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As pessoas com deficiência no mercado de trabalho: expressão das desigualdades sociais

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Academic year: 2017

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO ROCHA SOUSA SEVERINO

ASPESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: expressão das desigualdades sociais

(2)

AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: expressão das desigualdades sociais

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Serviço Social.

Orientadora:

Profª Drª Denise Câmara de Carvalho.

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AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: expressão das desigualdades sociais

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Serviço Social.

Aprovado em: _____/_____/2007

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________ Profª Drª Denise Câmara de Carvalho (Presidente)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________ Profª Drª Ana Elizabete Mota (Membro Titular Externo)

Universidade Federal do Pernambuco

____________________________________________________ Profª Drª Severina Garcia de Araújo (Membro Titular Interno)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

____________________________________________________ Profª Drª Silvana Mara de Morais dos Santos (Suplente)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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A Emanuel, Amanda e Mariana razão dos desafios enfrentados.

A Francisco José, pela comunhão de vida balizada no amor e respeito.

(5)

AGRADECIMENTOS

A DEUS, Senhor e condutor de todo esse processo, que tornou possível este sonho.

Às Pessoas com deficiência, por me ensinarem que os limites são superados quando se luta em prol de objetivos pretendidos.

À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), por oportunizar-me as condições materiais para a concretização do mestrado.

Ao Departamento de Serviço Social, por viabilizar nossa liberação para o mestrado.

A Francisco José, pelo desprendimento, compreensão, incentivo e apoio sem medidas.

Aos meus filhos Emanuel, Amanda e Mariana, por suportarem pacientemente minha presença/ausente, em especial à solicitude incansável de Mariana em elucidar as dúvidas nas digitações deste trabalho.

Aos meus pais, Osmar Sousa e Maria Honorina, pelo exemplo de luta e determinação.

Aos meus familiares, pelo estímulo e confiança depositados.

À professora e orientadora Denise Câmara de Carvalho, que conjuga consistentes contribuições e sensibilidade, conquistando nossa admiração e respeito.

A todos e todas professores(as) do Mestrado de Serviço Social da UFRN, pelas valiosas discussões, na direção de ampliação de nossos horizontes cognitivos, com destaque para aquelas que integraram a Banca de Qualificação, professoras Silvana Mara de Morais dos Santos e Severina Garcia de Araújo, pelas primorosas contribuições, as quais incorporei neste trabalho, mas sobretudo por acreditarem e me incentivarem em avançar nos posicionamentos críticos das análises efetuadas.

A Gilcélia Batista Góis, pela interlocução e observações valiosas em toda a trajetória do mestrado.

Às minhas colegas de mestrado, pela oportunidade de reflexões fecundas na construção coletiva dos nossos projetos. Destaco a amizade de Jane Cristina Guedes e Renata Rocha Pereira, com quem partilhei incondicionalmente angústias e alegrias.

À coordenação e à secretaria do mestrado, pelo apoio e compreensão desprendidos.

(6)

Por que prender a vida em conceitos e normas? O Belo e o Feio... O Bom e o Mau... Dor e Prazer... Tudo, afinal, são formas

E não degraus do Ser!

(7)

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trata do processo de inclusão de pessoas com deficiência no Mercado de Trabalho em Mossoró-RN, trazendo para o debate acadêmico temática relevante para a sociedade brasileira, para a profissão de Serviço Social e áreas afins e para as pessoa com deficiência. Objetiva apreender os determinantes que viabilizam o processo de inclusão das pessoas com deficiência no Mercado de Trabalho em Mossoró, tendo como parâmetro a Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência. A perspectiva teórica crítica que perpassa este trabalho respalda-se nas idéias de Marx para a compreensão acerca do trabalho, bem como em Pochmann, Antunes acerca do mercado de trabalho, a respeito da categoria exclusão/inclusão fundamenta-se em Martins, Yasbek e Sposati e sobre deficiência na Política Nacional para a Integração das Pessoas Portadoras de Deficiência. A pesquisa é de natureza qualitativa e tomou como sujeitos investigativos 26 (vinte e seis) pessoas, sendo 09 (nove) pessoas com deficiência, inseridas no mercado de trabalho formal e regulamentado, e 17 (dezessete) gestores de empresas privadas e instituições públicas da cidade de Mossoró-RN. Para a coleta de dados utilizamos técnicas de observação assistemática, entrevista semi-estruturada e análise documental. Os resultados da pesquisa assinalam que sejam quais forem as modalidades de utilização da força de trabalho humano no atual contexto, elas são preponderantemente funcionais ao capitalismo e avançam em direção a exploração, alienação e subordinação do trabalho ao capital; a Política Nacional para a Integração das Pessoas com Deficiência expressa e reproduz a dinâmica contraditória da sociedade de classe, reflete os matizes neoliberais através da seletividade e da articulação entre os entes federados e organizações da sociedade civil para a sua operacionalização; há uma desproporcionalidade entre os percentuais das cotas e a quantidade de pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho, correspondendo apenas a uma ínfima magnitude numérica; as atividades desenvolvidas são de baixo status social e é expressiva a quantidade de trabalhadores que recebe entre um a dois salários mínimos. Estes dados conduzem-nos a inferir que a citada política viabiliza, em parte, a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, uma vez que, tal inclusão efetiva-se nas dimensões seletiva ou focalizada, marginal, precária e instável.

Palavras-chave: Trabalho. Mercado de Trabalho. Exclusão/Inclusão. Deficiência. Política

(8)

This work was developed in the extent of the Post Graduation Program in Social Service of the Federal University of Rio Grande do Norte. It talks about the process of inclusion of the disabled people in the Job market in Mossoró-RN, bringing for the academic debate relevant thematic for the Brazilian society, for the profession of Social Service and similar areas and for the people with deficiency. It has the objective to apprehend the determiners that make possible the process of the disabled people's inclusion in the Job market in Mossoró, having as parameter the National Politics for the Integration of People Bearers of Deficiency. The critical theoretical perspective is backed in Marx's ideas for the understanding concerning the work, as well as in Pochamann, concerning the job market, regarding the exclusion/inclusion category is based in Martins, Yasbek and Sposati and on deficiency in the National Politics for the Integration of the Disabled People. The research is of qualitative nature and it took as subjects 26 (twenty-six) people, being 09 (nine) people with deficiency, inserted in the formal job and regulated market, and 17 (seventeen) managers of private companies and public institutions of the city of Mossoró-RN. For the collection of data we used techniques of non-systemic observation, semi-structured interview and documental analysis. The results of the research mark that any modality of the human workforce used in the current context, they are functional to the capitalism and they move forward towards exploration, alienation and subordination of the work to the capital; the National Politics for the Integration of the People with Deficiency expresses and reproduces the contradictory dynamics of the class society, it reflects the neo liberal shades through the selectivity and of the articulation among the federated beings and organizations of the civil society for its operational system; there is a misproportion between the percentages of the quotas and the amount of people with deficiency inserted in the job market, just corresponding to a tiny numeric magnitude; the developed activities are of low social status and it is expressive the amount of workers that receives between one and two minimum wages. These data drive us to infer that the mentioned politics make possible, partly, the inclusion of the disabled people in the job market, though, such inclusion is executed in the selective or focused dimensions, marginal, precarious and unstable.

