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i 11111111111111111111111111111""1111111
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--- . -."- . -~_._JADMINISTRADORAS: SUAS TRAJETÓRIAS E
OS RECORTES DO COTIDIANO
pr·o f n
pr·o+" =
PI···Of"
Orientador _
DEDICATÓRIA
Ao criador da real
I··
ESCOLA DE ADMINI5TRA~io DE EMPRESAS DE sio PAULO
DA
FUNDA~io GETÚLIO VARGAS
l-I
Heloisa Maria Lon90
/
ADMINISTRADORAS: SUAS TRAJETÓRIAS
E OS RECORTES DO COTIDIANO
Disserta,io apresentada ao
Curso de p6S-GradUa~io da
EAESP/FGV - &rea de
Concenlra-,io : Teoria p comportamento
Or9anizacionais. como
requisi-to para oblen,io de t(tulo de
mestre em Administra,io.
Ot ..ien t:adot"a: PI···of~1•• t~t..cl.I:C ':/
Martins Rodri9ues
sio Paul (IJ 1
'J.'a:::: •
~ III
1198600177.\~ Fundação~tulio Vârga~
Escola deAdministração
FGV dn Empresas·de SAo Pftulo
fNDICE
PREF~CIO
i. PERSPECTIVAS TEÓRICAS
1.1. INTRODU~~O
1.2. O "GRUDAR" DOS GRUPOS
1.3. A INDIVIDUA~io DO SER
i.~. O PROCESSAMENTO DOS DETERMINISMOS SOCIAIS
PELO INDIViDUO,
i.~.i. HABITU5. PR~TICA5 E REPRESENTA~ÕES:
A TEORIA DE PIERRE BOURDIEU
I.~.2. SOCIALIZA~~O PRIM~RIA E SOCIALIZA~~O
SECUND~RIA: A TEORIA DE BERGER E
LUCKMANN
1.q.3. A SOCIALIZA~~O FEMININA
i.q.3.1. UMA AN~LISE DA BIBLIOGRAFIA
EXISTENTE
1.q.3.3. A ESCOLA
i.~.3.q. O MERCADO DE TRABALHO
2. O CAMPO
2.i. INTRODU~io
2.1.2. ALGUNS ASPECTOS QUANTITATIVOS DA AMOSTRA
2.2. AS RELA~ÕES FAMILIARES
2.2.1. A FAMILIA DE ORIGEM
2.2.2. O CASAMENTO
2.2.3. OS FILHOS
2.3. TORNAR-SE ADMINISTRADORA
2.q. A INTERDEPENDtNCIA DOS MUNDOS
2.5. O MUNDO DO TRABALHO
2.6. A INDIVIDUAÇ~O DO EU
CONCLUSÕES
NOTAS E REFERtNCIA5 BIBLIOGR&FICA5
AGRADECIMENTOS
A todas as mo,as que, no mais das vezes
carinhosa-mente. dispuseram de algumas horas de seu dia e de
algumas reflex6es de suas pr6prias vidas em prol do
uconhecimentou•
~ R6. a ama-de-leite mais dedicada do mundo.
~ Arakc~, pela orienta,io.
~ meus pais e irmios. pelo amor incomensurável.
~s SegUndas mies e famil ias. Ne~de. Araka. Renata.
Martins Rodrigues e Marencos, pela ado,io amorosa
de um ser adulto semi-infantilizado.
~ Bi pelos 13.
à
Cláudia pelos 21 anos de amizade.carinho e aceita,io.
E a todos aqueles que,
balharamu comigo nesse
cria,io: ~r~o, Cassiano.
de uma ou outra forma
ntra-tempo tio turbulento de
Esmi, Isaac. Luciano,
"As coisas invis{vEiS sao a maioria"
c. u ,
I...E~(.~()Bl:('~TEh'para as mulheres. o destino. chamado
tradicional. que as devotava ~
di~ncia e ~ maternidade está
contestado em toda parte. Na
cia de um modelo reconhecido.
übE!-" sE:!ndo .tusén····
cada
emerse dessa crise como um esrür~o
para superá-la. A memória nio passa,
certamente, de um elemento de
iden-tidade, mas ~ um elemento
indispens-sáveli ela nio ser~ suficiente para
nos diZI:!I'- queift'jÓ~:: ~;:omo~;:.'mas ~;:!:!mE!Ia r;
nós nio o saberemos jamais.
KNIBIEHI...ER. Yvonne e IOUQUET,
Cathe-t·· in e
La femme et 1es medecins
h istOt"ique
Paris, Hachette. 19B3. ppiOs
PREF~CIO
Este trabalho tem sidO real izado com a mais
motiva-dora das motiva,~es: descobrir-me. Entender quem ~
sou eu. e como assim fUi me tornando. nos dois
prismas que me foram revelados como os mais
primor-diais em minha social iza,io: o ser mulher e o ser
profissional. Busco respostas nos demais seres que
comiso compartilham caracter(sticas especificas
dentro destas duas determina,~es. A possibil idade
de viSlumbrar e entender UisuaisU produz em mim a
alegria antecipada de responder a quest~es antisas
e prementes) que tim permeado o meu dia a dia.
Por outro lado, a tarefa escrever me ~ penosa. Ela
pretende que eu acredite na possibilidade de dar
uma seqUinCia linear. a partir de uma ~nica
classi-fica,io. a todas as experiincias, suas vivincias, ~
reflexio e previsio delas seradas em todas as
dis-tintas facetas com que se apresentam no cotidiano.
ocorridas em tempos com distâncias risorosamente
desisuais com relaiio a hoje.
No entanto. ~ Só assim. escrevendo. que se obt~m o
titUlo de mestre. E talvez seja, também. só assim
escrevendo o que penso. que poderei
conhecer o campo ao qual perten,o.
entender-me P
Falei em socializa,io. Um conceito como tantos
outros que apareceria neste texto. Antes de
concen-trar minha aten,io neste particular assunto - a
so-cial iza,io - sostaria de expl icitar a forma pela
qual entendO teorias em seral. uma vez que delas
o estudante depara-se, enquanto aprendiz, como uma
scirie de correntes distintas do pensamento que
vi-sam, em ~ltima instincia, expl icar o mundo social e
natural, a intera,io dos seres com este e dos seres
entre si.
Dentre as Iinhas das quais toma conhecimento,
esco-lhe uma ou mais; freqUentemente asrupa partes de
teorias que enfocam elementos que em sua cabeia
constituem o todo. Este processo de escolha nio se
dá aleatoriamente; ao contrário, ela ci consciente
ou inconscientemente intencional
à
medida em que ~real izada ao ufazer sentidou para aquele que opta.
Insressar e cursar um mestrado numa escola de elite
de um pa{s subdesenVOlvido latino-americano
pressu-poe, certamente, que nio se terá acesso a teorias
orisinadas em sociedades orientais, ou outras
quaisquer com tal srau de Uexotismou• Ou seja: nao
se tem à diSPOSi,io todas as teorias existentes
re-lacionadas a um objeto qualquer preViamente
esco-lhido. Mas, por outro lado, tem-se acesso a uma
sa-ma razoável de linhas de pensamento, possivelmente
a maior parte daquelas que podem ser consideradas
urazoáveisu a um individuo de elite educado num
pais SUbdesenVOlvidO.
Escolher um marco teórico para a real iza,io de um
trabalho intelectual nio pode ser portanto encarado
como uma oPiio entre todas as existentes, somente
como uma entre as poss{veis. Como já dissemos, o
conjunto das poss{veis ensloba, provavelmente,
aquelas com maior probabil idade de serem adotadas,
dados um passado histórico individual marcado por
uma determinada e especifica social iza,io. Quantos
individuos adotariam uma! inha m{stica, ocultista,
de explica,io para o entendimento do mundo das
fi-nanias P~bl icas? Provavelmente nenhum. Quantos
in-dividuas util izariam o marXismo para o entendimento
...,
....•
Aquele que se direciona - queremos dizer,
cionado - para um curso de ciincias sociais ~
so-cial izado de sorte a assimilar com natural idade
preceitos, conceitos e constata,~es marxistas;
aqueles que se vinculam h administraçio aSSim o
fi-zeram tambcim porque as ciincias ocultas nio lhe
fo-ram apresentadas, na socializaçio
já
ocorrida. comovÚ.lida~~•
A escolha dOeS) marco(s) te6rico(s) pode ser
entio como parcialmente dada e parcialmente
v is e a
::lUtO"-realizada. E servirá como expl icaçio para o meu
mundo, da mesma forma como 5er~ para aqueles a
quem foram dados os mesmos elementos e as mesmas
possibilidades para opçao.
Deve ficar claro. no entanto. que um corpo te6rico
nio tem valor em si; ele nio passa de uma
ferramen-ta. Possivelmente atravcis de distintas
consesuir-5e-ia forjar um mesmo produto; o artesio
utiliza aquela(s) que lhe parece(m) a(s) mais
apro-priada(s) hs suas mios. h sua habil idade. A forma
pela qual o artesio trabalha tem importância para
si; ao social interessa o produto. E o produto da
ciincia está vinCUlado expl icitamente com o
conhe-cimento da real idade; preocupar-se com a forma pela
qual esse conhecimento ci real izado nao passa de
atitude pol {tica. Nunca cient{fica.
