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Análise pericial em cartões de crédito referencial teórico

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

JAN MAGNO BOCK

ANÁLISE PERICIAL EM CARTÕES DE CRÉDITO

REFERENCIAL TEÓRICO

Ijuí 2010

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JAN MAGNO BOCK

ANÁLISE PERICIAL EM CARTÕES DE CRÉDITO - UM

REFERENCIAL TEÓRICO

Monografia apresentada ao curso de Graduação de Economia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Economia.

Orientadora: Marlene K. Dal Ri

Ijuí 2010

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A Banca Examinadora abaixo-assinada aprova a Monografia:

ANÁLISE PERICIAL EM CARTÕES DE CRÉDITO

elaborada por

JAN MAGNO BOCK

como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Economia.

Ijuí (RS), 09 de junho de 2010

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ MSc. Marlene Köhler Dal Ri

Orientadora

_________________________________________ Prof.

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AGRADECIMENTOS

À orientadora professora Marlene K. Dal Ri, pelo incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização desta monografia de conclusão de curso.

A todos os professores, pela dedicação e entusiasmo demonstrados ao longo do curso.

À família, pela paciência em tolerar a ausência, pelo apoio, carinho e amor proporcionados ao longo dessa etapa e, acima de tudo, por terem acredito em minha capacidade de enfrentar desafios e superar adversidades.

E, finalmente, a Deus, pela oportunidade e pelo privilégio que me foi dado em compartilhar esta experiência, fruto dos ensinamentos obtidos ao longo do curso e que me permitiram atentar para temas, cuja relevância é inquestionável.

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RESUMO

O estudo em questão trata do aspecto jurídico do cartão de crédito emitido pelas instituições financeiras no Brasil e os juros bancários praticados. A abordagem da questão inicia-se com uma breve retrospectiva histórica, na qual se discorre sobre a origem e a criação do cartão de crédito, análise da natureza jurídica dos juros bancários, bem como das teorias que tratam dos efeitos do tema central dentro do quadro político-econômico atual. Trata ainda dos princípios reguladores dos contratos sob a influência do ambiente político predominante. Os novos institutos de controle de constitucionalidade trazidos a partir da promulgação da atual Constituição são observados sob a ótica finalística, pretendendo solução de questão controversa. Finalmente, apresenta desenvolvimento conclusivo sobre a questão-tema principal, sintetizando as conclusões parciais formuladas durante o desenrolar dos estudos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 8

1. REFERENCIAL TEÓRICO ... 11

1.1 Cartão de crédito ... 11

1.2 Perícia Econômica Financeira ... 13

1.3 Sociedade de consumo ... 14

1.4 Produto Interno Bruto... 16

1.5 O Conceito e a Natureza dos Juros ... 18

1.6 Regras contratuais do negócio ... 20

1.7 Sistema Financeiro ... 22

1.8 Funcionamento do cartão de crédito ... 24

1.9 Encargos, multas e juros... 28

2. METODOLOGIA DA PESQUISA ... 32

2.1 Apresentação da Pesquisa... 32

2.2 Instrumentos de Coleta de Dados ... 33

2.3 Caracterização da Região da Pesquisa de Campo... 34

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 35

3.1 Ação Revisional ... 36

3.2 Práticas Abusivas ... 37

3.3 A Ilegalidade da Cobrança ... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 42

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LISTA DOS GRÁFICOS

GRÁFICO 1: EVOLUÇÃO DE CARTÕES E FATURAMENTO INDICADORES

ANUAIS 2000 A 2010 12

GRÁFICO 2: EVOLUÇÃO DE TRANSAÇÕES COM CARTÕES INDICADORES

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LISTA DAS TABELAS

TABELA 1: HISTÓRICO DO CARTÃO DE CRÉDITO NA SUA ORIGEM 35

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INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea tem como principal característica a cultura de consumo, a partir da qual as pessoas associam felicidade e status com o ato de adquirir bens ou serviços. O que possibilita o consumo de bens é o acesso ao crédito, disseminado no Brasil, nos últimos anos, entre a população de baixa renda.

Se por um lado o acesso ao crédito viabiliza o consumo, por outro compromete a renda de quem o toma, podendo conduzi-lo a uma situação de endividamento. O endividamento é um reflexo da sociedade de consumo e caracteriza-se como um problema de ordem social e não individual, que afeta consumidores e fornecedores em prol de um pequeno grupo de fornecedores de crédito. No Brasil, esse fenômeno não tem, ainda, tratamento jurídico específico.

O posicionamento da doutrina e dos Tribunais de Justiça, de alçada e do Superior Tribunal de Justiça, quanto às controvérsias suscitadas sobre as cláusulas que geram excessiva onerosidade, propiciou às pessoas físicas e jurídicas a possibilidade de ingressarem em juízo, objetivando a revisão dos contratos em curso, bem como reaverem através da ação de repetição de indébito o que pagaram indevidamente as instituições financeiras; na mesma esteira, podem ser discutidas as questões que já se encontram na esfera judicial, mesmo na posição de devedor. Cumpre ressaltar que a possibilidade do ajuizamento de ações, que objetivam a readequação dos contratos, encontra guarida em vários diplomas legais.

Assim, o regime de capitalização mensal de juros abusivos é proibido, mesmo que no âmago do contrato tenha sido acordado. A capitalização pode aparecer maquiada sob diversas formas, sendo as mais usadas: o fator exponencial; a “Tabela Price”; o fator/coeficiente nos contratos de leasing; o sistema SAC; os juros mensais em contas devedoras; as operações de financiamento encadeadas e os indexadores unilaterais.

Infere-se, portanto, que as instituições financeiras ao formalizarem os diversos contratos, cometeram lesão na “base contratual”, posto que não se possa auferir lucro com

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vantagem manifestamente desproporcional, se comparada com a prestação oposta, ou exageradamente exorbitante, sob pena de caracterizar a lesão e desproporção quanto às prestações envolvidas.

No caso dos cartões de crédito, nenhuma dúvida resta em ter a administradora legitimidade em repassar aos seus titulares os juros incidentes sobre os financiamentos dos saldos devedores. A questão que se coloca é o poder outorgado pelo usuário à administradora para cobrar juros que os próprios bancos fixam de forma unilateral e abusiva para os cartões de crédito.

A justificativa alegada pelas instituições financeiras para estabelecer a taxa de juros em patamares que muitas vezes atingem o triplo da aplicada aos empréstimos pessoais é a do risco diferenciado entre os contratos. Sucede que estamos lidando com relação de consumo, em que o risco de empreendimento é inerente à atividade do fornecedor do serviço e não pode ser transferido para o consumidor.

Ora, as instituições financeiras atuam no mercado financeiro, captando recursos dos seus clientes e os emprestando aos consumidores dos seus serviços, visando aos lucros decorrentes do spread resultante. Esses lucros, evidentemente, não podem ser exacerbados à custa do consumidor, mediante o pagamento de taxa abusiva de juros, mas devem decorrer da amplitude da rede que cada banco possui no mercado e da quantidade dos empréstimos que faz.

À luz dessas considerações, nada explica ou justifica que a mesma mercadoria, objeto dos serviços bancários, possa ter taxas de remuneração tão absurdamente diferenciadas em relação ao universo indeterminado da clientela. Os que defendem a aplicação unilateral e sem limite das taxas de juros para os empréstimos bancários tentam justificar que o mutuário contrata livremente com os bancos, de forma que já sabe de sua onerosidade e, por isso, não pode alegar sua abusividade.

