GASTROENTEROLOGIA
EXPERIMENT
AL
INTRODUÇÃO
Estímulostraumáticosaoperitônio,comoisquemiatecidual, infecção e reação a corpos estranhos, processos comuns no per e pós-operatório, predispõem a formação de aderências nessaserosa(18).
Alesãoperitonialdecorrentedessesestímulosnocivossuscita umareaçãoinflamatóriaserossangüíneaquelevaadepósitosde fibrina.Ativadoreslocaisdeplasminogênioiniciamalisedos filamentosdefibrina,emgeral,dentrode3diasdesuaformação.A metamorfosedecélulasmesodérmicasregeneraumacamadaúnica demesotélionovoemapenas5diasapósalesão.Poroutrolado, fibrinóliseinadequadapermitequeaproliferaçãodefibroblastos produzaaderênciasfibrosas.Cogita-seapossibilidadedarelação diretaentreapresençademastócitosnoprocessoinflamatórioeo iníciodoprocessoadesivo.Acredita-sequeomastócitoseuneaos fibroblastosintestinais,desencadeandosuaproliferação,oquejá foicomprovadoinvitroeemmodelosexperimentais(28).
Aderência pós-operatória é a causa mais prevalente de obstrução aguda e recidivante de intestino delgado e um infortúnio persistente após cirurgia abdominal e pélvica. Asmedidasprofiláticasparasuareduçãovisamdiminuira intensidade da resposta inflamatória e a coagulabilidade e impedirocontatoprolongadoentresuperfíciesjustapostas, atravésdeefeitossiliconizantes(10).
Há divergências em relação à profilaxia das aderências peritoniais.Substânciascomoarifamicina,opolímerodaglicose dealtopesomolecular(dextrano70–Hyskon),aheparinaea prometazinajáforamtestadas,sendoconsideradaseficazesem algunsestudoseineficazesemoutros,podendoatépotencializar oprocessoadesivoemalgunscasos(2,6,9,22).
Váriosestudosemanimaisforamrealizadosnointuitode se aprimorar tal profilaxia, apontando menor incidência de aderênciascomousodemembranadesódio-hialuronidase/ carboximetilceluloseeazuldemetileno.Porém,aindanãohá relatosdesuaeficáciaemhumanos(11,13,14,18).
AVALIAÇÃODASADERÊNCIAS
PÓS-OPERATÓRIASEM
RATOSSUBMETIDOSA
PERITONIOSTOMIACOM
TELADEPOLIPROPILENO
ASSOCIADAÀNITROFURAZONA
Augusto
DIOGO-FILHO
,BárbaraCunhaMello
LAZARINI
,Floriano
VIEIRA-JUNYOR
,
GiseleJuliana
SILVA
eHeitorLuiz
GOMES
RESUMO–Racional-Lesõesperitoniais,comunsnoperepós-operatório,levamàformaçãodeaderências,cujaincidênciaaumentaainda maiscomousodetelasdepolipropileno.Anitrofurazonaéumasubstânciaqueaceleraoprocessodecicatrizaçãoe,devidoaisso,cogitou-seapossibilidadedeumaaçãosobreasaderênciasperitoniais.Objetivo-Avaliarasaderênciaspós-operatóriasemratossubmetidosa peritoniostomiacomfixaçãodeteladepolipropilenoassociadaanitrofurazona.MaterialeMétodos-Utilizaram-se33ratosWistar,divididos em3gruposde11animais,sendonogrupoIrealizadolaparotomiacomexposiçãodacavidadeaoarambienteeposteriorlaparorrafia; nogrupoII,ressecçãodefragmentodaparedeabdominalcomfixaçãodeteladepolipropilenonoespaçoenogrupoIII,procedimento semelhanteaodogrupoII,porémcomtelaembebidaemnitrofurazona.Após45diasforamsacrificadosenecropsiados.Resultados-Dos animaisdogrupoI,setenãotiveramaderências(grau0),doistiveramaderênciasdegrau1edoisdegrau2.NogrupoII,1foiclassificado comograu3e10comograu4.NogrupoIII,umfoidegrau0,oitodegrau3eumdegrau4(umanimalfoiaóbitoantesde45dias).Todas asaderênciasencontradasenvolveramparedeabdominal;10animaistiveramaderênciasenvolvendoapenasoomento(grupoI=4;grupo II=1egrupoIII=5);11animaistiveramaderênciasenvolvendooomento,asalçasintestinaiseoutrosórgãosabdominais,sendo10do grupoIIeumdogrupoIII;trêsanimaistiveramaderênciasenvolvendoapenasalçasintestinais,sendotodosdogrupoIII.Dos14animais quetiveramaderênciasenvolvendoasalçasintestinais,10eramdogrupoII(9commaisdeumponto)e4dogrupoIII(3comsomente umpontodefixação).Conclusão-Ousodenitrofurazonaassociadoàteladepolipropilenonãoreduziusignificativamenteaincidênciade aderênciaspós-operatóriasemratos,porémdiminuiuaintensidadeegravidadedessasaderências.
