CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA PARCIAL DAS SEMENTES DE
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Lecythis pisonis
Camb. (SAPUCAIA).
Maria Isabel VALLILO1
, Mario TAVARES2
; Sabria Aued PIMENTEL2
; Elza Schware Gastaldo BADOLATO2
, Emiko Ikejiri INOMATA2
.
RESUMO
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
— Estudouse a composição química de amêndoas do fruto da sapucaia (zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Lecythis pisonis Camb), provenientes da Estação Experimental de Santa Rita do Passa Quatro (SP), do Instituto Florestal de SãoPaulo. As análises químicas foram realizadas segundo as "Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (1985). Os resultados obtidos mostraram altos teores lipídicos (63,5 g/100g), protéicos (19,9 g/l00g), vitamina C (17,1 mg/100g) e valor calórico de 684 Kcal/100g. A fração oleosa apresentou um perfil de ácido graxos e índice de iodo (113,5), equivalente ao do óleo de milho comestível, destacandose o ácido linoléico (48,6 % p/p) considerado como ácido graxo essencial e participante nos processos de inibição de germinação de sementes. O perfil de ácidos graxos do óleo das amêndoas de sapucaia, os teores de lipídios e de proteína foram semelhantes aos das amêndoas de castanhasdoPará (Bertholletia excelsa), espécie da mesma família da sapucaia, cultivada na Amazônia. Para a determinação dos nutrientes, as amostras foram tratadas por via úmida (H2SO4 e H2O2), através da radiação de microondas por sistema aberto de digestão e quantificadas
por Espectrometria de Emissão Atômica com Plasma de Argônio Induzido (ICPAES). A espécie revelou teores elevados para Na (49,8 mg/g); K (46,4 mg/g); B (64,5 mg/g); Mn (91,0 ųg/g); Fe (14,2 ųg/g) e Al (4,91 ųg/g). Entretanto, o nível de Pb encontrado (0,96 ųg/g), está acima do limite máximo permitido pela legislação brasileira (0,5 ųg/g), evidenciando uma possível toxicidade da amostra e contaminação antrópica do local amostrado.
Palavras-chave: composição química; ácidos graxos; metais pesados.
Partial Chemical Characterization of Lecythis pisonis Camb. (Sapucaia).
ABSTRACT — The chemical composition of sapuacia (Lecythis pisonis Camb.) from the Santa Rita
Experiment Station, São Paulo Forest Institute, Passa Quatro, São Paulo, Brazil, was studied. Proximate chemical analytical methodology followed the 'analytical methods of the Adolfo Lutz Institute, 1985;' samples were digested with H2S O4 and H2O2foracid in a microwave and minerals determined by ICPAES. Fats represented 63.5% and proteins 19.9% fresh weight, explaining the high
energy content of 684 kcal; 17.1 mg/100 g of vitamin C were also observed. The fatty acid profile
and iodine value (113.5) were similar to those of corn (Zea mays) oil. Linoleic acid was predominant (48.6%); this is an essential fatty acid and has a role in loss of seed viability. Sapucaia's fatty acid profile, oil and protein contents were similar to those of Brazil nut (Bertholletia excelsa), a
cultivated species of the same family. The seeds contained high concentrations of Na (49.8 mg/g),
K (46.5 mg/g), B (64.5 mg/g), Mn (19.0 ųg/g), Fe (14.2 ųg/g) and Al (4.91 ųg/g). The high concentration of Pb (0.96 ųg/g), above the legal Brazilian limit (0.5 ųg/g), suggests sample toxicity and anthropogenic contamination of the plantation site.
Key words: chemical composition, fatty acids, heavy metals.
1
Instituto Florestal, Divisão de Dasonomia, Seção de Madeiras e Produtos Florestais, Rua do Horto, 9 3 1 , CEP 02377000 São Paulo, SP.
2
Instituto Adolfo Lutz, Divisão de Bromatologia e Química, Seção de Óleos, Gorduras e Condimentos, Av. Dr. Arnaldo, 355, CEP 01246902 São Paulo, SP.