Mais uma vez a questão comporta a invocação da natureza consumerista da relação e os princípios da boa-fé objetiva. É indiscutível que os bancos são os que estabelecem as taxas de juros dos cartões de crédito, e se o fazem em patamares tão elevados, sob o pretexto de comportar tal modalidade de empréstimos um excessivo número de inadimplência, evidentemente, está transferindo o risco do empreendimento para o mutuário.

O presente estudo justifica-se por ter como objetivo demonstrar, através do relato do endividamento de pessoas físicas e/ou jurídicas com o cartão de crédito, cujas as dívidas contraídas são motivadas principalmente pelo desemprego.

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A situação de endividamento é passível de reversão e até mesmo de proteção para que isso não ocorra. O endividamento, principalmente com o cartão de crédito, vem preocupando o país, pois o aumento constante das dívidas é surpreendente. Um dos motivadores desse impacto na sociedade são as agressivas propagandas e o trabalho de marketing que as facilitadoras de crédito vêm fazendo. Dentro do endividamento encadeado pelas pessoas físicas, estas têm o Código de Defesa do Consumidor que dá plena base, assegurando o direito dos consumidores na regulamentação da oferta e em favor do consumo e do direito de arrependimento ou prazo de reflexão.

Não se pode duvidar de que os bancos, ao cadastrar seus clientes, têm pleno conhecimento da capacidade financeira de cada um deles, das fontes de seus rendimentos e da sua idoneidade nas relações comerciais e de consumo. Portanto, quando concedem empréstimos, cheque especial ou aprovam emissão de cartões de crédito, as instituições financeiras assumem o risco pela inadimplência e eventual falta de garantia do retorno do investimento, inerente à sua atividade.

O que não podem e nem é lícito fazer é transferir esse risco para o universo dos mutuários com a fixação de taxa de juros que ultrapassa os limites mínimos da razoabilidade. Nesse aspecto, há de se ter como abusivos os juros praticados, cabendo realizar perícia, de forma a impedir essa prática.

Em face da situação a cima descrita, formulou-se o seguinte problema para o estudo: ao realizar uma revisão contratual de cartão de crédito, contestando a prática abusiva de juros, cabe realizar perícia?

Partindo dessas premissas, a abordagem da questão inicia-se com uma breve retrospectiva histórica, na qual discorre sobre a origem e a criação dos juros, análise de sua natureza jurídica, bem como das teorias que tratam dos efeitos do tema central dentro do quadro político-econômico atual. Os juros bancários são examinados em seus fatores constitutivos, com também são abordados os princípios reguladores dos contratos sob a influência do ambiente político predominante. No que tange à aplicação da norma constitucional limitadora, apresenta e analisa os argumentos prós e contras apresentados na doutrina.

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1. - REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 - CARTÃO DE CRÉDITO

O cartão de crédito é uma criação relativamente recente, tendo surgido no início do século XX. A primeira idéia a se assemelhar com os atuais cartões de crédito foram os “cartões de credenciamento” emitidos por alguns hotéis europeus, a partir de 1914, para identificar seus bons clientes. Os fregueses habituais recebiam um cartão, que serviria como sua identificação nas futuras hospedagens, e que garantiria vantagens como deixar débitos pendentes para pagamento na próxima estada no hotel.

A partir de 1920, redes de postos de gasolina nos Estados Unidos, como a Texaco e a Exxon, passaram a emitir cartões semelhantes. Mas só depois da II Guerra Mundial surgiram os primeiros cartões de crédito propriamente ditos, tais como os que conhecemos hoje, emitidos por uma empresa especialmente criada para este fim. Os bens não são adquiridos junto à empresa emissora do cartão, mas em uma rede de empresas afiliadas a ela. A emissora do cartão é mera intermediária, financiando as vendas feitas junto às afiliadas.

O primeiro cartão de crédito desse tipo foi o Diners Club, surgido em 1949. Inicialmente restrito a uma rede de hotéis e restaurantes afiliados, o leque de opções logo se estendeu a diversos tipos de empresas.

Em 1958, a American Express, originalmente uma agência de viagens, também criou um cartão semelhante. A partir daí, começaram a surgir várias outras empresas com a mesma finalidade. Em geral, a empresa emissora do cartão se associa a um banco ou outra instituição financeira, responsável pelo financiamento do crédito aberto para os titulares dos cartões.

Hoje, a grande maioria dos cartões é emitida por empresas associadas a bancos, ou pelos próprios bancos, que criaram empresas próprias de cartões de crédito. Existem ainda os cartões emitidos por um banco ou por um grupo de bancos para uso do crédito bancário do cliente, que não se enquadram no conceito estrito de cartão de crédito. Esse tipo de cartão se utiliza do saldo em conta do corrente do cliente, e pode estar ou não vinculado ao uso do “cheque especial”. O pioneiro nessa modalidade foi o Franklin Bank, dos Estados Unidos, em 1951.

O cartão de crédito adquiriu grande relevância no panorama jurídico-econômico, pelas intrincadas relações jurídicas a que pode dar margem e pela sua grande frequencia de utilização, o que demonstra a necessidade de seu estudo e regulamentação.

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O cartão de crédito representa uma verdadeira revolução no comércio, pela enorme expansão do crédito que possibilita. Além disso, incentiva a circulação da moeda e impulsiona o comércio e o desenvolvimento econômico.

Diferentemente do cheque, o cartão não exige provisão de fundos. O financiamento é facilitado e dispensa a necessidade de prévia habilitação do cliente perante uma instituição financeira antes de cada compra.

Além das vantagens já citadas no gerenciamento de despesas e no parcelamento de compras, possibilita saques de emergência e tem ampla aceitação no comércio, facilitando inclusive compras no exterior.

O mercado de cartões e meios de pagamento começou 2010 dando sinais de que este será um ano movimentado, com uma nova dinâmica competitiva. Empresas anunciaram parcerias para iniciar na atividade de credenciamento e bancos devem investir em novos produtos e serviços, entre outras perspectivas.

Os números já refletem as tendências deste novo cenário: o faturamento total do setor aumentou em 22%, no comparativo entre janeiro de 2009 e o mesmo mês de 2010. Os cartões de rede e loja tiveram o melhor desempenho, com aumento de 14%, ou 24 mil plásticos. Já os cartões de débito tiveram variação de 7% (15,8 mil), e os de crédito registraram aumento de 9% (12 mil).

Dados da Abecs mostram que, em janeiro de 2010, os cartões de redes e lojas foram os mais emitidos, com um aumento de 15% no faturamento na comparação com janeiro de 2009. Essa é uma tendência que deve se consolidar cada vez mais. Hoje, há instrumentos mais

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eficazes de análise de crédito, melhores serviços, bem como uma gestão do relacionamento com o cliente, de produtos e de fidelização específicas, que impulsionam o setor.

O cartão tornou-se uma ferramenta importante para o varejista, como instrumento de relacionamento e de fidelização. Trata-se de uma plataforma de crédito, também por meio de compras a prazo, crédito rotativo e outros serviços financeiros.

1.2 - PERÍCIA ECONÔMICA FINANCEIRA

A expressão Perícia advém do Latim: Peritia, que em seu sentido próprio significa conhecimento, experiência. Fonseca, citando Alberto revela: “A partir do século XVII, criou-se definitivamente a figura do perito como auxiliar da justiça, e ao perito extrajudicial, permitindo assim a especialidade do trabalho judicial”.