Key-Words: Work. Job market. Exclusion/Inclusion. Deficiency. National politics for the

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QUADRO 1: Ranking dos Estados brasileiros, segundo a taxa de Pessoas com Deficiência 78

QUADRO 2: Ranking dos municípios brasileiros segundo a taxa de Pessoas com

Deficiência...79

QUADRO 3: Tipos de Deficiência no Brasil...96

(10)

TABELA 1: Pessoas com Deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo o sexo ...80

TABELA 2: Pessoas com Deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo a faixa

etária...81

TABELA 3: Pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo

a escolaridade e organização ...81

TABELA 4: Pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo o ano de

inserção no mercado de trabalho...86

TABELA 5: Pessoas com Deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo a atividade

que realiza e a escolaridade...87

TABELA 6: Pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo o salário.92

TABELA 7: Pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo o salário e a

escolaridade...94

TABELA 8: Pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho segundo o tipo de

deficiência...95

TABELA 9: Tipos de Deficiência no Brasil estimados pela OMS (1996)...96

TABELA 10: Organizações que inserem Pessoas com Deficiência segundo o ramo de

atividade...99

TABELA 11: Organizações que inserem Pessoas com Deficiência segundo o tempo de

funcionamento...100

TABELA 12: Organizações que inserem Pessoas com Deficiência segundo a quantidade de

funcionários...101

TABELA 13: Estrutura Ocupacional do Mercado de Trabalho segundo o número de Pessoas

(11)

ABI Associação Brasileira de Imprensa

ADEFIM Associação dos Deficientes Físicos de Mossoró

BPC Benefício de Prestação Continuada

BM Banco Mundial

BIRD Banco Interamericano para Reconstrução e Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEBASE Curso Básico de Segurança

CORDE Coordenadoria Nacional para a Integração de Pessoa Portadora de Deficiência

CONADE Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

DRT Delegacia Regional do Trabalho

EPI Equipamento de Proteção Individual

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FMI Fundo Monetário Internacional

FUNGER Fundação de Geração de Emprego e Renda

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

(12)

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PROGER Programa de Geração de Emprego e Renda

RGPS Regime Geral da Previdência Social

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas

SINE Sistema Nacional de Emprego

(13)

INTRODUÇÃO...14

CAPÍTULO I – DISCUTINDO AS CATEGORIAS DE ANÁLISE... 27

1.1. O Trabalho na Sociedade Capitalista: breves considerações...27

1.1.1. O Trabalho no Contexto da Acumulação Flexível... 31

1.1.2. A Centralidade do Trabalho na Contemporaneidade: discutindo abordagens teóricas...35

1.1.3. O Mundo do Trabalho: situando o contexto brasileiro... 43

1.2. Configuração do Mercado de Trabalho no Brasil...47

1.3. A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência...52

1.4. Exclusão/Inclusão Social: interlocução entre aportes teóricos... 56

CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS DETERMINANTES E DEMANDAS ORGANIZACIONAIS EM FACE DA POLÍTICA DE INCLUSÃO NO TRABALHO... 76

2.1. Caracterização das Pessoas com Deficiência... 76

2.2. Determinantes e Demandas Organizacionais em face do Processo de Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho em Mossoró – RN... 98

CAPÍTULO III – O TRABALHO NA PERSPECTIVA DE INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: um processo contraditório... 117

3.1. Trabalho: um processo contraditório expresso na exclusão/inclusão da força de trabalho... 117

3.2. Percepção das Pessoas com Deficiência no Processo de Inclusão no Mercado de Trabalho... 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 153

(14)

APÊNDICES

APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista com Pessoas com Deficiência

(15)

INTRODUÇÃO

Este estudo inscreve-se no universo mais geral do debate sobre inclusão social,

ampliado em âmbito mundial a partir da década de 1990. Demarca como objeto investigativo

o processo de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, em Mossoró-RN,

a partir de 1999.

Referendada preponderantemente no arcabouço teórico-metodológico da teoria social

de inspiração marxiana, o estudo em tela delineia como objetivo apreender os determinantes

que viabilizam o processo de inclusão de Pessoas com Deficiência no mercado de trabalho em

Mossoró-RN, mediados pela Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de

Deficiência, criada em 1989 e regulamentada por meio do Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999.

Para tanto, parte-se do pressuposto de que a Política Nacional para a Integração de

Pessoas com Deficiência viabiliza a inclusão desse segmento social no mercado de trabalho.

Todavia, tal inclusão efetiva-se nas dimensões seletiva ou focalizada, marginal, precária,

instável. Isto porque, embora as políticas sociais resultem da correlação de forças entre as

classes sociais antagônicas, elas reproduzem a lógica da sociedade capitalista, que é

estruturalmente excludente. Exclusão compreendida não no sentido de que existe alguém fora

da sociedade, mas como processo de múltiplas privações, decorrentes do descompasso entre a

riqueza socialmente produzida e a apropriação privada desta pelos detentores do capital,

traduzindo-se em extrema desigualdade social.

Este pressuposto, erigido com base em algumas categorias analíticas, entre as quais a

concepção de trabalho elaborada por Marx, precisamente na formulação sobre o processo de

trabalho e processo de produzir mais-valia, compreende o trabalho como categoria central na

sociedade humana. Em relação às categorias mercado de trabalho e exclusão/inclusão, seguem

o mesmo percurso, sem se distanciarem do rigor teórico metodológico de autores de tradição

marxista, de forma que possibilitam realizar mediações entre o teórico e o empírico, na

perspectiva de desvendar e analisar o objeto de estudo identificando gênese, conexões e

vínculos com a totalidade social.

Contudo, a apreensão do nosso objeto de estudo conduz à recorrência a outras

categorias analíticas, precisamente a Deficiência e a Política Nacional para a Integração de

Pessoas com Deficiência, as quais são subsidiadas em documentações nacionais e

(16)

A Política Nacional para a Integração de Pessoas com Deficiência ao tratar da

equiparação de oportunidades, na seção de acesso ao trabalho, preceitua como “finalidade

primordial da política de emprego a inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado

de trabalho ou a sua incorporação ao sistema produtivo mediante regime especial protegido”

(Decreto nº 3.298/1999, Art. 34).

Este arcabouço legal determina as esferas privada e pública para o acesso ao trabalho

das pessoas com deficiência, resguardando as seguintes especificidades: “A empresa com cem

ou mais empregados está obrigada a preencher de dois a cinco por cento de seus cargos com

beneficiários da Previdência Social reabilitados ou com pessoa portadora de deficiência

habilitada”. (Id. Ibidem, Art. 36).

No âmbito público, assegura à pessoa portadora de deficiência, classificada em

concurso público, o índice de cinco por cento, ante as vagas existentes no certame. (Id.

Ibidem, Art. 37).

Entendemos que a discussão acerca de uma categoria deverá ser norteada pela

compreensão sobre a mesma, embora no processo possa ocorrer ampliação, reformulação e

até negação dessa mesma categoria, mas que se parta de um fio condutor que expresse um

pensamento, uma representação ideal de um traço característico da realidade. Nessa

perspectiva, Deficiência é definida como “uma restrição física, mental ou sensorial, de

natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais

atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”

(CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS

DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA,

1999).

Segundo o Decreto em discussão 3.298/1999 (Art. 36 § 2º), beneficiário da

Previdência Social reabilitado é aquele segurado vinculado ao Regime Geral da Previdência

Social submetido ao processo de reabilitação desenvolvido ou homologado pelo Instituto

Nacional de Seguro Social (INSS), enquanto Pessoa Portadora de Deficiência Habilitada é

aquela com qualificação em diversos níveis (básico, técnico ou tecnológico e superior),

devidamente comprovada mediante certificado ou diploma emitido pelo Ministério da

Educação ou órgão congênere, ou aquela que apresente certificado comprobatório de

participação em processo de habilitação ou reabilitação profissional promovido ou mediado

pelo INSS.

