IMPORTÂNCIA DOS INSTINTOS SEXUAIS EM PSICOPATOLOGIA
D A R C Y M . U C H Ô A *
O progresso da Psicopatologia vem se caracterizando pelo esfôrço no
sentido de serem apreendidos os fatôres básicos da personalidade humana
que a predispõem a claudicar sob o impacto dos mais variados agentes
agressivos. A consideração analítico-descritiva foi superada, representando
mero conteúdo manifesto de tôda uma rica latência que palpita por trás
da fachada sintomatológica. A busca de causas completa-se pela inquirição
sôbre o sentido dos sintomas, esforçando-se o psicopatologista para estudar
a personalidade como um todo único, não suscetível de interpretação
quan-do dissociaquan-do em fragmentos, partes ou categorias. Investiga-se em cada
personalidade que sofre o sentido vital do sofrimento, as falhas das
técni-cas defensivas que em todos os níveis visam a proteção do organismo
con-tra as agressões que sofre em seu desenvolvimento e em sua manutenção.
A Psicologia Normal, a Psicopatologia e a Medicina Psicossomática estão
impregnadas de concepções psicodinâmicas que, sem dúvida, explicam seus
notáveis progressos.
Kraepelin é considerado como o grande sistematizador da moderna
Psi-quiatria, tendo sua obra sêlo de genialidade porque sistematizadora e
cria-dora. Todavia, em sua grande preocupação de colocar a Psiquiatria dentro
do critério científico válido para as ciências físico-naturais, criou sistemas
nosográficos com grandes entidades nosológicas, para elas postulando e
bus-cando, algo artificialmente, precisas etiologias, decursos e estados terminais,
não raro o prognóstico decidindo a rotulação diagnóstica.
A crítica ao edifício construído pelo mestre de Munich não tardou,
cumprindo registrar que o progresso foi realizado em ordem e
sistematiza-ção, mas não no sentido da penetração dos problemas e conflitos básicos
do doente mental. O marco inicial dessa revolução psiquiátrica consistiu na
descoberta de Breuer e Freud exposta no ensaio de 1893: "Sôbre o
meca-nismo psíquico dos fenômenos histéricos"
4. A técnica inicial psicocatártica,
com a análise em hipnose, foi superada e substituída pela associação livre
de idéias e a interpretação, mas o marco fundamental foi lançado quando
Breuer descobriu a extraordinária importância de traumas emocionais do
passado, de constalações ideoafetivas retidas no interior da personalidade.
Estava demonstrada a necessidade, fundamental para o psiquiatra e para o
psicoterapeuta, de penetrar no mais profundo da personalidade enfêrma para
apreender os fatôres essenciais da causalidade mórbida.
Freud não se contentou com a teoria dos estados hipnóides postulada
por Breuer e logo descobriu a importância da vida sexual na etiologia das
neuroses. Se queremos estudar ou reavaliar o problema dos instintos
se-xuais em psicopatologia, temos de iniciar com Freud e suas originais
des-cobertas da sexualidade infantil, já entrevista, aliás, pelo pediatra Lindner.
Não subestimamos a obra de um Havelock Ellis, grande sexologista, de um
Forel e, muito menos, a "Psicopatologia sexual" de um Kraft-Ebing; mas,
se refletirmos sôbre o material apresentado em forma descritiva, não
reti-ramos dêle grandes dados e ensinamentos, pois são estudos descritivos,
im-portantes sem dúvida pelo escopo educativo, mas sem profundidade para
os esclarecimentos dos problemas etiopatogênicos, quase todos girando em
tôrno do então famoso problema das degenerações mentais. Com Freud, o
problema sexual encaminhou-se para algo mais preciso e específico. Com
constância, nas associações e recordações dos pacientes surgiam fatos de
se-dução sexual, traumas, conflitos em tôrno do problema da masturbação e
outros de natureza erótica, mêdo e culpa em face dos genitores, logo
inte-riorizados naquilo que ulteriormente a terminologia psicanalítica denominou
"consciência moral" e, depois, "superego". O material que Freud acumulou
até publicar seu clássico ensaio de 1905
5 afoi obtido pelas associações e
re-cordações dos pacientes; todo êle seria corroborado pelos estudos ulteriores
de psicanálise infantil (Ana Freud, Sophie Morgenstern, M . Klein e sua
es-cola, e outros pedanalistas).