O perito utiliza-se de técnicas, conhecimentos de ciências, da metodologia e práticas profissionais para prestar serviços de qualidade. Para obter a qualidade, o economista deve estar sempre se especializando, pois a conquista de serviços depende tanto do custo quanto da qualidade dos serviços que são oferecidos. A qualidade dos serviços pode ser entendida não só pela boa técnica, deve-se considerar, também, a necessidade e a satisfação do cliente, pois a mesma vem quando o cliente perceber que o resultado do seu pedido ficou de acordo com o esperado.

Em cenários de instabilidade econômica e de políticas macroeconômicas que resultam em descontrole da taxa de inflação e juros, as empresas, assim como as pessoas, cada vez mais percebem o real valor do dinheiro nas diversas transações realizadas nos diferentes tipos de mercado do dinheiro. Ainda que as transações necessitem de contratos entre as partes para

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configurar a negociação, o perito econômico-financeiro exerce um papel de extrema relevância e que tem, dentre vários objetivos, encontrar subsídios para responder aos órgãos competentes se as negociações estão de acordo com os objetivos e desejos das partes.

A função do perito econômico-financeiro é atuar de maneira imparcial e elaborar seus laudos de forma a facilitar a interpretação, o entendimento do conteúdo e com demonstrações alusivas a todos os critérios e valores apresentados em seus trabalhos, atuando na esfera judicial e extra-judicial, sempre considerando seu compromisso maior, que é o esclarecimento da verdade.

1.3 - SOCIEDADE DE CONSUMO

O consumo tornou-se um ato natural e corrente na vida de todas as pessoas. Os produtos necessários para a sobrevivência humana, que antes eram artesanais, agrícolas, manufaturados ou obtidos pelo escambo, hoje são produzidos em série, aos milhares, nas fábricas com baixo custo e alto preço final.

Em uma economia globalizada, o acesso irrestrito a todo tipo de produto fabricado com alta tecnologia modifica a vida em sociedade e faz com que surjam novas necessidades para os consumidores.

Para entender o endividamento, é preciso compreender a cultura de consumo da contemporânea sociedade de consumo. Há diversos estudos doutrinários que tentam definir o fenômeno denominado consumo, contudo, não há um consenso nem uma teoria conclusiva a respeito.

A sociedade de consumo é, antes de tudo, uma realidade coletiva, em que os indivíduos (fornecedores e consumidores) e os bens (produtos e serviços) são engolidos pela massificação das relações econômicas: produção em massa, comercialização em massa. Nessa relação massificada, os agentes não mais se conhecem como outrora, na sociedade pessoal, pré-industrial. A sociedade de consumo do século XXI tem o “traço do anonimato”. Essa sociedade também se caracteriza, segundo Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, “pela complexidade e variabilidade de seus bens, pelo papel essencial do marketing e do crédito e pela velocidade de suas transações”.

Nas palavras do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sálvio de Figueiredo Teixeira:

[...] se a economia globalizada não mais tem fronteiras rígidas e estimula e favorece a livre concorrência, imprescindível que as leis de proteção ao consumidor ganhem maior expressão em sua exegese, na busca do equilíbrio que deve reger as relações

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jurídicas, dimensionando-se, inclusive, o fator risco, inerente à competitividade do comércio e dos negócios mercantis, sobretudo quando em escala internacional, em que? presentes empresas poderosas, multinacionais, com filiais em vários países, sem falar nas vendas hoje efetuadas pelo processo tecnológico da informática e no forte mercado consumidor que representa o nosso País. O mercado consumidor, não há como negar, vê-se hoje “bombardeado” diuturnamente por intensa e hábil propaganda, a induzir a aquisição de produtos, notadamente os sofisticados de procedência estrangeira, levando em linha de conta diversos fatores, dentre os quais, e com relevo, a respeitabilidade da marca. (2000, p.296)

Nesse contexto, encontram-se os consumidores, anônimos, desprovidos de informações, pressionados pela urgência vinculada às promoções e “bombardeados” pela propaganda, que acabam lançando mão de crédito fácil, para se apropriar de bens que trazem consigo os “prazeres emocionais” e o status social.

Sujeitos às duras regras de mercado, os consumidores se tornam indefesos diante de um sistema complexo que os envolve na hora de adquirir produtos e serviços. O endividamento pode ser uma consequencia do consumo de bens e serviços tornando-se crônico quando compromete a renda do devedor como até superá-la a ponto de este já não ter mais condições de quitar o débito.

As estratégias de marketing, conhecendo e estudando os desejos dos consumidores e a situação econômica, investem no “poder de sedução”, que, no processo de eleição e seleção efetuada pelos consumidores, tem o maior peso. Alguns autores chegam a afirmar que a sedução, na pós-modernidade, é uma nova forma de exercício de poder, pois para tudo já é necessário contar com a aquiescência e o consentimento do cidadão – cliente – consumidor, cujo voto econômico ou monetário se solicita.

A publicidade, sem fronteiras, utiliza todos os meios para convencer os consumidores a adquirirem determinado produto, trabalhando de forma exaustiva as ofertas, sempre vendendo mais que um produto, mas subliminarmente, uma idéia, uma filosofia, um ideal ou um status. Uma pessoa, ao comprar um produto ou contratar um serviço, normalmente, desconhece a complexidade do ato que está praticando. A decisão pelo consumo passou por diversos processos individuais e sociais que conduziram a esse desfecho. O consumidor também ignora a natureza contratual, ainda que não-escrita, do ato praticado, suas causas, consequencias e, especialmente, o reflexo social de sua escolha.

Nessa sociedade de consumo, até mesmo os serviços essenciais – antes patrocinados pelo Poder Público – hoje estão nas mãos da iniciativa privada, prestados sob altas tarifas e sem opções “populares” no que tange ao preço praticado.

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Como dito, o ato de adquirir produtos ou serviços é um fenômeno complexo, repleto de nuanças jurídicas e significados políticos, sociais e culturais. Sendo assim, consumir não se trata mais de um ato de liberdade, mas de uma adesão a contratos, condições, taxas e encargos, cujo consumidor não tem escolha e, para viver dignamente, considerando o mínimo para isso (água, luz, alimentação, vestuário e transporte), precisa lançar mão de crédito, acabando por se endividar.

O endividamento, portanto, é uma “doença de consumo” que tem como causa o complexo sistema mercadológico das atuais sociedades de consumo. E o remédio, por se tratar de uma “doença social”, deve ser concedido pelo Estado, por meio de sua intervenção, com o intuito de equilibrar as relações de consumo com base nos princípios constitucionais e consumeristas.

1.4 - PRODUTO INTERNO BRUTO

O Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma de todos os valores e serviços finais produzidos numa determinada região, cidades, estado ou país, durante um determinado período. Na macroeconomia, o PIB é um dos indicadores utilizados para calcular a atividade econômica de uma região.

O PIB é uma medida de fluxo de produção por um determinado tempo, por isso, ele não considera estoques de capital (economia), que em última instância são importantes componentes determinantes dos fluxos de produção como, por exemplo, capital social, capital humano, capital natural, etc.

O Produto Interno Bruto, segundo Froven, 1999, p.28, avaliado a preço de mercado: [...] é determinado em um período de tempo calculado através da média de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional. O período de tempo inclui somente a produção corrente de um ano, por exemplo, incluindo somente bens e serviços produzidos nesse período. São considerados bens e serviços finais somente aqueles produzidos na formação de outros bens. Como esses bens são vendidos a preço de mercado, eles variam de preço. Se a população começasse há trabalhar mais horas por dia, ganharia mais e o PIB aumentaria, e as pessoas estariam melhores porque estariam ganhando mais.

Portanto, o PIB exclui as transações intermediárias, é medido a preço de mercado e pode ser calculado sob três aspectos:

Na ótica da produção, o PIB corresponde à soma dos valores agregados líquidos dos setores primários secundário e terciário da economia, mais os impostos indiretos, mais a depreciação do capital, menos os subsídios governamentais.

