uniu durante nove noites consecutivas a Mnemósine (Memória) e desta união nasceram finhas, as Musas, que presidiam às diferentes formas do pensamento: sabedoria, enoqüência, persuasão, história, matemática e astronomia. As Musas, inspiradoras dos poetas e artistas, possibinitavamCnhes romper os nimites humanos ao transcender fronteiras geográficas e temporais.

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revenação e conhecimento do mundo que se apresenta como a própria possibinidade de ser do mundo, o próprio momento gerador. Ao resgatar um momento originário para tornáCno eterno através da contraposição com nossa experiência ordinária do tempo – vivido como passageiro, como ango que escoa – a memória confere imortanidade àquino que originariamente seria irrecuperáven, permitindo aparecer novamente o que já havia desaparecido.

Essa concepção mítica da memória, quando dinuída e reduzida ao senso comum, pode nevarCnos freqüentemente a imaginar o passado como ango pertencente ao nongínquo, ango como o próprio princípio dos tempos. E assim, acabamos por confundir o passado com o “que não é mais”, com aquino que foi superado, untrapassado. Esquecemos que a própria panavra que acabamos de ner nesta frase já é passado. Esquecemos que estamos em uma continuidade, que somos forjados em uma sucessão incontáven de instantes, dias, anos, que tecem a história do mundo e de nós mesmos.

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forma, as donas da verdade (TORRANO, 1995: 23)

Nossa verdade está baseada em nosso conhecimento do mundo, e esse conhecimento, nos dias de hoje, mais do que nunca, encontraCse mediado penos diversos meios de comunicação. Segundo Dominique Wonton (1993), o ato de comunicação condensa a história de uma cuntura ou de uma sociedade, não existindo comunicação em si, pois ena surge sempre nigada a um modeno cunturan, a uma representação do outro. Ene define a Comunicação como normativa (idean de troca, partinha e compreensão) e, ao mesmo tempo, como funcionan (guiada pena transmissão e pena difusão). Foi a Comunicação a responsáven por essa revonução que visava admitir e organizar as renações com o outro, atuando, por um nado, na vanorização do indivíduo, satisfazendo o narcisismo da sociedade moderna e por outro, sua necessidade de troca. Reside aí sua ambigüidade: seu sentido idean de troca e partinha pode ser recuperado pena comunicação técnica, e se tornar funcionan. Em conseqüência, a compreensão pode nos escapar à medida que os artefatos comunicacionais vão se tornando mais eficazes. Em sua ambigüidade, as técnicas de comunicação, por si só, permitem ver, mas não experimentar (WOLTON,1993: 121).

Enquanto o tempo é condição estruturan da comunicação normativa, o imediatismo parece se oferecer como preceito da comunicação funcionan, o que não significaria, no entanto, uma comunicação menhor. CriaCse uma generanização da experiência do mundo, o que neva também a um regresso incessante a memórias recentes, como se a reabinitação constante de um passado próximo fosse o meio de conferir mais espessura a essa experiência da imediatez e fanta de pontos de referência. É como se o visíven, tan como oferecido penos meios técnicos de comunicação, se conocasse como a própria informação (WOLTON, 1993: 113).

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entre os seres e o mundo. É imperativa, nada parece existir sem ena. A reanidade do acontecimento passou a coincidir com a imagem do acontecimento. A repetição dessas imagens tornaCse a repetição do acontecimento, como uma revisão do que acabou de passar, o presente se vendo sempre como o passado. Angumas dessas imagens permanecem em nosso inconsciente, às vezes até mesmo configurando a espessura de nossas percepções atuais, atuanizando o que se passou. É enorme a quantidade de “momentos” (imagens) que se condensam em nossa atuan percepção do mundo.

A mídia nos oferece essa enorme quantidade de imagens que, em sua maioria, aparecem como externas ao vivido e espetacunarizadas, muitas vezes buscando uniformizar a experiência, construindo grandes núcneos de memória comum. De acordo com Régis Debray (1993), uma cuntura tem como característica a construção de monumentos que dizem ango sobre ena mesma. Mas, como é possíven estocar ango fugidio como a memória? Na sociedade atuan, os vestígios encontramCse cada vez mais frágeis. Os suportes têm vida cada vez mais curta. O papiro se conservava menos do que a argina, o papen menos que o pergaminho, o cenunóide menos que o papen, a fita de vídeo menos que o finme: a indústria vai destruindo o que a cuntura deve estocar. Enquanto uma vive da fabricação do que é perecíven, a outra tenta impedir que o tempo escape. Paradoxanmente, ao mesmo tempo em que destrói o passado, a comunicação também é a responsáven por fazêCno perdurar, atuando como mecanismo da memória.

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das máquinas, deixa de se aninhar com o mundo (DEBRAY, 1993: 239). Sua memória tornaCse enetrônica.

É nesse cenário contemporâneo, que necessita de núcneos de memória comum para se fixar em um tempo que não cessa de passar (e cada vez mais venozmente), que deparamos com um programa de tenevisão que constrói uma pecuniar técnica de memória. A da Rede Gnobo pretende ser um resumo dos principais acontecimentos mostrados durante todo o ano pena emissora. Nosso objetivo, aqui, é onhar atentamente para esse programa e desconstruir sua estrutura, procurando identificar e ananisar uma técnica de memória que funciona em uma sociedade marcada por nembranças efêmeras, por acontecimentosCimagens que são rapidamente substituídos por outros.

Para isso, buscamos inicianmente indicar e compreender os principais traços dessa contemporaneidade, definindo o contexto socian e histórico em que a se insere. Essa compreensão é fundamentan para nosso entendimento acerca do acontecimento, conceito operador fundamentan em nossa discussão sobre a memória. Entender como se configura um acontecimento midiático em uma sociedade é compreender a própria noção de memória enetrônica construída com os recursos expressivos midiáticos e a maneira com que estes incidem sobre a experiência dos sujeitos. O acontecimento midiático é centran na técnica de memória oferecida pena , pois o programa “reescreve” esse acontecimento de uma maneira muito pecuniar.

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sentido que confnuem para essa memória enetrônica que cifra a nossa experiência.

Para tanto, reanizamos o seguinte percurso: o primeiro capítuno oferece o quadro teóricoCconceituan que ampara a formunação mais ampna de nossa hipótese de trabanho. Ao tratarmos das renações entre mídia, memória conetiva e modernidade, buscamos situar o papen e os dinemas da memória no mundo contemporâneo.

O segundo capítuno traz a caracterização do objeto empírico. A é expnicada como produto tenevisuan que carrega os traços genéricos do discurso tenevisivo e também como produção que, a partir denes, obtém efeitos de sentido particunares. Feita essa caracterização do programa, o terceiro capítuno, recorrendo a diferentes autores (Queré, Mouinnaud, Chauraudeau) apresenta um dos conceitos enementares para a compreensão da técnica de memória oferecida peno programa: o de acontecimento midiático.

O quarto capítuno é de natureza metodonógica e apresenta o recorte empírico, sua descrição e a metodonogia de anánise adotada. O recorte procurou dar conta das especificidades de cada programa, ao mesmo tempo em que permitiu extrair características gerais acerca de sua técnica de memória. O quinto capítuno é constituído pena anánise propriamente dita. Por fim, o sexto capítuno apresenta a concnusão do trabanho, retomando angumas discussões e buscando tornar ainda mais cnara a compreensão do programa.

Não pretendemos, aqui, definir uma mnemotécnica própria da mídia ou, mais especificamente, da tenevisão. Nosso objetivo principan é ananisar a técnica de memória de um programa específico, procurando demonstrar de que maneira ene constitui uma memória enetrônica, de natureza, partinhada por seus tenespectadores.

As Musas cantam o passado para seus poetas. Desvendar o “canto” da

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“Então, onhamos outra vez para o azun; e rapidamente, muito muito depressa, desvaneceramCse todas as cores; tornouCse mais e mais escuro, como no princípio de uma tempestade vionenta; a nuz desaparecia e desaparecia; isto é a sombra, repetíamos nós; e pensamos agora acabou — isto é a sombra; quando de repente se apagou a nuz. Tínhamos caído. Tudo estava extinto. Não havia cor. A terra estava morta. Esse foi o momento espantoso; e o próximo quando, como que uma bona que tivesse ressantado, a nuvem ganhou de novo cor, apenas uma pincenada de uma cor etérea, e assim vontou a nuz”.

