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Poemas de chamados, esperas e (a)fins

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Academic year: 2021

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DiRetoRia aDministRativa Da eDUFRn

Luis Passeggi (Diretor) Wilson Fernandes (Diretor Adjunto)

Judithe Albuquerque (Secretária)

Conselho eDitoRial

Luis Álvaro Sgadari Passeggi (Presidente) Ana Karla Pessoa Peixoto Bezerra Anna Emanuella Nelson dos S. C. da Rocha

Anne Cristine da Silva Dantas Christianne Medeiros Cavalcante

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Nedja Suely Fernandes Paulo Ricardo Porfírio do Nascimento

Paulo Roberto Medeiros de Azevedo Regina Simon da Silva Richardson Naves Leão Rosires Magali Bezerra de Barros

Tânia Maria de Araújo Lima Tarcísio Gomes Filho Teodora de Araújo Alves

eDitoRação

Kamyla Alvares (Editora) Alva Medeiros da Costa (Supervisora Editorial)

Natália Melão (Colaboradora)

Revisão

Wildson Confessor (Coordenador) Alynne Scott (Colaboradora) Cláudio B. Carlos (Leitura crítica e revisão)

Design eDitoRial

Michele Holanda (Projeto Gráfico) Bruna Roveri (Fotografia)

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Fernandes, Hercília.

Poemas de chamados, esperas e (a)fins [recurso eletrônico] / Hercília Fernandes. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.

118 p. : PDF ; 24 MB.

Modo de acesso: http://repositorio.ufrn.br ISBN 978-85-425-0789-8

1. Poesia brasileira. 2. Literatura brasileira. I. Título.

CDD B869.1

RN/UF/BCZM 2018/11 CDU 821.134.3(81)

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN

Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário | Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN, Brasil e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br | Telefone: 84 3342 2221

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Hercília Fernandes demonstra mais uma vez nesse livro uma poesia que dialoga com a grandeza e o apequenamento do ser humano. Isso é visível, por exemplo, no poema “Resistência”:

quando a natureza aparece morta / a vida comprova sua magnitude, / resistir não é vitória, / é virtude.

Ela encontra a dualidade da resistência não como quem fraqueja, mas aquele que é fiel ao seu ideal. Quem resiste não se escraviza. E assim, viaja dos grandes temas aos mais íntimos, o universo e seu universo convivem no mesmo quintal, tal como no poema despre-tensiosamente profundo: e aqui ali estou / ex_posta à mostra / varal. Não se pode esperar de Hercília Fernandes uma escritora simples, ainda que muitas escolhas lexicais sejam quase singelas. O poema “Seca” é esse sentimento retratado nas cores da sua terra:

não chove em Caicó / meu ser_tão é cinza, / pó.

Em muitos momentos essa rima, o som, e a musicalidade até, estão na fruição do poema, como em: é tudo tão ralo, raso, rasteiro

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afetivo, intelectual e estético.

Várias são as que me dizem e dizem os “Poemas de”, cujas expressões de afeto refletem (-me) chamados, esperas & (a)fins.

Expresso, então, os meus agradecimentos aos meus pais, Quinzinho & Maria Inês; ao companheiro de arte e vida Marcus Vinicius; e aos nossos três meninos: Marcus, Pedro e João, pela beleza na/da “poética do vivido”.

À Marta Maria de Araújo cujos ensinamentos elevam-me as ideias e os valores.

Aos amigos poetas Adriana Karnal, Assis Freitas e Cláudio B. Carlos, pelo prazer da companhia e contribuições críticas ao livro.

Aos leitores que, ao longo dos anos, acompanham-me a feitura do verso no blog “HF diante do espelho”.

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À Cynthia Maria e leitores facebookianos; entre tantos afeitos e afeições.

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ME SENDO 19 A POESIA 20 ELEITO 21 IN_TOCÁVEL 22 (DES)PRETENSÃO 23 MARESIA 24 CHAMAMENTOS 25 DO PRINCÍPIO 26 CAMINHO INDIRETO 26

LUA CHAMA BRUMA 27

SEM NOME, ROSTO, LUGAR 28

RENDIÇÃO 29 INSTANTE 30

SUGESTÃO NÃO BASTA 31

... TE AMO! 31

ALA 32 BILÍNGUE 33 ESTRANHEZA 34

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UMA PÁGINA DA HISTÓRIA 48 PRENHEZ 49 SECA 50 CAATINGA 51 REBENTO 52 LAVRADOR DE SERTÕES 53 O SERTÃO 54 RESISTÊNCIA 55

CERRADO & SERTANIA 56

ARRASTO 57 ALÇA_PÃO 58 À MÍNGUA 59 APETRECHOS 60 (DES)CONTROLE 61 “CEM”(DES)CULPAS 62 ACEITAÇÃO 63 NADO 63 IN_VARIÁVEL 64 PALAVRA SADIA 65 TRÊSÓIS 65 OUTRIDADE 66 VIUVEZ 67 CECILIANA 68 AMOR NA PRIMAVERA 69 SEM SAL 70 QUEBRANTO 71 ESTAÇÕES 72 (DES)CORTINAS 72 QUASE 73 O OUTRO LADO 74

(13)

