• Nenhum resultado encontrado

Grupoterapia com estudantes de enfermagem durante a transição teórico-prática.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Grupoterapia com estudantes de enfermagem durante a transição teórico-prática."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

GRUPOTERAPI A COM ESTUDANTES DE ENFERMAGEM

DURANTE A TRANSI ÇÃO TEÓRI CO-PRÁTI CA

1

Zeyne Alves Pires Scherer2

Edson Art hur Scherer3

Ana Maria Pim ent a Carvalho2

O obj et iv o do est udo foi v er ificar se a int er v enção de gr upo de cur t o pr azo pode pr opor cionar às est udant es de enfer m agem m eios de lidar em com o est r esse, pr ópr io da t r ansição do apr endizado t eór ico para o prát ico. Ut ilizou- se a observação part icipant e com o m ét odo, possibilit ando que 12 alunas que cursaram a disciplina de Fundam ent os I I expressassem suas ansiedades e angúst ias frent e ao novo e fut uro papel de cuidador as da saúde de out r os. A t écnica gr upal apar ece com o um inst r um ent o a ser consider ado pelas inst it uições de ensino superior de enferm agem com o recurso não apenas de apoio, m as t am bém didát ico, em seus currículos. No m om ent o em que são discut idas reform as do ensino, é im port ant e lem brar que qualquer m udança planej ada não será som ent e t écnica, m as t erá efeit os no ser hum ano.

DESCRI TORES: psicot erapia de grupo; educação em enferm agem ; ensino; est udant es de enferm agem

GROUP THERAPY W I TH NURSI NG STUDENTS

DURI NG THE THEORY-PRACTI CE TRANSI TI ON

This study aim ed to verify whether the intervention of short term groups could provide nursing students m eans t o cope w it h st r ess, t y pical of t he t r ansit ion pr ocess fr om t he t heor et ical t o t he pr act ical lear ning. Par t icipant obser v at ion w as used, allow ing 12 st udent s in t he discipline Fundam ent als I I , t o ex pr ess t heir anxieties and anguish towards the new and future role of taking care of other people’s health. Results suggest t hat higher nursing educat ion inst it ut ions should consider t he group t echnique not only as a support resource, but also as a didact ical r esour ce in t heir cur r icula. At a t im e w hen educat ional r efor m s ar e discussed, is im portant to bear in m ind that any planned changes will have an effect not only in technical term s but will also affect t he hum an being.

DESCRI PTORS: psychot herapy, group; educat ion, nursing; t eaching; st udent s, nursing

TERAPI A DE GRUPO CON ESTUDI ANTES DE ENFERMERÍ A

DURANTE LA TRANSI CI ÓN TEÓRI CO-PRÁCTI CA

La finalidad del estudio fue verificar si la intervención de grupo a corto plazo puede proporcionar a las est udiant es de enfer m er ía r ecur sos par a enfr ent ar el st r ess, pr opio del paso, del apr endizaj e t eór ico al práct ico. Se ut ilizó la observación part icipant e com o m ét odo, lo que perm it ió que 12 alum nas m at riculadas en el cur so de Fundam ent os I I , pudier an ex pr esar sus ansiedades y angust ias ant e el nuev o y fut ur o r ol de cuidadoras de la salud. La t écnica grupal aparece com o un inst rum ent o a ser considerado por las inst it uciones de enseñanza superior en enferm ería no solo com o un recurso de apoyo, sino t am bién didáct ico dent ro de los program as curriculares. Considerando las act uales discusiones sobre las reform as en la enseñanza, cualquier planificación de cam bio no solo se dará nivel t écnico, sino t am bién t raerá efect os en el ser hum ano.

DESCRI PTORES: psicot erapia de grupo; educación en enferm ería; enseñanza; est udiant es de enferm ería

1 Trabalho extraído de Tese de Doutorado; 2 Professor Doutor da Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, o Departam ento

(2)

I NTRODUÇÃO

O

s cursos de graduação da área de saúde v ê m a co m p a n h a n d o a s m u d a n ça s o co r r i d a s n a educação, subj acent es às diret rizes curriculares das instituições de ensino superior. A educação e a saúde são cam p os d e p r od u ção e u t ilização d e sab er es dest inados ao desenvolvim ent o hum ano. Além disso, o a cú m u l o d e co n h e ci m e n t o e a co n se q ü e n t e necessidade de at ualização exigem que a for m ação profissional se t ransform e em um processo cont ínuo, visando não só à aquisição de habilidades t écnicas, m as ao desenvolvim ento de potencialidades no m undo do t rabalho e no m eio social( 1).

Alguns est udiosos int eressados na form ação acadêm ica e profissional do estudante de enferm agem sugerem que a escola deve com preender o significado q u e t em p ar a o alu n o, as p r im eir as ex p er iên cias clínicas e a relação que se estabelece com o professor, principalm ent e quando est e não abre espaço para a reflexão em conjunto, em um a situação de dor, óbito, por exem plo. Ao contrário, freqüentem ente o professor se fecha, criando um a im agem de insensibilidade e f r i e za , p r e j u d i ca n d o o cr e sci m e n t o h u m a n o e profissional dos est udant es( 2).

Foi constatado que, quando o aluno é colocado e m co n t a t o co m a a p r e n d i za g e m p r á t i ca p a r a desenvolver det erm inados procedim ent os aprendidos em au las t eór icas, est e ap r esen t a in seg u r an ça e t em or es, p od en d o ch eg ar a m an if est ar sin ais d e est r esse. Reações ansiosas ocor r em , t am bém , por não est ar habit uado aos pr ocedim ent os específicos e x i g i d o s p e l a cl ín i ca e à r a p i d e z n e ce ssá r i a n a execução de técnicas. Além disso, não está preparado par a lidar com as em oções desper t adas diant e de pot enciais riscos aos quais o client e é expost o( 3).

O uso de grupos para alívio e tratam ento de d i st ú r b i o s so m át i co s e p síq u i co s é m u i t o an t i g o ( rem ont a à Ant iguidade) e surgiu ant es das t eorias conhecidas sobre a dinâm ica de grupo. O grupo pode ser ent endido com o sendo “ um conj unt o de pessoas e m u m a a çã o i n t e r a t i v a co m o b j e t i v o s com par t ilhados”( 4). Por t ant o, par a se configur ar um grupo é necessário que seus integrantes tenham um a ação interativa, ou sej a, que estej a presente o aspecto relacional. Com o result ado, a pessoa pode t ornar- se m ais espont ânea, obj et iv a e r ealist a, m ost r ando- se m enos dependent e dos out ros( 5).

