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Contar histórias, encantar e formar leitores infantis

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Academic year: 2021

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0 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL - UNIJUÍ

CRISTINE BOLZAN CONTIERE WUTZKE

CONTAR HISTÓRIAS, ENCANTAR E FORMAR LEITORES INFANTIS

Ijuí, 2019

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1 CRISTINE BOLZAN CONTIERE WUTZKE

CONTAR HISTÓRIAS, ENCANTAR E FORMAR LEITORES INFANTIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.

Orientadora: Professora Me. Lídia Inês Allebrandt

Ijuí, 2019

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3 CRISTINE BOLZAN CONTIERE WUTZKE

CONTAR HISTÓRIAS, ENCANTAR E FORMAR LEITORES INFANTIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.

Ijuí, 12 de julho de 2019.

_________________________________________ Prof. Me. Lídia Inês Allebrandt (UNIJUÍ)

_________________________________________ Prof. Dra. Marta Estela Borgmann (UNIJUÍ)

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4 Dedico este trabalho ao Deus Vivo que escreveu uma linda história

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5 AGRADECIMENTOS

Agradeço, incialmente, a Deus pelo privilégio de estudar, adentrar em uma faculdade e conseguir conclui-la.

Agradeço, de igual forma, a meu esposo Maycon Jhon Wutzke, que sempre me deu muito apoio para meu crescimento e cuidou de nossos filhos, amparou a casa, me sustentou amorosamente, financeiramente, espiritualmente e emocionalmente durante todo período que estive na faculdade.

Agradeço aos meus filhos Estevão Contiére Wutzke e Egon, Contiére Wutzke que amorosamente suportaram as minhas ausências dentro e fora de casa. Que entenderam e respeitaram meus momentos de estudo, que foram em algumas aulas comigo e abrilhantaram meus dias de desânimo dando-me sua alegria, carinho e muito amor.

Agradeço à minha mãe Lúcia Helena Bolzan Contière, que sempre me incentivou a estudar e a nunca desistir. Que suportou meus choros, acessos de raiva, vontade de desistir e muito cansaço. Agradeço porque limpou minha casa, cuidou dos meus filhos, apoiou-me, sustentou-me, me dando sempre uma palavra de ânimo, força e foco.

Agradeço ao meu pai Antônio Donizette Contiére, pelas palavras de sabedoria nos momentos de crise, que suportou as faltas de mamãe enquanto ela cuidava de mim e da vida universitária, sempre me apoiando e orando por mim.

Agradeço às colegas da faculdade que me ensinaram várias lições, apoiaram-me e auxiliando-me na caminhada universitária.

Assim como agradeço aos mestres e doutores que me auxiliaram em minha desconstrução para que uma nova construção acontecesse. Pelo compartilhamento do saber, pela geração de conhecimento e por dar-me recursos para que chegasse até aqui.

A Deus seja toda Honra e Glória porque até aqui cheguei, porque o inalcançável conquistei e até o fim cheguei.

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6 Se o mundo real está complicado, há possibilidades de visitar as Pasárgadas, de ser amigo dos reis, de ter o que nos é impossível no cotidiano medíocre e repetitivo. Quem inventa cria outros mundos possíveis de deliciosa ou perigosamente habitáveis. Quem ouve ou lê se torna parceiro do artista. É co-autor da história, tem mais facilidade em encontrar saídas para os vários desafios que a vida lhe oferece. Uma criança que tem adultos que lhe contam ou lêem histórias enriquece sua vivência, pela motivação da coisa ouvida. Vai aprendendo a ler e a criar só e silenciosamente as suas histórias. Elias José

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7 RESUMO

O presente trabalho traz a contação de história como arte de encantar e formar leitores infantis, cujo objetivo geral é o adentrar no mundo da fantasia compreendendo a prática docente na arte de contar histórias, assim como suas estratégias e mostrando as possibilidades educativas da contação de história. Em razão disso, aborda-se a literatura como papel fundamental, decisivo e intransferível na constituição da criança e na sua formação como futura leitora. A partir desse pressuposto, define-se o tema desse trabalho com a seguinte temática: Contar histórias, encantar e formas leitores infantis. Dos quais decorrem os objetivos específicos deste trabalho: refletir a analisar a importância da contação de histórias para a criança, como a contação auxilia na formação do sujeito leitor, explicitar algumas habilidades e especificidades do contador de histórias, tendo como referência para análise o relato de práticas realizadas pela pesquisadora como contadora de história. Em termos metodológicos, o trabalho tem caráter qualitativo e desenvolveu-se por meio de relato de experiência, devido ao fato de a contação de história estar ligada à formação individual da pesquisadora e pela sua atuação pedagógica de contação de história em diferentes ambientes educacionais. Após os estudos, considero que a literatura infantil é poderoso instrumento capaz de favorecer o hábito e o prazer de ouvir histórias pelo seu poder de contribuir para que a criança construa significados e encontre respostas aos seus conflitos. As histórias ajudam a criar realidades simbólicas e dão novos sentidos às existentes, pois tratam das experiências cotidianas, contribuindo potencialmente para o desenvolvimento das crianças ao constituí-las como seres culturais e participantes da sociedade em que vivem. Palavras-chave: Literatura Infantil. Formação de Leitores. Contar histórias.

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8 LISTA DE SIGLAS

DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

PROUNI – Programa Universidade para Todos

RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

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9 SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...9

2. A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO NA INFÂNCIA...11

3. O CONTADOR DE HISTÓRIAS...15

4. AS PRÁTICAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS...19

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...25

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10 1. INTRODUÇÃO

A arte de ouvir e contar histórias sempre permeou a humanidade de uma forma geral caracterizando-se pela forma oral por meio da qual eram transmitidos valores culturais, tradições, histórias e princípios sociais. Ao redor de fogueiras, embaixo de árvores, caminhando ou até mesmo sentados próximos aos seus fogões ou deitados em suas camas que muitos povos de muitas épocas foram marcados pelas contações de histórias que permeavam o mundo. Abramovich (1989) enfatiza que é ouvindo histórias que se pode vivenciar sentimentos importantes com toda amplitude, significância e verdade que cada uma das emoções faz brotar dentro de nós, pois ouvir é sentir e enxergar com os olhos do imaginário.