R « nua n u n u n u n u n n n
o
fato de classificar-se a adoçio de uma ou outra1 inha te6rica como atitude poi (tica nao redime o
autor de revelar sua postura quanto h(s) vertente
(5) cientifica(s) de conhecimento que assume neste
texto. ~ neste sentido que se faz mister esclarecer
que 05 conceitos aqui uti 1 izados foram encontrados.
em sua srande maioria, nas correntes de pensamento
derivados da fenomenolosia. em particular na
deno-minada sociolosia do conhecimento.
Embora os autores primeiros da fenomenolosia
(HUS-serl, 5chel1er, e outros) enFatizem a cada momento
a necessidade da n{tida distin,io entre as
premis-sas desta 1 inha FilosÓFica e da ciincia denominada
psicolosia, percebemos um profundo elo de lisa,io
entre elas. De uma forma ou de outra ambas estio
preocupadas em expl icar as atitudes humanas através
da busca dos fatores c,usais do
confessos nas explica,bes - nas
que os individUOS dio a si mesmos
respeito de suas manifesta,bes.
comportamento nao
("'E!P('''E:!sent:
.1'
'::;E!~;ou a outrem a
A psicolosia - mais expl icitamente a pSicanáJ ise
proporcionou
à
biosrafia do autor pontos deinfle-xio Fundamentais no sentido de Fazer com que ele.
através desta teoria, "compreendesse" cada vez mais
o seu "papel no mundo" e suas uinexpl icáveis
atitu-des do dia a diau•
Ora, a pSicOJosia passa, a partir desta série de
contatos, entre eIaiI e o autor - a ser percebida por X
este ultimo como um corpo de conhecimento vál ido.
dotado da capacidade de expl icar.
A identiFica,io com a sociolosia compreensiva é
imediatamente real izada na primeira aproxima,io do
autor a esta; de Forma nio consciente a ponte
psi-cologia - sociologia do conhecimento expl ica~io
do mundo, acontece.
A 50ciolosia do conhecimento Faz sentido. Expl ica
srande parte dos ren6menos que envolvem seres
huma-n ,-,
.. _.u
c:: ,::'...
e.t p ,",(.- "__
c::l. ,-,\._
(',.t:'.Ir.,•• I'" E'>•... ,", t-I'-'í?':>_._ ~:.;.>';:, E:>•.••...•••.I -, •...-,"Ia v':".'t::;'V.•...• (:111f:>novas questbes sursem.
" h " " a nu n n h h n u U " ft
AIsumas pessoas entendem o mundo de uma forma
simi-lar à minha; ~ para estes que escrevo. Assim como
eu, SÓ terio interesse por este texto aqueles que
percebem a catesoria sexual e a proFissional como
os que se interessam pelo sexo feminino e pela
pro-fissio do administrador. E, mais uma vez, dentre
estes, os que encaram a sociolosia compreensiva
7
lula INTRODU~ÃO
As eVOIU,~eS tecnol6sicas havidas nos meios de
co-municafio. transportes. e todas as demais áreas que
permitem ao homem acesso a culturas distintas da
sua, tim-no levado. constantemente. a colocar em
xeque toda classe de catesorias sisnificativas a si
mesmo.
~ medida em que aSSimila parcelas de novas cUlturas
em sUbstitUifio a antisas, real iza o ato denominado
por Berser de alterna,io: USitua,io que traz em seu
bojo a possibilidade de que um individuo possa
al-ternar entre Sistemas de sisnificado
losicamente-contradit6riosu( t).
A operacional iza,io da alterna,io sem choques se dá
através de constantes reinterpretaf~es de um mesmo
passado vivido. u~ medida que nos lembramos do
pas-sado. o reconstru{mos de acordo com nossas idéias
atuais sobre o que é e o que nio é importante. ~ o
que os pSic610sos chamam de percep,ao seletiva".
embora seralmente apl iquem o conceito ao presente.
Isto sisnifica que. em qualquer situa,io dada.
diante de um n~mero quase infinito de coisas que
poderiam ser notadas. 56 notamos aquilo que tem
re-levância para nossos objetivos imediatos. o resto
isnoramosn( 2). ~ srafas. portanto, à intencional
i-dade de nossa consciincia, que nos afastamos dO
pe-riso de "enlouquecerU frente à ado,io de novos
sis-temas de valores.
o
termo "intencional idade de uma consciinCia" nao éaqui uti 1 izado de forma casu{sta; baseia-se em
con-ceitos propostos pelo fi16s0fO Edmund Husserl
(lB59-193B) na constru,io dos princ{Pios da
metodo-losia cient(rica denominada fenomenolosia, entre 05
quais. 05 a sesuir apresentados.
bási-cas que diferenCiam fenomenolosia das demais
cifun-cias sociais: percebendo que as ciincias sociais
tomam como pressuposto os fen6menos que possibil
i-tam a intersubjetividade de pensamento e a~io entre
os indiv(duos questiona a respeito das causas
via-b iI i2Cldol···'~.sdl:~ta1 intel·-sl..!bjE~t iv id<~d€~n 01..1 ~::ej
,t..'
t··s-··Clama por e procura as SUPoSi,~es subjacentes (e
impl ica,~es) a esta intersubjetividade, e conclui
ser este,. prisma do assunto um interesse nClO das
cienciCls sociais em si. mas da filosofia.
Percebemos em Husserl, portanto. nio Cl busca de umCl
novCl 1inha filosófica. mas antes. uma
sistematiza-,io dos pressupostos intr{nsecos ~s IinhCls
filosó-ficas já elaboradas. 01..1 seja. se se pode imasinar
que FClzer ciincia ~ descobrir o que há de comum
en-tre catesorias aparentemente desconexas - e que até
entio encontrava-se UocultoU ao cientista - o
méto-do fenomenolósico pretendeu dar mais um passo na
d ir(~<j:
~i
o ai:é
e nt:io o r::I,A I t:<~i:r
o c<~minho • 'iP;'11·-.1 df~f inir' a intencional idade da r::onscifuncia.
HusserJ se util iza de uma linha de rClcioc(nio que
parte do uprimeiro fato indubitávelu• a eXistincia
de uma consciinCia pessoal. baseando-se em duas
constata,~es. A primeira diz que nenhuma pessoa
he-sita em acreditar que sente o própriO pensar e que
distinsue o estado mental como uma atividade
inte-rior diferente dos objetos que pode I idClr em termos
de cosni,âo. A sesunda reza que toda a consciincia
~ sempre consr::iincia de alsuma coisa (tOdo c09ito
tem seu c09itatum). E. partindo da id~ia que a
aná-lise da consciincia ~ a análise dos atos com que a
própria r::onscifunCia se relaciona com os seus
obje-tos (ou. o que ~ o mesmo. das Formas como estes
ob-jetos se dio
à
consr::iincia) define intenr::ional idCldeda consr::iincia como as formas através das quais os
objetos se entresam à consciincia (ou, o que ~ o
mesmo. os atos da r::onscifuncia).
o objeto - no r::asoo passadO - se entresa ~
de distintas formas nos periodos pr~ e p6s alterna-,ao.
Cabe. neste momento, refletir sobre uma poss(vel
extrapola~io do pensamento bergeriano atravcis da
uti 1 iza,io da intencional idade tenomeno169ica. 5e o
passado - enquanto objeto - se entre9a ~
consciin-cia de modos diferentes. entio o futuro tambcim o
faz. E da mesma maneira que o individUO altera a
leitura de um mesmo passado, ele previ distintos
o choque
alterna-fins/objetivos futuros de sorte a impedir
com a nova matriz de valores adotados na
Ou seja, o individUO, a cada mUdan,a Ualtera o seu
passadoN atravcis da re-leitura, e "altera o futuro"
via re-defini,io dos objetivos. Ele está, portanto,
"centrado no presente", e, a todo momento.
lesiti-mando a Si e aos outros este presente atrav~s de
passados e futuros criados e recriados. Os fins nio
justificam os meios. Os fins sio criados para
JUS-tificarem os meios que, por sua vez, em al9um dia,
podem ser substituídos por outros (meios). Neste
sentido, cabe um alerta onde parafraseamos Berger:
a verdade de hoje nio tem nenhuma prioridade
epis-temol69ica sobre a de ontem, nem sobre a de amanhi,
assim como a de amanhi e a de ontem nio a tim sobre
a de hoje.
