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A atuação do enfermeiro na prevenção do alcoolismo no ambiente de trabalho

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Academic year: 2021

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A atuação do enfermeiro na prevenção do alcoolismo no

ambiente de trabalho

The role of nurses in the prevention of alcoholism in the workplace

El papel del enfermero en la prevención del alcoholismo en el lugar de trabajo

Resumo: O presente artigo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica realizada a partir de periódicos científicos e livros que versam sobre a relação alcoolismo e trabalho. A pesquisa qualitativa tem como objetivo fazer uma reflexão quanto à atuação do enfermeiro do trabalho no processo saúde-doença do funcionário e sua relevância dentro das organizações no que trata da relação do álcool e o trabalho, bem como os fatores que favorecem o uso e abuso desta droga. Foi dado um enfoque através da sistematização escrita da saúde do trabalhador; da importância da enfermagem do trabalho enquanto ferramenta para prevenção e promoção da qualidade de vida do trabalhador; dos problemas clínicos e psiquiátricos causados pelo alcoolismo, haja vista que, no Brasil, o alcoolismo é o terceiro motivo de faltas e a causa mais frequente de acidentes no trabalho. Por se tratar de uma droga lícita e de grande divulgação e incentivo de uso pela mídia, o consumo abusivo do álcool e outras drogas tem se tornado um dos mais graves problemas de saúde púb lica em todo o mundo despertando bastante interesse e preocupação nas últimas décadas.

Descritores: Enfermagem do Trabalho, Alcoolismo, Saúde do Trabalhador.

Abstract: This article is a literature review of research from scientific journals and books tha t deal about alcoholism and work. Qualitative research aims to reflect about the role of a nurse working in the health -disease process of the employees and its relevance within organizations in dealing with the relationship of alcohol and work, as well as factors that favor the use and abuse of drug. There’s a focus through the written systematization of workers' health, the importance of nursing of the work as a tool for prevention and promotion of life quality of the worker, the medical and psychiatric problems caused by alcoholism, considering that in Brazil, alcoholism is the third reason on absenteeism and the most frequent cause of accidents at work. By virtue of being a legal drug that is accepted by society and is widely known and encouraging use by the media, the abusive consumption of alcohol and other drugs have become one of the most serious public health problems worldwide arousing great interest and concern in recent decades.

Descriptors: Nursing Work, Alcoholism, Worker Health.

Resumen: Este artículo trata es una revisión de la literatura de la investigación llevada a cabo a partir de revistas científicas y libros que tratan sobre la relación del alcoholismo y el trabajo. La investigación cualitativa tiene como objetivo reflexionar sobre la labor del trabajo de enfermería en el proceso salud-enfermedad del empleado y su relevancia dentro de las organizaciones en el trato con el alcohol y la relación de trabajo, así como los factores que favorecen el uso y abuso esta droga. Se le dio un enfoque a través de la escritura sistematización de salud en el trabajo; la importancia del trabajo de enfermería como herramienta para la prevención y promoción de la calidad de vida de los trabajadores; problemas clínicos y psiquiátricos causados por el alcoholi smo, ya que en Brasil, el alcoholismo es la tercera causa de fallos y la causa más frecuente de accidentes de trabajo. Porque es una droga legal y ampliamente publicitado por los medios de comunicación y el uso de incentivos, el abuso de alcohol y otras drogas se ha convertido en uno de los más graves problemas de salud pública en todo el mundo están despertando gran interés y preocupación en las últimas décadas.

Descriptores: Trabajo de Enfermería, Alcoholismo, Salud de los Trabajadores.

Erika Gomes Seixas

Enfermeira. E-mail: seixaserika@hotmail.com

Claudiney André Leite Pereira

Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação Visconde Cairu. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano. E-mail: eu-ney@hotmail.com

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Introdução

O mundo assiste a um ócio crescente de uso e abuso de substâncias. O álcool e as drogas estão em toda parte e instituem uma das discussões infindáveis que desperta interesse e preocupação nas últimas décadas, e que o mundo democrático terá que subjugar no futuro cada vez mais próximo.