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Na ótica da renda, é calculado a partir das remunerações pagas dentro do território econômico de um país, sob a forma de salários, juros, aluguéis, lucros e royalties distribuídos; somam-se a isso os lucros não distribuídos, os impostos indiretos e a depreciação do capital e, finalmente, a subtração dos subsídios.

Na ótica do dispêndio, resulta da soma dos dispêndios em consumo das unidades familiares e do governo, mais as variações de estoque, menos as importações de mercadorias e serviços e mais as exportações. Sob essa ótica, o PIB é denominado Despesa Interna Bruta.

Através do PIB pode-se determinar o PIB per capita, o qual é obtido dividindo-se o valor do PIB pela população. O PIB per capita não é uma medida de renda pessoal, porque no PIB não é considerado o nível de desigualdade de renda de uma sociedade.

O PIB, embora seja um indicador linear, pode demonstrar o quanto cada indíviduo receberia se a produção interna bruta fosse distribuída igualmente entre seus habitantes.

Com isso, a renda, que é a soma dos rendimentos pagos aos fatores de produção para obter o produto num determinado período, está composto em aluguéis, lucros, salários, juros e royalties. A Renda Nacional é a soma de todas as rendas recebidas pelos proprietários dos fatores de produção utilizados no ano, ou seja, o custo de fatores, salários e ordenados, juros, aluguéis, lucros e royalties, mais as transferências do Governo para o setor privado.

A riqueza de um país não está caracterizada pela quantidade de recursos minerais existentes em seu subsolo, mas sim, pela capacidade que o país tem de gerar, continuamente, um volume de produção crescente por pessoa, ou seja, per capita. Não há como gerar um volume de produção sem uma correspondente geração de renda. À medida em que se aumenta um nível de produção através de novos investimentos, aumenta-se também o nível de renda na economia.

Na economia, ao se gerar um volume de produção, gera-se, em consequencia, uma renda correspondente, que por sua vez transforma-se em capacidade de compra das pessoas. Para aumentarmos a capacidade de compra da economia ou a demanda agregada, a economia terá que, necessariamente, aumentar a produção para que haja um aumento da renda, portanto, aumentando a demanda.

A melhoria da qualidade de vida das pessoas obtém-se através de um crescimento contínuo da renda numa taxa maior de crescimento da população, ou seja, através da renda per capita.

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1.5 - O CONCEITO E A NATUREZA DOS JUROS

O instituto dos juros, em tempo de globalização, deve ser analisado sob prismas econômicos, políticos e jurídicos. Essas três áreas interagidas deveriam trazer a paz e a justiça almejadas, evitando-se as infindáveis discussões.

A taxa de juros praticada em um país age como regulador do crescimento econômico, da estabilidade ou da instabilidade desse crescimento, da inflação e das causas de desemprego.

Uma vez que os economistas divergem sobre o grau de importância da taxa de juros sobre as questões acima expostas, veremos os pontos mais importantes de duas visões econômicas: neoclássica e keynesiana.

Na visão dos economistas neoclássicos, se o mercado de fundos de empréstimos for deixado livre, a instabilidade é passageira. A oscilação das taxas de juros incentiva ora a poupança, ora o investimento. O desemprego é voluntário, dependendo unicamente daqueles que desistem de trabalhar porque o salário não cobre a desutilidade do trabalho ou o ócio perdido.

A teoria geral de Keynes conferiu completude ao conceito econômico de juro, apresentando-o como instrumento de políticas de desenvolvimento econômico com manipulação da oferta monetária disponível.

A teoria keynesiana diz que não haverá igualdade entre poupança e investimento se o mercado atuar livremente, devendo o Governo intervir para evitar que a instabilidade se transforme em crise. Isso porque o poupador renuncia à liquidez não só pela rentabilidade oferecida, mas devido à incerteza do retorno de seu investimento no mercado. Havendo mais gente poupando que consumindo ou investindo na economia, haverá excesso de mercadoria, que provocará suspensão ou redução na produção e, consequentemente, o desemprego. Na hipótese oposta, isto é, quando há excesso de procura, ocorre a inflação, ou seja, aumento de custos.

Na teoria keynesiana, a moeda e o crédito bancário são importantes para estimular a atividade econômica. O investimento depende da rentabilidade esperada que deve ser superior ao custo. Quanto menor a taxa de juros em concessão de crédito bancário, maior a possibilidade de haver interessados em investir.

A ciência jurídica define juros como frutos civis produzidos pelo uso do dinheiro. Juros constituem, pois, obrigações acessórias e decorrem de uma obrigação principal. Os elementos obrigacionais dos juros, na qualidade de acessórios e fungíveis, são acrescidos da

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remuneração pelo consumo da coisa e cobertura do risco do credor na concessão do crédito, que pode variar com maior ou menor segurança ao mutuário, conforme a situação dos negócios.

A política une as duas ciências, economia e direito, para avaliar a taxa de juros como incentivo ao capital estrangeiro, necessário a este país. Para atrair capitais e aumentar o saldo positivo de reservas, o Governo pode manter as taxas de juros do país altas em relação às taxas de juros do exterior.

Considerando que o investidor estrangeiro só optará em aplicar seu capital em um país que tem uma dívida externa de curto prazo muito elevada, se estimulado por uma alta taxa de juros, as atuais taxas de juros praticadas no Brasil estariam justificadas. Porém, o combate a essa especulação financeira foi a razão demagógica que levou o constituinte a incluir a matéria em tela no texto constitucional.

O objetivo precípuo do banco comercial é proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários para financiar, a curto e médio prazo, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços e as pessoas físicas. Para atender o seu objetivo, o banco comercial pode: descontar títulos; realizar operações de abertura de crédito, simples ou em conta corrente; realizar operações especiais, inclusive de crédito rural, de câmbio e comércio internacional; captar depósitos à vista e a prazo fixo; obter recursos junto a instituições oficiais; obter recursos no exterior, para repasse; efetuar operações acessórias ou de prestação de serviços, inclusive mediante convênio com outras instituições. A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica de banco comercial, configurando-o como instituições financeiras monetárias.

Os bancos comerciais, ao emprestar, multiplicam a quantidade de moeda criada pelo Banco Central do Brasil (BACEN), o que impede que as taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras sejam desvencilhadas da taxa de juros que o Governo oferece aos investidores nacionais e estrangeiros. Essa taxa tem o objetivo de regular a oferta de dinheiro no país e, por conseguinte, controlar a inflação, além de tentar atrair recursos internos e externos para financiar investimentos no país e rolar a dívida do governo.

A taxa de juros praticada em um país age como regulador do crescimento econômico, da estabilidade ou da instabilidade desse crescimento, da inflação e das causas de desemprego. São os instrumentos econômicos os únicos capazes e necessários para fortalecer o mercado abalado por crises internacionais.

Quando falamos em oferta de moeda, estamos nos referindo ao volume de papel-moeda em poder do público e aos depósitos à vista nos bancos comerciais. Outrora, quando a

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moeda consistia basicamente em metais preciosos, como ouro ou prata, as pessoas que detinham essas riquezas confiavam em uma instituição e ali depositavam suas reservas por motivo de segurança em troca de um recibo de depósito. O estoque de moeda correspondia, então, ao ouro monetário que as pessoas guardavam consigo e ao que depositavam nessas instituições.