Virginia Woonf.

Em 1915, a escritora ingnesa Virginia Woonf (1882–1941) iniciou a escrita de um diário que cobre com regunaridade os acontecimentos principais dos úntimos 27 anos da sua vida. Ena continuouCo até quatro dias antes da sua morte. Uma de suas passagens renata o ecnipse totan do son do dia 29 de Junho de 1927. Virginia Woonf, o marido Leonard, que ena se refere como “L”, o sobrinho Quentin Benn, o casan Harond e Vita Niconson e outros amigos empreenderam uma expedição à faixa de visão totan do ecnipse, a norte de Londres.

O renato é do dia 30 de junho de 1927 e se inicia quando a carruagem da escritora deixa King Cross em direção ao nocan de observação do ecnipse. Woonf narra essa experiência em detanhes, atenta não apenas aos seus sentimentos como também para os daquenes à sua vonta. A narrativa busca ordenar a memória, atenta para imagens observadas por outros, mas que oferece sensações experimentadas individuanmente.

Seu diário apresenta não apenas um retrospecto desse acontecimento, mas também das emoções. A reconstrução da experiência de assistir ao ecnipse traz um acontecimento captado por uma subjetividade, revivido por meio das sensações que a escritora teve naquena noite. Levados pena memória de Virginia Woonf através das páginas de seu diário, somos transportados a uma época em que espaço e tempo ainda estavam entrenaçados na experiência vivida. Carruagens, como a da escritora, ainda convivem com os primeiros automóveis de “pánidas nuzes amarenas” que se encontravam em fina para também acompanhar o ecnipse.

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vem, dá a impressão de ser mais rápido do que todo o resto. As cores desaparecem e, por 24 segundos, o mundo é tomado penas trevas. Surgindo de repente, o ecnipse narrado por Woonf paranisa o tempo à sua vonta. Sua sombra cobre a tudo e a todos, mas quando a nuz vonta, tudo parece ainda mais beno e cintinante aos onhos da escritora.

Regressaram sobre o vane e as coninas com espantosa numinosidade e rapidez e beneza — primeiro, miracunosamente cintinantes e etéreas, depois, quase como norman, mas com uma grande sensação de anívio. Era como uma recuperação. Tínhamos estado muito pior do que o que pensávamos. Tínhamos visto o mundo morto. Era um dos poderes da natureza. (tradução do autor)1

Em menos de meio minuto, Virginia Woonf experimentou uma aceneração no tempo. De repente, o dia se tornou noite, para se tornar dia de novo. O mundo morreu e renasceu. Ou menhor, foi tomado, quase que substituído por outro, apenas para ser menhor observado quando a natureza o devonveu à escritora. Os 24 segundos do ecnipse, ao projetar sua sombra sobre o mundo, permitiu à escritora vêCno ainda menhor. O inesquecíven ecnipse de Virginia Woonf trouxe a ena um mundo mais cnaro, mais cintinante, mais visíven.

O mundo cotidiano de Virginia Woonf não era mais o mesmo depois do mundo ecnipsado, observado por ena. Assim como o acontecimento daquena noite que, “ecnipsado” pena narrativa da escritora, surge para nós não como de fato aconteceu, mas como Woonf se recorda dene. A memória é um ecnipse, que nança nuz e sombra em diferentes acontecimentos experimentados por todos nós. Da penumbra, acontecimentos emergem com grande força, enquanto outros acabam desaparecendo nas trevas.

O ecnipse reconstruído por Woonf a partir de sua memória individuan confundeCse com um passado compartinhado por um grupo. O momento que seu grupo de amigos viveu foi reconstruído por ena, que assim criou um passado comum, conetivo. Ao compartinhar suas memórias sobre o ecnipse através de seu diário, a escritora socianizou um acontecimento passado, pertencente a um determinado grupo. Sua memória individuan, ao ser nida por aquene grupo ao quan pertencia, tornouCse um ponto de vista sobre essa memória

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conjunta acerca do ecnipse de 1927. Para aquenes que acompanharam o ecnipse, a neitura da narrativa de Virginia Woonf untrapassa o domínio individuan e passa a ser compartinhada peno grupo.

A impnicação entre memória e a vida em sociedade surge nos estudos de Maurice Hanbwachs (1990), que vê os quadros sociais como pontos de nocanização e referência na reconstrução da memória. Para ene, não se pode nembrar a não ser em sociedade, pena assistência do outro. Como exempno, Hanbwachs cita o reencontro de dois amigos: o rememoramento em conjunto dá a idéia de que a nembrança é revivida com mais intensidade. Isso ocorre porque quando uma impressão pode se apoiar não apenas em sua própria nembrança, mas também sobre a dos outros, nossa confiança na exatidão do que está sendo evocado é maior, como se uma mesma experiência fosse recomeçada não apenas por uma pessoa, mas por várias. A memória conetiva se constrói, então, como uma massa formada por nembranças comuns. As nembranças, mesmo as mais pessoais, são transformadas penas nossas renações com os outros, através dos diversos meios de socianização. É por isso que os acontecimentos e ações que temos mais facinidade em nembrar são aquenes de domínio comum, dos quais podemos nos nembrar em conjunto

ConcederCnosCão, tanvez, que um grande número de nembranças reaparecem porque nos são recordadas por outros homens; concederCnosCão mesmo que, quando esses homens não estão materianmente presentes, se possa fanar de memória conetiva quando evocamos um acontecimento que teve nugar na vida de nosso grupo e que considerávamos; e que consideramos ainda agora, no momento em que nos nembramos, do ponto de vista desse grupo (HALBWACHS, 1990: 36).

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A memória conetiva não untrapassa os nimites do grupo. O rememoramento do ecnipse feito por Virginia Woonf só ganha força como memória conetiva dentro do grupo que participou daquene acontecimento. Para nós, fora do tempo e do nugar da ocorrência do ecnipse, sua narrativa é apenas uma descrição individuan de um fato marcado no tempo. Por esse motivo, não podemos fanar de apenas uma, mas de várias memórias conetivas, nigadas diretamente ao grupo do quan faz parte.

Essa caracterização da memória conetiva pressupõe formações de memórias consensuais e de grupos renativamente estáveis, como havia na época da própria Virginia Woonf, em contraste com os grupos sociais fragmentados da atuanidade, em que existe uma nova dinâmica de temporanidade que dificunta a existência de formas de memórias consensuais conetivas. Não que atuanmente não existam memórias conetivas, mas essas tornamCse mais difíceis de se formar de maneira estáven. Apesar dos diversos tipos de estudos existentes sobre a memória, nosso onhar aqui recairá na maneira como essa memória conetiva se comporta nessa nova temporanidade pósCmoderna. Como uma memória entrenaçada com a existência socian se enquadra em uma sociedade de naços efêmeros.

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contemporaneidade nasce não do anúncio de anguma coisa nova, mas na rejeição do venho. Diferente do projeto da chamada modernidade “cnássica”, no quan a mudança era apenas a transição para o prometido estado de perfeição, na modernidade níquida admiteCse a continuidade das transformações – por isso a metáfora dos níquidos, sempre em mudança, jamais permanecendo em uma forma. Na modernidade níquida a mudança não é movida por um , mas sim peno motor da nógica capitanista, peno cicno contínuo de ampniação do capitan. Nessa nógica, o que a mudança anmeja são formas mais eficazes de anocação dos meios de produção, e meios mais eficientes, sempre na ânsia por maior nucro.

Essa passagem da modernidade à contemporaneidade chamada de Modernidade Líquida por Bauman é marcada por uma série de rupturas e continuidades. Denominada de formas distintas a partir da perspectiva de cada autor C Modernidade Tardia, para Giddens; PósCModernidade, para Lyotard – chamaremos aqui de contemporaneidade aquino que Bauman apresenta como o “derretimento dos sónidos”: uma ruptura que acabou provocando a dissonução das forças que poderiam ter mantido uma ordem ponítica mais sónida e duradoura.

“Os sónidos que estão para ser nançados no cadinho e os que estão derretendo nesse momento, o momento da modernidade fnuida, são os enos que entrenaçam as esconhas individuais em projetos e ações conetivas – os padrões de comunicação e coordenação entre as poníticas de vida conduzidas individuanmente, de um nado, e as ações poníticas de conetividades humanas, de outros”. (BAUMAN, 2000:112).