QUEFAZER 78 CONDUÇÃO 79 JARDIM EM CINZAS 80 EXPIA AÇÃO 81 DESEJOS INFANTIS 82 REALISMO 83

QUANDO VOCÊ SE FOI 84

O QUE DOEU 85 TRÊS POEMAS DE 86 À SALVA_DOR DALÍ 87 NO ÍNTIMO 88 DOBRAS DO VENTO 89 CANDEIAS 90 DE CRIANÇAS, AMORAS & RISOS 91 TÊTE-À-TÊTE 92 BRINDE 93

A NOITE LOGO VEM 94

ENTRISTEÇO: 95

POR GOSTO 95

SÓ (R)ESTOU 96

E-BULIÇÃO 97

PÉGASO 98

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(17)

Cantarei a esse amor, sempre e quando. Cantarei a ele, amor maior; conspiração minha e desengano. Cantarei nas tardes sere-nas. E nas águas turvas, também. Cantarei com extrema doçura, esse amor que só vai e vem. Cantarei se preciso for, para ninar a dor e o silêncio. Não sufocar tamanho amor, nem a tarde e o firmamento. Cantarei sem que mereças ou mesmo que me impeças. Cantarei para que não esqueças: a lua, a chama e a promessa. Mas calarei quando preciso: sem

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18

( D E S ) P E R T E N C E R

31 m a r. 2 0 1 3

mal sinto caber-me o meu espírito asa

acorda-me

à centelha de outra casa lá, portas e janelas desvão

(19)

M E S E N D O

à Talita Prates 2 6 j a n . 2 0 1 3

quando a teoria não dá jeito se peito é fogo paiol d’esejo seu corpo me sendo poesia

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20

A P O E S I A

17 o u t . 2 0 1 2 percorreu-me os dedos afeita à lavra líquida não grudou não brandiu tocou-me

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E L E I T O

2 3 a b r. 2 0 1 2

O meu poema preferido é aquele que, de mim, não sai se atento ao escrito,

ele diz-me ao pé do ouvido: não prendo navio ao cais.

(22)

22

I N _T O C ÁV E L

2 9 j a n . 2 0 1 2

pela brevidade do instante, ele vem e toca-me as mãos porque o sonho é fina areia também matéria de vulcão o poeta sabe:

(23)

( D E S ) P R E T E N S Ã O

2 9 f e v. 2 0 1 2

ela olhou aquelas palavras e desejou não mais querer quis somente desaguar transbordar-se à nascente ao rio

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24

M A R E S I A

2 3 m a r. 2 0 1 2

fiquei pensando

o que preenche seu olhar no outro lado da foto(grafia) era mar?

era poesia?

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C H A M A M E N T O S

2 0 j u l . 2 0 1 2 a alma reclama se não há sol, chama cê não viu? lua piscou pro rio

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D O P R I N C Í P I O

1 1 f e v. 2 0 1 2

Falam do fim do mundo... Eu queria saber o princípio. Quando éramos possibilidade... Não um meio ou fim.

C A M I N H O I N D I R E T O

4 m a r. 2 0 0 9

Talvez eu devesse ter um romance. Tomar banho de sol quando tudo é inverno. Talvez eu devesse te levar a sério: sair da rotina, romper o pacto com o tédio. Talvez eu devesse aproveitar o dia. Acolher a sofia de uma nova cor e ideia. Ser lua adversa – mais ato e menos conversa! Talvez eu devesse ser manifesta... Mostrar de uma vez: o caminho indireto, das Índias às minhas cobertas.

(27)

L U A C H A M A B R U M A

31 m a r. 2 0 1 3

em meio à chama e à bruma da madrugada

a noite,

quase disfarçada,

enluarava a minha face corada e era tudo tão sensitivo... você

a lua eu o riso ficamos ali...

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28

S E M N O M E , R O S T O, L U G A R

9 d e z . 2 0 0 9

Quero amor

sem nome, rosto, lugar.

Alguém que, se minguada lua for, venha estrela.

(29)

R E N D I Ç Ã O

2 1 a g o . 2 0 1 4 lua se eu fosse rua caía na lábia sua

antes que a Via-láctea evolua

(30)

30

I N S TA N T E

17 j u l . 2 0 1 2

se houvesse lua

se você pudesse ouvi-la mas nenhum canto é preciso,

sugestivo o bastante nem este instante em que, nua, ela chama

(31)

S U G E S TÃ O N Ã O B A S TA

16 n o v. 2 0 1 3

Talvez exista uma forma de não dizer que diga tudo e um pouco mais... A sugestão sempre tão vaga, etérea, vasta... (posto poética) não basta. Necessito das três palavras mágicas, aquelas que não ousas pronunciar.

. . . T E A M O!

2 8 m a r. 2 0 1 3

O tom era de leveza – de graça. O sentido? Tão único...