INTRODUÇÃO
F r u t o s e s e m e n t e s d e a l g u m a s espécies florestais brasileiras revelaram se, através d e estudos, boas fontes de
coletado na região de C a m p o Grande, capital d o Estado d e M a t o Grosso d o
Sul ( H i a n ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et ai, 1992). E n t r e t a n t o ,
m u i t o s o u t r o s frutos d i s p o n í v e i s n o t e r r i t ó r i o b r a s i l e i r o , n e c e s s i t a m ser pesquisados quanto à sua composição química, a fim d e que o s dados obtidos possam contribuir para a elaboração de tabelas de composição de alimentos e, na prática, para enriquecer a dieta da p o p u l a ç ã o , particularmente a de maior c a r ê n c i a n u t r i c i o n a l , b e m c o m o , estabelecer procedimentos de estocagem ou armazenamento, visando manter a sua viabilidade ou o seu poder de germinação.
D a d o s da literatura m o s t r a m que s e m e n t e s c o m a l t o s t e o r e s d e lipídios apresentam c o m o t e m p o , perda da sua viabilidade. Este fato é c o m p r o v a d o p o r K a l o y e r a s etal. (1958), c o m s e m e n t e s d e Pinus, d e m o n s t r a n d o q u e e x i s t e u m a r e l a ç ã o entre o d e s e n v o l v i m e n t o da r a n c i d e z d o ó l e o fixo e a p e r d a do p o d e r d e g e r m i n a ç ã o . M i r o v a p u d K a l o y e r a s et al. ( 1 9 5 8 ) , atribui esse f a t o à p r e s e n ç a d e á c i d o s g r a x o s i n s a t u r a d o s , p r i n c i p a l m e n t e d o á c i d o linoléico, q u e se o x i d a n o s p r o c e s s o s bioquímicos da respiração da semente, p r o v o c a n d o r a n c i d e z d o ó l e o , q u a n d o a r m a z e n a d a s e m c o n d i ç õ e s n o r m a i s d e t e m p e r a t u r a e d e l u z n a t u r a l , r e s u l t a n d o a p e r d a do seu v i g o r germinativo. Goldman etal. (1986/1987) e Façanha & Varela (1986/1987), têm chamado atenção para o fato que o poder d e g e r m i n a ç ã o d a s s e m e n t e s é u m f e n ô m e n o t a m b é m d e p e n d e n t e d a temperatura de armazenamento.
C o m o fonte d e m a t é r i a p r i m a p a r a i n d ú s t r i a ó l e o q u í m i c a s a b e s e q u e , a t u a l m e n t e , t e m c r e s c i d o
c o n s i d e r a v e l m e n t e t a n t o a p e s q u i s a q u a n t o a p r o d u ç ã o d e frutos e s e m e n tes d e oleaginosas, representando 7 0 % d o total d e ó l e o s o b t i d o s d e f o n t e s n a t u r a i s q u e , n a s u a m a i o r i a , s ã o absorvidos pela indústria de a l i m e n t o s (Freire etal., 1996).
N e s t e c o n t e x t o , a p r e s e n t a s e a s e m e n t e d e s a p u c a i a , Lecythis pisonis C a m b , q u e é p o p u l a r m e n t e u t i l i z a d a c o m o parte comestível do fruto no in t e r i o r d o B r a s i l , p r i n c i p a l m e n t e n o s E s t a d o s d e P e r n a m b u c o até São P a u l o e n a A m a z ô n i a , s u p o n d o s e originária d a p a r t e c e n t r a l leste d e s t a r e g i ã o (Cavalcante, 1996; Mori & Prance, 1990). N o e n t a n t o , p o u c o s e s a b e s o b r e a composição química e o valor nutricional, o que motivou o presente estudo.
Dando c o n t i n u i d a d e ao t r a b a l h o j á r e a l i z a d o p o r Vallilo et al. ( 1 9 9 0 ) , c o m o u t r a e s p é c i e f l o r e s t a l , o c u m b a r ú , o p r e s e n t e t r a b a l h o teve o objetivo d e c a r a c t e r i z a r a s e m e n t e de s a p u c a i a a t r a v é s d a d e t e r m i n a ç ã o da c o m p o s i ç ã o c e n t e s i m a l , d e á c i d o s g r a x o s e d e m i c r o e m a c r o n u t r i e n t e s , v i s a n d o : a ) a p o s s í v e l u t i l i z a ç ã o d a s a p u c a i a c o m o fonte a l t e r n a t i v a para fins a l i m e n t í c i o s ou e n e r g é t i c o s e, b ) o s processos d e a r m a z e n a m e n t o , a fim d e a t e n d e r p r o g r a m a s d e p l a n t i o e
r e f l o r e s t a m e n t o s .