A Política relativa às pessoas com deficiência estabelece como modalidades de

(17)

competitiva, seletiva e por conta própria. Contudo, em nosso estudo nos deteremos nas

modalidades referentes às colocações dos tipos competitiva e seletiva, considerando que a

nossa pesquisa está circunscrita às organizações públicas e privadas, cujos contratos de

trabalho são regulamentados nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, à exceção

do trabalho autônomo, em cooperativa ou em regime de economia familiar, intermediados por

entidades beneficentes de assistência social que caracterizam a definição de trabalho por conta

própria nos meandros desta lei.

A terminologia relativa à Pessoa com Deficiência não é consensual. No Brasil, o

Governo Federal utiliza a nomenclatura pessoa portadora de deficiência. Não obstante, a

literatura que trata dessa temática apresenta denominações distintas, como: pessoas portadoras

de necessidades especiais, pessoas com necessidades especiais, portadores de necessidades

especiais, portadores de deficiência, pessoa com deficiência. É com esta última nomenclatura

que nos aproximamos. Isto porque compreendemos que esta denominação traduz e indica

alguma limitação que a pessoa manifesta sem, contudo, significar que a deficiência atinja a

pessoa na totalidade. Entretanto, esta noção não evita a estigmatização, nem tampouco a

possibilidade de serem encontradas outras nomeações no corpo do trabalho, visto que a

bibliografia que trata dessa temática é diversificada, consoante as conjunturas em que são

elaboradas e a visão de seus autores.

Pensar o processo de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

remete situá-lo na sociedade em que se realiza. Porém, para os propósitos deste estudo nos

deteremos à sociedade capitalista, a qual é estruturalmente excludente; característica essa

inerente à dinâmica de acumulação. Supõe, portanto, ter como ponto de partida a

compreensão acerca de trabalho. Para tanto, adota-se como eixo condutor a formulação

marxiana que o concebe como o intercâmbio material entre o homem e a natureza. Nessa

processualidade, o trabalho comparece como categoria ontológica, o que significa

reconhecê-lo como elemento central na constituição da realidade social, historicamente determinado, que

na sua concretude desenvolve-se e adquire novas determinações, configura-se como categoria

“onto-histórica”, ou seja, pelo trabalho o homem transforma a natureza e ao mesmo tempo se

autotransforma, originando, dessa transformação recíproca, novas necessidades, novas

possibilidades, novas habilidades, novos conhecimentos, novas prévias ideações (na

expressão de Lukács), assumindo conformações distintas em cada época, ainda que mantendo

alguns elementos comuns, como nos indica Marx (1978).

Entretanto, na sociedade burguesa, regida pela lógica da lucratividade, predomina o

(18)

traduzindo-se na expulsão progressiva de significativos contingentes de trabalhadores do

mercado de trabalho, sobretudo daqueles que apresentam alguma deficiência. Isto porque a

deficiência é vista como sinônimo de improdutividade ou antônimo de eficiência, sendo

concatenada à produtividade, ao lucro.

Decorre dessa assertiva que a exclusão social não é um fenômeno novo na sociedade

capitalista, mas ganhou novos contornos no atual cenário mundial, marcado por profundas

transformações na organização e funcionamento da sociedade, resultantes da reestruturação

produtiva, da mundialização do capital, do ideário e práticas neoliberais.

O conjunto dessas mudanças repercute no mundo do trabalho, alterando

profundamente as modalidades de organização, gestão e controle da força de trabalho, cujos

efeitos são desastrosos para a classe trabalhadora, pois afetam tanto a materialidade quanto a

subjetividade dessas classes.

As transformações no mundo do trabalho vêm acompanhadas de intensas mudanças

nas relações entre o Estado e a sociedade civil, derivadas das políticas de ajustes

recomendadas no Consenso de Washington, consubstanciadas no receituário neoliberal que

exalta o mercado e desqualifica o Estado, tributando a este todas as mazelas da sociedade.

No Consenso de Washington, expressão que qualifica o encontro realizado em

Washington em 1989, liderado por técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco

Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e Banco Mundial, foi prescrito um

conjunto de medidas a serem implementadas pelos países de capitalismo periférico, como:

disciplina fiscal, estabilidade monetária, reforma tributária, desregulamentação da economia,

liberalização das taxas de juros, taxa de câmbio competitiva, revisão das prioridades dos

gastos públicos, maior abertura ao investimento estrangeiro direto e fortalecimento do direito

de propriedade. Não obstante, na nossa concepção, tais medidas constituem-se injunções aos

países economicamente dependentes, na perspectiva de facilitar e agilizar o ressurgimento da

ortodoxia liberal e, desse modo, manter a dominação dos países centrais sobre aqueles.

A estratégia neoliberal é reduzir o raio de intervenção do Estado, sobretudo nas ações

sociais. Disso decorrem duas implicações diretas: transferência de responsabilidades estatais

para a sociedade civil e, por conseguinte, um retorno à filantropia e à fragilização do sistema

de proteção social, conformando o desmonte da cidadania social.

Neste cenário, explicitam-se os elementos que configuram a dimensão socioeconômica

na atual conjuntura, os quais apontam para uma realidade contraditória e adversa: de um lado

os que dominam, dirigem, os detentores do poder e da riqueza; do outro lado, o agravamento

(19)

subproletarização do trabalho, presente nas formas de trabalho precário, parcial, temporário,

subcontratado, terceirizado, vinculados à economia informal” (ANTUNES, 2000, p. 52), no

desrespeito aos direitos humanos, na restrição dos direitos trabalhistas e sociais, na negação

da cidadania do contingente de trabalhadores que aí se incluem.

Na sociedade brasileira, os impactos destas transformações assumem expressões

particulares, assim como reiteram os traços históricos constitutivos da nossa formação social,

econômica e política, marcada pela concentração de riqueza, propriedade e poder que,

conjugadas à coexistência de formas de trabalho arcaico e moderno, regidas, às vezes, por

“relações de violência” e “relações clandestinas”, acentuam o desemprego, a pobreza, as

desigualdades sociais, a exclusão social.

As considerações precedentes confirmam os dados imediatamente seguintes: o Brasil é

campeão mundial de concentração de renda e pentacampeão de concentração de riquezas

(GONÇALVES, 1999). O grau de desigualdade no Brasil é superior a qualquer país da

América Latina. Em termos mundiais, equipara-se a Serra Leoa (África Ocidental), Paraguai e

África do Sul.

Nas décadas correspondentes à reconversão do capital, isto é, o pós - 1970, observa-se

que o grau de desigualdade de renda aumentou, a renda apropriada pelos 20% mais ricos

aumentou 11%, enquanto a dos 50% mais pobres diminuiu 6%. Entre os anos de 1960 e 1980,

a participação na renda manteve-se inalterada para os mais pobres, enquanto a participação

dos mais ricos aumentou de 39,7% para 47,9%. Nos anos de 1980, a situação agravou-se, com

a participação dos 10% mais pobres caindo para 0,8% e a dos 10% mais ricos aumentando

para 48,7%. A renda média dos 10% mais ricos, que era 33,9 vezes maior que a dos 10% mais

pobres em 1960, aumentou para 40 vezes mais em 1970, e na década de 1980 passou a ser

mais de 60,1 vezes (GONÇALVES, 1999).

Nestes períodos imediatamente citados, constata-se o declínio da renda média e o

aumento substancial das desigualdades. Conseqüentemente, a pobreza aumentou e o nível de

bem-estar social decresceu. A década de 1990 segue as precedentes no tocante à desigualdade

de renda. Dados sobre a renda familiar indicam que a relação entre a parcela de renda dos

10% mais ricos sobre a renda dos 40% mais pobres cresceu de 4,8 em 1986 para 6,1 em 1990,

ascendeu para 6,5 em 1993, atingiu 7,2 em 1994 e voltou a subir em 1996.

