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SETOR DE BENS DE CAPITAL, O ESTADO PRODUTOR E O ESTADO PLANEJADOR: CONFLITO OU COOPERAÇAO?
(O PROCESSO DEAQUISIÇAO DE BENS DE CAPITAL
soS
ENCOMENDA PELAS EMPRESAS ESTATAIS E A ESTRATrGIA DE DESENVOLVIMENTO 00
SEIOR - 1974-1978).
VOLUME I
TESE APRESENTADA PARA A OBTENÇAO 00 TrTULODE
OOUTOR[M ADMINISTRAÇAO DE EMPRESAS
A
ESCOLADE
ADMINISTRAÇAO DE EMPRESAS DE SAO PAULO DAFUNDAÇAO GETOLIO VARGAS POR
VERA HELENA THORSTENSEN
1980
,,' '. ',
..
AoP.A. E.
<.
.'~~;.
Departamento de Planejamento e
Anâ)ise Econ6mica da EAESP .
.'.
"." .
ÍNDI'CE
o
SETOR DE BENS DE CAPITAL, O ESTADO PRODUTOR E O ESTADOPLANEJA-DOR; Conflito ou Cooperação?
(O processo de aquisição de bens de capital sob encomenda pelas
empresas estatais e a estrategia de desenvolvimento do setor
19 74/1 978) .
pã
9inaCAPÍTULO O INTRODUÇAO Justificativa do Tema
Escolhi-do e Qua dro Teõri co . 01
CAP1TULO I O SETOR PRODUTDR DE BENS DE CAPITAL:
Evolu-ção e Caracteristi cas... .. 27
CAPÍTULO 11: O ESTADO PLANEJADOR:.Diretrizes
.---~---
Econômicaspara ,o,Setor... 68
- Instrumentos de política: Orgãos e
Insti-tuições Governamentais... ... .... ... 68
- O Conselho de Desenvolvimento Econômico CDE.... 68
- O COI e a Politica de Discutivel Apoio
ã
Indijstria Brasileira de Bens de Capital. 79
- O BNDE -Banco Na~ional do Desenvolvimen
to Econômico... 88
- A FINAME - Ag~ncia Especial de
Financia-mento Industrial... 97
- A FINEP - Financiadora de Estudos e
Pro-jetos... 102
Os N~cleos de Articulação Com a
lnd~s-tria - NAI... 106
- Politicas de Apoio ao Setor Atraves do Co~
trole das Importações e dos Incentivos Fi!
cais e Crediticios... 110
- O Conceito de Similar Nacional... .... 110
- Acordos de Participação Nacional... 124
- Ma rgem de Prot eçâo , . . . .. . . .. .. . . . 135
- Incentivos Fiscais e Crediticios... 137
Página
- A po1itica Tecnológica do Estado
Planeja-do r o •••••• o ••••••••• o • o. • • • • • • • • 1 53
- O Conceito de Tecnologia ...
0...
153- A PoliticaTecno16gica: Planos, crrgâos
e Instituições .... o o •••• o •••
0...
156- Transfer~ncia de Tecnologia e o INPI... 159
- Engenharia de Projeto ... , ..• o.. .••.• ••• 171
- Projeto do Equipamento... ... .... ...•• 177
CAP1TULO I I I: O E STAO O PROD UTOR: Ag e n t e d e O e s e n vo 1 v i me n
-to do Setor .. o ••••• , • o •••••••••• o •• ••• •• •• 185
- O Estado Planejador e o Estado Produtor. 185·
- A Estatal como Compradora de Bens de
Ca-pital
o...
.•.
195/' - A Po lf t ic a de Financiamento para a Co~
pra dos Equipamentos das Estatais... 196
/ -A Politica Tecnológica da Estatal:
Es-colha ·da Projetista... 227
~ - Modalidades de Fornecimento: Consórcio
e Sub-Fornecimento... 243
- A Estatal Fornecedora de Bens de Capital 264
cAPlrULO IV O PROCESSO LICITATORIO E SUAS PRINCIPAIS
VARIJ5..VEIS .... o ••••••••• o 0 ••••••••••••• • •• • 272
./ - Licitaçâo de Bens de Capital Sob Enc orne n
da: Aspectos Legais e Administrativos... 272
- Variáveis Decisórias do Processo:
- Condições de Participaçâo... 288
- Qualificaçâo
0...
293- Té c nica .. o ••••••••• , • ••••••• •• • ••••••• 299
- Preço
0·
0...
338Prazos ...•.... o • •• • • • • • • • • • •• • • • • 397
- Garantias 0 •••••• ••••• •••••• 404
/ - O Julgamento das Propostas... .... .•. 410
CAPITULO V A ESTATAL E O SETOR: Um Relacionamento de
Cooperação e Conflitos .. o ••••••••• 0.. ... 448
~ - o Poder Discriminatõrio da Estatal no Pro
c e s s o de Aq ui s i ção .
- O Poder de Barganha da Empresa Nacional ..
CAP1TULO VI CONCLusAo - Quadro Atual, Perspectivas e
Proposta de um Novo
Relaciona-mento ...•...
Página
452
463
477
INDICE DAS TABELAS
CAPITULO I Pâgina
- TABELA O - Evolução do Produto Interno Bruto e
Produ-to Indus tri a 1 68/78 i • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 28
-
TABELA I-
Consumo Aparente de Bens de Capital sob En-comenda para as Industrias de Base 69/79 .. 38
-
TABELA I I - Mercado Nacional de Bens de Capital sob En-comenda pa ra as Industrias de Base 1977 ... 39
- TABELA 111 - Valor da Produção no Setor de Bens de C!
pital ... ,... 41
- TABELA IV - [poca de Fundação e Propriedade do
Capi-tal em uma amostra de Produtores de Bens
de Capi ta1 . . . • • . • • . • . . . • • • . • . . • • . • • . • • • • 43
- TABELA V - Participação do Estado como Demandante
de Bens de Capital sob Encomenda 1977... 44
- TABELA VI - Valor e Estrutura das Importaç5es 65/77. 46
- TABELA VII - Importação de Bens de Capital 65/76... 47
- TABELA VIII- Distribuição das Importações de Bens de
Capital sob Encomenda entre Setores
Pu-b 1 ic o e Pr iv ado 6 8/ 7 5 • • • . • • • • • • • • • • • • • .' • 48
- TABELA IX - Importações das Principais Estatais por
Tipo de Equipamento 75 e 76... ... ... 50
- TABELA X - Importações das Principais Estatais por
Setor e por Ti po de Equi pamento. . 51
Numero de Fabricantes de Equipamentos
Brasil x Europa x Japão x E.U.A. 52
- TABELA XII ~ Liderança e Concentração em Setores Se1!
cionados da Industria de Bens de Capi~
ta 1 70 e 73... 58
- TABELA XI
- TABELA XI I I - Numero dos Pri nci pai s Fabri cantes Naci
0-nais e Estrangeiros dos Ramos Mecinica e
Equipamentos 1978 ~ 63
- TABELA XIV - Equipamentos Elêtricos: numero de
fabri-can te s 1977 ; . . . .. . 64
- TABELA XV- Distribuição de Produção de Fabricantes
Página
- TABELA XVI - Produção Nacional de Bens de Capital sob
Encomenda: Faturamento 77/79... 66
- TABELA XVII - Evolução do Setor de Bens de Capital sob
Encomenda: por ârea, máquinas e fatura
-mento 76 e 78... 67
CAPITULO 11
- TABELA I - Projetos Aprovados pelo CDI 74/78 . 85
- TABELA II - Evolução da Colaboração Financeira do Siste
ma ' BNDE pa ra os Setores Piib 1ico e Pri v~
do 53/78... 93
- TABELA 111 - Evolução das Operaç~es Aprovadas pelo Si!
tema BNDE Segundo as Atividades
Econômi-cas 52/78... . . . .. . . .. . . 94
- TABELA IV - Desembolsos Efetivados pela Sistema BNOE
...73/78... 95
- TABELA V - Participação Acionâria da EMBRAMEC no Se
tor de Bens de Capital 1978.. 95
- TABELA VI - Desembolsos Efetivados 74/78 . 96
- TABELA VII ~ FINAME
- TABELA VIII - FINAME
Op e r eçóe s Aprovadas 74/78... 101
Lt b e re
cô
e s 65/78... 101- TABELA IX - Setores do PBDCT:Colaboração Financeira
Conce di da 74/78... . . . .. .. .. 105
- TABELA X - Imposto de Importação e IPI Pagos por I~
portação de Bens de Capital, 1977 121
- TABELA XI - Acordos de Participação Nacional, 68/78. 133
- TABELA XII - Acordos de Participação Nacional por Sei
mentos do Setor de Bens de Capital 76/78 134
- TABELA XIII - Indices de Nacionalização para os Equip!
