É o TRABALHO NA ENFERMAGEM UM PRINCíPIO EDUCATIVO?
Delvair de Brito Alves*
RESUMO: Neste ensaio, pati mos de interpretações g ra mscianas, não a penas para identiica rmos os princípios ed ucativos que têm fu ndamentado os projetos de org a n i zação de Escolas de Enfermagem e do preparo de enfermeiro como, principa lmente , para i ntroduzirmos o trabalho como princípio ed ucativo fu ndamental a esses projetos.
ABSTRACT: I n this essay, based on i nterpretations by Gramsci , n ot o n ly do we identiy the educative principies wh ich are the fou ndation of the N u rsing Schools and n u rse ed ucation org a n ization projects , but also introduce work as a fu nda menta l ed ucative principie to these projects .
INTRODUÇÃO
o princípio educativo que sustenta os projetos peagógicos da enfermagem, em seus difeentes m veis, é redeimdo à medida que a sociedade se desen volve. Seria impotante buscar, de foma apofuda da, a compreensão de como tem se construído o princípio educativo, e que princípios educativos têm fundamentado a orgamzação das Escolas de Enfer magem e do preparo de enfermeiras. Entreanto, este é m contexto amplo e complexo que demanda exame apofudado da literatura de efemagem desde os seus primórdios, e que não comoa neste ensaio. Aqui, tentamos apenas uma primeia aproximação com o tema, resgatando alguns elementos da discus são teórica existente sobe o tabalo como pricípio educativo, especialmente aqueles oriundos do pensa mento de Gramsci e retomamos, apenas de foma breve, elementos que dão a marca dos princípios educativos assumidos ela enfermagem, em difeen tes momentos históricos.
2. O TRABALHO COMO PRINCíPIO EDUCATIVO: ALGUNS ELEMENTOS TEÓRICOS
MANACORDA (6) * * e NOSELLA ( 10) estuam
. o trabalho como pincípio educativo em Gramsci a
partir dos escitos que este pensador desenvolveu ente 1 9 1 5 e 1 937. Pa eles, a temática edagógica ocupa lugar central no ensamento de Gamsci, que toma como princípio educativo imaente da escola elementar e até mesmo de toda a escola umtia (escolas de primeio e segundo raus), o trabalho entendido como modo próprio ao homem de partici par ativamente da vida da natureza, para transfor má-Ia e socializá-la. (6)
Pa MANA CORDA (6), os escritos ente 1 9 16 e 1 9 1 8 reletem o contacto de Gamsci com a classe oeria e a crítica que ele faz à escola burguesa e ao refomismo socialista. Gramsci debate:
. . . a exigência de cultura para o proleta riado, ( . .) e sobretudo a necessidade de sua organização; a busca de uma relação educativa que subraia o proletariado à dependência dos intelectuais burgueses e, inalmente, o problema especico da es� cola, ( . .) a relação entre instrução huma nística e formação proissional, que na crítica da escola burguesa existente en volve também a política esolar socialista. MANACORDA (6) diz que Gmsci sugere uma escola que integre os disersos picípios educativos da desagegação escolar atual, e que se apresente como escola de cultura e de tabalo ao mesmo
tem-• Enfeneira, Professora Adjunta da Escola de Enfenagem a UFBa, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação. • • Trabalho publicado originalmente, e m italiano, sob o título In: PRINCÍPIO EDUCATIVO I N GRAMSCI, e m 1970, por nnando
Editore. Roma. Em 1977, este mesmo trabalho é publicado em espanhol com o título: EI princípio eductivo en Gramsci, por
Salamnca. .
po, isto é, da ciência toada produtiva e da pática tomada complexa. Pa Gansci, não se pode prepa rar para as atividades poissionais modenas, as quais se toam complexas e com as quais a ciência se
econtra tão intimamente entrelaçada, sem ter como base uma cultura geal formativa teórico-pática. Além de Gamsci, este autor etoma Lombardo Radi ce que critica os positivisas, acusandoos de identii car instução com educação e por imporem . . . um conteúdo determinado como típica encarnação de um ideal .. . criando assim ... 0 perigo que é próprio da escola não educativa: a esterilidade sistemática ... ( 1 3) O trabalho indusrial é colocado como base e princípio do novo homem, princípio educativo e uni versal de toda a sociedade modena.