N a m o d e r n a p s i c o p a t o l o g i a , r e a v a l i a r o p a p e l dos i n s t i n t o s s e x u a i s s i g n i f i c a e s t u d a r a i m p o r t â n c i a , p o s s í v e l i n c o r r e ç ã o o u i n s u f i c i ê n c i a da t e o r i a da l i b i d o p o s -t u l a d a p o r F r e u d . C o n c e b e u ê l e a s e x u a l i d a d e c o m o a l g o b e m m a i s a m p l o d o q u e a g e n i t a l i d a d e . E m essência, s e g u n d o F r e u d , os i n s t i n t o s s e x u a i s v i s a m , q u a n d o s a t i s f e i t o s , a c o n s e c u ç ã o d o p r a z e r . A p r i n c í p i o , a p o i a m s e nos i n s t i n t o s de n u t r i -ç ã o — o p r a z e r e m n u t r i -ç ã o — c o m o , p o r e x e m p l o , q u a n d o a c r i a n -ç a se f u n d e e m o c i o n a l m e n t e c o m a m ã e n o a t o de a m a m e n t a ç ã o ; l o g o r e v e l a m s e a l g o i n d e -p e n d e n t e s , c o m o n o uso d a c h u -p e t a o u na s u c ç ã o d o -p o l e g a r ; q u a n d o o i n t e r ê s s e é d e s l o c a d o p a r a a t i v i d a d e s d i g e s t i v a s i n t e s t i n a i s , e n t ã o , c o m o a t o da e v a c u a ç ã o , s u r g e a c o m p o n e n t e p r a z e r o s a a n a l , p a r a l o g o e v o l v e r n o s e n t i d o d o p r a z e r f á l i c o j á l o c a l i z a d o nos ó r g ã o s g e n i t a i s . A s s i m , a l i b i d o , c o n c e b i d a c o m o e n e r g i a dos inst i n inst o s s e x u a i s , inst e r i a e v o l u ç ã o inst ó p i c a e d i n â m i c a , c o m v á r i a s z o n a s e r ó g e n a s p r é -g e n i t a i s e c o m p o n e n t e s ou i n s t i n t o s p a r c i a i s e v o l v e n d o p a r a a u n i f i c a ç ã o f á l i c a , c o m p l e t a n d o s e a s e x u a l i d a d e i n f a n t i l a o s 56 a n o s . P o s t u l a a i n d a F r e u d u m p e -r í o d o d e l a t ê n c i a l o g o a s e g u i -r , a t é às m a n i f e s t a ç õ e s da p -r é - p u b e -r d a d e e p u b e -r d a d e p r ò p r i a m e n t e5 a
. D e p o i s o c o r r e m f e n ô m e n o s c a r a c t e r í s t i c o s e n d ó c r i n o - p s i c o l ó g i c o s q u e se s e d i m e n t a m na s e x u a l i d a d e do a d u l t o , p a r a e n t ã o s u r g i r o d e c l í n i o d a s a t i v i d a des e r ó t i c a s c o m a i n v o l u ç ã o o r g â n i c a g e r a l , d a q u a l o c l i m a t é r i o é m e r a f a s e c r í t i c a . A n o ç ã o d e i n s t i n t o f o i c o n c e b i d a c o m o " u m c o n c e i t o l i m i t e e n t r e o s o m á -t i c o e o p s í q u i c o " : -t e m ê l e u m a f o n -t e o r i g i n a l n o p l a n o s o m á -t i c o ( z o n a e r ó g e n a ) , u m o b j e t o e u m a f i n a l i d a d e q u e é sua d e s c a r g a , c o m a s e n s a ç ã o p r a z e r o s a de a l g o q u e se s a t i s f a z . A t r a v é s dessas z o n a s e r ó g e n a s , espécies de i l h o t a s no e r o t i s m o g e r a l d o c o r p o h u m a n o , os i n s t i n t o s s e x u a i s s ã o c o n c e b i d o s c o m o a l g o m ú l t i p l o , I n s t i n t o s p a r c i a i s e v o l v e n d o p a r a a u n i f i c a ç ã o da f a s e g e n i t a l .
psi-coses. H á " f i x a ç õ e s " e " r e g r e s s õ e s " da l i b i d o ou do e g o p a r a t a l ou q u a l z o n a sob o i m p a c t o d a s f r u s t r a ç õ e s dos c o n f l i t o s a t u a i s , h a v e n d o i r r u p ç ã o de t a l ou q u a l n e u r o s e de a c ô r d o c o m o p o n t o d e f i x a ç ã o p a r a o q u a l a l i b i d o r e g r e d i u . F r e u d , e c o m ê l e t ô d a u m a p l ê i a d e de b r i l h a n t e s d i s c í p u l o s na p r i m e i r a f a s e do m o v i m e n t o p s i c a n a l i t i c o , p o s t u l o u , assim, a g r a n d e e d e c i s i v a i m p o r t â n c i a da se-x u a l i d a d e n o c a m p o das neuroses, l o g o e s f o r ç a n d o - s e por a p l i c a r a t e o r i a da l i b i d o a o c a m p o das psicoses c o m o c l á s s i c o e s t u d o do c a s o S c h r e b e r e c o m seu e n s a i o s ô b r e o n a s c i s i s m o . N a e v o l u ç ã o i n s t i n t i v o a f e t i v a , t o r n o u s e i m p o r t a n t e o p r o -b l e m a das r e l a ç õ e s c o m os o -b j e t i v o s p r i m á r i o s , t e n d o sido e s t u d a d o p o r F r e u d o c l á s s i c o " c o m p l e x o de É d i p o " e o n ã o m e n o s i m p o r t a n t e " c o m p l e x o de c a s t r a ç ã o " , c o m o p o n t o s f o c a i s d e e x t r e m a i m p o r t â n c i a n o curso do d e s e n v o l v i m e n t o p e s s o a l .