mentos Destinados ao Setor El~trico,1978 152
- TABELA XIV - Averbação de. Contratos para Fornecimento
de Te cn o109 ia 72/78... 166
- TABELA XIV-A - Pagamentos Tecnolõgicos Autorizados por
CAPITULO 111 Pãgina
- TABELA I -Evolução do Investimento Fixo das
Empre-sas Estatais, 70/77 189
TABELA II Emp r êsttmo s do BIRD ao Brasil, 74/78 202
- TA BE LA I II - Emp r
e
s ti mos do BI D a o Br a s i 1, 74/ 7 8. . . 203- TABELA IV - Movimento de Capitais, 75/78... 208
- TABELA V - Desembolsos de Organismos Internacionais
e Ag ê n c i as Go ver n a me n t a i s, 74/78... 2O9
- TABE LA VI - T a bel a de Ju r os d a F I NAME - Exe mp 1 o . . . .• 2 1 2
- TABELA VII - FINAME e o Setor Metalúrgico, 72/78 ... 214
•.. TABELA VII-A - Financiamentos Nacionais e Estrangeiros·
para a Compra de Equipamentos das
Side-rGrgicas Estatais, 1978 215
- TABELA VIII - Evoluçio da Nacionalizaçio dos Equipame~
tos: turbinas de grande porte... 218
.,. TABELA IX - FINAME e o Setor de Utilidades Públicas
como Comprador, 72/78 ...••.•... 219
- TABELA X - FINAME e o Setor Transporte como
PREFAcIO ... post scriotum
Sejam estas as ~ltimas palavras que escrevo ao dar por encerrada
u-ma tese que me absorveu por dois longos anos (e meio).
r
o momento,creio eu, de tentar um balanço de tudo o que foi concretizado e do
muito que resta ainda a ser feito.
Este trabalho nasceu de minha curiosidade e foi o fruto do esforço de
penetrar em um ramo antes desconhecido. Caminhando por ãreas diver~
sas, como a Matemãtica e as finanças, acabei sendo impelida para um
campo novo, e talvez mais fascinante, que se encerra atrâs de um si~
ples rótulo acadêmico: Economia. E, mais um passo dado, chego, da te~
ria das salas de aula,
â
realidade dos conflitos da prâtica: chegoâ
realidade brasileira. E nada mais gratificante do que penetrar em
campo complexo e dinâmico da Economia Politica, como O da Politica
Industrial de um pais quase-desenvolvido que jâ se diz industrializ!
do. Dentro deste contexto, a escolha de um setor moderno e arrójado
como o de bens de capital para ser o tema de pesquisa foi uma
deci-são imediata, jâ que, nele, muitos eram os desafios, como a
comple-xidade do setor, os produtos fornecidos, o peso da variâvel t~cnica
e a ambig~idade do prõprio processo de transferência tecnolõgica.Por
outro lado, para tornar este um estudo econ6mico, mas nio menos polI
tico, o setor passou a ser analisado dentro de umaõtica mais
abran-gente, a t r a ve s do se u r e 1a c io na me nt o com a e nt ida de que 1h e .deu su
-porte e vida própria: o Estado.
Foram dois anos de freqUentes contactos com empresas fornecedoras,
com õrgios de governo, com estatais compradoras~ Foram quase duas
centenas de entrevistas, de descobertas, de amadurecimento. Mas nem
por i s to , tudo o que foi p re s e nc ia do e s tâ o u pode estar e nce r ra d o n e~
tas pâginas. Pelo contrârio, talvez o maior legado de todo esteapre~
dizado tenha ficado sem registro, eis que se torna evidente que nem
tudo o que foi vivido pôde ser escrito, mas acumulado na experiência
adquirida. E este legado
ê
prerrogativa apenas do pesquisador; somente ele pode avaliar o quanto foi possivel absorver.
Sei que a praxe recomenda que agradeçamos âs principais pessoas
en-volvidas nas diversas etapas de um trabalho como este, e que se is~n
tem as mesmas de qualquer responsabilidade pelas conclus6es, acertos
e erros aT cometidos. No entanto, atrever-me-ia a discordar de tal
pritica e retomar este ato de agradecimento sob outro prisma. Em
verdade, acredito que nio s~ professores com os quais tive contacto,
pTIblicos que entrevistei, e mesmo companheiros de trabalho e amigos,
s~o tamb~m responsãveis pelo que estudei, aprendi ou escutei, de
cada um individualmente. Afinal, foram eles que enriqueceram e
de-ram forma ao contexto que vivi e que procurei sintetizar. Posso
ape-nas eximi-los sob um ~nico aspecto: de tudo que me foi transmitida,
somente a mim cabe a responsabilidade de ter sabido aqui concretizar.
são muitas as pessoas que se envolveram nesta pesquisa e que o
sigi-lo, a que me comprometi ao entrevistã-las, me impede de nomear.
Fo-ram dirigentes de empresas privadas e administradores de empresas e!
tatais, que perderam muitas de suas atribuladas horas de trabalho P!
ra responderem a perguntas que, a princfpio, eram vagas e
exploratE-rias, eis que formuladas por um nio-iniciado nas especificidades do
setor e, com o tempo, passaram a incisivas e impertinentes, com a se
gurança que o convlvio diãrio propicia. Foram representantes de
or-g~os e instituiç5es governamentais a oferecerem suas versões sob
in-gulos diversos do mesmo problema, incentivando a d~vida e permitindo
o confronto de opiniões. Gostaria de estar segura de que soube aqui
expressar fidedignamente as diferentes nuanças ~ue emergiram dos
de-bates que travamos.
Se não me ~ permitido citã-las nominalmente, talvez possa expres~ar
minha gratidão is entidades a que pertencem, como ABDIB, SIMESP,BNDE,
FINAME, FINEP, NAI, pelas informações prestada~ durante o ano de
1978 e parte de 79, enquanto durou a fase exploratória desta
pesqui-sa, e depois, durante a elaboração deste documento que e, na verdade,
um relatório final da mesma.
Como não poderia deixar de Ser, ao Ergão que financiou este estudo ~
cabe uma especial refer~ncia.
r
ele o N~cleo de Pesquisa e Publica-çoes da Escola de Administração de Empresas de são Paulo que, junt!
mente com esta Escola, me concederam recursos e ambiente para pross~
guir com meu trabalho.
Mas outras pessoas existem que podem e devem ser nomeadas, pois
de-las deriva o apoio intelectual indispensãvel i concretiza~ão de um
esforço tão longo como esse. São elas:
Meu orientador, Luiz Carlos Bresser Pereira, que deu a esta tese sua
estrutura final, enfatizando, n~o o processo de aquisição de bens de
tapital que me propunha analisar inicialmente~ mas o relacionamento
e o grau de depend~ncia que o setor estudado nutre pelo seu grande
impulsionador, o Estado. A ele, devo aid~ia de penetrar no complexo
Michael Zeitlin, quem primeiro me mostrou a compatibilidade entre um
trabalho acad~mico e a busca de uma proposta pragmâtica que pudesse
ser utilizada por empresas nacionais ao enfrentarem um processo tão
complexo, como o ~ a licitação.
A outros professores da Escola que participaram das minhas d~vidas,
meus desinimos, e me deram, mais do que incentivo, ptovas de real
amizade: Lenina Pomerantz, Robert Nicol, F~bio Lilla, Nilson Quezado,
Luiz Antonio Oliveira Lima, Pierre Ehrlich, Henrique Rattner, Maurl- .
cio Tratemberg e Alkimar Moura.
Pe laip a cién cia comque conviveram com meus maus-humores,pelos palpites
e revisão das folhas datilografadas, uma palavra de gratidão a duas
pessoas que acompanharam passo a passo :este trabalho eq ue ,
sei, se sentem mais aliviadas do que eu mesma ::meus Pais.
agora
Finalmente, e co~o nao poderia deixar de ser, ao principal
responsi-vel pela concretização .desta pesquisa, pelos meus contactos com
for-necedores e estatais, com Ergãos de governo e associações de classe,
enfim, por muitas e infind~veis discussões que tomaram forma nas
pi-ginas desta tese~ a este, eu não eximo da responsabilidade de ter-me
despertado a curiosidade, e agora a atração, por tr~s grandes temas
aqui entrelaçados: polftica industrial, absorção de tecnologia e fi~
nanciamento ao parque produtor nacional. Arnaldo de Araujo Souza,ami
go de mui ta s e es pe c ia is oc
a
s iõ e s , 11es p e r o não t e r - t e d e s il udido co-mo alunall
, ao entregar, is criticas do meio acad~mico, estas piginas
· 1 .
CAPITULO O
INTRODUÇAO: Justificativa d~ Tema Escolhido e Quadro Te6rico.