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MATERIAL E MÉTODOS
Descrição da espécie
o Rio de Janeiro e São Paulo, bem como a l g u n s e x e m p l a r e s t a m b é m f o r a m e n c o n t r a d o s n a A m a z ô n i a ( M o r i & P r a n c e , 1990; C a v a l c a n t e , 1996). Seus f r u t o s n a f o r m a d e c á p s u l a s , c o n h e c i d a c o m o pixídio, p o d e m atingir até 5 0 cm de diâmetro e pesar até 2 K g . ( F i g 1). F l o r e s c e e frutifica e n t r e o i n v e r n o e p r i m a v e r a n o h e m i s f é r i o S u l . A s s e m e n t e s c o n t e n d o a s a m ê n d o a s s ã o g r a n d e s e s e p r o p a g a m a t r a v é s d a d i s p e r s ã o z o o c ó r i c a , p r i n c i p a l m e n t e p o r m a c a c o s ( M o r i &
P r a n c e , 1990; A g u i a rzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et al, 1993). O s
f r u t o s q u a n d o m a d u r o s s ã o a b e r t o s e s p o n t a n e a m e n t e , l i b e r a n d o a s s e m e n t e s . A s e x s i c a t a s d e s s a e s p é c i e estão depositadas no Herbário D. Bento
Pickel, d o Instituto Florestal de São Paulo.
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Procedência
O s f r u t o s d a s a p u c a i a f o r a m colhidos da árvore em agosto de 1995, por técnicos d o Instituto Florestal, n a Estação Experimental de Santa Rita d o Passa Quatro d o Instituto Florestal de São P a u l o , localizada n o Município de m e s m o n o m e . E m s e g u i d a , f o r a m t r a n s f e r i d o s à S e ç ã o d e S i l v i c u l t u r a deste instituto, para o beneficiamento, t e s t e d e g e r m i n a ç ã o e p o s t e r i o r a r m a z e n a m e n t o e m c â m a r a f r i a (temperatura d e ± 5S
C ) . F o r a m benefi c i a d a s 6,5 K g d e s e m e n t e s .
Tratamento das amostras
A s a m ê n d o a s f o r a m r e t i r a d a s m a n u a l m e n t e d a s s e m e n t e s (1 k g ) , c o m o a u x í l i o d e m o r s a e e s p á t u l a s e, d i v i d i d a s e m s u b a m o s t r a s c o n t e n d o 2 0 u n i d a d e s c a d a . E m s e g u i d a , f o r a m t r i t u r a d a s e h o m o g e n e i z a d a s a t r a v é s
d e u m m u l t i p r o c e s s a d o r d o m é s t i c o para análise nos laboratórios dos Institutos Florestal e Adolfo Lutz de São Paulo.
Métodos
O teste de germinação seguiu as " R e g r a s p a r a A n á l i s e d e S e m e n tes"(Ministério da Agricultura, 1992) indicando um teor d e germinação para essas amostras de 2 6 % .
A c o m p o s i ç ã o c e n t e s i m a l ( u m i d a d e , c i n z a s , e x t r a t o e t é r e o e p r o t e í n a ) , a c o n v e r s ã o d o s á c i d o s g r a x o s e m é s t e r e s m e t í l i c o s e a d e t e r m i n a ç ã o d a s v i t a m i n a s B I , B 2 e P P f o r a m r e a l i z a d a s c o n f o r m e o s métodos descritos nas "Nonnas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz"( Instituto Adolfo L u t z , 1 9 8 5 ) , s e n d o os c a r b o i d r a t o s
c a l c u l a d o s p o r d i f e r e n ç a . F o i e m p r e g a d o o fator 6,25 para conversão d e nitrogênio e m proteína.