O trabalho industrial, que implica, do ponto de vista intelectual, o conhecimento das leis da natureza e da sociedade e, do ponto de vista moral, o hábito de um sis tema de vida harmonicamente equilibra do, é, portanto, em última instância, o princípio educativo unitário que, marxia namente, Gramsci aponta. A sua é uma posição igualmente crítica com relação ao velho princípio dogmático e aristocrá tico e com relação s tentativas inovado ras que, permanecendo no interior da prática educativo-escolar imediata, cor
rem o risco de cair, em nome da liberda de, no abandono ao conformismo mecâ nico do ambiente, sem conseguir efetuar um vínculo real e não esnobe com a ativi dade produtiva social. . . .) sob o signo do rabalho e da ciência, o elemento que mais tem contribuído para unicar a hu manidade. (6)
NOSELLA (10) diz que de acordo com MANA CODA, Gmsci apaece mais maxisa do que Max. D iz:
Ficará, aliás, evidente que Max, mesmo partindo da necessidade não apenas do rabalho, mas também do sobre trabalho (social), colocageralmentefora do
traba-.
lho o reino da liberdade( ... ); enquanto Gramsci ( . .) coloca o crescimento da per sonalidade não fora, mas sim denro do rabalho.
KUENZER (5) tmbém discute > pricípio edu cativo em Gmsci, ao aalisar o ensio de l° e 2° graus. Em consonância com o pensamento graiscia no, ela diz que o avanço a cosução de um projeto
edagógico mais articulado às necessidades da classe trabalhadora, exige que se compreenda o princípio organiativo da escola contemporânea, em suas ela ções com a dinamicidade do processo de constituição da sociedade. A escola tem se dividido ente forma r intelectuais e formar tabalhadores i nstrumentais.
Formar esses intelectuais é tarejà da es cola que, para poder exercê-Ia, deve de inir seu princípio educativo a partir des tas mesmas itnções essenciais do mundo da produção econômica e que não se res tringem ao modo de produzir mas abran gem todo o conjunto das superestruturas
a ele dialeticamente relacionados, em suas dimensõesjurídico-polílicas e ideo lógicas. (5)
Ao lado de escolas, que têm como tarefa a fon1a ção de intelectuais, têm se desenvolvido escolas vol tadas para o desempenho de funções instumentais deinidas pelos difeentes ramos da produção. Diz KUENZER (5)
Destaforma, a multiplicação das escolas proissionais representa não um desen volvimento democrático como se crê ge ralmente, mas ao contrário, perpetua as dferenças sociais; esta jàlsa impressão de democratização decorre do jàto de as escols proissionais permitirem certa mobilidade social . . .). sta mobilidade, no entanto, é limitada pela origem de classe, que, diicultando () acesso ao sa ber cientico tecnológico através da fre quência aos níveis mais altos do sistema de ensino, delimita ( . .) ascensão na pirâ mide ocupacional.
Esta autoa recorre a MANACORDA (6) , para
izer que Gramsci entende que todo o cidadão deve ser posto, mesmo que abstratamente, em condições gerais de ser dirigente. Diz ainda que, com o desen volvimento das sociedades, a patir do avanço cienti ico e tecnológico, entra em cise o pricípio educa tivo undamentado a div isão entre funções intelec tuais e instrumentais, pois é imossível separar o homo faber do homo sapiens .