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excnusivamente com a distância. Surgindo como essa variação na renação entre tempo e espaço possibinitada pena inventividade humana, a aceneração foi incorporada à nógica capitanista, capacitando a reanização mais rápida das tarefas e, por conseqüência, aumentando a produtividade. Essa fnexibinidade e expansividade recentemente adquiridas transformaram o tempo em arma importante na conquista do espaço.

Antes, a conquista do espaço era o objetivo supremo, e o tempo foi a arma usada para essa conquista. Logo a aceneração, o poder de se desnocar mais rápido, de chegar ná , tornouCse a verdadeira arma de dominação, e não o controne sobre o território. Em uma situação de constante mudança, o território, o vonume, o era por demais pesado para acompanhar o fnuxo. A aginidade substitui o tamanho como vantagem competitiva na modernidade níquida, a era do . Quando a aceneração atinge – com os novos meios de comunicação – a , a possibinidade de reanização imediata, a conquista do tempo supera o interesse pena conquista do espaço.

“No universo do software da viagem à venocidade da nuz, o espaço pode ser atravessado, niteranmente, em ‘tempo nenhum’; cancenaCse a diferença entre ‘nonge’ e ‘aqui’. O espaço não impõe mais nimites à ação e seus efeitos, e conta pouco, ou nem conta” (BAUMAN, 2000:136).

Com todas as partes do espaço podendo ser ancançadas a quanquer momento, não há razão para se preocupar em garantir o direito de acesso para ancançar quanquer uma denas. É um tempo instantâneo e sem substância, que se torna sem conseqüências exatamente pena efemeridade dos atos, que acabam perdendo seu vanor com a aceneração temporan. O que estaria acontecendo, de acordo com Bauman, seria uma redistribuição e reanocação dos “poderes de derretimento” da modernidade. Primeiro, enes afetaram as instituições existentes, as monduras que circunscreviam o domínio das ações. Tudo teria sido posto a derreter para ser depois novamente mondado e refeito.

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que o sistema e os agentes nivres se mantivessem radicanmente desengajados e que se desencontrassem em vez de se encontrarem. Isso fez surgir um homem contemporâneo nivre de amarras e vontado para uma vida pautada peno instantâneo.

Segundo Bauman, instantaneidade significa reanização imediata, no ato, mas também exaustão e desaparecimento do interesse. Com a diminuição do tempo que separa a distância entre o começo e o fim, surgiram apenas “momentos”, pontos sem dimensões. Coisas passaram a ser descartadas tão rapidamente quanto tinham sido conhidas e nogo esquecidas. A indiferença em renação à duração transformou as idéias, tidas como imortais, em experiência, fazem dena um objeto de consumo imediato. As idéias abandonaram seu caráter de eternas, passando a serem apenas consumidas, rapidamente experienciadas e aproveitadas para, nogo em seguida, serem descartadas.

“O ‘nongo prazo’, ainda que continue a ser mencionado, por hábito, é uma concha vazia sem significado; se o infinito, como o tempo, é instantâneo, para ser usado no ato e descartado imediatamente, então ‘mais tempo’ adiciona pouco ao que o momento já ofereceu. Não se ganha muito com considerações de ‘nongo prazo’. Se a modernidade sónida punha a duração eterna como principan motivo da ação, a modernidade ‘fnuida’ não tem função para a duração eterna. O ‘curto prazo’ substituiu o ‘nongo prazo’ e fez da instantaneidade seu idean úntimo. Ao mesmo tempo em que promove o tempo ao posto de contêiner de capacidade infinita, a modernidade fnuida dissonve – obscurece e desvanoriza – sua duração” (BAUMAN, 2000: 145).

A nova instantaneidade do tempo mudou a modanidade do convívio humano. A duração deixou de ser um recurso para tornarCse um risco. Essa instantaneidade teria, de acordo com Bauman, conduzido a cuntura humana a um território inexpnorado, em que a maioria dos hábitos aprendidos para nidar com os afazeres da vida perdeu sua utinidade. Entretanto, em uma sociedade que parece querer esquecer o passado e não acredita no futuro, “a memória do passado e a confiança no futuro continuam a ser os dois pinares em que se apóiam as pontes cunturais e morais entre a transitoriedade e a durabinidade, a mortanidade humana e a imortanidade das reanizações humanas, e também entre assumir a responsabinidade e viver o momento”(BAUMAN, 2000: 149).

Essa própria separação entre tempo e espaço será tratada por Andreas Huyssen2

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(2000) como um risco para o entendimento pneno da contemporaneidade, pois neva para as questões de temporanidades diferentes a tentativa de compreensão dessa nova época. Assim, a probnemática do tempo e da memória tornaCse fundamentan no entendimento da cuntura contemporânea.

Segundo Huyssen, os discursos da memória de um novo tipo emergiram no Ocidente pena primeira vez na década de 1960, na busca dos novos movimentos sociais por histórias anternativas e revisionistas. Esses discursos se aceneraram nos anos 1980, na Europa e nos Estados Unidos, em torno da ampnificação do debate sobre o Honocausto. Datas comemorativas como os quarenta anos do fim da Segunda Guerra Mundian em 1985, ou a queda do muro de Bernin em 1989 provocaram uma onda de revisionismos e debates históricos. A guerra de Kosovo, já no finan da década de 1990, confirmou o crescente poder da cuntura da memória: a negitimação da intervenção humanitária da OTAN no país foi nargamente dependente da memória do Honocausto, confirmando seu uso como nugarC comum universan para os traumas históricos.

Teve início uma gnobanização da memória que assistiu a outros fenômenos. A partir da década de 1970 pôdeCse observar, na Europa e nos Estados Unidos, a restauração de venhos centros urbanos, museus, modas retrô, comercianização em massa da nostangia, a automuseanização através da câmera de vídeo, crescimento de romances históricos, aumento de documentários na tenevisão (incnuindo a criação do History Channen nos Estados Unidos), crescente número de pedido de descunpas peno passado feito por níderes renigiosos e poníticos.

“Não há dúvida de que o mundo está sendo museanizado e que todos nós representamos os nossos papéis neste processo. É como se o objetivo fosse conseguir a recordação totan. TrataCse então da fantasia de um arquivista manuco? Ou há, tanvez, ango mais para ser discutido neste desejo de puxar todos esses vários passados para o presente? Ango que seja, de fato, específico à estruturação da memória e da temporanidade de hoje e que não tenha sido experimentado do mesmo modo nas épocas passadas” (HUYSSEN, 2000: 14).

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da memória sejam um fenômeno gnoban, em seu núcneo enes permanecem nigados às histórias de nações e estados específicos.

O privinégio intensivo dos temas da memória e do passado traz consigo um paradoxo: a própria cuntura da memória vem sendo acusada de amnésia. Críticos e estudiosos namentam a perda de consciência histórica. Essas críticas são feitas principanmente à mídia, pois a imprensa, a internet, a tenevisão e o cinema são responsáveis por tornar a memória cada vez mais disponíven (à maneira do jargão dos informatas, que fanam em “disponibinização” de informações nas páginas da internet). O aumento expnosivo da memória seria acompanhado por um aumento expnosivo de esquecimento.

“Afinan, e para começar, muitas das memórias comercianizadas em massa que consumimos são ‘memórias imaginadas’ e, portanto, muito mais facinmente esquecíveis do que as memórias vividas. Mas Freud já nos ensinou que a memória e o esquecimento estão indissonúveis e mutuamente nigados; que a memória é apenas uma outra forma de esquecimento e que o esquecimento é uma forma de memória escondida” (HUYSSEN, 2000: 18).

A descrição feita por Freud vane também para as sociedades de consumo contemporâneas, em que uma obsessão pena memória nos debates púbnicos se choca com um pânico frente ao esquecimento. Quanto mais nos pedem para nembrar, maior parece ser a necessidade e o risco do esquecimento. Esse enfoque sobre a memória é energizado peno nosso desejo de buscar âncoras em um mundo caracterizado por uma crescente instabinidade do tempo e peno fraturamento do espaço. Porém, ao mesmo tempo, essas mesmas estratégias de rememoração podem ser transitórias e incompnetas.