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32

A L A

1 2 j u l . 2 0 1 1

soubesses a vontade o desejo que destoa-me entre-me dobras e veias não me tomarias etérea ala efêmera de ti

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B I L Í N G U E

1 8 f e v. 2 0 0 9

E por falar em formigas... O que posso dizer se tuas palavras não ditas vestiram-me bilíngue, rosa partida entrelaçada em flor de sisal? Se há na tua língua um tropel de formigas onde levantei broquel suicida capaz de fundir manancial? O que posso dizer se todas as cores de Monet cegaram-me as retinas, traindo-me as narinas entre sustos e silêncios de Chagall? Se depois de vender flores, enfileirar flamas em frascos de silêncios assustadores, o resto me parece completamente banal? Mas, por falar em formigas...

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34

E S T R A N H E Z A

4 n o v. 2 0 0 8

Poetas se apaixonam... Nada há de estranho nisso!

Aconteceu com o Pessoa, a Flor Bela, o Vinícius... – Que dirá, pobre mortal, consigo?!

Poetas se apaixonam...

A palavra desce quente garganta ao umbigo. E a estranheza?

(cá entre nós...) Faz parte do ofício!...

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V E S T I D A D E A M O R

2 8 o u t . 2 0 1 1

vieste estranho,

tamanho silêncio a queimar lábios

em sonho, versos rosados drapeados à pele castanha a dizer-me, entranha, quão estranha estou

isso, por me vestires de amor!

(36)

36

AT É N A F O R M A

7 m a i o 2 0 1 4

nossos caminhos se cruzam

como olhos farejam o deleite

o aninho durante e pós

tempestade

até na forma, não vê? se evidencia alguma potencialidade

(37)

“ C E M ” N O I T E S

1 4 a g o . 2 0 1 3 contentar-nos-íamos com manhãs tardes dias

(38)

38

FA C E B O O K I A N O S

P o e m e t o s s e m d a t a s p r e c i s a s d e e s c r i t u r a

Da flecha:

há que se ter equilíbrio entre a lança e o arqueiro

o sonho é longínquo, a chama?

fevereiro

Da poesia menor:

quero uma poesia menor dessas que não embalam

sonhos, abanam redes

Da exposição:

e aqui ali estou ex_posta à mostra

(39)

N A V E R D A D E ,

2 2 n o v. 2 0 1 2 (se se pode pensar n’alguma ideia de verdade) foi um acaso um lapso que poder-se-ia corrigir

mas eu quis ir... e deixei-me levar em desacertos possíveis

(40)

40

A C A S O

2 4 m a r. 2 0 1 3

se foi uma ilusão de ótica

de lógica que importa?!

o acaso não tocou-me à campainha

à porta

sequer às horas em que ousei

(41)

P L A N E J A M E N T O :

1 f e v. 2 0 1 2

• alterar o curso do rio; • destituir gavetas;

• pintar a cara à esferográfica vermelha; • provocar sensações de arrepio;

• morrer de amor até que chegue a manhã.

M I N I S S É R I E

2 a b r. 2 0 1 2

Se me visse às vestes de uma personagem, sairia das páginas de uma minissérie... escrevendo uma tese e pen-sando em você: não necessariamente freudiana...

(42)

42

V I N H A S , Á R I A S , A G O R A S

27 j a n . 2 0 1 1

eu te leio

como quem principia

viagens, passagens regadas em vinhas

por que tu me ensopas “agoras” lavras minhas? não sou musa inspirada à vanguarda art’mercenária mas avulto árias quando tu me tornas,

escovas, às primas horas das manhãs

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( D E S ) E N R E D O S

1 m a i o 2 0 1 2

é porque trago a mania de enredos passados de sonhos visionados em sessões de nostalgia mas a minha poesia é pra despertar manhãs

(44)
(45)

Esperas

Houve um tempo em que a janela de seu quarto se abria à leve brisa da noite e aos mis-térios da vida. Em que estrelas incandescentes contavam-lhes histórias interminavelmente compridas. Em que nuvens formavam-se, no céu, desenhando páginas e mais páginas em gotas embevecidas. Houve um tempo em que ela escrevia longas cartas de amor. Em que recortava e colava figurinhas junto ao texto. Em que selava, tão dulcíssima e secretamente, sinceros sentimentos em tão esperado beijo. Houve um tempo em que flores eram lançadas ao mar; aviõezinhos à própria sorte; barcos à maré alta; sonhos perdidos, ao luar, em cinza mágica... Houve um tempo em que eclode a dor da espera, e o silêncio torna-se único pranto

(46)

46

P E N É L O P E

à Líria Porto 1 9 o u t . 2 0 1 2

ela cria versos

com as mãos de tricô (des)fia esperas

longínqua é a sua Odisseia, amor

(47)

S A LT O S & A N É I S

1 5 m a r. 2 0 0 9

Passei os dias

sem consultar astros e anais sem rever afáveis linhas sem colar e degolar figurinhas sem usar saltos e anéis.

Passei os dias sem admirar postais sem chover caleidoscópios sem mentir que nem Pinóquio sem lavar mãos e pés.

Passei os dias alimentando pausas nas entrelinhas, hibernando...

(48)

48

U M A PÁ G I N A D A H I S T Ó R I A

1 0 d e z . 2 0 0 8

Adianta tamanha procissão de ternura? O tempo não soprará os ventos de outrora, nem sob a ação da chuva e as mil voltas do coração. A filha do sopro cessa seu pranto sereno... Como quem guarda, em livro envelhecido, uma página da história. Tal desengano, tal estranheza banha – em brando rio – a dor vinda, morta, obsoleta.

