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(1)1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA MESTRADO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE. MARIA INEZ OCANÃ DE LUCA. DISLEXIA E ATENÇÃO. São Bernardo do Campo 2009.

(2) 2. MARIA INEZ OCANÃ DE LUCA Matrícula 75017. DISLEXIA E ATENÇÃO. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Renato Teodoro Ramos.. São Bernardo do Campo 2009.

(3) 3. FICHA CATALOGRÁFICA. De Luca, Maria Inez Ocanã Dislexia e Atenção. Maria Inez Ocanã De Luca – São Bernardo do Campo: UMESP. 2009 Dissertação de Mestrado em Psicologia da Saúde – Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, 2009. Palavras-Chave: Dislexia, Atenção e Psicofisiologia..

(4) 4.

(5) 5. MARIA INEZ OCANÃ DE LUCA. DISLEXIA E ATENÇÃO Dissertação apresentada à Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Psicologia da Saúde.. Data da defesa: __/__/__ Resultado: ________________________________________________ Banca: Prof. Dr. Renato Teodoro Ramos_______________________________ Universidade Metodista de São Paulo - UMESP Prof. Dr. Luis Fernando Hindi Basile_____________________________ Universidade Metodista de São Paulo - UMESP Prof. Dr. Ronald D. Ranvaud___________________________________ Universidade de São Paulo - USP.

(6) 6. Dedico este trabalho à minha Mãe Lourdes, que não conseguiu ver este trabalho concluído..

(7) 7. AGRADECIMENTOS. Para iniciar agradeço ao Sr. Adhemar do Instituto Biomédico nº 1 da Universidade de São Paulo – USP pelo equipamento Chin rest. Ao Prof. Dr. Ranvaud também pelo empréstimo do equipamento Chin rest, orientação e participação da banca. Ao Prof. Dr. Canto-Pereira por ter cedido o protocolo e por toda orientação teórica e técnica. Ao Prof. Dr. Basile por orientação e participação da banca. Ao meu orientador Prof. Dr. Renato pela idéia inicial do trabalho, orientação, paciência, interesse e experiência. Ao meu marido Valter pelo auxílio na parte técnica (informática). Aos meus filhos André e Rafael por entenderem a minha ausência em momentos importantes e me incentivarem. Aos voluntários (Disléxicos e Controles) que participaram com muita boa vontade do experimento. À ABD – Associação Brasileira de Dislexia, pela cessão do espaço, equipamento de informática, pelo acesso aos protocolos e também pelo apoio. Ainda dentro da ABD quero agradecer ao pessoal da recepção que me auxiliou na receptiva aos voluntários; às profissionais que cederam sua sala de trabalho para o estudo e a todos os profissionais que me ajudaram com alternativas quando surgiram as dificuldades. Aos meus colegas e professores do Mestrado que me incentivaram. À secretaria da pós pela orientação e apoio. E por último e mais importante, a Deus que me favoreceu com saúde e me fez chegar às soluções necessárias em momentos difíceis..

(8) 8. “Você não pode provar uma definição. O que você pode fazer é mostrar que ela faz sentido.” Albert Einstein.

(9) 9. RESUMO Dislexia é uma condição neurológica associada a deficiências na aquisição e processamento da linguagem. Variando em graus de gravidade, que se manifesta por dificuldades na linguagem receptiva e expressiva, incluindo processamento fonológico, na leitura, escrita, ortografia, caligrafia, e por vezes em aritmética. Dislexia é uma condição hereditária associada a diversas anormalidades neurológicas em áreas corticais visuais e auditivas. Uma das mais influentes teorias para explicar os sintomas disléxicos é a chamada hipótese magnocelular. Segundo esta hipótese, a dislexia resulta de processamento de informações visuais anormais, devido principalmente a disfunção no sistema magnocelular. Esta dissertação explora esta hipótese comparando quinze indivíduos com dislexia e quinze controles, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos através de dois testes visuais de atenção. Ambos os experimentos avaliam tempo de reação a estímulos que apareciam em toda tela do computador, enquanto os indivíduos permaneciam instalados, com a cabeça apoiada por um chin rest e com os olhos fixos em um alvo central. O experimento I consistiu de estímulos (pequenos círculos) brancos apresentados em um fundo preto. No experimento II, a mesma metodologia foi utilizada, mas agora com os estímulos (pequenos círculos) verdes sobre um fundo vermelho. Os resultados foram analisados levando em consideração os quadrantes onde os estímulos foram apresentados. Pacientes e controles não diferiram em relação ao tempo de reação a estímulos apresentados no campo visual inferior, em comparação ao quadrante superior de um mesmo indivíduo. Considerando todos os quadrantes, disléxicos tiveram tempo de reação mais lento no experimento I, mas apresentaram tempos de reação semelhantes aos controles no experimento II. Estes resultados são compatíveis com anormalidades no sistema magnocelular. As implicações destes achados para a fisiopatologia da dislexia, bem como para o seu tratamento devem ser mais discutidos.. Palavras-chave: Dislexia, Atenção e Psicofisiologia..

(10) 10. ABSTRACT Dyslexia is a neurological condition associated to impairments in acquisition and processing of language. Varying in degrees of severity, it is manifested by difficulties in receptive and expressive language, including phonological processing, in reading, writing, spelling, handwriting, and sometimes in arithmetic. Dyslexia is an inherited condition associated to several neurologic abnormalities in visual and auditory cortical areas. One of the most influential theories to explain dyslexic symptoms is the so called Magnocellular hypothesis. According to this, dyslexia arises from abnormal processing of visual information of movement mainly due to dysfunction in magnocellular system. This dissertation explores this hypothesis by comparing fifteen individuals with dyslexia and fifteen controls, aged between 18 and 30 years through two visual attention tests. Both experiments evaluated reaction time to stimuli appearing in entire computer screen while individuals remained sited, with head supported by a chin rest, and with the eyes fixed in a central target. The experiment 1 consisted of white punctual stimuli presented in a black background. In the experiment 2, the same target locations were used but now with target in green over a red background. The results were analyzed taking in consideration the visual quadrants were the stimuli were presented. Patients and controls did not differ in relation to a shorter reaction time to stimuli presented in inferior visual field, compared with the superior field of the same individual. Considering all quadrants, dyslexics reacted slower in experiment 1 conditions but performed similar to controls in experiment 2. These results are compatible to abnormalities in magnocelular system. The implications of these findings to the pathophysiology of dyslexia as well as its treatment are discussed.. Keywords: Dyslexia, Attention, Psychophysiology.

(11) 11. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................12 1.1 Dislexia: definição .................................................13 1.2 Histórico do conceito...................................................14 1.3 Quadro clínico.............................................................17 1.4 Alterações neurobiológicas e funcionais.....................23 1.5 Fisiologia da atenção visual........................................35 1.6 Atenção: definição .................................................39 1.7 Atenção, dislexia e leitura............................................44 1.8 Alterações na atenção visual entre disléxicos.............49 1.9 Teoria magnocelular da dislexia..................................52 1.9.1 Sistema visual magnocelular..............................52 1.9.2 Sistema magnocelular e dislexia........................54 2. MÉTODO............................................................................61 2.1 PARTICIPANTES........................................................61 2.1.1 Disléxicos...........................................................62 2.1.2 Controles............................................................63 2.2 LOCAL ........................................................................63 2.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS....................64 2.3.1 Instrumentos.......................................................64 2.3.2 Procedimentos (Exp. I e Exp. II)........................,65 3. ANÁLISE DE DADOS........................................................69 4. RESULTADOS...................................................................70 5. DISCUSSÃO.......................................................................73 6. CONCLUSÃO.....................................................................77 7. REFERÊNCIAS...................................................................78 8. ANEXO 1–Termo de consentimento livre e esclarecido.....85 9. ANEXO 2 – Anamnese........................................................86 10. LISTA DE FIGURAS ..........................................................88 11. LISTA DE TABELAS..........................................................89.