Proibição ou liberação são duas vertentes diante do consumo de drogas. A primeira caracteriza atitude conservadora bloqueando liberdades individuais, forçando a agir conforme manda (em tese) os costumes da sociedade. Em contrapartida, a segunda parte da premissa de que liberdades individuais em sociedades democráticas são inalienáveis, principalmente o direito ao consumo e à autodeterminação, salvo quando é apresentado quadro de insanidade mental que o torne irresponsável por seus atos ou que venha a constranger direitos de terceiros. É o caso do uso e abuso do álcool.

Estamos certos de que o alcoolismo não se restringe a uma etnia específica, estado civil, profissão etc., não havendo, contudo, um estereótipo do alcoolista ou alcoólatra. Diversos autores versam que o consumo excessivo do álcool tem ocasionado problemas no âmbito profissional, familiar e social, visto que, considerada substância lícita e aceita pela sociedade possui o agravante de que, além de seu uso ser estimulado em demasia por propagandas na mídia em geral, há a falta de fiscalização e inobservância das restrições legais para sua venda.

É do conhecimento de todos que impactos negativos provenientes do abuso de substâncias recaem sobre as empresas, os trabalhadores e suas famílias. Enquanto nas empresas o consumo por parte dos funcionários está associado a acidentes, absenteísmo e perda de produtividade, na vida do trabalhador esse uso abusivo de substâncias reflete diretamente na sua saúde, nas suas relações pessoais, perda de emprego, problemas familiares e financeiros entre outros. Entretanto, estes mesmos estudos concluíram que pessoas com dependência, mais facilmente abandonam amigos e até familiares do que o seu emprego, o qual lhes garante subsídio para pagar o consumo do álcool e/ou outras

Acreditando na importância e seriedade do tema, e tendo como problema de estudo a atuação do enfermeiro do trabalho, pergunta-se: Como o enfermeiro vem se inserindo na atenção ao usuário de álcool no âmbito do trabalho?

Daí surgiu o interesse em aprofundar esta questão, acerca do objetivo geral em estudar como se dá a atuação do enfermeiro na atenção ao usuário de álcool no âmbito do trabalho, tendo como diretrizes os seguintes objetivos específicos: compreender como se dá a relação alcoolismo e trabalho; analisar as ações de saúde desenvolvidas pelo enfermeiro junto a usuários de álcool; identificar os fatores de risco que envolve o uso e abuso de álcool no trabalho, estabelecendo uma ponte entre conceitos sobre o álcool/alcoolismo e enfermagem do trabalho proferido por variados autores.

Diante do exposto, este artigo se justifica face à importância de realização de pesquisas neste campo bem como a necessidade de relacionar as condições de trabalho no intuito de contribuir para melhores ações de capacitação, prevenção, tratamento e reinserção social do alcoolista e seus familiares no âmbito do trabalho.

Assim, o presente trabalho enfatiza os aspectos sociais, especificamente profissionais, que estão ligados ao alcoolismo.

Material e Método

À medida que a vida cultural se transforma, tornando-se mais fragmentada e diversa, também tornando-se transformam os métodos de pesquisá-la. No entanto, esta é uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa e não experimental1.

A pesquisa descritiva objetiva conhecer e interpretar a realidade sem nela interferir para modificá-la2. Através da descrição do fenômeno, podem-se delinear acontecimentos, situações e citações que favorecem a interpretação e análise das informações3. Quanto à abordagem qualitativa, proporciona melhor visão e compreensão do contexto do problema4. Este tipo de pesquisa contribui para manutenção ou mudança do comportamento do consumidor.

A pesquisa qualitativa proporciona a compreensão fundamental da linguagem, das percepções e dos valores

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nos capacita a decidir quanto às informações que devemos ter para resolver o problema de pesquisa e saber interpretar adequadamente a informação4.