(49)

P R E N H E Z

2 2 m a i o 2 0 1 3

contemplar a aridez a secura que exaure a alma até que resulte em prenhez

(50)

50

S E C A

a Assis Freitas 2 2 a b r. 2 0 1 2

não chove em Caicó meu ser_tão é cinza,

(51)

C A AT I N G A

1 4 m a r. 2 0 1 2

é tudo tão ralo, raso, rasteiro mata branca,

(52)

52

R E B E N T O

a Samuca Santos (in memoriam) 2 f e v. 2 0 1 2

as mãos estão cerradas

os olhos percorrem único horizonte a boca é sede, é fome

tocaia que encanto consome qual rebento na carcaça brotando aquém do costume

(53)

L AV R A D O R D E S E R T Õ E S

a meu pai, Joaquim Godofredo Fernandes 8 a g o . 2 0 1 0

Ele me deu mais do que pretendia. Fez-me à sua imagem e semelhança sem nada impor, exigir. Não reivindicou perfeição! Lavrou-me o desenvolvimento com mãos genuínas – olhar de contemplação. Nas secas, fez-me chover: castanha-flor, polpa de caju. No inverno, renascer: cristalina, brejo no ribeirão. Meu pai não quis ser herói... – apenas humano. Possui sede, fome, virtude. Homem ser_tão que é. Assim também me sinto: mandacaru.

(54)

54

O S E R TÃ O

9 j u n . 2 0 1 2

não é seca

– é reservatório de esperança abastança que escalda-nos os pés, os dias

(55)

R E S I S T Ê N C I A

a Cisco Zappa 2 2 m a r. 2 0 1 2

quando a natureza aparece morta a vida comprova a sua magnitude resistir não é vitória,

(56)

56

C E R R A D O & S E R TA N I A

2 9 o u t . 2 0 1 2

Havia tanto o que dizer, esclarecer... Mas a vida parecia-lhe uma impreenchível lacuna. Os sentimentos eram intensos, afeitos, cristalinos... Como abrir-lhe, então, o peito, colocar-lhe a par de encargos, interditos e anseios sem render-se ao cruel realismo ou exacerbado subjetivismo? Como ferir o sonho, a selvageria do voo, quando o seu desejo é achar-se perdida no horizonte longínquo das horas fartas de impressões? Se tudo o que almejo é lançar-me “sem telha” ao seu encontro, reconhecer-me na superfície febril dos atos e feições que fazem do poema Cerrado & Sertania? Indagava-se. Não, ela não possuía qualquer direito... Nem expressão, nem liberdade, nem jeito. Sentia. Tenho pressa porque o sentimento alarga-me na fonte. Abre-me o amor entre frestas e eu já não sei contê-lo, escondê-lo nas especiarias dos montes. Urgência é a posse, consentida, da sua geografia.

(57)

A R R A S T O

2 8 s e t . 2 0 1 2

o que me conforta é que eu ainda vejo o rio

embora não saiba sob quais águas ele arrastar-me-á

(58)

58

A L Ç A _ PÃ O

9 a g o . 2 0 1 3 e o meu peito ser_tão é rio alça_pão de saudades até do que não...

(59)

À M Í N G U A

à Adriana Karnal 1 d e z . 2 0 1 1

saudade do riso trem “cem” trilhos dos meus olhos te devorando...

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60

A P E T R E C H O S

16 a g o . 2 0 0 7

Reuni os meus apetrechos. Espalhei flores sobre a cama. Penteei meus longos cabelos. Joguei os pés, doídos, à santa. Caí na calada da noite: cantei, dancei música cigana. Colei retratos na janela. Bebi álcool com laranja. Depois subi pelas paredes... Quase pedindo: “socorro, pano, lâmpada!”. Mas você nada disse, nem nada fingiu dizer. Nem mesmo me arriscou um palpite... do meu jeito lânguido de ser. É por isso que eu fico assim meio triste – nesse disse me disse –, esperando... às minhas coisas, você (me) recolher.

(61)

( D E S ) C O N T R O L E

1 o u t . 2 0 1 2

É a poética do vivido que tu me tiras

sem atentares às intenções de abuso,

(62)

62

“ C E M ”( D E S ) C U L PA S

2 3 f e v. 2 0 1 4

não adianta vir

com esse olhar de quebra-ossos

com essa quase presença que produz fraqueza, oficina do ócio

com esse grave que sensualiza ora é mórbido

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A C E I TA Ç Ã O

2 9 s e t . 2 0 1 3

O pior é que concordou. Aceitou todos aqueles disparates como se incontestáveis fossem as verdades. Fê-lo bem. Já não detinha qualquer força para permanecer remando... – quase sempre contra a maré.

N A D O

1 0 d e z . 2 0 1 2

a cada braço à frente dois enlaçam-me atrás por que o sonho

(64)

64

I N _VA R I ÁV E L

a Marcus Vinicius, companheiro de arte e vida 27 a g o . 2 0 0 9

Não é porque a noite se mostra negra que esqueço o brilho das estrelas. Não é por não dispor de chaminé que desacredito em Papai Noel. Não é porque o Sol se enfada, se deita, que anuncio novo dia. Não é porque a Lua se apresenta gueixa, que afago cometas e vaga-lumes. Não é por essas e outras coisas que amo esse mesmo outro homem.