Tais desigualdades e injustiças traduzem-se, dentre outras faces, na pobreza e na

exclusão social de significativos segmentos das classes subalternas. São, portanto, produzidas

(20)

extremamente desigual. Pobreza e exclusão social atualizam na contemporaneidade, de forma

aguda, os impactos nefastos do trabalho sob a égide da recomposição do capital.

Nesse contexto, as pessoas com deficiência são duplamente excluídas. A primeira

forma de exclusão advém dos próprios mecanismos de acumulação capitalista, que produzem

contingentes populacionais majoritários excedentes, “sobrantes”, “desnecessários”, pois

sequer encontram espaço no mercado de trabalho, conduzindo-os à situação de pobreza ou à

miséria. A segunda modalidade relaciona-se à condição de ser deficiente, seja na área física,

ou sensorial, ou cognitiva, situando-se na contramão dos padrões estabelecidos nas novas

modalidades de organização, gestão e consumo da força de trabalho, exigidas na

reestruturação da acumulação flexível.

Ademais, é significativa a quantidade de pessoas com deficiência, seja em âmbito

mundial, seja no Brasil. Tal assertiva confirma-se tomando como referência os dados

fornecidos por organizações internacionais ou instituição nacional, como segue: a

Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas (ONU) estimam

que 10% da população mundial é composta por pessoas com deficiências, enquanto o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informa, com relação ao censo demográfico de

2000, que este percentual no Brasil é de 14,5%, o que corresponde a 24.600.256 pessoas com

deficiência.

Os percentuais correspondentes às pessoas com deficiência anteriormente citados,

articulados ao fenômeno da exclusão a que está historicamente submetido esse segmento

populacional, agrava-se no cenário da sociedade capitalista na contemporaneidade, na qual se

instala um novo desafio para a classe trabalhadora, expresso na diminuição de postos de

trabalho, na “desestabilização dos estáveis”, na “instauração da precariedade”, na

desregulamentação de direitos sociais e trabalhistas, nas exigências de qualificação para a

inserção no mercado de trabalho. Tal quadro expõe a relevância da temática enquanto objeto

de investigação, que requer maior aprofundamento e questionamentos, especialmente em se

tratando das formas em que se efetiva a inclusão de pessoas com deficiências no mercado de

trabalho.

Neste sentido, a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência preconiza instrumentos destinados à inclusão dessas pessoas no mercado de

trabalho, quais sejam: a articulação entre entidades governamentais e não-governamentais

voltadas ao atendimento da pessoa portadora de deficiência; o fomento à formação de

(21)

trabalho em favor da pessoa portadora de deficiência e a fiscalização do cumprimento desta

legislação (Decreto 3.298/1999, Capítulo V).

A implementação da legislação em discussão, numa conjuntura adversa ao emprego,

conforme evidenciado anteriormente, instiga-nos a indagar:

a) como se configura a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho,

mediada pela Política Nacional para a integração de Pessoa Portadora de Deficiência?

b) dos instrumentos legais, definidos por essa legislação, quais os que vêm sendo

acionados para inserir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho local?

c) que demandas são requeridas às pessoas com deficiência para sua inserção no

mercado de trabalho?

d) quais são as condições e relações de trabalho que são estabelecidas com as pessoas

com deficiência no ambiente de trabalho?

e) quais são as características sócio-econômicas e culturais das pessoas com

deficiência, sujeitos da pesquisa, inseridas no Mercado de Trabalho em Mossoró-RN?

A partir dessas indagações emerge a questão central deste estudo: como a Política

Nacional para a Integração de Pessoa Portadora de Deficiência viabiliza a inclusão desse segmento no mercado de trabalho em Mossoró-RN?

Tais questionamentos expressam-se em objetivos específicos a serem perseguidos de

forma a subsidiar o alcance do objetivo geral. Os objetivos específicos são assim delineados:

* Identificar os instrumentos que são acionados para a inclusão de pessoas com

deficiências no mercado de trabalho formal;

* Analisar as demandas requeridas das pessoas com deficiências, visando sua inserção

no mercado de trabalho formal, regulamentado;

* Traçar o perfil das pessoas com deficiências, sujeitos desta pesquisa, sob os aspectos

socioeconômico e cultural, ressaltando os aspectos da formação e qualificação profissional.

Nosso interesse pela temática, pessoas com deficiências, e em particular sobre a

inclusão dessas no mercado de trabalho, advém da prática docente, notadamente lecionando a

disciplina Supervisão de Estágio, quando das orientações a trabalhos acadêmicos que

versaram sobre este tema e também do Seminário Temático IV, intitulado “Pessoas

Portadoras de Deficiências” que foi por nós ministrado. Neste seminário, foi realizado um

trabalho objetivando investigar a operacionalização da Política Nacional de Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência nas áreas de saúde, educação, previdência social e trabalho,

no contexto local. Os resultados apresentados, principalmente na área de trabalho, revelaram

(22)

desencadeando inquietações de forma a nos impelir a um estudo mais aprofundado, na

perspectiva de desvendar essa problemática, as contradições do real e assim, indicar

proposições condizentes às demandas detectadas.

Tendo em vista o alcance do objetivo proposto neste estudo, realizamos, no período de

junho a novembro de 2006, uma pesquisa de natureza qualitativa, na cidade de Mossoró, junto

às pessoas com deficiência inseridas no Mercado de Trabalho e com os gestores de empresas

privadas e instituições públicas, sem contudo, deixar de recorrer à quantificação de alguns

dados, quando se fez necessário, possibilitando, assim, mais visibilidade aos mesmos.

Constituíram-se sujeitos da nossa pesquisa as pessoas com deficiência (física,

auditiva, visual e mental), reconhecidamente em idade economicamente ativa, inseridas no

Mercado de Trabalho e os empregadores ou gestores da área de recursos humanos das

organizações, seja na esfera privada, seja na esfera pública, notadamente aquelas concernentes

ao estabelecido no arcabouço legal, isto é, aquelas empresas/instituições que atendem às

exigências legais a respeito das cotas para esse segmento social.

A cidade de Mossoró-RN constituiu-se lócus da pesquisa, em razão deste município

despontar como o segundo maior município no contexto estadual potiguar, ou seja, com uma

população de 227.357 (duzentos e vinte e sete mil, trezentos e cinqüenta e sete) habitantes

(IBGE – 2005). Relacionando a população local ao percentual de 17,26% de pessoas com

deficiência, adotado pelo IBGE, estima-se um contingente de aproximadamente 39.241 (trinta

e nove mil, duzentos e quarenta e uma) pessoas com deficiência. O município de Mossoró

agrega um número significativo de empresas com mais de cem empregados, supondo-se o

cumprimento da legislação relativa às pessoas com deficiência, implicaria na inserção laboral

de significativa parcela desse contingente populacional. Entretanto, percebe-se que nos

espaços públicos é ínfima a presença de pessoas com deficiências, principalmente no mercado

de trabalho.

Mossoró caracteriza-se economicamente pelas atividades no setor de comércio,

serviços e indústrias de extração e transformação. Quanto à dimensão política, visualiza-se a

dinastia de um grupo, liderado pela família Rosado, que há mais de sete décadas desenvolve

práticas clientelistas, perpetuando a cultura do favor; característica essa recorrente no Estado e

na sociedade brasileira, em que a “cultura senhorial, o patrimonialismo, o clientelismo, a

privatização do público, a tutela, o favor” são mediações quase universais. (BEHRING, 2003,

p.109-110).