A s s i m , a t e o r i a dos i n s t i n t o s é de v i t a l i m p o r t â n c i a e m p s i c a n á l i s e , os i m p u l -sos s e x u a i s d e s t a c a n d o - s e p e l a sua e x t r a o r d i n á r i a i m p o r t â n c i a n ã o só d e n t r o d a p s i c o p a t o l o g i a , m a s t a m b é m n o p l a s m a r a p e r s o n a l i d a d e p s i q u i c a m e n t e e s t á v e l , sa-dia. N ã o e x i s t i u j a m a i s o t ã o e q u i v o c a d a m e n t e f o r m u l a d o p a n s e x u a l i s m o , m a s f ô r ç a é r e c o n h e c e r a g r a n d e p r e d o m i n â n c i a l o g o a s s u m i d a , na t e o r i a e t é c n i c a psi-c a n a l í t i psi-c a s , p e l o s i n s t i n t o s s e x u a i s . Sua f ô r ç a e s t ê v e s e m p r e e m sua b a s e e m p í r i psi-c a , pois e r a m os f a t o s c l í n i c o s , o m a t e r i a l v i v o d e r e c o r d a ç õ e s , f a n t a s i a s , sonhos, a t o s f a l h o s d a v i d a c o t i d i a n a , t u d o isso r e u n i d o p o r F r e u d , q u e s e m p r e e s t a v a a j u s t i -f i c a r a q u e l a p r e d o m i n â n c i a de E r o s na v i d a n o r m a l c o m o na p s i c o p a t o l ó g i c a . A o b s e r v a ç ã o c u i d a d o s a d a s c r i a n ç a s p o r m ã e s , p e d i a t r a s e e d u c a d o r e s s e m p r e t e n d e a c o n f i r m a r o m a t e r i a l c o l h i d o p e l o p s i c a n a l i s t a , h a v e n d o , t o d a v i a , c e r t o s e s c o t o m a s , f i l h o s de p r e j u l g a d o s f i l o s ó f i c o r e l i g i o s o s o u de r e s i s t ê n c i a s pessoais d o o b s e r -v a d o r , n o s e n t i d o de r e g i s t r a r e c o m p r e e n d e r o m a t e r i a l de a t i -v i d a d e s s e x u a i s
( r e a i s o u f a n t a s i a d a s ) f o r n e c i d o p e l a c r i a n ç a desde as p r i m e i r a s fases d o seu d e -s e n v o l v i m e n t o . F r e u d j a m a i -s p o -s t u l o u o p a n -s e x u a l i -s m o , p e r c e b e n d o , de-sde o i n i c i o , a i m p o r t â n c i a p r í m a c i a l da s i t u a ç ã o c o n f l i t u o s a . A i m p o r t â n c i a d a s e x u a l i d a d e a d v i n h a de ser e l a p a r t e c o n s t a n t e de t a l s i t u a ç ã o , s e n d o a o u t r a o m ê d o d o s g e -n i t o r e s , i -n f l u x o s e d u c a c i o -n a i s e r e l i g i o s o s , u l t e r i o r m e -n t e i -n t r o j e t a d o s sob f o r m a d e e g o i d e a l , c o n s c i ê n c i a m o r a l , s u p e r e g o . A d u a l i d a d e i n i c i a l ( i n s t i n t o s s e x u a i s e i n s t i n t o s d e c o n s e r v a ç ã o d o e g o ) n ã o p ô d e se m a n t e r a p ó s a d e s c o b e r t a de q u e g r a n d e p a r t e da s e x u a l i d a d e , sob f o r m a de l i b i d o n a r c í s i c a , t a m b é m r e v e s t i a o e g o , p r o t e g e n d o - o , d a n d o - l h e p r a z e r , c o n s e r v a n d o - o p o r t a n t o . Ε n o e n s a i o d e 1922, F r e u d l a n ç o u sua n o v a t e o r i a : i n s t i n t o s s e x u a i s ou de v i d a e i n s t i n t o s d e m o r t e , êstes, q u a n d o d e f l e t i d o s p a r a o e x t e r i o r , d a n d o os f e n ô m e n o s d e a g r e s s ã o . H o u v e n e c e s s i d a d e de a m p l i a ç ã o do c o n c e i t o d o s e x u a l p a r a a l é m d o g e n i t a l , p a r a q u e p u d e s s e m ser m e l h o r i n t e r p r e t a d a s as m a n i f e s t a ç õ e s d a s e x u a l i d a d e i n f a n t i l q u e v i s a m n ã o a r e p r o d u ç ã o , m a s o p r a z e r , c o m o a c o n t e c e t a m b é m c o m os f e n ô m e n o s d a s p e r v e r s õ e s s e x u a i s . É c o n h e c i d a a f r e q ü ê n c i a d o o n a n i s m o i n f a n t i l q u e se i n -c r e m e n t a -c o m as n o v a s i r r u p ç õ e s l i b i d i n o s a s da p u b e r d a d e , s e m p r e p r o i b i d o , p o r v ê z e s t e r r l f i c a m e n t e , m a s s e m q u e p a i s ou e d u c a d o r e s a s s u m a m a t i t u d e s de c o m p r e e n s ã o p a r a c o r r i g í l o . Os m o d e r n o s t r a b a l h o s d e p e d a n á l i s e c o n f i r m a m a i m p o r -t â n c i a da s e x u a l i d a d e i n f a n -t i l , q u e se o r i g i n a c o m os p r ó p r i o s f e n ô m e n o s o r a i s da s u c ç ã o a o seio, p r o l o n g a n d o - s e , a t r a v é s d e a t i v i d a d e s a n a i s , a t é ã f a s e f á l i c a c o m a t o s e f a n t a s i a s e m e s t r e i t a c o n e x ã o c o m os o b j e t o s e m q u e a l i b i d o é i n v e s t i d a n o c u r s o de sua e v o l u ç ã o . E s t a é c o n f l i t u o s a , e a i m p o r t â n c i a e i n t e n s i d a d e d e t a i s c o n f l i t o s d e p e n d e m m u i t o do t i p o de e d u c a ç ã o q u e a c r i a n ç a v a i r e c e b e n d o , s e n d o v i t a i s , p o r t a n t o , a p r ó p r i a e d u c a ç ã o e f o r m a ç ã o dos pais, da m ã e p a r t i c u l a r m e n t e , nas p r i m e i r a s fases. A t r a v é s d a f a m í l i a , h á o p o n t o d e p a s s a g e m d a p s i -c a n á l i s e , -c o m o p s i -c o l o g i a i n d i v i d u a l , p a r a o s o -c i a l , f a z e n d o - s e s e n t i r as i n f l u ê n -c i a s da t r a d i ç ã o f a m i l i a r e s o c i a l na f o r m a p o r q u e os pais se o r i e n t a m na f o r m a ç ã o e e d u c a ç ã o dos f i l h o s . C o m o r e s u l t a d o de t a i s s i t u a ç õ e s c o n f l i t u o s a s , q u e a t i n g e m o c l í m a x a o s 4-6 a n o s c o m o " c o m p l e x o de É d i p o " , s u r g e m , c o m r e g u l a r i d a d e , as n e u r o s e s i n f a n t i s , c o n s i d e r a d a s c o m o crise do d e s e n v o l v i m e n t o p s i c o s s e x u a l .