DESCRITORES–Peritônio,cirurgia.Aderências.Telascirúrgicas.Nitrofurazona.Ratos.
DepartamentodeCirurgia,FaculdadedeMedicinadaUniversidadeFederaldeUberlândia.
Opolipropilenoéummaterialsintéticoqueproduzpoucareaçãotecidual epossuiboaresistênciatênsil,resistênciaestaqueémantidaporváriosanos apósseuusoemorganismosvivos.Outrosmateriais,comotelaàbasede poliéster,forampropostoseapesardadiminuiçãonosíndicesdeaderências, estessemostraraminferiorespelamenorresistênciatênsil(8,27).
Ateladepolipropilenoéfreqüentementeusadaemperitoniostomiase noreparodehérniasabdominais.Aperitoniostomiatemsidorecomendada paracondiçõesnasquaismúltiplasintervençõessãonecessáriaspara controlarumainfecçãointra-abdominaleousoassociadodatelaevita ahipertensãoabdominal,facilitaareintervenção,previneaevisceração eminimizaodanodaparedeabdominal(17,21).
Asprincipaisreaçõesteciduaisdesencadeadaspelateladepolipropileno são:reaçãogranulomatosadotipocorpoestranho,reaçãoinflamatória crônicaefibroseexacerbada(17).
Após algumas semanas de sua fixação como prótese de parede abdominal,otecidodegranulação,oriundodograndeomentoedas margensdaferidaoperatória,permeiaasmalhasdatelaincorporando todoomaterialsintético.Nessaocasião,pode-sedeixaraferidaprosseguir asuacicatrizaçãoporsegundaintenção(5).
Entretanto,quandoemcontatocomosórgãosintra-abdominais,a telaéassociadaaoaumentodaincidênciadeaderências(4).
Omecanismodeaderênciaatribuídoaessetipodetelaéopreenchimento dasirregularidadesdesuasuperfícieporgrandeextensãodetecidoadiposo, alémdomecanismoinflamatórioassociadoàlesãocirúrgica(26).
Aprincipalcomplicaçãodaformaçãodeaderênciasdevidoaouso dematerialsintético(telas)emperitoniostomiaséoaparecimentode fístulas,seromaeobstruçãointestinal(3).
Anitrofurazona,dafamíliadosfuranos,éumagentebactericidaque seacumulanotecidoadiposodeanimaiseinterferenasfasesprecoces dociclodeKrebs,inibindoaformaçãoanaeróbicadaacetil-coenzima A,dopiruvatoaooxalatoebloqueandoometabolismoglicídicodas célulasbacterianas.Temlimitadainteraçãocomosconstituintesdo sangueedopus,tendoboapenetraçãoemfissuras.Nãosofreabsorção significativa através da pele íntegra ou queimada, nem a partir de membranasmucosas,oquedásuporteaoseuusotópico.Geradermatite decontatodotipopustularemapenas0,5%a2,0%doscasos.Pode interferirnofechamentodeferimentos,atuandonareduçãodotecido degranulação(1,12).
Alguns estudos relacionam a nitrofurazona à carcinogênese em modelosexperimentais.Hárelatosdeefeitosneoplásicosemórgãos reprodutivosderatos,porémesseprocessoaindanãofoiobservado emsereshumanos(23,24).
Estudo experimental mostrou que o emprego de um derivado danitrofurazonadiminuiuograudeaderênciasperitoniaisemcães, provavelmenteporinterferêncianoprocessocicatricial(20).
Objetivo
Avaliarasaderênciasperitoniaisemratossubmetidosaperitoniostomia comusodeteladepolipropilenoassociadaanitrofurazona.