A análise dos ésteres metílicos dos ácidos graxos foi efetuada usandose u m cromatógrafo a gás, marca C G 500, com d e t e c t o r d e i o n i z a ç ã o d e c h a m a , acoplado a um integrador ( C G 300). Os c o m p o n e n t e s f o r a m s e p a r a d o s e m c o l u n a c a p i l a r d e s i l i c a f u n d i d a C a r b o w a x 2 0 M , d e 3 0 m e t r o s c o m d i â m e t r o i n t e r n o d e 0 , 2 5 m m e espessura d o filme de 0,25 mm. Foram observados as seguintes temperaturas de operação: injetor, 230°C; detector, 240°C; c o l u n a , p r o g r a m a d a de 100 a 230°C (10°C/min.). O gás de arraste empregado foi o hidrogênio com fluxo de 0,8 mL/min. Razão de divisão da amostra: 1:100.
amêndoa
Fig. 1C
área de c a d a pico.
O t e o r d e v i t a m i n a C f o i d e t e r m i n a d o p o r r e d u ç ã o d e í o n s
cúpricos s e g u n d o C o n t r e r a s G u z m a n zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
et al. ( 1 9 8 4 ) , e n q u a n t o q u e o v a l o r
calórico foi calculado p e l o s fatores d e A t w a t e r , o u s e j a , p r o t e í n a ( 4 , 0 ) ; c a r b o i d r a t o s ( 4 , 0 ) e e x t r a t o e t é r e o (9,0) s e g u n d o D e A n g e l i s ( 1 9 7 7 ) .
O índice de iodo da fração oleosa (extrato etéreo) foi calculado pelo método daA.O.C.S. C d lc85 (AMERICAN OIL CHEMISTS' SOCIETY, 1990).
P a r a a d e t e r m i n a ç ã o d o s m a c r o s e m i c r o n u t r i e n t e s , a s a m o s t r a s foram tratadas p o r v i a ú m i d a , n o laboratório d e E s p e c t r o m e t r i a d e E m i s s ã o A t ô m i c a , d o Instituto d e Q u í m i c a d a U S P , u t i l i z a n d o s e a r a d i a ç ã o d e m i c r o o n d a s e m s i s t e m a a b e r t o d e digestão, segundo m é t o d o indicado n o m a n u a l d o a p a r e l h o ( M A N U A L R A P I D D I G E S T I O N S Y S T E M M X 3 5 0 S P E X , 1 9 9 1 ) , s o b a s s e g u i n t e s c o n d i ç õ e s d e o p e r a ç ã o :
Ia
ETAPA: n a amostra (0,5 g) foi adicionada 10,0 ml de H2SOA cone. e 5,0 ml HJOJ a 30 % em volume. Aplicouse a potência de 60 W por 5 minutos.
2a
ETAPA: na solução obtida na Ia
etapa, adicionouse mais 5,0 ml de
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Kp2 a 3 0 % v/v, nas mesmas condições de tempoe potência anteriormente descritas; 3a
E T A P A : a d i c i o n o u s e m a i s 2,0 m l H202 n o solubilizado obtido n a 2a
e t a p a , s u b m e t e n d o a s o l u ç ã o à a q u e c i m e n t o n a p o t ê n c i a de 9 0 W p o r 5 m i n u t o s .
A solução obtida n a 3a
etapa foi transferida para balão volumétrico de 50,0 m L e, completado o volume c o m água desionizada. A solução apresentouse
límpida com coloração a m a r e l o c l a r a , com a qual quantificouse o s elementos
inorgânicos.
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Determinação dos elementos
químicos
O s e l e m e n t o s q u í m i c o s ( M g , C a , N a , K , B , A s , F e , M n , P b , S e , Al e Sn) foram c a r a c t e r i z a d o s e quantificados n a s a m o s t r a s s o l u b i l i z a d a s , p e l a t é c n i c a d a E s p e c t r o m e t r i a d e E m i s s ã o A t ô m i c a a c o p l a d a a o P l a s m a Indutivamente ( I C P A E S ) , o p e r a n d o a potência de 1,2 K w , fluxo d e argônio refrigerante, auxiliar e c a r r e g a d o r d e 12 l / m i n , 1,2 L / m i n e 1,0 m l / m i n , r e s p e c t i v a m e n t e e, a v e l o c i d a d e d e introdução da amostra de 1,5 ml/min. A leitura d o s e l e m e n t o s foi feita n a altura d e o b s e r v a ç ã o d e 12 m m a c i m a da b o b i n a d e c o b r e d o I C P A E S , n o s seguintes c o m p r i m e n t o s d e o n d a : (ks)
e m n r a :
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
? iA s = 1 8 8 , 9 7 9 ; Xc = 3 1 7 , 9 4 0 ;^ = 2 8 5 , 2 1 0 ; XF = 239,562; 1^=236,902;
^ , = 2 5 7 , 6 1 5 ; ^ = 2 8 3 , 3 0 7 ; ^ = 2 4 9 , 7 6 6 ; )^=196,020; A,S n=189,926; ^ = 5 8 9 , 9 9 5 e \ = 7 6 6 , 4 9 1 .