(12) 12 1. INTRODUÇÃO Dislexia é um conceito antigo que descreve a ocorrência de dificuldades de leitura, de escrita e, como conseqüência, dificuldades para a compreensão de textos. Estas dificuldades costumam levar também a problemas na adaptação social, acadêmica e laboral. Este fenômeno é bastante freqüente e, nas. últimas. décadas,. diferentes. hipóteses. envolvendo. uma. gênese. primariamente biológica para estes sintomas têm ganhado força. Entre os modelos neurobiológicos para a dislexia, postula-se que anormalidades nas vias. de. transmissão. das. informações. visuais. sejam. particularmente. importantes. Dentro. desta. perspectiva,. esta. dissertação. aborda. o. possível. envolvimento da via visual magnocelular na gênese dos sintomas da dislexia. O sistema visual é considerado como a principal via de entrada de informações para o ser humano. É na retina que a percepção se inicia e esta percepção é transmitida através do cérebro até que se dê a construção mental da informação. Estas informações são processadas por três vias principais que são: Magnocelular, Parvocelular e Koniocelular. A via magnocelular, de forma simplificada, é responsável pela percepção de movimentos rápidos, pela percepção da localização de um objeto e pela percepção de profundidade. Pela via parvocelular dá-se a percepção da cor, forma e textura. Em ambas as vias são encontradas células do tipo konio. Após uma breve revisão sobre o conceito e características clínicas da dislexia e também sobre o conceito de atenção, serão apresentados os principais mecanismos atencionais relevantes para a compreensão deste distúrbio..

(13) 13 1.1. DISLEXIA: DEFINIÇÃO Dislexia é definida como uma falha na aquisição de habilidade de leitura admitindo-se a existência de oportunidades de educação, inteligência média e ausência de anormalidades sensoriais, neurológicas ou psiquiátricas. As principais definições deste transtorno, adotadas pela Associação Internacional de Dislexia (IDA), Associação Britânica de Dislexia (BDA), Associação Européia de Dislexia (EDA) e pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD) consideram a dislexia como um distúrbio de aprendizagem de origem neurológica com importante carga genética, caracterizada por dificuldades na decodificação de processamento fonológico com prejuízo da leitura, escrita, nomeação rápida, memória de trabalho, processamento de informações e velocidade de trabalho. Este distúrbio também é descrito no DSM IV (F81.0) e no CID 10, (R.48.0), levando em conta as mesmas características e critérios já mencionados. A influência genética sobre este transtorno é especificamente admitida no DSM IV. A dislexia representa 80% de todas as dificuldades de aprendizagem (SAVIOUR; RAMACHANDRA, 2006). Saviour e Ramachandra (2006) relatam que 80% das crianças com dislexia têm outro membro da família com esta disfunção, sendo sua transmissão possivelmente autossômica dominante. A dislexia tem ganhado importância ao longo dos anos em parte devido à crescente necessidade da leitura e da escrita como meio de comunicação em diferentes contextos sociais e de trabalho. A aprendizagem da leitura e da escrita é considerada uma habilidade biologicamente sofisticada, uma vez que o indivíduo não nasce com esta.

(14) 14 habilidade e precisa desenvolvê-la. Tal processo não ocorre com a fala, onde o indivíduo precisa somente ser exposto a um ambiente onde outras pessoas falem para que também comece a dominar a linguagem. Portanto, o quanto antes forem identificadas as dificuldades nesta área melhor será o resultado do acompanhamento ou tratamento, levando a um melhor. desempenho. acadêmico,. evitando-se. conseqüências. como. o. comprometimento afetivo, cognitivo e social.. 1.2 HISTÓRICO DO CONCEITO O termo dislexia, utilizado para descrever esta dificuldade, vem do grego dis = distúrbio, dificuldade; lexia = leitura (do latim) ou linguagem (do grego). A compreensão da dislexia se inicia com estudos realizados em pacientes com lesões cerebrais comparados com outros pacientes que apresentavam dificuldades na leitura e escrita não relacionadas a lesões. Estes estudos começaram ainda no século XIX e, já naquela época, este tipo de sintoma gerava grande preocupação, pois havia uma percepção do efeito perturbador desta dificuldade para o indivíduo perante a sociedade. Em 1896, Pringle Morgan e Hinshelwood utilizaram a expressão “cegueira verbal” ao descrever as dificuldades de um paciente de 14 anos aparentemente incapaz para a leitura, porém com muita habilidade em matemática. Este termo também foi utilizado em 1676, pelo médico alemão Johann Schmidt, para explicar os sintomas apresentados por um paciente de 65 anos após ter sido acometido por um acidente vascular cerebral. A mesma expressão foi utilizada também por James Kerr em 1897. (IANHEZ; NICO, 2002).

(15) 15 James Hinshelwood publicou em 1917 um livro chamado “Cegueira Verbal Congênita” que discorria sobre adultos com problemas de leitura e escrita, neste caso, em decorrência a lesões cerebrais. Porém dificuldades semelhantes também eram encontradas em crianças sem lesões evidentes, o que levou este autor a sugerir que estes problemas poderiam ter uma origem orgânica com possível transmissão hereditária (IANHEZ; NICO, 2002). Em 1925, um estudo nos Estados Unidos para se determinar os motivos para o encaminhamento de crianças para o serviço de saúde mental, observou que dificuldades relacionadas à leitura, escrita e soletração estavam entre os mais freqüentes. Samuel T. Orton interessou-se sobremaneira por este resultado e realizou vários estudos com cérebros humanos post-mortem. Seus primeiros achados o levaram a atribuir o problema com a leitura a distúrbios de dominância cerebral (IANHEZ; NICO, 2002). A partir daí e ao longo das últimas décadas, surgiram estudos e relatos dando consistência à informação de que a dislexia tem caráter eminentemente orgânico. Os estudos sobre a dislexia a trinta anos atrás, eram direcionados principalmente às variáveis visuais e motoras. Depois disso o foco passou a ser a integração intersensorial ou, mais precisamente, a integração visuoauditiva. Em seguida o foco das investigações direcionou-se à integração espaçotemporal, com a justificativa de que as palavras escritas se organizam no espaço e as palavras faladas se organizam no tempo. Mais recentemente, as pesquisas têm se voltado para o processamento da informação verbal e atualmente estudam-se a relação entre linguagem escrita, análise dos.