~ de onde viria essa necessidade de se auto
justi-ficar, de se auto definir, de se auto rotular?(~)
Se um individUO soubesse - e soubesse que os outros
soubessem - O que. quem, etc, ~le ci, nio haveria a
necessidade da derini,ioJ da auto derini,io. 5e,
dado o nosso 9rau de conhecimento, todos n6s
sou-bermos que neste momento estamos frente a uma
má-quina tipo XPTO modelo 27alfa, nio haverá
necessi-dade de defini-Ia; se. no entanto, al9um de n6s nio
souber com exatidio tipo, modelo ou ambos. haverá a
necessidade de defin(-Ios ~ medida em que a máqUina
10
Pressupondo que o indiv(duo interessa-se por si
mesmo, ele sentir-se-ri inc) inado a se definir, para
si pr6prio e/ou para os outros, à medida. em que
perceber d~vidas a este respeito tanto em si como
nos OI.J.t:I'''O~;:"
Podemos considerar que um componente poss(vel da
gera,io da d~vida
é
o fato de nos percebermos comoum conjunto ori9inal de caracter(sticas e um
con-Junto assimi lado de caracter(sticas" Dentre as
ca-racter(sticas asSimiladas estio aquelas que vieram
complementar as ori9inais, por um lado, p aquelas
que vieram SUbstituf-las, por outro. Se, em um dadO
momento de nossa Vida, percebermos com desa9rado
uma destas SUbstitui,~es, per9untar-nos-emos: quem,
o que, verdadeiramente (ori9inalmente) sou eu?
Diversos cientistas tim se dedicado a estudar nao
s6 o desenho dO comportamento do ser humano, mas
,', _.
tambem a 109ica da estrutura,ao de tal desenho,
en-quanto Frutos de elementos provenientes tanto de
determinismos sociais como de voluntarismos
indivi-duaiS. Esta questio se nos apresenta i9ualmente
in-teresse
à
medida em que se percebe a importAnciados componentes sociais e individuais na escolha de
um curso superior.
f\
Ap6s breve apresenta,io do pensamento de tres auto- ~
res - a saber: Peter Berger, Pierre Bourdieu e
Da-vid Cooper (onde os dois primeiros sio soci6!090S e
o terceiro PSiqUiatra) nos concentraremos com
maior profundidade nos conceitos por eles
veiCUla-dos que apresentem maior interesse para a anril ise
do material buscado em campo.
Berger analisa esta questao sob dOiS prismas" Num
primeiro momento aval ia as formas pejas quaiS o
in-diV{dUO assume, "internaI iZa", OS valores do
so-cial; num se9undo momento - sem fazer uma conexao
entre os dOiS - apresenta as exterioriza,~es
daqui-lO que ele considera o "Ama90" do ser humano: seus
mersu-1 mersu-1
lhar no horror da inevitabi Iidade dos caminhos
tra-,ados pelo social. recupera o individuo quando este
externa o seu ueuu atrav~s das contesta,6es. das
revolu,6es. Muito embora tenha real izado de forma
exemplar a apresenta,io dos fatores sociais e das
formas como estes fatores se apresentam ao
indivi-dUO, quando sai em busca da recupera,io do
indivi-duo vai encontrá-la nas mudan,as p revolu,6es que
ele imprime ao meio ( 5).
o autor nio atinse, portanto, a nosso ver, o
obje-tivo de apresentar as formas pelas quais se dio
conjuntamen~e ao individuo 05 determinismos sociais
e os voluntarismos individuais que comporiam e
ex-pl icariam o comportamento do individuo (6). No
entanto. real iza a importante tarefa de ressaltar/
privilesiar 05 elementos importados do exterior
(social) pelo individuo enquanto adquiridos enio
Ct·· i<~.dos.A impo'···i:ànci(~Id(~ob,·-adE~ f:;f:~'·-!!H:?'·- _.. (~~::sim co-o -(
• J'
--mo a de outros autores recentes - esta nao em uma
tentativa de expl ica,io do comportamento do
indivi-duo mas sim em desmitificar o ser humano enquanto o
~nico decisor de seu pr6prio destino.
Pierre Bourdieu. por sua vez, em sua teoria
socio-169ica privilesia mais uma vez os componentes
so-Ciais do comportamento individual. praticamente
abandonando o uselfu do individuo: "o estilo
pes-soai, isto ~.' aql.lE~lf~sE~lo p.lr·i:icul.ir·qUE~ t:r·a:;~€!mto····
dos 05 produtos do mesmo habitus. práticas ou
obras. nunca é mais que um desvio, ele pr6prio
re-sUlado e por vezes codificado, em rela,io ao esti lo
pr6prio a uma ~poca ou a uma claSSe"( 7)
David cooper. atravcis da constata,io dos fatores
sociais que sujeitam o individUO a ser "also
dife-rente do que ele na real idade ci", prop~e susest~es
revolucionárias para a "1 iberta,io do individUOU.
se9undo ele una real idade. o que basicamente se
en-sina ~ crian,a nio é como sobreviver na sociedade,
mas como SUbmeter-se ~ ela" (6) e ainda: U[J" por
12
que a doutrina~io da fam{lia ultrapasse um certo
ponto, e antes que a doutrina;io da escola primiria
comece ~, embrionariamente, pelo menos, um artista,
um visionirio, e um revolucionirio. Como recobrar
este potencial perdido, como come~ar a recuar na
inexorivel marcha que nos leva. dos jOsos
verdadei-ramente l~diCOS e alesres que criam a sua
disci-plina aut6noma, ao l~drico, isto~, ao
comportamen-to social normal com sua trama de josuinhos?H ( ,).
Numa abordasem sist&mica, pOderiamos considerar que
Bourdieu e Berser tim se limitado a analisar doiS
sistemas interdependentes onde um abranse o outro.
pOder{amos esqUematiz~-IO da sesuinte maneira:
U h d " " a n " " n n n " n n n n u n n n n n " n n u n n n u n «u n n n
social individuo
h n n n " " u n n " n n n " n " n n n u nu" n n n n n u« " " u " n h "
A nosso ver, enquanto os demais elementos do
siste-ma que se relacionam com os neste esquema
represen-tados nio forem detecrepresen-tados e caracterizados, seri
pouco frut{fera a continua~io dos debates a este
respeito ~ medida que eles objetivarem uma expJ
ica-;io abranjente e definitiva do comportamento
huma-no. Enquanto nio se considerar os demais eventuais
elementos componentes dO todo onde o social ~ só
uma parte, seri muito dificil formal izar
definiti-vamente as confisura;~es que assumem as influincias
de u~ no outro.
POder{amos. para a investisa,io desta questio
espe-cifica, seSUir os passos de Cooper: H[JH AI~m
dis-so. a expressio nao 10n90 de toda a sua vidaH nio
se refere ao per{odo de vida biolÓSica do
que talvez possamos. em certo sentido, viver e
pas-sar por várias experiincias antes e depois dos
fa-tos biológicos do nascimento e da morte; como
tam-bém nio se exclui a possibiJ idade de se construir
uma fenomenologia concreta a partir deste ginero de
experi&nciau (10). Nio está eXC}u(dO o fato de que
talvez possamos ser influenciados por toda a sorte
tanto de uvivinciasu experimentadas como de objetos
animados e inanimados que participem de tais
expe-ri&ncias, uma vez serem todos portadores de
ener-gias.
Nio é objeto deste trabalho. no entanto. estUdar
este prisma da questio. Limitar-nas-emas a
simples-mente expor de forma sucinta os conceitos
elabora-dos pelos autores supra citados (e de outros que se
ra eam con ven ien tE~~::)qUE! no~;:v ia.bi1 i:ir.·if)·ct inVE:!~;:ti!:-Ja-~
iio a respeito dos seguintes tópicos: agrupamentos
d(~ ineliv {dIJ.OS.,ind iv idU<!.<;:iodo (~U n o s !:!J·-IJ.P05!~d(~-··
terminismos sociais no indiv{duo. Desconsidera.ndo a
ordena<;:io dada, eles apa.recem como elementos a.
se-rem estudados a partir do momento em que se detecta
a influincia do social no indiv{duo. 5esuem-se
en-tio a.s quest6es:esta influincia, no grau em que ho- ~
ja é exercida sempre existilJ.? ~ truto da
convivin-cia em grupo e/ou de outros fatores?, por um lado,
e em que medida existe a pos5ibil idade de se evitar
1.2. O "GRUDAR" 005 GRUPOS
Guerreiro Ramos(t). te6rico de orsaniza~~es} aborda
a questio da asre9a,io humana sesuindo a I inha de
racioc{nio que parte do pressuposto sesundo o qual
o ser humano j~ teria. em tempos passados.
experi-mentado uma vida humana associada resida pela razio
substantiva. Reportando-se. para tanto. aos
ensina-mentos dos pensadores cl~SSiCOS. sesundo os
o homem distinsue-se de outros animais que
quais. parti-lham uma social idade com semelhantes pela percep,io
que ele tem da atividade da razio em sua pSique; e
7
~ atrav~s do exerc{cio da razio que transcende a ~
condi~io de ser puramente natural e socialmente
de-terminado. e se transforma num ator pol {tiCO. Posto
que as atuais correntes de pensamento veiculam uma
visio puramente sociom6rFica do homem. a plena
atua! iza,io do indiv{duo passa a ser entendida como
a sua total socializa~io. quer sob as condi,~es
presentemente OFerecidas. quer num futuro est~sio
social.
o
homem. portanto. teria deixado de lado apr~tica que mant~m a sua individual idade - o ser um
ser pol{tico - para substitui-la por uma pr~tica
que a anula - o ser um ser SOCial e. portanto.
definido pelo social.