-s i b i l i t a d a -s p e l a -s o r i e n t a ç õ e -s b e h a v i o r i -s t a , g e -s t a l t i -s t a e f e n o m e n o l ó g i c a . E -s t a -s v ã o t o m a n d o e m p s i c o p a t o l o g i a t ô d a sua i m p o r t â n c i a p e l o s i n f l u x o s e b a f e j o s dessa v i -s ã o e m p r o f u n d i d a d e o f e r e c i d a p e l o g ê n i o d e F r e u d . R e p r e -s e n t o u g r a n d e r e v o l u ç ã o na p s i c o l o g i a n o r m a l e na p s i c o p a t o l o g i a , i m p o n d o - s e seus a c h a d o s s ô b r e c r í t i c a s o m a i s das v ê z e s d e p e n d e n t e s de u m a é p o c a de p r e c o n c e i t o s c o n t r a as m a n i f e s t a -ç õ e s b i o p s i c o l ó g i c a s dos m a i s p o d e r o s o s i n s t i n t o s q u e a g i t a m a a l m a h u m a n a . G r a n d e p a r t e dêsses p r e c o n c e i t o s j á foi s u p e r a d a , o q u e p o s s i v e l m e n t e j á e s t á se r e f l e t i n d o s ô b r e a p r ó p r i a t i p o l o g i a dias neuroses, q u e v a i v a r i a n d o e m f u n ç ã o de f a t ô r e s s o c i o c u l t u r a i s a se r e f l e t i r e m na a t i t u d e d e pais e e d u c a d o r e s p a r a c o m os i m p u l s o s b á s i c o s . A h i s t e r i a de c o n v e r s ã o d o t e m p o de C h a r c o t é r a r i d a d e a t u a l -m e n t e , as n e u r o s e s c o -m p u l s i v a s v ã o se t o r n a n d o -m e n o s f r e q ü e n t e s t a -m b é -m ; s ã o m a i s e n c o n t r a d i ç o s os e s t a d o s de i m p o t ê n c i a s e x u a l m a s c u l i n a e de f r i g i d e z f e m i -n i -n a , a u m e -n t a -n d o a s s u s t a d o r a m e -n t e as -n e u r o s e s d e c a r á t e r e o c o m p o r t a m e -n t o p s i c o p á t i c o nas n o v a s g e r a ç õ e s . Êsse é o g r a n d e p o n t o de c o n v e r g ê n c i a e n t r e o b i o l ó g i c o e o s o c i a l q u e , de f o r m a a l g u m a , d e v e m ser c o n c e b i d o s c o m o f ô r ç a s o p o s tas, d o u t r i n á r i a ou c o n c e p t u a l m e n t e , s e n ã o c o m o c a u s a s c o n j u g a d a s q u e se c o m p l e t a m p a r a a c o m p r e e n s ã o de f e n ô m e n o s t ã o c o m p l e x o s . Ê t o d o o c a m p o da m o -d e r n a p s i c o l o g i a s o c i a l e m e s m o -da a n t r o p o l o g i a c u l t u r a l a l t a m e n t e i m p r e g n a -d a s d e c o n c e i t o s p s i c o d i n â m i c o s .
Mesmo entre os mais fiéis e competentes colaboradores de Freud, houve
alguns que não aceitaram suas idéias e descobertas referentes à
importân-cia etiológica da sexualidade nas neuroses. Adler considerou a sexualidade
como um dos problemas vitais do homem, sendo os dois outros o
profissio-nal e o das relações sociais (sentimento de comunidade); procurou êle
fun-damentar sua psicologia individual sôbre a importância dos sentimentos de
inferioridade, destacando o papel dos instintos de agressão e das técnicas
usadas pela personalidade para salvaguardar seu estilo de vida orientado
no sentido da afirmação v i r i l
2; desvalorizou, assim, o que as investigações
psicanalíticas tinham proporcionado de mais valioso. Também Jung
acen-tuou, de início, o conflito atual, afirmando que os pacientes plasmavam
fantástica e regressivamente conflitos e complexos infantis, muitos dêles
postulados erradamente como originais
1 1.