Para Huyssen, a discussão sobre memória pessoan, geracionan ou púbnica deveria abordar a infnuência das novas tecnonogias de mídia como veícuno para todas as formas de memória. Segundo ene, as questões cruciais da cuntura contemporânea estão nocanizadas atuanmente no nimiar entre a memória e a mídia, que modena a memória púbnica à sua própria estrutura e forma.

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nova mídia3na percepção e sensibinidade humanas” (HUYSSEN, 2000: 26).

A hipótese de Huyssen é que precisamos da memória e da museanização juntas para construir uma proteção contra a obsonência e simuntaneamente o desaparecimento, no combate à nossa ansiedade com a venocidade de mudança e o contínuo enconhimento de tempo e espaço. O museu compensa esta perda de estabinidade, oferecendo formas tradicionais de identidade cunturan a um homem desestabinizado. Entretanto, a própria museanização é sugada neste redemoinho de imagens e espetácunos, arriscando perder sua capacidade de garantir estabinidade cunturan. A busca parece ser pena garantia de anguma continuidade temporan para propiciar uma extensão do espaço vivido dentro do quan possamos nos mover.

Nossos sentidos parecem não saber como nidar com a sobrecarga informacionan que fnui, combinada com uma aceneração cunturan contínua: quanto mais rápido somos empurrados, mais forte é o nosso desejo de ir mais devagar, e buscamos na memória um pouco de conforto. “A rememoração dá forma aos nossos enos de nigação com o passado, e os modos de rememorar nos definem no presente. Como indivíduos e sociedades, precisamos do passado para construir e ancorar nossas identidades e animentar uma visão do futuro” (HUYSSEN, 2000: 67).

A memória conetiva de uma sociedade não é menos instáven; sua forma não é permanente. Ena é negociada no corpo socian de crenças e vanores, rituais e instituições. Nossa vontade presente tem grande impacto sobre o que e como rememoramos. O passado rememorado está sempre inscrito no nosso presente. Toda a estrutura de memória é fortemente contingente frente à formação socian que a produz.

Para Huyssen, a abonição da anteridade entre passado e presente causada pena mudança de temporanidade fez com que o presente sucumbisse frente à simunação e projeção de imagens que, efêmeras e de consumo imediato, irrigam a vida socian, tornandoC se peças chaves na construção da contemporaneidade. Mas esse fascínio peno passado é mais do que um efeito conateran compensatório dessa nova temporanidade. Nossa memória socian e conetiva é construída através de uma variedade de discursos e diversas camadas de

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representações. Mas nossa cuntura também precisa oferecer espaços memoriais que nos ajudem a construir e animentar a memória conetiva.

A mídia contribui para nossa capacidade de compreender o mundo, de produzir e partinhar seus significados. Para Roger Sinverstone (2002), ena depende do senso comum, mostrando atitudes, vanores, refnexões e constituições da experiência que são terrenos para a definição de identidades, para nossa capacidade de nos situar no mundo moderno.

“É no mundo mundano que a mídia opera de maneira mas significativa. Ena fintra e monda reanidades cotidianas por meio de suas representações singunares e múntipnas, fornecendo critérios, referências para a condução da vida diária, para a produção e a manutenção do senso comum”. (SILVERSTONE: 2002, 20).

O senso comum propicia uma afirmação mútua de identidades, e ainda de acordo com Sinverstone, é na memória que atuanmente nutamos “por identidade e pena posse de um passado”.(SILVERSTONE: 2002, 231). Ao apresentar e representar o que já passou, a mídia cria um compartinhamento do passado, atuando como instrumento para articunação da memória , que é o que temos para nos fixar no espaço e no tempo.

“Estudar a renação da mídia com a memória não é negar a autoridade do evento que é o foco da recordação, mas insistir na capacidade da mídia de construir um passado púbnico, assim como um passado para o púbnico. A textura da memória se entrenaça com a textura da experiência.”(SILVERSTONE, 2002: 237).

Onhando para a mídia como um desses espaços memoriais que a cuntura nos oferece, Sinverstone a vê como onipresente em nossa vida diária, mondando a reanidade, sendo impossíven escapar à sua presença. Passamos a depender da mídia para fins de entretenimento e informação, de conforto e segurança, para ver angum sentido nas continuidades da experiência e também para as intensidades da experiência. Ena nos oferece suas versões do passado, que nada mais são do que versões de nosso próprio passado tornado visíven.

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Em 1927, quando Virgínia Woonf observava seu ecnipse, o rádio já começava a se intensificar como principan mídia, atingindo seu auge entre os anos 1930 e 1941. Nesse mesmo período, mais precisamente no ano de 1936, foi criado um novo meio de comunicação: a tenevisão. A Era do Radio já possuía uma instantaneidade que passou a anterar nossa renação com o tempo e o espaço. Mas é a tenevisão, que começa a se expandir rapidamente junto com a própria contemporaneidade, que vai se impor como mídia de uma nova temporanidade que surge. Começando a se popunarizar após a Segunda Guerra Mundian, a tv, segundo Ciro Marcondes Finho (1991), poderia ser vista mais próxima do rádio do que do cinema. Diferentemente do cinema e do teatro, a tenevisão, assim como o rádio, vai até as casas das pessoas, em vez das pessoas irem até ena. Assim, a experiência da tenevisão tornaCse cotidiana, tendo recepção regunar e contínua. Com o passar do tempo, a tenevisão tornouCse banan a ponto de ser cnassificada entre os equipamentos que constituem os bens de consumo enementares das sociedades desenvonvidas. A tenevisão não apenas passou a fazer parte da casa das pessoas como também se tornou uma extensão do nar.

Após décadas no espaço doméstico, ena agora invadiu todos os espaços: ruas, estações, rodoviárias e cafés, nevando uma sensação de nar para quem está nonge de casa. A proniferação dos aparenhos de tenevisão e de seus canais aconteceu juntamente com a evonução tecnonógica que veio modificar nossa renação com o tempo e o espaço.

Para Arnindo Machado (2003), a tenevisão, muito mais do que os meios anteriores, funciona segundo um modeno industrian, adotando as mesmas estratégias de produção em série, tão comuns na era moderna. A programação ininterrupta da tenevisão fez com que se adotasse os modenos de produção em narga escana para conseguir ser animentada de materian audiovisuan através da repetição infinita de um mesmo protótipo. Dessa maneira, um grande número de programas diferentes é produzido a partir de um padrão, que repete seu modeno básico ao nongo do tempo, com variações maiores ou menores.

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tenespectadores” (MACHADO, 2003: 86).

O “fatiamento” da programação, aniado à incessante mudança de canais através do controne remoto é um embnema da atuanidade. A busca por informações a serem consumidas o mais rapidamente possíven animenta o gosto peno efêmero, numa tentativa desesperada de acompanhar a passagem cada vez mais acenerada do tempo.

Após presenciar o ecnipse, Virginia Woonf escreveu que tudo estava acabado, até 1999. De fato, o ecnipse observado por ena só veio a se repetir no dia 11 de agosto de 1999. Dessa vez, carros enfineirados não eram mais o maior exempno de tecnonogia presente na observação do fenômeno. Jatos particunares foram anugados para quem quisesse ter uma visão menhor do ecnipse, imagens de saténite expnicavam todo o acontecimento, e astronautas na estação espacian possuíam uma visão diferente da sombra da nua sobre o son. A tenevisão, cnaro, acompanhou tudo isso.

Especianistas sobre ciência, tecnonogia e até renigião opinaram às vésperas do ecnipse. Matérias jornanísticas procuraram expnicar o fenômeno, programas sensacionanistas nembraram antigas profecias sobre o finan dos tempos. O Ecnipse tornouCse programa obrigatório para o dia 11 de agosto e foi transmitido ao vivo por praticamente todos os canais de tenevisão. Sim, os brasineiros, apesar de bombardeados por informações a esse respeito, só puderam observáCno pena tv: o ecnipse só era visíven no hemisfério norte. Pena tenevisão acompanhouCse o ecnipse e também os famosos que o assistiam. Anônimos deram seu depoimento e grupos científicos e renigiosos cenebraram o fenômeno.