MATERIAISEMÉTODOS
Paraodesenvolvimentodestetrabalhoforamutilizados33ratosda linhagemWistar,adultosjovens,aparentementesadios,fornecidospelo LaboratóriodeTécnicaOperatóriadaUniversidadeFederaldeUberlândia. Asintervençõescirúrgicasforamrealizadassegundoasnormaspresentes noGuideforthecareanduseoflaboratoryanimals(7).
Osanimais,apóspesagem,foramdivididosaleatoriamenteemtrês gruposcom11ratoscada,assimdistribuídos:
grupoI(“controle”):realizou-seaberturadapeleelinhaalba, incluindo o peritônio, numa extensão de aproximadamente 5,0 cm.A cavidade abdominal ficou exposta ao ar ambiente por 5 minutos.Procedeu-seàlaparorrafiacomfiodepoligalactina6-0, atraumático,agulhado,compontosseparados.Apelefoifechada commononylon3-0,compontossimplesseparados.Fez-securativo tipo“tieover”,comgazesuturadaàpeledoanimaltambémcom mononylon3-0;
grupoII(“tela”):fez-searessecçãodeumfragmentodetodaa espessura da parede abdominal de aproximadamente 1,5 x 5,0 cm. Procedeu-se peritoniostomia com tela de polipropileno fixada às bordasdaparedeabdominalcomfiodepoligalactina6-0,agulhado, atraumático, com pontos separados. O curativo foi feito da mesma formaquenogrupoI;
grupo III (“tela + nitrofurazona”): procedeu-se identicamente aogrupoII,entretantoutilizandoteladepolipropilenoembebidaem nitrofurazonaemsoluçãoa0,2%(Furacin®).
Todos os procedimentos foram acompanhados por técnico especializado e realizados sob técnica asséptica e anestesia com cloridratodecetamina(Ketalar®)a5%,nadosede0,1mL/100gde peso,viaintramuscular(16).Apósaanestesia,realizou-setonsuradaparte
ventraldoabdomedorato,fixaçãoàpranchacirúrgicaemdecúbito dorsalhorizontaleidentificação,atravésdenúmerosmarcadoscom pincelemsuascaudas.Oatooperatóriofoiiniciadoapósoanimal atingirplanoanestésico,testadopeloreflexoderetiradadapataem respostaaoestímulodoloroso.
Oexperimentofoiseqüencial,atingindoototalde11animaispor grupo.A cada dia de trabalho, eram realizados procedimentos em númerosiguaisdeanimaisparacadagrupo.
Foramoferecidoságuaeraçãoadlibidume,nosanimaisdogrupo III,diariamenteaplicou-senitrofurazonaemsoluçãoa0,2%(Furacin®) sobreocurativo.
Com tempo mínimo de 45 dias, os animais foram novamente pesados e sacrificados.Após injeção intramuscular de uma dose letal de cloridrato de cetamina (Ketalar®), procedeu-se à necropsia atravésdeumaressecçãoampladaparedeabdominal,àformadeum retângulo,procurando-seincluir,commargemdesegurança,todoo local envolvido no procedimento cirúrgico anteriormente realizado. Comisso,avaliou-seapresençaeintensidadedeaderênciasentreos órgãosabdominaiseolocaldacicatrizcirúrgica,entrealçasintestinais eentreoperitôniovisceraleatela.Investigou-setambémapresença defístulasentéricas.
Foiusadoparacritériodeavaliaçãoaclassificaçãopropostapor OLIVEIRA et al.(20), porém com modificações: grau 0 – ausência
de aderências; grau 1 – número reduzido de aderências, de caráter fibrinoso,facilmentedesfeitaspelamanipulação;grau2–aderências firmes,resistentesàmanipulação,entrealçasintestinais,porémnão envolvendoparedeabdominal;grau3–aderênciasfirmes,resistentes à manipulação, entre a parede abdominal e um órgão ou estrutura; grau4–aderênciasfirmes,resistentesàmanipulação,entreaparede abdominalemaisdeumórgãoouestrutura;grau5–aderênciasfirmes, resistentesàmanipulação,entrealçaseentrealçaseaparedeabdominal, comfístulaentérica.
Aanáliseestatísticafoirealizadacommétodosapropriadosparacada variávelemestudo(análisedevariância,testetetestedoqui-quadrado), sendoasdiferençasconsideradassignificativasparaP<0,05.