Esqueço o brilho das estrelas porque a noite se mostra negra. Desacredito em Papai Noel por não dispor de chaminé. Anuncio novo dia porque o Sol se enfada, se deita. Afago cometas e vaga-lumes porque a Lua se apresenta gueixa. Amo esse mesmo outro homem por essas e outras coisas.

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PA L AV R A S A D I A

2 4 f e v. 2 0 1 0

A palavra era fugidia. Demasiadamente vaga, embora tardia. Não era o que a minha alma sonhadora sol_via. Nem o corpo imperfeito, debalde, pretendia. Era uma palavra sadia... Sem sinais de combate, cansaço, nem esquizofrenia...

T R Ê S Ó I S

1 4 j u n . 2 0 0 9

Enquanto bebo cerveja... olho as imagens postas sobre a mesa. Penso no que poderia ter sido – e no que poder-se-ia ser. Se ainda há eu e você. Se uno em nós. Se fomos tão sós que precisávamos de trêsóis para aquecer as noites de inverno. Enquanto bebo cerveja, esqueço que há outros entrelençóis...

(66)

66

O U T R I D A D E

2 9 a b r. 2 0 1 4

desta vez não lhe deixarei de fora como se habitássemos mundos distintos sim, há multiplicidade em nós não somos um em dois nem dois em um somos muitos e nossa outridade (sentimos sabemos) namora

(67)

V I U V E Z

17 d e z . 2 0 1 1 te chamei na chuva, na madrugada e no meu silêncio. no vento e na ventania que me deram o pranto e o acalento.

agora não mais chamo não mais espero – sequer te lembro! tornei-me viúva...

(68)

68

C E C I L I A N A

27 o u t . 2 0 1 2 arrancarei a feiura rósea d’entro de mim como quem remove erva daninha do jardim depois, com olhos perplexos por ti, tornar-me-ei rocha

(69)

A M O R N A P R I M AV E R A

6 m a r. 2 0 1 2

se o amor faz bem

se a tudo, a todos, convém por que me fazes dor?

não vês, não ouves, não sentes? eu morreria por ti,

cortar-me-ia na primavera por ti

ainda que o amor viesse a_gosto e não... setembro.

(70)

70

S E M S A L

2 9 a g o . 2 0 1 2

deve ser a_gosto melhor dizendo,

(71)

Q U E B R A N T O

6 f e v. 2 0 1 3

e novamente negaste esse silêncio que, em nós, ora

avulta

a minha alma chora

se turva

e, no entanto, fora, nenhum quebranto à sombra

(72)

72

E S TA Ç Õ E S

1 8 a b r. 2 0 1 2 não, nada passou... todas as estações me faltam

( D E S ) C O R T I N A S

2 2 a b r. 2 0 1 2 só as janelas permanecem abertas porque é preciso (des) cortinar nós

(73)

Q U A S E

2 9 j u n . 2 0 1 4

é essa

condição que não passa trem que não se pega voz que enlaça ora relega

é essa quase história, – quase novela atração que devassa ora anela

(74)

74

O O U T R O L A D O

1 4 j u l . 2 0 1 3 existe outro lado na / da moeda toda espera exige alguma perda de

(75)

Há um travo na garganta e um travão nos olhos. Um metro de lâmina e um grânulo de ópio. Há uma palavra não dita e um silêncio gritante. Uma ponte escondida e um chinelo azul verdejante. Há uma roda-viva e um mar morto. Uma verdade esculpida e um cavalo solto. Há coisas para serem ditas, outras melhoradas... Uma lágrima fingida, um riacho cheio d’alma: sebo nervo alheio, em cascata.

(76)

76

A N I L

2 1 m a i o 2 0 1 2 se me tiras a voz, a mão e a escrita que me versam?! a minha face é anil... se dissolve azul nas águas.

(77)

P E S O & M E D I D A

2 j a n . 2 0 0 7

De repente...

Não mais que de repente... E só ficaram as vestes da saudade

E pousaram, sobre mim, as asas da sobriedade. Porque o verde virou cinza

(tenho visto, não há cor pior!) E o azul glicerina

(tenho dito: a imagem deformou-se por dó!) O olhar sereno, meigo, inocente

perdeu a cor, o ritmo, o tom Dando lugar à dúvida, à luxúria... Ao peso e à medida da razão. E o olhar entristecido,

(78)

78

Q U E FA Z E R

1 9 o u t . 2 0 0 8

Minha vida é o caminhar, quefazer infinito.

Caminhos de pedras, retas, labirintos... Dura e pérfida!

Fumaça passa em desalinho. Minha vida não é a melhor amiga Nem a pior conselheira...

É a caça do eu perdido em curvas E a presa tátil nas vigas.

Dirão os que virão: “Foi mar de ondas claras em vales profundos...” Ou...

“Glória sem brasão,

riacho de lágrimas, infortúnios...” Eu, ao longe, apenas lhes direi: – Enxergai as folhas no barro, no pão.