1 -Justific'ativado' Tema' 'Escolhido
Se atentarmos para o contexto econômico do Brasil ,constataremos que
este vem se caracterizando por mutações as mais variadas, com
acen-tuada influ~ncia externa, tendo, como fulcro, no entanto, uma parti
cipação ativa, constante e crescente do Estado.
Assim
e
que:a) Nasdecadas mais recehtes, vem se firmando a posição do Es ta do
diretamente no setor produtivo, atraves de empresas por ele cons
tit~fdas ou controladas, avultando seu nfimero em ritmo tanto mais
acelerado quanto fosse de seu interesse modificar o perfil da
oferta em segmentos tidos, por ele, como fundamentais para a
consecuçao de sua estrategia desenvolvimentista.
E ta-ntas são, hoje, essas empresas, e de tal magnitude, que geram
um mercado potencialmente significativo a dar suporte a toda uma in
dús tri a : a de bens de capital sob encomenda.
Então, ,passa a ter interesse fundamental o processo pelo qual tais
empresas, a que, doravante denominaremos estatais, adquirem
equipa-mentos e serviços: a licitação.
Se outra maior razão não existisse, bastaria se levar em linha de
conta que essas estatais representam 70% da demanda para tais bens.
Mais ainda, são inúmeras as evid~ncias de que o setor de bens de
C!
pital desenvolveu-se a partir de 74.com o apoio e suporte do Estado
que foi proflcuo em oferecer subsidios, incentivos fiscais e
finan-ciamentos tanto para investimento, como pa~a a comercializaçio dos
produtos fabricados.
b) No entanto, no contexto polltico-econômico dominado pela inflação
incontrolada e por significativo e crescente desequil{brio de
nosso Balanço de Pagamentos, t~m-se evidenciado os constantes cor
tes nos investimentos do Estado, de fins de 76 a esta parte, per
seguindo o objetivo de contenção de gastos p~blicos. mesmo em
ãreas nitidamente prioritârias que, ate por estrategia, deixam
de sê-lo. Não obstante, o .pr ó prio Estado, a partir de 74,
estimu-lou fortemente a expansão do nosso parque produtor de bens de
.2.
capacidade ociosa e, pois, envolvido num clima de grande
incerte-za quanto
ã
evolução do setor nos prõximos anos.c) Sob o ponto de vista da empresa produtora de bens de capital, e!
te clima de insegurança transforma a necessidade de vencer uma
licitação,imperativa, muitas vez~s, para a prõpria continuidade
da empresa, Isto significa, em filtima an~lise, que entrar em uma
certa concorr~ncia pode equivaler i participação em verdadeiro
jogo onde regras de conduta, cavalheirismo e moralismos são
es-quecidos pois, a presidi-lo, resta apenas o lema "ganhar para so
bre viv e r? , como se tudo fora subordinado
ã
lei das selvas.d) Não obstante, apesar das diretrizes traçadas pelo Estado e do
apoio de alguns de seus 5rgios e instituições, al~m da
mobiliza-ção do empresariado brasileiro e da opinião p~blica,
apartici-paçio nacional na produção de bens de capital sob encomenda ati~
giu, em 1978, o nivel de 64%, apresentando evolução negativa em
relação ao ano anterior, avaliada em 68%, embora a participação
potencial tenha sido calculada para atingir 80%, segundo
estima-tivas das classes produtoras.
e} Na verdade, tal resultado ~ o fruto, inclusive, de um constante
e atuante posicionamento dos paisesdesenvolvidos, tradicionais
exportadores desses bens, que, tamb~m em crise, e atrav~s de
di-versos artiflcios, alijam da oferta brasileira parcela signific!
tiva do nosso mercado. Dentre eles,citem-se: acordos bilaterais
governo a governo, financiamentos externos vinculados i compra de
equipamentos, execução de projetos b~sicos por empresas de enge·
nharia ou t~cnicos estrangeiros que funcionam como pontos de ven
da dos produtos de seus paises de origem.
Por outro lado, o Estado ~ tamb~m responsãvel por este resultado,
merc~ da falta de um planejamento adequado aos investimentos de suas
estatai~, pelos incentivos dados atrav~s da isenção ou redução do
Imposto de Importação concedido a projetos que consultem ao intere!
se nacional (no qual Se en~uadram todos os projetos das estatais) ,
pelas importações- permitidas atravês. dos Acordos de Participação N!
cional e, finalmente, pela multiplicidade de politicas industriais
para o setor que, uma vez implantado, aguarda o incerto desenrolar
das decis5es governamentais.
f} Por derradeiro,. - preocupa-nos ,dentro do contexto econômico atual,
· 3 .
capital frente ~s duas outras grandes fornecedoras: as
subsidiâ-rias de empresas estrangeiras aqui instaladas e as grandes prod~
toras estrangeiras. Diante de tão conflitantes interes~es,revela
analisar a estrategiaadotada pela empresa nacional para
con-frontar-se com tais adversãrios, tanto naãrea
tecnológica,quan-to na comercial, esta traduzida por preço, prazo e garantias.
Ante o acima exposto, o pesquisador visualiza um quadro ainda
inex-plorado pela an~lise dentro do setor de bens de capital. Ao inves
de enfocar os problemas deste segmento industrial com dados de ofe!
ta e demanda, despertou-nos a curiosidade um elo da longa cadeia de
atividades que vai desde o projetar ate o produzir e comercializar
um bem de capital para um determinado comprador: a estatal. O elo
escolhido foi exatamente o processo de aquisiç~o, seus antecedentes
e conseqUentes em termos econ5micos e polfticos, tanto do lado da
fornecedora, quanto da estatal compradora, Mais ainda,
indagãvc-m o - nos c o indagãvc-m o is t o foi c o nc re t i z a d o e q ua 1 f o i o p a p e1 d o E s ta d o ne s _
te crescimento, em termos de estabelecimento de diretrizes e apoio
financeiro.
Objetivos da Pesquisa
o
presente trabalho tem, como principal objetivo, analisar o relacionamento do setor de bens de capital sob encomenda e o Estado. O po~
to
central de enfoque e o processo de aquisição das estatais paratal tipo de bens, a licitação, dentro de um contexto ma isi a mp l o que
e a própria politica de compras dessas empresas e o conflito de
in-teresses por ele originado. Para completar o quadro, impõe-se, par!
1e 1a me n te , que s e e xa m in e q u a 1 o p a p e 1 que o E s ta do vem de sem p e nh a.!2.
do neste processo de compras, viabilizando, atraves de uma serie de
instrumentos, o próprio setor ofertante. Desta forma~o clima de
conflito antevisto no interior do processo de aquisição entre
com-pradores e fornecedores
e,
na verdade, entremeado de in~meros matiz~s que evidenciam a cooperação entre o setor e o Estado. Tambem es
te
e
um aspecto que nos compete examinar.Este clim~ de cooperação e de conflito desenrola-se dentro de uma
arena onde atuam, concomitantemente, tres atores principais: o
se-tor de bens de capital sob encomenda, o Governo e seus órgãos de
planejamento econõmico, e as estatais compradoras. Como participes
do conflito de interesses, e não menos atuantes, apresentam-se
tam-bem outros personagens: bancos nacionais e internacionais
tradi-• 4 .
cionais produtores de bens de capital, empresas produtoras estrange!
ras, empresas de engenharia,as.sociações e sindicatos das classes
produtoras, etc., apenas para citar os mais influentes.
Em slntese, sera a din~mica e a dial~tica do processo de aquisição_
de bens de capital pelas empresas estatais, mediado pelos 5rgãosgQ
vernamentais que merecerão nossos esforços de an~lise e
int~rpreta
-çao .
2 - QUadro Teóríc oi o Estado,s·UasfUnçÕ"e·se a intervenção no
do-..,.
.
-:. •.mlnlO economlCO
Se ~ nosso bbjetivo analisarmos.o relacionamento do Estado com ose
tor de bens de capital sob enc~menda, necess~rio se faz que precfs~
mos melhor o conceito de Estado para. então, segmentando-o, atin~ir
mos as fontes de onde emanam as decisões e açoes que, ora se conver
tem em focos de conflito com os interesses do setor, ora representam
atitudes de consciente e planejada cooperação. Em verdade,. procura-..
mos os participantes e as entidades responsãveis pelo que amplamente se
designa como formuladoras e executoras da polftica industrial para
o s eto r.
Vale ressaltar, de imediato, que alguns dos conceitos que iremos
a-presentar nio sio de ficil definição, permitindo nfveis de abrang~~
eia diversos, senio contradit5rios. Procuramos uma conceituação que
pertencesse ao quadro te6rico que melhor evidenciasse as caracteff~
ticas do relacionamento sob anilise e que realçasse os pontos
anta-g6nicos dos interesses envolvidos.