(16) 16 fonemas, grafemas e as condições biológicas, como por exemplo, a hipótese do envolvimento do sistema visual magnocelular na dislexia. No entanto, deve-se lembrar que a dislexia é uma disfunção complexa que afeta diferentes aspectos da leitura. A aquisição da habilidade da leitura é coordenada por várias áreas como: visão, controle motor, pensamento abstrato e linguagem. Tal complexidade sugere que a dislexia pode ser resultado não apenas de anormalidades anatômicas, mas também de alterações no funcionamento. integrado. de. várias. áreas. do. cérebro. (SAVIOUR;. RAMACHANDRA, 2006). Como a dislexia, segundo Artigas-Pallares (2009), pode se apresentar como um conjunto de dificuldades em competências de âmbitos distintos, sua melhor conceituação poderia envolver o conceito de uma desvantagem adaptativa ante uma exigência cultural particularmente dependente deste tipo de habilidade para a leitura e escrita. O quadro clínico da dislexia, como é visto atualmente, envolve esta idéia de avaliação do impacto geral dos sintomas sobre o funcionamento psicológico e social do paciente..

(17) 17 1.3 QUADRO CLÍNICO Os sintomas que definem a dislexia são observados desde a pré-escola onde já se percebe imaturidade motora (dificuldades para desenhar, pintar e para amarrar cadarço). Observam-se dificuldades com quebra-cabeças, atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem em geral, dificuldade em aprender rimas e canções, falta de interesse por livros e impressos. Algumas vezes, a criança começa a apresentar resistência para ir à escola, relatando dores de cabeça, dor de estômago, mal estar geral e outros impedimentos. Alguns dos atrasos citados são considerados pela pediatria como estando dentro de uma faixa da normalidade e, portanto não são considerados significativos na ocasião e somente ganham peso quando surgem as dificuldades acadêmicas. Na fase escolar os sintomas se ampliam e verificam-se dificuldades na aquisição e desenvolvimento da habilidade lingüística com a apresentação de vocabulário pobre; disnomias (dificuldades para nomear), utilização de sentenças curtas, desorganização na escrita (tanto das idéias como na utilização do papel), dificuldades para memorizar seqüências (dias da semana, meses do ano, ordem alfabética e tabuada, por exemplo), dificuldades com análise e síntese do som de uma palavra, lentidão para cópia e leitura, utilização de apoio (régua ou dedo) para a realização da leitura e dificuldades com ditado. Nesta tarefa observamos trocas chamadas visuais (confunde letras parecidas visualmente como “b” e “d”; “p” e “q”; “a” e “e”) e também trocas auditivas (confunde letras com som parecido como “f” e “v”, “d” e “t”). A criança realiza ainda inversões de letras e sílabas nas palavras (“prato” por “parto”, “sílaba” por “síbala”), aglutinações ou separações inapropriadas (“com pressa” por “compressa” e “conteúdo” por “com teúdo”) e também omissões de letras.

(18) 18 (“ditado” por “diado”). Além da omissão de letras, acontece a omissão de palavras ou linhas inteiras (tanto na leitura quanto na cópia e também na escrita espontânea), observam-se ainda pobre reconhecimento de rima (palavras com a mesma terminação) e aliteração (palavras com som inicial parecido). Na escrita apresentam disgrafia (letra feia e mal organizada), dificuldades com a lateralidade (confundem direita e esquerda), para leitura de mapas, para localização de palavras em dicionários e ainda para leitura de horas em relógio de ponteiros. Sua memória de curto prazo é prejudicada com dificuldades, por exemplo, para instruções longas, para decorar listas e com os sons dos fonemas (letras). Galaburda e Cestnick (2003) relatam que, nos países de língua inglesa, os casos de dislexia são mais comuns ou mais facilmente identificáveis em função de nesta língua existir em seu vocabulário um maior número de palavras chamadas irregulares. E é de conhecimento geral que o disléxico apresenta dificuldades também para a aprendizagem de uma segunda língua, principalmente no que diz respeito à escrita. Os disléxicos são ainda descritos como desatentos (vivem no “mundo da lua”, não prestam atenção em sala de aula, não lembram os recados que devem dar). Alguns apresentam também dificuldades com a matemática. Se esta dificuldade for relacionada à compreensão dos enunciados, fala-se em dislexia, porém se esta dificuldade ocorre em relação ao raciocínio lógicomatemático fala-se em discalculia. Alguns disléxicos apresentam ainda dificuldades na interpretação de desenhos geométricos (percepção visuo espacial)..

(19) 19 Como a principal dificuldade destes indivíduos está relacionada à leitura e à escrita, os disléxicos costumam apresentar um melhor desempenho ao se expressarem oralmente e este aspecto deve ser considerado em sua vida acadêmica. A dislexia não é classificada como uma doença e não existe tratamento medicamentoso ou cura para ela. Assim, corre-se o risco do disléxico levar para a vida adulta muitas destas dificuldades, principalmente por não ter recebido acompanhamento adequado durante a fase de escolarização. No adulto as principais dificuldades relatadas são: lentidão para a leitura e para a escrita, dificuldade para a compreensão de textos (lêem duas ou três vezes para atingir a compreensão), dificuldades para a aprendizagem de uma segunda língua (principalmente a escrita), dificuldades com lateralidade, para nomear objetos (disnomias) e com organização em geral, além de memória de curto prazo prejudicada, que é a capacidade de reter informações por um período curto de tempo (IANHEZ; NICO, 2002). Segundo Dalgalarrondo (2000), a memória relaciona-se à capacidade de registrar, manter e evocar os fatos já ocorridos, capacidade esta estreitamente dependente da atenção. Observarmos ainda no adulto disléxico sintomas relacionados à afetividade como depressão, ansiedade, baixa auto-estima e algumas vezes, consumo e abuso de drogas e álcool. Presume-se que estes sintomas sejam decorrentes de insucessos acadêmicos e sociais. Nem todos os sintomas estão presentes em todos os disléxicos, porém a maioria dos sintomas citados é relatada pelo disléxico ou seu familiar durante o processo de avaliação..

(20) 20 O diagnóstico da dislexia é basicamente clínico, de exclusão e interdisciplinar. A avaliação do paciente deve necessariamente incluir avaliação neurológica. e. psiquiátrica,. e. obrigatoriamente. deve. conter. avaliação. psicológica, neuropsicológica, fonoaudiológica, psicopedagógica, oftalmológica e audiométrica, além de avaliação do processamento auditivo. No entanto, havendo necessidade, outras avaliações poderão ser solicitadas. Embora o diagnóstico deva ser feito preferencialmente em crianças que já tenham passado por dois anos de processo de alfabetização, existem indicadores, principalmente quando houver parentes próximos com o diagnóstico de dislexia, que podem levar a um diagnóstico de criança de risco (ROTTA et. al., 2006; www.dislexia.org.br). A avaliação da criança de risco deve ser repetida após dois ou três anos de acompanhamento fonoaudiológico para a confirmação ou não do diagnóstico de dislexia. O diagnóstico no indivíduo já adulto também é possível e segue basicamente os mesmos indicadores utilizados para crianças e adolescentes. Durante. o. processo. de. avaliação. buscam-se. excluir. outras. possibilidades para as dificuldades apresentadas pelo paciente como privações sensoriais visuais ou auditivas, alterações constitucionais importantes relativas ao funcionamento emocional e personalidade, déficits cognitivos e lesões neurológicas. Deve-se também identificar características que auxiliem no diagnóstico da dislexia, principalmente relacionados ao desempenho na leitura, escrita e compreensão de textos. Para o diagnóstico são também avaliadas as habilidades em relação à lateralidade, organização espacial e temporal, discriminação e percepção visual e auditiva, memórias tátil e sinestésica, memória de curto e longo prazo,.