Todas as análises foram e f e t u a d a s em duplicatas, à exceção da c o m p o s i ç ã o e m á c i d o s g r a x o s ( c o m c i n c o r e p e t i ç õ e s ) e d o s m a c r o e m i c r o n u trientes ( e m triplicatas).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
s e m e n t e o caráter d e oleaginosa. P o r outro lado, nas a m ê n d o a s , os açúcares totalizaram apenas 8,28 % da composição total e as proteínas, 19,86 % , tornandoas muito promissoras como fonte protéica. Todos esses valores estão bem próximos d a q u e l e s a p r e s e n t a d o s e m t a b e l a d e composição de alimentos para a espécie
Tabela 1. Composição química e valor calórico das
amêndoas de
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Lecythis pisonis Camb. (sapucaia). Composição Teores Ret."g/1 OOg g/1 OOg Umidade 4,92
Cinzas 3,91
Extrato etéreo 63,03 62,60 Proteínas 19,86 22,20 Carboidratos* 8,28 10,20
Vitaminas mg/1 OOg B1 0,31 B2 0,27 C 17,10 PP (niacina) não encontrado Valor calórico Kcal/1 OOg
684,00 683,00 * obtidos por diferença
** Franco, G.(1992).
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Lecythis lanceolata, L.(Franco, 1992).
T a n t o o s l i p í d i o s q u a n t o a s proteínas, foram os r e s p o n s á v e i s p e l o
Tabela 2. Composição de ácidos graxos do óleo das amêndoas de Lecythis pisonis Camb. (Sapucaia). e l e v a d o t e o r c a l ó r i c o d a s e m e n t e ( 6 8 4 K c a l / 1 0 0 g ) . A s p e q u e n a s diferenças e n c o n t r a d a s , a m e n o s , n o s teores de açúcares e proteínas, q u a n d o c o m p a r a d a s c o m a s e n c o n t r a d a s n a literatura, d e v e s e p r o v a v e l m e n t e a o t e o r d e m a t u r a ç ã o d o s f r u t o s q u e c o m p u s e r a m as a m o s t r a s a n a l i s a d a s ou ao protocolo analítico utilizado na d e t e r m i n a ç ã o d o s m e s m o s .
A Tabela 2 mostra a composição em ácidos graxos das amêndoas estudadas, bem como a faixa de valores aplicada pelo Codex Alimentarius para óleo de milho comestível ( C O D E X ALIMENTARIUS COMMISSION, 1993).
O ácido linoléico ( C l 8 : 2 ) , ácido graxo essencial, predominou n o óleo da semente da sapucaia (48,6%), vindo a s e g u i r o o l é i c o ( C 1 8 : l ) . O t e o r d e p r o t e í n a e l i p í d i o s d a s e m e n t e d a s a p u c a i a e a c o m p o s i ç ã o d e á c i d o s g r a x o s d o ó l e o d a a m ê n d o a , foram s e m e l h a n t e s aos e n c o n t r a d o s p a r a a castanhadoPará (Bertholletia excelsa), espécie da m e s m a família da sapucaia
Ácido graxos
Amostras N° Rei* 1 2 3 4 5 média
C16:0 12,6 13,2 12,9 12,5 12,2 12,7 9,0 14,0 C16:1 0,3 0,2 0,3 0,2 0,3 0,3 <0,5 C18.0 4,8 5,4 5,0 5,2 4,8 5,1 0,5 4,0 C18:1 32,9 32,2 33,0 34,0 33,0 33,0 24,042,0 C18:2 49,1 48,2 48,6 47,7 49,3 48,6 34,062,0 C18:3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 <2,0
Total AGS 17,4 19,0 17,91 17,7 17,0 17,7
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Total AGI 82,6 81,0 82,1 82,3 83,0 82,1 índice de iodo
calculado 114,4 112,3 113,5 112,9 114,7 113,5 103128 Cl6:0ácido palmítico; Cl6:1ácido palmitoléico; C18:0ácido esteárico; C18:1ácido oléico;
C18:2ácido linoléico; C18:3ácido linolênico
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
* - Codex Alimentarius (faixa de valores aplicada para o óleo de milho comestível).
cultivada na Amazônia. (Franco, 1992;
GuitierezzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA et, ai, 1997; Nery, 1969 ).