Com o passar do tempo, os recibos de depósitos passaram a circular e a serem usados para efetuar pagamentos, assumindo a função de moeda. Os guardiões, sabendo que os estoques não seriam demandados simultaneamente, passaram a emprestar partes desses depósitos a terceiros, sob a forma de juros, propiciando-lhes ganhos extras.

O processo acima descrito é semelhante ao que ocorre nas instituições financeiras hoje. O BACEN estipula um percentual sobre os valores recebidos em depósito pelos bancos comerciais que será recolhido como a reserva (compulsório), permitindo que o excedente seja emprestado, sob a forma de empréstimos bancários.

Os bancos, após o advento do Plano Real (1994) e o controle da inflação, passaram a ganhar muito menos com o floating (ganhos com a inflação) passando a obter seus lucros com o spread, que é a diferença entre as taxas pagas para capturar recursos e as cobradas nos empréstimos.

Hoje, os spreads estão em patamares bastante elevados, mesmo concebendo que os juros cobrados pelas instituições financeiras incluem, além dos juros básicos, a inadimplência, os custos administrativos e operacionais, o lucro e também os impostos (IR, IOF, etc).

Considerando que o lucro médio dos bancos é de 18% do spread, determinadas operações são mais dispendiosas, outras mais lucrativas. O custo administrativo é sempre percentualmente maior quanto menor o montante da operação. De qualquer forma, a redução dos juros ao tomador não depende de uma medida isolada.

1.6 - REGRAS CONTRATUAIS DO NEGÓCIO

O endividamento reflete, também, a falta de informação ou, ainda, de reflexão na hora da aquisição, pelo consumidor, que acaba atendendo aos apelos publicitários e firmando contratos de empréstimo, por impulso, sem observar as regras contratuais do negócio jurídico que firmou, ainda que não escrito.

Os consumidores, muitas vezes, não percebem a gravidade dos compromissos que estão assumindo. Na maioria das vezes, não lhes é oportunizada a leitura do contrato que rege o empréstimo, e os folhetos explicativos apenas enfocam as “vantagens”, omitindo os juros e

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encargos, por exemplo. Percebe-se, com isso, uma tentativa de doutrinação das pessoas ao consumo.

Em consulta realizada com acadêmicos da Unijuí, com o objetivo de conhecer melhor a dinâmica local das relações de consumo, a fim de dar início à ações comprometidas com as necessidades e especificidades dos consumidores locais. Quanto aos contratos, aproximadamente 15% dos entrevistados declararam que sempre lêem os contratos antes de assinar, no entanto, aproximadamente 85% consideraram que os contratos não são fáceis de entender.

Os contratos são importantíssimos para regular as relações de consumo, pois devem expressar os direitos e obrigações das partes (consumidor e fornecedor), porém, de nada adiantam se não forem acessíveis ao consumidor, ou seja, se não forem redigidos como determina o Código de Defesa do Consumidor, de uma forma que permita sua compreensão. Pelas declarações dos entrevistados podemos perceber que os contratos, em geral, não estão cumprindo o seu papel já que a informação não é efetivamente assimilada pelo consumidor.

A publicidade, à luz do Código de Defesa do Consumidor (CDC), pode ser entendida como toda informação difundida com o objetivo de promover a aquisição de um produto ou prestação de um serviço.

A publicidade relacionada à concessão de crédito tem maior exigência no sentido de prestar uma informação completa sobre a negociação. O contrato de crédito é uma espécie de contrato pós-moderno, denominado pela doutrina como “cativo de longa duração”:

Trata-se de uma série de novos contratos ou relações contratuais que utilizam os métodos de contratação de massa para fornecer serviços especiais no mercado, criando relações jurídicas complexas de longa duração, envolvendo uma cadeia de fornecedores organizados entre si e com uma característica determinante: a posição de “catividade” ou “dependência” dos clientes, consumidores.

O consumidor, após firmar este tipo de contrato de serviços, passa a uma posição de dependência e já não poderá desistir antes do prazo estipulado sem que sofra grave prejuízo financeiro.

Deriva do princípio consumerista da boa fé objetiva o dever de informação. Quando se trata de contratos de crédito regidos por instituições bancárias e afins, a esse dever se agrega a obrigação de aconselhar, por parte do fornecedor, o consumidor que, leigo, deposita sua confiança.

A obrigação de informar e aconselhar se baseiam na confiança necessária que o consumidor deposita no profissional que detém os conhecimentos técnicos da operação de

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crédito ofertada. Duas características marcam o correto cumprimento desses deveres anexos à boa fé: a veracidade e a lealdade.

Se pelo dever de informação os fornecedores de crédito têm obrigação de comunicar a taxa real anual dos juros, pelo dever de cooperação estão obrigados a certificar-se de que o consumidor compreendeu o complexo cálculo que resultou na formação das parcelas e se está adequado às condições financeiras do consumidor.

Descumprir esses deveres importa ferir o princípio da boa fé que norteia as relações consumeristas no Brasil e, portanto, macula essa negociação, podendo ser tida como nula caso submetida ao Poder Judiciário.

Nos contratos de crédito, por força do princípio da boa fé objetiva, através dos deveres de informação e cooperação ou conselho, os fornecedores devem avaliar a condição econômica do tomador de crédito e prescrever-lhe a melhor condição. Também devem se manter comprometidos com o curso desse contrato, obrigando-se a readaptar as condições caso for percebida alguma inadequação.

1.7 - SISTEMA FINANCEIRO

O sistema financeiro também é entendido em Keynes (Ano, p.) sob uma forma que se opõe à teoria clássica. As conclusões dos autores clássicos (como David Ricardo) culminam em um sistema entendido dentro da dinâmica dos fundos emprestáveis. O sistema financeiro aparece como mero intermediador das intenções de agentes superavitários e deficitários (níveis de poupança e investimento). Nessas condições, o nível de poupança e a taxa de juros são determinados de maneira exógena ao sistema financeiro (dependem das variáveis reais que determinam a taxa de juros). A única influência possível sobre essas variáveis estaria ligada a ineficiências do sistema, que impedissem temporariamente o equilíbrio.

Nas teorias keynesiana e pós-keynesiana, atribui-se um caráter ativo ao complexo de instituições financeiras; elas são entendidas como agentes que buscam maximizar seus lucros e que influenciam tanto a captação de recursos como a liberação e restrição de crédito. A compreensão keynesiana dos juros está integrada à concepção de sistema financeiro, como elemento de coerência do modelo. Como a diferente concepção sobre os fenômenos de poupança e investimento remove o potencial dessas variáveis para explicar a formação da taxa de juros, a preferência pela liquidez tem que ocupar o vazio teórico então criado.

Keynes aplicou a sua teoria da preferência pela liquidez ao comportamento dos bancos, e explicou o processo de decisão na composição de seus ativos. Os bancos têm à sua

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disposição opções de aplicação que variam quanto aos graus de liquidez e rentabilidade (essas duas variáveis apresentam um comportamento quase sempre inverso). O deslocamento de uma posição de maior liquidez para uma de maior rentabilidade depende das expectativas do banco sobre a evolução da economia. Em cenários otimistas, há maior busca de rentabilidade, o que favorece a concessão de crédito para empresários, com prazos mais longos; em cenários pessimistas, os bancos buscam segurança contra a incerteza, e aplicam em títulos do governo e operações de curto prazo.

Evidencia-se que a maneira pela qual os bancos estruturam seu ativo não garante à concessão de crédito a medida exata que a produção pode requerer e se rejeita a idéia de comportamento puramente passivo dos bancos.