As gotas de orvalho no prumo:

(79)

C O N D U Ç Ã O

3 s e t . 2 0 1 2

é difícil sentir-se sozinha, sobretudo nos momentos em que a vida se nega a um acaso

um agrado um emplastro

– até mesmo bom empurrão! mas trago a sensação

de estar externa às linhas e viver sozinha

(80)

80

J A R D I M E M C I N Z A S

1 9 a g o . 2 0 1 3

a minha vida é um filme: imagem

passagem na janela a lente que filma,

quase sempre, é aquarela tão vibrante quanto um sonho de Monet

mas também é asa disforme ponte

passarela

(81)

E X P I A A Ç Ã O

1 9 j u l . 2 0 1 2

tenho estado distante

como se não existisse mais eu sinto-me expiar feito Prometeu bicada por um fogo que não é... nem mesmo meu.

(82)

82

D E S E J O S I N FA N T I S

1 a g o . 2 0 0 7

A cada dia me torno mais estranha. A cada dia já não reco-nheço a minha face adormecida na amplidão. A cada dia sinto-me menos fluída; e me nego, um pouco mais, à contemplação. A cada dia me desinteresso por coisas sensatas. E por coisas não sérias também! A cada dia apresento menos tolerância, para não dizer desdém! A cada dia choro em meu silêncio. E clamo uma nova cor e ideia. Contrariamente, tarda-me chegar a primavera. E, com ela, a luz e a chama de uma vela. Assim os meus dias vão passando: sem serenidade, dormência ou engano. Assim os meus dias vão perdurando... (enquanto choro em meu silêncio), os meus desejos infantis e secretos planos.

(83)

R E A L I S M O

16 n o v. 2 0 0 8 Infelizmente... não é madrigal não é temporal a dor é real: quarta-feira de cinzas!...

(84)

84

Q U A N D O V O C Ê S E F O I

8 o u t . 2 0 1 1

até as flores, vívidas a dois, fizeram-se plásticas “tão paradas e frias e mortas”

(85)

O Q U E D O E U

2 o u t . 2 0 1 3

não foram as palavras ditas

escolhidas uma a uma para ferir

doeu o falseamento... sentimento que é tanto não convém desmentir

(86)

86

T R Ê S P O E M A S D E

1 2 f e v. 2 0 1 3

há dias acometem-me as ambições de como se respirar, sonhar, sorrir bens fossem alienáveis ao fim vestiu-se

para acentuar a dor na vergonha

medonha foi a impossibilidade de

é esse excesso de realidade que ofusca cega o voo a queda qualquer possibilidade de

(87)

À S A LVA _ D O R D A L Í

1 9 n o v. 2 0 1 1 nada aflora nada avulta aqui luas se passam em paródias insólitas caricaturas à Salva_dor Dalí

(88)

88

N O Í N T I M O,

à minha mãe, Maria Inês Fernandes 16 m a r. 2 0 1 3

sou apenas uma menininha que em ti aninha

(89)

D O B R A S D O V E N T O

à mestra Marta Maria de Araújo 1 2 n o v. 2 0 0 8

É preciso decifrar sinais

estar atento.

Saber o que apraz

manter-se sereno.

Reunir os galhos

sem mais nem menos.

Estreitar os laços:

(90)

90

C A N D E I A S

2 3 j a n . 2 0 0 9

O caminho é verdejante.

Onde alastra sangue, flor semeia. Brancas. Azuis. Vermelhas. Flores para luzir candeias, guiar a cegueira que, no mundo, vagueia.

(91)

D E C R I A N Ç A S ,

A M O R A S & R I S O S

a Cláudio B. Carlos 2 6 s e t . 2 0 1 2

é possível que envelheçamos sem enxergarmo-nos, um no outro, as horas

os poemas ser-nos-ão ouro, – ternas são as auroras de crianças, amoras e risos.

(92)

92

T Ê T E - À -T Ê T E

2 d e z . 2 0 1 2

se ainda fosse Paris se Sartre & Castor o amor far-me-ia petiz

: bistrô

(93)

B R I N D E

a Carlos Eduardo Marcos Bonfá 3 m a i o 2 0 1 3

costuma sair às noites de sábado em que vagueiam as efervescências emanadas de sua escrivaninha: correspondências de Baudelaire iluminações de Rimbaud

sugestões des_vão de Verlaine a Mallarmé às noites de sábado,

a cidade é dama tardia

chama estonteante que desvela cria misto de crueza e santidade

dissidência na ordem da melancolia às noites de sábado,

(94)

94

A N O I T E L O G O V E M

2 3 m a i o 2 0 1 3

as pessoas estampam felicidades a curta vista

como se cada gesto, passo, objeto fosse digno de outdoor

de

capa de revista

mas a noite logo vem...

e não oculta o que a casa (de fato) contém

(95)

E N T R I S T E Ç O :

4 a b r. 2 0 1 4 falta fim ao (re)começo

P O R G O S T O

1 0 f e v. 2 0 1 4

esqueci seu nome rosto endereço se cedo ou tarde fim

(96)

96

S Ó ( R ) E S T O U

2 4 f e v. 2 0 1 4 perdi o chão o rumo as palavras só (r)estou:

(97)