Mas as críticas sôbre o excessivo "biologismo" de Freud e conseqüente
valorização do sexual em detrimento do cultural vieram, com bem maior
ênfase, com a chamada corrente culturalista, destacando-se os nomes de
K. Horney, E. Fromm, A . Kardiner, H. S. Sullivan. H o r n e y
1 0considera
a vontade de poder como mecanismo de defesa; deu valor aos fins
neuró-ticos, admitiu uma angústia básica, acentuou a situação atual, a
necessi-dade de afeto do neurótico e criticou fortemente a teoria da libido: nem
todos os afetos têm base sexual, como também há outras fontes de prazer
além da satisfação sexual. Horney critica tal teoria como demasiado
uni-lateral e insuficiente para explicar estruturas caracterológicas de grande
complexidade; admite que o homem é regido pela necessidade de obter
sa-tisfação e segurança; a ansiedade básica é definida como sentimento de
impotência diante de um mundo hostil. Ε escreve: "de acôrdo com tal
conceito, a criança não sòmente teme punição ou abandono por causa dos
impulsos proibidos, mas sente o ambiente como ameaça a seu inteiro
de-senvolvimento e aos seus mais legítimos desejos e tendências"
1 0 auma busca de segurança como "tendências neuróticas", aproximando-se tal
conceito do que Freud designa como "impulsos instintivos" e "superego".
Enquanto que Freud admite a natureza biológico-instintiva das necessidades
irresistiveis do neurótico, Horney concebe-as como necessidade da criança
de enfrentar um ambiente difícil e hostil, como meios para aquisição do
sentimento de segurança. F r o m m
7põe também grande ênfase sôbre os
fatôres culturais, acentuando as novas necessidades trazidas pela cultura,
desenvolvendo-se tendências de submissão ou ambição, por exemplo, em
fun-ção de certas exigências socioculturais; admite que o comportamento
sado-masoquista, certas tendências à agressividade são meros mecanismos de
fuga, como o é igualmente a excessiva submissão ou um comportamento
demasiado conformista; considera o complexo de Édipo como expressão da
luta da criança para se libertar da excessiva autoridade dos pais, como é o
caso na sociedade patriarcal, procurando ela afirmar-se por si mesmo; não
dá importância ao que é fundamental na concepção freudiana, isto é, o
psi-codinamismo sexual de tais situações intensamente conflituosas. Sullivan
1 8também destaca o problema das relações interpessoais, acentuando a busca
do prazer e da segurança bem como a ação de fôrça pessoais e sociais;
desenvolveu tôda uma teoria do dinamismo do ego, suas relações com a
an-gústia, e criou o conceito da deformação paratáxica, bem próximo à
situa-ção de "transferência" da psicanálise; formulou tôda uma teoria do
desen-volvimento da personalidade, que descreve segundo o processo de
acultura-ção e que divide em seis períodos (primeira e segunda infância, juvenil,
pré-adolescência, adolescência e período adulto); põe ênfase sôbre os
fatô-res culturais, desvalorizando a contribuição da sexualidade, cuja influência
já se vai fazendo sentir na pré-adolescência e atinge sua plenitude na
ado-lescência. Em suma, podemos dizer que Horney, Fromm e Sullivan e, com
êles, os demais arautos da corrente culturalista, acentuam os fatôres
am-bientais, socioculturais a tal ponto que o instintivo, o biológico e, portanto,
a influência dos instintos sexuais, fica bem reduzida em significação,
rene-gando vitalmente as fundamentais aquisições da investigação psicanalítica.