Para a definição do universo desta pesquisa, incursionamos em levantamentos

(23)

e Delegacia Regional do Trabalho (DRT), objetivando identificar as empresas existentes no

município de Mossoró e, entre essas, aquelas condizentes com a aplicação da Lei 7.853/89, ou

seja, empresas que registram em seus quadros funcionais acima de 100 trabalhadores, para

posterior articulação com o número de pessoas com deficiência inseridas no mercado local.

Assim, constatamos, no cadastro nacional de empresas do SEBRAE, exercício 2004, o

total de 104 (cento e quatro) organizações, sendo 50 (cinqüenta) empresas privadas e 54

(cinqüenta e quatro) instituições públicas.

A DRT, para o exercício 2003/2004, por meio do Núcleo Auxiliar de Apoio à

Fiscalização – Pró-Dignidade – Programa Brasil, Gênero e Raça relacionou, em consonância

com o percentual de cotas designado pela Lei referente à pessoa com deficiência, 78 (setenta e

oito) empresas a serem notificadas, em que observamos o seguinte: Dessas, 10 (dez) estavam

abaixo do coeficiente fixado pela Lei, 24 (vinte e quatro) cumpriam esta legislação, 14

(quatorze) a cumpriam em parte e 30 (trinta) não a cumpriam. Diante desses dados,

verificamos que 66 (sessenta e seis), isto é, o equivalente a 63% (sessenta e três por cento) das

empresas no município de Mossoró, infringe a referida Lei. Nesse período, registrava-se um

total de 150 (cento e cinqüenta) pessoas com deficiências inseridas no mercado de trabalho

local, dentre as quais 122 (cento e vinte e duas) são do sexo masculino e 28 (vinte e oito) do

sexo feminino.

Analisando comparativamente os dados obtidos no SEBRAE e na DRT, observamos

que 44 (quarenta e quatro) empresas privadas estão incluídas nas duas listagens. Em

considerando essa similaridade e na perspectiva de vislumbrar a totalidade das organizações

radicadas nesse município, adicionamos as 6 (seis) empresas que constam exclusivamente na

relação do SEBRAE à lista da DRT (78), alcançando o total de 84 (oitenta e quatro) empresas

privadas e 54 (cinqüenta e quatro) instituições públicas, totalizando 138 (cento e trinta e oito)

organizações. Logo, o universo da nossa investigação foi definido em relação a esse total.

Em virtude da amplitude do universo a ser pesquisado constituir-se de 138 (cento e

trinta e oito) organizações, impôs-se a utilização da técnica de amostragem. A seleção da

amostra articulou critérios de representatividade e aleatoriedade. A representatividade

efetivou-se em torno de 12% (doze por cento) do universo, por constituir-se um percentual de

relevância para populações finitas. Este percentual corresponde a 10 (dez) empresas privadas

e 7 (sete) instituições públicas das 138 (cento e trinta e oito) registradas. Portanto, a amostra

em relação aos gestores é proporcional ao número de organizações selecionadas, isto é, 17

(24)

Quanto à amostra das pessoas com deficiência, optamos pela representatividade em

relação ao sistema de cotas aplicado às organizações, definindo-se assim: para as empresas

acima de 1000 (mil) funcionários entrevistamos 02 (duas) pessoas com deficiência; para as

empresas que empregam entre 501 (quinhentos e um) a 1000 (mil) funcionários,

entrevistamos também 02 (duas) pessoas com deficiência; para as empresas que registram

entre 201 (duzentos e um) a 500 (quinhentos) empregados, entrevistamos 01 (uma) pessoa,

seguindo o mesmo critério para as empresas que empregam entre 101 (cento e um) e 200

(duzentos) operários, subtotalizando nesse espaço ocupacional 06 (seis) trabalhadores. Em

relação às instituições públicas, o percentual da cota para pessoas com deficiência é fixado em

5%, dada a classificação obtida em concurso, independente do número de funcionários da

instituição. Assim sendo, tomamos como referência um representante de cada instância dos

poderes Federal, Estadual e Municipal, contabilizando um subtotal de 03 (três) funcionários,

que adicionados aos da esfera privada totalizaram uma amostra de 09 (nove) pessoas.

Portanto, o quadro amostral foi constituído de: 17 (dezessete) gestores e/ou representantes de

recursos humanos e 09 (nove) pessoas com deficiência, totalizando 26 (vinte e seis)

entrevistados.

Para a coleta de dados foram utilizadas as seguintes técnicas: observação

assistemática, entrevista semi-estruturada e análise documental, objetivando identificar

instrumentos, apreender as demandas, as condições e relações de trabalho materializadas para

a inclusão de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho, traçar o perfil das pessoas com

deficiências, sujeitos desta pesquisa, nos aspectos socioeconômico e cultural, perquirindo as

contradições que se fazem presentes no movimento do real e que permitiram o desvelamento

do objeto de estudo.

Os roteiros de entrevista foram elaborados atendendo às especificidades dos

segmentos a que se destinaram. Utilizou-se, assim, dois roteiros distintos de entrevista: um

para os empresários ou gestores e outro para as pessoas com deficiência. Em relação ao

contingente demandante do capital, as entrevistas foram previamente agendadas e

aconteceram no ambiente de trabalho, em razão da conveniência daqueles. Em se tratando das

pessoas com deficiência, as entrevistas também foram previamente agendadas e realizaram-se

preferencialmente fora do “chão da fábrica”, precisamente na residência de alguns. Outras

entrevistas foram efetuadas no próprio ambiente de trabalho, decorrentes da sugestão do

gestor e da aceitação da mesma pelo entrevistado. Porém, em ambas as situações prevaleceu a

(25)

Realizamos as entrevistas com os gestores e com as pessoas com deficiência no

período compreendido entre os meses de junho e novembro do ano de 2006, cuja

interpretação e análise dos dados obtidos estão expostas no capítulo II e capítulo III. É

pertinente esclarecer que as falas dos gestores, das pessoas com deficiência e as organizações

citadas no decorrer dos Capítulos II e III são identificadas com nomes fictícios.

Os dados primários foram articulados às fontes secundárias levantadas,

estabelecendo-se os nexos da pesquisa documental e da revisão da literatura.

A revisão da literatura perpassa todo o processo investigativo com o aprofundamento

das categorias de análise deste estudo. Neste sentido, propusemo-nos a fazer uma interlocução

com autores que discutem as categorias exclusão/inclusão, destacando os estudos de Martins,

Nascimento, Yazbek e Sposati, balizando nossa formulação em Martins. Acerca da categoria

trabalho nos apoiamos no aporte teórico de Marx e, sobre mercado de trabalho nos

fundamentamos em Pochmann, Antunes e no Decreto nº 3.298/99, que regulamenta a Lei nº

7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência. No entanto, é importante frisar que, no decorrer do processo,

outros autores, estudiosos da temática, puderam ser acrescentados.

No que diz respeito à pesquisa documental, esta foi realizada em instituições diversas.

Entretanto, todas estão voltadas e se inter-relacionam de alguma forma, no âmbito das

respectivas competências e finalidades, visando assegurar o exercício dos direitos e, por

conseguinte, a inclusão de pessoa com deficiência, dentre outros segmentos. Nesta

perspectiva, para a obtenção de dados referentes à formação e qualificação profissional,

pesquisamos o Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Quanto à

efetivação da fiscalização e operacionalização do aparato jurídico formal, especificamente no

âmbito local, buscamos a Sub-Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e, quanto aos

indicadores sócio-econômicos, pesquisamos o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) e a Fundação Getúlio Vargas. Para a caracterização das pessoas com deficiência,

pesquisamos os dados de identificação pessoal e funcional das pessoas com deficiência nas

fichas cadastrais nos departamentos de Recursos Humanos das organizações investigadas.