A fração oleosa e o índice de iodo calculado (113,5) revelaram um perfil de ácidos graxos semelhantes, t a m b é m , ao do óleo d e m i l h o c o m e s t í v e l ( T a b . 2 ) , e x c e t u a n d o s e o c a s o d o á c i d o esteárico ( C l 8 : 0 ) , q u e foi superior ao limite m á x i m o a p l i c a d o p e l o Codex
Alimentarius. D a d o s d a l i t e r a t u r a
( K a l o y e r a s , 1958), m o s t r a m o p a p e l i m p o r t a n t e d o á c i d o l i n o l é i c o n a perda da viabilidade das sementes, u m a vez q u e a alta insaturação favorece a oxidação lipídica. Acreditavase que n o caso da sapucaia, a casca dura e escura que envolve as a m ê n d o a s , amenizaria esse processo. N o entanto, o teste de germinação realizado no laboratório de sementes d o Instituto Florestal de São P a u l o n ã o c o n f i r m o u e s t a h i p ó t e s e , r e v e l a n d o u m a p e r c e n t a g e m d e germinação de 2 6 % , considerada baixa, e e v i d e n c i a n d o o p o u c o p o d e r d e g e r m i n a ç ã o e a p o u c a influência da d u r e z a da casca n e s s e p r o c e s s o . E s t e fato sinaliza que novos estudos deverão s e r c o n d u z i d o s p a r a u m m e l h o r esclarecimento desse comportamento.
D o p o n t o d e vista vitamínico, a vitamina C (17,10 mg/1 OOg) apresentou índice e l e v a d o q u a n d o c o m p a r a d o a o da c a s t a n h a d o pará ( 1 0 , 3 m g / 1 OOg), c i t a d o por F r a n c o ( 1 9 9 2 ) . Q u a n t o à v i t a m i n a B I , o s valores e n c o n t r a d o s p a r a a s a p u c a i a foram inferiores a o s referidos para a castanhado Pará (0,31 e 1,09 m g / l OOg, r e s p e c t i v a m e n t e ) , e n q u a n t o p a r a a V i t a m i n a B 2 foram superiores, ou seja : 0,25 e 0,12 m g / lOOg, respectivamente (Franco, 1992).
Complementarmente, determinou
se os minerais presentes nas a m ê n d o a s ( T a b . 3 ) , d e s t a c a n d o s e e n t r e o s macronutrientes, os elevados teores de N a , K e B (faixa de 45,0 a 65,0 mg/g) e para o s micronutrientes, o s e l e m e n t o s F e (14,2 ug/g) e M n ( 9 1 , 0 u g / g ) . D o ponto de vista fisiológico, a deficiência dos alimentos Na e K e dos catalisadores Fe e M n , n o s p r o c e s s o s b i o q u í m i c o s ( D e Angelis, 1977), comprometem as funções metabólicas nos organismos vivos.
Tabela 3. Composição dos elementos inorgânicos presentes nas amêndoas de sapucaia.
Elementos Teores* (mg/g) Mg 1,55±0,11 Ca 1,11±0,15 Na 49,8±0,33 K 46,4±0,21 B 64,5±0,25 (/<g/g) As 0,28±0,16 Fe 14,2±0,21 Mn 91,0±0,36 Pb 0,96±0,25 Se 0,28±0,12 Ai 4,91±0,13 Sn 0,13±0,06 * média de três repetições e respectivos desvios padrões
pode estar distribuído no meio ambiente, em diversas formas como por exemplo: Pb metálico, sais e íons de Pb e compostos organometálicos. N o entanto, ele não é facilmente extraído do solo pela planta e, sua ocorrência é freqüentemente devido à poluição do ar, contaminando a superfície das plantas. O P b não apresenta u m a função essencial ao metabolismo animal, mas tem efeitos adversos, incluindo u m a neurotoxicidade à níveis de exposição do ar de poucos microgramas (ug) e, na faixa d e 15 100 ug q u a n d o presente n o s alimentos.