Hyman Philip Minsky (1919-1996) contribui para a análise das estratégias dos bancos com a inclusão de uma nova decisão a ser tomada por essas instituições com a evolução do sistema financeiro: a administração do seu passivo. Os bancos, principalmente após a década de 1960, passaram a tentar influenciar o comportamento dos depositantes, para aumentar a captação de recursos de modo a atender ao máximo as oportunidades de lucro permitidas pelos ativos.

Outro aspecto a ser analisado para o entendimento das operações dos bancos é a natureza dos recursos que eles colocam à disposição dos tomadores de crédito. A concepção clássica é de que os bancos apenas tornariam disponíveis recursos captados anteriormente, por depósito de poupanças. Entretanto, os keynesianos identificam a possibilidade de os bancos promoverem depósitos apoiados apenas na criação de obrigações contra eles próprios, ou seja, “promessas de entrega de meio circulante”. A emissão dessas “promessas” estaria limitada somente à capacidade do banco de cumprir com as demandas diárias de retiradas de depósitos (que normalmente representam apenas uma fração do total de depósitos operados pelo banco). Essa última forma dá aos bancos a capacidade de criação endógena de moeda, essencial para a compreensão do circuito de financiamento característico do atual estágio da economia capitalista.

A teoria de origem keynesiana, ao identificar a criação de recursos antes da poupança, reverte a causalidade entre poupança e investimento. Este passa a depender apenas da disposição dos empresários a investir e da preferência pela liquidez do sistema bancário, pois a oferta de moeda pode ser adequada a qualquer necessidade. A poupança atua apenas para a distribuição da renda ao final do ciclo da produção.

Esse primeiro passo, para a viabilização financeira do investimento, é realizado na forma de empréstimos de curto prazo para as empresas. O desafio seguinte que os investidores

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encontram é compatibilizar a sua estrutura de endividamento com o período de maturação dos seus investimentos.

1.8 - FUNCIONAMENTO DO CARTÃO DE CRÉDITO

O funcionamento do cartão de crédito pode ser explicado por meio de uma série de contratos interligados materialmente entre si, embora formalmente separados.

A administradora emite, em favor de uma pessoa física (titular), um cartão de crédito, pessoal e intransferível, que lhe permite pagar suas contas numa rede de estabelecimentos afiliados, sendo que estes são reembolsados posteriormente pela administradora, descontada uma porcentagem de remuneração, e a administradora cobra, em relação jurídica autônoma, as dívidas ao titular, além de uma taxa anual.

A empresa administradora ocupa a posição central, como verdadeira intermediária nas relações jurídicas oriundas do cartão de crédito. Em suma, há quatro contratos: o primeiro, entre o titular do cartão e a administradora (fase 1); o segundo, entre esta e cada empresa afiliada (fase 2); o terceiro, entre a administradora e a instituição bancária (fase 3) que financia as vendas realizadas por meio do cartão; e um quarto contrato, entre o titular do cartão e cada afiliada (fase 4) em que comprar ou locar serviços.

Este último contrato tem os caracteres do de compra e venda (ou do de locação de serviços, se for o caso), porém com uma particularidade: se para a afiliada há a obrigação de entregar a coisa, para o titular não há obrigação de entregar o preço, mas tão somente de emissão de um título pro soluto contra a administradora. O titular não paga diretamente à afiliada, quem a paga é a administradora. Por isso, não há propriamente uma compra e venda a crédito a ser paga por um terceiro, mas uma promessa de fato de terceiro, pelo titular, em vista de uma contraprestação a ser paga pela afiliada.

Vemos aí uma promessa de fato de terceiro, e não uma compra e venda com seu sinalagma característico. A afiliada, normalmente, não tem qualquer ação contra o titular. O

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titular se obriga a pagar perante a administradora. Só a esta cabe cobrá-lo em caso de inadimplemento.

A administradora abre, em prol do titular do cartão, um crédito pessoal, até certo valor limite, para ser utilizado na rede afiliada durante um mês. Ao fim do mês, o titular deve saldar a parcela gasta deste crédito, e o crédito retorna ao valor limite.

Dessa forma, o pagamento efetivo pelo titular do cartão pode ser feito, dependendo do caso, até 30 dias após a compra, sem juros. O titular pode optar também pelo crédito rotativo, pagando apenas uma parcela do débito e financiando o restante com juros.

Trata-se, pois, de um característico contrato de “serviço de crédito”, tal como se refere o art. 3º, §2º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90):

[...] serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Portanto, este contrato é considerado relação de consumo, por força da lei.

É também um contrato de adesão típico, tal como descreve o Código de Defesa do Consumidor (CDC),em seu art. 54:

[...] contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo, pois as cláusulas são impostas unilateralmente pela administradora, sem que o titular possa influir substancialmente em seu conteúdo. Portanto, suas cláusulas devem ser interpretadas restringindo-se o princípio da autonomia da vontade, no sentido de reequilibrar a hipossuficiência do titular.

O contrato entre titular e administradora pode ser cancelado em várias situações, a pedido de qualquer uma das partes. O titular pode pedir o cancelamento quando lhe aprouver; a administradora, em caso de inadimplemento, ou caso seja ultrapassado o limite mensal de crédito. O cartão deve ser cancelado também em caso de extravio ou de falsificação.

Nesta relação, a administradora recebe uma porcentagem de cada fatura emitida pela afiliada, e esta lucra com o agenciamento de clientes. Muito se tem discutido na doutrina acerca da natureza jurídica deste contrato. Para uns, é promessa de fato de terceiro; para outros, estipulação em favor de terceiro. Alguns o veem como uma sub-rogação convencional, outros ainda como uma comissão mercantil.

Os que o classificam como contratos de mandato, em nome do titular, se enganam, pois a dívida paga pela administradora é própria, materialmente diferente daquela contraída pelo titular junto à administradora. Prova disso é que suas condições de pagamento e até seu valor podem ser diferentes dos originais.

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Também não se trata de contrato de abertura de crédito, como outros erroneamente dizem, mas sim, contrato entre titular e administradora e não entre esta e a afiliada. Fran Martins diz que:

“[...] se trata de uma cessão de crédito, pelo qual a afiliada (cedente) transfere o crédito à administradora (cessionário), independentemente de anuência do titular (cedido).”

Penalva Santos se opõe, apontando que:

[...] a causa do crédito da administradora é diferente do da afiliada. A causa do crédito da administradora é a abertura de crédito em favor do titular; já a do crédito da afiliada é a compra feita pelo titular cuja contraprestação é devida pela administradora. Uma evidência de que as causas são formalmente diferentes é que seus valores e forma de pagamento não são necessariamente os mesmos. (1996, p.133-40)

Em posição semelhante, outros autores dizem ser o contrato uma assunção de dívida, também chamada expromissão, em que o titular (devedor) transfere sua dívida à administradora (expromitente) independentemente da anuência da afiliada (credor).

Ora, o que faz esta teoria, em relação à anterior, é apenas inverter o ponto de vista, se acima fala de um crédito, aqui se fala de um débito. As mesmas críticas expostas acima valem também neste caso.

Na verdade, a administradora paga uma dívida própria, assumida no contrato com o titular, e não uma dívida cedida pela afiliada. A administradora não assume a posição do titular, nem da afiliada, mas se submete a um regime peculiar, em virtude dos contratos assumidos com titular e afiliadas.

A grande maioria das administradoras são empresas associadas à instituição financeira ou mesmo criadas e mantidas por ela. Por isso, esse contrato se realiza, no mais das vezes, através de meras transações internas da corporação financeira.

Há administradoras de cartões de crédito, tais como a Diners Club, que se mantêm desvinculadas de um banco só, preferindo manter-se independentes.