O método utilizado para a pesquisa foi o dedutivo, através da técnica de pesquisas bibliográficas que compreende leitura de livros, artigos e afins que versam sobre o tema, com o objetivo de sintetizar o conhecimento obtido de forma ordenada e organizada. As referências literárias estudadas também foram pesquisadas em sites científicos da SciELO, BIREME, LILACS e Domínio Público. Estes objetos de análise serviram para dar suporte aos meus argumentos possibilitando que os objetivos propostos para o tema em questão fossem atingidos.

Desta forma, o trabalho visa mostrar uma reflexão teórica da atuação do enfermeiro do trabalho no processo saúde-doença do trabalhador; a relevância deste profissional dentro das organizações; a relação do álcool e trabalho, bem como os fatores que favorecem o uso e abuso da droga.

Como base norteadora, foi feito um roteiro para levantamento do material bibliográfico necessário à consecução do presente estudo para, em seguida, fazer fichamentos do material consultado, tendo como suporte básico os seguintes tipos de leitura: a) exploratória; b) informativa; c) crítica e d) interpretativa. De posse do material fichado foi ordenada as informações, selecionado apenas o material que de fato interessava à pesquisa e realizado a construção do trabalho cientifico.

Resultados e Discussão

Alcoolismo e a Relação no Âmbito Profissional: Condições que Favorecem o Consumo do Álcool no Ambiente de Trabalho e suas Consequências.

O álcool é uma substância psicoativa legal e de grande aceitação social e até mesmo religiosa, o que facilita o acesso e a sua dependência, de modo que não é considerada droga pela sociedade. Sendo reconhecida como doença há décadas pela Organização Mundial de Saúde - OMS, o alcoolismo é um conjunto de problemas pertinente ao consumo exagerado e prolongado do álcool5.

Buscando no dicionário facilmente encontra-se tal termo como sendo o estado patológico originado pelo abuso do álcool, nos levando a reafirmar o conceito dado pela OMS, assim como entender que só se considera alcoolismo ou um alcoólatra, aquele que faz ingestão de bebidas alcoólicas de forma excessiva e regular5.

Um homem em cada cinco - o que significa mais de um bilhão de pessoas no planeta - procura na droga algo diferente daquilo a que está acostumado a ver e pensar6, porém, o uso constante e abusivo desta droga, provoca alterações psicoativas e desloca as relações que este homem tem, denegrindo e depauperando a sua qualidade de vida em todas as dimensões: orgânica, familiar e social7.

O alcoolismo pode ser denominado também como “Síndrome da Dependência do Álcool”, caracterizada pela compulsão, perda de controle, dependência física e a tolerância. Esta última refere-se justamente à necessidade de aumentar a quantidade de álcool ingerida para obter o mesmo efeito8.

Seguindo esta linha de pensamento, é válido reafirmar tais conceitos reforçando a frase proferida por Benjamin Rush, psiquiatra americano, que recebeu destaque no século XVIII quando surgiu o conceito do alcoolismo: “beber inicia um ato de liberdade, caminha para o hábito e, finalmente, afunda na necessidade”. Essa frase, dentre tantos conceitos formais e tantas abordagens sobre a temática, com certeza pode ser considerada a mais concisa e veementemente completa. É a descrição simples e clara de que a permissividade ao uso do álcool pode dar início à dependência da droga9.

O desenvolvimento e a introdução de novos processos ou produtos nos locais de trabalho têm exercido influência na relação entre risco e desenvolvimento de saúde ou doença. Além disso, esta relação executada sob determinadas condições, tem levado ao aumento da exposição ocupacional, resultando em acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais9.

Embora o consumo de álcool e drogas entre os trabalhadores possa ter muitas origens diferentes, existem condições de trabalho que podem promover ou aumentar o consumo de álcool e substâncias10. Existem diversas razões de ordem psíquica, social, emocional, ambiental, genética dentre tantas outras possíveis.