Apresentamos a sesuir. de fo~ma
idéias de Elliot Jacques. no que
sum~ria. alsumas
diz respeito ao
estudo de sistemas soCiais enquanto deFesa contra
ansiedades.
o autor, atrav~s de seu artiso uLos sistemas
socia-les como deFesa contra las anSiedades persecutoria
~ depresivau pretende. atravcis dos resultados
obti-dos a partir de um trabalho emp{rico. concluir que
um dos elementos de coesio prim~rios que consresam
individuos em associa~~es humanas institUCional
iza-das ~ a da deFesa contra a ansiedade pSic6tica.
pro-postos por Freud. Mellita 5chmidebers, Melanie
Klein e B~on, ressaltando que este 0ltimo sUgeriU
que a vida emocional do srupo ~ compreensível
uni-camente em termos de mecanismos pSicóticos.
-Retomando conceitos de Freud e Klein, propoe que se
tome como ponto de partida na psiCOlOgia srupal a
relaiio entre o srupo e seu líder que se encontra
sediada numa rela,io de identifica,io dos membros
do srupo com o I {der por um lado. e dos membros do
grupo entre si, por outro; Tal identifica,io
dar-se-ia através de dois mecanismos: o de introJe,io
(identificaiio do eu com um Objeto) e o de proJe,ao
(SUbstitUi,io do ideal do eu por um objeto externo)
(2). A seSUir cita exemplos de mecanismos sociais
contra ansiedades paranóides: colocar maus impulsos
e objetos internos em membros particulares de uma
institui,io, 05 quais, por sua vez, seja qual for
sua funiio expl fcita em uma sociedade,
cientemente selecionados, ou procuram
introjetar estes Objetos e impulsos
(3), e contra ansiedades depressivas:
sao
incons-eles mesmos
prOjetados"
NOS
mecanis-mos internos de dissocia,io e a preserva,io dos
Ob-jetos internos bons dos individuos, e o ataque e o
desprezo aos Objetos internos maus e persecutórios,
sio refor~ados pela identifica,io introjetiva do
indivíduo com outros membros participantes de um
grupo que se julga "corretoU frente a um grupo
jul-sado "incorreto/erradou (~).
E' termina por concluir que:
• através de uma associaiio a grupos, os individuOS
potencialmente portadores das ansiedades
(PSiCÓ-ticas) externaI i2am os impulsos e Objetos
inter-nos, de sorte a nio se tornarem/manterem vitimas
~e tais ansiedades. e que:
• o "benefiCiO para o indivíduo que real iza a
pro-je,io de objetos e impulsos e a introje,io de sua
evolu,io no mundo externo reside na cooperai ao
inconsciente com outros membros da institui,io ou
grupo, que empregam mecanismos similares de
Vimos, portanto, para a questio levantada, uma
abordasem de car~ter psicol6sico que poderia.
psico-17
1.3. A INDIVIDUA~io DO SER
Como j~ foi dito, embora Berger nao indique o
cami-nho de liberta,io do indiv{duo de uma uprisio
de-terminislicaH social. deI ineia a forma atravcis da
qual se manifesta o "ser em si mesmo". o "ser paI (-tico". se usasse a terminolo9ia de Guerreiro, atra-vés do conceito de ixtase.
Para che9ar a este conceito. pacidade dOS
9rupalmente,
homens, seja
de contestarem a
Berger constata a
ca-individualmente, seja
ordem estabelecida:
NA engenhosidade de que os seres humanos sio
capa-zes para contornar e subverter at~ mesmo o mais
complexo sistema de controle representa um ant{doto
para a depressio SOCio169ica. ~ em termos de aI {viO
pela quebra dO determinismo social que se expl ica a
simpatia que frequentemente sentimos pelo
vi9aris-ta, impostor ou charlatio (pelo menos desde que nio
sejamos v{timas)n (1). E. na busca da expl ica,io
para a possibilidade da contesta,io. da revolu,ao.
recupera e expande o conceito de "distanciamento do
papel" sUgerido por Gorrman (2), se9undo o qual a
dupl icidade proporcionada pelo ato de desempenhar
um papel com reservas mentais. sem convic,io e com
um prop6sito ulterior Cren6meno produzido em
situa-,~es fortemente coercitivas), "constitui a ~nica
forma pela qual a di9nidade humana pode ser mantida
na consciincia pessoal de pessoas em tais
situa-,~es" (3) (rortemente coerCitivas). Na util iza,io (e uexpansio") de tal conceito. Berger desvincula o ato de exercer a "dupl icidade" das situa,~es
coer-citivas: "Entretanto. o conceito de Goffman
pode-ria ser apl icado a todos 05 casos em que um papel ~
deI iberadamente representado em identifica,io
inte-rior. ou. em outras palavras. em que o ator
estabe-lece uma distAncia interior entre sua consciincia e
sua representa,io" (~). E continua: "Um conceito
~til para trazermos
à
baila a90ra é o de ixtase.lB
consciincia num sentido mfstico. e sim.
Iiteralmen-te. ao ato de se manter do lado de fora ou dar um
passo para fora (etimolosicamente ekstasis) das
ro-tinas normais da sociedade - que possibilita o
dis-tanciamento. a dup) icidade. o fazer e o refletir
simultineos • Tio 10so um dado papel ~ representado
sem comprometimento interior. del iberada e
fraudu-lentamente. o ator se encontra em estado de êxtase
com reJa,io ao seu umundo ÓbVion• Aquilo que outros
encaram como destino. ele vê como um conjunto de
fatores que deve levar em considera,io em suas
ope-ra,~es. Aquilo que outros vêem como identidade
es-sencial. ele trata como conveniente disfarce. Em
outras palavras. o êxtase tranSforma a consciincia
que se tem da sociedade. fazendo com que
determina-,ao se converta em possibilidade" (5).
E por que a atitude de ixtase nio seria aquela maiS
comumente encontrada nos indiv{duos? Por que. com
uma treqUênCia muito maior. os homens abandonam-se
aos des{snios sociais ao inv~s de "assumir a si
prÓprios" atrav~s de uma atitude de êxtase? O
au-tor. recuperando a
Umá-té"
postulada por Sartre.cita-o: nEm termos muito simples. Umá-rci" consiste
em simUlar que alsuma coisa ci necessária. quando.
na verdade. ~ voluntária. Assim, a "má-tciu
consti-tUi uma fusa da 1 iberdade, uma desonesta evasao à
asonia da op,io (srifo meu) (••• > A sociedade
pro-porciona ao indiv{duo um giSantesco mecanismo
atra-v~s do qual ele pode ocultar a Si mesmo sua própria
liberdade (.u.) a sociedade nos Oferece estruturas
consideradas Óbvias (poder{amos tambcim falar aqui
dO "mUndo aprOVadO") dentro das quais, enquanto
se-gUirmos as resras. estamos protegidOS dos terrores
de nossa condi,io (9rito meu). O "mundO aprovadou
proporciona rotinas e rituais atrav~s dos quaiS
es-ses terrores sio organizados de tal maneira que
possamos enfrentá-los com uma certa calma. Todos os
ritos de passasem ilustram essa fun,io. O milasre
do nascimento, o mistério do desejo, o horror da
morte (srifo meu) - todas essas coisas sio
transpor umbral por umbral. aparentemente numa se-qu&ncia natural e evidente por Si mesma; todos nós
nascemos. sentimos desejo e morremos.
um de nós pode ser protesido contra
inimasinável desses acontecimentos [J
E:!:':A~:;Sim C::ida
a marav t tha
A soc i!?dad!?
nos oferece cavernas quentes. razoavelmente
confor-táveiS, onde pOdemos nos aconchesar a outros
ho-mens. batendo os tambores que encobrem os uivos das
hienas na escuridio. txtase ~ o ato de sair da
ca-verna, sozinho. e contemplar a noite" (6).