Examinaremos, nas p~ginas seguintes, o conceito de Estado e suas fun
ções, a segmentação de seu aparelho burocrãtico. para, em seguida,
abordarmos o problema da legitimação da intervenção do Estado na
economia brasileira.
a) O Conceito de Estado
O conceito que se adota de Estado distingue-o do sistema ~ocial no
qual esti inserido. [ parte da sociedade, apesar de sobrepor-se a
ela, jã que tem caracterlsticas p ró p ria s como estrutura jurldica e
institucional que ~. Para uns, ~ u~a estrutura de dominação (Engels),
para out~os, ium sistema de poder organizado ou a sociedade polit!
ca que se contrapõe
ã
sociedade civil (Gramsci). Seus elementos con~titutivos podem ser divididos em: elite dominante, burocracia
admi-nistrativa e força pijblica (Engels) ou aparelho repressivo,
• 5 •
l6gico, integrado pelas igrejas, escolas pfiblicas e privad~s,
fami-lias, leis, partidos pollticos, sindicatos e instituições culturais
(Althusser) (1). D'istinque+s e , assim, do IIpOVO, que inclui toda a
população politicamente participante de uma nação ou pais" e da
so-ciedade civil, "f o rma d a pelas classes e grupos sociais que dispõem de efetivo poder p o lIt ic o " (2).
Conceitua-se, então, o Estado como "uma organização b.ur o c rà tic a co ns
tituida por uma elite politica representante do bloco hist6rico que
det~m o poder pOlitico, por um corpo de funcionarias e por uma
for-ça pfiblica que dispõe do monop5lio da viol~ncia sobre determinada
,população, em determinado território (3).
b) Funções do Esta~o
Uma vez conceituado o Estado, o próximo passo da analise e definir
~uas funções basicas.
Para tanto, necessario se faz buscar tais informações no âmbito da
Teoria do Estado, porque ~ a partir dessa Teoria que se fundamentam
as principais decisões e atividades do Estado. Esta teoria evoluiu,
na verdade, seguindo os ditames impostos aos governantes de cada
Mação, pelas pressões e necessidades de ptontamente responder a
perturbações de ordem interna ou externa que pudessem ameaçar o
po-der c otiStitui do.
Nos tempos atuais, a Teoria do Estado refere-se, como bem salientou
Hirsh,
nã
mudança qualitativa do ce râte r do Estado no capitalismo ~vançado, mudança que "se deve
â
monopolização crescente do capital ei integração crescente do aparelho do Estado ao processo de reprod~
çã o e co nô mic a11 ( 4 ). Ma is a i nda, ta1 t eo ria a pe nas a dqui r e s ign i fi
-cação pratica se for capaz de explicar como a dominação de uma cla~
se se reproduz."fazendo apelo
ã
organização politica das relaçõesde classe e de que modo o conflito de classes determina o modo de
funcionamento do aparelho de dominação polí tica " (5).
Sintetizando as teses defendidas pelos te6ricos do Estado, podemos
agregar as principais correntes sobre o papel do Estado no capitali~
mo moderno em dois grandes grupos.
(1) - Ver maiores detalhes em Bresser Pereira, L. C., Estado e
Sub-deSe nvo1
v
im en to In dus t r iali zado , Bras i1iense, S. P., 19 7 7. ( 2) - I dem. p. 82.( 3) - I dem, p. 82.
(4) - Hirsch, J., "Observações teõri cas sobre o Estado burguês e sua
cr ís e ", em Poul a ntza s , N., O Estado em Crise, Graal, R.J.
· 6 .
o
primeiro deles, conceitua O Estado como um agente neutro, irbitroe reconciliador dos conflitos de classes ..A teoria que embasa tal
concepção defende a premissa de que "o poder nas soei edades oci den
tais ~ competitivo, fragmentado e difuso: todos, diretamente ou
atrav~s de grupos organizados, t~m algum poder e ningu~m tem ou p~'
de ter poder demasiado. Em tais sociedades, os cidadãos gozam do
sufrãgio universal, de eleições livres e re qular-es; de instituições
representativas, de direitos civis efetivos, incluindo o direito ã
palavra, associação e oposição. Tanto os individuas como os grupos
se beneficiam amplamente de tais direitos, sob a proteção da lei,
de um judiciãrioindependente e de uma cultura po lit ic a " (6). Por
conseqU€ncia, nem o governo, agindo em nome do Estado, dei~arã de
corresponder aos desejos e âs necessidades dos interesses confli
-tantes. Esta ~..a concepção democrãtica-pluralista, defendida por u
ma corrente de r.t có ric os do Estado. (7).
Dentro d~sta corrente,. fica excluida, por definição, a noçao de
que o Estado poderia ser uma instituição especial, cujo principal
objetivo e defender o predominio, na sociedade, de uma determinada
classe.
Como alternativa a esta tese, temos a abordagem marxista. O te~to
bãsico sobre a concepção do Estado nas sociedades capitalistas foi
apresentado por Marx, no Manifesto Comun istai o nde se lê: 110 E.xecuti
vodo Estado moderno não ~ mais do que um comitê para dirigir os
negócios comuns de toda a burguesia". (8). Em outras palavras, o
Estado ~, acima de tudo, o instrumento coercitivo de uma classe do
minante, ela própria definida em termos de sua propriedade e de
seus controles sobre os meios de produção.
Jã uma abordagem marxista mais moderna vê o Estado, nao como instru
menta da classe dominante, mas como um conjunto de interesses
fra-cionados e de posições conflitantes. O papel do Estado, nas
econo-mias capitalistas modernas, passa,então,a ser o reflexo dos confli
tos dessas fraç~es de classe, atrav~s das relações dele, Estado
com as diversas classes sociais.
Para Poulantzas, (9) o "Es ta d o capitalista hoje, como no passado,
deve representar o interesse politico a longo prazo do conjunto da
burguesia sob a hegemonia de uma de suas frações, atualmente a do
(6 )
(7)
- Miliband, R., O Estado na Sociedade Capitalista, Zahar R.J.,
1972, p • 12.
- Ver maiores detalhes em Pontes de Miranda,
F.,
Comentãrios aconstituição de 1967, volumes I e IV - 2a. edição, Revista
dos Tribunais, S.P., 1970.
- Citado em Miliband, Opa cit., p. 16.
- Poulantzas, N., O Estado em Crise, Graa1, R.J., 1977.
(8)
. 7 .
c ap ital mo no p o1i s ta.". lsto im p1ica que: a) A tua 1m en te, a bur9u esia
se apresenta sempre como constitutivamente dividida em frações de
clas se: c a p ital mo no po1i s ta e capi tal não -mo no po1is ta; b) Es tas fr~
ções se situam, em seu conjunto, embora em graus variãveis e cada
vez mais desiguais, no terreno da dominação polTtica, fazendo
sem--pre parte do bloco no poder: c) O Estado capitalista deve det~r se~
pre uma autonomia relativa em face desta ou daquela fração do
blo-co no poder, para assumir seu papel de organizador polTtico do
in-teresse geral da burguesia, sob a hegemonia de uma dessas facções;
d) As formas atuais do processo de monopolizaç~o e hegemonia parti
cular do capital monopolista impõem, hoje, uma restrição consider~
vel aos limites da autonomia relativa do Estado frente ao capital
monopolista e do campo de compromissos deste com as outras frações
d~ burguesia (10).
Em suma, para Poulantzas e "preciso ver que o Estado, no caso capi.
talista, n~o deve ser considerado uma entidade intrinseca, mas
co-mo uma relaç~o, mais exatamente uma condensação material de uma r~
lação de forças entre classes e frações de classe tal como se
ex-pr imem, s em p r e de m o do esp ecIf ico, no p rõ p r io seio d o Esta do" (l1 ) .
~entro dessa abordagem, podemos distinguir claramente duas impor
-tantes funções'do Estado nas economias capitalistas: a de
acumula-ção de capital, e a de legitimação, como proposta por James
O·Connor (12).·.
legitima~se o Estado por diversos caminhos: algumas vezes, pela o~
demjurldica que historicamente o precede e que o embasa; d~
ou-tras,. o Estado. se auto-legitima, gerando. ele prõprio
um
ordenamen-t~.juridico que ti justifica perante a sociedade. Mas nem sõ o ofd!"
namento jur"1dico imposto legitima o Estado: a lastreã-lo, deve
pre-existir o consenso das classes dominantes ou simplesmente um apar!
lho repressor que o preserve e o fortaleça.