Podemos dizer que se trata de um contrato pelo qual a afiliada entrega um bem ao titular, que promete, em troca, adimplir suas obrigações para com a administradora, para que esta pague o preço à afiliada.

Por outro lado, se a afiliada não entrega o bem, ou este é defeituoso, o titular deve cobrar diretamente daquela. Nos contratos, costuma constar uma cláusula de irresponsabilidade da emissora pela qualidade, quantidade e preços dos bens. O documento assinado pelo titular no momento da solicitação do cartão de crédito é apenas uma minuta do contrato. O contrato completo, com todas as condições, fica registrado em um cartório de

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registro de títulos e documentos, geralmente na cidade da sede da matriz da administradora, sendo apenas referido nas últimas cláusulas do contrato de solicitação.

O art. 46 do Código de Defesa do Consumidor garante que:

“[...] os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.”

A orientação mais honesta seria que a administradora, espontaneamente, fornecesse uma cópia do contrato registrado em cartório no momento da assinatura da solicitação do cartão.

A declaração de ter recebido cópia do contrato registrado em cartório público, cujos termos o embargante aceitou e ratifica, dispensa a assinatura no contrato padrão, onde estão estabelecidas as condições de funcionamento do sistema, às quais fica sujeito o aderente. Na prática, na maioria das vezes, o titular não tem acesso ao contrato completo, e, quando o solicita, encontra severos óbices na sua obtenção.

Atualmente, as administradoras vêm cobrando juros reais nas taxas “de mercado”, de até 12% ao mês. Eis o controvertido art. 192, §3º, da Constituição de 1988:

As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar.

Esclareça-se, desde já, que “juros reais” são aqueles que representam ganho efetivo, ou seja, o que sobeja da mera correção monetária (denominação foi alterada para atualização monetária). A correção monetária foi instituída no Brasil pelo artigo 185 da Lei 6.404/76. Com as altas taxas de inflação e com a evolução das necessidades de informação, passou a apresentar distorções, tendo falhas nas demonstrações de resultado e somente no ano de 2000 a denominação correção monetária foi alterada para atualização monetária pela resolução CFC número 85/2000. A posição mais comum prega que o §3º do art. 192 da Constituição Federal não é norma auto-aplicável, por se subordinar à exigência do caput, que prevê lei complementar para reger o Sistema Financeiro Nacional. Assim se pronunciou, por maioria apertada, o Supremo Tribunal Federal em uma ação direta de inconstitucionalidade relativa a parecer normativo da Consultoria Geral da República:

Tendo a Constituição Federal, no único artigo em que trata do Sistema Financeiro Nacional estabelecido que este será regulado por lei complementar, com observância do que determinou no caput, nos seus incisos e parágrafos, não é de se admitir a eficácia imediata e isolada do disposto em seu §3º, sobre taxa de juros reais, até porque estes não foram conceituados.

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Assim, as administradoras de cartões de crédito seriam autônomas para fixar os juros que bem entendessem. Contudo, os juízes mais sintonizados com o espírito social da proteção ao hipossuficiente e da sua missão de coibir abuso do poder econômico vêm se pronunciando pela vedação da usura.

Vê-se claramente, da simples interpretação literal do citado §3º do art. 192, que o preceito aí contido não é norma de eficácia contida ou restrita. O §3º carrega determinações próprias, autônomas, não subordinadas à lei prevista no cabeço. O próprio José Afonso da Silva, o “pai” da distinção entre normas de eficácia plena e as de eficácia contida e restrita, tem se pronunciado reiteradamente pela auto-executoriedade do §3º:

Se o texto, em causa, fosse um inciso do artigo, embora com normatividade formal autônoma, ficaria na dependência do que viesse a estabelecer a lei complementar. Mas, tendo sido organizado num parágrafo, com normatividade autônoma, sem referir-se a qualquer previsão legal ulterior, detém eficácia plena e aplicabilidade imediata.

Os juros limitam-se à 12% ao ano (CF/88, art. 192, parágrafo terceiro, que tem eficácia plena e imediata), permitida a capitalização anual. A decisão se refere à vedação do anatocismo, ou seja, a capitalização dos juros. Aplica-se, na espécie, o disposto no art. 4º da velha Lei de Usura (Decreto 22626/33), ainda em vigor:

“É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.”

Crescem na doutrina as opiniões no sentido de que as administradoras de cartões de crédito não possuem natureza de instituição financeira, e, por tal motivo, não se subordinam ao mencionado art. 192 da Constituição Federal de 1988, mas sim às limitantes do Código Civil e da Lei da Usura.

Contudo, há outro aspecto a considerar. Sendo nula a cláusula de mandato concedida pelos clientes à administradora para a contratação de crédito junto às instituições financeiras, consequentemente a operação de crédito fica limitada aos juros civis, pela natureza não financeira da pessoa que necessariamente integra o polo ativo da relação.

1.9 - ENCARGOS, MULTAS E JUROS

Um dos aspectos mais polêmicos decorrentes da utilização do cartão de crédito, e com certeza o de maior relevância para o mundo jurídico, é justamente a cobrança, pelo emissor,

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de encargos, juros e multa contratual, incididos nas hipóteses de o associado não efetuar o pagamento integral da dívida ou decidir optar pelo seu parcelamento.

Excelentíssimo Juiz de Direito do Estado do Rio Grande do Sul, Sr. Pedro Luiz Pozza aduz que:

[...] no Brasil, com o advento da Lei n. º 4595/94, que dispõe em seu art. 4º, inciso IX, competir ao Conselho Monetário Nacional limitar as taxas de juros e demais encargos cobrados pelas instituições financeiras construiu-se orientação pretoriana no sentido de que estariam essas, a partir de então, fora do alcance dos tentáculos do art. 1º do Decreto n.º 22626/33 – chamada Lei de Usura – consolidando-se tal posição na Súmula n.º 596 do STF, que assim prescreve: “as disposições do Decreto n.º 22626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas que integram o sistema financeiro nacional”.

Destarte, em 06/10/88 foi aprovado o Parecer Normativo SR n.º 70, da Consultoria Geral da República na qual:

[...] ficou estabelecido o entendimento oficial da Administração Pública Federal, refletindo, em conseqüência, junto ao Banco Central do Brasil, autarquia reguladora, disciplinadora e fiscalizadora das instituições financeiras – que de imediato expediu circular no sentido de ainda vigoraram as normas anteriores à Constituição Federal de 1988 – de que a disposição constitucional, limitadora da taxa de juros por elas cobrada, não era autoaplicável, carecendo da edição de lei complementar, nos termos do art. 192, caput, do novo texto constitucional”.

Portanto, é função do próprio Banco Central do Brasil autorizar, bem como fiscalizar as instituições financeiras que emitem cartões de crédito, vez que apenas estas é que podem conceder financiamentos nos casos em que há a opção do associado em financiar o saldo devedor da fatura. Porém, esta atribuição não incide nas empresas administradoras de cartões de crédito.

Antes mesmo da decisão unânime da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça no que tange à aplicabilidade da Lei n.º 8.078 de 1990 nas operações de crédito bancário, tratarem-se de relações de consumo, já sustentava o advogado Leandro Cardoso Lages que:

[...] na maioria das vezes, o cliente não recebe uma cópia do aludido contrato, e mesmo quando lhe é apresentado, ele se encontra eivado de cláusulas em desacordo às normas estipuladas pelo Código de Defesa do Consumidor, de difícil compreensão, e que não explicitam de forma clara como os juros são aplicados, já que estes geralmente são capitalizados, caracterizando o anatocismo, isto é, a cobrança de juros sobre juros, aplicando-se o fator compensatório várias vezes sobre um único valor de forma que o montante inicial sofra uma excessiva onerosidade, prática esta vedada pela Lei de Usura em seu art. 4º: “É proibido contar juros dos juros, esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano”.