E - B U L I Ç Ã O

a Eduardo Lacerda 1 9 o u t . 2 0 1 2 não falo das exclusões sofridas (das perdas de ilusões) falo das dádivas esculpidas

(98)

98

P É G A S O

2 4 a b r. 2 0 1 4

eu sempre imagino que você virá forte

reluzente destemido livrar a mocinha do calvário que é viver porque só você... é capaz de entrever o termo correspondente ao significado do que, à menina, faz doer

(99)

TA N T O ( M E ) FA Z

1 5 j u l . 2 0 1 3

morrer de porre, guerrilha, poesia?

ah amor, tanto (me) faz... no fim, só vejo a ilha cerco de ruínas muralhas, cárceres ao cais

(100)

100

D A ( R E ) P R O D U Ç Ã O

D O N Ã O L U G A R

à Ana Fani Alessandri Carlos 2 9 a b r. 2 0 1 2 a placa informa, adverte delimita ações, espaços o corpo

(essa caixa de recepções e ressonâncias)

não extrapola interdições as divisões que erguem (sobre todos os ângulos e sentidos)

ostensivos obstáculos apesar das ânsias

(e profundezas) na/da epiderme que requerem extinguir

muros vazios inter_ditos correntezas & acorrentados

(101)

C O M V O C Ê

1 3 n o v. 2 0 1 1

marcharia pelo Sudão, pelo Iraque e a Palestina...

como os sonhos não ultrapassam o vagão da esquina

segue este poema minguado combinado a cigarro e cafeína.

(102)

102

G A R A N T I A

1 0 m a r. 2 0 1 4

guardei as suas palavras como forma de impedir os mesmos erros

mas aqui faz frio e é só o começo:

de uma longa caminhada, vida a esmo

(103)

N O F I M ,

1 j u l . 2 0 1 3

restava-lhe o vazio esse nada tão cheio de tudo

(104)
(105)

Como nasce um poema? Qual o instante em que a palavra é alçada ao voo poético e deixa apenas de comunicar para se transformar numa explosão significante? Estamos, pois, diante dos mistérios de uma experiência estética ímpar: a concepção da poesia. Mas, de outro modo, se não podemos adentrar ao insondável, ao poema posto, nos cabe a fruição desse privilégio. “A leitura faz do livro o que o mar e o vento fazem da obra modelada pelos homens: uma pedra mais lisa” (BLANCHOT, 1987, p. 29). Então é içar velas e deixar-se ao sabor do vento nordeste.

(106)

106

O poeta e crítico literário mexicano Octavio Paz (1982, p. 61) nos alerta que “o poema apresenta-se como um círculo ou uma esfera – algo que se fecha sobre si mesmo, universo autossuficiente no qual o fim é também um princípio que volta, se repete e se recria. E essa constante repetição e recriação não é senão o ritmo, maré que vai e que vem, que cai e se levanta.” E assinala: “ritmo, ima-gem e significado apresentam-se simultaneamente numa unidade indivisível e compacta: a frase poética, o verso” (PAZ, 1982, p. 61).

C A N D E I A S

O caminho é verdejante.

Onde alastra sangue, flor semeia. Brancas. Azuis. Vermelhas. Flores para luzir candeias, guiar a cegueira que, no mundo, vagueia.

O universo literário de Hercília Fernandes carrega essa densidade do verbo que se crispa em chamas na criação. Carrega a desdita ontológica, vide o mito de Prometeu, de se sacrificar em nome do fogo oferecido aos homens. Porque a poesia – caberiam tantas outras metáforas – é este brilho que cega, atordoa, mas ao mesmo tempo nos põe diante das pequenas epifanias da existência.

(107)

Aqui o que interessa é o evocar das sensações. Os arrebata-mentos provocados pela leitura de um poema. As possibilidades imagéticas contidas em uma série de frases ou numa frase tão curta e propositadamente condensada para explodir dentro do leitor. Esse fogo que queima incessante e que é força motriz para todos os desejos que a linguagem pode provocar.

E X P I A A Ç Ã O tenho estado distante

como se não existisse mais eu sinto-me expiar feito Prometeu bicada por um fogo que não é... nem mesmo meu.

“Uma poesia que fala do ato criativo, da dificuldade de seu material – palavra –, do conflito pedregoso diante da folha em branco, da dificuldade desconfiada do ato de poetar, da palavra que é de uso de todos e que, no poema, necessita ser singular e exata para bem dizer-se, dizendo sua natureza” (FRIEDRICH,

(108)

108

de sacrifício para cada palavra escrita. E é nesse engasgo, naquilo que produz o indômito, que viceja a poesia.

E S T R A N H E Z A Poetas se apaixonam... Nada há de estranho nisso!

Aconteceu com o Pessoa, a Flor Bela, o Vinícius... – Que dirá, pobre mortal, consigo?!

Poetas se apaixonam...

A palavra desce quente garganta ao umbigo. E a estranheza?

(cá entre nós...) Faz parte do ofício!...

Gaston Bachelard (1978, p. 210) disse certa vez que “a con-quista do supérfluo provoca uma excitação espiritual superior à conquista do necessário. O homem é uma criação do desejo e não da necessidade”. Eu sempre me tomei desse intento ao observar que a poesia – e por que não dizer as artes em geral –, não se assenta sobre as bases do imediatismo, do momentâneo, daquilo que conforta, mas também não conduz à plenitude.