E s t u d o s de a n t r o p o l o g i a c u l t u r a l s ô b r e q u e , e m g r a n d e p a r t e , se a p o i a m os c i -t a d o s a u -t o r e s , -t r o u x e r a m f o r -t e s c r í -t i c a s ã a ç ã o dos f a -t ô r e s i n s -t i n -t i v o - s e x u a i s no d e s e n v o l v i m e n t o da p e r s o n a l i d a d e e d e sua i n f l u ê n c i a n a s i n s t i t u i ç õ e s e c o s t u m e s s o c i o c u l t u r a i s , r e j e i t a n d o , s o b r e t u d o , o c a r á t e r u n i v e r s a l d o c o m p l e x o - c h a v e da t e o r i a p s i c a n a l í t i c a , o c o m p l e x o d e É d i p o . A t e o r i a da h o r d a p r i m i t i v a e d o assas-s i n a t o d o c h e f e - p a i , c o m a assas-s u b assas-s e q ü e n t e u n i ã o doassas-s f i l h o assas-s a assas-s assas-s a assas-s assas-s i n o assas-s p a r a h o n r a r e r e v e r e n c i a r , por a n g ú s t i a e c u l p a , o s í m b o l o t o t ê m i c o r e p r e s e n t a t i v o d o pai m o r t o , t a l c o m o foi e x p o s t a p o r F r e u d n o " T o t e m e T a b u "5
, t e m sido f o r t e m e n t e c r i t i -c a d a . M u i t o s dos d a d o s f o r n e -c i d o s p o r J a m e s F r a z e r , s ô b r e q u e a o b r a f o i baseada, f o r a m n e g a d o s ou sujeitos a i n t e r p r e t a ç õ e s d i v e r s a s p e l o s m o d e r n o s a n t r o p ó -l o g o s . M a -l i n o v s k i 1 4
n e g a a u n i v e r s a l i d a d e do c o m p l e x o de É d i p o , c i t a n d o f a m í l i a s m a t r i l i n e a r e s de i l h a s m e l a n é s i a s e m q u e t a l c o m p l e x o n ã o e x i s t e p o r n ã o se r e a -l i z a r a s i t u a ç ã o t r i a n g u -l a r da f a m í -l i a p a t r i a r c a -l . G e z a R o h e i m1 7
m o s t r o u q u e m u i -tas c u l t u r a s são d o m i n a d a s p o r p r e d o m i n â n c i a s o r a i s ( t r i b o s da A u s t r á l i a ) ou a n a i s , c o m o r e s s a l t a e m suas i n s t i t u i ç õ e s , m i t o s e t r a d i ç ã o f o l c l ó r i c a , t o d o s c o m as ca-r a c t e ca-r í s t i c a s dessa " ca-r e g ca-r e s s ã o " . T a l f a t o n ã o n e g a a i n f l u ê n c i a d o c o m p l e x o de É d i p o , a c e n t u a n d o a p e n a s as d e f e s a s p o r r e g r e s s ã o p a r a fases p r é - g e n i t a i s , c o m o é o c a s o na p s i c o p a t o l o g i a i n d i v i d u a l . R u t h B e n e d i c t ( c i t . p o r S . N a c h t, 0
-sou F r e u d no seu e s f ô r ç o p o r c o m p a r a r i n s t i t u i ç õ e s c u l t u r a i s c o m as v á r i a s fases do d e s e n v o l v i m e n t o i n d i v i d u a l . M e a d 1 5
v e r i f i c o u q u e e m S a m o a n ã o h á c o n d i ç õ e s p a r a a m a n u t e n ç ã o de l a ç o s e s p e c í f i c o s e n t r e p a i s e f i l h o s , n u m a só c a s a h a v e n d o i r m ã o s , i r m ã s , p r i m o s , p r i m a s s e m p r o i b i ç õ e s s e x u a i s , a l é m d e a d u l t o s , s e n d o d i v i -d i -d o o a f e t o a l g o -d i s p e r s a m e n t e e n t r e t o -d o s . N ã o e x i s t e , pois, o c o m p l e x o -de É -d i p o s i m p l e s m e n t e p o r n ã o e x i s t i r e m as c o n d i ç õ e s f u n d a m e n t a i s p a r a seu d e s e n v o l v i m e n t o ( s i t u a ç ã o t r i a n g u l a r ) . N ã o posso m e d e t e r a q u i na a p r e c i a ç ã o de t a i s c r í t i c a s , a l g u m a s j u s t a s , o u t r a s n ã o . A n e g a ç ã o do c o m p l e x o d e É d i p o e m t a i s c u l t u r a s p o d e n ã o ser de t o d o c o r r e t a . Se fôsse r e a l i z a d a u m a a n á l i s e m a i s p r o f u n d a d e t a i s s i t u a ç õ e s , c o m o f a z e m n o t a r N a c h t , D i a t k i n e e R e c a m i e r1 6
, p o d e r í a m o s v ê - l o , n ã o de f o r m a d i r e t a , m a s d e s l o c a d o p a r a f i g u r a s s u b s t i t u t a s ( h á s e p a r a ç ã o r i g o r o s a e n t r e i r m ã o s e i r m ã s nos p o v o s da ilha d e T r o b i a n d e s t u d a d o s p o r M a l i n o v s k i , p e -s a n d o f o r t e m e n t e -s ô b r e êle-s, a p ó -s a p u b e r d a d e , o t a b u -s e x u a l , c o m o é f r e q ü e n t e na p s i c o p a t o l o g i a i n d i v i d u a l : e l e m e n t o s a n a i s e e x c r e m e n t i e i a i s nos n e u r ó t i c o s c o m -p u l s i v o s c o m d e f u s ã o d e s a d i s m o , c o m o d e f e s a c o n t r a a s i t u a ç ã o e d i -p i a n a ) .