Numa interpreta,io poss{vel dO autor, ~ o
desconhecido. aparentemente inexpl icável.
o individuo a buscar a sesuran,a junto
Ihantes, SUbjusando-se ao conjunto de
mE?do dO qUE! J f:!va :~,os Sf:!mE!-" .::at:e aor i<~s
aprovadas pelo srupo composto por si mesmo e pelos
S(?'11H?1h an (:(:!~;:••
Com rela,io às considera,~es bers~rianas a respeito
do individuo "escapando" às tramas sociais. vimO-lO questionando-se sobre a possibi I idade da existéncia
de srupos sociais que de per se favorecem o
sursi-f I ' ., - I· " .. •
men eo era 51 .:ua~:<~o::.c;(? e~,:t:aseno s indivlduOS)f o au+or X
recupera a atirma,io de Karl Mannheim quando este
afirma que a natureza das atividades exercidas pelo
srupo da "inteII isenzia I ivremente suspensa" (ou
seja. a camada de intelectuais que tem uma
partici-pa,io m(nima nos interesses da SOCiedade) leva-a a
se constituir um dOS melhores portadóres de uma
existéncia social "I ivre" e consciente tanto das "representa,~esu como dos "papéiS" sociais que as
constróem. E ~ através da sua constata,io, onde
lembra que tia 1 iberdade dos pap~is sociais tem
lU-sar dentro de I imites que tamb~m sio sociais" (7)
que nos remetemos às considera,~es de Bourdieu a
respeito das "propriedades dos campos" enquanto tentativa de expl icar o "desvio", a "sarda"" como
uma fun,io preVista e prédeterminada por este
cam-po, enredando-nos. talvez, um pouco mais na "trama" social.
pOSi-20
cionamento de Gilberto velho a respeito do ser
udesviante", daquele que se diferencia; em nosso
caso aquele individUo que, conseguindo atravessar o
umbral da vivincia uinconsciente" que se d~ atrav~s
dos pap~is sociais. "encontra-se" e vive momentos
de "ixtaseu• O autor deixa claro que em sua
concep-~io o desvio nio ~ caracter{stica do individuo em
si ou do grupo em si. mas produto d~ intera~io de
ambos. Citando Erikson, afirma que "o comportamento
humano pode variar amplamente, mas cada comunidade
estabelece parinteses simbÓlicos em volta de um
certo segmento dessa ampl itude e Jimita suas
pró-prias atividades dentro dessa zona demarcada. Esses
parinteses sio, de certa forma. as fronteiras da
comunidade. [J Formas de comportamento desviante,
marcando os J imites externos da vida do grupo. dio
~ estrutura interna seu caráter especial p assim
fornecem o arcabou,o dentro do qual as pessoas
de-senvolvem um sentido ordenado de sua própria
iden-tidade" (a), ou seja. busca na inter-rela,io
grupo-individUO, uma vez que o grupo dita a regra e o
in-dividuo assimila a origem do desvio. E nos Jeva,
mais adiante em seu texto. quando tece
considera-,6es a respeito de cuidados que um antropÓlogo deve
tomar ao exercer seu trabalho empfrico, a
entre a defini,io - e assump,io - dO desvio
fac,io(6es) que detém o poder no grupo.
rela,io
e a(s)
"O antropÓlogo no campo. ao Jidar com pessoas, é
mais capaz de perceber como sio elaboradas
estraté-gias de vida particuJares. Mesmo ao procurar
pa-dr6es e regularidades a sua experiincia pode
mos-trar, se nio estiver numa postura excessivamente
rfgida, que os individuos e SUbgrupOS fazem
leitu-ras particulares de sua cultura. em fun,io de suas
caracterfsticas próprias. Há, portanto. uma gama de
varia,6es que nio impossibil ita a procura de
pa-dr6es. o que acontece, muito frequentemente, é que
o investigador nio quer ver tais varia,6es como
possibilidades dadas pela própria situa,io
sóciO-cultural em que estio interagindo as pessoas. Neste
21.
Uinadapta,ioU• etc. Ao raz~-lo, poderd estar
toman-do como verdade cient{fica as representa,~es de
al-suns indiv{duos ou de uma rac,io dentro da
socieda-de estudada. Ou seja, estard trabalhando com um
mo-delo estdtico e parcial que pouco o aJUdará. Em vez
de apreender poss{veis conf. itos e problemas
estru-turais. estard simpl ificando a real idade, assumindo
a ideolosia de um srupo de indiv{duos, seralmente o
que tem mais poder (srifo meu). O udesviante",
den-tro de minha perspectiva, ~ um individuo que nao
est~ fora de sua cultura masque faz uma "JeituraU
diversente. Ele pOderd estar sozinho (um desviante
secreto?) ou fazer parte de uma minoria orsanizada.
Ele nio ser~ sempre um desviante. Existem áreas de
comportamento em que aSirá como qualquer cidadio
"normal". Mas em outras áreas diversirá. com seu
comportamento, dos valores dominantes (srifo meu).
Estes podem ser vistos como aceitos pela maioria
das pessoas ou como implementados p mantidos por
srupos particulares que tim condi,~es de tornar
do-minantes seus pontos de vista (srifo meu) C,).
Pela primeira vez neste texto ~ levantado o
concei-to de poder, de srupo dominante.
t
importante quese perceba a sua relevincia na determina,io antes
na forma do processamento da diVU}sa,io dos valores
("bons ou maus") do srupo dominante. do que em
seu(s) conte~do(s) espec{fico(s), para o nosso
ca-so. Adentraremos neste t6PiCO de forma sutil nos
pr6ximos parásrafos, e de maneira mais aprofundada
quando das considera,~es a respeito dos
determinis-mos ~:ociais.
••• A
Avisa0 sistemica do 60urdieu parte do pressuposto
dE~ que "05 c::lmpos SE:! ::lpt"·E:!~.ent:am
à
p·mr·cE:!p,~iosin--cr6nica como mspa,os estruturados de posi,~es (ou
de postos) cujas proprimdades dependem das posi,~es
nestes espaios. podendo ser anal isadas
independen-temente das carac~er{sticas de seus ocupantes ( ••• )
A estrutura do campo ~ um estado da rela,io de
for-'::A E:!1"lt:t-E:!o s ::1sE:!ntE:!~'Ül.! as ins t it1..1.i(j:ÓE:!5en!:J;:lj.ld::lSn a
22
especifiCo que, acumulado no curso das lutas
ante-riores, orienta estrat~giaS ulteriores. [J Aqueles
que, num estado determinado da rela,io de for,a.
monopoJ izam (mais ou menos complementarmente) o
ca-pital especifico, fundamento do poder ou da
autori-dade especifica caracter(stica de um campo. tendem
a estrat~giaS de conserva,io - aqueles que nos
cam-pos da produ,io de bens culturais tendem ~ defesa
da ortodoxia -, enquanto os que possuem menos
capi-tal (que frequentemente sio também os
recém-Chega-dos e portanto, na maioria das vezes, os mais
jo-vens) tendem a estratégiaS de sUbversio - as da
he-resiaH (10).
Ou seja, ele atribui a UorigemU do herétiCO, do
desviante, do ser classificado (e portanto
assumin-do essa classifica,io) como tal, ~ sua condi,io de
desprovimento de capital, quando comparado aos
de-mais individuos, ~s demais unidades do campo. Mas
deixa claro. no entanto, que esta postura ser
classificado/assumir a classifica,io torna-se
possivel ~ medida em que o elemento em questio se
prop~e/disp~e a tanto, ato que se d~ na sua
aceita-,io ~s regras do campo. quando entra nesse: "todas
as pessoas que estio engajadas num campo t&m um
certo n~mero de interesses fundamentais em cumum. a
saber, tudo aqui)o que est~ 1igado ~ pr6pria
exis-t&ncia do campo: dai a cumpl icidade objetiva
subja-cente a todos os antagonismos. Esquece-se que a
lU-ta pressup~e um acordo entre os antagonistas sobre
o que merece ser disputado, fato escondido por trás
da apar&ncia do 6bViO. deixado em estado de doxa,
ou seja, tudo aqui lO que constitui o pr6prio campo,
o jOgO, os objetos de disputas. todos os
pressupos-tos que sio tacitamente aceitos, mesmo sem que se
saiba, pelo simples fato de jogar. de entrar no
jo-90. Os que participam da luta contribuem para a
re-produ,io do jOgO contribuindo (maiS ou menos
com-pletamente dependendo do campo) para produzir a
cren,a no valor do que está sendO disputado. Os
re-c~m-che9ados devem pa9ar um direito de entrada que
se-23
le,io e a cooPta,io dio sempre muita aten,ao aos
(ndices de! adesio ao jOgO, de investimento) e no
conhecimento (prática) dos principios de
Funciona-mento do jOgo. Eles sio levados à estrat~gia de
sUbversio que. no entanto. sob pena de exclusao,
permanecem dentro de certos 1 imites. E de fato. as
revolu,8es parciais que ocorrem continuamente
(gri-FO meu) nos campos nio colocam em questio
prios fundamentos do jOgO, sua axiom~tica
tal. o pedestal das cren,as ~Itimas sobre
repousa o jOgO inteirO" (11).
os
pr6-
fundamen-as quais
Pelas palavras do autor pOderiamos concluir nao s6
que algumas posi,6es pertencentes a um campo
espe-ciFiCO Favorecem o udesviou, a sarda, mas tamb~m
numa extrapola,io da id~ia, que alguns campos o
fa-zem com rela,io ao Sistema que os envolve: a
estru-tura; levando-nos a perceber que até mesmo o
uen-trar em ixtaseu• "ver-se a si mesmou,
"cOnscienti-zar-se dos determinismos" é. (ao menos em parte)
socialmente dado.