A prática da psicoterapia grupal propriam ente dit a desenv olv eu- se na pr im eir a m et ade do século

XX e t em ap r esen t ad o cr escim en t o n a r ealid ad e b r a si l e i r a co m o u m r e cu r so d e t r a t a m e n t o n o s difer ent es cont ex t os de at endim ent o( 4, 6- 7). O gr upo t er apêut ico fav or ece a ex plor ação da subj et iv idade ao at u ar com o u m “ labor at ór io social” n o qu al os part icipant es reproduzem os papéis que ocupam no seu cotidiano( 6). Quando o grupo é constituído por um a p o p u l a çã o e sp e cíf i ca , co m ca r a ct e r íst i ca s sem elhantes, há um a facilitação para “ a identificação, a r ev elação d e p ar t icu lar id ad es e in t im id ad es, o o f e r e ci m e n t o d e a p o i o a o se m e l h a n t e , o desenv olv im ent o de obj et iv o com um e a r esolução das dificuldades e dos desafios que se assem elham ”( 7). Os o b j e t i v o s o cu p a m u m a i m p o r t â n ci a considerável para a classificação dos grupos( 8- 9). Um a at ividade grupal que t raz com o princípio o seu fim é considerada dent ro da classificação das psicot erapias com o “ grupos breves” ou “ psicot erapia de grupo de cu r t o p r azo” ou som en t e “ p sicot er ap ia b r ev e”( 1 0 ). Pe sq u i sa d o r e s so b r e o a ssu n t o co n si d e r a m a s psicot erapias breves aquelas caract erizadas por um a lim it ação no t em po, em função de um det erm inado foco( 8,10). O que define um grupo com o breve, então, não é um núm ero m ínim o de horas, nem a tarefa em si, ou o referencial t eórico ut ilizado, m as a propost a de que sej a r espeit ado o lim it e pr eest abelecido em função do foco( 4).

O t erapeut a que ut iliza abordagens de curt o pr azo dev e, por t an t o, fazer u m plan ej am en t o qu e inclua obj et iv os clar os, est abeleça um enfoque de t r abalho e clar eza quant o aos lim it es t em por ais do grupo( 8,10). Além disso, precisa considerar os aspectos e st r u t u r a i s e d o d e se n v o l v i m e n t o d o g r u p o n o est abelecim ent o de um a abor dagem par a não ficar suj eito a erros ou ao insucesso na realização da tarefa. Assim com o os indivíduos, os grupos t êm a ca p a ci d a d e d e cr e sci m e n t o e d e se n v o l v i m e n t o . Dent r o dessa lógica for am descr it os t r ês est ágios: o r i e n t a çã o , co n f l i t o e co e sã o( 1 1 ). Ta i s e st á g i o s co r r e sp o n d e m à d e n o m i n a d a f a se i n i ci a l d o desenvolvim ent o grupal( 12). Essa fase é caract erizada pelos sentim entos de ansiedade dos participantes em ser em aceit os pelo gr upo, sobr e o est abelecim ent o de norm as e sobre a adoção de vários papéis. Além da fase inicial, duas outras fases do desenvolvim ento do gr u po são con sider adas: a oper acion al e a de t érm ino( 12).

(3)

de form a m ais igualit ária. A ansiedade t orna- se m ais in t en sa, p or ém m ais con t r olad a e t oler ad a p elos int egr ant es. Apar ecem pr oblem as com o a for m ação d e su b g r u p os, con f lit o, g r au d e au t o- r ev elação e resist ência. A fase de t érm ino é t rabalhada desde o in ício d o g r u p o, p or ém r ar am en t e é d iscu t id a n a lit erat ura com o um a fase definida( 12).

Estas fases podem ser im aginadas com o um a t rilha que o grupo percorre para form ar e conquist ar seus obj et ivos. Vale ressalt ar que o desenvolvim ent o do grupo, por sua vez, não ocorre em fases isoladas, ou sej a, elas se sobrepõem .

Nest e est udo foi ut ilizada a int er v enção de g r u p o d e cu r t o p r a zo ( d u r a çã o b r e v e ) p a r a pr opor cion ar às est u dan t es de en fer m agem m eios de lidarem com o est resse, próprio da passagem do aprendizado t eórico para o prát ico.

OBJETI VO

Verificar se a int ervenção de grupo de curt o p r a zo p o d e p r o p o r ci o n a r à s e st u d a n t e s d e enferm agem m eios de lidarem com o estresse, próprio da t ransição do aprendizado t eórico para o prát ico.

MÉTODO

Est e est udo baseou- se nos pressupost os dos m ét odos qu alit at iv os de in v est igação, u t ilizan do a observação part icipant e( 13).

Suj eit os e local do est udo

A pesquisa foi realizada com um grupo de 12 est udant es do cur so de Enfer m agem da Escola de En f e r m a g e m d e Ri b e i r ã o Pr e t o ( EERP- USP) , m a t r i cu l a d a s n a d i sci p l i n a Fu n d a m e n t o s d e En f e r m a g e m I I , n a q u a l o s a l u n o s v i v e n ci a m o prim eiro cont at o com a prát ica profissional.

Pr ocedim en t os

Após obt er o par ecer fav or áv el do Com it ê de Ét ica em Pesquisa da EERP- USP, os obj et ivos da p esq u isa f or am ap r esen t ad os ao u n iv er so d e 7 6 alunos na prim eira sem ana curricular, no espaço de um a aula da disciplina Fundam ent os I I . Dest es, 16 d ecid ir am , d e f or m a v olu n t ár ia, p ar t icip ar d essa

p r op ost a g r u p al , t en d o si d o m ar cad a a p r im ei r a r eu n ião d o g r u p o. Doze alu n as com p ar ecer am à reunião, onde foi apresentado o Contrato Terapêutico, esclarecido o funcionam ent o dos encont ros grupais e assinado o Term o de Consent im ent o Pós- I nform ação. Ficou com binado, tam bém , que não entrariam m ais alu n os n ov os a p ar t ir d o t er ceir o en con t r o, car act er izando o gr upo com o fechado. I sso ofer ece a vant agem da consist ência da liderança, norm as e ex p ect at iv as, sem p er d er d e v ist a a af iliação ao gr upo( 12). Foi ex plicit ado v er balm ent e e por escr it o que, com t rês falt as consecut ivas, o int egrant e seria desligado.

Os encont r os gr upais acont ecer am dur ant e o prim eiro sem est re let ivo de 2002 ( m arço a j unho) , com freqüência sem anal, tendo duração de 60 m inutos cada e t ot alizando 16 encont ros.

Foi solicit ad a a p er m issão p ar a o u so d a f i l m a d o r a , r e g i st r a n d o n o á u d i o a s f a l a s d a s participantes, por ser o instrum ento que m elhor capta as vozes dos int egrant es( 14). Os diálogos das fit as de vídeo foram t ranscrit os e explorados nas sessões de su p er v isões, r ealizad as sem an alm en t e ap ós cad a en con t r o gr u pal e coor den adas por u m psiqu iat r a gr aduado em psicot er apia de gr upo. Esse m at er ial transcrito foi subm etido à análise de conteúdo( 13) para identificação e exploração grupal, com base nas fases de desenvolvim ent o de grupo( 11- 12).