RESULTADOS
Dos 33 animais, 1 foi a óbito no 6º dia de pós-operatório. O animalpertenciaaogrupoIII,tevecomocausamortishemorragiae foiexcluídodaanálise.
Os pesos dos animais no pré-operatório e sua distribuição por gruposestãoapresentadosnaTabela1.
Os animais dos grupos I, II e III apresentavam como média de peso293,64g,296,37ge293,64g,respectivamente,numamédiatotal de294,54g.Nacomparaçãoentreasmédiasdosgruposaanálisede variânciamostrouF(3,32)=0,35(P>0,05).
Nodiadanecropsia,osanimaisforamnovamentepesados.Adistribuição dosanimaisporpesoeporgrupopodeservistanaTabela2.
OsgruposI,IIeIIIapresentaramaofinaldoexperimentomédias depesode299,09g,299,09ge286,00g,respectivamente,numamédia totalde295,00g.Aanálisedevariânciaentreasmédiasencontradas mostrouF(3,33)=0,18(P>0,05).
Analisando-se as médias de peso dos grupos antes e depois do experimento,pelotestet,encontra-set(4,30)=2,24(P>0,05).
Amédiadetempoentreoprocedimentocirúrgicoeosacrifíciodos animaisporgrupoforamsemelhantes,jáquetantoumquantoooutro foramrealizadoscompelomenosumanimaldecadagrupopordia.
Asaderênciasperitoniaisencontradasforamavaliadaseclassificadas porgraus,comosepodevernaTabela3.
Como se pôde observar, nenhum animal apresentou aderências classificadascomograu2,ouseja,todasasaderênciasencontradas
envolveramparedeabdominal,inclusiveaquelasdegrau1.Nenhum animalapresentouaderênciasdegrau5(fístulasentéricas).
Asestruturasenvolvidasnasaderênciasperitoniaiscomaparede abdominalestãodescritasnaTabela4.
Verifica-seque14animaistiveramaderênciasperitoniaisenvolvendo alçasintestinais,sendotodosanimaiscomfixaçãodateladepolipropileno (gruposIIeIII).Aanálisedessesdadospelotestedoqui-quadrado, comparando-seaincidênciadeaderênciasentreosanimaisnosquaisnão foifixadateladepolipropileno(grupoI)eaquelesnosquaisfoifixada atela(gruposIIeIII),mostrouumχ2(3,84)=13,34(P<0,05).
O número de pontos de aderências peritoniais entre alças intestinais e parede abdominal, foi menor no grupo III, como se podevernaTabela5.
Comparando-se esses resultados pelo teste do qui-quadrado, encontra-seχ2(5,99)=9,96(P<0,05).
UmanimaldogrupoIIapresentouevisceraçãono5ºdiadepós-operatório.Nenhumanimalapresentouobstruçãointestinalcomparada naeliminaçãodefezes.
DISCUSSÃO
Ospesosdosamimaisnopréepós-operatório(Tabelas1,2) foramavaliadosobjetivando-seousodeamostrassemelhantes nosgrupos.Pelaanálisedavariância,verificou-sequeosanimais dostrêsgrupostinhampesosmédiossemelhantes,semdiferença estatísticasignificativatantonopré-operatório,quantoporépoca danecropsia.
Pelotestetavaliou-sesehaviadiferençaestatísticanospesosdos animaisantesedepoisdoexperimento,hipótesequefoirefutada.Assim, pôde-seinferirqueosanimaisforamsubmetidosasmesmascondições ambientaisdurantetodooexperimento,semfatoresqueoslevassem aalteraçõessignificativasdometabolismo,refletidascomoganhoou perdaexcessivadepeso.
Comoacadadiadeexperimentoforamrealizadosprocedimentos emnúmerosiguaisdeanimaisdecadagrupoenecropsiasemanimais queforamoperadosnummesmodia,amédiadetempoentreosdois procedimentosparacadagrupofoiigual.
Estudos em humanos demonstram que aderências peritoniais ocorrem em mais de 90% dos pacientes submetidos a grandes cirurgias abdominais e em 55% a 100% daqueles submetidos a cirurgiaspélvicas(15).Nopresenteestudoexperimental,asaderências
peritoniais estiveram presentes na maioria dos casos (75% dos animais),conformeaTabela3.