Uma vez levantadas a~ condii6es de U) iberta,io do
individuo via ixtase (e alguns corolários)
vejamo-las sob o prisma cooperiano. Segundo ele, ~ atrav~s
da famll ia que incorporamos os valores e os "modos
de serU "sugeridos" pelo social.N[] A Faml) ia ~ x
especialista em estabelecer pap~is para os seus
membros. mais do que em criar as condii6es para
ca-da um assumir livremente a sua identidade [ ] a
fa-m{} ia, na sua Fun,io de social iza,io prim~ria do
individuO, instila controles sociais na crian,a em
doses nitidamente maiores do que precisa para
nave-gar no rumo certo na corrida de obst~culOS
promovi-das pelos agentes extrafamil iares do Estado
bur-suis: a pol {cia. os burocratas das universidades.
os psiquiatras, os assistentes sociais e
pria" Famil ia que o individuo Forma quando
a
"pr6-adulto.
recriando passivamente o modelo Familiar dos pais.
[ ] Na real idade. o que basicamente se enSina
à
crian,a nio é como SObreviver na sociedade, mas
~, da mesma forma que Goffmann. acredita que ~ via
situa,io coercitiva que ocorre a I ibera,io do selr,
situa,io rara e proporcionada. portanto. pela
pró-pria fam{l ia: nA fam(l ia nio ~ apenas uma
abstra-<tão. ist:o~. uma rais a !:!>:ist:Ê!nci.t.. uma
ela existe tamb~m como um desario para o
tentar superar todo o condicionamento a
teve que se submeter" (ariro meu) (13).
E;!SsÉ~ncia.: indivíduo
C:I'.H! nt?1::1
Cooper susere ainda as etapas pelas quais passa o
indiv(duo para transportar-se de um estado de total
aliena<tão ao de total encontro consiso mesmo. onde
está 1 iberto dos condicionamentos (rami 1 iares).
Uti I izando a etimolosia sresa prop~e q estásios
b~-sicos: o primeiro. da Ekn6ia. ci o estado normal do
Cidadão bem condicionado, eternamente obediente e
no qual ele se encontra tio alheio a todas as
race-tas da sua própria experiincia pessoal (arifo meu)
(lq) que se poderia considerá-lo como rora de si; o
sesundo. da ParanÓia, ci uma proximidade do selr que
" ~.
pode se tornar afetuosa. e o come<to de uma
existen-cia ativa. onde h~ possibiJ idade de vida para novos
projetos; o terceiro. da N6ia. ci o que encontra o
individUO autoconsciente. estando em si mesmo.
vi-vendo como pessoa distinta das outras pessoas na
sol idio nio sol it~ria (arifo meu) que se abre para
o mundo. e. criando corasem. arrisca-se a
enfren-tar qualquer experi&ncia nova no imbito da rela,io
de si consiso mesmo. tornando-se 1 ivre para
permi-tir um fluir seneroso do seu seIf para o mundo; e
finalmente, o quarto. da An6ia, onde nao importam
mais Uestados de serU, p nem a ilusória sesuran,a
que tais estados representam. O individuo passa de
um estado a outro atravcis de Metanóias. que
siani-fica mudan<ta a partir das profundidades do ser at~
as superfíCies da aparincia social.
Embora o autor não deixe claro nem o conte0do nem
as formas que deveriam estar presentes para que as
metan6ias se tornem poss{veis viabil izando o
---para tal viabi Iiza,io: "Provavelmente, a ~nica
ma-neira pela qual as pessoas que se srudam umas ~s
outras, na fam(lia e nas outras institui,~es
so-ciais, réPJ icas da fami, ia, podem se dessrudar uma
da outra é por meio do calor do amor. A ironia é
que o amor s6 esquenta o bastante para dessrudar
pessoas uma das outras. quando transp~e certa
re-siio. seralmente experienciada como ~rtica: a
re-siio do total respeito do indiv(duo pela sua
pr6-pria autonomia e peja de todas as outras pessoas
que conhece (.n.) Ninsuém maiS pode pensar em amar
outra pessoa enquanto nio for capaz de amar
sufi-cientemente a si mesmo. O amor a si mesmo neste
ca-so sisnifica a plena consciAncia dO pr6prio corpo.
tanto em termos do seu
bras. sua total idade.
claras. como também em
exterior, suas presas e
do-suas obscuridades e zonas
termos da experi~ncia
inte-sra! das suas partes interiores: é preciSO conhecer
as flutua<j:;::;esd:'1mu scu ia+ur a irH:est:in::ll, 05 sson ss
dos ureteres sotejando na bexisa, o sansue em cada
ventr{cu}o do cora,io. E, entio. como uma
quase-Ob-Jetividade do fisiolosista que estudou o pr6prio
corpo. pode-se desfazer a sua compartimenta,io num
sesto de amor a si mesmo. ~ preciso entrar o mais
totalmente poss{vel na sensa,io erétil-eJaculatória
do Cl {toris ou do p~nis" (15).
Vimos. portanto. a abordasem de dois
que diz respeito ~s possibi Iidades e
que viabil izam a individua,io do ser
lha desde sempre a vivincia em srupo
t:!:!I:Ij""ico s no
con f' i!3UI'-a<j:':;r:~~;;
qUE:1 comp:'1j""t
i--e ql_leé, POI'-'-'
e~':p1i ....
tanto, por este influenciado. Ambos. se nao
citamente. suserem que a for,a motora que
individuo a distanciar-se de seu papel
1I,!'v'a
social
sair em busca de si mesmo encontra-se no pr6prio
seio das rela,~e5 que seraram a ado,io do papel.
E::mbor'a1:;r:~I'''!:!E~I'-s aí iEmte a ma i(li'" pt",:d;:'clb i1 id.ld(~
d
e )iocorr~ncia desta autoconscientiza,io em srupos
es-pec(ficoS. é importante perceber que nenhum deles
faz o rebatimento desta ocorr~ncia a classes ou
srupos socialmente POSicionados. uns em rela,io a
ocorrincia se dá de forma indiscriminada entre
al-suns componentes do srupo percebido como um todo
homosineo. ~ neste sentido, também, que se faz
ne-cessário expl icitar o pensamento de Bourdieu; p ~
também por esta razio que a nossa tarefa
subsequen-te - apresentar da forma mais abransente poss{vel
as catesorias (e suas impl ica,~es) relevantes ao
entendimento do indiv{duo enquanto fruto do meio
social - leva em conta nio s6 as conSidera,~es de
Berser e Cooper, como tamb~m as proPoSi,~es de
2'7
I.~. O PROCE5SAMENTO DE DETERMINI5MOS SOCIAIS PELO
INDIVIDUO
uCada um vai fazendo a gente em
pedacinhos. né? Esti lha,adosu
- uma entrevistada
-~abltu~J
priticas e representa,~es: aria de Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu em sua obra EquisSeS d1une Theorie
de la Pratique aborda a questio dos determinismos
sociais de forma abrangente. fornecendo-nos os
con-ceitos de habitus, pr~ticas e representa,6es, entre
outros de igual relevAncia.
Primeiramente. diz ele,
é
necess~rio abandonar asUPosi,io inginua adotada por muitos intelectuais
que acreditam numa uconsPira,iou e elabora,io de
estratégiaS por parte de um grupo - aquele que
pa-rametriza o comportamento, a ideologia - como causa
determinante das "COinCidinciasu percebidas quando
se focal iza as atitUdes de elementos pertencentes a
um mesmo grupo. a uma mesma classe social, a uma
mesma classe profissional. etc (1), cren,a esta que
visa antes perceber na classe dirigente uma unidade
e um prop6sito a si mesma exp! {cita, do que expl
i-car os mecanismos através dos quais 05 valores
des-ta classe sio transmitidos às demais.
Faz-se portanto necess~rio recuperar as instAncias
envolvidas no processo (e sua 16gica de
funCiona-mento) para se compreender como se d~ a media,io
existente entre as atitUdes - pragm~ticas
(pr'ti-cas) ou simb61 icas (representa,~es) - dos grupos e
a conveni~ncia destas atitUdes ao "grupo
dirisen-te". Segundo ele U[ J as estruturas. que sao as
partes constituintes de um tipo particular de "meio
--- ~~_._-~~._ ...__.._---_..._---~
ambienteH (environnement) e que podem ser
empirica-mente percebidas sob a forma de resularidades
asso-ciadas a um meio ambiente socialmente estruturado,
produzem habitus que sio sistemas de di5Posi~~e5
duráveiS. estruturas estruturadas predispostas a
funcionar como estruturas estruturantes, ou seja,
enquanto um principio de sera,io e de estrutura,io
de práticas e de representa,~es que podem ser
obje-tivamente uresradasu e uresularesu sem ser de forma
alsuma o produto de obediincia a resras.
objetiva-mente adaptadas a seu objetivo sem supor a
objeti-va,io consciente dos fins e o dom(nio expresso das
opera,~es necessárias para atendi-los e,
conside-rando tudo isso, coletivamente residas sem ser o
produto da a,io orsanizada de um HmaestroH (2).
Ou seja, as estruturas. enquanto formadoras de um
meio mais amplo, em sua rela;io com ele produzem
habitus que sio por sua vez sistemas de estruturas
estruturantes que determinam as práticas dos
indi-V{dUOS. E é ele (o habitus), por sua caracter{stica
estruturante que, ao serir as práticas. nelas imbui
a forma de se reprOduzirem em casos uimprevistosU
levando-as a nio se desviarem dos parimetros por
ele inicialmente estabelecidos (3).