Ao térm ino dos 16 grupos, foi realizada um a ent r ev ist a indiv idual com as par t icipant es, na qual r espon der am a du as qu est ões aber t as acer ca das ex per iências consider adas posit iv as e negat iv as no co n t ex t o d o g r u p o . Co m seu co n sen t i m en t o , a s e n t r e v i st a s f o r a m g r a v a d a s e m f i t a K7 e post er ior m ent e t r anscr it as.

O m a t e r i a l t r a n scr i t o d a s e n t r e v i st a s individuais foi subm et ido à análise de cont eúdo para cap t ar f r ases t em át i cas( 1 3 ) q u e car act er i zar am a percepção das est udant es sobre a vivência grupal.

RESULTADOS E DI SCUSSÃO

As int egrant es do grupo dest e est udo eram do sexo fem inino, solt eiras, com idades variando dos 18 aos 27 anos, com m édia de 21 anos. Os nom es aqui apresent ados são fict ícios.

(4)

Tabela 1 - Caract erização dos 16 encont ros Fase inicial

A fase inicial caracteriza- se pelos sentim entos de ansiedade dos part icipant es em serem aceit os no grupo, pelo est abelecim ent o de norm as e adoção de papéis( 12). No present e est udo, os encont ros 1, 2, 3, 4, 5 e 6 corresponderam a essa fase.

Diana: Eu não t enho t em po pra nada. Quando vej o, j á

assum i várias coisas de out ras ( ...) Eu m e acho um a “ t chonga” .

Talita: Eu não acho isso não. Acho você muito importante

na turm a(...)

Diana: Quando estou ansiosa falo, falo, falo.

Coor d en ad or a: Ex i st em , t am b ém , p essoas q u e

funcionam de form a cont rária, diante de sit uações novas, de

problem as, ficam m ais caladas, retraídas.

Elza: Eu faço m uito isso, m e fecho, sou assim , passiva,

tenho dificuldades para falar. (Encontro 1 - Estágio de Orientação)

As est udant es, ao vivenciarem sua iniciação t ant o nos encont ros grupais com o nas at ividades de e st á g i o ( a m b i e n t e s e p e sso a s d e sco n h e ci d o s) , est abelecer am suas pr im eir as obser v ações sobr e o “ ser est udant e de enferm agem ”.

Bianca: O curso é m uit o puxado, m uit o corrido ( ...) dá

vontade de desistir.( ...) Todos os professores exigem um pouco

de você. Professor exige no estágio. Perguntam : não j á aprendeu

isso ainda?

Diana: O curso de enferm agem é assim ... você vai

levando, um a m atéria você estuda “ pra caram ba” , outras você

coloca de lado. (...) o curso é em purrado com a barriga um pouco.

Talita: Sabe do que tenho m edo gente? Tem m om entos

que penso que vam os sair da faculdade sem saber nada.

Diana: Mas vam os. Com o t odo m undo sai.

Bianca: Sabia que o enferm eiro tem que dar conta de

tudo? Tem que dar conta de tudo. Tem que saber o que o auxiliar

faz, o que m édico faz, o que o farm acêutico faz...

Vitória: É, se o auxiliar erra ela “ tom a” se não erra ela

“ tom a” do m esm o j eito. ( Risos) .

Bianca: Gente, é sem pre ela ( enferm eira) que está

correndo atrás do m édico (...)

Diana: Por isso que tem os que saber o que é m esm o a

função do enferm eiro. ( Risos) . ( Encont ro 5 - Est ágio de Conflit o)

Essa sit uação facilit ou seus r elat os acer ca d e c o m o s e n t i r a m o i m p a c t o d a s p r ó p r i a s idealizações ( alm ej ado) em r elação a pr ofessor es, à d i sci p l i n a , a l o ca i s d e e st á g i o e d e co m o se f r u st r a r a m a o se d ef r o n t a r em co m o r ea l ( a l g o difer ent e do desej ado) .

Marina: Elas têm o poder, são as professoras. Avisaram

para a gente que a professora X reprova no estágio. Tem que

puxar o saco dos professores se quiser passar.

s o r t n o c n

E PresentesAusentesAtrasosDesilgadosAbandonosParticipantes

1 10 2 1 - - 12

2 10 2 1 - - 12

3 11 1 - - - 12

4 7 4 - - 1 11

5 11 - - - - 11

6 6 5 - - - 11

7 11 - - - - 11

8 11 - - - - 11

9 9 2 - - - 11

0

1 10 1 - - - 11

1

1 11 - - - - 11

2

1 8 2 - 1 - 10

3

1 8 1 - 1 - 9

4

1 7 2 - - - 9

5

1 9 - - - - 9

6

1 9 - - - - 9

O grupo foi iniciado com 12 participantes. No in ício d o sem est r e, u m a d as est u d an t es t r an cou m a t r ícu l a , v i n d o a d e si st i r d o g r u p o n o q u a r t o e n co n t r o . Em d o i s g r u p o s ( 4 e 6 ) , h o u v e u m percentual m aior do que 30% de ausências. No sexto en con t r o, a j u st if icat iv a f oi a m u dan ça de dat a a pedido de t r ês alunas. Duas das int egr ant es for am desligadas da atividade grupal por terem atingido cada u m a su a t e r ce i r a f a l t a ( g r u p o s 9 e 1 2 , r esp ect i v am en t e) , co n f o r m e l i m i t e d e au sên ci as previst o para desligam ent o no cont rat o t erapêut ico. O est udo t erm inou, assim , com a part icipação de 9 est udant es ( 75% ) .

De um a form a geral, o grupo m ant eve boa fr eqüência, dem onst r ando desde o início int er esse e coesão grupal. No que se refere ao abandono, os achados est ão de acordo com a lit erat ura, segundo a qual é esperada um a t axa de cerca de 10% a 30% n os p r ocessos d e g r u p ot er ap ia( 1 5 ). Mesm o com a perda por desist ência ou desligam ent o de t rês ( 25% ) d o s p a r t i c i p a n t e s , o t r a b a l h o g r u p a l p ô d e s e r r ealizad o.

Ne st e e st u d o , o s r e su l t a d o s r e l a t i v o s à car act er ização de cada fase est ão apr esent ados na Figura 1.

Fases do desenvolvimento do grupo

Inicial Operacional Término

Encontros 1, 2, 4

Encontros 3, 5

Encontros 6 Estágio de

Orientação

Estágio de Conflito

Estágio de Coesão

Encontros 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13

Encontros 14, 15, 16

(11-12)

(5)

Coordenadora: ( ...) tem os que pensar, trabalhar com o

enfrentar este m om ento, com o professor, com o paciente, naquele

determ inado m om ento. Pensar no que está provocando m edos,

pavor. O que estam os fazendo aqui é falando, chorando, para não

chorar j unto do paciente, do professor. Tem os form as e form as

de falar. Chamar o professor e dizer que não entendeu. Já pensaram

que este professor pode tam bém ter m edos, anseios, m edo de

errar quando vão ensinar vocês?