Por meio deste viés tão rico surgiu o interesse pelo tema. Inicialmente foi em minha vida dentro da igreja contando histórias bíblicas para crianças enquanto seus pais assistiam ao culto. Depois descobri que uma boa história lida corretamente pode prender a atenção de algumas crianças, deixá-las atentas, curiosas e despertas ao aprender. Porém, tudo isto se aflorou em sala de aula já na universidade, sob os olhares da professora Lídia Inês Allebrandt, na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura na Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na qual desenvolvi práticas que me levaram ao estudo e a reflexão do quão prazeroso era não apenas contar histórias, mas dar vida a elas através de minha interpretação oral, corporal e emocional. Dentro destas vivências pude participar do programa Roda Gigante, da Rádio da UNIJUÍ - FM, narrando histórias. Enxerguei ali um potencial a ser trabalhado e desenvolvido. Em consequência dessas experiências, percebo que o ato de contar histórias é de extrema relevância para a aprendizagem e para a possível formação do leitor infantil, por isso, tem sido enfatizado nos currículos, na medida em que se mostra importante na constituição da criança, na sua formação e desenvolvimento e na geração de conhecimento. Nesta perspectiva, o objetivo geral deste estudo é adentrar no mundo da fantasia compreendendo a prática docente na arte de contar histórias, descrevendo e relatando suas estratégias e mostrando as possibilidades educativas da contação de história. É por meio das minhas práticas que notei que as crianças se encantam e se fascinam pela leitura, mediante a qual ressignificam a história ouvida, atribuindo-lhe sentidos, despertando também a consciência leitora, descobrindo novas palavras e desenvolvendo, assim, a imaginação, a criatividade, a capacidade de discernimento e a ética. Em decorrência disso, os objetivos específicos a que me proponho são: refletir a analisar a importância da contação de histórias para a criança; refletir como a contação auxilia na formação do sujeito leitor; explicitar algumas habilidades e

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11 especificidades do contador de histórias por meio do relato de minha experiência com essa arte que a todos encanta.

No capítulo II “A Literatura Infantil e a Formação do Sujeito na Infância” faço uma breve contextualização da história da literatura no mundo colocando-a como objeto da arte, suas especificidades e características e também aponto para o olhar sob a infância e o universo infantil colocando a criança como sujeito histórico, de direitos portador de cultura e o desenvolvimento da literatura infantil para este público bem especifico.

No capítulo III “O Contador de Histórias” escrevo sobre o que é contar histórias, porque se conta, quem conta e como se conta histórias refletindo diretamente as relações e práticas cotidianas que a esta vivência constrói na sua identidade pessoal e coletiva da criança fundamentando teoricamente esta mediação entre o texto e a criança.

No capítulo IV “As práticas de Contação de Histórias” relato sobre minha a minha experiência de contação de história, sua relevância e a importância da prática na minha formação acadêmica e na carreira como docente.

Desta forma, pretendo confirmar o encantamento da contação de histórias, seu destaque na aprendizagem e na construção de conhecimento e desenvolvimento da criança assim como sua relevância na formação do futuro leitor.

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12 2. A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO NA INFÂNCIA

A literatura tem suas raízes na tradição oral por meio das lendas, dos contos folclóricos, dos mitos e das narrativas que possuem a função de perpetuar princípios e tradições, pois esta arte, além de lúdica, socializa, informa e educa. Este estudo foca no sujeito infantil como principal público da literatura infantil e mostra que na medida em que o contexto de criança e infância mudaram ao longo dos séculos, a literatura também se transformou. Com a valorização social da criança, essas narrativas passaram a ser contadas para as crianças com o intuito formativo na necessidade da transmissão de ideias e acontecimentos buscando na ficção uma maneira de transmitir a herança cultural, acumulada pela humanidade ao longo do tempo existindo, assim, um forte elo entre a oralidade e a literatura. Na contemporaneidade, a literatura passou a ocupar um lugar de destaque na formação humana, pois como obra de arte, possibilita ao leitor analisar a sociedade e a condição humana.

Allebrandt(2007) afirma que:

A literatura, enquanto objeto de arte, tem sua dimensão estética, seu trabalho específico com a palavra e as imagens e, enquanto discurso, atua na nossa formação. Esse diálogo com este artefato cultural nos constitui. Logo, quando lemos recolhemos aquilo que faz sentido para nós e nos constitui, quer no plano emocional ou cognitivo. Ler é refletir sempre.

A história da literatura está vinculada com as transformações estruturais que aconteceram na sociedade em meados do século XVII e XVIII quando foi instalado o modelo burguês de família unicelular. Becker (2001) explicita também que esta alteração na forma de visualizar a infância trouxe à tona a produção de textos dirigidos para infância e para criança sendo aliada à escola exercendo função e objetivos preconizados por esta nova sociedade que emergia.

Os textos produzidos para crianças deixavam transparecer os valores do mundo burguês, exposto de maneira idealizada, de forma que suscitassem expectativas e promovessem padrões comportamentais em seus receptores. O tipo de vínculo que reunia a ideologia e as intenções da classe burguesa com o texto dirigido ao público infantil reforçou o caráter pragmático do gênero e acabou comprometendo o seu reconhecimento como forma de expressão artística, bem como o desenvolvimento do gosto pela leitura. (Ibidem, p. 35)

A criança ainda era vista como um projeto de adulto e não como sujeito. Assim, deveria ser educada conforme os objetivos traçados pelos adultos não observando características próprias da infância. Zilberman e Magalhães (1987, p. 4) argumentam que:

[...] a conceituação da literatura infantil supõe uma consideração de ordem histórica, uma vez que não apenas o gênero tem uma origem determinável cronologicamente, como também seu aparecimento decorreu de exigências próprias de seu tempo. Outrossim, há um vínculo estreito entre seu surgimento e um processo social que marca indelevelmente a civilização europeia moderna e, por extensão, ocidental.