A função de legitimação do Estado reflete as lutas de classes e o
conflito de interesses das mesmas~ obrigando, ainda, o Estado, a
fazer uma serie de concessões que compreendem projetos e serviços
exigidos para a manutenção da harmonia social. Para cumprir esta
função de legitimação, o Estado incorre em uma serie de despesas
sociais,como no sistema previdenciãrio' (inclusive aposentadoria) ,
saijde p~blica e assist~ncia social. Embora seja esta uma forma d~
legitimação do Estado, pode-se argumentar, no entanto, que, na ver
(10) -Idem,
p.
21(11) - Idem, p. 22
(12) - O'Connor, J., USA - A Crise.do Estado Capitalista, Paz e Ter
· 8 .
dade, tais concessoes atendem aos interesses da pr5pria classe
do-minante, jã que rebai~a o custo de reprodução da mão-de-obra, em
prol de uma maior geração de excedente.
Busca, ainda, o
der,a partir da
Planejador e
Estado, o consenso da sociedade e sua fonte de
po-função acumulação; nesse ponto, a dicotomia Estado
Es ta d o P ro duto r. O p r ime i r o exe rc e o pa p e1 re g u1a dor
da economiaJ e o segundo interv~m diretamente como produtor de bens
e serviços, ambos orientados para um mesmo fim: acumular
para,atra-v~s do poder econ6mito e, conseqUentemente, polItico daI advindo,le
gitimar-se perante a soci edade ci vil.
r
dentro desta dicotomia entre o acumular e o legitimar-se que serevela e se afirma o papel do"Estado como grande investidor, paral~
lamente ao papel de regulador da atividade econ6mica. Para tanto, e
em ~ltima instãncia~ se justifica a ação do Estado de controlar o
ex c ede n teg er a do pela economia, seja a tr a ve s da poupança livre ou
forçada, sejaatraves da tributação.
Para concretizar esta função de acumulação, incorre o Estado em cer
tos gastos especIficos, denominados por O'Connor de capit~l social.
Capital social ~ o gasto do Estado e~igido para a acumulação
priva-da lucrativa e que,indiretamente,aumenta o valor do excedente
gera-do (13) . São dois os tipos de capital social: o investimento social
e o capital para O consumo social. O primeiro consiste nos projetos
e serviços que aumentam a produtividade de um dado montante de
for-"ça de trabalho, ampliando a taxa de lucro. (14). são exemplos os
parques industriais implantados pelo Estado, infra-estrutura como
estradas, aeroportos, ferrovias, pontes, eletricidade, ãgua,etc ... ;
pridios e equipament6S para a educação e pesquisas, investimentos
em agricultura e mineração, projetos de renovação urbana ett ... Ai~
da compreende o ensino, os serviços administrativos do sistema
edu-cativo e os serviços de pesquisa e desenvolvimento dentro e fora da
instituição educacional. O segundo indica projetos e serviços que
rebaixam o custo de reprodução do trabalho, ampliando a taxa de
lu-cro, ao expandir o poder reprodutivo da força de trabalho, ao mesmo
tempo em que. reduz os custos do trabalho. (15). Inclui os bens e ser
viços consumidos coletivamente pela classe trabalhadora, os seguros
e amparo econ6mico nos casos de desemprego, velhice e adversidades
climãticas. São exemplos, ainda, as estradas da periferia, colegios
p~blicos, instalações recreativas, projetos de renovaçao urbana,cr~
ches e instalações m~dico-hospitalares.
(11)" - Idem, p. 20 .
(14) - Idem, p. 21.
· 9 .
Um dos aspectos mais controversos na interpretação dessas duas
fun-ções e apontado por James .QJConnor. Para ele, 110 Estado Capitalista
tenta desempenhar duas funções bãsicas e muitas vezes
contraditó-rias", (a função de acumulação e a função de legitimação): ".Isto
quer dizer que o Estado deve tentar manter, ou criar, as condições·
em que se faça posslvel uma lucrativa acumulação de capital.
Entre-tanto, o Estado tamb~m deve manter ou criar condições de harmonia
social. Um Estado capitalista, que empregue abertamente sua fDrça de
coação para ajudar uma classe a acumular capital ~ custa de outras
classes, perde sua legitimidade e, portanto, abala a base de suas
lealdades e apoios. Porem, um Estado que ignore a necessidade de a~
s istir ao processo 'de acumulação de capital arrisca-se a secar a
fDnte de seu próprio poder, a"capacidade de produção de excedentes
econ6micos e os impostos arrecadados deste excedente e de outras for
mas de capital 11 (16).
Deste modo, o Estado, para exercer esta dupla função, possui, alem do
aparelho repressivo e ideológico proposto por Atlhusser, o apare
-lho econõmico, que permite exercer a função de acumulação e que,hi!
toricamentejevoluiu da não-interv~nção do Estado Liberal, na epoca
do capitalismo competitivo, para o Estado Regulador do capitalismo
monopolista. Como afirma Poulantzas: "Ao contrãriode uma c o nc epçâo
simplista do papel do Estado, que baseia a distinção entre apa~elho
repressivo do Estado e aparelhos ideológicos ... , e necessário ob se r
var que o Estado sempre detem um papel econõmico direto na
reprodu-ção das relações de produção: papel econõmico direto jã que não
S~ limita, neste ca~o, is simples incidencias da repressão e da
in-cu1cação ideo ló9 ic a sob r e o e co nõm ic o11 (1 7) .
A legitimação necessária ~ manutenção do poder do Estado, ou da eli
te polftica que o dirige, sua segunda função, depende da sua cap~ci
dade de estabelecer uma hegemonia ideológica sobre o resto da sacie
dade, atraves de instituições que funcionam como aparelhos ideológ!
coso A principal delas ~ o próprio Estado com seu aparelho coerciti
vo, regulador e executivo da sociedade, na medida em que se
respon-sabiliza, não apenas pela direção e conómt ca ip l a nejan do e executando
uma pol1tica econõmica, mas tambem pela própria produçio de bens e
serviços (18) (função acumulação).
A"contradição aparente entre as duas funções do Estado, de acumul ação e
de legitimação, isto e, a necessidade de assistir ~acumulação atra
(16) O'Connor, J., op. cit., p. 19.
(17) Poulantias, N., As Classes Sociais no Capitalismo de Hoje,Zahar,
R.J., 1975 p. 105.
· 10 .
ves da despesa social com s aiide , previdência, etc ... para manter o
seu pr6prio poder, ~ resolvida, segundo O·Connor, pela mistificação
da sua po11tica. 110 Estado deve envolver-se no processo de
acumula-çio, por~m tem de fazê-lo mistificando sua politica, denominando-a
de algo que não ~, ou tem de ocultã-la, por exemplo, transformando
temas po lit ic o s em temas adminis tr etivos v " (19).
Uma visão complementar desta ,sobre as funç6es do Estadog~ propos~
ta por Hirsch (20). Para ele, a dominação de uma classe não se pode
limitar a repressão das classes exploradas; lIe1a sup5e, ao contrã
-rio, que sejam garantidas a coesâo da sociedade de classes e sua ·r!
produção enquanto talo 11 Ainda, como o.modo de produção capitalista
se caracteriza essencialmente-pelo fato de que as relaç5es de
clas-se nele se reproduzem por meio do p rfip rio processo de valorização do
capital, 110 papel do Estado, como qa ra ntia dessas relações, existe
enquanto instincia coercitiva, que se reveste de uma forma especifl
ca, formalmente separada das classes, agindo no seio da produção
~!
terial: resulta dai a necessidade de compensar politicamente os
d~-ficits do processo de reprodução econ5mica para assegura~ a consoli
dação material do pr6prio Estádo e de seu pr6prio potencial de
vio-1ênc iali.
cr O.Estado Planejador e o EstadoProdutot
o
fen5meno do' aumento da participação do Estado na economia dos pai"'"<'-·ses perifêricos ~ decorrente do cariter desenvolvimentista que
im-prime em suas ações, viabilizado, como vimos, atrav~s da acumulação
do excedente, ou poupança, gerado pela acumulação da sociedade e 9!
rantido por meio dos tributos, lucro de suas empresas e poupança
forçada,nas formas de emissão inflacionãria ou fundos obrigat~rios.
Para dese~penhar suas funç5es de acumulaçâo e de legitimação, o
Es-tado, em um pais subdesenvolvido e industrializado, dir~ge a
econo-mia como um todo, de~empenhando, ~ara tanto, um duplo papel: o de
p 1a n e j a d o r e o d e pro duto r. Pa r tic ip a, a s sim, a t i va m e nt e, nos mais
diversos setores da economia, como o financeiro, o industrial, o de
serviços, sempre procurando gerar recursos para manter sua posição
na vida politica e econ5mica do Pais e sua posição como elemento pro
dutivo essencial â economia.
o
EstadoPl~rt~jador, al~m de orientar as atividades econ5micas dopr6prio Estado, planeja e orienta a atividade econ5mica privada. Os
(19) - O·Connor, J., op. cit., p. 19.