(21) 21 organização de figuras e praxias orofaciais; avaliação de habilidade para leitura e segmentação de palavras em seus sons unitários e em sílabas, grupos consonantais, dígrafos (dois fonemas que formam um único som) e logatomas (palavras sem significado).. Avalia-se ainda a habilidade para formação de. palavras e sentenças, ortografia, gramática, velocidade de escrita e aquisições lingüísticas através de soletração, rima (sons iguais no final da palavra) e aliteração (sons iguais no início da palavra) entre muitos outros testes (IANHEZ; NICO, 2002). A comorbidade da dislexia com outros transtornos também é comum. Podemos encontrar transtorno do déficit de atenção com ou sem a hiperatividade, traços de ansiedade e de depressão, estes sempre decorrentes das dificuldades em relação à leitura e escrita; discalculia (dificuldades com o raciocínio. lógico-matemático). e. alterações. do. processamento. auditivo. (SHAYWITZ, 2006). Apesar das inúmeras evidências apontando para uma forte influência biológica no desencadeamento dos sintomas, não existem tratamentos medicamentosos eficazes para a dislexia. Após a avaliação, dependendo das dificuldades apresentadas, é feita uma orientação aos pais ou ao próprio adulto sobre o distúrbio e sobre o acompanhamento apropriado, que geralmente é feito por profissionais das áreas de fonoaudiologia ou psicopedagogia, com a finalidade de levar o disléxico a adquirir estratégias pedagógicas que o ajudarão a melhorar seu desempenho em leitura, escrita e compreensão..

(22) 22 Isto é feito levando o disléxico à compreensão dos sons das letras, percepção de rimas, comparação de sons, divisão das palavras em unidades menores, colocando-as juntas e mudando-as de lugar, acrescentando e tirando um som (letra) da palavra. O disléxico recebe ainda orientação quando à prática na aplicação dessas habilidades na leitura e na escrita, dicas e estratégias para a compreensão da leitura, treinamento em fluência, entre outras, sempre se levando em conta as necessidades de cada disléxico (SHAYWITZ, 2006). Nos casos em que há prejuízos de ordem emocional como baixa autoestima, por exemplo, também é indicada a psicoterapia, sem se deixar de trabalhar o aspecto pedagógico em conjunto (ROTTA et. al., 2006; SHAYWITZ, 2006; www.dislexia.org.br). Além do acompanhamento extra-escolar, faz-se necessária a orientação à escola sobre as diferenças na aprendizagem do aluno disléxico, de forma a que alterações sejam feitas no âmbito escolar, principalmente no que diz respeito às avaliações (provas). Estas poderão ser realizadas em sala separada do resto da turma, em horário diferenciado, de forma oral, com maior prazo para a realização e com o professor efetuando a leitura das questões, entre outras estratégias. A didática também deve ser diferenciada, com mais exemplos, demonstrações de aplicações no dia a dia para o conteúdo dado, vivências, gráficos, desenhos, menor quantidade de dever para casa, sempre estimulando o disléxico a se expressar da forma que ele for capaz, com o objetivo de se obter a informação sobre o conteúdo de fato adquirido e retido pelo aluno..

(23) 23 1.4 ALTERAÇÕES NEUROBIOLÓGICAS E FUNCIONAIS Diferenças entre indivíduos com dislexia e controles têm sido descritas em estudos genéticos que relacionam este transtorno com alterações nos cromossomos 1, 2, 3, 6, 7, 17 e 18. A origem e o significado exato destas diferenças para a expressão de comportamentos complexos ainda são desconhecidos (MARKHAM, 2002, SAVIOUR; RAMACHANDRA, 2006). Admite-se, como em outros transtornos mentais, que alterações anatômicas e funcionais no cérebro sejam decorrentes de variações genéticas e estas alterações ocorram a partir de mutações (SAVIOUR; RAMACHANDRA, 2006). Em relação à genética populacional, existem relatos de que uma criança do sexo masculino, com um dos pais disléxico, tem 50% de chance de ser disléxico. O mesmo não foi observado em relação a crianças do sexo feminino, provavelmente devido a questões relacionadas ao hormônio testosterona que serão descritas adiante. A genética da dislexia é hoje considerada como associada a mecanismos poligênicos (ou seja, dependem da participação de vários genes) e multifatoriais (dependem de uma complexa interação entre genes e meio ambiente) para a expressão de seus efeitos. Pesquisas que ratificam esta consideração passam por estudos post mortem com indivíduos disléxicos, onde foram encontrados neurônios do tecido cerebral do tálamo 20% menores comparado a indivíduos sem dificuldades com leitura e escrita. Esta diferença poderia levar a anormalidades funcionais, principalmente lentificação no processamento de informações, tanto no sistema visual quanto no sistema auditivo (GALABURDA; KEMPER, 1979)..

(24) 24 Além destas diferenças foram encontradas também ectopias em cérebros de disléxicos, particularmente na área da linguagem temporoparietal do lado esquerdo do cérebro (STEIN, 2001). Durante o período de desenvolvimento que antecede o nascimento, as células do córtex migram das partes mais profundas do córtex até chegarem ao seu destino final e pode acontecer de juntarem-se em grupos de células que ficam alhures no percurso. A estes grupos de células deslocadas dá-se o nome de ectopias. Estas ectopias foram encontradas em ambos os hemisférios do córtex perisilviano, mas especialmente nos lobos temporal e frontal do hemisfério esquerdo que são áreas essenciais para a linguagem. Saviour e Ramachandra (2006) relatam desempenho pobre dos disléxicos no domínio tátil juntamente com problemas de processamento visual e auditivo. Mostram ainda microscópicas más-formações corticais na área da linguagem, particularmente no giro frontal inferior e áreas temporoparietais do cérebro na forma de ectopias, microgírias (má-formação cortical) e displasias (desorganização de neurônios corticais). Estas alterações sugerem um processo de maturação cortical anômalo nos cérebros dos disléxicos. Estes resultados vão ao encontro dos relatados por Stein (2001), Galaburda e Kemper (1979) e Humphreys e colaboradores (1990). Fitch e colaboradores (1994) relatam ter encontrado também más formações corticais nos cérebros de disléxicos. Estas más formações seriam microgírias formadas por anormalidades na organização cortical, concordando com o que foi apresentado também por Galaburda e colaboradores (1978) e Stein (2001). Galaburda inclusive encontrou alterações de neurônios corticais já no quinto mês de gestação..

(25) 25 Desta forma Humphreys e colaboradores (1990) sugerem que se existem conseqüências funcionais devido à presença de alterações corticais (referentes ao início da gestação), pode-se esperar como resultado, entre outros. problemas,. disfunções. de. planejamento. e. comportamento,. hiperatividade e disfunção da memória auditiva nestes indivíduos. Nestas pesquisas observa-se que o cérebro humano é bastante lateralizado e que isto o torna mais eficiente principalmente quanto às funções cognitivas, como a memória, a linguagem, o raciocínio, as habilidades visuoespaciais, o reconhecimento, a capacidade de resolução de problemas, etc. Porém processos mentais complexos como estes não ficam prontos automaticamente no indivíduo, no entanto são construídos durante o seu desenvolvimento através da experiência social, ou seja, através da interação do indivíduo com o meio (DALGALARRONDO, 2000). Quanto ao desenvolvimento dos hemisférios cerebrais sabe-se que o hemisfério esquerdo desenvolve-se ontogeneticamente mais lentamente que o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo responde predominantemente por aspectos relacionados à linguagem de forma específica e eficiente. Já o hemisfério direito é responsável por aspectos relacionados à atenção, à intenção e visão espacial ou percepção visual, embora também esteja envolvido com a linguagem, ainda que de forma mais global (GALABURDA et. al., 1987; STEIN, 2001). Pennington e colaboradores (2000) encontraram fortes indicadores de controle genético no desenvolvimento dos hemisférios direito e esquerdo, havendo maior influência sobre o desenvolvimento do hemisfério esquerdo. No.