(109)

R E S I S T Ê N C I A

quando a natureza aparece morta a vida comprova a sua magnitude resistir não é vitória,

é virtude

A leitura de Poemas de: chamados, esperas e (a)fins nos conduz, também, aos recônditos da natureza, aos espaços instigantes do homem e à sua geografia territorial. Ali onde os passos do poeta fazem morada, onde toca a sede na língua, onde o olhar se depara com a vastidão do céu.

R E B E N T O

as mãos estão cerradas

os olhos percorrem único horizonte a boca é sede, é fome

(110)

110

Para concluir este ensaio mínimo, recorro ao pensamento crítico do poeta T. S. Elliot (1972, p. 35) sobre a condição funda-mental da criação poética: o dever direto do poeta “é para com sua língua, que lhe cabe em primeiro lugar preservar, e em segundo ampliar e melhorar. Ao expressar o que os outros sentem, ele está também modificando o sentimento, tornando-o mais consciente: está fazendo com que as pessoas percebam melhor o que sentem, ensinando-lhes, portanto, algo a respeito de si mesmas”.

A N I L

se me tiras a voz, a mão e a escrita que me versam?! a minha face é anil... se dissolve azul nas águas.

É exatamente sobre a pedagogia múltipla da palavra, do enlace dialético do verso com a linguagem (como naquele enigma da Hidra de Lerna: decifra-me ou te devoro) que se assenta a poética de Hercília Fernandes.

(111)

Referências

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Abril Cultural, 1978 (Os Pensadores).

BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

ELLIOT, T. A essência da poesia. Trad. Luiza Nogueira. Rio de Janeiro: Artenova, 1972.

FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. Trad. Marisa Curioni. São Paulo: Duas Cidades, 1978.

PAZ, Octavio. O arco e a lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

(112)
(113)

O Poeta deve ter olho de ver. Hercília Fernandes tem olho de ver, e não é de hoje – de Nós Em Miúdos (2013), seu livro anterior (que dialoga com este Poemas de: chamados, esperas e (a)fins), destaco:

De Quando Em Quando Se te pareço paradoxal é porque já não percebo sentido algum entremeio há que se pular muros de quando em quando

(114)

114

A poesia está em toda parte, mas só o poeta é capaz de captá-la. Só o poeta é capaz de vê-la num carreiro de formigas, por exemplo.

E por falar em formigas... (“Estranheza”) E tem este “Arranhões” – meu preferido: quando menina adorava bicicleta

levava bons tombos – eram certos! – mas insistia em dominar a máquina... soltava as mãos do guidon: irra! pedalava estrada infinita!...

até que um dia caminhão me retirou da trilha arranhando-me pernas, joelhos, pés...

sonhos

deixou-me arisca: cicatriz no ombro, ferida na alma

A “costura” entre os dois volumes mostra a preocupação da autora com a obra. Preocupação em permanecer, edificar, deixar.

Hercília Fernandes nos apresenta em Poemas de: chamados,

esperas e (a)fins uma série de instantâneos do cotidiano –

(115)

Chamamentos a alma reclama se não há sol, chama cê não viu? lua piscou pro rio

A estranheza, novamente, em “Bilíngue” – um poema em prosa. E por falar em formigas... O que posso dizer se tuas palavras não ditas vestiram-me bilíngue, rosa partida entrelaçada em flor de sisal? Se há na tua língua um tropel de formigas onde levantei broquel suicida capaz de fundir manancial? O que posso dizer se todas as

(116)

116

Teria, ainda, muito a dizer sobre a Poética de Hercília Fernandes – e tudo seria pouco diante do imensurável. Sirva-se, caro leitor, deste Poemas de: chamados, esperas e (a)fins para melhor perceber o mundo. Boa leitura. E procure também Nós em miúdos (caso, até o momento, não o tenha lido): valerá – e muito.

Cláudio B. Carlos poeta

(117)

Nasci em Caicó, Rio Grande do Norte, em 25 de abril de 1971. Nas janelas dos casarões e árvores centenárias, comecei a construir castelos de sonhos, mergu-lhada às paisagens interiores do ser_tão. Filha de agricultores, vivi a infância entre o campo e a cidade. E, dessa relação, resultou o apreço à natureza, às letras e às artes – em especial à poesia.

A minha trajetória literária inclui a publi-cação do livro “Nós Em Miúdos” (2013); a organização da obra coletiva “Maria Clara: uniVersos femininos” (2010); dois livros em verso e prosa publicados com apoio cultural do SESC-RN: “Retrato de Helena” (2005) e “Agá-Efe: entre ruínas & quimeras” (2006); publicações em revistas e antologias poéticas, e escritas de prefácios e posfácios em livros de poemas.

Sou graduada em Pedagogia, Pós-graduada em Educação Infantil, Mestra e Doutora em Educação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora da Universidade Federal de Campina Grande, leciono

Contatos E-mail:

fernandeshercilia@yahoo.com.br

Blog “HF diante do espelho”:

(118)

Referências

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