AS práticas. por sua vez. encontram-se
objetivamen-te ajustadas ~s chances objetivas: tudo se passa
como se as probabi Iidades a posteriori ou ex post
de um acontecimento (que sio conhecidas a partir da
experiincia passada) dirisissem a probabi J idade a
priori ou ex ante, ambas subjetivamente
concordan-tes. sem que os asentes real izem um CálCUlO ou uma
estima~io, menos ou mais consciente de atinsir
ob-jetivos. de sorte a levar estes asentes a recusar o
recusivel e amar o inevit~vel (Brifo meu) (~).
Segundo o autor, se o habitus pode tuncionar como
um operador que efetua prasmaticamente o
relaciona-mento de dOiS sistemas de rela,~es - na e pela
pro-du,io da pr~tica - é porque ele é hist6ria
ne-9a enquanto tal (natureza) porque percebe que ~ real izada em uma se9unda natureza; o "inconscien-te" nio ~ nada mais do q~e o esquecimento da
histó-ria, uma vez que ela mesma produz estes estados de
quase-natureza (o habitus) incorporando estruturas
ObjE,?tiva s (~:;)..
Ou seja, a forma,io do habitus se dá atrav~s da
história da estrutura frente ao meio ambiente mais
amplo, e se nos inte9ra de forma inconSCiente, uma
vez que "em cada um de nós, em propor,5es
variá-veis, existe um pouco do homem de ontem, e que,
pe-la foria das coisas ~ predominante em nós, uma vez
que o presente ci bem pequeno se comparado ao lon90
passado no curso do qual fomos formados e de onde
resultamos ..Nós nio sentimos este homem do passado
unicamente porque ele está sediado em nós. ele
constitui a parte inconsciente de nós mesmos" (6).•
Assim sendo, há que se admitir na formaiio do
habi-tus uma necessária amncisia da 9&nese (que retraduz os privi 1~9ios de classe em termos de "dons"
indi-viduais e portanto naturais), para que nio se caia
na JustiFicativa via complb para a desconcertante
coordena,io percebida entre as práticas ..
Poder{amos resumir, portanto, da se9uinte maneira a
visio de 60urdieu a respeito da inFlu&ncia do
so-cial no individual (num processo de exterioridade
interiorizada e posterior interior idade
exteriori-z;;~da):a ""I:!I.A<;:~io v iv id;;lhist:oro ic amen t (~f,?nt:t"m a
e5'-trutura I:!o seu mmio (no qual I:!stá insl:!rida> 91:!ra
um habitus que, por sua vez deFine práticas (e
re-presmntai5es) ..A simi laridade surpreendentm
detmo:::-tada mntre essas práticas revela que o habitus nao
sm I imita à fun<;:io de gerá-Ias. mas o faz
cons-truindo-as com a 'Fórmula' para a sua própria
re-produ<;:io quando surgem o:::asos nio previstos', e
c.on ta., p.tt ..•~ {:ant(I, com o natur'a) ,E?~:;qUE?O:::imen to" dos
homens (espmcificammnte no que diz respeito
à
Dissemos anteriormente que a teoria de Bourdieu
primava por deixar expl {cita a intlu&ncia das
rela-~~es de For~a entre os grupos dominantes/nio
domi-nantes presentes nas estruturas, aspecto que ainda
nio foi venti lado. SegUndO SergiO Micel i HO trajeto
de Bourdieu visa aI iar o conhecimento da
or9aniza-,io interna do campo simb61ico - cuja efic~cia
re-side justamente na possibi I idade de ordenar o mundo
natural e social através de discursos, mensasens p
representa,~es, que nio passam de ale90rias que
si-mulam a estrutura real das rela,~es sociais - a uma
percep,io de sua fun,io ideo169ica e po! (tica e
le-sitimar uma ordem arbitr~ria em que se funda o
sis-tema de domina,io vigente. Tal sOlu,io I i9a-se a
uma determinada imasem da sociedade e. em
partiCU-lar. da sociedade capital ista cujO desenvolvimento
baseia-se numa divisio do trabalho altamente
com-plexa e diferenciada a que corresponde uma
socieda-de socieda-de classes. cujas posi,~es respectivas e cujo
peso relativo encontram seu fundamento nas formas
pelas quais se reparte. de maneira desi9ual, o
pro-duto do trabalho. sob as moda) idades de capital
econ6mico e cultural [ J. Impl ica, ademais, uma
imasem do campo das rela,~es de classes que. neste
caso, é entendida sesundo a rormula,io weberiana,
quer dizer. um sistema de condi,~es e posi,~es de
c Iassf:!H (7)n
~ neste momento - no desenvolver do tema rela~~es
de for,a econ6mica-rela~~es simb61icas - que se nos
aPt-e~:;m'!t~ln âo Sl:~o CP.H:!SE:!E:mtE:mde POt" PO~::i<j:;::IE:!SdE:!
classe (fundamentandO a obra do autor) mas também a
conSidera,io a respeito da j~ citada estrutura. H[J
é preciso indasarmos em que medida as partes
cons-titutivas de uma sociedade estratificada em classes
ou srupos de status. forma uma estrutura (9rifo
1nE:!u)i
se
o é, .~tE:!ndE?""n(IS.1uma dE:'!fini'1:iom tnima i .se. e em que medida tais partes mant&m entre si
ou-tras rela,~es além da mera justaposi,io e, por
con-se9uinte, manifestam propriedades que resultam de
sua depend'ncia relativamente à total idade. Mais
precisamente. de sua posi~io (srifo meu) no sistema
30
31
completo das rela,~es que determina o sentido de
cada reJa,io particular [ l. No entanto. uma classe
nio pode jamais ser definida apenas por sua
situa-fio e por sua posi,io na estrutura social, isto ci.
pelas rela,~es que mantcim objetivamente com outras
Classes sociais. InJmeras propriedades de uma
clas-se social provim do Fato de que seus membros se
en-VOlvem del iberada ou objetivamente em rela,~es
Sim-bÓlicas com os individuos das outras classes. e com
isso exprimem diferen,as de situa,io e de P05i,io
segundo uma lÓgica sistemática. tendendo a
trans~u-,
-
~. )ta-las em dis~in,oes significantes (8 • c
Nio ci nossa inten,io. neste momento. proceder ao
desenvolvimento do racioc{nio que leva o autor a
concluir a respeito da interpreta,io do social
en-quanto um sistema estrutural; como já vimos
ante-riormente. ele acaba por admiti-lo.
Interessa-nos. sim, ressaltar que ele percebe as
práticas. representa,~es e todas as demais formas
de confisura,~es simbÓl icas dos individuos como
frutos de um habi~us que tem sua orisem nas
rela-,~es (de pOder) existentes no seio da estrutura
so-cial. ou seja. entre as classes sociais (e entre
suas condi,~es, situa,~es e posi,~es relativas). E
ainda. que percebe tais COnfigUra,~es simból icas
como provenientes e reFor,adores das rela,~es de
for,a econ6mica
(,>.
Caberia finalmente acrescentar
abordado pelo teórico. a medida
senta como elemento fundamental
um Jltimo tópico
em que se nos
apre-para a
interpreta-,io dos dados do campo: sao considera,~es
vincula-das às posi,~es de classe, enquanto classifica,io
mutável no tempo. de acordo com a trajetÓria de
ca-da classe: uA posi,io de um individuo ou de um
eru-po na estrutura social nio pode jamais ser definida
apenas de um ponto de vista estritamente estátiCO.
isto ci. como posi,io relativa (usuperioru, umcidiau
ou uinferioru) numa dada estrutura e num dado
sincr6ni-co apreende, contém sempre o sentido do trajeto
50-eial. Loso, sob pena de deixar escapar tudo o
define concretamente a experiincia da posi~io
etapa de uma ascensao ou de um descenso, como
mo,io ou resressio, é necess~rio caracterizar
ponto pela diferencial da funiio que exprime a
qum como PI'''O-'' ccid'i
C UI''' ....
va . i~.to
é,
por" t';:tdaa cu rva , Em con s~:quEi!l1c i<1.' po-·dmmos distinsuir propriedades li9adas ~ posi,io
de-finida 5incronicamente e propriedades li9adas ao
futuro da posi,io. Assim, duas posii6ms
aparentm-mente idinticas do ponto de vista da sincronia
po-dem se rmvmlar muito difmrentes quando rmtmridas
é1p~:n<lsao con eexeo rea r. ist:o !i!, ao t'l.lt:l:lt"OhistÓI·-i....
co da mstrutura social em conjunto, m portanto, ao
futuro da posi,io. Ao contr~rio, indiv(duos (por
exemplo, os que Jursen Ruesch denomina el imbers
indiv(duos em via de Bscensio - ou strainers -
in-dividuos que aspiram em vio a ascen,ao - ou ainda
05 que Harold L. Wilensk~ e Hush Edwards chamam
skidders - indiv(duos em decl (nio) podem ter
pro-priedades comuns na medida em que lhes smja comum.
sm nio a trajetória social. ao menos o sentido
as-cendente ou descendente do trajetoU (10).