(26) 26 entanto, não foi ainda possível separar os efeitos dos genes dos efeitos da ação do meio ambiente sobre o desenvolvimento do tamanho do cérebro. Na população em geral o habitual é encontrarmos assimetria entre os hemisférios direito e esquerdo. Já entre os disléxicos, vários estudos post mortem, têm encontrado simetria hemisférica, justificando em parte o pobre desempenho da linguagem destes indivíduos. Para Galaburda (1983) a distribuição de tamanho neuronal difere entre disléxicos e controles. Nos disléxicos há maior quantidade de pequenos neurônios e menor quantidade de grandes neurônios. Esta comparação foi feita em relação aos neurônios do hemisfério esquerdo e direito e as diferenças foram observadas em relação aos neurônios do hemisfério esquerdo quando comparados disléxicos e controles. No entanto não há diferenças em relação ao hemisfério direito considerando-se os mesmos grupos estudados. Galaburda juntamente com colaboradores, pondera que a testosterona possa ter um efeito na produção do menor grau de lateralização cerebral. Parece que a testosterona exerce uma influência direta no processo de desordem neuronal, o que levaria a favorecer a simetria hemisférica entre disléxicos (GALABURDA et. al., 1987). Bakker (2008) aventa também a hipótese de que o excesso de testosterona no feto ou ainda uma sensibilidade excessiva a este hormônio possam estar ligados à formação de células ectópicas. Sendo assim, este hormônio teria um efeito “negativo” sobre o sistema imune e também sobre o crescimento do cérebro, particularmente no hemisfério esquerdo, favorecendo ainda a compreensão da conexão entre a dislexia e doenças do sistema imunológico como, por exemplo, as alergias..

(27) 27 Além destas alterações, Galaburda e colaboradores (1994) supõem ser viável as diferenças nas células de outros sistemas, como o motor e o cognitivo. Rocha (1999) também pesquisou os efeitos da testosterona no desenvolvimento do cérebro e considera que as lesões corticais induzem a formação de lesões talâmicas que dependem da testosterona e esta alteração poderia também auxiliar na compreensão do motivo pelo qual a dislexia afeta muito mais homens do que mulheres, na proporção de três para um. Existem ainda estudos (LAMBE, 1999) que mostram diferenças nos caminhos de ativação cerebral para o processamento fonológico entre homens e mulheres, o que também poderia explicar o fato da dislexia afetar mais a homens do que mulheres, porém este aspecto (diferenças de desempenho entre homens e mulheres na dislexia) não será abordado neste trabalho. Extensas pesquisas têm sido feitas no sentido de observar estas conseqüências funcionais, usando-se técnicas de neuroimagens cerebrais, as quais têm a vantagem de serem realizadas com pacientes vivos, permitindo inclusive serem feitos exames com os participantes realizando alguma tarefa como a leitura, por exemplo, (NICOLSON; FAWCETT, 2008; EDEN et. al., 1996; SAUER et.al., 2006; PESTUN et. al., 2002; TURKELTAUB et. al., 2002; ÉDEN; ZEFFIRO, 1998; JOSEPH et. al., 2001). Éden e colaboradores (1996) em seus estudos com neuroimagem observaram que os disléxicos têm ativação cerebral reduzida nas áreas visuais das vias dorsais em resposta a alvos visuais em movimento. Os disléxicos apresentaram ainda resultados pobres em testes em que era requerido o processamento visual rápido (LIVINGSTONE et. al. 1991)..

(28) 28 Falando-se em processamento visual, devemos lembrar que para a leitura eficiente é necessário que haja a ação coordenada de vários tipos de movimentos oculares como fixação, convergência e movimentos sacádicos (que são os deslocamentos que os olhos fazem para a realização de uma tarefa onde seja necessário o controle ocular fino, como na leitura, por exemplo). Todas estas funções devem estar adequadas para que a leitura se processe de forma eficiente. Estudos sugerem que convergência ou acomodabilidade ineficiente, déficits do movimento sacádico e também instabilidade binocular sejam comuns em disléxicos (STEIN, 2001). Estes estudos sugerem a existência de um controle de visão binocular pobre em disléxicos, causando uma visão instável, o que levaria a ocorrência de erros na leitura. Breitmeyer e Breier (1994) sugerem que haja uma falha na inibição da fixação da leitura, durante o movimento sacádico, provocando sobreposição de imagens quando sucessivas são apresentadas, causando a confusão visual. Alterações nestas funções poderiam justificar o relato comum entre disléxicos de que as letras parecem se mexer quando realizam a leitura (STEIN, 2001). Para os disléxicos a informação visual durante a leitura não é filtrada eficientemente de forma a obter uma resposta adequada no processamento da palavra, trazendo a hipótese de uma incapacidade em suprimir a informação distrativa durante o processo de decodificação (FACOETTI; TURATTO, 2000). Para aprender a escrita alfabética o cérebro precisa ter um mapa mental de representações da correspondência básica da pronúncia de cada som (fonema). A unidade gráfica da escrita recebe o nome de grafema. Um grafema pode ser uma letra, um caractere chinês, um número, um sinal de pontuação.

(29) 29 ou até mesmo um logotipo (NICOLSON; FAWCETT, 2008; ARTIGASPALLARES, 2009). Pesquisas relatam que o leitor principiante tenha um aumento relativo da atividade em hemisfério direito durante o ato de ler, talvez porque se prenda à forma da letra e procure decodificar cada uma delas. Por outro lado, o leitor hábil utilizaria mais funções ligadas ao hemisfério esquerdo, realizando a leitura pela rota fonológica (pelo som). O disléxico parece apresentar uma variação não habitual (diferente de indivíduos sem dificuldade com a leitura) no que diz respeito à distribuição da atividade cerebral durante a leitura. (BAKKER, 2008). Os disléxicos têm dificuldade na representação ou evocação dos sons, com dificuldade em retê-los na memória de curto prazo e conscientemente segmentar os fonemas (tirar ou substituir fonemas em palavras, a assim chamada consciência fonológica) (RAMUS, 2001). Disléxicos apresentam ainda dificuldade em captar a amplitude e freqüência que caracterizam o som de cada letra. Ramus (2001) observou que os disléxicos obtiveram desempenho pior até do que pessoas com déficits auditivos em atividades que exigiam esta habilidade. Em línguas em que cada letra e som têm correspondência consistente a questão de formar a consciência fonológica é substancialmente mais fácil (como, por exemplo, na língua finlandesa) do que nas línguas semelhantes ao inglês, em que a relação som-letra é ambígua. Nestas línguas a dislexia manifesta-se na forma de uma aprendizagem mais lenta (LAASONEN et. al., 2001)..