· 11 .
objetivos almejados sao, geralmente: aum~ntara poupança, dirigir a
acumulação de capitais, estimular as axportações, combater a
infla-ção e reduzir as importações (211.
O Esta~oP~dd~tor assume a atividade de fornecer bens e serviços.
essenciais
â
economia, atrav~s de empresas sob seu controle. A baseideo16gica de tal atividade ~ o nacionalismo; são suas principais
caracterfsticas: intensidade de capitais e prazos longos de
matura-ção. A l6gica que permeia a intervenção estatal prende-se
â
ne ce s sidade de: assumir atividades essenciais
â
economia, assumir os servi.ços pfiblicos monopolistas, preencher ãreas deixadas vazias pelo
se-tor privado, assumir âre as de, segurança e serviços de interesse p
ii-b lic o . (22).
Esta dicotomia entre .Es ta do Planejador e Estado Produtor ta mb àm foi
abordada, embora de modo diverso, por Dain (23). A linha de
preocu-pação da autora e enfatizar a divers1~ade de comportamento do
Esta-do e lias vãr t a s manifestações da contradição que nos impacta como
problema central: a dicotomia entre empresa estatal como unidade ~r~
dutiva, eventual subsistema do poder,e como instrumento da politica
econômica". "Dentro dessa perspectiva se analisam os conflitos
en-tre autonomia.e centralização das de~isões nas empresas estatais,ra
" "
cionalidade publica ou privada, e o uso da ação produtiv~ estataf
na estrategiade competição indu~trial, como manifestações de uma
mesma problemãtica~ que apenas ganha ~nfases distintas e confere a
atuação das empresas um grau de ambigUidade maior ou menor segundo
os setores observados 11 (24).
d) Leg i ti mação dai ntervençãodo Estadonodorriinioec"on'Ôm'ico
Para melhor analisarmos a caracteristica da intervenção na economia
dos Estados modernos,remontemos ao Estado Liberal que emergiu da
Revolução Francesa,
â
guisa de figura d~ contraste.Rememore-se que o Estado Liberal dissociava mitidamente a atividade
econômica da atividade politica, deixando a primeira para ser
regu-lada pela limão invisivel" das forças próprias do mercado. Como prin
cipal representante do pensamento econômico da epoca, Adam Smith as
sim doutrinava: lide acordo com o sistema de liberdade natural, o sQ.
berano (representando o Estado) tem somente tr âs deveres a cumprir ...
(21) - Bre s se r Pe r e ira, op. c i t., Pg . 153 a 158 .
(22) - Idem, p , 159a 166.
(23) - Dain, Sulamis, Empresa Estatal e Politica Econômica no Brasil
em Martins, C. L, "Estado e Capitalismo no Brasil, Huc i te c,
1977.
. 12 .
Primeiro,' o dever de proteger a sociedade da viol~ncia e da invasão
pOr outra~ ~ociedades independentes; segundo, o dever de proteger"
na medida do posslvel, cada membro da sociedade rla injustiça e da
opressão de qualquer outro membro ... ; terceiro, o dever de erigir e
manter certas obras publicas e certas instituições publicas'q'u'e'n'u'!J
, ,
ca serad'ointeressede 'quaTqUe'r'TndivTduo,de um pequeno numero de
indivlduos erigir - e manter, porque a lucro jamais reembolsari,a as
,
despesas para qualquer individtio, embora possa proporcionar mais
do 'que o reembolso a uma sociedade maior" (25) (J: nosso a g~ifo).
o
Estado Liberal, desta forma, permitia, um minimo de intervenção,, efixava o papel do Estado como regulador e inibidor de abusos
econE-micos e sociais atrav~s de poderes de legislar e policiar o pals.
Cam o fortalecimento do capitalismo monopolista que caracteriza o
~~s-guerra, nova e contrastante ~ a ft~ura do Estado. Diante das
s~as fu~ç5es basicas de acumulação e leg{ti~ação,, ~ o crescimento, do
setor estatal funciona como base do cres~imento do setor
monopnlis-ta eda produção total. Inversamente,t~mb~m ~ verdade que o cre~ci
,
mento do gasto estatal dos programas do Estado ~ o resultado do
crescimento das í nd iistria s monopolistas (26). Para OIConnor, o
cres-cimento do Estado tanto ~ causa, quanto efeito da expansão do
capj-tal monopolista. Outra tese do autor ~ a de que a acumulação de
ca-pital social e a acumulação das despesas sociais que objetivam
man-ter a harmonia. . social são um processo contradit5rio que c~ia. tend~n
-cias para as crises econômicas, sociais e po lItí c as (27). Sendoa~
sim, o Estado, no mundo atual, pode ser o r-es p o n sàve l tanto pel a
definição e implementação dos fatores que permitem o
desenvolvimen-to a partir de novo ciclo ec6nômico, como tamb~m ~ o responsavel por
engendrar ele pr5prio as causas que levam a economia
i
crise e aodeclinio do ciclo.
Diante de pap~is tão dlspares como estes, desempenhados pelo
Esta-do ao longo de uma evolução hist5rica, cumpre-nos examinar, agora ~
o que entendemos por intervenção do Estado no dominio econômico. Pa
ra tanto, focalizemos sua evolução no Brasil e conceituemo-lo como
atualmente se apresenta em nosso Pais, principal foco de interesse
deste trabalho.
(~5) - Smith, A., lhe Nature and Causes of the Wealth of Nations,
New Library, N.V., 1934.
(26) - OIConnor, J., op. cit . , p. 2l.
.. 13 .
Por ponto de refer~ncia, analisemos a açao da intervenção do Estado
.brasileiro a partir de documentos que ~âo a pr6pria eS$~ncia da
le-gitimação do poder deste Estado exercendo sua função de acumulador:
as Constituições do Brasil Republicano. Delas,extrairemos o concei
to de intervenção que procuraremos explicitar. (28)
Ao longo dahist5ria, o Estado brasileiro passou por ciclos de acen
tuado liberalismo econ5mico, como na vig~ncia da Constituição de
1891, com a Emenda de 1926, um pouco mitigado, na Ca~ta de 1934,por
id~ias nacionalistas, mas ainda sob a influ~ncia dos principios
li-bera is .
o
Estado Novo, in stituf do coma
Carta Constitucional o u tor qad a em1937, interrompe essa tendén cia, legitimando umintervencionismo p.!
ternalista,. "para suprir. . as deficiências da iniciativa individual e
coordenar os fatores da produção~ de mane~ra a evitar ou resolver
os seus conflitos e introduzir, no jogo das competições individuais,
o pensamento dos intere.ssesda Naç âo ," representados pelo Estado"
(art. 135), interesses e pensamentos devq ue o Estado autoritãrio se
fazia arauto, buscando, no aparelho repressor, sua legitimação.
Mas o t~rmino da 11 Grande. Guerra. . faz surgir, no Pais, um movimento
visando a implantar uma democracia liberal , inspirada na vitória dos
Aliados sobfe o nazi-fascismo, culminando com a deposição de Vargas
e a promulgação de uma nova Constituição, a de 1946, votada po~ uma
Assembl~ia Constituinte. Seu artigo 146 autoriza a intervenção no
dominio e conóm ic o , tendo "por base o interesse público e por limite
os direitos fundamentais" por ela assegurados, praticamente 1imita~
do tal inte~venção ã "preservação da economia de mercado, e
ã
rep~e~são a qualquer forma de abuso do poder econômico", (Art. 148)
Entretanto, as id~ias liberais não resistiram ã mudança do Governo
ocorrida, por t~rmino do mandato, em 1950, quando, ao longo dos
pe-riodos presidenciais sucessivos, notadamente o de 1955/1960, id~ias
desenvolvimentistas preponderaram. Neste momento,se inicia uma
fir-me tend~ncia ã maior intervenção do Estado na economia, quando os
irivestimentos privados começam a ser orientados via incentivos fi~
cais, uma das formas de intervenção. Perde força, então, a ideologia
nacionalista, dado que o padrão de acumulação eleito pelo Governo,
(28 )-
o
que segue foi baseado nos seguintes textos: Venâncio Filho,A., A intervenção do Estado nb Dominio Econômico no Brasil
FGV, R.J.,1968; Senado Federal, "Constituição da Re piiblt c a
Federativa do Brasil - Quadro Comparativo", BrasÍlia, 1970 ;.
Gonçalves Fe r r e ir a , M., Comêntar;os·ã Constituição, de 1967
14
baseado em bens durãvei s , era dom; nado por c apitais i nternaci onai s .