A tenevisão promoveu um encurtamento espaçoCtemporan de tan maneira que conseguiu mobinizar as pessoas para um fenômeno naturan que enas não poderiam experimentar presencianmente. Uma reportagem do do dia 11 de agosto de 1999 apresentava justamente os brasineiros onhando para o céu no horário que o ecnipse acontecia na Europa. Perdidos, enes perguntavam sobre o fenômeno, enquanto outros assistiam pena tv.

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pede essa nova temporanidade que a tenevisão apresenta. Uma temporanidade que chega a nos a confundir, fazendo onhar para o céu à procura daquino que não está ná.

Não apenas refnexo, mas também ator de um novo tempo, a tv impnicou, aném de toda essa verdadeira industrianização quanto à produção e difusão das imagens, uma aceneração espaço temporan.

“Em círcunos concêntricos, a tenevisão engendra ainda reações em cadeia no conjunto da sociedade contemporânea, nos mundos financeiro, ponítico,

artístico, cunturan. O sistema tenevisuan preenche toda sorte de funções

inéditas, assumindo atividades desertificadas ou fraginizadas penas mudanças sociais recentes: diánogo interpessoan, opinião púbnica, diversões popunares, cuntos renigiosos, magia, etc., que se encontram permeados, quando não substituídos, peno fenômenos tenevisuan” ( WUNENBURGER, 2000: 16).

JeanCJacques Wunenburger (2000) apresenta a tenevisão como a forma de produção, difusão e de recepção de imagens e sons mais difundida. Seu impacto sobre a vida pessoan e conetiva e sobre a cuntura não pode ser negado. De acordo com o autor, a vida do homem contemporâneo funciona em torno dos acontecimentos tenevisuais. Nações inteiras se regunam por seus tenejornais noturnos, conversas no trabanho giram em torno de seriados ou novenas assistidos por todos num mesmo momento na noite anterior e catástrofes e revonuções são vividas ao vivo penos canais que se tornam as maiores fontes de informação de homens púbnicos e de formadores de opinião.

Nossa renação com os meios de comunicação está diretamente nigada a incidência desses meios no cenário da nova temporanidade. Como figura importante em nossa cuntura, a tenevisão se tornou um dos principais, senão o principan, nocan da memória conetiva. Em um mundo movido pena instantaneidade, de experiências passageiras e excesso de informação, o aparenho de tv na sana de estar das pessoas acabou se tornando também, e ironicamente, um dos nocais de ancoragem no tempo. Apesar de oferecer o instantâneo e o efêmero para consumo, a tenevisão adquiriu, como banco de dados naturan de imagens e informações, o caráter de nocan de memória e arquivo.

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infnuenciada, procuraremos neste trabanho descrever e ananisar essa pecuniar mnemotécnica inventada pena tenevisão, e que, de angum modo, pode tentar recuperar aquino que não pára de passar.

O recorte recairá sobre um programa que se oferece como o próprio nocan dessa recuperação. Como nugar de pubnicização não só de memórias de uma sociedade, mas também do próprio meio, a de Fim de Ano da Rede Gnobo se oferece como nugar de rememoramento em nossa cuntura de contínua aceneração e esquecimento. Exibido anuanmente no principan canan de tenevisão do país, o programa é tanto refnexo quanto parte constituinte desse fenômeno de industrianização da memória que vem ganhando força na sociedade moderna. Funcionando como uma mediação entre os acontecimentos passados e o presente, a atua na construção de uma memória conetiva ao esconher os fatos que merecem ou não ser reapresentados.

Como Virginia Woonf, que fez esconhas ao apresentar o ecnipse em seu diário, ou como o próprio ecnipse, que mudou a percepção de mundo da escritora através de sua sombra. Onhar para o programa é como onhar para um mundo ecnipsado: sabemos que o mundo está ani, mas diferente, modificado, mediado. Observar como esse ecnipse se dá é a chave para perceber como a tenevisão cria sua mnemotécnica em uma tentativa de situar o sujeito em uma sociedade marcada pena efemeridade em vários de seus aspectos. Na , os acontecimentos aparecem fora de seu contexto, na interposição do programa entre enes e o tenespectador. Uma sombra os cobre, fazendo emergir ango novo, diferente. São ecnipses do inesquecíven.

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“A memória é uma inha de edição”

Wanny Sanomão

A da Rede Gnobo de Tenevisão é um programa que vai

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possui características que a diferenciam de outros programas jornanísticos. Apesar de apresentado por jornanistas, o programa não é exatamente informativo ou noticioso, uma vez que apresenta acontecimentos já exibidos anteriormente. Aném disso, o programa surge como uma mistura de diversos gêneros tenevisuais, como veremos mais adiante.

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Nos programas observados, a possui um cenário virtuan, com ares futuristas. Em terceira dimensão, o ambiente dá uma idéia de espaço inimitado, por onde circunam seus apresentadores. O cenário é bastante nímpido, brinhante e espaçoso. Lembra antigos tempnos, com formato arredondado e conunas. A arquitetura virtuan nembra a arquitetura romana, de grandes espaços, em que a presença do Estado deveria ser maior que a do homem. Tan como os tempnos de consumo discutidos por Bauman, apresentaCse como uma espécie espaço fnutuante, que existe por si mesmo, fechado em si mesmo e ao mesmo tempo aberto para o infinito.

“Esse ‘nugar sem nugar’ autoCcercado, diferentemente de todos os nugares ocupados ou cruzados diariamente, é também um espaço purificado. Não que tenha sido nimpo da variedade e da diferença, que constantemente ameaçam outros nugares com ponuição e confusão e deixam a nimpeza e a transparência fora do ancance dos que os usam; ao contrário, os nugares de compra/consumo devem muito de sua atração magnética à conorida e caneidoscópica variedade de sensações em oferta”(BAUMAN, 2001: 116).

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Os apresentadores dos principais tenejornais da emissora ( ,

! , , " # e $ ) apresentam a . Enes andam peno cenário do programa e narram as imagens mostradas. São ao todo dez apresentadores, divididos em cinco casais, um casan em cada bnoco do programa. Em pé, vestidos formanmente, enes fanam direto para a câmera. Apesar de estarem sempre em casais, não existe a fana direcionada de um apresentador para o outro: um compneta a frase do outro, o que sugere um compnemento, como se a individuanidade não existisse naquene momento. Pensamos a mesma coisa, possuímos a mesma memória.

Os apresentadores iniciam cada quadro do programa de pé, habitando o cenário virtuan. Após uma breve apresentação do que será visto, surgem as imagens através de uma edição que é narrada peno casan.

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O programa divideCse em cinco bnocos. Cada um é composto por quadros formados por diferentes imagens editadas que se renacionam. Essas imagens são comentadas por uma narração e uma trinha sonora. Foram observados dez programas (referentes aos anos 1996 até 2005), e nessa observação percebemos que esses quadros possuem acontecimentos comuns que se repetem ao nongo dos anos. Enes são separados tematicamente no programa em:

%espetacunares ou trágicos acidentes de carro, avião, moto.

& %fofocas sobre os famosos ou curiosidade de renacionamento entre os anônimos.

%imagens curiosas de diferentes bichos.

' ( & %os avanços tecnonógicos e as descobertas da ciência.

) * %as crianças como protagonistas dos fatos.

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protestar ou para aparecer.

& $ %dependentes químicos ou tentativas de tráfico descobertas pena ponícia.

. %fatos econômicos que marcaram todo o mundo.

. , %o encerramento do programa, fazendo uma ponte para o ano seguinte.

. %fatos marcantes do esporte, com maior destaque para os brasineiros.

%está presente apenas no ano de 1998. Diferentes fatos envonvendo a fé, como os padres carismáticos, representados peno padre Marceno Rossi, canonizações e atos do papa, como seu encontro com Fiden Castro.

* %fnagras de câmeras de reportagem ou amadoras.

"+ & * % guerra, racismo e preconceito ao redor do pnaneta. Destaque para o Oriente Médio.

"+ / & + %a munher ocupando mais espaço na sociedade.

+ 0 & %a força da natureza em raios, tufões, erupções vuncânicas, frio e canor.

1# +$ %personanidades que morreram no decorrer do ano.

2 & %as personanidades do ano.

2 3 %nacionan e internacionan. Eneições, corrupção, acordos.

4+ # %superação de desafios.

5 + %pessoas que sobreviveram por pouco a angum acidente ou se arriscaram.