Do ponto de vista do exercício proissional, à medida em que avança o desenvolvimento cientico e tecnológico, as atividades práticas se tonam cada vez mais simplicadas no fazer '. porém mais com plexas em função do conhecimento cientico que
encerram, de tal modo que já não há distinção entre técnica e ciência. Para o operário. que não dispõe de
altenativas de acesso ao saber, islo signica o seu crescente distanciamento do trabalho que executa, que passa a incorporar cada vez mais um conheci mento cientico que ele não domina, ( . .) o 'trabalho simplicado é ruto da complexjicação do saber cientico-tecnológico ', e, portanto, exige mais co nhecimento do trabalhador para compreendê-lo, não obstante sua execução seja simples.(5)
Ao tomar o tabalho como princípio educativo é permitido superr a cisão entre escola clássica e esco la proissioal, a princípio racioal paa o capitalis mo, mas hoje superaa or seu próprio desenvolvi mento, tanto na cidade quanto no campo, ela cienti iação de todo e qualquer trabalho prático. A escola, que uniica cultura e trabalho, tem como inaliade a formação do homem desenvolvido multilateralmen te, que articula a sua capacidade podutiva às capaci dades de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem diige. Este princípio implica, necessariamente, a articulação entre teoria e prática e, segudo KUEN ZER (5) :
É
em Marx que se encontram os funda mentos que permitem entender a relação teoria/prática - a prxis - como processo através do qual se consrói o conhecimen to ( . .). O ponto de partida para essa pro dução são os homens em sua atividade real, no trabalho - a qiência real começa na vida real, na atividade prática.Assim, a situação vivida pelo trabalhador a so ciedade capialista é complexa, vez que o capital, ao se desenvolver, exige cada vez menos qualiicação do tabalhador, enquanto que o desenvolvimento da so ciedade cria relações sociais e forma de viver, que exigem que este mesmo tabalador tenha cada vez mais conhecimentos que le pemitam compeender, manipular e usfuir dos beneícios do avanço te.cno lóico. Este conhecimento cientíico-tecnológico que está na raiz da costiuição ·da sciedade deve ser tbalhado pela escola.
Assim, a escola contemnea * passa a ter como função das arefas contnditórias : formar o cidadão da olis, sujeito e objeto de dieitos, e o tabalhador pra atuar em m prcesso podutivo que limita a sa paticipação em atividade que requeem elexão e criatividade. (5)
3. TRABALHO, PRINCíPIO EDUCATIVO PARA A ENFERMAG EM?
ü princípio educativo que dá sustenação aos pojetos edagógicos da enfermagem - em seus dife rentes níveis - se edeinem em unção de cada mo mento vivido por esse sub setor de saúde. A aproxi mação desse elemento requer a retomada de algumas passagens de obras ( I , 2, 3, 8, l i, 12, 14) que marcm a enfermagem, pricipalmente, por traá-la sob dife rentes ânulos e historicamente. Essas obas fone cem subsídios para airmamos que o trabalho nem sempre foi tomado como princípio educativo nos pojetos pedagógicos da enfermagem, aqui conside rados, não apenas aqueles deinídos por escolas mas, todos aqueles que explícia ou impliciamente confe rem à enfermagem determinado peril.
No periodo a.C. os escritos que se refeem dire amente à enfenllgem são escassos. As eferências a essa atividade vêm concomiante com as da mediciia. P AIXÃü( l l ) diz que, de váios países esudados (Egi to, Ídia, Palestia, Assíria e Babilôía, Pésia, China, Japão e Suécia), aenas em algns á eferências expliciadas à enfermagem:
Os hindus queriam que seus enermeiros tivessem: asseio, habilidade, inteligência, conhecimento de arte culinária e de pre� paro dos remédios. Moralmente, deve riam ser: puros, dedicados e cooperado res. (1 1)
Nessa realidade, as doeças eram consideradas decorrentes de espíritos maligos. Segundo SIL VA( 1 4) , essa é uma concepção própria do pré-capita lismo. Como exemplo cita que :
As sociedades ribais, primitivas, perce biam as enermidades como provocadas pelos espíritos malignos, que habitavam o interior de todos os seres (animados e inanimados) ( . .). Osfeiticeiros, em cujas mãos se colocva a tarefa de cuidar dos doentes, uniam magia e religião ao co nhecimento empírico de raízes, ervs e frutas. ( . .) Quanto ao cuidado dos doen
tes e feridos, atividade complementar in dispensável à ura, icou a cargo das mulheres de sus famlias; tarefa, então,
A preocupação com o papel da escola contemporânea tem sido exaustivamente tratada nos últimos anos. A fonação do cidadão-trabalhador pela escola é objeto de discussão de teóricos, dentre os quais destacamos Miguel Arroyo.
