CRISES OCULÓGIRAS E SÍNDROME P A R K I N S O N I A N A
JOSÉ GERALDO CAMARGO L I M A * ; PEDRO CAMILO A . P I M E N T E L * * ; ADEMIR BAPTISTA DA S I L V A * * * ; JOÃO A N T O N I O M . N O B R E G A * * *
Na síndrome parkinsoniana, ao lado de sua tríade característica —
hipertonía cérea, hipocinesia e tremor de repouso — sinais neurológicos
outros podem aparecer, sendo dos mais freqüentes as crises oculógiras. Após
a descrição inicial de Albreit (1695), referido por Onuaguluchi
1 6, e o
tra-balho de Charcot e Gilíes de la Tourette (1888) citado por Adrogué
1mos-trando a sua relação com a síndrome parkinsoniana, numerosos outros casos
foram registrados.
Essas crises se caracterizam por sacudidelas clónicas dos globos oculares
em determinada direção, seguindo-se um movimento tônico conjugado que
mantêm os olhos fixos na mesma posição durante um certo tempo. Para
explicar a sua patogênese várias teorias são aventadas, como a de H a l l
8que as correlacionou a distúrbios do mecanismo do sono, a de Jelliffe
9que
as atribuiu a mecanismos compulsivos obsessivos, a de M u s k e n s
1 5que as
considerou como disfunção da comissura posterior e a de Sachsenweger
1 7que as atribuiu a lesões irritativas vizinhas às vias da motricidade ocular
conjugada. O acometimento das vias vestibulares sugerida por Marinesco,
citado por Barranquer Bordas
2, é a mais aceita
4-
6>
1 3.
1 8, sendo a etiología
encefalítica a mais freqüentemente assinalada.
Alguns aspectos dessas crises oculógiras serão analizados neste
tra-balho.
M A T E R I A L , M É T O D O E R E S U L T A D O S
O m a t e r i a l c o n s t a de 20 p a c i e n t e s c o m síndrome p a r k i n s o n i a n a e crises o c u l ó -g i r a s . E s s a cifra, no c ó m p u t o -g e r a l de p a c i e n t e s p a r k i n s o n i a n o s e s t u d a d o s ( I I I ) , m o s t r a u m a f r e q ü ê n c i a de 18%.
D o s 20 p a c i e n t e s 14 e r a m do s e x o m a s c u l i n o e 6 do f em i n i n o ; s u a s idades, q u a n d o do início d a s í n d r o m e p a r k i n s o n i a n a , v a r i a r a m e n t r e 10 e 40 a n o s ; e m a p e n a s u m p a c i e n t e a s crises o c u l ó g i r a s precederam, por 9 anos, à s í n d r o m e p a r k i n s o n i a n a que s u r g i u após os 12 a n o s de idade. A d i r e ç ã o d a s crises e s t á
R E S U L T A D O S
As crises oculógiras ocorreram com uma freqüência de 18% entre os
nossos pacientes com síndrome parkinsoniana. Onuaguluchi
1 6as refere em
29%, H a l l
8em 15% e McCowan e C o o k
1 3em 17%. Não constatamos a
preferência para o sexo feminino
1 6, como vem referido na literatura e houve
franco predomínio da direção vertical para cima (83%). Os sinais
vegeta-tivos e oculares outros citados como podendo acompanhar essas c r i s e s
1 6fo-ram registrados em 60% de nossos pacientes, sendo mais freqüentes o déficit
de convergência e a diplopia. Em nenhum caso encontramos paralisias
con-jugadas do olhar como foi referido por Lhermite, Massari e Kyriaco
1 1, nem
nistagmo como foi assinalado por Onuaguluchi
1 6. Em apenas um paciente
as crises precederam os sinais da síndrome parkinsoniana; esse fato, como
assinala Ford
7, é bastante raro.
A relação entre crises oculógiras e o quadro clínico da síndrome
parkin-soniana mostrou que a sua freqüência não foi estatisticamente diferente nos
casos de distribuição uni ou bilateral, não corroborando com a opinião de
Calne
3para o qual esse sinal clínico deve aparecer nos casos mais
intensa-mente comprometidos. A idade de início da síndrome parkinsoniana (10 a
40 anos) já sugere a importância da etiologia encef ali tica em nosso material;
tivemos dados para catalogar como tendo tido "encefalite letárgica" 11
pa-cientes (65%) e, simplesmente como "encefalite", 5 (29%); em um caso
havia elementos ponderáveis para se correlacionar a síndrome parkinsoniana
a traumatismo craniano. Esse achado é de interesse porque, apesar da
maioria dos autores considerar esse sinal como patognonômico de "encefalite",
há trabalhos que correlacionam as crises oculógiras a outras etiologías. Stern,
citado por Adrogué
1, refere a possibilidade de tais crises apareceram em
outros tipos de síndrome parkinsoniana; Foley e Denny-Brown, citados por
D. Williams
1 9, as encontraram associadas a mioclônias em três pacientes
com "status spongiousus"; Kestenbaum
1 0lembra a possibilidade de serem
elas seqüelas de meningite. Apesar de vários autores
5.
1 2.
1 4terem assinalado
essas crises na vigência de terapêutica com fenotiazinas, Onuaguluchi
1 6julga
que o que essas drogas desencadeiam são, na verdade, espasmos cervicais.
RESUMO
S U M M A R Y
Oculogiric crisis and Parkinson's syndrome
From 111 patients with parkinsonism there were found twenty presenting
oculogiric crisis corresponding to a 18% frequency. From these twenty patients
14 were male and 6 female, the starting age of the Parkinson's syndrome
varying from 10 to 40 years. Only one patient presented the oculogiric
crises as the initial sign. In 83% of the cases the vertical upward direction was
observed, the convergence impairment and the diplopia being the other more
frequent associated ocular signs. Statistically there was no difference of
incidence of the oculogiric crisis in the unilateral or bilateral parkinsonism.