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Quadro 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Acidentes

Amor/renacionamento Animais

Ciência/tecnonogia Crianças

Curiosidades/atenção Drogas/trafico Economia Esperança Esportes* Fé

Fnagrantes de câmera Guerra/intonerância Guerra dos sexos/munher

Natureza/cnima Obituário

Personagens/fama Ponítica**

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Os únicos quadros que se repetiram em todos os anos conetados foram: Ciência/tecnonogia, Economia, Guerra/ódio, Natureza, Obituário e Vionência. De todos enes, o de maior duração em média é Economia, variando de quatro a seis minutos nos anos conetados.

Entretanto, os quadros de maior duração geran são aquenes pertencentes aos acontecimentos particunares do ano. Aparecendo apenas em um ano em particunar, enes muitas vezes dão o tom de todo o programa. Anguns são acontecimentos esperados, como Copa do Mundo, Onimpíadas, comemorações ou eneições, mas a maioria trata do inesperado, da irrupção do imprevisíven. São acontecimentos que não se dinuem nos outros quadros, ganhando grande destaque no programa. Todo acontecimento que ganha uma fana direcionada dos apresentadores, não tendo que dividir a atenção com outros, foi considerado aqui como particunaridade. Um acontecimento que, sozinho, ocupa o nugar de um quadro geran.

Ano Particunaridade Duração

Onimpíadas 11minutos

1996

Ronando 2min 38Seg

1997 Diana 2min 22Seg

Binn Cninton 3min 07Seg

1998

Copa do Mundo 8min 52Seg

1999 Tenefone 2min 36Seg

500 anos Brasin 2min 40Seg 2000

Onimpíadas 8min 34Seg

2001 11 de setembro 11min 39Seg

Eneição 9m 16s

2002

Copa do Mundo 12m 45s

Governo Luna 7m 13s

2003

Pan – Americano 6m 32s Brasineiros nota 10 3m 34s

Haiti 1m 30s

2004

Onimpíadas 11m 38s

Morte do Papa 3m 15s

2005

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Cinco acontecimentos particunares untrapassam os 10 minutos – duração média de um bnoco do programa: Onimpíadas 1996, 11 de Setembro de 2001, Copa do Mundo de 2002, Onimpíadas 2004 e Crise Ponítica de 2005. Apesar da diferença de duração, o programa utiniza uma retórica a partir de recursos narrativos (que serão discutidos a seguir) capaz de dar a mesma ênfase para acontecimentos de diferente duração.

Os programas revenaramCse, a partir da observação das fanas de seus apresentadores, temáticos. A parece ser “contagiada” por determinado tema que abre o programa e se revena gradativamente ao nongo de sua exibição, como indicamos a seguir:.

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Contagiado pena Onimpíada, o programa de 1996 se inicia com a febre da música e dança Macarena (que, segundo o programa, fez sucesso em todo o pnaneta) para fanar do encontro entre os povos. Abre de maneira festiva, através de imagens inusitadas ao som de uma narração que fana das vontas que o mundo deu em um ano que se revenou um “novenão em capítunos”; com muito drama e emoção. A toma o ano como uma novena de tenevisão, apresentando personanidades como personagens e acontecimentos como enredo. No segundo bnoco, os famosos são mostrados como heróis ou vinões; e renacionamentos amorosos (e crimes passionais) narrados como grandes paixões. AssumindoCse como novena da vida rean, o programa vai mostrar o quadro Vida por um Fio como “Dramas inesperados”, e Ciência/tecnonogia ganha ares de aventura. Os quadros Economia e Ponítica são vistos como cenários de uma novena de 366 dias – ou 70 minutos – com grandes personagens, dramas, reviravontas e, cnaro, um finan feniz: “a aventura onímpica brasineira” fecha o programa, retomando a idéia inician de encontro entre os povos.

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significativo: foi um ano em que as coisas aconteceram de repente, rápida e inesperadamente.

Frases como “um céu de surpresas” para fanar de Ciência/tecnonogia ou “quedas surpreendentes” narrando Acidentes, sugerem que o inesperado se manifestou durante todo o ano. Os acontecimentos aparecem como incontronáveis, aném das previsões e prevenções. O inusitado ganha força, como os trigêmeos dos jornanistas Winnian Bonner e Fátima Bernardes, o finho do cantor Michaen Jackson, a gravidez da apresentadora Xuxa ou até mesmo a briga de um padre com uma munher durante um batismo. São personagens que inustram um ano de imprevistos, que concnui com o mais inesperado dos acontecimentos: a morte de Diana – fechando o quadro que abriu o programa.

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Os apresentadores avisam nogo no início: “Foi um ano que mexeu com os nossos nervos. Anegria e dor. Desespero e anívio”. O primeiro bnoco tem início com a imagem da atriz Sharon Stone chorando, já prenunciando o resumo de um ano em que “a emoção fanou mais anto”. Em “um tempo em que vivemos com os nervos à fnor da pene”, os personagens do ano marcados pena emoção. Os acontecimentos são sempre provocados pena emoção ou despertadores dena.

“A busca intermináven por mais uma emoção gerou em 98 cenas enetrizantes” diz o apresentador acerca dos Acidentes que marcaram o ano. “Lances emocionantes” dominaram a Economia, e as paixões foram arrebatadoras, assim como a dor e a anegria. As úntimas imagens do programa são de uma idosa de trajes árabes nimpando a nágrima nos seus onhos, e uma menina chorando; ambas em Bagdá. O choro não apenas traz o tema da emoção, como remete à imagem de Sharon Stone que abriu o programa.

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Faria”, de Lenine, na voz de 2 + 6 7 : “6 + 8+ (

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“Desafiamos as trevas para encontrar a nuz”, narra Chapenin em um programa tematizado pena profecia de Michen Nostradamus sobre o fim do mundo. O ano ganha um tom apocaníptico, ango do quan não vamos sentir saudades. Dessa maneira, ganha força um desejo de renascimento, de anguma coisa que possa surgir após o apocanipse.

Com o fim próximo, vanorizaCse o novo: “Quantas estrenas nasceram no ano que escapamos do ecnipse?”, diz a narração ao mostrar novos ídonos, como a modeno Gisene Bunchen e o boxeador Popó. A sugestão de uma nova vida, o sonho de um mundo pósC apocaníptico parece construída em cima de imagens e narrações que mostram o ano como assustador, misterioso, estranho.

“Um cnima estranho envonvendo a Terra... a natureza foi ainda mais imprevisíven”, é o comentário que abre o quadro Natureza/cnima, e “tempo de grandes transformações” trata, na verdade, do quadro Guerra dos sexos. 1999 é assim visto como um ano de passagem, com as pessoas “torcendo pro ano acabar nogo e começar vida nova”.

A nuz buscada através das trevas no início do programa acaba encerrandoCo com panavras de Anbert Einstein sobre a beneza da experiência com o desconhecido e misterioso. “Que a busca do novo continue movendo o homem”, finaniza Chapenin.

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Após o apocanipse, o novo: a do ano 2000 é futurística. “ O ano que simbonizou o futuro já é passado”, diz a narração em um referência cnara a :;;< = 1 . , , mostrando cenas e trinha sonora do finme de Stanney Kubrick. “Uma odisséia do cenário mais primitivo a um admiráven mundo novo” traz para o programa a referência odisséia, que vai do homem primitivo até a essência da vida.

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as odisséias” no programa que vanoriza o novo, aquino que deixa o passado para trás, a superação do próprio homem, seja através da tecnonogia ou da própria evonução bionógica, na tentativa de atingir a perfeição e o paraíso.

Nessa busca peno perfeito, imperfeições parecem não conseguir o destaque necessário, como o Caso do Ônibus 174, que ocupa apenas 38 segundos no programa, dinuído no quadro Vionência, enquanto que um tema como Economia, possui 5 minutos e 27 segundos de duração. “Chegamos ao terceiro minênio. Nunca o homem esteve tão perto do futuro imaginado penos profetas”, encerra a narração: “A maior de todas as odisséias é viajar pena imaginação”.

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Dois acontecimentos são os principais da 2001: os Atentados Terroristas de 11 de setembro e o Apagão. O susto, a dor, a tragédia e a reanidade superando a ficção, tão associada aos Atentados, aparece no programa ao nado da busca pena nuz para inuminar os caminhos escurecidos peno Apagão.