basta1te semelhane
As,
executadas por els no ambiente doméstico (. A origem etmológica do termo enermagem, na lín gua inglesa constitui uma das evidências da exrema semelhança existente, no pas sado, enre as referidas funções.A Grécia contribuiu bastante para a evolução da medicia pois, Hiócates (460 a. C ), traz uma nova concepção de doença, ao contariar as crenças de seem as doeças causadas or maus espíritos e isis tir a obsevação cuidadosa dos doentes, na cultura isica, no culto à belea, a impoâcia ao dever da hospitalidade, elementos conributivos para o pro gresso da medicina e da enfemagem, (14)
A medicina romana, inicialmente ágica e exer cida por escravos, é iluenciada ela medicina grega. As necessidades decorrentes das guerras contínuas empreedidas pelo Impéio Romano, obrigam a imi r médicos regos. Enre os inais do século III e V d.C, a civilização omana recebe inluências do oci dente, atavés da difusão de suas idéias de desotis mo, pessimismo e fatalismo e a idéia de religião que antes ea, como a rega, terrena e prática, sem qual quer conteúdo espiitual ou ético, passa a contemplar
gaças espiituais numa vida depois da morte (14).
Nessas sociedades, atividades ditas de medicina e, principalmente, aquelas consideradas de enferma gem, são tidas como iferiores. Em Roma, os seviços de medicina e de enfermagem são coiados a estran geios e escravos por serem indignos do cidadão roo. (8)
Essas breves pssages sobre a origem da enfer magem sugerem que o prepao daqueles que exer cem atividades de medicia e de enfermagem, nesse peiodo, tem como elemento educativo, s idéias de m aias, de sobenatu ral, associadas a idéias de cas
tigo. Idéis esss que mantêm o homem prisioneio
do descohecido, dicultndo a sa colocação o mundo, como sujeito não sujeitado às leis das quais não paticipa.
Ua nova visão da doença surge com o Cristia nismo, que a colca como cstigo divino, provenien te, contudo, de um Deus misericordioso e bom. Por tanto, m isumento podeoso de remissão dos pe cados, de fotalecimento da fé, eim, de apoxima ção com Cristo e slvação da vida etea. Aqueles que cuidam dos enfermos têm, também, a oportunidade de salvar a pópria alma. Com isto, a ova religião estimula, gandemente, o atedimeto aos obres e doentes, favoecendo a cosiuição do diacoato (diáconos e diaconisas) com vistas à pática de
«i-dade. (9) . Desta forma, o Cristianismo consegue aglutinar em tomo da enfermagem, iuras ilustres na sociedade. Consegue fazer com que muitas das suas mais distintas damas se dediquem aos cuidados dos obres e doentes. Sob a direção de São Jerônimo. destacam-se Santa Paula, Santa Fabíola e Marcela (3)
Fzendo uma análise sobre esse grupo, PAIXÃO (1 1) diz:
Era, pois, um grupo de escola, aliando grande cultura e educação a elevado es pírito de serviço.