E m b o r a este fato c o m p r o m e t a o aproveitamento dessas sementes c o m o fonte alimentar, esta i n f o r m a ç ã o n ã o invalida o seu v a l o r nutricional, visto q u e p o d e se t r a t a d e u m p r o b l e m a localizado de poluição química, podendo não acontecer em outras regiões do Brasil, aonde essa espécie ocorre.
Com relação à presença do Al, não há relatos de u m a função essencial deste mineral nos organismos vivos. N o entanto, sabese que os compostos de Al são pouco absorvidos pelas plantas através do solo, mas esta absorção pode ser aumentada através d o aumento da acidez do solo causada pela chuva ácida. Além disso, e x i s t e u m a r e l a ç ã o a i n d a n ã o b e m estabelecida, entre o Al e a doença de
Alzheimer no homem.
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CONCLUSÕES
A s amêndoas dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Lecythis pisonis
C a m b . ( s a p u c a i a ) a p r e s e n t a r a m altos t e o r e s l i p í d i c o s e p r o t é i c o s , o q u e poderia constituirse e m uma boa fonte calórica para a dieta alimentar de u m a população com baixo teor nutricional;
O s teores lipídicos, proteícos da
s e m e n t e de sapucaia e a c o m p o s i ç ã o d o s á c i d o s g r a x o s d o ó l e o d a s a m ê n d o a s f o r a m s e m e l h a n t e s a o s r e f e r i d o s p a r a a c a s t a n h a d o P a r á
(Bertholletia excelsa).
A fração o l e o s a d a s a m ê n d o a s
r e v e l o u u m perfil d e á c i d o s g r a x o s s e m e l h a n t e , t a m b é m , ao d o ó l e o d e milho comestível, c o m p r e d o m i n â n c i a p a r a o á c i d o l i n o l é i c o , á c i d o g r a x o essencial para a a l i m e n t a ç ã o ;
O e l e v a d o t e o r l i p í d i c o e a i n s a t u r a ç ã o d o ó l e o d a a m ê n d o a da sapucaia, favorece a possível utilização na indústria de óleos comestíveis;
O alto grau d e i n s a t u r a ç ã o d o s ácidos graxos p o d e conferir ao óleo da s a p u c a i a , u m a alta s u s c e t i b i l i d a d e a p r o c e s s o s o x i d a t i v o s ;
As amêndoas da espécie estudada a p r e s e n t a r a m a i n d a , u m alto t e o r d e vitamina C, quando comparadas com as da castanhadoPará e,
O s elevados teores de P b eviden c i a m u m a p o s s í v e l t o x i c i d a d e d a a m o s t r a p a r a fins a l i m e n t í c i o s e u m a p r o v á v e l c o n t a m i n a ç ã o a n t r ó p i c a d o local a m o s t r a d o , s u g e r i n d o a i n d a q u e n o v o s e s t u d o s d e v e m ser r e a l i z a d o s c o m a m o s t r a s p r o v e n i e n t e s d e o u t r a s r e g i õ e s d o Brasil.
A G R A D E C I M E N T O S
Agradecemos a valiosa colabora ção dos Srs:
Norberto Camilo Campos, bolsista do Instituto Adolfo Lutz, n a Seção de Óleos, Gorduras e Condimentos;
Everaldo de Cerqueira, técnico de laboratório da Seção de Química Biológica do Instituto.Adolfo Lutz;^
Seção de Fotomicrografia do Instituto
Adolfo Lutz;
Benedito Lopes da Silva, técnico de
Apoio à Pesquisa Cientifica e Tecnológica
da Seção de Silvicultura do Instituto
Florestal de São Paulo;
À Seção de Silvicultura do Instituto
Florestal de São Paulo, pela doação dos
frutos para estudo;
Ao Dr Rui Feifer, Pesquisador
Cientifico do Instituto Florestal, pela
correção e sugestões na elaboração do
texto, e
Ao Sr. S i l v e s t r e S i l v a p e l a
a u t o r i z a ç ã o da r e p r o d u ç ã o de
fotografias de sua propriedade. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
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Aceito p a r a publicação em 18.03.98