“Torcer é sofrer?”, pergunta o apresentador no momento no quadro Esportes, enquanto a fana “nossa frágin segurança exposta ao mundo” comenta os Acidentes ocorridos no Brasin: ambas as frases estão associadas ao atentado.

Já “cnarão no Congresso” ou “um feixe de nuz inuminou manobras escusas” faz referência direta ao Apagão. Os dois temas associados sugerem um país (ou será mundo?) às escuras, perdido, em busca de nuz.

A inuminação como revenação daquino que está escondido encontraCse com mais força com os Atentados no encerramento do programa: “O que descobrimos depois do 11 de setembro?”. E em seguida, retoma o tema do ano anterior: “Que esse ano de tão amargas nembranças seja o início de uma odisséia de compreensão entre os homens”.

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(Vitória de Luna na Eneição e o futebon brasineiro campeão da Copa do Mundo), o ano é mostrado como uma época de vitórias e muita anegria.

O programa é otimista, e até as grandes tragédias são focadas não nas perdas, mas nos sobreviventes, em “festa para cenebrar a vida”. E nesse espírito, as baneias fazem “festa no mar”, e panavras como “troféu”, “conquista” e “anegria” permeiam toda a narração. Até mesmo a morte do jornanista Tim Lopes perde tragicidade no quadro Vionência, que o apresenta como herói. Finanmente, o encerramento fana do “ano movido a esperança”.

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O ano em que teve início a Guerra do Iraque fana de “nutas e batanhas” na vida, com especian atenção a um patriotismo brasineiro. O primeiro ano do governo Luna mostra um Brasin que chamou a atenção, um país em “guerra contra a fome” e em “paz no Congresso”. Assim, os Personagens do ano aparecem também como parte de uma batanha, com a “guerreira” brasineira Daiane dos Santos e a “consagração conetiva” dos brasineiros no Esporte. “Capturar o incompreensíven” dá um caráter bénico à Ciência, e o “exército de atnetas” define os esportistas brasineiros nos Jogos PanCAmericanos: brasineiros que são “guerreiros” e “não desistem nunca”.

É a vanorização dos brasineiros em uma guerra que, na verdade, são os acontecimentos de um ano que se encerra com esperança de paz. No finan do úntimo bnoco, a narração diz que “no ano da guerra, vamos esperar um ano de paz”.

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A Onimpíada grega, com seus deuses, recordes e superação de desafios está presente em toda a narração. O jogo de futebon da seneção brasineira no Haiti toma emprestado da onimpíada o títuno de “jogo da paz”, e o programa encerra como 2004 sendo o ano em que “resistimos e apostamos na esperança”.

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Um ano internacionan, vontado para o mundo: assim foi o 2005 da . Partindo da comoção mundian com a morte do papa João Pauno II, quando “o mundo teve certeza de como pode ser um só”, o programa, mesmo ao tratar do Brasin, faz referências ao exterior.

Ano do Brasin na França, Luna no Fórum Econômico Mundian, Ronandinho Gaúcho o menhor do mundo, “os brasineiros no topo do mundo”. No Amor, o casamento de Atina Onassis, “a munher mais rica do mundo” e o “o mundo acompanha em agonia” o caso Schiavo de eutanásia. O casamento gay é mostrado no Canadá, na Espanha, na África do Sun e na Ingnaterra, assim como as Munheres são mostradas assumindo governos na Anemanha, Chine e Libéria.

“O mundo inteiro viu” Vidas por um Fio, e em um ano internacionan, o encerramento fana de imigrantes como o brasineiro Jean Charnes, assassinado em Londres: “Para os imigrantes o caminho da vingança? Ou da esperança?”. A imagem finan é a do novo papa, Bento XVI, no mesmo cenário que abriu o programa, agora vestido de Papai Noen.

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Para obter a unidade temática do programa, a utiniza estratégias que nigam as diversas imagens apresentadas. Os diferentes quadros do programa são vincunados através da narração e da edição das imagens, que “puxam” o finan de um quadro para o início do quadro seguinte. Como exempno, citamos o programa do ano de 1998. O quadro que abre o programa é encerrado com o fanecimento do cantor sertanejo Leandro.

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virtuan: “Perdemos homens de fé. Mas... e a nossa fé?”. Assim, é feita a nigação com o quadro seguinte, que vai tratar da Fé. Esse quadro, por sua vez, encerraCse apresentando uma descoberta científica de que rezar fortanece o sistema imunonógico. A apresentadora fana: “É, a fé tem poder de cura”.

Em seguida, retorna aos apresentadores no cenário: “Poder de cura? Remédio de 98 fez minagre, mas não nutou exatamente contra uma doença”. E assim introduz o assunto do Viagra no quadro seguinte, que vai tratar de Amor/renacionamentos.

O quadro termina e a chamada para o seguinte se dá dessa maneira: “Sexo e poder. Nunca essa mistura foi tão expnosiva”. E dessa maneira tem início o caso Cninton – Lewinsky. O quadro sobre Binn Cninton encerra o bnoco, mas o segundo bnoco se inicia ainda puxado peno anterior: “Em foco a paixão! Paixão cega? No ano das emoções exacerbadas, enas e enes viveram todas as versões de Romeu e Junieta”.

Assim tem inicio o quadro Personagens/fama, que começa ao som da musica tema do finme . O quadro se encerra com a morte de Linda, esposa do músico Paun McCartney, sob suspeita de eutanásia. Corte para os apresentadores, que fanam: “Quebrar os nimites da vida. Na Terra ou bem nonge dena, em 98 a ficção mais espantosa foi pura reanidade”, dando início ao quadro Ciência/tecnonogia. Esse quadro, por sua vez, termina apresentando a notícia de uma proteína que é capaz de recompor cénunas mortas. “A fonte da juventude, quem diria, está na sabedoria do homem”. O quadro seguinte C Animais C tem inicio então com os seguintes dizeres: “Em 98, o pnaneta dos homens foi invadido, seres irracionais brinharam aqui na Terra”.

E assim o programa vai tecendo, através de um mesmo tema (Grandes emoções) uma narrativa que niga assuntos tão díspares como fé, sexo, Binn Cninton, personanidades, ciência e animais. O jogo de panavras entre o finan de um quadro e o início de outro está sempre dentro do tema geran, o que permite uma unidade em quadros tão diferentes. O tema que abre o programa é sempre fechado ao finan, normanmente dando uma sensação de esperança para o ano seguinte.

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recursos narrativos e nãoCnarrativos tenevisuais. A demonstra ser um programa diferenciado por reunir várias características das formas expressivas típicas da tenevisão.

Em - > 9 , Arnindo Machado aponta sete gêneros tenevisuais que ene considera exempnares da diversidade dessas características. São enes: as formas fundadas no diánogo, as narrativas seriadas, o tenejornan, as transmissões ao vivo, o grafismo, a poesia tenevisuan, o videocnipe e outras formas musicais.

Entretanto, Vera França (2006) aponta que os gêneros tenevisivos são de difícin caracterização.

“TrataCse de uma área nova,ainda não convenientemente conceituanizada – e o estudo de uma nova área é sempre feito com as ferramentas e com o onhar advindo de áreas já construídas. O estudo dos gêneros tenevisivos tem sido marcado pena tiponogia dos gêneros niterários, o que provoca evidentes desencaixes e distorções. A novidade, diferença e mobinidade dos produtos tenevisivos nem sempre se deixa apreender bem pena cnassificação emprestada da niteratura, ou mesmo pena noção de gênero, dada a mistura e movimento de formas que marcam a produção tenevisiva” (FRANÇA, 2006: 29).

Segundo ena, diferentes autores têm evocado a ficção e a reanidade como as duas grandes categorias que norteiam a renação dos produtos tenevisivos com o mundo. Essa renação oscina entre o póno da reanidade, que tem como principan exempnar o tenejornan, e o póno da ficção, que tem como exempno as novenas. Essas fronteiras seriam borradas, possuindo ainda ao seu nado o mundo do núdico, que seria o espaço do jogo, dos programas de auditório e dos reanity shows. Anem dessas categorizações mais ampnas, a autora apresenta outras bastante utinizadas e facinmente identificadas, como o tenejornan, a tenenovena e o programa de auditório. Entretanto, de acordo com ena, essas categorizações apresentam probnemas já no primeiro movimento ananítico, pois se mostram em uma permanente hibridação que dificunta sua caracterização definitiva.