(30) 30 Isto nos leva a pensar em relação à dislexia em indivíduos que utilizam idiomas onde a escrita é representada logograficamente. Foram encontradas diferenças estruturais e anormalidades funcionais também em disléxicos chineses (chinês é uma língua não alfabética) e, comparando-se disléxicos chineses e disléxicos de língua alfabética foi observado que as áreas cerebrais afetadas eram diferentes. Desta forma os resultados encontrados por Siok e colaboradores (2008) sugerem que as bases estruturais e funcionais da dislexia variam entre línguas alfabéticas e não alfabéticas. O fato que disléxicos chineses e disléxicos não chineses mostram anormalidades estruturais em diferentes regiões do cérebro sugerem que a dislexia possa até estar ligada a desordens cerebrais, dependentes diretamente dos aspectos culturais relacionados à forma de escrita. Nas pesquisas de Siok e colaboradores (2008) foram encontradas anormalidades em áreas corticais e subcorticais em disléxicos. Entre os indivíduos. que. utilizavam. línguas. alfabéticas,. foram. encontradas. anormalidades na área esquerda temporoparietal que parece estar envolvida na conversão de letra/som na leitura e no córtex médio superior temporal, o qual está envolvido na análise dos sons da fala e também no giro esquerdo inferior temporo-occipital que está relacionado ao reconhecimento. Desta forma, a dislexia estaria associada ao desenvolvimento atípico em estruturas do sistema posterior do cérebro. Os circuitos neuronais envolvidos na leitura normal e suas disfunções podem variar conforme a língua (alfabética ou não alfabética). Por exemplo, na língua chinesa (logográfica), caracteres são mapeados por sílabas o que.

(31) 31 diferencia do sistema alfabético (como por exemplo, inglês) onde as unidades gráficas (letras) são mapeadas por fonemas (unidade de som). Leitores chineses mostram relativamente mais compromisso ou ativação das áreas visuo-espaciais e região esquerda medial frontal para memória de trabalho complexo de reconhecimento de figuras que serão utilizadas para a pronúncia ao invés de aprenderem as regras de correspondência letra/som. Também entre disléxicos da língua chinesa foi encontrado um déficit fonológico similar ao que acontece entre disléxicos na língua alfabética e as regiões corticais que mediam este déficit em línguas logográficas e alfabéticas são especialmente separadas. Desta forma, mais uma vez, os mecanismos neurais sob prejuízo na leitura podem depender do sistema de escrita utilizado. Deve-se ter em mente que os disléxicos estudados são diferentes entre si e as dificuldades encontradas não estão restritas à leitura e escrita, mas se estendem à lateralidade confusa, à capacidade com seqüências em geral, dificuldades de dominância hemisférica, dificuldade em relação a tempo e espaço, entre outras (STEIN, 2001). Nicolson e Fawcett (2008) propõem ainda que crianças disléxicas tenham falhas na aquisição de habilidades ligadas à automatização de atividades cognitivas e motoras como equilíbrio, controle motor, habilidades fonológicas e velocidade de processamento de informações. Wilmer e colaboradores (2004) propõem que, para a leitura eficiente seja necessária a associação entre discriminação da velocidade e detecção coerente do movimento, além das habilidades já citadas..

(32) 32 Hari e colaboradores (1999) sugerem a existência de anormalidades na dominância do lobo parietal direito em relação à atenção espacial em disléxicos. Todos estes autores nos levam a pensar em dislexia como sendo conseqüência de múltiplas disfunções e alterações. A representação destas disfunções, através da captação do tempo de resposta o mais exata possível (em dezenas ou centenas de milésimos de segundo) é de fundamental importância para a compreensão de funções cerebrais, funções estas que são a base para se processar o discurso (fala). Na dislexia, o deslocamento da atenção e o tempo de resposta parecem ser lentos ao captar e processar informações rápidas e seqüenciais. Facoetti e colaboradores (2003a) encontraram evidências de um processamento mais lento para captura de estímulos apresentados no hemicampo direito (heminegligência esquerda) em disléxicos. A captura destas informações seria mais lenta em ambos os hemicampos (a captura seria mais lenta nos dois hemisférios, mas seria processada ainda mais lentamente, nestes indivíduos, no hemicampo direito) levando a um aumento na quantidade de erros na localização de objetos no hemicampo visual direito. Estes dados sugerem que a distribuição dos recursos atencionais ocorra mais difusamente em disléxicos devido a provável dificuldade em restringir o foco de atenção. Hari. e. colaboradores. (1999). também. encontraram. em. seus. experimentos diferenças de desempenho entre adultos disléxicos e controles, mostrando que disléxicos levam mais tempo para a identificação visual de um objeto. Seguindo o mesmo raciocínio, Visser e colaboradores (2004).

(33) 33 concluíram que crianças disléxicas têm dificuldade em alocar rapidamente a atenção levando mais tempo para realizar tarefas. Laasonen e colaboradores (2001) estudaram disléxicos adultos com boa experiência de leitura e observaram que nestes indivíduos o déficit de tempo de resposta era menor em relação a disléxicos adultos com menor experiência de leitura, ou seja, com o treino e aquisição de estratégias o tempo de resposta melhora, embora, se comparado a um indivíduo sem dificuldade com a leitura, ainda possa ser considerado lento. Este dado nos mostra a possibilidade de utilização de estratégias para redução do dano. Em relação a crianças, Hari e colaboradores (1999) demonstraram que crianças disléxicas se equipararam em desempenho a crianças mais novas sem dificuldades de leitura sugerindo que exista um atraso no desenvolvimento da leitura, porém com a possibilidade de uma melhora até a vida adulta com a aquisição de novas estratégias, comparável ao que foi verificado entre adultos. Também para Skottun e Skoyles (2007) os disléxicos têm tempos de reação maiores que não disléxicos. Esta hipótese tem recebido considerável atenção, sugerindo que a dislexia seja causada por problemas gerais de processamento de informações com um déficit peculiar do processamento temporal (o processamento temporal pode ser definido amplamente como o processamento requerido quando dois ou mais diferentes estímulos são apresentados, conforme Visser e colaboradores, 2004). Vários autores relacionam um tempo de resposta mais lento em disléxicos a déficit no sistema visual magnocelular. A chamada teoria magnocelular da dislexia tem sido proposta por pesquisadores que acreditam em anormalidades no funcionamento deste sistema entre disléxicos. O sistema.

(34) 34 visual magnocelular caracteriza-se por maior sensibilidade ao movimento, à direção do olhar e uma relativa insensibilidade à cor ou forma. O sistema magnocelular na dislexia ocupa um papel importante no processamento temporal e em toda a sensibilidade dos sistemas motores do cérebro como um todo e que podem ter sido danificados durante o desenvolvimento ainda na fase gestacional, corroborando com pesquisas anteriormente citadas (STEIN, 2001). Stein (2001) e outros pesquisadores acreditam que para compensar o déficit. do. sistema. magnocelular. nos. disléxicos. haveria. um. maior. desenvolvimento do sistema parvocelular e isto poderia justificar as habilidades encontradas entre os disléxicos em atividades chamadas artísticas ou visuais, como o desenho, a pintura, a escultura, a mecânica entre outras. Esta teoria será melhor explorada adiante neste trabalho..