Outrossim, desejamos destacar a delimitação da temporalidade para efeito desta

investigação se deu a contar da data em que passou a vigorar a legislação pertinente às

pessoas com deficiências, isto é, o ano de 1999, estendendo-se aos dias atuais.

Todavia, é pertinente ressaltar que, antecedendo o momento da realização das

entrevistas, procedemos a um pré-teste junto a um grupo de trabalhadores com deficiência,

(26)

questionamentos, identificar dúvidas, ambigüidades, necessidade de introdução ou supressão

de questões.

A análise dos dados constitui-se o cerne da pesquisa. Partindo dessa premissa, uma

vez coletados os dados, procedemos à sua ordenação, organização e posterior análise e

exposição. Espera-se, através desse movimento teórico-empírico, responder aos

questionamentos que nortearam este estudo, trazendo à tona as contradições que perpassam a

problemática estudada, buscando, por meio da crítica e desvelamento do objeto, obter

elementos que possam subsidiar novas Políticas que objetivem a inserção no Mercado de

Trabalho de pessoas com deficiência.

A nossa dissertação está estruturada em três capítulos, assim distribuídos: o Capítulo I

aborda e discute a fundamentação teórico-metodológica das categorias que dão suporte à

análise do objeto investigativo e ao alcance dos objetivos pretendidos.

O Capítulo II é constituído por dois itens. O primeiro esboça a caracterização das

pessoas com deficiência mediante dados de identificação pessoal como: sexo, faixa etária,

escolaridade e estado civil, assim como enfoca os dados de identificação das características

referentes à inserção/inclusão no mundo do trabalho (atividade, salário, proteção social,

regularidade no emprego, ascensão profissional, jornada de trabalho, horário de trabalho) e

tipo de deficiência. O segundo item trata da análise dos determinantes e demandas

organizacionais em face do processo de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de

trabalho em Mossoró, expressos através da análise da estrutura ocupacional do mercado de

trabalho, notadamente na particularidade de inserção das pessoas com deficiência,

considerando os setores com maior e menor capacidade de criação de novos empregos, o

tempo de funcionamento das organizações, o tamanho dos estabelecimentos, o tempo de

serviço do trabalhador na mesma organização, os motivos para a admissão, tipos de

deficiências, demandas postas a estes trabalhadores, vínculo empregatício materializado,

funções que desempenham, salário que percebem, benefícios ocupacionais concedidos,

qualificação ofertada pelas organizações e adaptações realizadas para o exercício profissional.

Ambos os itens abrangem a análise dos dados coletados nas entrevistas com os gestores e na

documentação pesquisada.

O Capítulo III é apresentado em dois itens. O primeiro trata do trabalho como

processo contraditório, confrontando a teoria com o que foi apreendido na fala dos

entrevistados. O segundo item aborda a percepção das pessoas com deficiência acerca do

significado de está inserido no mercado de trabalho, em que o trabalho altera sua vida, as

(27)

discriminações vivenciadas no espaço ocupacional e na sociedade. Em certo sentido, este

capítulo constitui-se a expressão dos elementos que conduzem ao alcance dos objetivos

perseguidos neste trabalho.

As Considerações Finais, expressando a síntese da síntese, apresentam os principais

resultados obtidos no processo investigativo, analisados à luz das formulações

teórico-metodológicas, na perspectiva de suscitar novos questionamentos, apontar limites e distorções

na efetivação do aparato legal em face da dimensão da problemática da inclusão de Pessoas

com Deficiência no Mercado de Trabalho, assim como identificar instrumentos e demandas

acionadas na direção de inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho local e,

desta maneira, contribuir fornecendo subsídios para a Política destinada a esse segmento

social, na direção de sua efetivação/ampliação, numa dimensão distinta daquela que Martins

nomeia de inclusão marginal, precária, instável.

(28)

CAPÍTULO 1

1. DISCUTINDO AS CATEGORIAS DE ANÁLISE

Neste capítulo, examinamos as categorias que conformam nosso objeto de

investigação, que se reporta ao processo de inclusão de pessoas com deficiência no Mercado

de Trabalho. Com esse propósito, foram discutidas as seguintes categorias: trabalho, mercado

de trabalho, deficiência, exclusão/inclusão e a Política Nacional para a Integração de Pessoas

portadoras de Deficiência, na particularidade do acesso ao trabalho.

1.1 O Trabalho na Sociedade Capitalista: breves considerações

Pensar a categoria trabalho na sociedade capitalista conduz às formulações marxianas,

a começar pela própria conceituação de trabalho. Nesse sentido, Marx concebe-o como:

Um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza [...] Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza (1980, p.202).

Nesta troca material entre o homem e a natureza, o homem age ativa e

propositadamente sobre a natureza, dela se apropria, subjuga-a com a finalidade de satisfazer

suas necessidades, ao mesmo tempo em que engendra condições para o desenvolvimento de

sua vida social. Logo, as formas como os homens produzem a sua vida material refletem na

sua reprodução social. A atividade trabalho é um ato social.

Sob essa formulação, Marx chancela o trabalho como categoria fundante no mundo

dos homens. Isto porque o trabalho, ao produzir dupla e recíproca transformação entre a

natureza e o homem, gera para esse novas habilidades, conhecimentos e também novas

necessidades e possibilidades. Portanto, o trabalho é atividade central e decisiva na produção

do novo ser social, de novas e sucessivas situações objetivas e subjetivas, novas realidades

que caracterizam a história da humanidade.

No processo de trabalho, o homem cunha a sua marca, o seu domínio sobre a matéria,

e isto porque, na medida em que a transforma, imprime-lhe também a forma por ele

previamente idealizada. Ademais, a ação transformadora sobre a matéria implica

simultaneamente mudança na própria natureza humana, o que significa que o processo de

(29)

altera permanentemente as modalidades de sua concretude. Há, portanto, correspondência

entre o desenvolvimento das forças produtivas com as diferentes formações econômicas e

sociais ou, como formula Marx,

O que distingue as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz. Os meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho e além disso, indicam as condições socais em que se realiza o trabalho (Op. cit. 1980, p.204).

No âmbito desse estudo, o foco de análise sobre trabalho centra-se na forma

“exclusivamente humana”. Isso pressupõe que outros animais realizam trabalho. Todavia, as

operações por eles efetivadas são distintas e os distinguem do homem. Tal distinção não é

fortuita, antes, reside no fato de que somente o homem tem capacidade de projetar em sua

mente o possível resultado de sua intervenção. O clássico exemplo de Marx reforça esse

pensamento:

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador (Op. cit. 1980, p.202).

O processo de trabalho em seus elementos simples e abstratos – força de trabalho

humana, objetos de trabalho e meios de trabalho – destina-se à criação de valores de uso, a

apropriação dos elementos naturais às necessidades humanas; “é condição necessária do

intercâmbio material entre o homem e a natureza; [...] sendo antes comum a todas as suas

formas sociais” (Op. cit. p.208).

Entretanto, sob o capitalismo, a natureza do trabalho voltada para a produção de

valores de uso, atividade vital, na sua dimensão concreta, é subsumida pelo caráter abstrato

(assalariado, fetichizado e estranhado), cuja finalidade é a criação de valores de troca. Nessa

sociedade, a forma de consumo da força de trabalho apresenta dupla característica: o

trabalhador trabalha sob o controle do capitalista e o produto do seu trabalho lhe é estranho,

pertence ao capitalista. Neste sentido, a força de trabalho comparece no processo produtivo

equiparada às demais mercadorias, repassa seu valor de uso ao capitalista que dela se apropria

e a incorpora, elemento vivo, aos demais elementos mortos do produto.