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13 É deste período remoto que surgem as primeiras fábulas com animais, representando virtudes e defeitos humanos. No entanto, as mudanças sociais que ocorreram ao longo da história acabaram determinando alterações também na literatura infantil já que nas sociedades primitivas as crianças eram criadas para aprender somente o que seus pais passavam para elas. Tal posicionamento didático se solidificou e muitas foram as produções que surgiram comprometidas com esse modo de encarar o texto. Entretanto, apesar da orientação didática, muitas das obras produzidas na época permaneceram por suas qualidades estéticas, merecendo destaque os contos de fadas recolhidos por Perrault. (BECKER, 2001, p. 35)

As obras do francês Charles Perrault (apud BECKER, 2001), famoso escritor francês do século XVII, conseguiram resgatar o repertório aplicando-o criticamente aos vários tipos humanos da sociedade da época, acentuando nas narrativas a forma mágica própria das crianças de encarar as situações. Tais obras como a Bela Adormecida, a Gata Borralheira, Chapeuzinho Vermelho, O Pequeno Polegar e Pele de Asno, trazem a tradição oral à tona provocando uma preferência mundial dos famosos contos de fadas sendo adotada como principal leitura infantil. O autor foi o responsável por oficializar os contos de fadas como um gênero literário, fato que lhe rendeu o título de “Pai da Literatura Infantil”.

Para Zilberman e Lajolo (1985, p. 18),

Os laços entre a literatura e a escola começam desde este ponto: a habilitação da criança para o consumo de obras impressas. Isto aciona um circuito que coloca a literatura, de um lado, como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo que se impõe aos poucos; e, de outro, como caudatária da ação da escola, a quem cabe promover e estimular como condição de viabilizar sua própria circulação.

A contadora de histórias Cléo Busatto (2013) destaca o depoimento do cacique dos índios Yanomamis (recolhido por Molaca Watoriki em Setembro de 1998 e traduzido por Bruce Albert) que defende o valor da tradição oral:

Os brancos desenham suas palavras porque seu pensamento é cheio de esquecimentos. Nós guardamos as palavras dos nossos antepassados dentro de nós há muito tempo, e continuamos passando-as para os nossos filhos... são elas que nos fazem ver e conhecer as coisas de longe, as coisas dos antigos. É o nosso estudo, o que nos ensina a sonhar. (Ibidem, p. 10-11)

Esse relato afirma que existem culturas que guardam, armazenam e passam e seus conhecimentos através da memória e da oralidade. Diante disso, podemos afirmar o quanto isso é significativo na educação entre gerações e no âmbito de uma cultura. Em nossa sociedade a cultura também é conhecida por um conjunto de histórias e brincadeiras que são da tradição oral e outros textos literários que são produzidos por autores tendo em vista os distintos contextos sociais e culturais que abrangem as várias infâncias, igualmente importantes na vida da criança.

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14 Num processo de compreensão mais abrangente, entende-se que assim como a oralidade a leitura é extremamente significante, pois desperta uma dinâmica mediante a qual os componentes sensoriais, emocionais, neurológicos, culturais, intelectuais, fisiológicos, econômicos e políticos são despertados. O processo de ler possibilita ao leitor atribuir sentidos tornando-se uma necessidade vital para o ser humano, indispensável à sua vida revelando seu próprio eu, ao mesmo tempo em que instrumentaliza para melhor conhecimento do mundo em que vive. Na ótica de Cavalcanti (2002, p. 13):

Ler sempre representou uma das ligações mais significantes do ser humano com o mundo. Lendo reflete-se e presentifica-se na história. O homem, permanente, realizou uma leitura de mundo. Em paredes de cavernas ou em aparelhos de computação, lá está ele reproduzindo seu “estar-no-mundo” e reconhecendo-se como capaz de representação. Certamente, ler é engajamento existencial. Quando dizemos ler, nos referimos a todas as formas de leitura. Lendo nos tornamos mais humanos e sensíveis. Com o passar dos anos, a criança e seu vasto universo infantil têm ganhado notoriedade com a valorização da criança como sujeito e as imensas dimensões da infância e do universo infantil. Vygotsky (2007) defende que nesse novo plano de pensamento, ação, expressão e comunicação, novos significados são elaborados, novos papéis sociais e ações sobre o mundo são desenhados, assim novas regras e relações entre os objetos e os sujeitos, e desses entre si, são instituídas.

Na perspectiva das DCNEI (BRASIL, 2010) a concepção de criança é uma noção historicamente construída e, consequentemente, vem modificando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nas sociedades e épocas, pois as crianças têm uma natureza singular que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. E com base no RCNEI (BRASIL, 1998, p. 21):

A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico faz e parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também a marca.

Como parte do universo infindo da infância e suas características tão peculiares a literatura infantil sofre transformações tendo em vista a nova concepção de criança e auxilia a consolidar essa visão moderna. Consequentemente, os autores em suas obras escrevem de modo a possibilitar a leitura crítica, lúdica e a participação criativa do leitor. Isso porque este leitor infantil possui características próprias como sujeito pensante e atuante na sociedade que vive numa infância cheia de características e peculiaridades. Um sujeito de direitos culturais e sociais.

Sendo assim, a criança, como ser histórico, capaz, interativo, portador de cultura, história, peculiaridade e características próprias, constrói sua própria história e identidade. E

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15 tendo ela acesso ao mundo da leitura, fará novas descobertas ampliando sua cosmovisão enriquecendo-se, ampliando-se, crescendo e desenvolvendo-se. Diante destas possibilidades, as histórias podem ser uma grande ferramenta nas mãos de pais, educadores e escolas, pois elas proporcionam à criança uma ludicidade que enriquece a linguagem adentrando no campo da fantasia, da imaginação e inserção no contexto social auxiliando na formação do sujeito estimulando e desenvolvendo o potencial e as habilidades da criança. Para Resende (1985, p. 52) a leitura

[...] pode ter duas funções distintas e opostas. A primeira, alienadora, quando fornece ingredientes que alimentam o mundo de aspirações ilusórias, desvinculadas de qualquer intenção questionadora. Uma segunda, reflexiva, que desperta no leitor reações face ao que a obra contém e a tudo que ela revive e evoca fora do sujeito. A partir do contato diário com a literatura a criança desenvolve capacidades diversas e complexas como: admiração, emoção, compreensão do ser humano e do mundo, bem como entendimento dos problemas próprios e alheios. Assim como também respeito pelos outros enriquecendo, principalmente, suas experiências escolares, cidadãs e pessoais. Corso e Corso (2006, p. 178) consideram que:

[...] para a infância, os contos de fadas representam uma condição que a ficção contém como um todo: a de ser uma vasta biblioteca de histórias que passam de pai para filho, garantindo um acervo comum de personagens que demonstram esperanças, fraquezas e medos, enfim, capazes de encarnar todos os sentimentos humanos imagináveis. Por meio da literatura as crianças estarão formando suas capacidades intelectuais e sociais visto que elas ainda estão num processo de formação de experiências reais. Sabe-se que a literatura nada mais é do que uma fonte saudável de alimentação à imaginação infantil assumindo também uma função crítica e social muito importante dando à criança o direito a opção e um posicionamento próprio diante da realidade desenvolvendo nela a consciência individual e social. Para Becker (2001, p. 39):

A literatura, por instituir situações que abrangem problemas humanos e por provocar a afetividade dos indivíduos, é concebida, pois, como núcleo gerador de solidariedade e como uma energia tanto liberadora das tensões quanto liberadora das constrições da vida comum e rotineira. Acrescenta-se, ainda, que, por reaproximar os homens devido a seus traços identitários e a sua herança coletiva, a literatura é um espaço de resistência contra a homogeneização cultural.

Assim como também assume o papel mais lúdico desenvolvendo a imaginação e os sentimentos de forma prazerosa e significativa enriquecendo sua percepção oportunizando às crianças a identificação de acontecimentos, reconhecendo e comparando situações, sentimentos e atitudes fazendo relação com suas vivências, proporcionando compreensão de si, do outro e do ambiente a sua volta.

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16 3. O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Contar histórias é promover e estimular a leitura, o escrever, o desenhar, o imaginar e o brincar. Ouvindo histórias a criança sente diferentes emoções como alegria, medo, tristeza, bem-estar, insegurança, aprendendo também a lidar com sentimentos. Frantz (2005) afirma que é por meio da fantasia, da imaginação, da emoção e do lúdico que a criança aprende a sua realidade, atribuindo-lhe um significado, vendo que o mundo da arte é o que mais se aproxima do universo infantil, à medida que ambos falam a mesma linguagem simbólica e criativa.

Abramovich (1989, p.16) destaca a relação entre ouvir histórias e a aprendizagem ao afirmar “[...] como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo.” Para a autora, ouvindo histórias abre-se um mundo de novas ideias e ideais, pois a criança pode visitar mundos, descobrir lugares, sorrir, gargalhar, descobrir, responder e ter respostas, se encontrar e se perder.

Desta forma, as emoções podem ser trabalhadas mediante a atividade lúdica que socializa, educa e informa, pois desenvolve a capacidade cognitiva nas estruturações mentais das crianças fornecendo elementos para a imaginação estimulando a observação e facilitando a expressão de ideias. Para Abramovich (1989), a importância de se contar histórias para crianças reside no fato de que escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, é também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar as questões.

As histórias devem ser contadas para que as crianças perguntem por quê. Elas estão sempre querendo saber o porquê das coisas, o que é uma curiosidade típica de toda criança. Muitas vezes, o adulto dá explicações racionais, pensadas e pouco imaginadas. Essas são respostas muito calibradas, muito precisas e a criança não está querendo realmente esse tipo de resposta. Uma história que é contada entra muito mais no universo da criança e dará respostas muito mais satisfatórias para ela do que uma resposta racional de um adulto. (RIZZOLI, 2005, p. 9)

As histórias despertam nas crianças, desde pequenas, gostos e valores, pois quando se conta uma história tem-se vários objetivos, dentre eles dois que merecem destaque: divertir e educar. É na infância, quando a criança está nesta fase do desenvolvimento de descobertas e aprendizagens, que necessitamos proporcionar-lhe este contato com os livros, fazendo com que perceba que através deles pode aprender a ler, escrever, a imaginar, a pensar e a descobrir o mundo. Contar histórias é um excelente começo e, segundo Jose (2007, p. 60),

[...] há muitas formas de contar histórias, todas muito importantes para o prazer de ouvir e para incentivar o prazer da leitura silenciosa. Do ouvido, surge o interesse da criança pelas histórias escritas. Surge o prazer de também criar história [...] A narração

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17 é uma arte que diverte, educa, ensina, desperta a criança para o espirito ético, para a verdadeira cidadania e sobretudo, estimula a leitura literária.

No intuito de não somente ler um texto, mas também de dar vida às palavras entra em cena o contador de histórias. Ele traz à tona sua interpretação, sua visão e entendimento da mesma. É ele quem traz vida às personagens e pinta cenários imaginários, tirando das páginas a essência da história fazendo ponte para as mais diversas imaginações do mundo lúdico infantil.

Busatto (2013, p. 32) enfatiza que “[...] a contação de histórias pede olho no olho, intimidade e cumplicidade do ouvinte; enquanto que na ação teatral, na maioria das vezes, atua-se com o conceito de distanciamento entre o ator e espectador.” A autora afirma que o contador se encontra inserido num contexto de uma cultura letrada, se apropria da escrita, da impressão e das novas tecnologias surgindo em diferentes setores da sociedade movido pelo desejo de fazer de sua voz uma marca na sua comunidade e avido por mergulhar nos segredos da narração. Carrega consigo influências do seu tempo e dos meios de comunicação que o cerca: imprensa escrita, rádio, TV, telefone, internet. Carrega para a sua narração marcas de outras artes, como teatro, a poesia, a declamação, a dança, a mímica, o canto.

O contador de histórias abre portas para a imaginação infantil levando a criança para um mundo maravilhoso e mágico, repleto de ternura carinho e suspense. Para Abramovich (1989), contar é uma arte que requer conhecimentos:

Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz. (Ibidem, p. 18).

Desta forma, estabelece uma ação de performance como uma linguagem artística multidisciplinar. Busatto (2013) afirma que esta performance envolve letra feito voz, movimento feito imagem visual, som feito paisagem sonora transformando seu corpo em cenário da ação, traz o texto impresso na pele, cria corporalmente imagem dos espaços por onde a história desliza. Criando imagens no ar materializando o verbo emprestando seu corpo e voz pelo qual o texto deixa de ser signo para ser significado.