(35) 35 1.5 FISIOLOGIA DA ATENÇÃO VISUAL O sistema nervoso é composto por um grande número de células. Estas células recebem informações o tempo todo e devem processá-las de forma rápida e precisa. Presume-se que estes processos sejam essenciais para as diferentes formas de percepção. De todas as fibras cerebroaferentes trinta e oito por cento pertencem ao sistema visual que, portanto, se configura como a principal via de entrada de informações para a espécie humana. Embora todos os elementos estruturais do olho humano participem da percepção da informação visual, a retina tem um papel central neste processo. (http://webvision.med.utah.edu). A retina é a mais importante porque é nela que se inicia a percepção visual. A luz entra pela córnea, é projetada no fundo do olho e é convertida em informação eletro-química pela retina. Em seguida estes sinais, através do nervo óptico, chegam aos centros superiores no cérebro, são processados para a geração do fenômeno perceptual, que é a construção mental de uma informação tridimensional estável (KANDEL et. al., 2000). A maior parte das informações visuais captadas pelo olho segue pelo nervo óptico até o córtex occipital, antes passando pelo tálamo. Parte destes sinais toma outros caminhos que nem sempre estão envolvidos com o processamento da informação visual, podendo estar envolvidos no controle do movimento da pupila e no acompanhamento de objetos no campo visual. Na retina a informação visual é segregada entre células ganglionares que têm dois tamanhos (células grandes – magnocelulares ou tipo M e células pequenas – parvocelulares ou tipo P). As informações chegam ao Núcleo Geniculado Lateral (NGL) do tálamo e depois a diferentes regiões do córtex..

(36) 36 Os axônios das células ganglionares são conectados ao corpo geniculado lateral (CGL) definindo três vias principais de processamento: Magnocelular, Parvocelular e Koniocelular. As camadas magnocelulares são responsáveis por responder a movimentos rápidos e de curta duração, fornecendo a informação sobre a localização do objeto no espaço e também sobre a profundidade. É através das camadas magnocelulares que se projetam para o cérebro formando o tronco cerebral, que se obtém o controle reflexo dos olhos. As camadas parvocelulares vão da área visual primária até o córtex temporal inferior e aí são processadas as informações sobre cor, forma e a textura e esta é uma via de processamento mais lento. Tanto nas camadas parvocelulares quanto nas magnocelulares são encontradas células tipo konio. As funções dos dois caminhos são preservadas no córtex visual, embora a separação não seja completa (MAEHARA et. al., 2004). Aproximadamente 80% das células ganglionares conectam-se à via parvocelular, 10% à via magnocelular e 9% à via koniocelular. O CGL é formado por seis camadas: duas magnocelulares, quatro parvocelulares. e. além. destas. existem. ainda. camadas. intermediárias. koniocelulares. Basicamente as informações após chegarem ao córtex seguem por duas vias: dorsal e ventral. A via dorsal segue para cima até o lobo parietal e o lobo frontal e a ventral segue para baixo até a parte inferior do lobo temporal. No fluxo dorsal a informação dominante é magnocelular e no fluxo ventral é parvocelular. No fluxo dorsal é que se observa a coordenação mãoolho e interferem na localização dos objetos e também são importantes para o.

(37) 37 controle do movimento do olho durante uma busca visual. No fluxo ventral encontramos as funções de reconhecimento. Para Pashler (1994) tarefas visuais dependem de um mesmo sistema de entrada da atenção e sugere que a atenção sobre um objeto ocasionará sua representação na memória de curto prazo visual, possibilitando a execução de várias tarefas consideradas mais fáceis ao mesmo tempo, porém o mesmo não acontece caso as tarefas sejam consideradas mais complexas, isto em uma população considerada sem dificuldades. A informação processada pelo sistema magnocelular termina no córtex posterior parietal, que é uma área espacial seletiva e importante para o processo da atenção (FACOETTI et. al., 2003b). O córtex occipital contribui para a atenção visual e recebe estímulos predominantemente do sistema magnocelular (BODEN; GIASCHI, 2007). O olho, durante a leitura, apresenta um movimento rápido sobre a linha do texto caracterizado por breves paradas, conhecidas como fixações. Em leitores experientes estas fixações ocorrem a cada sete ou nove letras (em média) e, numa palavra dentro de uma frase, a fixação tem duração média de 225 a 275 ms. Neste espaço de tempo, que é muito breve, o leitor extrai visualmente as informações que necessita para realizar a leitura. Se a palavra foi processada o olho é movido para a próxima, caso contrário é feita uma segunda fixação, desta vez de maior duração. As sacadas regressivas curtas (os movimentos rápidos dos olhos de volta para a palavra com curta fixação) servem para a revisão de uma palavra cuja leitura não foi bem sucedida. Porém as sacadas regressivas longas (os movimentos rápidos dos olhos de volta para a palavra com uma fixação maior).

(38) 38 ocorrem entre as linhas do texto e refletem a dificuldade que o leitor tem na compreensão do conteúdo. Foram encontradas diferenças na duração média da primeira fixação em pseudopalavras entre disléxicos e controles em várias línguas, como por exemplo, alemão, italiano e português (LUKASOVA et. al., 2009). Foi observado também que quando o leitor se depara com uma palavra desconhecida a agilidade para leitura diminui e aumenta o envolvimento do processamento visual para aí sim se realizar a decodificação da palavra. Algum tipo de pré-processamento ortográfico (quando a criança aprende que há palavras que envolvem irregularidades nas relações entre os grafemas e fonemas), fonológico (quando a criança faz o reconhecimento da correspondência entre letras e fonemas, ou seja, sons) ou lexical (quando a criança aprende a fazer a leitura visual direta de palavras, quando há alta freqüência destas palavras no ambiente do leitor), ocorre antes da palavra ser fixada pelo olho e a coerência deste pré-processamento determina a velocidade com que esta palavra será processada e fixada. Então para que a leitura seja considerada fluente e eficiente (pois envolve. também. a. compreensão). é. necessária. a. coordenação. do. processamento de leitura e planejamento motor. Esta coordenação é relevante para a dislexia, pois foram encontrados déficits motores entre estes indivíduos (LUKASOVA et. al., 2009)..

(39) 39 1.6 ATENÇÃO: DEFINIÇÃO Willian James já em 1890 descrevia a atenção como sendo uma experiência pessoal, o indivíduo captando somente o que foi consentido por ele, escolhendo um estímulo entre muitos oferecidos simultaneamente e para lidar mais eficientemente com este estímulo que foi escolhido abdica dos demais (DALGALARRONDO, 2000). Luria em 1979 definia atenção como a capacidade de selecionar e manter o controle sobre a entrada de informações necessárias num dado momento. Assim, atenção é o termo utilizado para referir-se aos mecanismos pelos quais se dá a seleção de estímulos. A atenção pode ser dividida de forma sintética em atenção seletiva que é definida como a capacidade de selecionar um estímulo entre vários outros; atenção sustentada que é a capacidade de manter o foco de atenção ao longo do tempo; atenção dividida que é a habilidade de responder a mais de uma questão num mesmo momento e atenção alternada que é a habilidade em mudar de foco e voltar ao primeiro de modo repetitivo. Esta divisão é proposta apenas para melhor compreensão do fenômeno atencional, pois qualquer atividade mental que exija a capacidade de atenção irá envolver mais que um tipo (LÚRIA, 1979; DALGALARRONDO, 2000). Esta é uma proposta de definição clássica utilizada a muitos anos e que tem sido atualizada e revisada, principalmente quanto à atenção sustentada, que atualmente é entendida por alguns pesquisadores como sendo a capacidade de retomar ou retornar ao assunto..