Os fatôres ambientais familiares e socioculturais foram admitidos por
Freud, mas talvez não com a ênfase necessária. Tem sido o mérito da
neopsicanálise culturalista atrair a atenção para a grande importância dêles
na personalidade normal e mórbida. Também dentro da moderna teoria e
prática psicanalistas já houve certa modificação quanto à supremacia dos
instintos sexuais, desde que Freud mostrou a importância dos instintos de
morte, de agressão (1922). Freud parece não ter elaborado clinicamente
em grau suficiente sua nova teoria dos instintos (aplicou-a em alguns dos
seus estudos sôbre sadomasoquismo, guerra, criminalidade), mas, desde a
publicação do "Ego e o Id"
5 1e com o livro de Ana Freud
6, o acento foi
de certa forma deslocado para o estudo do ego e seus mecanismos de
de-fesa. As influências repressoras do superego, as ansiedades e a culpa como
motivo da defesa, passaram a ter bem maior importância que a mera
con-sideração do aspecto instintivo da personalidade (do i d ) . Os estudos da
es-cola inglêsa
1 2 , 1 3psicopato-logia, quase usurpando a supremacia dos instintos sexuais dos primeiros
tempos da investigação psicanalítica. N o desenvolvimento normal da
per-sonalidade assistimos a um relativo equilíbrio entre Tanatos e Eros, entre
instintos de morte destrutivos e os instintos libidinosos de vida, êstes
últi-mos, segundo M. Klein, visando neutralizar os efeitos catastróficos dos
pri-meiros. Vemos, então, que as elaborações das defesas do ego utilizam a
energia sexual amorosa para compensar, neutralizando, a energia dos
ins-tintos de morte que, sob forma de objetos maus interiores, atacam o ego,
forçando a defesas ainda muito primárias. Tal relativa subestimação dos
instintos sexuais em favor dos instintos de morte na teoria kleiniana tem
sido criticada pela corrente de psicanalistas que segue a linha mais
clás-sica freudiana. Todavia, tal teoria parece já vencedora, e o interêsse se
deslocou marcadamente para o estudo das fases pré-genitais, pré-edipianas,
com estudos e investigações, aliás, iniciados pelo próprio F r e u d
5' , perdendo
o complexo de Édipo aquela importância central dos primeiros tempos, cada
vez mais sendo concebido, não como início ou centro de um longo e
com-plexo desenvolvimento psicossexual, mas já como término de uma fase
evo-lutiva iniciando-se logo após o nascimento e terminando ou esmaecendo
ime-diatamente antes do período de latência. A análise de criança como a de
psicóticos vem sempre confirmando e proporcionando novos dados sôbre a
primacial importância dessas fases pré-genitais com acento sôbre os
ins-tintos sádicos, de agressão, cuja importância, vista por Freud, foi objeto de
estudos profundos por K . Abraham principalmente
la, b, até assumir grande
importância na escola inglêsa. Mais recentemente, Hartmann
8, 9vem
de-senvolvendo a teoria de certa autonomia do ego: não se desenvolve
direta-mente de id sob ação do meio exterior, como foi postulado por Freud, mas
ambos se desenvolveriam de uma matriz comum, havendo na estrutura do
ego tôda uma espécie de zona neutra, não cqnflituosa. Tais concepções vêm
tendo progressiva aceitação, atraindo o interêsse de psicólogos e
psicanalis-tas para o problema do desenvolvimento primitivo do ego com seus núcleos
iniciais já em plena fase intra-uterina.
recebendo contribuições dos mais variados campos, sem que sejam
prejudi-cadas as bases instintivo-afetivas de sua estruturação e desenvolvimento.
A angústia foi reinterpretada por Freud
5g: não é apenas mera conversão
de energias instintivas sexuais em fenômenos de inervação do sistema
neu-rovegetative, mas é algo que se localiza no ego, como sinal de advertência
em face de situações reais ou inconscientes (mêdo e angústia neurótica,
res-pectivamente). O problema do ego-superego, sobretudo no campo das
psi-coses e da deliqüência ocupa o primeiro plano: assiste-se, nos vários quadros
da nosologia mental, a reações de fuga, de alteração da realidade nos
fenô-menos ilusórios, alucinatórios e delirantes, à fragmentação do ego, que
passa a funcionar como núcleos mais ou menos autônomos, na esquizofrenia
grave; ou então, a realidade é apreendida e interpretada segundo tôda uma
poderosa constelação ídeo-afetiva apoiada em realidades internas sentidas
como perigosas, no delírio interpretativo-persecutório paranóico, no sensitivo
de auto-referência, em querelantes e nos diversos quadros das psicoses
pas-sionais; ou, ainda, conflitos são projetados, vivenciados e atuados no mundo
exterior, nas personalidades psicopáticas e nos caracteres neuróticos, que
vivem aloplàsticamente seus conflitos vitais. Os estados de ansiedade e
culpa de motivação inconsciente, as angústias persecutórias e depressivas
passaram a dominar a cena em psicopatologia e são revividos na situação
transferenciai psicoterápica; podem ser manipulados e elaborados no "aqui
e agora" pelo psicoterapeuta. Êste vai ajudando o paciente a dissolver os
mecanismos neuróticos e psicóticos deformados e deformadores, entrando
gradativamente numa realidade mais objetiva, menos ansiosa, menos
terri-ficante, até atingir o plano da higidez mental. Num plano menos clínico
porém mais transcendental de reflexão filosófica, assistimos talvez à bela
perspectiva do encontro de tais aquisições da psicologia profunda dinâmica
com as modernas elaborações da filosofia fenomenológico-existencial sôbre
os problemas da angústia, do mêdo e do nada, do tédio e da melancolia,
da morte e do desespêro. Através de tôda uma brilhante plêiade de
pen-sadores (Kierkegaard, Nietzsche, Husserl, Heiddegger, Jaspers, Sartre,
Ga-briel Marcel e tantos outros), aflui tão poderosa corrente de pensamento
filosófico-existencial para o campo da psicopatologia e da clínica
psiquiá-trica com os notáveis e fundamentais trabalhos de L. Binswanger
3. É, sem
dúvida, uma vigorosa corrente de pensamento, que se propõe a prolongar
o plano de investigação para o problema do sêr totalitário, com seus
pro-blemas ontológicos e existenciais, incluindo-o, assim, num âmbito mais
am-plo de apreensão e compreensão.