É
este o primeiro grupo de mulheres, citado na história, que se dedicou a estudos profundos.Essa ideologia continua de modo que, a organi
ação da enfermagem sob a fonna religiosa-militar,
é grandemente inluenciada elas grandes abadessas
como Santa Radegunda (século VI) e Santa Hildegar
a (século XI). Nessa nova forma se destacam Os Cavaleios de São João de Jerusalém, os de São Láao e os Cavaleiros Teutônicos. Os primeiros conseguem estender seus benefícios a diversos países europeus e mesmo com a expulsão dos cristãos de Jerusalém, eles tansferem seu principal hospital para Rodes e Ilha de Malta. Notabilizam-se pelos cuidados aos hasenianos. Impoante aida na construção de ma enfermagem com espírito cristão, são as ordes seculaes: Ordem dos Franciscanos, Convento das Religiosas, Ordes Teceiras. Esta última, considea da de grade valor paa a enfermagem pois a ela estão ligados personagens ilustes como : São Luis, Rei da Fança; Santa Isabel da Hungria; Santa Isabel de Portugal. A Ordem Dominicaa está ligada Sana
Catarina de Siena, que .. . Não se contentava com
servir doentes no hospital. Procurava-os, abandona dos pelas ruas ou em casebres, e providenciava sua
intenação. (1 1)
ELO (8) diz que a Idade Média e os séculos XV e XVI são épocas de intesa eligiosidade. A fé é explorada a onto de seem venidas indulgências -erdão total ou parcial dos ecados - que garantem aos obres e icos a salvação após a morte. Esse fato precipita a Reforma Protestante, ou seja, o rompimen to de uma parte dos crisãos com a Igeja Católica, debilitando o seu poder. Esse eiodo é conhecido
entre nós, como o período nego da enfen agem
ois ocorre o fecamento dos ospitais e a expulsão das religiosas que aí atuam. Como a enfemagem é unção exclusiva da Igeja, esse fato a atinge de modo profundo.
A falta de religioss na Alemanha, na Inglaterra e em outros países que assumem o protestantismo,
leva os govenos a tomaem, a seu cargo, os hospitais e lotá-los com mulheres da mais baixa esfera: o tipo comum da enermeira era da bêbada, desordeira, mulher de má vida. ( l I) Esse contexto faz com que as diaconisas dos primeiros séculos sejam lembradas. Entretnto, Luteo, aesar de também se preocupar com essa situação, considea essa idéia irealizável no potestantismo.
Segundo FOUCAUL T (4), a reorganiação dos hospitais militares no século XII visando o cuidado aos soldados, baseia-se na disciplia e isto muito inluencia a enfermagem. Nesse século, á uma reto mada da ilosoia baseada no Cristianismo, na forma ção de pessoas para cuidar de doentes. Surgem os precusores da enfermagem modea, ou seja, São Vicente de
p
aula e Santa Luia de Marillac, que organizam as Filhas de Caridade (conhecidas como Irmãs de Caidade). Em 1633, Santa Luiza de Maril lac reúne essas Filhas paa form ar-lhes o caráter e instuí-Ias nos misteres que deverim desempenhar, e São Vicente pocura formar nas senhoas ricas, men talidade e personalidade cristãs, fonm-Ias no espí rito da frateidade cristã. (1 1) Essas inlãs têm sucesso na direção de hospitais e passam a aluar em todos os continentes, de modo que, em 1 930, há em tomo de 400.000 Imãs de Caridade.
O cristiismo intoduz, potanto, o espírito de servir, a prática de caridade, como elementos ne cessáios à salvação da alma.