(40) 40 De acordo com Cortese e colaboradores (1999) alguns fatores presentes em todas as modalidades da atenção são: 1. Vigilância: capacidade de selecionar e focar os estímulos; 2. Amplitude: quantidade de estímulos que deverão ser processados na realização da tarefa. 3. Tracking: rastreamento do material em foco envolvendo processos de memória de curto prazo; 4. Tempo de reação: tempo necessário para a realização da tarefa (este foi especialmente observado em nosso trabalho) e 5. Alternância: flexibilidade e velocidade no deslocamento da atenção de um foco para outro.. O funcionamento da atenção se apóia em fatores básicos como: - Fator fisiológico, onde depende de condições neurológicas e também da situação física em que o indivíduo se encontra; - Fator motivacional que depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse e depende do grau de solicitação e ativação do estímulo, levando a uma melhor focalização da fonte do estímulo, que pode ser visual, auditivo ou sinestésico. Estão envolvidos no processo de atenção o sistema reticular ativador (SRA) que é responsável pelo nível de consciência (que aqui representa estado vigil, ou seja, estar desperto) e também pelos mecanismos de alerta preparando o indivíduo para a reação; o tálamo onde acontece a convergência das projeções do SRA e que está envolvido na mediação entre estruturas cerebrais “superiores” (córtex associativo, sensorial e motor) com estruturas.

(41) 41 “inferiores” (núcleos subcorticais, vias ascendentes e descendentes) e ainda o córtex das regiões pré-frontais que estão relacionados à regulação das atividades de atenção (CASTRO, 1998). Norman e Shallice (1980) relatam que os processos automáticos de captação da atenção são velozes e não requerem controle ativo por parte da pessoa,. podendo. processamentos,. por com. si. mesmo. pouca. ocorrer. interferência,. conjuntamente podendo. a. também. outros ser. desencadeados prontamente de forma quase inevitável, por eventos inesperados, mesmo que o participante não esteja prestando atenção à fonte de estimulação. Existem ainda recursos atencionais controlados e que são necessários em tarefas que requerem planejamento de solução de problemas, como tarefas mal aprendidas ou que contenham seqüências novas, que sejam perigosas ou tecnicamente difíceis ou que requeiram a superação de uma resposta habitualmente forte e automática (NORMAN; SHALLICE, 1980). O ato de prestar atenção, independentemente da modalidade sensorial, se auditiva ou visual, aumenta a sensibilidade perceptual para a discriminação do alvo, além de reduzir a interferência causada por estímulos distratores (LIMA, 2005). A atenção então é uma função cognitiva, assim como é a memória de fixação e de recuperação (evocação), a sensopercepção, solução de problemas, a análise visuo espacial, a velocidade de processamento de informação e a linguagem. Está presente no indivíduo desde os primeiros dias de vida. Ela tem a função, a princípio, de orientar nossos sentidos para os estímulos do ambiente. Com o desenvolvimento do indivíduo ela assume a.

(42) 42 função de administrar seletivamente estes estímulos e os recursos para processá-los, de forma a prestar atenção a uns e inibir outros (POSNER; ROTHBART, 2007). O uso adequado da atenção dá ao indivíduo a capacidade de mudar o foco de interesse e também regular a sensibilidade às características sensoriais e semânticas dos estímulos. É um sistema através do qual ocorre o processamento dos estímulos de forma seqüencial e diferentes sistemas cerebrais estão envolvidos neste processo, funcionando de forma organizada e hierárquica. Segundo Lent (2002) a atenção envolve essencialmente dois aspectos, sendo o primeiro o alerta, representando um estado geral de sensibilização dos órgãos sensoriais com o estabelecimento e manutenção do tônus cortical com a finalidade de receber os estímulos e o segundo que é a atenção propriamente dita, envolvendo a focalização do alerta sobre determinados processos mentais e neurobiológicos. Resultados obtidos em testes confirmam que as tarefas visuais dependem do mesmo sistema de atenção e entrada e sugerem que a atenção sobre um objeto implica na sua representação na memória de curto prazo visual (PASHLER, 1994). A atenção é considerada uma função importante para a interação do indivíduo de forma eficaz com o ambiente, pois através dela selecionamos qual estímulo será analisado em detalhes e qual será levado em conta para guiar nossos comportamentos, sendo de importância vital para a eficiência da leitura (LIMA, 2005)..

(43) 43 A atenção é o mecanismo que permite ao cérebro tratar a grande complexidade dos sinais sensoriais, levando em consideração apenas um conjunto reduzido de sensações. No estágio de pré-atenção são verificados alvos potencialmente interessantes; num segundo estágio é feita uma análise com nível cognitivo mais alto. A atenção é então um processo que faz a ligação entre estas duas etapas citadas, decidindo qual estímulo será focado. (BASSO, 2006). A partir de estudos envolvendo percepção visual, a atenção tem sido descrita como um processo de alta velocidade, da ordem de 50ms. Os tempos de reação a estímulos visuais são considerados uma medida confiável e tradicionalmente utilizada para quantificar atenção visual (CANTO-PEREIRA et. al., 2006). Desta forma a atenção pode ser melhor descrita como um estado sustentável durante cada representação de objetos relevantes tendo a possibilidade de guiar comportamentos. De acordo com Ross (1979), uma medida de atenção somente poderá ser obtida através de experimentos que exijam do indivíduo uma resposta motora simples como pressionar um botão após o aparecimento de um estímulo perceptível, que pode ser de categoria visual, auditiva ou sinestésica. Assim, no caso de falha na emissão da resposta motora poderemos considerar esta falha como sendo um indício de falha atencional. Considerando estes achados este foi o modelo de experimento utilizado em nossa pesquisa..

(44) 44 1.7 ATENÇÃO, DISLEXIA e LEITURA. Existem evidências de que alterações na atenção sejam um dos possíveis mecanismos envolvidos na dislexia. Embora existam descrições clínicas de anormalidades no desempenho atencional nestes indivíduos, a exata natureza e dimensão deste fenômeno são ainda pouco conhecidas. Uma vez que a atenção ocorre através de um sistema de processamento que envolve diferentes sistemas cerebrais organizados de maneira hierárquica (LÚRIA, 1979); considerando que a atenção nos auxilia na organização dos processos mentais e permite a interação eficiente do indivíduo com o meio ambiente através da seleção dos estímulos que serão levados em consideração para guiar seu comportamento (LIMA, 2005) e ainda conhecendo a importância da atenção em situação de aprendizagem, nos parece relevante entender como este mecanismo se apresenta em relação aos disléxicos. Não podemos esquecer ainda que o sistema atencional está relacionado e é influenciado pelo sistema motivacional, podendo este interferir na velocidade de resposta a estímulos (CANTO-PEREIRA et. al., 2006). Para Facoetti e colaboradores (2003b), aprender a ler requer habilidades visuais e fonológicas apropriadas. Para ler uma palavra desconhecida ou uma não palavra, ou ainda uma seqüência de símbolos visuais, estes devem ser reconhecidos e transformados em uma seqüência de sons, através da rota fonológica. Para que uma palavra familiar seja lida corretamente através da rota lexical (contexto), deve ser isolada de outra no texto. De qualquer forma, em ambos os casos estaremos selecionando a informação relevante e excluindo a irrelevante (a isto dá-se o nome de processo de atenção)..

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