O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo nos apresentando um outro tempo. O contador de histórias, como um mágico, faz aparecer o inexistente, e nos convence que aquilo existe. O contador de histórias atua muito próximo da essência, e essência vem a ser tudo aquilo que não se aprende, aquilo que é por si só. (BUSATTO, 2003, p. 9)

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18 José (2007) afirma que o contador de histórias, além de abrir mundos, leva a criança ao mundo do faz-de-conta desligando a criança do mundo cotidiano para lugares onde tudo é livre, belo, possível e permitido.

Contar e cantar passaram a ser formas de bem viver e reviver, de marcar o ser e estar no mundo e de deixar lembranças vivas na memória do outro. [...] Cantar e contar foram formas magicas de encantar, de conquistar, de fincar bandeiras no coração do outro, de mostrar-lhe e demonstrar-lhe amor e amizade. (Ibidem, p. 48)

O contador de histórias, de muitas e variadas formas, conta a história e todas são muito importantes para o prazer de ouvir e para incentivar o prazer da leitura. Alguns contam alto e ritmado, outros contam baixo e brando, outros mesmos encenando e cantando e outros até mesmo dando voz aos vários personagens de uma mesma história. De qualquer forma é necessário mais do que ler é necessário contar, narrar, dar vida a história e seus personagens e isto se inicia dentro do coração. Busatto (2003, p. 47) destaca que:

Se quisermos que a narrativa atinja toda a sua potencialidade devemos, sim, narrar com o coração, o que implica em estar internamente disponível para isso, doando o que temos de mais genuíno, e entregando-se a esta tarefa com prazer e boa vontade. Ao contar doamos nosso afeto, a nossa experiência de vida, abrimos o peito e compactuamos com o que o conto quer dizer. Por isso torna-se fundamental que haja uma identificação entre o narrador e o conto narrado.

Desta forma, o contador de história suscita imagens traduzindo de forma oral as vidas contidas no texto. Busatto (2003) afirma que a técnica narrativa aponta para a compreensão de três vias importantes na contação de histórias como: ritmo, intenção e imagens (verbais, sonoras e corporais), de forma que não apenas interpreta-se, mas cria-se condições para que o ouvinte crie sua própria história. Em destaque sobre as imagens, afirma que as imagens verbais são aquelas descrições oferecidas pelo texto que são explícitas e também desenhadas. Assim como imagens sonoras são as apropriações das onomatopeias que nada mais são que sons que carregam imagens. Também as imagens corporais são movimentos que surgem espontaneamente que possibilitam a produção de sentidos.

Busatto (2003) é rica em sugestões ao contador de história quando afirma que o narrador deve ter conhecimento do seu corpo e da dinâmica corporal. Para isto, é importante que se tenha um conhecimento básico da linguagem do movimento e dos seus elementos que são o espaço, força, tempo.

Busatto (2013) destaca que o contador tem em mãos vários caminhos que levam ao imaginário e este acontece por duas vias de acesso à formação da imagem que é a via da visão e da audição. A via da visão atua como construtor de imagem que faz a ponte entre o mundo de fora e o mundo de dentro. Assim como a audição que é construtora de imagens quando vemos com olhos internos construindo o imaginário. Por fim, todas as pessoas gostam de ouvir

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19 histórias, pois uma história bem contada agrada a todos sem fazer distinção de idade e “histórias existem para serem contadas, serem ouvidas e conservarem aceso o enredo da humanidade. Segundo Busatto (Ibidem, p. 17), “o contador narra para se sentir vivo.”.

Um bom contador de história é aquele que aperfeiçoa o ato de narrar, o transforma em arte, faz dela uma profissão; ou que faz da contação de histórias uma aliada na sua profissão como é o caso dos professores, já que o contador, para Busatto (Ibidem, p. 19), “é um comunicador que adquiriu o dom de narrar influenciado pelo meio que habita, transformando-se na memória coletiva da sua comunidade e transmitindo, por meio dos contos, lendas e mitos, as raízes culturais do seu povo.”

Busatto (Ibidem, p. 9) define como contador tradicional aquele sujeito-contador que se revele no seio da comunidade e contador contemporâneo para este sujeito-contador da atualidade, o qual elegeu a expressão “contador de histórias” para definir uma profissão que começa a tomar corpo. Para ela, a história não é usada somente para passar e resgatar ensinamentos de uma geração para outra. A contação de histórias vem ganhando corpo e espaço, agradando a todos pelo simples prazer de ouvir, pelo aspecto lúdico, por aguçar a curiosidade, desafiando o imaginário das pessoas. Não há um tipo específico de ouvintes, assim como não há um estereótipo de contadores, pois,

[...] eles chegam de todas as partes: Norte, Sul, Lesta, Oeste. Vêm vestidos de vermelho, azul e amarelo, fitas coloridas penduradas pelo corpo; vêm com jeito de palhaço ou de princesa; outros vestidos de si próprio. Alguns trazem consigo instrumentos sonoros, músicos, e cantores; outros são eles próprios músicos e cantores; alguns portam malas, bonecos, fantoches, mímica, humor; outros, nada trazem, apenas vão chegando, contando, deixando leituras aos seus ouvintes. (Ibidem, p. 26)

Por fim, podemos afirmar que o essencial é contar histórias, uma vez que por meio delas vamos além da realidade atingindo o inalcançável pelas mãos, pois ela é multidimensional e agrega os planos do imaginário e do real. Como muito bem destaca Busatto (2003, p. 46):

Ao contar histórias atingimos não apenas o plano prático, mas também o nível do pensamento, e, sobretudo, as dimensões do mítico-simbólico e do mistério. Assim conto histórias para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a História viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; registrar significados para nossa existência e reativar o sagrado.

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20 4. AS PRÁTICAS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Desde sempre fui ligada às artes de encenar, ler com entonação e até escrever, mas nunca pensei que isto pudesse de verdade me trazer a escrita efetiva do quanto isto é importante e relevante para mim e para os ouvintes. Conto histórias desde muito cedo, pois nasci em berço evangélico e o contato na igreja com as histórias bíblicas sempre foi intenso e iniciou muito cedo. A igreja me proporcionou o contato direto e constante com a contação de história, pois fui muito ouvinte das histórias bíblicas com seus distintos personagens muitas vezes com personagens desenhados a mão, músicas melodiosas que acompanhavam as histórias e atividades que fixavam e ajudavam a compreender quais princípios aquela história estava querendo transmitir.