Juliana: Mas eles são os professores, acham que não

erram , se protegem ( ...) . ( Encontro 2 - Estágio de Orientação)

Diana: Fiz um a pergunta e a professora não m e deu

atenção, disse que não sabia.

Carol: É assim m esm o, não adianta, o ano passado pedi

revisão de uma questão, tentei dialogar, mas nada, é perder tempo...

Hoje vi um a pessoa no hospital fazendo um a técnica errada, fiquei

chocada.

Juliana: Fiquei decepcionada, tanto que eu ouvi que o

hospital X era isso, era aquilo, referência. O hospital Y é m uito

m ais organizado.

Marina: Eu m e sinto feliz. Nossa, você está vendo coisas

erradas. I sso quer dizer que sabe, pode identificar o certo e o

errado.

Coordenadora: O que estou percebendo é que vocês

estão desencantadas.

Elza: ( . . . ) não sei, t udo m uit o est r anho. . . fiquei

observando... acho que m ais atrapalhei... (Encontro 3 - Estágio de

Conflito)

Concom it ant em ent e, nos encont ros grupais, ex p er im en t ar am as p r im eir as ap r ox im ações com su as r eg r as d e f u n cion am en t o. Most r ar am , d essa f o r m a , se n t i m e n t o s d e a n si e d a d e d i a n t e d a s i n st i t u i çõ e s ( u n i v e r si d a d e , se r v i ço s d e sa ú d e e atividade grupal) , suas norm as, princípios e estrutura de funcionam ent o.

A coordenadora term inou o grupo no horário, cort ando algum as falas.

Coordenadora: No grupo é assim m esm o, quando o

assunto com eça a esquentar tem os que acabar em função do

horário que tem os que cum prir. Poderem os retornar a esse assunto

no próxim o encontro. ( Encontro 2 - Estágio de Orientação)

Carol: Depois da prova de Patologia terem os prova de

I m unologia. Só que não sei o que vai ser. Não fui m ais na aula, não

tenho m atéria. Agora tenho que correr atrás do prej uízo.

Coordenadora: Pelo que entendo vocês estudam para

Patologia e fazem a prova, depois se concentram em I m unologia

para fazer a prova, e assim por diante. Quer dizer, estão sem pre

correndo atrás do prej uízo.

Juliana: É assim m esm o, não tem com o estudar tudo.

Vitória: Quando estam os no hospital, em Fundam entos

I I , vem os o quanto é im portante a m atéria de Farm acologia,

I m unologia. O difícil é entenderm os que na prática vam os estar

usando tudo o que foi aprendido na teoria. ( Encont ro 6 - Est ágio

de Coesão)

As regras são inerentes a qualquer instituição, m a s n e m se m p r e sã o b e m - v i n d a s. Se u quest ionam ent o é possível, desde que sej a feit o de f o r m a r e sp e i t o sa e co m b a se e m a r g u m e n t o s p r oced en t es. Na ex p er i ên ci a g r u p al ap r esen t ad a neste trabalho, houve um a situação que gerou conflito e clara quebra da estrutura do grupo. A m udança de um dos dias da at ividade ( encont ro 6) , decidida por algum as das integrantes, culm inou com um percentual de ausências m aior do que 30 % . Essa sit uação foi discutida no encontro 7, sendo retom ado o com binado inicial. As part icipant es consideraram esse m om ent o com o um m arco no qual obt iveram um aprendizado p osit iv o d e com o con v iv er m elh or com p r in cíp ios est abelecidos. Tal aprendizado não ficou rest rit o aos encont r os em quest ão, m as, no ent endim ent o das est udant es, foi est endido a qualquer out ra sit uação em que viessem a ser confront adas com norm as em quaisquer out ras inst it uições.

Coordenadora: .( ...) Fazem os parte de um a instituição,

este grupo está inserido em um a instituição, tem os regras para

seu funcionam ent o. Alguém quer lem brar quais?

Vitória: Chegar no horário, não atrasar.

Marina: Se tiver três faltas não entra m ais.

Coordenadora: Com o alunos vocês t am bém têm que

obedecer algum as regras.

Juliana: Queria ir em bora depois do grupo. Mas não

posso por que tenho que colocar presença na aula de I m unologia.

Coordenadora: Quando forem enferm eiros t erão que

obedecer a horários, se responsabilizarem pelos auxiliares,

pessoas que vão t rabalhar com vocês. ( Encont ro 4 - Est ágio de

Orientação)

Marina: Ent ão naquela hora em que fom os pedir para

adiar o grupo j á foi em cim a da hora, j á tinha pedido para o

professor de I m unologia e levam os o m aior xingão. Aí lem brei que

tinha que avisar a senhora, que as m eninas e eu não podíam os vir

para o grupo, pois íam os panfletar e vender convite da nossa

festa no restaurante universitário.

Juliana: Est ava no rest aurant e universit ário, com i

rapidinho, aí m e avisaram que não teria grupo hoj e. Na hora não

senti falta, m as depois parece que faltou algum a coisa.

Coor denador a: Per cebem o que acont ece quando

m udam os o horário, o dia, sem um a previsão? O grupo já tem seu

dia próprio. ( Neste m om ento falavam sobre a festa) . ( Encontro 6

- Estágio de Coesão)

(6)

vivem em grupo, que podem produzir algo ou perm itir “ ser ” dent r o de um det er m inado t em po. O fat o de um grupo se estruturar, se organizar, estabelecer seus o b j e t i v o s, f a z su r g i r d e f o r m a i n e v i t á v e l , a autoridade( 16). Portanto, desde que se inicia o processo de est r ut ur ação espont ânea de um gr upo, apar ece um a função colet iv a que é um poder de r egular e cont rolar as condut as.

Carol: Se não tem o grupo, a gente sente falta.

Marina: Acho que é com plicado aqui no grupo (...). Nem

sem pre o assunto do grupo é o que você está querendo desabafar...

Bianca: Acho que você tem o direito de trazer o assunto

tam bém .

Marina: Nós tem os um proj eto: com eço, m eio e fim .

Hoj e calhou da Sim one, um a pessoa que precisava m uito e que a

gente não deixava falar. Mas se o assunto não fosse esse ela não

ía desabafar. Se fossem os falar de tem po, com o no encontro

passado, não ia servir. Eu não sei qual é a sua visão (...) acho que

não vai servir. Não é uma terapia comum, é uma terapia direcionada.

Sim one: Não é que eu quisesse falar. De m aneira

nenhum a. O que m e instigou foi a coordenadora. Aí eu m e senti

m obilizada ( ...) . Eu m e espelhei, por isso é que falei.

Coordenadora: Vocês percebem com o funciona o grupo?

Talita: É um a troca. Neste grupo você tem oportunidade

para conversar com quem não é do seu grupinho de estágio.