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“Você começa na base da farra, tomando porres em festinhas. Nem nota quando começa a perder o controle. No trabalho, lido com processos delicados. Aos poucos, percebi que estava perdendo a capacidade de concentração e de discernimento. Os colegas sempre me estenderam a mão. Agora resolvi me tratar antes que eu perca tudo o que consegui na vida. Quero reconstruir minha família, minha carreira. Bebida é um inferno. Estou lutando para escapar da submissão ao vício. Sofro de diabetes, estou ainda muito magro, mas já ganhei alguns quilos. Algo me diz que vou sair dessa.” (Jorge, 41 anos, funcionário público)11.

Todavia, no âmbito do trabalho, essas razões tem se convertido para uma lista de fatores. São eles: riscos extremos de segurança, trabalho por turno ou noturnos, trabalhos em locais remotos, deslocações para longe de casa, alterações nas tarefas ou velocidade de manuseamento dos equipamentos, conflitos de papéis, cargas de trabalho (quer excessivas, quer demasiado reduzidas), desigualdade nas remunerações e demais benefícios, tensão psicológica (stress) relacionada com o emprego, monotonia e ausência de criatividade, comunicações não satisfatórias, insegurança no emprego e indefinição de papéis10.

Sobretudo, o fácil acesso à substância seguido da falta de conscientização do perigo em se trabalhar alcoolizado. Levando em consideração, inclusive, que alguns destes fatores são mais propícios em alguns setores do que em outros. O hábito de se embriagar é uma doença da mente12.

Ciente dos males e interferências que o consumo excessivo do álcool pode acarretar à vida social e profissional do trabalhador, e, consequente à sua produção, algumas organizações tem se mostrado interessadas em desenvolver estratégias, bem como implementar programas preventivos ao uso indevido do álcool e outras drogas. Os efeitos do álcool são dos mais variados e vão de sensação de moleza, cansaço e dificuldade para se concentrar a mudança de comportamento, passando por fortes dores de cabeça, enjoos, entre outros13.

Tais efeitos incluem sonolência, tempos de reação mais lentos, deterioração da capacidade motora e de

coordenação, perda de concentração e memória, e redução do rendimento intelectual10.

Diante disso, é certo de que essa conjuntura propicia acidente de trabalho além de prejudicar o desempenho profissional, levando o trabalhador a freqüentes atrasos, baixa produtividade, descuido e negligência no exercício das suas atividades que podem ser observados e diagnosticados como consequências do alcoolismo no comportamento do trabalhador14:

- Absenteísmo: falta não autorizadas, licenças por doença, frequente nas segundas, sextas, ou antes e depois de feriados, etc.

- Ausências no período da jornada de trabalho: atraso excessivo após almoço ou intervalo, saída antecipada, idas frequentes a banheiro, bebedouro, sala de descanso, etc. - Queda na produtividade e qualidade do trabalho: necessidade de um tempo maior para realizar menos, desperdício de materiais, perda ou estrago de equipamentos, desculpas inconsistentes, dificuldades com instruções e procedimentos, alternância de períodos de alta e baixa produtividade, dificuldade com tarefas complexas.

- Mudanças nos hábitos pessoais: trabalho em condições anormais (bêbado, com discurso vago ou confuso), comportamento diferente depois do almoço, menos atenção à higiene e à aparência pessoal.

- Relacionamento ruim com os colegas: reação exagerada às críticas reais ou não, ressentimentos irreais (como a paranoia, ideias de perseguição, etc), [...] estados emocionais muito variados, endividamento, pedido de empréstimo, irritabilidade em discussões, explosões de ira, choro ou riso.

Embora o alcoolismo implique sérias e reais consequências, em contrapartida às organizações e empresas que buscam soluções para o problema dos seus funcionários, existem organizações (privadas e públicas) que renegam esta problemática, deixando clara a falta de consciência e de uma obstinação em focalizar o problema.