Fui crescendo neste contexto quando aprendi a ler e escrever e, nesta fase, comecei a ajudar as professoras das crianças menores da Escola Bíblica Dominical a contar as historinhas para elas. Nesta época, minha mãe teve papel importante nesta relação, pois sempre me dizia: “Olha a entonação do texto! Cuide com as vírgulas e pontos finais! Leia corretamente os acentos, pontos de exclamação e interrogação!” Ela estava sempre cuidando para que minha leitura fosse boa, compreensível, correta e bem entoada, como ela mesmo dizia. Mas toda esta vivência não tinha muita relevância, pois eu achava que estas caraterísticas de uma boa leitura era apenas para que as crianças ficassem entretidas e não fizessem tanta bagunça durante a aula ministrada.

Muitos anos se passaram, concluí o Ensino Médio com 16 anos e não retornei mais aos estudos. Durante este período, muitas coisas aconteceram em minha vida. Mudei muitas vezes de estado, o que ocasionou morar em vários lugares diferentes, me casei com 20 anos, tive dois filhos, o primeiro com 26 e o segundo com 27. Em meio a isso, a contação de histórias ficou quase que desaparecida em minha vida, só não sumiu completamente porque depois do nascimento dos meus filhos percebi que ainda sabia contar histórias, porém, estava um pouco enferrujada e a vida corrida de dois bebês, quase gêmeos, me tirava toda vontade de contar histórias, mas apenas de ler como forma de entretê-los entre uma tarefa e outra para que as mesmas fossem menos árduas.

O tempo passou e meus filhos saíram da fase de bebês muito pequenos, já andavam e interagiam um pouco melhor com os livros e com a rotina tão intensa da mamãe. Foi neste período que fui desafiada a retornar meus estudos e tentar o ingresso na faculdade. Confesso que inicialmente achei uma loucura sem tamanho, pois com mais de 15 anos fora do ambiente escolar, com dois filhos pequenos, morando a quase 90 quilômetros da faculdade mais próxima,

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21 seria quase impossível desta façanha acontecer. Porém decidi me arriscar. Fiz o ENEM, me inscrevi para o programa de bolsa PROUNI e fui aprovada com sucesso com 100% de bolsa para retomar os estudos há tanto tempo esquecidos. Aqui reinicia a minha retomada com a contação de histórias.

Nas descobertas do meio acadêmico muitas são as novidades encontradas. Os desafios são enormes até que sejam vividos, resolvidos e alcançados, e foi aqui que pude perceber que a contação de histórias vai muito mais além de apenas ler corretamente ou com entonação. Ela abre portas de um universo de fantasia, diversão, descoberta inimagináveis e incontáveis. Abramovich (1989) afirma que a importância de se contar histórias para as crianças reside no fato de que escutá-las é o início de aprendizagem para ser um leitor, é também suscitar o imaginário, é ter curiosidade respondida em relação a tantas perguntas.

Contudo, foi a partir da vivência mais profunda na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura na Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental que meu interesse se aflorou de verdade e pude aperfeiçoar algo que estava adormecido dentro de mim. Nas vivências de contação de histórias proposta pela disciplina e por outras práticas e estágios em escolas, com meus filhos em casa, com as crianças na igreja pude perceber que a contação de histórias vai muito mais além. Narrei e contei muitas histórias tais como “O ovo” de Milton Célio de Oliveira Filho (2010), “Emburrado” de Celso Sisto (2005), “O Pequeno Grande livro da tristeza feliz” de Colin Thompson (2009).

Notei a atenção dedicada, o brilho nos olhos, o encantamento e algumas reações como ansiedade pelo final da história, constatei que a fantasia e a magia de uma história encantam e despertam a imaginação da criança e, com isso, criam condições favoráveis para o desenvolvimento de uma mente criativa e inventiva, por isso é possível perceber o poder que os livros exercem sobre ela. Isso ficou explícito nas vivências na qual pude contemplar um brilho diferente no olhar, seu pensamento parecia estar em outro mundo. Eram mundos criados em sua imaginação, onde elas faziam parte de uma história, onde a magia e o encantamento lhes permitia ser o que quisessem.

Isso porque contar histórias desenvolve a capacidade cognitiva nas estruturações mentais das crianças, fornecendo elementos para a imaginação, estimulando a observação e facilitando a expressão de ideias.

A ficção, infantil ou adulta, supre os indivíduos de algo que não se encontra facilmente em outros lugares: todos precisamos de fantasia, não é possível viver sem escape. Para suportar os fardos da vida comum, é preciso sonhar. Mas não devemos confundir a oferta de fantasia através da ficção, que fornece tramas capazes de alimentar devaneios e brincadeiras, com uma educação alienante, que confunde infância com

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22 puerilidade, desmerece a curiosidade das crianças e pinta o mundo em tons pastéis. (CORSO e CORSO, 2006, p. 304)

Nesta reestruturação que eu estava vivendo ressalto que nada disto seria possível sem o incentivo que recebi da professora Lídia Inês Allebrandt, pois em um momento oportuno, me convidou para contar histórias no programa Roda Gigante na Rádio UNIJUÍ - FM. Confesso que inicialmente fiquei chocada e extasiada, mas logo percebi que a contação de histórias poderia ir mais além. Foi neste momento que a contação de histórias retorna para dentro da minha casa com força, técnica e uma interação deliciosa entre eu e meus filhos. Eles mesmo selecionavam histórias na biblioteca da escola onde eles estudavam e traziam para que eu pudesse contar e gravar. Eu contava a mesma história inúmeras vezes gravando e recontando a eles quando pude perceber a relevância da contação de histórias na manifestação cotidiana do lar. Segundo Corso e Corso (2006, p.23), “[...] entre as heranças simbólicas que passam de pais para filhos, certamente, é de inestimável valor a importância dada à ficção no contexto da família. Afinal uma vida se faz de história – a que vivemos, as que contamos, e as que nos contam.”