( Encont ro 5 - Est ágio de Conflit o)

Fase operacional

Na segunda fase, segundo a lit erat ura( 12), o g r u p o é co m p a r a d o a u m a e q u i p e n a q u a l o s participantes trabalham bastante e a responsabilidade é div idida de f or m a m ais igu alit ár ia. A an siedade t or n a- se m ais in t en sa, p or ém m ais con t r olad a e t oler ad a p elos in t eg r an t es. Ap ar ecem p r ob lem as com o a for m ação de subgr upos, conflit os, gr au de aut o- r ev elação e r esist ência.

As est u d an t es, n est e est u d o, p er ceb er am qu e, t an t o n os en con t r os gr u pais com o n o cu r so, hav ia singular idades, difer enças ent r e pr ofessor es, alunos e coordenadora. Port ant o, havia necessidade de fazerem adaptações ao novo m om ento vivenciado, incluindo- se as m udanças e t ransform ações nas suas at it udes frent e ao curso e ao grupo, um m ovim ent o que inclui o conhecido e o desconhecido, a progressão e a regressão, os acert os e os erros. A necessidade d e a d a p t a çã o à s “ co i sa s n o v a s” q u e a s a l u n a s co m en t ar am , p ar ece ser a m an i f est ação d e q u e est avam percebendo as m udanças pelas quais est ão p assan d o n as in t er ações q u e est ab elecem com a

universidade e com o aprendizado prático. A m udança ou t r an sf or m ação su p õe q u e as p essoas q u eir am e n f r e n t a r o n o v o , p r o p o n d o - se a d e se n v o l v e r ca p a ci d a d e s i n o v a d o r a s d e e n v o l v e r - se co m a realidade( 17).

Sim one: Lá fora não tem diálogo. Você não é ouvida,

aqui você est á ouvindo. ( Encont ro 7)

Vitória: Sabe qual o problem a? A gente está em um a

fase de nossa vida, fase da universidade e da profissão, estam os

nos adapt ando a novas coisas. ( Encont ro 8)

Nina: Ficam falando das dificuldades e fico observando

as m inhas dificuldades ( ...) E isso de falar um pouquinho de cada

um a é im portante para quem está aqui ouvindo, isso é terapêutico.

É difícil você lidar com 80 m ulheres, é difícil você se expor neste

espaço, com tanta gente diferente ( ...) ( Encontro 8)

Carol: Vir para a faculdade é mais ou menos como mudar

de cidade. Começar tudo de novo (...) Você vai mantendo uma postura

diferente, aprende a ser diferente a partir daqui. (Encontro 8)

O aluno ou qualquer out ra pessoa “ só pode se entregar a um a atividade se estiver positivam ente v o l t a d o p a r a e l a ”( 1 8 ). Po r t a n t o , a a q u i si çã o d o conhecim ent o, a part icipação nas at ividades grupais, en t r e o u t r as, n ecessi t am d e u m su p o r t e af et i v o posit iv o. A at iv idade cu r r icu lar for m al n ão pr ecisa n ecessar i am en t e ser co er ci v a p ar a al can çar seu obj etivo m aior, o aprendizado. Este, por sua vez, pode dar- se pelo prazer e pela alegria que produz.

Sim one: ( ...) ent rei no grupo e pensei: que gost oso,

vou vir ( ...) . Mas para que falar?

Juliana: Para que falar? Porque você faz parte do grupo.

Sim one: Sei fazer parte do grupo ouvindo (...) Aprendi a

m e adaptar. ( ...) Pode ser que aqui nesta universidade, que em

determ inados grupos as pessoas não queiram m e ouvir, m as

existem outros lugares em que sou escutada, então sou útil ( ...)

Aqui eu não tenho com o ser útil.

Carol: Você disse que a sua utilidade era ouvir aqui

dentro do grupo. ( ...) Certo dia você ficou m eia hora com a m ão

levantada, deu para perceber que teve um certo incôm odo de

querer falar, até que conseguiu falar. Então a utilidade do grupo

não é só ouvir! ( Encont ro 8)

(7)

Fi co u ev i d en t e a p er cep ção d e q u e seu s m edos, angúst ias e solidão, decorrent es da t ransição d a t e o r i a p a r a a p r á t i ca , e r a m se n t i m e n t o s vivenciados pelas dem ais e que, port ant o, não eram únicos. Tiv er am a opor t unidade de com par t ilhá- los no cont ext o grupal, sent indo alívio.

Marina: Acho que t em os que nos unir. Alguns alunos

foram avaliados durante um a outra aula e não era para estar fora

desta aula. ( ...) ent ão, pensando na nossa profissão, a gent e

com o enferm eira...Vam os “ tam par um santo para descobrir o

outro?” Você está trabalhando, vai deixar aquele para fazer este

aqui? Não é assim !

Bianca: Errei t udo. Est ava fazendo t udo cert inho. Daí

ela ( professora) falou: você tem um a hora. Eu não sei fazer nada

com pressa.

Vitória: Mas ela falou que você estava errando ( ...) t e

colocou em um a pressão. Mas você não é assim !

Bianca: Não vou conseguir fazer de novo.

Vit ória: Vai conseguir sim .

Bianca: Ela falou: “ Você não está apta, m as vai para o

hospital” . Com o vou para o hospital se não sei? E se eu esquecer?

( Encontro 9)

A coor d en ad or a id en t if icou o con f lit o q u e surgiu e deixou o grupo discut ir as possíveis razões envolvidas, num a tentativa de m anej á- lo, acreditando q u e i sso p o d e r i a l e v a r a o cr e sci m e n t o d e ca d a int egr ant e e do gr upo com o um cor po único. Um a vez que as alunas est avam part icipando at ivam ent e do t rabalho grupal, a coordenadora agora at ua com o consult or a, aj udando o gr upo a m ant er - se v olt ado para seu obj et ivo e t ent ando dim inuir o im pact o de qualquer coisa que pudesse r egr edir ou r et ar dar a execução da t arefa pelo grupo.

Coordenadora: Vocês estão passando por um m om ento

de acertos e erros. Por um a experiência na escola, que vai dar

segurança para vocês lá na profissão, no hospital, acertar ou errar

(...) a escola é um lugar para o aprendizado, onde há acertos e erros.

Mesm o as pessoas com segurança total em determ inado assunto

podem errar, por coisas prát icas ou por t er passado um dia

tum ultuado. Acho que, o que devem estar pensando agora é que

esse momento é um aprendizado. Vocês estão experimentando uma

técnica. Se vocês vão fazer bem ou m al, tem o supervisor para

assessorar, dar segurança. O laboratório causa estresse? Pode ser

que sim . A gente se sente pressionada não só aqui dentro da escola

ou na profissão. Várias coisas na vida de vocês já causaram pressão...

( Encontro 9)

Quando o grupo adquire fluidez, a elaboração f i ca e v i d e n t e , a p a r e ce n d o e n t u si a sm o e n t r e a s part icipant es. Est abelecem t rocas, nas quais as que apr esent am ex per iências sim ilar es com o t em a em

foco alim ent am as dem ais, ou sej a, as discussões possibilitam , a partir desse com partilhar de vivências, a percepção de que as coisas podem m udar ou ser d i f e r e n t e s. Há u m a m a i o r i n t e g r a çã o e n t r e o s m em bros do grupo.