Partindo do pressuposto de que se trata de uma doença e que o indivíduo alcoólatra não se aceita na condição de doente, é preciso cautela por parte da empresa quando identificar e procurar solucionar o caso. Os programas de prevenção abordam o abuso de substâncias recorrendo a métodos que não precisam ser dispendiosos e que tendem

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Especialistas indicam que a melhor maneira de abordar o assunto dentro das empresas é através de palestras periódicas ministradas por profissionais qualificados, utilizando de uma linguagem simples e, sobretudo, sem humilhações e com muito respeito ao funcionário, minimizando assim o risco de constrangimento e/ou não aceitação dos ensinamentos por parte dos colaboradores/funcionários.

Para melhor entendimento sobre os efeitos do álcool no organismo, é importante detalhar minuciosamente o quão é perigoso o início dessa relação indivíduo e álcool.

Efeitos do Álcool no Organismo

Cientificamente falando, o álcool contido nas bebidas é conhecido por nome etanol, sendo produzido através de fermentação ou destilação de vegetais como cana de açúcar, frutas e grãos.

Quando ingerimos o etanol, ele é rapidamente absorvido no trato gastrointestinal, sendo uma quantidade substancial já absorvida ao nível do estômago. Atinge concentração sanguínea máxima em 1 hora e depois é oxidado no fígado por enzimas chamadas desidrogenases alcoólicas, transformando-se em aldeído acético. Ao atingir o sangue, circula até o sistema nervoso que inclui o cérebro, medula espinhal e nervos periféricos15.

Entretanto, a concentração do álcool que chega ao sangue depende muito da quantidade consumida em certo tempo, massa corporal e metabolismo de quem bebe, bem como a quantidade de comida no estômago. Quando ingerido em pequenas quantidades, provoca desinibição do comportamento, diminuição de crítica, hilaridade e labilidade afetiva, com prejuízo desde o início da coordenação motora e das funções sensoriais. Produz agitação e comportamento agressivo, se ingerido em doses crescentes, e age como depressor e sedativo quando ingerido em grande quantidade, apesar desta quantidade variar muito entre os indivíduos12.

O álcool compromete vários órgãos e funções do organismo, dependendo da intensidade do consumo e da suscetibilidade individual, podendo causar alterações gastrintestinais, cardiovasculares, neurológicas, sanguíneas, entre outras. As

manifestações clínicas estão relacionadas às ações farmacológicas do álcool. Outros fatores de risco associados são idade, sexo, raça, predisposição genética, estado nutricional, características imunológicas, condição clínica prévia12.

É possível classificar os bebedores por doses consumidas, considera-se um bebedor discreto ou comumente conhecido como “bebedor social” aquele que ingere menos de 212 gramas de álcool por mês. O bebedor moderado chega a ingerir de 212 a 540 gramas/mês, enquanto que o bebedor excessivo ultrapassa essas marcas por mês. A esse tipo de bebedor deve-se dispensar um pouco mais de atenção, haja vista que pesquisas informam doses específicas que justificam as mais variadas reações.

O consumo excessivo do álcool pode causar muitas alterações do comportamento e manifestações de quadros psiquiátricos como a intoxicação alcoólica, alucinose alcoólica, síndrome de abstinência alcoólica, delirium tremens, transtorno de sono e suicídio12.

Após a ingestão de grande quantidade de álcool, geralmente em um curto período de 8 a 12 horas é normal que ocorra a “ressaca”, que nada mais é do que a desidratação do corpo, caracterizada por dor de cabeça, náusea, tremores e vômitos. Nada obstante, aos efeitos do uso prolongado do álcool podem-se destacar doenças de fígado, coração e do sistema digestivo. Ao uso crônico abusivo, observa-se perda de apetite, deficiências vitamínicas, impotência sexual ou irregularidades do ciclo menstrual.

Intervenções do Enfermeiro do Trabalho: Ações de Prevenção e Promoção da Qualidade de Vida no Ambiente de Trabalho

Atos, ações e desempenho é o preceito que se baseia este trabalho. O serviço não se estoca, se presta. O serviço não se toca, se nota. O serviço é uma ação, necessária à satisfação. O cuidado terapêutico é uma ação que se desenvolve e termina na e com a pessoa, carregado de valor (ético e estético), sendo um bem necessário às pessoas. Nada obstante, a formação acadêmica do enfermeiro voltada para assistência aos pacientes usuários de álcool e outras drogas tem deixado a desejar. Haja vista a falta de preparo do profissional em lidar com essa clientela, sobretudo o conhecimento insuficiente recebido

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durante a graduação em relação a essa problemática que requer assistência diferenciada16.