Num crescente desenvolvimento pude analisar que o destaque não ficava apenas no âmbito familiar, mas que isto seria relevante em minha vida como docente, pois vejo que neste contexto o professor imprime em seus alunos o DNA do leitor. É no cotidiano escolar que a contação de histórias pode ser um excelente instrumento de trabalho para o professor, um novo caminho para a aprendizagem da criança e, consequentemente, para a formação de leitores infantis. Como afirma Rizzoli (2005, p. 14):

[...] a criança enriquece a história ouvida e se enriquece com todas as fantasias que a história deflagra. Isso é muito importante porque é só com o adulto, só com o relacionamento com uma outra pessoa, que ela pode desenvolver essas fantasias. A atitude do adulto é extremamente importante para que a criança possa se introduzir na história de um livro.

A contação de histórias desperta nas crianças, desde pequenas, o gosto e valores, pois quando se conta uma história tem-se vários objetivos e entre eles está o ensinar, instruir, educar e divertir, mas também está o escrever, o imaginar o pensar e o descobrir o mundo.

As histórias realmente bonitas sempre ensinam alguma coisa e nos fazem ser melhor. Também fazem crescer dentro de nós um sentido moral e nos dão um sentimento de empatia, de satisfação. Por isso, as histórias fazem surgir o alfabeto dos sentimentos, o alfabeto das emoções que nós vamos reconstruir, aceitar e adotar como comportamento consciente. (RIZZOLI, 2005, p. 9)

Pude também perceber em minhas vivências que o professor nada mais é que o facilitador e deve ser o incentivador do hábito e do prazer da leitura, pois além de contribuir para o seu desenvolvimento e aprendizagem, desenvolve a formação do leitor. Ele conta

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23 histórias abrindo as portas do imaginário infantil, levando a criança para um mundo maravilhoso e mágico, repleto de ternura, carinho e suspense. Mas isto se deve a um caminho traçado e uma trilha percorrida, o que chamo de “conhecimentos prévios” que envolvem uma série de conhecimentos e preparações prévias para se contar uma história afim de que ela atinja seu objetivo definido (o de encantar).

No conhecimento prévio o professor deve conhecer bem o enredo da história, pois assim estará se envolvendo com o tema, vivendo-o e emocionando-se. É importante também ter uma voz clara e agradável, que se modifica de acordo com a situação e os personagens. Dosar e não exagerar na carga de emoção.

Abramovich (1989) destaca ainda que contar histórias é uma arte, que não pode ser feita de qualquer jeito, pegando qualquer livro, sem nenhum preparo. E quando isso acontece a criança logo percebe que o narrador não está familiarizado com a história e existe uma grande chance de no meio da história o narrador empacar ao pronunciar alguma palavra, fazer as pausas nos momentos errados e perder o rumo da história.

Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção[...] Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras[...] Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz. (Ibidem, p. 18)

O conhecimento prévio também envolve o bom uso e o preparo da voz com boa entonação, de forma clara e audível, com palavras bem pronunciadas e entonações que demonstrem vida na leitura. A escolha de cenários quando isto for necessário para que a história tome forma palpável e real. E com certeza a escolha de uma boa história que faz toda diferença. O texto ou história deve ser escolhida antecipadamente para que o professor possa conhecê-la e dominá-la. Para que também seja de linguagem acessível para o público escolhido, adequada para o momento, relevante para o seu contexto para que tudo isto seja pano de fundo para o objetivo para qual ela está sendo usada.

Já no momento da história o olhar busca outros olhares correspondentes no momento da leitura, em prol de troca e compreensão do texto que está sendo lido, narrado ou trabalhado. Assim como o uso da expressão corporal que distância e aproxima objetos, das dimensões de tamanho, espessura, expressões e vidas das imagens refletidas em nosso corpo, também podem ser usados de objetos que auxiliam no momento de contação materializando por exemplo o sapato da Cinderela, o chapéu da bruxa e a maça da Branca de Neve trazendo para o real aquilo contido nas imagens, nas letras e no imaginário da história. Assim como os instrumentos

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24 musicais que podem embalar cenas fortes, leves, tranquilas e agitadas colocando imagens sonoras nos textos dando vida, sentido ajudando o florescer na imaginação.

Os efeitos de determinados contos nas crianças são os mais variáveis e imprevistos, as histórias de fadas possuem personagens e passagens fortes que cativam vivamente, mas no seu uso os efeitos são únicos. Os contos, como os mitos, são estruturas geradoras de sentidos, eles não têm um sentido em si (CORSO e CORSO, 2006, p. 166).

Por fim, sem ser menos importante, narrar a história de forma descontraída é uma maneira de prender a atenção das crianças, com narrativas curtas e atraentes, usando a entonação da voz, falar baixinho quando o personagem é calmo, aumentar o tom de voz quando é exaltado usando assim da originalidade, surpresas, suspense e expressividade.

Ah, é bom saber começar o momento da contação, talvez do melhor jeito que as histórias sempre começaram, através da senha mágica ¨Era uma vez...¨, ou qualquer outra forma que agrade ao contador e aos ouvintes [...] Ah, e segurar o escutador desde o início, pois se ele se desinteressa de cara, não vai ser na metade ou quase no finalzinho que vai mergulhar[...] Ah, não precisa ter pressa em acabar, ao contrário, ir curtindo o ritmo e tempo que cada narrativa pede e até exige [...] E é bom saber dizer que a história acabou de um jeito especial: Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra[...]¨ Ou com outro refrão que faça parte do jogo cúmplice entre a criança e o narrador... (ABRAMOVICH, 1989, p. 21-22).

Creio desta forma que nenhuma história é apenas contada, mas que ela sempre poderá cair no terreno fértil da imaginação da criança e germinar frutos relevantes para toda uma vida. Pois planto com palavras, sons, ritmos e poesias histórias no terreno fértil da imaginação que alimenta uma vida toda de frutos deliciosos de sabores variados que ajudam na construção do universo infantil.