TABELA1-Pesoemgramasdosanimaisporgruponopré-operatório
Peso(g) GrupoI GrupoII GrupoIII TOTAL
235¬265 4 1 2 7
265¬295 2 5 4 11
295¬325 3 4 3 10
325¬355 1 0 2 3
355¬385 0 1 0 1
385¬415 1 0 0 1
TOTAL 11 11 11 33
TABELA2-Pesoemgramasdosanimaisporgruponodiadanecropsia
Peso(g) GrupoI GrupoII GrupoIII TOTAL
235¬265 3 1 5 9
265¬295 3 5 0 8
295¬325 2 4 3 9
325¬355 2 0 2 4
355¬385 0 0 0 0
385¬415 1 1 0 2
TOTAL 11 11 10* 32
*UmanimaldogrupoIIIfoiaóbitoantesdotempomínimoparanecropsia.
TABELA3–Classificaçãoemgrausdasaderênciasperitoniaisnosanimais
porgrupos
GrupoI GrupoII GrupoIII TOTAL
Grau0 7 0 1 8
Grau1 2 0 0 2
Grau2 0 0 0 0
Grau3 2 1 8 11
Grau4 0 10 1 11
Grau5 0 0 0 0
TOTAL 11 11 10 32
TABELA 4 –Estruturas envolvidas nas aderências peritoniais com a
paredeabdominal
GrupoI GrupoII GrupoIII TOTAL
Omento 4 1 5 10
Alçasintestinais,omentoe/ou
outrosórgãosabdominais 0 10 1 11 Apenasalçasintestinais 0 0 3 3 Ausênciadeaderências 7 0 1 8
TOTAL 11 11 10 32
TABELA 5 –Número de pontos de aderências peritoniais entre alças intestinaiseparedeabdominal
GrupoI GrupoII GrupoIII TOTAL
1ponto 0 1 3 4
Maisde1ponto 0 9 1 10
Ainda na Tabela 3, observa-se que dos animais que não apresentaramaderênciasperitoniais,amaiorparte(87,5%)pertencia aogrupoI.Jádosqueapresentaramaderências,amaioriapertencia aosgruposIIouIII.Analisando-seessesdadospelotestedoqüi-quadrado,verificou-sequenavigênciadateladepolipropileno,os animais apresentaram significativamente mais aderências do que nasuaausência.Istoéapoiadoporestudosquemostramqueatela de polipropileno, quando exposta aos órgãos intra-abdominais, associa-seamaiornúmerodeaderências(4).
Verifica-se, também pela tabela 3, que todos animais do grupo II e a maioria do grupo III (90%) apresentaram aderências peritoniais.Avaliando-se esses dados pelo teste do qüi-quadrado, observou-se que a tela embebida com nitrofurazona não reduziu significativamenteaincidênciadeaderênciasquandocomparadaà telasemnitrofurazona.
Levando-seemconsideraçãoaclassificaçãoporintensidade de aderência proposta pela metodologia, verificou-se que nos gruposIIeIIIhouvepredomíniodeaderênciasclassificadascomo graus3e4(Tabela3).EntreosanimaisdogrupoII,amaiorparte teveaderênciasdegrau4.JánogrupoIII,amaioriaapresentou aderências de grau 3, sendo que neste grupo um animal não apresentou aderências.Avaliando-se esses valores pelo teste do qüi-quadrado,conclui-sequeosanimaissubmetidosafixaçãode teladepolipropilenoassociadaànitrofurazonativeramaderências menos intensas do que aqueles animais tratados com tela de polipropilenosemnitrofurazona.Essefatopoderiaserexplicado pela ação da nitrofurazona diminuindo o tecido de granulação, o que interfere nas aderências abdominais, já que estas estão relacionadasadefeitosnoprocessodecicatrização(12,25).
ATabela3mostra,também,quetodasasaderênciasencontradas nosgruposIIeIIIenvolveramparedeabdominal,oquecomprovariao aumentodasaderênciaspromovidopelocontatocomatelaejustificaria amenorintensidadedasaderênciasnogrupoIII,jáqueanitrofurazona reduz o tempo do processo inflamatório, deixando que somente o preenchimento das irregularidades da superfície da tela pelo tecido adiposoajanessemecanismo(4,26).