Vitória: Nós estam os olhando para as coisas de m aneira

diferente. ( Encontro 10)

Carol: Est am os m ais conscient es ( ...) A sit uação de

estresse para a gente agora não tem tanto impacto por que estamos

v indo aqui. A gent e não saber ia com o agir . Aqui est am os

trabalhando com o agir. A. gente está sabendo com o lidar em

diversas situações. Eu j á passei por situações que tinha m edo,

por ser um a pessoa frágil, chorar m uito e hoj e para m im não tem

t ant o peso quant o im aginava que t eria. ( Encont ro 10)

Vitória: A gente está aprendendo a trabalhar em grupo,

a r espeit ar o gr upo, m as colocando em pr át ica os nossos

conhecim entos, o que a gente j á aprendeu. ( Encontro 13)

Fase de t érm ino

A t erceira fase, t érm ino, é t rabalhada desde o início do gr upo, por ém r ar am ent e é discut ida na literatura com o um período definido(12). Nos três últim os encont r os, as est udant es t ecer am av aliações sobr e as m udanças que houv e em seus com por t am ent os enquanto pessoas “dentro” e “fora” do grupo. Traçaram um paralelo ent re o grupo t erapêut ico e o grupo de est ágio, con clu in do qu e eles se com plem en t ar am . Rev elar am q u e in iciar am o cu r so e o g r u p o com preconceit o e que finalizaram com um a sensação de est arem com eçando a andar sozinhas.

Nina: Eu vejo assim , partindo deste grupo, com o grupo

do estágio, um com plem entou m uito o outro. No estágio, não é só

pela professora ter sido m ais rígida ou m ais calm a. (...) O prim eiro

impacto foi o hospital, o contato com o paciente internado (...) medo,

insegurança, incerteza “o que será que vou fazer?” E esse grupo é

uma complementação, porque você chega aqui e se expõe, tem seus

colegas passando pelas m esm as coisas, você chora e vê a outra

chorando e vê que está sofrendo os m esm os problem as vê que não

é diferente de ninguém, acaba encontrando conforto (...) por ser um

grupo, uma está ajudando a outra, talvez por sermos muito diferentes

um a da outra, a gente se encontra, discute, escuta um a à outra. E

nesta fase do prim eiro contato com o paciente, da teoria para a

prática, que é muito difícil, a gente se ajuda aqui no grupo. (Encontro

15)

(8)

Nina: (...) O grupo foi fundam ental para a gente, assim ,

para am enizar nosso sofrim ento no estágio, no prim eiro contato.

Aquela história, qual bagagem a gente leva para o estágio para

sofrerm os m enos, o que a gente deixa no arm ário. Acho que isso

foi m uito im portante. O sentim ento de grupo que a gente aprendeu

para levar na equipe, que a gente com eçou a lidar neste sem estre.

Então, teve m uitas coisas im portantes neste grupo e não tem os

que ver este grupo com o dependência e sim com o algo que nos

aj udou a deslanchar. ( Encont ro 16)

No t a - se , n e ssa f a l a , a l i b e r d a d e q u e ad q u ir ir am d e se ex p lor ar em n o “ aq u i e ag or a”. Quando o aluno passa pela ex per iência de ensino, com par t ilh an do su as v iv ên cias com seu s colegas, professores e equipe de saúde, t endo o respeit o e a com pr eensão dest es, t er á cer t am ent e possibilidade de repet ir esse com port am ent o no cuidado de out ros e de si m esm o.

PERCEPÇÃO DAS PARTI CI PANTES SOBRE

OS ENCONTROS GRUPAI S

I m pressões das int egrant es sobre o grupo

Na avaliação dos encont ros, as part icipant es r e v e l a r a m se n t i r e m - se m o t i v a d a s, v i st o q u e a s n e ce ssi d a d e s t o r n a r a m - se co m u n s e h o u v e a a r t i cu l a çã o en t r e el a s p a r a a co n cr et i za çã o d o s obj et ivos. Dent re as 9 part icipant es, 7 dest acaram o f at o d e t er em p er ceb id o n os en con t r os q u e seu s m edos, angúst ias e solidão decorrent es da t ransição da teoria para a prática eram sentim entos vivenciados pelas dem ais (identificação), portanto não eram únicos.

Flávia: Um a outra coisa boa que aj udou a aliviar a

ansiedade, neste processo que passam os, neste sem estre de

cuidados, foi porque todas estávam os no m esm o barco, passam os

pelas m esm as coisas e isso aj udou a m e aliviar m uito. ( ...) devo

seguir em frente. Na faculdade, senti m uito m edo e insegurança,

acho que todo m undo sentiu e saber disso m e aliviou bastante.

Adorei a terapia em grupo, adorei porque não m e senti sozinha.

No d e co r r e r d a f o r m a çã o , o e st u d a n t e precisará de um supervisor ou profissional capacitado par a lh e dar apoio e or ien t ação, poden do, ain da, avaliar quais recursos e lim itações esse aluno possui. É r e co m e n d a d o q u e e ssa e x p e r i ê n ci a se j a com part ilhada com um grupo com post o por colegas, onde surgirão sentim entos de em patia em que poderão crit icar e apoiar uns aos out ros, enquant o aprendem m ais sobre si m esm os( 20).

Nina: Achei positivo, quando a colega desabafou e “tocou”

todo o grupo porque todas estavam passando pela mesma situação.

( ...) . A gente, vivenciando algo parecido, então você se identifica

com a pessoa. Daí ela desabafando é com o se você t ivesse,

tam bém , entendido seu próprio problem a.

Per ceber am o gr u po com o u m espaço em que puderam identificar- se um as com as outras e no q u a l e n co n t r a r a m a p o i o p a r a l i d a r e m co m a s exigências do curso.

Vit ória: A gent e chegava, prat icam ent e a m aioria,

cansadas, est ressadas com algum a coisa que acont eceu no

estágio, e à m edida que fom os nos conhecendo podíam os falar

tudo, desabafar. Ninguém estava lá para te criticar, todo m undo

aj udava todo m undo. Era um lugar onde você podia falar do que

acont eceu, de bot ar para fora seus “ nervosism os” , as suas

experiências, tanto as boas quanto as ruins e sem pre tinha alguém

para conversar. Foi um a coisa m uito boa, a troca de experiências,

fora o aspecto da am izade que fizem os no grupo e que continua

fora tam bém . No grupo todo m undo aceitava todo m undo com o

elas são e não com o poderiam se apresentar. O j eito de ser, um a

tentar aj udar a outra nas dificuldades ( ...) Senti, tam bém , m ais

segurança nos procedim ent os prát icos que agora vou fazer. No

grupo a gente am adureceu m uito. Percebem os que tudo que a

gente passa, é um a fase e que tem os que encarar de frente, com

m aturidade.