Nas crianças, é mais fácil observar o impacto da ficção, elas se apegam a alguma história e usam-na para elaborar seus dramas íntimos, para dar colorido e imagens ao que estão vivendo. Elas a usam como era usado o mito em sociedades antigas, entram na trama oferecida e tentam encaixar suas questões nos esquemas interpretativos previamente disponibilizados. Ou então se apropriam de fragmentos, como tijolos de significação que combinam à sua moda para levantar a obra e determinado assunto que lhes questiona. (CORSO e CORSO, 2006, p. 28)

Através da contação de histórias é compreender que sua ampla utilidade vai além como um instrumento mediador contribuindo significativamente para o desenvolvimento infantil contribuindo de forma intensa para o seu desenvolvimento e aprendizagem.

Seja onde for que as histórias soem, seja através de qualquer voz, de qualquer suporte, seja qual for a formação do contador, elas chegam para ficar. As histórias, oriundas da tradição ou da contemporaneidade, sempre serão vindas, como são bem-vindos os contadores, sejam aqueles que narram contos da tradição, sejam aqueles que narram autores contemporâneos. Há espaço para todos: os que entendem as histórias como alimento para o espírito; os que veem nas histórias uma forma de distração; aqueles que narram cantando e aqueles que narram dançando; velhos e moços; letrados e iletrados. Os contos estão aí, à espera de uma voz para torná-los matéria viva, significante e transformadora. O que fica de tudo isso é o reconhecimento do saudável habito de contar histórias. (BUSATTO, 2013, p. 127-128)

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25 As histórias sempre acabam encontrando quem as conte e que as escute, se as crianças forem incentivadas desde bem cedo a ter contato e valorizar este tipo de arte, se os professores se comprometerem a serem mediadores desde mundo mágico da leitura, cremos que não haverá no mundo jamais a falta de contadores de histórias, de leitores, de escritores, e de valorizadores dos livros nem de ouvintes.

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26 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar a contação de histórias e todo seu universo constatei que a mesma é necessária e vital para o crescimento e desenvolvimento da criança e da preservação do seu imaginário, do seu ser criativo e inventivo. Ela é um instrumento poderoso e fundamental para o desenvolvimento infantil contribuindo de diversas maneiras na educação das crianças, despertando nelas a imaginação, a criatividade, o interesse e o gosto pela leitura.

Ler histórias para as crianças, sempre, sempre... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento...É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (ABRAMOVICH, 1989 p. 17).

Foi por intermédio desta pesquisa/trabalho que compreendi como é ampla a função da contação de histórias como um instrumento mediador em sala de aula contribuindo significativamente para o desenvolvimento infantil na qual o professor pode tornar a aprendizagem mais significativa e atraente assim como proporcionar momentos de grande interação entre o aluno e o professor numa troca diferente e significativa de aprender e ensinar. Aprendi que ao contar história abrimos portas a um mundo acessível somente pelos livros no qual mergulha-se no mar da imaginação fazendo pontes e alicerces na constituição das crianças para que possam viver o aqui e o agora imbuídas de sonhos, fantasias e realidades. Constatei também que qualquer pessoa pode contar histórias para as crianças pequenas, sem ter um propósito de ensinar algo, pois desta forma, estimulamos a curiosidade, a criatividade e o aprendizado de forma estimulante, lúdica e significativa pelo uso do texto e da ilustração que provocam a educação em seu sentido mais amplo, possibilitando-lhes tornarem-se investigadoras de novas descobertas e conhecimentos que envolvem a formação humana.

Finalizo com a afirmação da importância de contar muitas histórias na infância, pois elas ajudam as crianças a compreenderem-se a si, aos outros e a realidade na qual estão inseridas por meio do imaginário e do lúdico. Ouvir histórias é importante na vida da criança, pois as aprendizagens construídas geram seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. É por meio das histórias que a criança aguça toda sua imaginação, brincando, imaginando, fantasiando, desejando, aprendendo, observando, experimentando, narrando, questionando e construindo sentidos sobre a natureza e a sociedade desenvolvendo sua capacidade cognitiva de percepção do livro como instrumento de informação e descontração.

Por isso, quando o contador conta uma história, está fazendo uma ponte entre o leitor e o livro, criando um elo imaginário, contribuindo no desenvolvimento da fantasia, da linguagem,

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27 estimulando a observação, facilitando a expressão de ideias e desenvolvendo a capacidade cognitiva de perceber o livro como um instrumento de informação e de prazer. Ele deve ser alguém que ama livros, histórias mundos e fantasias. Nele, devem haver habilidades contidas, desenvolvidas, aprendidas e aperfeiçoadas.

Por fim deve-se contar histórias sempre, de alguma forma, para qualquer um que queira ouvir, da melhor forma possível

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28 REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fany. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989. ALLEBRANDT, Lídia Inês. Literatura e Alfabetização: possibilidades pedagógicas no uso de softwares educacionais. In: Seminário de Tecnologia Educacional, 2007, Ijuí. Anais. Ijuí: Editora UNIJUI, 2007. CD-ROM.

BECKER, Celia Doris. História da literatura infantil brasileira. In: SARAIVA, Juracy Assmann. Literatura e Alfabetização: do plano do choro ao plano de ação. Porto Alegre: ARTMED, 2001, p. 35-49.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEF, 1998.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

BUSATTO, Cléo. A arte de contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço. 4. ed. Petropolis: Vozes 2013.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da literatura infantil e juvenil: dinâmicas e vivencias na ação pedagógica. São Paulo: Paulus, 2002.

CORSO, Diana Lichtenstein; CORSO, Mario. Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FRANTZ, Maria Helena Zancan. O Ensino da Literatura nas Séries Iniciais. 4. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2005.

JOSÉ, Elias. Literatura infantil: ler, contar e encanar crianças. Porto Alegre: Mediação, 2007. RESENDE, Vânia Maria. Leitura: mediação entre a vida e a arte. Florianópolis: UFSC, 1985. RIZZOLI, Maria Cristina. Leitura com letras e sem letras na Educação Infantil no Norte da Itália. In: FARIA, Ana Lúcia; MELLO, Suely. (Orgs.). Linguagens Infantis: outras formas de leitura. São Paulo: Autores Associados, 2005.

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ZILBERMAN, Regina; MAGALHÃES, Ligia Cademartori. Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. São Paulo, Ática, 1987.

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Referências

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