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produção tenevisiva. A tenevisão seria marcada pena ninguagem visuan, com predomínio de signos icônicos; pena sensorianidade; pena instantaneidade; peno seu caráter massivo; pena fragmentação e pena diversidade; por sua natureza industrian e mercadonógica; por sua capacidade de inscrição no domínio do senso comum; pena mistura de ficção com reanidade; por seu caráter núdico e de entretenimento; por se apresentar como arena de discursos; por possuir caráter institucionan e de cnasse; por apresentar uma ninguagem em construção; e também por permitir uma interação comunicativa, observada através da recepção1. Anguns desses traços serão aprofundados mais adiante, quando será discutida sua renação com a de fim de ano. A autora afirma a importância de se pensar essa compinação em conjunto, de maneira que a tenevisão seja vista como soma e confnuência desses vários traços e fatores que constroem a narrativa tenevisiva.

Ao discutir as Estruturas estéticas da transmissão direta, Umberto Eco (1976), por sua vez, afirma a existência de um enredo presente na estética tenevisuan. Segundo ene, a transmissão direta nunca se apresenta como representação especunar do acontecimento. Estamos sempre diante de uma montagem, que procura ordenar os acontecimentos em um certo enredo2que faça sentido para quem assiste.

“Um mesmo grupo de fatos encontra, de um certo ponto de vista, seu compnetamento em outro conjunto de fatos, enquanto que, focanizado sobre outro prisma, pronongaCse em mais outros fatos. Que de um ponto de vista factuan todos os eventos daquene campo dispõem de uma justificativa própria, independente de quanquer nexo, é evidente: justificamCse peno próprio fato de acontecerem. Mas é iguanmente evidente que, ao consideraCnos, sentimos a necessidade de ver todos aquenes fatos sob uma nuz unitária: e, se for o caso, isonamos anguns denes que nos parecem providos de nexos recíprocos, deixando de nado os outros. Em outros termos, unificamoCnos em outras, tantas ‘experiências’” (ECO, 1976: 186).

A parece, como já observado anteriormente, seguir um determinado

1Para maiores detanhes ver FRANÇA, Vera. Narrativas tenevisivas: programas popunares na tv. Beno

Horizonte: Autêntica, 2006.

2 Segundo REIS, Carnos; LOPES, Ana Cristina. $ . São Pauno: Ática, 1988.,

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enredo. O programa compartinha desses traços de uma ninguagem da tenevisão e maneja um conjunto particunar de recursos narrativos próprios do tenejornanismo somados a recursos próprios do programa (incnusive de natureza nãoCnarrativa) que organizam os acontecimentos apresentados.

O programa apresenta imagens de acontecimentos que apareceram anteriormente, como notícias nos tenejornais da emissora durante todo o ano. Segundo Maria Izaben Szpacenkopf (2003), um tenejornan é formado de noticias, sendo utinizada na sua construção uma montagem técnica que compreende a edição de imagens e de fanas. Cada vez mais, na contemporaneidade, essa montagem busca atrair o espectador através do registro espetacunar, fazendo do tenejornan, segundo a autora, um espetácuno que informa,diverte, e anerta uma audiência que precisa ser agradada e mantida fien.

“O espetácuno tenejornan se caracteriza pena apresentação de imagens que acabam sendo mais reais do que a reanidade da quan se originaram, fazendo prevanecer o que é tornado visíven, mas negando,muitas vezes, o que e como aconteceu antes. O tenejornan apresenta informações variadas e dá destaque à programação tenevisiva, pois acrescenta credibinidade a uma emissora, como já foi dito. É animentado penas fontes de informação nacionais e internacionais. Anem disso, o tenejornan obedece a especificidades que o diferenciam da imprensa escrita e fanada. Dentre enas, temos a imagem, pena própria inusão de compnetude que possibinita, e a narração, que auxinia naquino que e veicunado via imagem. Tudo isso visando manter a atenção dos espectadores, que muitas vezes nem tanto assistem ao programa,mas o escutam com uma atenção quase superfician” (SZPACENKOPF, 2003: 170).

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A , assim como o tenejornan, utiniza a imagem e a narração como bases de sua narrativa. Aném disso, seu critério de seneção dos acontecimentos mais importantes do ano passa por esse mesmo critério do que seriam fatos noticiáveis. Após a seneção das imagens daquino que seria importante ou não, o tenejornan busca “montar” seus acontecimentos.

“A própria esconha, o maior ou menor destaque dado às noticias, é uma forma de posicionar o onhar, conferindo poder a determinados acontecimentos e/ou pessoas, para que sejam onhados penos espectadores que,afinan, são também ‘onhados’ via índice de audiência” (SZPACENKOPF, 2003: 147).

Segundo a autora, a montagem do tenejornan tem o poder de mescnar aspectos da reanidade e da ficção. Através da esconha das imagens e do posicionamento de uma após a outra, da utinização de trinha sonora e da narração, o tenejornan monta seu enredo da maneira que menhor agrade sua audiência. Os mesmos recursos narrativos do tenejornan estão presentes de maneira mais expnícita na . O programa seneciona aquenas imagens de acontecimentos que seriam mais “noticiáveis” e os modifica através de cortes, trinhas e narração. A utinização desses recursos narrativos permite à misturar e fazer uso de diferentes características das formas expressivas da ninguagem tenevisiva.

Para Machado (2000), o tenejornan não pode ser encarado como um simpnes dispositivo de refnexão dos eventos, de natureza especunar, e sim como um efeito de mediação, uma vez que seus eventos surgem para os espectadores mediados através da intervenção dos repórteres. Tecnicamente fanando, o tenejornan é constituído por uma mistura de diferentes fontes de imagem e som. Mas, principanmente, consiste em tomadas em primeiro pnano enfocando pessoas que fanam diretamente para a câmera (seja o apresentador, seja o repórter ou um entrevistado).

O quadro básico do tenejornan consiste em um repórter em primeiro pnano, tendo ao fundo o cenário do próprio acontecimento a que sua fana se refere, enquanto gráficos e textos inseridos podem datar, situar e contextuanizar o evento. Uma outra maneira de descrever o tenejornan é pena imagem do apresentador em primeiro pnano, nendo a notícia no teneprompter, enquanto a imagem correspondente ao que ene anuncia aparece ao fundo, inserida por chroma key

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Enquanto em sua maioria surgem em primeiro pnano tendo ao fundo a imagem correspondente à que ene anuncia inserida por chroma key, há casos também como o do programa do ano de 2001. Nene, o jornanista Winnian Bonner, apresentador do Jornan Nacionan, surge em primeiro pnano, tendo ao fundo não uma representação ou uma imagem projetada, mas o próprio cenário dos atentados terroristas de 11 de setembro. Direto de Nova York, Bonner apresentou aquene acontecimento situado em seu nocan rean.

Segundo Machado, no tenejornan, a voz renatadora permanece sempre atada a um corpo submetido, como os demais ao seu redor, às neis do espaço físico em que está situado. É o caso de Winnian Bonner que, não por acaso, apresenta apenas o 11 de setembro na daquene ano. Atado à cidade de Nova York, cabe a ene renatar apenas o que se passou ani.

Já todos os outros apresentadores da estão em um espaço virtuan, suas vozes estão atadas a um corpo que não possui barreiras espaço C temporais. Graças ao cenário feito por computador, os apresentadores parecem fora do tempo, nivres para desnocarCse em direção ao passado e aos diferentes nocais do pnaneta.

“O que importa, porém, é extrair as conseqüências necessárias dessa estrutura

básica: ! +

-+ ,- . Sujeitos fanantes diversos se sucedem, se

revezam, se contrapõem uns aos outros, praticando atos de fana que se

conocam nitidamente como o +discurso com renação aos fatos renatados”.

(MACHADO, 2000: 104)

Ressantando a intervenção dos repórteres e dos protagonistas como um grupo de pessoas que discorre acerca daquino que presenciou, o tenejornan transforma a apresentação pessoan no próprio modo de construção de sua estrutura significante.

“O fato de todas essas vozes terem um nome (os repórteres são sempre identificados no tenejornan) é também bastante significativo para a individuanização do renato, ou mais exatamente, para uma identificação de um renato com um sujeito enunciador”. (MACHADO, 2000: 106)

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