Quanto a isso, já pregava o eminente Jurista José Afonso da Silva a respeito dos juros limitados:

Está previsto no parágrafo terceiro do artigo 192 que as taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em

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todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar. Esse dispositivo causou muita celeuma e muita controvérsia quanto à sua aplicabilidade.

Todo parágrafo tecnicamente bem situado (e este não está, porque contém autonomia de artigo), liga-se ao conteúdo do artigo, mas tem autonomia normativa. Veja-se, por exemplo, o parágrafo primeiro do mesmo artigo 192. Ele disciplina o assunto que consta dos incisos I e II do artigo, mas suas determinações, por si, são autônomas, pois uma vez outorgada qualquer autorização, imediatamente ela fica sujeita às limitações impostas no citado parágrafo. Se o texto em causa fosse inciso de artigo, embora com normatividade formal autônoma, ficaria na dependência do que viesse a estabelecer a lei complementar. Mas tendo sido organizado num parágrafo, com normatividade autônoma, sem ferir a qualquer previsão legal ulterior, detém eficácia plena e aplicabilidade imediata. Juros reais os economistas e financistas sabem que são aqueles que constituem valores efetivos, e se constituem sobre toda desvalorização da moeda. Revela ganho efetivo e não simples modo de corrigir a desvalorização monetária. As cláusulas contratuais que estipularem juros superiores são nulas. A cobrança acima dos limites estabelecidos, diz o texto, será considerada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei dispuser. Neste particular, parece-nos que a velha Lei de Usura (Decreto 22.626/33) ainda está em vigor.

(Direito Constitucional Positivo, 6ª Edição, Editora LTR, 1190, p. 694-695). E muito mais grave é a situação das empresas administradoras não integrantes do sistema financeiro nacional, pois como bem explica Fran Martins:

“[...] de acordo com o que se vê das relações das partes no contrato que dá lugar à emissão de um cartão de crédito não-bancário, há uma prestação de serviços feita pelo emissor ao portador.”

(Cartões de Crédito, Natureza Jurídica, Forense, Rio, 1976, p. 87).

Logo, a relação entre a empresa administradora e o associado é de prestação de serviço, ensejando a incidência do Decreto 22.626/33, uma vez que a Lei 4.595/67 afastou a incidência de juros legais tão somente sobre as operações realizadas por instituições financeiras públicas ou privadas, o que implica dizer que não houve alterações quanto às demais pessoas jurídicas.

Malgrado o exposto, há se ressaltar o advento da Medida Provisória n.º 1.963-17, publicada em 31 de março de 2000, que derrogou, no que se refere às instituições financeiras, a norma da Lei de Usura. Por conseguinte, a incidência de juros sobre juros se revestiu de licitude com o art. 5º da referida Medida Provisória:

“Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano.”

Há se concluir, pois, que o assunto ainda é deveras controverso, e tamanha é sua complexidade que o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro entendeu serem os Juizados Especiais Cíveis incompetentes para julgar ações que versem sobre anatocismo (DOU de 16/11/99). Ainda assim, a maioria dos doutrinadores é favorável à limitação dos juros constitucionais em 12% ao ano, independentemente de se tratar de empresa

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administradora ou de instituição financeira, aplicando-se a regra também aos contratos de adesão das administradoras de cartões de crédito, principalmente no tocante ao sistema rotativo.

A edição da Emenda Constitucional n.º 40, de 29 de maio de 2003, alterou a redação do art. 192 da Constituição Federal para:

O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.

Revogando todos os incisos, será necessário aguardar a edição de lei complementar que discipline a matéria. Enquanto isso, a discussão está longe de ter fins nos nossos tribunais.

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2. - METODOLOGIA DA PESQUISA

Todo trabalho acadêmico-científico necessita de estruturas metodológicas para traçar a meta de seu autor. A metodologia é a parte que organiza os dados já coletados e planeja como adquirir novas informações. Ela auxilia na busca e na ampliação dos dados de forma organizada, sem haver perda de tempo, de recursos e de objetivos. A partir dos procedimentos metodológicos estabelecidos é que se dará a análise dos resultados da organização a serem trabalhados.

Roesch (2000, p. 118) salienta:

“Uma variedade muito rica de situações problemáticas apresenta-se nas organizações. Estas oportunidades ou problemas podem ser explorados e analisados de forma mais completa por meio do uso de métodos e técnicas.”

A investigação documental, segundo Vergara (2002):

“[...] é realizada a partir de documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas: registros, informações em disquetes, regulamentos, ofícios, ficha cadastral e outros.”

Também, segundo a autora, a pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas. Fornece instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma.

Assim, este capítulo se propõe a descrever a sistematização do trabalho e os procedimentos e técnicas utilizadas na coleta de dados, bem como a análise pericial efetuada.

2.1 - APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho trata do aspecto metodológico e teórico inerente a uma revisional pericial, que tem como objeto de seu trabalho a análise do endividamento das pessoas com a utilização do cartão de crédito, prática esta que vem gerando aumentos excessivos de dívidas. Deseja-se aqui investigar como a teoria econômica interpreta esse fenômeno e como é possível rever dívidas que supostamente possam ser indevidas. Para os fins desta pesquisa, a análise será descritiva, pois busca estudar e descrever um modelo de perícia em cartão de crédito.

Os sistemas financeiros assumem um papel de alta relevância na teoria econômica sobre o atual estágio de desenvolvimento do capitalismo. Seja como desenvolvimento natural

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do sistema capitalista (e solução temporária para a contradição da estagnação do capital) na teoria marxista, ou como elemento de flexibilização do crédito (que permite a precedência do investimento sobre a poupança) na teoria pós-keynesiana, os sistemas financeiros alteram significativamente o funcionamento da economia e as fontes de instabilidade à qual ela está sujeita. Um dos méritos de ambas as teorias é identificar a possibilidade de crises financeiras em uma economia capitalista, fato que não é explicado ou reconhecido por outras correntes.

A exposição das idéias será, portanto, organizada em quatro níveis: o conceito e teoria de juros, a sociedade de consumo, a compreensão do cartão de crédito e o modelo pericial. Com isso, será realizada uma tentativa de identificar como através do sistema financeiro, as instituições, que formalizam os diversos contratos, cometem lesão na “base contratual”, posto que não possa auferir lucro com vantagem manifestamente desproporcional, se comparada com a prestação oposta, ou exageradamente exorbitante, sob pena de caracterizar a lesão e desproporção quanto às prestações envolvidas.

A pesquisa é predominantemente bibliográfica e documental, e a forma de análise e interpretação dos dados dar-se-á por meio de referencial do Código de Defesa do Consumidor, a Constituição Federal, bem como das formas de concessão de crédito pelas instituições financeiras, e ainda através de dados coletados em órgãos reguladores do sistema. Através da pesquisa, buscou-se chegar a uma sistematização qualificada dos dados obtidos, que servirá de ferramenta e não para solução final de um problema.

2.2 - INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Os métodos de análise das informações a serem utilizadas, bem como seus respectivos instrumentos de coleta de dados, se realizaram através de pesquisas bibliográficas, um estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas. Fornece instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma.

Afinal, o que interessa de fato é verificar e apresentar um modelo de uma revisão pericial para que os profissionais desta área possam utilizar quando necessário, verificando a metodologia necessária para seus trabalhos periciais.

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