Encephalitis was the most frequent etiology.
R E F E R Ê N C I A S
1 . A D R O G U É , E . — N e u r o l o g i a O c u l a r . E d . El A t e n e o , B u e n o s A i r e s , 1 9 4 2 . 2 . B A R R A Q U E R B O R D A S , L. — P a t o l o g i a G e n e r a l del T o n o M u s c u l a r . E d .
C i e n t i f i c o - M e d i c a , B a r c e l o n a , 1 9 5 7 .
3 . C A L N E , D . B . — P a r k i n s o n i s m : P h y s i o l o g y , P h a r m a c o l o g y a n d T r e a t m e n t . E d w a r d A r n o l d L t d . , L o n d o n , 1 9 7 0 .
4 . CROW, J . — N o t e o n c e r t a i n p h e n o m e n a of p o s t - e n c e p h a l i t i c p a r k i n s o n i s m . G l a s g . M e d . J . 3 0 : 2 9 , 1 9 4 9 .
5 . D A V I S , T. S. — D i s t o n i c r e a c t i o n t o p e r p h a z i n e . B r i t . M e d . J. 1:368, 1 9 5 9 . 6 . D U V E R G E R , C. & B A R R É , J . A. — T r o u b l e s d e s n o u v e m e n t s a s s o c i é s d e s
y e u x c h e z l e s t a b e t i q u e s e t les p a r k i n s o n i e n s . R e v . n e u r o l . ( P a r i s ) 3 7 : 4 3 9 , 1 9 2 1 .
7 . F O R D , F . — D i s e a s e s of t h e N e r v o u s S y s t e m in I n f a n c y . C h i l h h o o d a n d A d o -l e s c e n c e . 5.ª E d i ç ã o . C h a r -l e s C. T h o m a s , S p r i n g f i e -l d ( I -l -l i n o i s ) , 1 9 6 6 . 8 . H A L L , A. J . — C h r o n i c e p i d e m i c e n c e p h a l i t i s w i t h s p e c i a l r e f e r e n c e t o o c u l a r
a t t a c k s . B r i t . M e d . J . 2 : 8 3 3 , 1 9 3 1 .
9 . J E L L I F F E , S. E . — P s y c h o l o g i c c o m p o n e n t s in p o s t - e n c e p h a l i t i c o c u l o g i r i c c r i s e s . A r c h . N e u r o l . P s y c h i a t . ( C h i c a g o ) 2 1 : 4 9 1 , 1 9 2 9 .
1 0 . K E S T E N B A U M , A. — C l i n i c a l M e t h o d s of N e u r o - O p h t h a l m o l o g i c E x a m i n a t i o n . G r u n e S t r a t t o n , N e w Y o r k , 1 9 4 6 .
1 1 . L H E R M I T E , J . ; D E M A S S A R I , J . & K Y R I A C O , N . — S y n d r o m e d e P a r i n a u d , c r i s e s o c u l o g y r e s , r i r e s p a s m o d i q u e , n a r c o l e p s i e e n a p p a r e n c e e s s e n t i e l l e d a n s l ' e n c e p h a l i t e p r o l o n g é e . R e v . n e u r o l . ( P a r i s ) T. 2 : 1 5 4 , 1 9 2 8 .
1 2 . M A R Z U O L I , V. C ; G R O S S A N O , M. C. & R U B I N O , R. — S i n d r o m e e x t r a p i r a m i ¬ d a l e c o n c r i s e o c u l o g i r i s u b e n t r a n t i d a t e r a p i a p r o c l o r p r o m a z i n i c a . M i n e r v a M e d . 3-4:87, 1925-1926.
1 3 . M c C O W A N , P . K . & COOK, L. C. — O c u l o g y r i c c r i s i s in c h r o n i c e p i d e m i c e n c e p h a l i t i s . B r a i n 5 1 : 2 8 5 , 1 9 2 8 .
1 4 . M O N T G O M E R Y , R. D . & S U T H E R L A N D , V. L . — A c u t e d y s t o n i c r e a c t i o n t o p h e r p h a n a z i n e . B r i t . M e d . J . 1:368, 1 9 5 9 .
1 5 . M U S K E N S , L J . J . — T h e p a t h o l o g y of p o s t - e n c e p h a l i t i c o c u l a r d i s t u r b a n c e s in t h e l i g h t of r e c e n t a n a t o m i c a l a n d p h y s i o l o g i c a l r e s e a r c h . J. N e u r o p . a. e x p e r . N e u r o l . 8:137, 1 9 2 7 .
1 6 . O N U A G U L U C H I , G. — P a r k i n s o n i s m . B u t t e r w o r t h s , L o n d o n , 1 9 6 4 .
1 7 . S A C H S E N W E G E R , R. — In V I N K E N , P . J . & B R U Y N , G. W. — H a n d b o o k of C l i n i c a l N e u r o l o g y , Vol. 2. N o r t h - H o l l a n d P u b l i s h i n g Co., A m s t e r d a m , 1 9 6 9 . 1 8 . S H A N Z E R , S. & B E N D E R , M. B . — O c u l o m o t o r r e s p o n s e s o n v e s t i b u l a r s t i m u l a
-t i o n o n m o n k e y s w i -t h l e s i o n s of -t h e b r a i n s -t e m . B r a i n 8 2 : 6 6 9 , 1959.
1 9 . W I L L I A M S , D . — M o n d e r n T r e n d s in N e u r o l o g y . B u t t e r w o r t h s , L o n d o n , 1967.