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Cartas de um solitário.

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Academic year: 2017

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Cad. Nietzsche, São Paulo, v.I n.35, p. 121-123, 2014. 121 Cartas de um solitário

Cartas de um solitário

*

Miguel Mello**

Resumo: Artigo publicado em 1901, no diário A imprensa. Este texto constitui a primeira parte aqui transcrita de uma resposta ao texto de Nestor Vitor, F. Nietzsche. Miguel Mello, de maneira irônica e mesmo vi-rulenta, nega que a filosofia de Nietzsche tenha a importância que Nestor Vitor havia lhe atribuído.

Palavras-chave: Nietzsche – Nestor Vítor – sobre-homem

Santa Elysa, Fevereiro de 1901.

Professamos a arte de Taine, Rode Hemequim. À literatura bra-sileira (a incomparável literatura) consagremos a nossa carta de hoje.

Suave e boa tarefa: – falar de nossos escritores! E é necessário acrescentar: imparcialmente, o que aí não aparece todos os dias.

Quem escreve estas cartas, desconhecendo os paladinos da Arte da rua do Ouvidor, estranho a côtteries, vivendo como que

re-cluso no interior de um estado, para onde levou-o voluntariamente o seu temperamento avido de paz, pode, pois com perfeita impar-cialidade, fazer justa critica dos laureados poetas.

Além disso, dá-nos a redação d’A Impressa, que generosamente

nos franqueia as suas colunas, uma absoluta liberdade.

* Publicado no diário A Imprensa. Rio de Janeiro, ano III, N. 876, 26, de Fevereiro, 1901, p. 9.

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Cad. Nietzsche, São Paulo, v.I n.35, p. 121-123, 2014.

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Mello, M.

Um artigo recentemente publicado em um jornal daí motivou este nosso desculpável prurido de critica.

Nesse artigo um jovem literato, que tem recebido os mais ani-madores elogios, pretendeu definir a obra de Nietzsche.

Chama-se Nestor Vítor, o emérito poeta e não menos conspícuo prosador a que nos referimos.

Artigo e autor, ambos infinitos e magníficos.

Ah! – que tristeza profunda neste momento aperta a nossa mão calorosa e forte, a delicada mão que coisas tão belas escreveu! E nós retirados nestes sertões, sem vermos em plena rua do Ouvidor com toda a nobreza, que de certo tem a face contemplativa do es-critor extraordinário!

Que delicias aqui perdemos!

Se paga aí uma quantia exagerada para assistir nos teatros im-provisados em barracões comedias, que tudo fazem, mas que não conseguem fazer ri, (apresentadas por companhias cosmopolitas, onde cada ator estropia o português conforme a língua natal), en-tretanto, com um simples número de jornal, aonde venha artigo do carioca Nestor Vítor, um humilde mortal, pelo preço agradável de um tostão, delicia-se intimamente em gozos supernaturais!

Senão, vejamos.

No artigo sobescrito pelo insigne cavaleiro das letras pela pri-meira vez aparece a tão esperada explicação da obra original de Nietzsche.

O que é que pensas, ó homem sôfregos de imagens ainda não vistas?

Nietzsche, com os seus sonhos apolínios ou dionisíacos, vós o julgais um criador alucinado de ilusões, produto de decadência?

Nietzsche vos aparece como um arauto do futuro, pregando a nova fé, nas suas novas taboas dos valores?

Ou pensas simplesmente que ele seja um frondeur,

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Cad. Nietzsche, São Paulo, v.I n.35, p. 121-123, 2014. 123 Cartas de um solitário

Nada disso! Nunca mais aparecerão duvidas sobre a interpre-tação verdadeira que se deva dar à filosofia do criador alemão.

Nestor Vítor, servido por uma inteligência sagaz, para cujo po-der de observação não existe trevas nem opacidades, definiu numa simples frase toda a filosofia de Nietzsche, o estranho filósofo ful-minado pela loucura, que assim expirou o arrojo extraordinário da sua concepção do homem do futuro: o sobre-homem.

Nestor Vítor, elogiando e explicando, descobriu que o celebre filósofo, cuja obra hoje impressiona o mundo inteiro, é simples-mente um “olho rubro e sem pálpebras!”.

É enorme! É colossal! É fantástico!

Nietzsche, um olho rubro e sem pálpebras! Inda notem bem que isso foi escrito como um elogio suficiente!

Mas isso é a coisa melhor que já um jornal publicou desde que Gutemberg descobriu a imprensa!

Seja constante, Nestor Vítor, e avante! O teu nome subirá ilu-minadamente ao pósteros Avante! Continua a tua propaganda, ó Sacerdote supremo da Pilhéria!

Já diante dos teus loiros os calomelanos desengorgitantes em-palidecem, sabedores da próxima e inevitável derrota.

Na há, para o fígado, o que se compare aos teus artigos sobre Nietzsche.

Abstract: Article published in 1901 in the diary . This text is the first part that is here reproduced of an answer to the text of Nestor Vitor, . In an ironic and virulent way, Miguel Mello denies that Nietzsche’s philosophy has the importance attached to him by Nestor Vitor.

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