É preciso que a formação acadêmica do enfermeiro contemple os conteúdos mais abrangentes sobre a temática nos currículos, criando grupos de discussão, pesquisa, para conduzir os alunos a pensarem criticamente e a desenvolverem formas de assistir essas pessoas, de maneira criativa17.

Em virtude do crescente índice de acidente de trabalho, após surgir as primeiras leis de acidente de trabalho na Alemanha e, estendendo-se por toda Europa, chegou ao Brasil em 1919 através do decreto legislativo nº 3.724. Antes formado apenas por médico do trabalho, engenheiro de segurança, técnico em segurança do trabalho e auxiliar de enfermagem do trabalho, somente foi inserido o enfermeiro do trabalho na equipe de saúde ocupacional em 1975, por meio da portaria nº 3.460 que o habilita a atuar em empresas com foco na promoção da qualidade de vida e prevenção à saúde do trabalhador.

Os enfermeiros são os que mantêm contato maior com os usuários dos serviços de saúde e têm grande potencial para reconhecer os problemas relacionados ao uso de drogas e desenvolver ações assistenciais17. Logo, percebe-se que a especialidade do enfermeiro, seja na área assistencial ou no serviço de saúde do trabalhador, está voltada a prestar uma assistência adequada ao usuário de droga, necessitando, contudo, de conhecimentos específicos e um investimento no autoconhecimento.

Saúde do trabalhador é um conjunto de atividades que se destinam através de ações de vigilância epidemiológica e sanitária à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e à reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação18.

Sob esta ótica, especialmente o enfermeiro do trabalho é o profissional que, devido à formação

laboral, diante dos transtornos maléficos na vida do trabalhador em consequência do uso abusivo do álcool e/ou outras drogas, devendo, portanto, assisti-lo com mais presteza e eficácia.

Contudo, nesta área, o profissional encontra um vasto campo para desempenhar suas funções. Pode atuar na prestação de assistência de enfermagem aos trabalhadores da empresa e aos seus dependentes, visando à promoção da saúde do trabalhador; proteção contra os riscos decorrentes de suas atividades laborais; proteção contra agentes químicos, físicos e biológicos e psicossociais; manutenção de sua saúde no mais alto grau de bem-estar físico e mental e recuperação de lesões, doenças ocupacionais e não ocupacionais e sua reabilitação para o trabalho; ou então assumindo funções administrativas, educativas, de integração e de pesquisa.

Há pelo menos duas boas explicações para essa ofensiva contra as drogas [...]. Os empresários descobriram que cada dólar investido na empresa em programas de reabilitação provoca o retorno de 7 dólares sob forma de aumento da produtividade, redução do absenteísmo, queda na procura pelo departamento médico e o incomensurável benefício de preservação da imagem da companhia. As indústrias deixaram de ver o alcoolismo e a dependência às drogas sob o prisma da legislação do trabalho, para encará-los como doenças sociais11.

Certo de que é peculiar dos enfermeiros a capacidade de planejamento de cuidados, realização de atividades de prevenção de doenças e promoção à saúde dos indivíduos, especificamente no trato com dependentes do álcool, o poder de observação deste profissional lhe permite identificar as possíveis causas do problema, assegurando intervenções tais como educação, aconselhamento e atendimento individualizado, sobretudo personalizado.

A área de saúde do trabalhador busca a preservação, manutenção, promoção e recuperação dos trabalhadores nos mais diversos espaços laborais, de alcance coletivo, implicando na forma de ações multidisciplinares e interdisciplinares19.