A aut o- r ev elação das par t icipant es facilit ou a atração entre elas e dessas ao grupo. Esse contato pr ogr essiv o é conhecido com o fat or t er apêut ico de coesão( 11). É sabido que o grupo aum enta sua coesão quando os m em br os o r econhecem com o um a r ica f o n t e d e i n f o r m a çõ e s i n t e r p e sso a i s e d e a p o i o . Aprenderam a conviver com outros, ouvir, estabelecer t rocas e a se valorizarem . Manifest aram , t am bém , o d esej o d e q u e o g r u p o p r o sseg u i sse, ap esar d e saber em sobr e seu t ér m in o, con st an t e do pr ópr io Cont rat o Terapêut ico. Manifest aram com ent ár ios de elogio à coordenação, sua post ura e papel m ediador. Alg u m as ch eg ar am a su g er ir q u e f osse of er ecid o t r abalho sem elhant e, t alvez, na for m a de disciplina opt at iv a.

Diana: Quando você está trabalhando em equipe tem

que aprender a ouvir, falar, parar um pouco para pensar. I sso

aprendi no grupo.

Flávia: O grupo teve a m eta, atingiu e estava na hora de

term inar, (...) m e ajudou a crescer e a aceitar m ais que, term inou.

Vit ória: No grupo t ínham os regras, disciplina, porque

sem isso nós não cam inhávam os. Foi um a coisa que aprendem os:

tudo tem regras, disciplina, senão, vira bagunça. Acho triste ter

que acabar o grupo (...), m as, acabou a disciplina, acabou o LI GI E

(laboratório onde foram realizados os encontros). A gente assum iu

um com prom isso, fizem os am izades, gostávam os de estar no

(9)

Marina: Eu acho que est e seu proj et o, m esm o quando

term inar seu doutorado, acho que com o no prim eiro ano tem

integração, acho que tinha que ter este grupo com o parte de

optativa, porque é m uito bom . E a gente j á continua a faculdade

diferente, parece que a gente am adurece em poucas sessões.

Bianca: Adorei e gostaria que tivesse m ais, é um a coisa

que m e aj udou bast ant e. Gost ar ia que t ivesse no segundo

sem estre. Preciso m elhorar m inha insegurança... O im portante

tam bém é que o que acontecia aqui ficava no grupo. Acho que você

soube trabalhar o grupo m uito bem , soube dirigir o grupo m uito

bem . Acho que a gente ia bater na m esm a tecla se você não

dirigisse o grupo. Eu quero m uit o cont inuar em out ros grupos.

Aspect os per cebidos com o negat iv os

Ne sse g r u p o , h o u v e a b a n d o n o e desligam ent os. O desligam ent o de um a part icipant e, em especial, m arcou o grupo com o um fato negativo. As par t icipant es se sent ir am desm or alizadas diant e de um a colega que desistiu do grupo m esm o com os esforços repet it ivos que as dem ais fizeram para que e l a co n t i n u a sse . Ta n t o o a b a n d o n o co m o o desligam ent o são am eaçador es par a a est abilidade do g r u p o, p or q u e con som em t em po e en er gia do terapeuta e participantes à m edida que tentam im pedir q u e a p e sso a sa i a d o g r u p o ; p o d e m i m p e d i r o d e se n v o l v i m e n t o d a co e sã o , a m e a ça n d o a est abilidade da afiliação e eles podem desv alor izar i m p l i ci t a m e n t e e , à s v e ze s, e x p l i ci t a m e n t e o grupo( 11,15).

Vit ória: A desist ência da colega foi negat iva. ( ...)

Sabíamos que ela tinha problemas, mas ela não cumpria os horários

do grupo, falt ava, a gent e se preocupava, m as ela não se

p r e o cu p a v a co n o sco . Vi a sa íd a d e l a co m o d e sca so ,

irresponsabilidade.

Juliana: O que não gostei no grupo (...) um a pessoa que

não era flexível, só sabia brigar (...), m as ela não aceitava a opinião

de ninguém ( ...) ela saiu ( ...) queria até que ela continuasse para

ver se abria a cabeça dela, m as não teve j eito.

O t er apeu t a dev e aj u dar os in t egr an t es a interpretarem o ocorrido de um m odo m ais realista e const rut ivo. Nos casos de abandono e desligam ent os ocorridos nesse grupo, o coordenador, com o facilitador, est im ulou as alunas a reflet irem sobre o fat o. Com isso, acabaram concluindo que os seus int eresses e os do grupo poderiam não est ar sendo at endidos e q u e , p r o v a v e l m e n t e , a s p e sso a s q u e p a r t i r a m poderiam obt er benefícios em um out ro m om ent o.

Diana: Encontrei-m e com ela depois e ela m e disse que

abandonou o sem estre, m as não o curso. Volta no sem estre que

vem , com m enos tensão, disse que precisa cuidar dela. Hoj e vi

que houve resultado, ela está se cuidando, vai se casar e disse

que não esqueceu de nós. Surpreendeu-me muito. Durante o grupo,

a gente não viu resultado.

So m en t e p o r o ca si ã o d a a v a l i a çã o , u m a par t icipant e pôde per ceber o quant o foi saudável o desligam ento da colega do grupo, pois lhe possibilitou alçar novos vôos em busca de bem - est ar, de novos hor izont es, possibilit ando- lhe um r et or no saudáv el p ar a a v id a acad êm ica. O g r u p o, p r ov av elm en t e, contribuiu de algum a form a para a decisão de aquela int egrant e se desligar, o qual foi int eressant e t ant o para quem ficou com o para quem saiu.

Um nível r azoável de confr ont ação, r aiva e r esolu ção do con f lit o pode of er ecer apr en dizagem int erpessoal ent re os int egrant es do grupo( 9).

Carol: Quando você falou com um a colega para esperar

um pouco porque outra iria falar, você deu um a “podada” nela (...)

criou um clim a na hora, m as na sessão seguinte um a outra colega

trouxe o assunto e ficou entendido. ( ...) todo m undo se educou e

não houve m ais interrupções...ficou esclarecido.

Vitória: Não gostei de um dia em que estava chorando

m uito ( ...) e encontrei a porta fechada ( ...) não pude entrar, daí

entendi que havia um horário.Tínham os que respeitar.

Marina: Considero que, não ter com binado previam ente

a m udança de horário e dia daquele encontro acabou sendo um

ponto positivo para o grupo, porque a partir desse dia a gente

com eçou a pensar enquanto grupo.

A coesão é pr é- r equ isit o essen cial par a o m anej o bem - sucedido do conflit o. I sso foi possível, nest e est udo, porque as int egrant es desenvolveram um sent im ent o de respeit o e confiança m út ua, além de valorizar o grupo, t ornando- se capazes de t olerar algu m as sit u ações descon f or t áv eis. Foi de gr an de im por t ân cia m an t er u m a com u n icação fr an ca, n ão im portando o quanto as integrantes se irritassem com isso.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

(10)

Perceberam que, diferente de suas colegas, passaram a reflet ir ant es de agir ou reagir diant e de sit uações novas com as quais vieram a se deparar.