Do ponto de vista do capitalista, o processo de trabalho é simplesmente o consumo das

(30)

é uma mercadoria pertencente ao capitalista, e isso porque, nessa formação social, é plasmada

a separação entre as condições objetivas e as condições subjetivas de trabalho. Nela, o

trabalhador alcança o status de trabalhador livre, porém destituído dos meios e instrumentos

de trabalho.

Nestas condições, o ser livre não passa de mera formalidade, antes é condição sine qua non

para, na relação mercantil, o trabalhador vender o que ele dispõe, sua força de trabalho,

como mercadoria. Essa relação é marcada pela compra e venda de mercadorias, em que os

sujeitos demandantes de mercadorias negociáveis comparecem como supostamente iguais.

Tal igualdade, porém, reduz-se ao aspecto jurídico da troca, pois as relações entre os

proprietários dos meios de produção e os trabalhadores são de subalternidade, exploração.

Essa constatação é originaria das análises de Marx acerca da categoria processo de

trabalho como mediador do processo de valorização do capital. Nessa mediação é desvelada a

falsa igualdade, uma vez que capitalistas e trabalhadores participam do processo de produção

em condições distintas. Logo, o resultado desse processo é apropriado também de forma

diversa: o indivíduo que trabalha personifica o pobre em potencial, repleto de necessidades,

excluído da riqueza objetiva, dispõe somente de sua capacidade de trabalho e, como tal,

constitui-se em mera potência que poderá ser materializada caso encontre lugar no mercado

de trabalho, ou seja, quando demandada pelos capitalistas, mesmo assim, mantém-se alijado

das condições necessárias à sua realização objetiva na criação de seus meios de sobrevivência,

enquanto o capitalista apropria-se da mais-valia produzida pelo trabalhador durante o

processo de trabalho.

A mercadoria derivada do processo de trabalho, enquanto caráter predominante e

determinante da produção, produz valores de uso tão somente como substrato de valor de

troca, deve agregar valor, valor excedente, mais-valia. A produção capitalista utiliza os

“meios de produção [...] não só como meios de realização do trabalho, mas também [...] como

meios para a exploração do trabalho alheio” (MARX, 1985, p.87).

Destarte, tanto a formação quanto a manutenção da sociedade burguesa sustentam-se

na propriedade privada dos meios de produção e na reprodução da força de trabalho enquanto

mercadoria produtora de valores de uso, como substrato de valores de troca, como fonte de

agregação de valor, valor excedente, enquanto dispêndio de energia física e intelectual,

trabalho assalariado, cuja compreensão é abstraída dos estudos de Marx em O Capital,

(31)

uma potência, é uma forma necessária que devem adotar as condições objetivas do trabalho para que este último seja trabalho assalariado. De modo que o trabalho assalariado constitui uma condição necessária para a formação de capital e se mantém como premissa necessária e permanente da produção capitalista (Op. cit. p.73).

No processo de produção, na sociedade capitalista, a força de trabalho humano

metamorfoseada em mercadoria é o único elemento variável e capaz de gerar mais valor,

valor maior do que aquele determinado pela quantidade de trabalho materializado em sua

compra, produz, portanto, mais-valia. A diferença entre o processo de produzir valor com o

processo de produzir mais-valia consiste no prolongamento do trabalho excedente, na

quantidade de tempo socialmente necessário à sua produção.

Entretanto, tida como mercadoria, a força de trabalho enquanto produtora de valor

encontra-se disfarçada sob forma fetichizada, decorrente da igualdade dos trabalhos humanos

aos produtos do trabalho como valores, o dispêndio da força humana de trabalho equivale à

quantidade de valor dos produtos de trabalho e as relações sociais estabelecidas entre os

homens configuram-se como uma relação entre coisas. Assim,

A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho; por ocultar a relação social entre os trabalhos individuais produtivos e o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, a margem deles, ente os produtos do seu próprio trabalho. Através dessa simulação, os produtos do trabalho humano se tornam mercadorias, coisas sociais (MARX, 1975, p.81).

Deste modo, a força de trabalho humano, convertido em mercadoria, participa do

processo produtivo na direção de sua degradação, pois, à medida que se desenvolvem as

forças produtivas, simultânea e contraditoriamente crescem a produção da riqueza da classe

dominante e a miséria da classe trabalhadora. Essa situação agrava-se nas recentes mudanças

empreendidas no contexto de reestruturação da produção na sociedade capitalista

contemporânea.

Entende-se por reestruturação da produção um conjunto de medidas destinadas à

reorganização das forças produtivas na revitalização do capital impactando o processo de

produção, o consumo da força de trabalho, o mercado de trabalho, o padrão de consumo, as

relações sociais.

No item a seguir aprofundaremos essa discussão, situando o trabalho no contexto da

(32)

1.1.1 O Trabalho no Contexto da Acumulação Flexível

O atual cenário mundial é marcado por profundas alterações no padrão de acumulação capitalista, cujos rebatimentos têm desencadeado transformações no mundo do trabalho. Tais mudanças inscrevem-se em contraposição à crise que eclode nos anos de 1970. Na concepção de Antunes (1999), estas mudanças são atribuídas a um conjunto de fatores, quais sejam: queda da taxa de lucro decorrente dos aumentos dos salários, fruto das lutas sociais desenvolvidas nos anos pós-Segunda Guerra Mundial; esgotamento do padrão de acumulação sustentado no paradigma fordista/taylorista; hipertrofia da esfera financeira frente aos capitais produtivos; ampliação da concentração de capitais dadas as fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas; na Europa, ocorre a crise do Estado do Bem-Estar Social, provocando a crise fiscal do Estado capitalista e, por conseguinte, a necessidade de retração dos gastos públicos e sua transferência para o setor privado; intensificação das privatizações das empresas estatais, das desregulamentações e flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho. A partir de então, generaliza-se o modelo japonês denominado toyotismo, em combinação/substituição à rigidez da linha de produção em massa e em série, ao trabalho parcelar, à fragmentação de funções, as unidades fabris concentradas e verticalizadas antes dominantes em vários países do capitalismo avançado.

O enfretamento da crise exige mudanças no processo produtivo, configuradas na

acumulação flexível. Esta, segundo Harvey (1993), apóia-se na flexibilidade dos processos de

trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.

A nova dinâmica de acumulação no molde toyotista articula um conjunto de inovações

tecno-científicas de base microeletrônica, informacional e robótica, desconcentração

produtiva materializada na terceirização, novos padrões de organização, gestão, consumo,

regulamentação e controle da força de trabalho, nova sociabilidade promotora da adesão e do

consentimento do trabalhador aos objetivos do capital, polivalência, precarização das

condições e relações de trabalho, desterritorialização da produção, intensificando o que Marx

chamou de “trabalho social combinado”, consubstanciado pela participação de trabalhadores

de diversas partes do mundo no mesmo processo produtivo.

Em relação à organização da produção, destaca-se a terceirização, as empresas “mãe”,

ao mesmo tempo em que transferem trabalhadores socialmente protegidos, engendra formas

de inclusão ancoradas na insegurança, na precarização, na redução salarial, em contratos

temporários. Emerge o trabalhador polivalente, multifuncional, que exerce várias funções

simultaneamente sem, contudo, obter aumento de salário.

(33)

Gramsci (1985), o nexo psicofísico do trabalho profissional qualificado – a participação ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do trabalho. Nessa processualidade, amplia-se o fetichismo da mercadoria, a alienação do trabalho, embora esta pareça minimizada pela suposta “diluição” entre os que pensam e os que executam na hierarquia empresarial. Intensifica-se a exploração e o controle sobre a força de trabalho.