estudando o homem concretamente inserto no seu meio, isto é, o homem
em situação? Parece que os psicopatologistas fenomenológico-existenciais,
que muito se abeberaram em Husserl, Heidegger, Jaspers e, mais
recente-mente, em Minkowski e Binswanger, têm uma mensagem de grande
im-portância a nos enviar. Seja ela bem-vinda, se contribuir para aumentar
nossos conhecimentos e remover certas insuficiências que ainda sentimos no
trato cotidiano com nossos pacientes. Nesse complexo tabuleiro da
perso-nalidade psicofísica, enormes são os problemas variáveis, desde o mais
lidi-mamente instintivo-biológico, através do sociocultural tão entusiàsticamente
estudado pela moderna antropologia cultural, até os grandes problemas
ôn-ticos e ontológicos do sêr em seu mundo. O "Dasein", o "in-der Welt-sein"
de Heidegger convida-nos a dúvidas e reflexões sôbre sua estruturação e
transcendência e, por certo, não serão elas sem fundamento e sem utilidade
porque se refletem no nosso grau e capacidade de compreensão dos nossos
pacientes. Quanto mais penetramos em seu íntimo, mais capazes estaremos
de ajudá-los, o que é o grande escopo não só do psiquiatra e psicoterapeuta,
mas de todo o médico digno dêsse nome. Nesse complexo psicodinamismo
o plano biológico-instintivo é, por certo, fator de máxima importância;
en-tretanto, deve ficar em seu lugar, sem pretensões de onipotência. A
rea-valiação do papel dos instintos sexuais em Psicopatologia não pode
dispen-sar a consideração dos demais fatôres e aspectos da personalidade total.
Resta-me a esperança de que, com as restrições, limitações e
corre-ções que procurei transmitir, não tenha eu dado a impressão de qualquer
subestimação da obra de Freud. Não se pode subestimar um gênio, mas
a melhor forma de honrá-lo e reverenciá-lo consiste em apontar suas
gran-des intuições e gran-descobertas sem ocultar os pontos em que sua mensagem
pode sofrer restrições e modificações.
R E S U M O
S U M M A R Y
The importance of sexual instincts in Psychopathology.
The author analyses the contribution of Freud's libido theory for the
elucidation of certain basic psychopathologic problems. After mentioning
the dissident ideas of Adler and Jung, he studies the contribution of the
neo-psychoanalysts with cultural orientation (Horney, Fromm, Kardiner,
Sullivan) referring their fundamental point of view: the predominance of
sociocultural factors and devaluation of the biological ones in the
develop-ment of normal and abnormal personality, especially on social-psychologic
and cultural-anthropologic principles. Considering these biological and
socio-cultural aspects as convergents and not as opposites the author concludes
that the instinctive level of the personality is very important, but not
suf-ficient to explain all the psychodynamic problems of the personality.
R E F E R Ê N C I A S
1. A B R A H A M , K . — a ) C o n t r i b u t i o n s t o t h e t h e o r y o f t h e a n a l c h a r a c t e r ( 1 9 2 1 ) ;
b) T h e i n f l u e n c e o f o r a l e r o t i s m on c h a r a c t e r - f o r m a t i o n ( 1 9 2 4 ) ; c) A s h o r t s t u d y
o f t h e d e v e l o p m e n t o f t h e l i b i d o , v i e w e d in t h e l i g h t o f m e n t a l d i s o r d e r s ( 1 9 2 4 ) . I n S e l e c t e d P a p e r s . T r a d , p o r D . B r y a n e A . S t r a c h e y . H o g a r t h P r e s s , L o n d r e s , 1927. 2. A D L E R , A . — a) S t u d y o f O r g a n I n f e r i o r i t y a n d its P s y c h i c a l C o m p e n s a t i o n . T r a d , por S. E. J e l l i f f e , N o v a Y o r k , 1917; b) E l C a r a c t e r N e u r ó t i c o ( 1 9 1 2 ) . T r a d , p o r A . v o n R i t t e r Z a h ó n y e P . F . V a l d e s , E d . P a i d o s , B u e n o s A i r e s , 1954. 3. B I N S W A N G E R , L . — a) Ü b e r P h ä n o m e n o l o g i e ; &) Ü b e r d i e d a s e i n s a n a l y t i s c h e F o r -s c h u n g -s r i c h t u n g in d e r P -s y c h i a t r i c I n A u -s g e w ä h l t e V o r t r ä g e und A u f -s ä t z e . B a n d 1, A . F r a n c k e A g . V e r l a g , B e r n a , 1947. 4. B R E U E R , J.; F R E U D , S. — On t h e P s y c h i c a l M e c h a n i s m o f H y s t e r i c a l P h e n o m e n a : P r e l i m i n a r y C o m m u n i c a t i o n ( 1 8 9 3 ) . S t a n d a r d E d . o f t h e C o m p l . P s y c h o l o g i c a l W o r k s o f S. F r e u d , v o l . 2, H o g a r t h P r e s s , L o n d r e s , 1955. 5. F R E U D , S. — a) T h r e e essays on t h e t h e o r y o f s e x u a l i t y ( 1 9 0 5 ) . S t a n d a r d E d . o f t h e C o m p l . P s y c h o l o g i c a l W o r k s , v o l . 7, H o g a r t h Press, L o n d r e s , 1953;
b) T o t e m and T a b o o ( 1 9 1 2 - 1 3 ) . S. E . C. P s y c h o l . W o r k s , v o l . 13, H o g a r t h P r e s s ,