A psicot er apia de gr u po par ece, por t an t o, um inst rum ent o a ser considerado pelas inst it uições d e en sin o su p er ior d e en f er m ag em com o r ecu r so n ã o a p e n a s d e a p o i o p si co l ó g i co , m a s t a m b é m

d id át ico, em seu s cu r r ícu los, n ão só em sit u ação com o a do est udo, da t ransição t eórico- prát ica. Não só com o est rat égia, m as com o obj et ivo. No m om ent o e m q u e s ã o d i s c u t i d a s r e f o r m a s d o e n s i n o é im port ant e lem brar que qualquer m udança planej ada não ser á som ent e t écnica, m as t er á efeit os no ser h u m an o.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

1 . Per ei r a ALF. As t en d ên ci a s p ed a g ó g i ca s e a p r á t i ca educat iv a nas ciências da saúde. Cad Saúde Pública 2003 set em br o- ou t u br o; 1 9 ( 5 ) : 1 5 2 7 - 3 4 .

2. Valsecchi EASS, Nogueir a, MS. Com unicação pr ofessor -aluno: aspect os relacionados ao est ágio supervisionado. I n: Men d es I AC, Car v alh o EC, coor d en ad or es. Com u n icação com o m eio de pr om ov er saúde. 7º Sim pósio Br asileir o de Com unicação em enfer m agem ; 2000. j unho 5- 6; Ribeir ão Pret o, São Paulo. Ribeirão Pret o: FI ERP; 2000. p. 99 - 103. 3. Farah OGD. A ansiedade e a prát ica no processo ensino-ap r en d izag em d e h ab ilid ad es p sicom ot or as: t écn icas d e pr epar o de m edicação par ent er al. [ disser t ação] . São Paulo ( SP) : Escola de Enfer m agem / USP; 1996.

4. Osório LC. Grupos: t eorias e prát icas - acessando a era da grupalidade. Port o Alegre ( RS) : Art m ed; 2000.

5. Bechelli LPC, Sant os MA. O pacient e na psicot er apia de gr upo. Rev Lat ino- am Enfer m agem 2005 j aneir o- fev er eir o; 1 3 ( 1 ) : 1 1 8 - 2 5 .

6. Guanaes C, Japur M. Fat or es t er apêut icos em gr upo de apoio. Rev Bras Psiquiat ria 2001 set em bro; 23( 3) : 134- 140. 7 . Bechelli LPC, Sant os MA. Psicot er apia de gr upo: com o surgiu e evoluiu. Rev Lat ino- am Enferm agem 2004 m arço-abr il; 1 2 ( 2 ) : 2 4 2 - 9 .

8. Mackenzie KR. Tim e- lim it ed gr oup psychot herapy. I nt J Gr oup Psy chot her 1 9 9 6 ; 4 6 ( 1 ) : 4 1 - 6 0 .

9. Zim er m an DE. Fundam ent os básicos das gr upot er apias. Port o Alegre ( RS) : Art m ed; 2000.

10. Guilliéron E. As psicot erapias breves. Rio de Janeiro ( RJ) : Jorge Zahar Edit or; 1986.

11. Yalom I D. The t heory and pract ice of group psychot herapy. New York: Basic Books; 1995.

12. Lasalle PC, Lasalle AJ. Gr upos t er apêut icos. I n: St uar t GW, Laraia MT. Enferm agem psiquiát rica: princípios e prát ica. Port o Alegre ( RS) : Art m ed; 2001. p. 695- 709.

1 3 . Min ay o MCS. O d esaf io d o con h ecim en t o: p esq u isa qu alit at iv a em saú de. São Pau lo- Rio de Jan eir o ( SP- RJ) : Hu cit ec- Ab r asco; 1 9 9 9 .

14. Scherer EA. Est udo de reuniões de equipe geral em um hospit al- dia psiquiát rico. [ dissert ação] . Ribeirão Pret o ( SP) : Faculdade de Medicina de Ribeirão Pret o/ USP; 1999. 1 5 . Salv en d y JT. Seleção e p r ep ar ação d os p acien t es e o r g a n i za çã o d o g r u p o . I n : Ka p l a n H I , Sa d o ck BJ, or ganizador es. Com pêndio de psicot er apia de gr upo. Por t o Alegr e ( RS) : Ar t es Médicas; 1996. p. 63- 72.

16. Mucchielli R. Psicologia da r elação de aut or idade. São Paulo ( SP) : Mart ins Font es; 1979.

17. Gayot t o MLC, Dom ingues I . Liderança: aprenda a m udar em grupo. Pet rópolis ( RJ) : Vozes; 1996.

1 8 . Lu ck esi CC. Filosof ia d a ed u cação. São Pau lo ( SP) : Cor t ez; 1 9 9 4 .

19. Pet t engill MAM, Nunes CB, Bar bosa MAM. Pr ofessor e a l u n o co m p a r t i l h a n d o d a e x p e r i ê n ci a d e e n si n o -aprendizagem : um a disciplina de enferm agem pediát rica da Universidade Federal de Mat o Grosso do Sul. Rev Lat ino- am Enfer m agem 2003 j ulho- agost o; 11( 4) : 453- 60.

20. St uart GW. Relacionam ent o t erapêut ico ent re enferm eiro e p a c i e n t e . I n : St u a r t GW, La r a i a MT. En f e r m a g e m psiquiát rica: princípios e prát ica. Port o Alegre ( RS) : Art m ed; 2 0 0 1 . p. 4 6 - 8 4 .

Referências

Documentos relacionados

Amostras de Tecido = Feito com nosso fio (BonaFil) VIDEO = Tecelagem

Neste relato descreve-se um caso de endoftalmite secundária à endocardite infecciosa, enfatizando-se a importância de considerar a endoftalmite sem antecedente de cirurgia ou

Assim, a deposição temporária de proteínas da matriz do esmalte sobre a superfície radicular seria um passo essencial para induzir a neoformação de cemento acelular, que pode

Glaucia Roberta Rocha Fernandes, Telma de Lurdes São Bento Ferreira e Vera Lúcia

É esta a liberdade capaz de conduzir o homem na busca da sabedoria, da moralidade, da prudência, das virtudes que dotam o homem de humanidade, impedindo-lhe de

Quando se tem um doente para o qual tecnologia molecular ainda não encontrou solução, podemos oferecer conforto, apoio e amor.. A oncologia vem crescendo exponencialmente e

A inclusão da disciplina de Educação Física Adaptada no ensino superior tem como objetivo estimular a reflexão sobre a temática da deficiência e,

propriedade para investimento, agricultura … IAS 11 IAS 39 Dividendos Juros IFRS 15 Reconhecimento de receitas Venda de bens Receita de serviços Royalties Contratos de