Desencadeia-se, assim, uma nova sociabilidade, que propugna relações sem conflitos marcadas por relações entre iguais, compatível com as novas formas de domínio do capital sobre o trabalho. Altera-se também o sentido qualitativo do ser do trabalho. É consensual entre os estudiosos a progressiva exigência de maior escolaridade e qualificação

profissional como requisito básico para inserção no processo produtivo. Entretanto, tal injunção não significa ampliação de postos de trabalho, tampouco a melhoria de condições de trabalho, antes coexiste com maior precarização do emprego. A citação a seguir é bastante ilustrativa a esse respeito:

Os setores em que a elevação da qualificação vem ocorrendo de maneira mais efetiva (as grandes empresas industriais) são exatamente aqueles em que o emprego vem diminuindo em maiores proporções. Assim, o emprego estaria crescendo nos setores informal ou formal precarizado, nos quais a elevação da qualificação é muito menor [...] De cada 100 novas ocupações geradas entre 1990 e 1994, 81 se concentraram no setor informal e na pequena empresa; em 1995, esse número subiu para 84. Portanto, o emprego cresce especialmente entre os trabalhos mal pagos e de alta rotatividade (LEITE, 1997, p. 67).

As transformações no mundo do trabalho nas últimas décadas do século XX e no

limiar do século XXI refletem nas condições de vida, de trabalho e na organização política da

classe operária, cujas implicações são nefastas para os trabalhadores, uma vez que significa

racionalização de trabalho vivo, crescimento exponencial da força de trabalho excedente,

solapa o trabalho organizado e, por conseguinte, os direitos sociais e trabalhistas a ele

atinentes, retrocesso da ação sindical, expresso no sindicalismo de empresa, leia-se

sindicalismo subordinado ao ideário patronal, “sindicalismo de envolvimento, sindicalismo

manipulado e cooptado” (ANTUNES, 2000. p.34).

Neste cenário, as conseqüências para a classe trabalhadora enfeixam-se em múltiplas

formas, com destaque para o desemprego estrutural. Observa-se um movimento contraditório:

de um lado, a redução do operário fabril tradicional; do outro lado, a ampliação do

subproletariado, expresso no trabalho precário, parcial, temporário, subcontratado, o

assalariamento no setor de serviços; incorporação do trabalho feminino e exclusão de jovens e

de idosos. É visível, portanto, “um processo de heterogeneização, fragmentação, e

complexificação da classe-que-vive-do-trabalho” (Op. cit. p.50).

O desemprego no setor formal tem como conseqüência mais imediata o crescimento

(34)

dos países em desenvolvimento, também tem sido cimentado em países de capitalismo

avançado, emerge a convergência entre modalidades de trabalho de países capitalistas

periféricos e de países capitalistas avançados. Essa coexistência do arcaico com o moderno

no sistema produtivo evidencia-se, quando se supunha sua superação. Para Harvey,

O que talvez seja mais inesperado é o modo como as novas tecnologias de produção e as novas formas de coordenantes de organização permitiram o retorno dos sistemas de trabalho doméstico, familiar e paternalista, que Marx tendia a supor que sairiam do negócio ou seriam reduzidos a condições de exploração cruel e de esforço desumanizante a ponto de se tornarem intoleráveis sob o capitalismo avançado. O retorno da superexploração em Nova Yorque e Los Angeles, do trabalho em casa e do ‘teletransporte’, bem como o enorme crescimento das práticas do setor informal por todo o mundo capitalista avançado, representa de fato uma visão bem sombria da história supostamente progressista do capitalismo (1993, p.175).

Destarte, pode-se inferir que a classe trabalhadora está polarizada entre

qualificados/desqualificados, homens/mulheres, jovens/velhos, mercado formal/mercado

informal, estáveis/precários, imigrantes/nacionais, brancos/negros. E, acrescentamos, está

também polarizada entre eficientes/deficientes, donde questionamos: neste universo tão

nitidamente demarcado por opostos, com “primazia” para os que atendem aos requisitos do

mercado, mesmo que nem para estes haja vagas suficientes, do ponto de vista dos padrões de

eficiência, como incluir aqueles que estão na contra-mão de tais exigências, como se supõe

serem as pessoas com deficiência?

As metamorfoses no mundo do trabalho são acompanhadas pelo processo de

mundialização do capital e pelo ideário neoliberal. A mundialização do capital vem se

revelando um processo contraditório, desigual e assimétrico. Tal processo vem sendo

intensificado por meio da revolução tecnológica, que possibilita extraordinária mobilidade

espaço-temporal, e pelo neoliberalismo, cuja essência é a liberalização das barreiras legais e

políticas às transações comerciais e financeiras.

A mundialização do capital impacta o papel do Estado-nação evidenciado na

dissolução da unidade constitutiva deste e do capital nacional, na diminuição do controle

democrático, na crise fiscal decorrente da inflexão do gasto público e da renúncia fiscal, fruto

da pulverização da grande indústria e do crescimento da informalidade. Com efeito,

elegem-se os organismos financeiros internacionais como protagonistas e gestores da economia

mundial, cuja intervenção reúne um conjunto de medidas orientadas para a

desregulamentação dos mercados, redução do déficit fiscal e do gasto público, privatização,

(35)

reanimou as agonizantes taxas de lucro do capital mundial, mas foi incapaz de retomar o

crescimento econômico. Contudo, na visão de Santos (1994), os Estados Nacionais continuam

sendo a unidade econômica política e cultural sobre o qual a globalização ancora-se.

Perry Anderson (1995), ao inquirir o balanço do neoliberalismo, qualifica-o com uma

reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de Bem-Estar. Para seus

defensores, qualquer limite do mercado pelo Estado ameaça a liberdade econômica e política.

Tais argumentos encontraram ressonância em face da crise capitalista que irrompeu

em 1973. A crise é atribuída ao poder excessivo e nefasto dos sindicatos, ao movimento

operário que havia solapado as bases de acumulação capitalista através de pressões sobre os

salários e a intervenção demasiada do Estado no provimento de serviços sociais.

Em resposta à crise, são prescritas algumas recomendações, tais como: Estado forte

para combater o poder dos sindicatos, mas parco nos gastos sociais e nas intervenções

econômicas; estabilidade monetária obtida via disciplina orçamentária, contenção de gastos

sociais, restauração natural das taxas de desemprego; reforma fiscal favorecendo os

rendimentos mais altos.

Em âmbito europeu, como na Inglaterra, por exemplo, este conjunto de medidas

metamorfoseia-se em programas de governo iniciados com Margareth Thatcher

(Inglaterra-1979), espraia-se noutras plagas, rompendo fronteiras geopolíticas, porém salvaguardando as

particularidades de cada país, afirma-se como programa hegemônico na atualidade, cujos

efeitos são perversos, principalmente para a classe trabalhadora.

As considerações anteriores conduzem-nos a inferir que o trabalho no contexto da nova

dinâmica de acumulação flexível experimenta amplas e profundas alterações que atingem não

apenas a materialidade da classe trabalhadora, mas também a subjetividade dessa,

transformações que transcendem o campo econômico, atingem as esferas social, política,

cultural e ambiental.

No plano econômico, os resultados têm sido medíocres, seja em termos de elevação da

produtividade média do trabalho, seja quanto à expansão do comércio internacional. No plano

social, o desemprego é a sua face mais visível, intensifica a insegurança, a exploração, a

alienação, a precarização da força de trabalho humano, cresce sem paralelo a desigualdade

entre os países e dentro dos próprios países, a pobreza amplia-se, excluindo significativo

contingente populacional. Revisitam o cenário político e cultural idéias que se supunha

superadas e que são extremamente nocivas à humanidade, como o racismo, o chauvinismo, a

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