Os programas de prevenção devem: focar as diferentes maneiras potenciais de alterar a organização do trabalho, para diminuir o estresse e aumentar o suporte interpessoal, visto que as características sociais do ambiente de trabalho, assim como os fatores psicossociais

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Com vistas a estas considerações, o fato é que o álcool - assim como outras drogas - está assumindo uma posição na sociedade antes ocupada por outros hábitos. As pessoas têm consumido tais substâncias com o intuito de obter sensações prazerosas, relaxantes ou anestesiantes, de modo que pode-se citar os profissionais que atuam em ambientes estressantes e trabalhos noturnos como os mais propícios ao consumo de drogas.

"Comecei a beber aos 18 anos. Aos poucos, o álcool foi se tornando uma coisa indispensável na minha vida. Logo ao despertar, costumava tomar uma dose alentada de rabo-de-galo, uma mistura de cachaça com vermute. Certa vez fui trabalhar cheirando a bebida. Meu supervisor notou o problema e me encaminhou à assistente social da empresa. Acabei numa clínica de recuperação. Todos os meus colegas de trabalho estão me apoiando para que eu consiga me livrar do vício." (Vagner, 37 anos, metalúrgico)11.

Partindo do princípio de que hoje, o trabalho tem um papel fundamental na vida dos indivíduos, especialmente por contribuir para a formação de sua identidade e permitir que os mesmos participem da vida social como elemento essencial para a saúde, faz-se extremamente necessário conhecer não só como o uso da droga afeta na qualidade de vida do indivíduo - e trabalho, mas também quais intervenções podem ser utilizadas, por meio de um profissional de saúde ocupacional, habilitado e qualificado a tratar desta clientela, no intuito de minimizar e extinguir essa problemática dentro - e fora - das organizações.

Programas de prevenção à saúde do trabalhador e reabilitação são desenvolvidos não apenas com o funcionário dependente da droga, mas também junto aos seus familiares e colegas de trabalho visando à conscientização quanto ao problema. Esses programas tem se tornado os radares da sociedade.

"As empresas apostam na recuperação porque é mais barato reabilitar do que formar um executivo. Sou um caso de recaída. As drogas acabaram com minha carreira profissional. Luto até hoje para me livrar da dependência de álcool, ácido, haxixe e maconha. Estou num momento de profunda reflexão. E, nele, me descubro vivendo um paradoxo. Se sou como sou, um apaixonado pela liberdade, não posso permanecer

escravo de nenhuma substância. Desta vez, estou saindo do fundo do poço. Para valer." (Ricardo, 49 anos, Economista)11.

Seja numa grande ou pequena empresa, nos escritórios ou linhas de produção e montagem, o alcoolismo existe e, infelizmente, tem sido percebido de forma lenta entre seus colegas e dirigentes. Doutorado em universidade estrangeira, fluência em vários idiomas, capacidade de liderança. Todos esses predicativos podem cair por terra com o resultado de um rotineiro exame de urina. É o teste que vem sendo aplicado por mais de 400 empresas brasileira para descobrir se funcionários e candidatos a um emprego - do presidente ao porteiro - consomem drogas, especialmente cocaína, maconha, anfetaminas e álcool. Certo de que o consumo dessas drogas tem aumentado consideravelmente, a procura das empresas por esse tipo de exame cresce numa escala impressionante11.

“Sou alcoólatra, filho de pais também alcoólatras. Por isso, comecei a beber já na infância. Aos 16 anos, ingressei numa estatal paulista, onde estou até hoje. Já tive uma internação, patrocinada pela empresa. Mas acabei voltando à bebida. Cheguei a um estado tão lamentável que meus amigos me aconselharam a buscar ajuda, antes que algo de pior acontecesse. Graças a Deus a empresa me apoiou mais uma vez. Agora, com o auxílio de minha mulher, estou fazendo um tratamento sério. Ela vem me visitar na clínica todos os sábados.” (Agnaldo, 29 anos, funcionário público)11.

De posse dessas informações, é correto afirmar que a luta contra o uso de substâncias psicoativas tem sido intensa e constante fora e dentro das organizações, tornando cada vez mais imprescindível a inserção de um profissional de saúde ocupacional ou mesmo o enfermeiro do trabalho completando o quadro de funcionários nas empresas e não apenas, nem somente, em hospitais.