É
este I) rincípio que passa a llacr a enfermagem como atividade a ser viço de Deus, dos homens e dos próprios execentes da enfermagem, um p rincípio educativo fortemente trabalhado pela precursora da enfermagem modea, Floence Nightingale, e intealiado, até mesmo na sociedade capitlista, onde, mais importante do que a slvação da alma, é a salvação dos coros necessrios ao sistella produivo. A extrema religiosidade vivida pelos exercentes a enfermagem constití um pode roso refoço ao espíito de subseviência origináio nos pimeios efermeios.É
sob este teeno, religiosamente féril, que nas ce, com Floence Nightingale, a enfermagem moder na. Com a falta de pessoal religioso, coseqüente das Refomas Potestante e Católica, o pastor Flieder, do Instituto a Kaisewerth, na Alemanha, apela por pessoas . ..
disposts à inteira abnegação de si mes mas a serviço do próximo. ( 1 1) A exeriêcia desse Instituto chega ao conhecimento de Florece Nightin gale, ilha de pais ingleses ricos, com una cultura incomum às mulheres de sua éoca: fala vários idio mas e domia matemática. Essa ' 'lady " estagia nesseIstituto, após o que abe escolas (
.
. . ) às moças edu cadas, e cultas, como uma proissão honrosa e capaz de toná-Iasfelizes". ( 1 1 ) Com a sua atuação na Guea da Criméia ( 1 854) Floence consegue, juntamente com 3 8 voluntárias (religiosas e leigas), diminuir o índice de mortaliade entre os soldados feridos. Após a guera é contemplada pelo goveno inglês com uma doação que lhe permite abrir a Escola de Enfermagem no Hospital São Tomás, com o objetivo de eformar a enfermagem que se encontava dividida entre dois (2) grupos de essoas a seviço de doentes :. . . 0 primeiro, diminuto, compunha-se de religiosas católicas e anglicanas, que co meçava/li apenas a se organizar; o segun do numeroso, era formado de pessoas sem educação e sem 1II0ral. A maioria se em briagava. ( 1 1 )
O sistema de Florence Nightingale pevê que a atividade de enfermagem só deve ser exercida or mulheres que são preparadas ou como "nurses " (es ponsáveis elas atividade manuais) ou como "ladies nurses "(responsáveis elo ensino, supevisão e admi nistração da enfenlagem).
É
unla atividade não re munerada, que eige espírito de abnegação, de sevir, de obediência, além de disciplina rigorosa.( l )Esse modelo é trnsportado para o Canadá, Esta dos Unidos, Fraça, Alemanha, Suécia, dentre outros países, inclusive alguns da América Latina.
No Brasil, o pensamento m ístico llarca a pri meira concepção de saúde. Iniciada a coloniação, novas doeças são introduzidas e o seu taamento consiste em tirar do copo doente o efeito dos male ícios ou do desagado dos deuses. A mudaça no quado nosológico demanda assistência não aenas dos pagés, mas dos ísicos, cirurgiões, ciurgiões-bar beios, babeiros, algebristas, curiosos, boticários, anatôicos, curandeiros, entendidos e outros. As mu lhees aparecem na saúde como eligiosas, como par teiras leigas e como voluntárias. Às pimeias, coube o trabalho critativo e de assistêcia ao coo e ao espírito, nas Santas Casas; as parteis, instituciona liadas em 1 83 2, resonsabiliam-se pela ssistêcia ao parto e à paturiente e as voluntárias notabiliam se pelos seviços prestados à pátria. (12)
O trabalho caritativo, como precusor do taba lho de enfenmgem, ão se diferencia do tabalho das irmãs de caridae, dos padres, inãos ou jesuítas. No Basil, a istória destaca o trabalho do fac iscano frei Fabiano e do jesuíta pade Anchieta, a assistência à saúde. Quanto ao trabalho volu ntáio, são encontra dos reistos do século XVII. da atuação de Fancisca
·Sade -baiaa (asceu no ial do século XVII e moreu em 1 702) e a Justina Ferreira Neri. O tabalo voluntário de Ana Neri não tem qalquer relação com um tabalho do tipo proissional e sim, motivado pelo espíito cristão, caritativo e elo