Ou seja, a necessidade de desenvolvimento acelerado de
um
pais p~~if~rico nio ~ mais realizada sob a ~gide do liberalismo econ6~ico ,
o que ~ atestado pela Constituiçio de 67,.a primeira ap6s a
Revolu-ção de 64, que acolhe a ideologia intervencionista, ao estatuir,por
exemplo, no artigo 157, § 89, a intervenção no domínio econômico
"quando indispensãve1 por motivos de segurança nacional, ou para
organizar setor que não possa ser desenvolvido comefici;ncia nore
gime de competição e de liberdade de iniciativa, assegurados os
di-reitos e garantias individuais",
-Este texto e repetido na vigente Constituição de 1969, em seu
arti-go 163.
E se retoma a intervenção, nao de forma tão acentuada quanto a de
1937, no texto da Constituição de 1967 (art. 163) repetido, lIipsis
•
verbis", no artigo 170 da de 1969:
"As empresas. privadas. compete, preferencialmente, com
·oes·ti-muloeo apoiado Estado, organizar e explorar as atividades
e co nô m ic a s11. (N6 s g r i f amos)
E abrigando·a "te o rta dos espaços vazios", o artigo 170, no seu
pa-rãgrafo primeiro, da Constituição de 1969, estabelece: (deixa-se de
citar a de 1967 porque quase id~ntica a redação de seu artigo 163 ,
§ 19.
••§ 1Cf
Estado
Apenasemcarãtersu·pleme·ntar da i ni ci ati va pri vada o
or~anizarâ e e~plorarâ diretamente a atividade
econô-(Nós gri famos) . mica",
Nesse artigo,exp1icita-se a linha de açao que o Estado vem, desde
então, adotando, nas ati vidades econômicas do País.
Assim, ~ possível afirmar-se que a recente Constituição brasileira
~ um instrumento. que legitima a intervenção. do Estado, dando~lhe ·am
plo apoio e abrindo
Os
caminhos por onde a ação estatal concretizaa sua função de acumulação.
Neste ponto, cabe conceituar a intervenção como instrumento
políti-co do Estado.
Intervir na ordem econômica nãoemeramente o Estado exercer uma
ati-vidade produtiva direta ou indiretamente. Isto seria simples e stati
. .
reorien-· 15 '.
tar a poupança, induzir, coercitiva ou subrepticiamente, atray~s de
incentivos fiscais e subsidios, os investimentos privados, fixando
diretrizes e os limites de atuação do capital privado e do estatal .
Interv~m o Estado na economia quando estabelece politica de desén
-volvimento econ5mico e fixa est~at~gias para sua consecussão, nelas
determinando o papel da empresa privada (nacional e s ub sidí âria de
e s t r a n 9 e i r a ) 11Vis .•
ã -
v is11 a e s ta tal .Nio resta dfivida de que se vem alargando a amplitude dessa interVen
ção e, pois, o imbito de compet~ncia do Estado, dada
aimpossibili-dadede se compatibilizar a necessidade de se vencer o s ub de s e nvo l+
vimento deixando-se as atividades econ5micas por serem orientadas
meramente pelas "leis do mercado".
Se incumbe, ao Estado, manter a integridade e a unidade territorial,
preservar sua soberania, promover a justiça social, zelar pela segu
rança interna e pela ordem publica, pr.omover o desenvolvimento
eco-nEmico e social, então deve o Estado ~star autorizado a se utilizar
de meios acordados pela sociedade civil como legftimris para
cum-prir suas finalidades.
Na esfera econ5mica e social~ em particular, estes objetivos filtimos
do Estado são colimados atrav~s do exercfcio das funç~es de acumula
ção e legitimação. E se e sua a função de acumulação, a intervenção
e, sem d~vida, o meio adequado para assegurâ-la e fortalece-la.
e) Brev~ visio da Intervenção do EstadonaEcono~i'a Hfa'sil~fra
Não ~ nosso objetivo revermos aqui o jã bem explorado tema do papel
do Estado na economia brasileira ao longo da sua evolução hist5rica.
principalmente a partir da d~cada dos 30. A literatu,ra sobre o
,as-sunto ~ exten~a (29). Cabeno-nos contudo sintetizar as principais
caracterfsticas dessa intervenção para queo papel do Estado, no p~
rio d o de enfoque deste trabalho (1974-1978), possa melhor ser
com-preendi do.
(29) Citam-se aqui apenas alguns dos trabalhos que fora~ consult!
dos para a pesquisa:
- Martins, C. Estevam, Estado e Capitalismo no Brasil, Hucitec,
1977, principalmente os artigos de Abranches, H., Empresa es
tatal e 'capitalismo: uma anãlise comparada; Olivera, F. ~
Mazzucchelli, F., Padr~es de acumulaçãb, 01igop61ios e o Es~
tado no Brasil; Dain, 'S., Empresa estatal e p o litic a econômi
ca no Brasil.
-- S u z i 9 a n , W., (e di to r), I n diis t ria: p o 1f t i ca ,i ns ti t uiç ~es e
des~nvolvimento, c~p1tulo IIe VIII.
- Rezende, F., Monteiro, J., Suzigan, W., Carneiro, D., Castelo
Banco, F., Aspectos 'da Participação do Governo na Economia,
IPEA/INPES, R. J., 1976.
- Ba e r , W., Kerstenetzky, 1., e Villela, A.V., As mo di f icaç óe s
n o Pa pe 1 d o Es t a do n a Ec o n om i a B r a s i1e i r a -'e m B N DE, Pa i ne is
Internacionais, APEC, R.J., 1974.
• 1 6 .
AHnhemós, em p~imeiro luqa r , as razoes que te r iam, his:toricamente,
levado o Estado a participar das atividades econômicas. De maneira
ampla,poderiamos salientar tr~s delas:
a) o Estado intervem na economia para atender às necessidades da
acumulação capitalista, seja para impedir a queda da taxa de lu
cro, seja para explorar âreas vazias não-atraentes ao capital
privado, uma vez que exigem longos p e rfo do s de investimento e
baixa rentabilidade.
b) o Estado intervem atendendo as pressões e aos inte~esses das ·vã
rias classes sociais que desejam um programa de desenvolviment~
seja justificado pela ideologia da segurança nacional, seja
pa-ra posicionar o Pais frente ao mercado internacional.
c)o Estado intervem em função dos interesses da classe ou fração
de classe que o controla, legitimando essa intervenção na netes
sidade de tirar a economia de uma fase recessiva ou de retração
do ciclo econ5mico, o que confere poderes especiais a um grupo
de t~cnicos e burocratas.
Na evolução politica e econ5mica do Brasil, essas razões se
mescla-. .
ram, atuando de forma mais ou menos explicita ao longo dos ijltimos
cinqüenta anos.
A era pr~ - 1930 caracterizou-se por ser uma fase nao intervencionis
ta. As raras. incursões. do Estado na economia se deram em dois
pla-nos diferentes: no empresarial, etr avâs do setor de transportes, e
. .
do setor financeiro, com o Banco do Brasil, Bancos dos Estados e
Caixa Econômica Federal. O segundo plano foi o da administração da
politica econômica, atrav~s da regulamentação das atividades cafeei
ras e do mercado cambial. O Estado desta fase era basicamente um
agente politico do sistema capitalista agrãrio-mercantil.
A fas~ de 1930 a ~4 corresponde, economicamente, ao processo de
in-dustrialização do Pais atrav~s da substituição de importações e, po
. .
liticamente,
ã
fase populista. O Estado torna-se o instrumento docapitalismo industrial nascente, exercendo ainda o papel de media _
dor do pacto social então estabelecido entre a velha classe
agrãrio-mercantil, a nova classe de empresãrios. . industriais, as classe me~
dias urbanas e as novas classes operãrias. Nesta fase, o Estado deixa
explicita a razão de sua participação como ponto de apoio do proces
$0 de acumulação capitalista, atravis de medidas que permitiram a
transferência de renda de diversos setores da economia para o setor
industrial, e o fortalecimento da demanda agregada pela politica m~
. 1 7 .
vençao tem seu contefido ideolõgico manifestado atrav~s do nacionalis
mo econômi co. O Estado, no seu papel de investi dor e orientador da
atividade econômicá e social, chama a si
a
função de atingi~ o de~senvolvimento do Pais de modo mais râpido e eficient~.
r
o periododa estatizaçio da siderurgia, mineração,barrilha, etc. Em sfntese,o
E s ta do d e s empenha , em c o n t ra s te com a fase a n te ri ar , um d u p 1o p a pe 1 :
o de agente pol1tico e o de agente econômico.
A fase põs~64 ~ caracterizada por novas modificaç~es do contexto
social e po lLt ico . O Estado desempenha um papel mais atuante ainda
na economia, comprometido como estava com a obtenção de altas taxas
de crescimento apOs um periodo de crise. Isto provocou um aumento
da participação do Estado no setor produtivo, que progressivamente
ampliou o seu poder regulamentador atrav~s de um sistema de
contro-le de de~isôes sobre a politica econômica. Foi o periodo que aprese~
tou maior . nfimero de criação.. de empresas governamentais, principalmen
.'. .