“Estou limpo há nove anos e quatro meses. Vitória conseguida dia a dia. No auge da minha fase negra, surtei duas vezes. Acreditava ser Jesus Cristo II. Fui a padre, candomblé, macumba e psicanalista. Tinha vontade de morrer. Empreguei-me na American Express. Faltava, achei que seria demitido. Meu chefe me ofereceu tratamento. Fiquei 58 dias na clínica de recuperação. Hoje sou o principal executivo de uma empresa de alta tecnologia e ajudo os outros que passam pelo mesmo

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problema, dando palestras de reabilitação. Drogas? Nunca mais.” (Paulo, 53 anos, executivo)11.

Diante do exposto, observa-se que programas de reabilitação realmente funcionam desde que o funcionário se permita e esteja disposto aos sacrifícios que esses programas os impõem. É ainda importante que o enfermeiro do trabalho atue como fiscalizador das ações de enfermagem implementadas, uma vez que é o único profissional repleto de conhecimentos específicos relevantes à coordenação integrada das atividades, visando atingir o êxito almejado no sucesso do programa de saúde implantado na empresa.

Conclusão

Abordar questões relacionadas ao alcoolismo tem sido uma tarefa árdua, por se tratar de um assunto altamente complexo e apresentado sob variados prismas, ensejando reações adversas contraditórias das pessoas direta ou indiretamente afetadas pelo problema do beber abusivo.

Operar em um mercado em que as ações durante o atendimento são decisivas, demanda uma visão adequada do serviço prestado. Portanto, o objetivo geral deste estudo foi o de ampliar a compreensão sobre a atuação do enfermeiro do trabalho dentro das organizações. Em paralelo, serviram como questões norteadoras compreender como se dá a relação alcoolismo e trabalho; analisar as ações de saúde desenvolvidas pelo enfermeiro do trabalho junto aos usuários de álcool; identificar os fatores de risco que envolve o uso e abuso de álcool no trabalho, sobretudo a intensa relação de sofrimento que permeia diariamente o trabalhador que faz uso abusivo do álcool e/ou outras drogas.

Embora empresas estejam inserindo o enfermeiro do trabalho em seu quadro funcional, é lamentável a forma como alguns colegas insistem em tratar os trabalhadores dependentes do álcool, fazendo-se entender o alcoolismo não como um vício, e sim como uma doença passível de tratamento. Não dispensando, portanto, a devida assistência a este funcionário.

Percebe-se então, a necessidade (contínua) destes profissionais em buscarem novos saberes acerca da

relação ao uso abusivo do álcool, permitindo-lhe prestar assistência mais eficiente e eficaz a esta clientela específica.

Muito ainda precisa ser feito para que se possa atingir excelência em assistência de enfermagem para os usuários de álcool e outras drogas. Espera-se, por conseguinte, que haja implantação e/ou implementação de políticas públicas bem como elaboração de campanhas educativas permanentes com foco na população geral. Quanto aos enfermeiros, que estes possam despir-se de crendices e atitudes preconceituosas para com o público dependente.

É sabido que o enfermeiro do trabalho está habilitado a elaborar e executar planos e programas de proteção à saúde dos empregados. Assim sendo, atuar nas organizações focando a educação em saúde como medida preventiva para o alcoolismo e orientando, através de consultas de enfermagem, incitará o trabalhador a entender e buscar conhecimento continuado sobre o assunto.

É relevante salientar que uma vez identificado o problema, a intervenção do enfermeiro do trabalho é de suma importância para a aceitação do tratamento. A internação para desintoxicação e abstinência forçada de nada adiantará se não seguido de verdadeiro apoio moral que conduza o alcoólatra a decidir não beber mais. Inútil serão os esforços de familiares, amigos e empresa se o dependente não buscar e aceitar o tratamento para a cura como meio de reinserção à vida social, familiar e profissional.

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Referências

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