sentimento cívico. Sua históia assemelha-se, apeas em pate, à históia de Florence Nightingale or que esta última, emboa tenha sevido à Guerra da Cri méia, dispunha de algum treinamento poissional, equanto que Ana Nei não dispunha de qualquer tio de treinamento. Além deste fato, Florence, tão logo terminou a Guea, passou a investir na formação de pessoal paa atuar na enfermagem. ( 12)
Ao analisar o trabalho caritativo e a idologia da submissão esta autora diz:
A vertente do rabalho caritativo e reli giosos foi muito importante e hegemoni zou a ideologia e o rabalho da enferma gem por longo período após o advento do Cristianismo e sua persistência como dourina religiosa poderosa em todo o mundo ocidental. Na enormagem essa inluência foi tão grande, que até hoje o seu rabalho é visto como parte da asis tência cariativa e, os proissionais de en ormagem, como exemplo de abnegação, de vida ascética e de dedicação aos po bres desvalidos e necessitados de ajuda. ..) A ideologia dominante na enferma gem brasileira, até a década de 80 pelo menos, reproduz acriticamente esta ca racterística da religiosidade e espírito ca ritativo. ( 12)
Esta marca é alimentada por Carlos Chagas, ao tomar paa si a iiciativa da ciação da primeira Escola de Enfermagem de alto padrão nos moldes Nightingale. A primeira diretoa dessa escola, uma ameicana, Miss Claa Louise Kieinger, á início ao curso em 1 9.2. 1 923 e, em 1 926, a Escola pssa a ser camada Escola de Enfermagem Anna Ney (vo lntia leiga, da Guea do Paaguai, que auou com prouna deicação aos soldados feridos nessa guer
, sendo omenageada elo goveno basileiro como m ãe dos brasileiros). Essa Escola nasce para atender exigêncis do Seviço de Saúde pública e não hospi tlar, como ocoe em outros países. Segundo AL CÂNT ARA ( 1 ) , a enfermagem como proissão femi nina, nasce identiicada com o papel m ateno (enfer meia como substituta da mãe para os doentes) e com
o trabalho missionário das religiosas (sacriicado e
sublime).
O princípio educativo, expressão do ideal de sevir, sustentado pela religiosidade e pelo espírito de
sevir à pátria, continua sendo o dominante a forma
ção de essoal para desenvolver atividades não ins trumentais (não manuais}na enfermagem. As deman as decorrentes do processo de industrialiação ba sileiro, ao lado da deiciência numérica de enfermei as, provocam o aparecimento de escolas voltadas para o desemenho de fuções instumentais, ou seja, escolas paa fOilação de auxiliaes de enfermagem (a partir da década de quarenta) e de formação de técnicos de efermagem (a partir da década de ses senta), todas elas reproduzindo o mesmo pincípio assumido pelas escolas de fomação de enfermeiras.
4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade do inal do século X não mais comporta os princípios educativos que fundamentam a fomação de pessoal para cuidar de doentes, nos séculos e s décaas passadas. O ideal de servir
undamena-se numa eligiosidade extema, incom patível com a necessidade de sobreviver a sociedade contempoânea, onde as Escolas de Enfermagem têm duas tarefas contraditórias: formar o cidadão enfer meiro e o proissional enfeileio. A concretude desta taefa requer muita competêcia olítico-pedagógica, ois
... 0 preparo que a cidadania exige nas so ciedades democráticas, fundamentads na igualdade de oportunidades e nos direitos humanos, é incompatível com o preparo que o sistema produtivo requer,fundamen tado na hierarquia, na discipina, no auto ritarismo, na desqualicação. (5)
O tabalho, como a escola, tem dimensões con traditórias, ou seja, ele é, ao mesmo tempo, educativo e deseducativo, qaliicado e desqualiicado. Ente tanto, ao ser tomado como princípio educativo pelos projetos pedagógicos das Escolas de Enfermagem, oporunidades serão ciadas pa que, tanto os enfer meiros como as demais categorias que exercem a enfermagem, passem a compreender que a sua prática é um trablho assalariado, coletivo, fragmentado, ex ploado, que demanda mudanças capzes de colocar a enfermagem em osição de dignidade diante do setor saúde.
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