Segundo critérios de qualificação e quantificação de aderências peritoniais,baseadosnosestudosdeMORENO-EGEAetal.(19),aquelas
queenvolvemsomentetecidoadipososãomenosgravesdoqueaquelas que envolvem alças intestinais, visto que estas constituem a causa maiscomumdesuboclusão,obstruçãomecânicaeestrangulamento intestinal(9).TodasasaderênciasencontradasnosanimaisdogrupoI
envolveramapenastecidoadiposo(omento)enosgruposIIeIII,14 animais tiveram aderências envolvendo alças intestinais (Tabela 4). Pode-seconcluirqueosanimaissubmetidosafixaçãodetelativeram aderênciasmaisgraves.
Aindaconformeessescritérios,agravidadedoprocessoadesivo é proporcional ao número de pontos de aderência(9). NaTabela 5,
verificou-se uma preponderância no grupo II, sendo que neste, a maioria apresentou aderências envolvendo as alças intestinais em maisdeumponto.JánogrupoIII,osanimaisquetiveramaderências entrealçasintestinaiseoperitônioparietal,oforamemapenasum ponto.Aavaliaçãoestatísticapelométododoqüi-quadradomostrou diferençasignificativaentreosgruposIIeIII,mostrandoquenoII oprocessofoimaisgrave.
UmanimaldogrupoIIapresentouevisceração,fatoincomumna aplicaçãodetelasdepolipropileno,jáqueestaspossuemforçatênsil satisfatória para se evitar isso, ocorrendo geralmente por defeitos técnicosnasuafixação(17).Atribuiu-seaissooarrancamentoprecoce
docurativopeloanimal,comdestruiçãoparcialdatela.
CONCLUSÃO
Emanimaisdeexperimentaçãoousodeteladepolipropilenoassociada ànitrofurazonanãodiminuiuasaderênciasentreasalçasintestinaiseo peritônioparietal.Essaassociação,porém,permitiuqueestasocorressem emmenorintensidadee,portanto,emmenorgravidade.
AGRADECIMENTO
À Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG),pelofomentodesteprojetodepesquisa.
Diogo-FilhoA,LazariniBCM,Vieira-JunyorF,SilvaGJ,GomesHL.Evaluationofpostoperativeadhesionsinratssubmittedtoperitoneostomywithpolypropylene meshassociatedtonitrofurazone.ArqGastroenterol2004;41(4):245-9.
ABSTRACT–Background-Peritonealinjuries,commoninperandpostoperative,leadtotheformationofadhesions.Theuseofpolypropylenemeshincreasesthe postoperativeadhesionsincidence.Basedonthefactofnitrofurazoneacceleratesthehealingprocess,apossibleactiononperitonealadhesionswascogitated.
Aim-Toevaluatepostoperativeadhesionsinratssubmittedtoperitoneostomywithpolypropylenemeshfixationassociatedtonitrofurazone.Methods –Thirty-threeWistarratswereseparatedintothreegroupsofelevenanimalseachone.IngroupIwasperformedthelaparotomywithexpositionoftheabdominalcavity followedbythelaparotomysuture;ingroupIIwasperformedtheresectionofaabdominalwallfragmentfollowedbypolypropylenemeshfixationonthegap andingroupIIIwasperformedthesamedoneingroupII,butthemeshwaspreviouslyimpregnatedwithnitrofurazone.After45daystheanimalsweresacrificed andnecropsied.Results-SevenanimalsofgroupIhadnoadhesions(degree0),twohaddegree1adhesionsandtwohaddegree2.IngroupII,oneanimalwas classificatedasdegree3andtenasdegree4.IngroupIII,onehaddegree0,eighthaddegree3andonehaddegree4(oneanimaldiedbefore45days).All adhesionsfoundinvolvedtheabdominalwall;tenanimalshadadhesionsinvolvingonlyomentum(groupI=4;groupII=1andgroupIII=5);elevenanimals hadadhesionsinvolvingomentum,smallbowelandotherabdominalorgans(groupII=10;groupIII=1);threeanimalshadadhesionsinvolvingonlysmall bowel,allbelongedtogroupIII.Fourteenanimalshadadhesionsinvolvingsmallbowel,ofthesetenbelongedtogroupII(ninewithmorethanonefixation point)andfourbelongedtogroupIII(threewithjustonefixationpoint).Conclusion-Theassociationofnitrofurazonewithpolypropylenemeshdidnotreduce significantlythepostoperativeadhesionsincidenceinrats,butreducedtheintensityandseverityoftheseadhesions.
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