Como demonstrou fmJdmann-Bianco em seu estudo
Capi-tal ismo e Fam{lia. os Pequeno-bur9ueses (11)", a
aten,io a trajetória econômica do srupo famil iar
pode nos levar a expl ica,io das profiss~es adotadas
pela quarta sera,io de duas fam(l ias distintas,
se-diadas em uma mesma cidade, e vinculadas a uma
mes-ma ocupa~ao profissional na primeira sera,io
estu-dad.!..
Atrav~s da teoria de Bourdimu apresmntamos o
sistm-ma IÓSiCO por meio do qual se d~ o processo de
in-teriorizar o exterior e de extmriorizar o
intmrna-lizado. Buscaremos em Berser & Luckmann, Cooper e
outros, as formas objetivas pelas quais se
33
1.~.2. Social iza,io primiria e social iz,io
secundi-ria: a teoria de Berger e Luckmann
~ em Berger p Luc~mann que encontramos os conceitos
de social iza,io expl icitamente definidos e
classi-ficados, segundo sua origem, em dois tipos:
primá-rio e secundirio. Considerando que o ser humano nio
nasce membro da sociedade e sim com uma
predisposi-fio para a sociabil idade, os autores admitem que
este, em suas experiincias com o mundo, passa nao
só a compreender o mundo no qual outros ji vivem,
mas também a assumr-lo como seu próprio num
pro-cesso da interioriza,io denominada social iza,io.
As social iza,~es primária e secundária
diFerenciam-se entre si por diversas caracter(sticas de
distin-tas naturezas. Em sua rela,io temporal, a primária
antecede a secundiri8. A social iza,io primária é
aquela através da qual o individUO torna-se membro
da sociedade, a secundiria é aquela que o introduz
em novos setores de sua sociedade.
A social iza,io primiria se di em circunstincias
carregadas de um alto grau de emo,io. Nela. o
indi-vidUO nia experimenta o mundO que passa a conhecer
como um dOS muitos mundos poss{veis, mas sim comó o
mundo existente. Os valores e categorias por ele
interiorizados nio sio percebidos como poss{veiS
mas sim como inevit~veis" E ~ por este motivo que o
mundo interiorizado na social iza,io primiria
perma-nece arraigado ao individuo de forma muito mais
persistente do que os interiorizados na secundária
e que esta. por sua vez. só se torna bem sucedida à
medida em que a sua estrutura báSica assimi la-se à
da primiria. O outro significativo nesta fase da
social iza,io nio é uescolhidoU, e sim dado.
reque-rendo a neceSSidade de se estabelecer uma
identifi-ca,io unicamente a n{vel emocional entre a crian,a
e o outro sisnificativo para que tal processo
aus'ncia dp op~oes P caracterizada/caricaturizada
pelo autor como o mais importante conto-do-vigário
que a sociedade prega ao indivídUO.
à
medida em queo faz perceber como necessidade o que de rato ~ um
feixe de conting'nCias.
A abordagem a respeito das regras estabelecidas
pa-ra a aprendizagem no contexto da social iza~io
pri-mária feita pelos autores ~ de grande importincia
para nosso estudo especifico: "A social iza~io pri-mária impl ica sequ'nCias de aprendizado socialmente
definidas". Na idade A a crian,a deve aprender X,
na idade B deve aprender V, e assim por diante.
Ca-da um destes programas acarreta certo
reconhecimen-to social do crescimento e diferenciaiio
biológi-cas. Assim. cada progarama, em qualquer sociedade,
tem de reconhecer que uma criania de um ano de
ida-de nio pode aprender o que uma de tris anos pode.
Tamb~m} ~ provável que a maioria dos programas
de-finam a questio diferentemente para os meninos e
para as meninas (grifO meu). Este reconhecimento
mínimo ~ naturalmente imposto ~ sociedade pelos
fa-tos biológicos. Al~m disso. por~m. há uma grande
variabi I idade sócio-histórica na defini~io das
eta-pas da sequ&ncia da aprendizagem [ lU (j).
Queremos ressaltar neste momento a importância da
qual se reveste o grupo SOCial atravcis do qual a
crian,a realiza o seu primeiro contato com o mundo
e. portanto. atravcis do qual sofre sua social iza,io
primária na maioria absoluta dos casos: a tam{l ia.
E do mundo. dos valores. dos hábitos assumidos pela
ram(l ia do indiv(duo que serio apreendidos como
ca-tegorias definitivas e nio possíveiS num primeiro
momento de sua vida, e como bal izadoras das novas
interioriza,~es a partir de entio.
A passagem da social iza,io primária à secundária
dá-se por um processo que culmina na generaliza;io
do outro atrav~s de uma abstra,io progressiva dos
pap~is P atitudes dos outros particulares para os
35
uMamie est~ brava comisou• uMamie Ficou brava
comi-so porque derramei sopau, uMamie, papai, titio e
vovó Ficaram bravos comiso porque derramei sopau,
uNio se deve derramar sopau, embutem uma série de
processos. inclusive o de seneral iza,io do outro
sisnificativo. expandindo o conceito deste (outro
SigniFicativo) de indiv(duos especificos para a
so-ciedade como um todo.
A social iza,io secund~ria é definida como a
inte-rioriza,io de parcelas do mundo via institui,~es.
Cabe aqUi esclarecer que o conceito de institui,io
e, portanto, de institucionaliza,io ~ mais amplo
para estes autores do que o prevalecente na
socio-logia contemporAnea: uA institucionaliza,io ocorre
sempre que h~ uma tipifica,io rec(proca de a,~es
habituais por tipos de atores. Dito de maneira
di-ferente, qualquer uma dessas tiPifica,~es ~ uma
institui,io. o que deve ser acentuado é a
recipro-Cidade das tiPifica,~es institucionais e o car~ter
t{PiCO nio somente das a,~es mas também dos atores
nas institui,~es. As tipifica,~es das a,oes
habi-tuais que constituem as institui,~es sao sempre
partilhadas. sio acess{veis a todos os membros do
grupo social particular em questio, e a própria
institui,io tipifica os atores individuais assim
como as a,oes individuais [ J .AS institui,~es
im-pl icam, além disso, a historicidade. o controle. As
tiPifica,~es rec(procas das a,~es sao constru{das
no curso de uma história compartilhada. Nio podem
ser criadas instantaneamente. As institui,~es tem
sempre uma história. da qual sio produtos. ~
impos-s{vel compree~der adequadamente uma institui,io sem
entender o processo histórico em que foi produzida.
As institui,~es, também, pelo Simples fato de
exis-tirem, controlam a conduta humana estabelecendo
pa-dr~es previamente definidos de conduta, que
canali-zam em uma dire,io por oposi,io ~s muitas outras
dire,~es que seriam teoricamente poss{veis. ~
im-portante acentuar que este car~ter controlador é
inerente
à
institucionaliza,io enquanto tal.especifica-36
mente estabelecidas para apOiar uma institui,io ou
independentes desses mecanismosu(2).
Uma das facetas caracter(sticas desta fase de
inte-rioriza,io de fun,~es
diz respeito ~ aqUiSi,io do conhecimento
especificas, direta ou indiretamente
vinculadas ~ diVisio social do trabalho. uma vez
que exise a aquiSi,io de vocabulários espec{ficos
de tun,~es, requerendo, para tanto, a
interioriza-,io de campos seminticos que estruturam
interpreta-,oes e condutas de rotina em uma área
institucio-nal.
Esta social iza,io se dá nao mais num nível
exclusi-vamente emocional, mas exise um processo de
cosni-,io - o que torna a interioriza,io real izada nesta
fase muito mais proP(cia a ser posta Uentre
parin-tesesu do que na anterior, e viabi 1 izando,portanto.
a ocorrincia do distanciamento dO papel onde
existe uma necessidade, para que seja levada a
ca-bo, de uma identifica,io entre o indiv(duó e a
rea-l idade a ser inleriorizada, e. para si-lo, exise
tanto maior identiFica,io quanto menor for o status
do corpo do conhecimento em questio no interior do
universo simb6J ico em sua tolal idade. pressup~e,
por outro lado. que já tenha havido uma social
iza-,io primária, o que se lhe torna uma 1 imita,io ~
medida em que requer, para que seja realizada com
sucesso, uma concatena,io entre as duas rases.
com relaiio a uma visio Sintética sobre as duas
fa-ses levantadas. consideram os autores que tiA
dis-tribui,io institucional izada das tarefas entre a
social iza,io primária e a secundária varia com a
complexidade da distribUi,io social dO
conhecimen-to. Enquanto esta é relativamente pouco compl icada,
o mesmo 6rsio institucional pode conduzir da
socia-liza,io primária
h
secundária e executar esta01ti-~
-ma em consideravel extensao. Nos casos de muito
elevada complexidade, ci preciso criar 6rsios
espe-cial izados na social iza,io secundária. com
em tempo intesral, especialmente para as