-te no setor de energia, transporte, comunicação, petroquimico, fer~"
tilizantes, dentre outros, al~m de atuar fortemente no setor finan~
ceiro e no de se~viços,como. processamento de dadoi, com~rci~.
e~te-rior e dist~ibuição de derivados de petr51eo. Esta e~pansão teve "c~
mo ideologia bâ sí ca a de dar priori dade ao crescimento econômi co ,d~
senvolvendo setores onde o capital privado não pôde atuar por impo~
sibilidade ou desinteresse.
O processo de acumulação foi viabilizado, nesta fase, pela concentra
çio de renda que permitiu a continuidade da industrialização.
O Estado deixa, então, sua função de mediador politico entre os
in-teresses das diversas classes para atuar diretamente na economia ao
lado do capital nacional e estrangeiro: torna-se associado ao sist!
ma capitalista. Tal .fato permite,conseqUentemente,que se alterem os
pap~is daqueles que dirigem o Estado, sejam civis ou militar~s, j~
que este grupo de t~cnicos e burocratas. passa a ter certa. autonomia
e condições de agir segundo interesses prõp~ios criando desta forma,
atritos com os demais membros da sociedade civil.
Em parte, ~ o conflito entre esta classe ou fração de classe de t~c
nicos e burocratas e os empresãrios de um segmento do setor indus
-trial que nos incumbe analisar.
3 - H i põ"tes e s "do Traba lho
Explicitamos, anteriormente, que o objetivo deste trabalho
e,
o deanalisar o relacionamento entre o Estado e o Setor de Bens de
Capi-" .
. 18 .
rico do Estado, de suas principais funç6es e de como este legitima
sua intervenção na economia, precisar melhor qual a meta que prete~
demos atingir.
Na verdade, o que procuramos ~ analisar a intervenção do Estado em
um especifico setor da economia: o produtor de bens de capital. Pa
ra tanto, segmentamos o Estado em Estado Planejador e Estado Produ
toro Nosso objetivo e salientar as decis6es e aç6es de cada um
de-les relacionados ao setor. Mais do que isso, pretendemos col.ocar em
evidência os pontos que revelam apoio ao desenvolvimento do setor
quando emanados de ambos os segmentos do Estado, bem como os pontos
que evidenciam os conflitos de interesse, não so de cada um desses
segmentos com relação ao setor mas, principalmente, os aspectos con
flitantes em termos de polTtic~ industrial, entre os dois segmen
-to s do Es ta do.
Para melhor precisarmos o que, em nosso trabalho, seri considerado
em um ou em outro segmento, partimos das seguintes inserções:
- no Estado Planejador, incluTmos, como sub-conjunto, o Governo (em
sentido estrito: Presidente, Ministros.e o assim chamado segundo
escalão, isto e,presidentes dos principais ~rgãos de
planejamen-to e execução das p o l
i
tic a s do Estado); orgãos e autarquias,co-mo COE, CMN, INPI, CACEX, etc.; instituições como BNDE, FINEP,
FINAME, etc.
- o Estado Produtot compreende as empresas criadas para e~ercer ati
vidade econ6mica de produção de bens e serviços, aquelas que, no
imbito deste trabalho, chamamos de estatais, administradas, em
princlpio, segundo os preceitos de rentabilidade e eficiência ca
racteristicas do setor privado.
Estatais são empresas cujo controle acionirio esti, na sua maioria
ou totalid~de, nas mãos do Estado, seja atraves de suas "holdings",
bancos de desenvolvimento, ou subsidiárias destesou bancos federais
ou estaduais. São empresas que a legislação denominou sociedades de
economia mista, distintas das empresas p~blicas e das autarquias.
são ainda importantes, para o entendimento deste trabalho, a distin
çao que faremos entre administradores e empresirios e entre empr~
sas brasileiras e estrangeiras.
Para os fins exclusivos desta anãlise, distinguiremos os
responsá-veis pela administraçâo das empresas estatais, dos dirigentes das
empresas. fornecedoras. de equipamentos. Aos primeiros, denominamos
administradores pfiblicos ou simplesmente administradores, e aos fil
· 19 .
Chamaremos brasileira a empresa sediada no Pais, constituTda segundo
as leis brasileiras, não importando a origem de quem detenha seu con
troleacionãrio. Empresa nacional ~ aquela cujo comando e controle
acionãrio pertençam, em última anãlise, a pessoas fisic a s
domicilia-das no Pais. Subsidiãria ~ uma empresa brasileira cujo controle ~ d~
tido por capitais externos, mas cuja constituição e realizada
segun-do as leis do Pais. Finalmente, empresa estrangeira ~ aquela sediada
no exterior e sob controle de capitais externos.
H ipô te s es . LeVan"tada s
Uma vez esboçado o quadro teórico que embasa a presente pesquisa, e
definidos os ribjetivos da anãlise, resta-nos enumerarmos as princi _
pais hipôteses, cuja constatação norteou todos os esforços deste tra
balho.
são hipóteses amplas,talvez controvertidas, mas que estiveram presen
tes ao longo dos dois anos que se concretizaram neste documento.
Paralelamente.
â
intenção de comprovar tais afirmativ~s, estas, ao serem examinadas, geraram respostas a uma s~rie de quest5es que1at~ ho
je~dôvidem a opinião dos especialistas e estudiosos do setor.
são elas:
Hl: Sendo consensual a constatação de que o setor de bens de capital
sob encomenda cresceu notadamente a partir de 1974, tal
cresci-mento se deveu, predominantemente, a fatores exôgenos ao setor.
H2: Estes fatores exó qen o s, que so bc e d eter-mt n a r am o crescimento do
setor de bens de capital sob encomenda,se confundem coma
inter-venção direta do Estado Planejador que o elegeu como ~rea prior!
tãria de investimento.
H 3: A s c o m p r as" das em pr es a s e s ta tais c o n s t i tu i ra m - s e no P y:..i n c ip a1 in~
trumento do Estado Planejador para desenvolver o setor
~e
bens decapital sob encomenda.
H4: As empresas estatais, interessadas no seu pr~prio desenvolvimen~
to, e pressionadas, de um lado, pelo Estado P'la nej a do r , e de
ou-tro, pelas empresas produtoras, tendem a adotar, em relação ao
setor, uma atitude tipica de conflito, eis que baseada em interes
ses opostos.
HS: Apolitica de compras adotada pelas estatais gera um processo de
· 20 .
H
6: A evolução do setor se deu basicamente mediante a intervenção de
um segmento do Estado, o Planejador, e se concretizou pela açao
de outro segmento do Estado, o ProdutDr. Essa situação gerou uma
profunda depend~ncia entre o setor e o Estado, originando um
pa-radoxal processo de cooperação, embora travestido em um aparénte
conflito.
H
7: O poder de barganha do segmento nacional deste setor produtor
existe, mas tende a diminuir, a menos que qu~ se alterem as
re-gras bãsicas do processo de aquisição.
As Questões
nentre as mais relevantes questões propostas durante a pesquisa, pro
curamoS responder is seguintes:
- Como interveio o Estado Planejador no setor? Quais os instrumentos
de apoio por ele utilizados? Como foi financiada a ampliação da
capacidade produtiva do setor?
- Qual a polltica tecnolõgica defendida pelo Estado Planejador? Como
é administrada?
- Como se comporta a estatal, se encarada como instrumento econ5mico
do Estado? Qual a sua polltica .de financiamento? Que instrumentos
sao utilizados para fortalecer o s~tor de bens de capital imp·lant~
do?
r
a estatal responsãvel pelo processo de absorção ·datecnolo-gia transferida pelos fornecedores? Qual a influincia das empresas
de engenharia no processo?
- De que forma se desenrola.o processo de compras das estat~is?Quais
as suas principaisvariâveis? Como são elaboradas as 'licita.çó-e.s?
Como são elabor~das as propostas dos fornecedores? Quem domina o
processo: ~statal ou fornecedores? Qual a estrategia tecnol~gica
adotada pelos fornecedores? Quais as estratégias de formação de
preço? Como são julgadas as propostas? Existem fatores subjetivos
no julgamento?
Ainda, existe algum poder discriminatõrio da estatal no processo?
Qual o poder de barganha da empresa nacional frente aos
concorren-tes estrangeiros?
- O processolici tatór io é eficiente? Pode ser s ubs tí tuí d o, comvan
-tag~ns: por outro processo de aquisição? Como se encontra dividido
atualmente o setor? Como deve se comportar o Estado para atingir
seus objetivos de especialização de produção e equiltbrio entre os
três grandes grupos de fornecedores: nacional, subsidiãria de es-·