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A atuação norte-americana durante o período pré-golpe de 1964

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARINA DEON DALFOVO

A ATUAÇÃO NORTE-AMERICANA DURANTE O PERÍODO PRÉ-GOLPE de 1964

Florianópolis 2015

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MARINA DEON DALFOVO

A ATUAÇÃO NORTE-AMERICANA DURANTE O PERÍODO PRÉ-GOLPE de 1964

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Msc.

Florianópolis 2015

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer a todos que de alguma forma colaboraram para a execução desse trabalho e conclusão desse curso, em especial:

Meus pais, sem eles nada disso seria possível. Agradeço a compreensão, apoio e todo suporte que proporcionaram para eu conseguir encerrar mais uma fase da minha vida.

Ao meu orientador Luciano Daudt da Rocha, que me guiou para a elaboração desse trabalho. Sua disponibilidade e conhecimento foram capazes de me manter segura nas minhas decisões.

Sou grata também as minhas amigas que me acompanharam nessa etapa. Elas foram as pessoas que sempre acreditaram, dando os melhores conselhos e estímulos para encarar e finalizar a faculdade.

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“A cada 15 anos, o Brasil se esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos.” (Ivan Lessa)

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RESUMO

O presente trabalho traz como tema principal o papel exercido pelos Estados Unidos durante o período pré-golpe militar de 1964 no Brasil. O problema de pesquisa centrou-se em saber qual foi a atuação americana nesse cenário, utilizando-se de uma pesquisa de natureza pura, exploratória, qualitativa, bibliográfica e documental. Para abordar o assunto, primeiramente é necessário compreender a situação que o mundo passou durante a Guerra Fria e as tensões que ocorreram no Brasil durante esses anos. Dessa forma foi viável analisar a ação norte-americana. A ideia desse trabalho surgiu devido às manifestações populares que ocorreram no Brasil nos últimos anos e materiais estudados pela autora. Uma parte da população acredita que um novo regime militar seria a solução para os problemas nacionais, porém, o que levou a instalação do antigo regime é pouco abordado. Ao fim, com todos os objetivos alcançados, foi possível identificar o que levou os Estados Unidos a intervir no cotidiano brasileiro e como isso foi oportunizado.

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ABSTRACT

This research has as main theme the role played by the United States during the pre-coup period of 1964, in Brazil and the research problem is to know what the American role in this scenario was. Using a pure nature, exploratory, qualitative, literature and documents research. To approach the issue, we must first understand the situation that the world was during the Cold War and the tensions that occurred in Brazil during those years. This way was possible to analyze the US action. The idea of this research emerged due to popular manifestations that took place in Brazil in recent years and materials studied by the author. Part of the population believes that a new military regime would be the solution to national problems, however, which prompted the installation of the old regime is rarely approached. At the end, with all the goals achieved, it was possible to identify what led the United States to intervene in Brazilian daily life and how it was allowed.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1- OTAN e Pacto de Varsóvia...45

Imagem 2- Velório de Getúlio Vargas...52

Imagem 3- Construção de Brasília...54

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ... 10

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 10

1.2 OBJETIVOS ... 11 1.2.1 Objetivo geral ... 11 1.2.2 Objetivos específicos ... 11 1.3 JUSTIFICATIVA ... 12 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13 1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 16

2.1 TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ... 16

2.1.1 As relações internacionais ocidentais ... 18

2.2 ESTADO, IMPÉRIO E IMPERIALISMO ... 19

2.2.1 O percurso das superpotências ... 21

2.2.3 A hegemonia e seu exercício ... 25

2.3 O PERCURSO POLÍTICO BRASILEIRO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL... 26

2.3.1 A dependência internacional ... 26

2.3.2 O populismo ... 27

2.3.3 O autoritarismo ... 31

3 A ORIGEM DA GUERRA FRIA ... 34

3.1 O CONTEXTO INTERNACIONAL DA GUERRA FRIA ... 36

3.1.1 O conceito da Guerra Fria e o equilíbrio de poder ... 37

3.2 A ESTRUTURAÇÃO DA GUERRA FRIA ... 39

3.2.1 Os planos na Guerra ... 40

3.2.2 As organizações internacionais ... 43

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3.3.1 O Bloqueio de Berlim ... 45 3.3.2 A Guerra da Coreia ... 46 3.3.3 A questão cubana ... 47 4 AS TENSÕES QUE CONDUZIRAM À INSTALAÇÃO DO REGIME MILITAR NO BRASIL ... 49 4.1 AS ORIGENS DO GOLPE DE 1964 ... 49 4.2 O ANTICOMUNISMO NO BRASIL ... 59 5 O EXERCÍCIO DA HEGEMONIA NORTE-AMERICANA NO CONTEXTO DE OPERACIONALIZAÇÃO DO GOLPE MILITAR DE 1964 NO BRASIL ... 61 5.1 PLANOS NORTE-AMERICANOS ... 62 5.2 A INFLUÊNCIA NORTE-AMERICANA NO BRASIL DURANTE O PERÍODO PRÉ-GOLPE ... 64 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 68 REFERÊNCIAS ... 71

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1 INTRODUÇÃO

O primeiro capítulo apresenta os elementos que compõe o inicio do trabalho de conclusão de curso. Na sequencia seguem a exposição do tema e do problema, o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa e a justificativa para o desenvolvimento. Segue com a metodologia utilizada para a realização e finaliza com a apresentação da estrutura do trabalho para a conclusão do capítulo. 1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

A Guerra Fria foi protagonizada pelos Estados Unidos da América e a antiga União Soviética, entre os anos 1945 até a queda soviética, caracterizada por um cenário internacional bipolar. De um lado o país capitalista que apoiava a liberdade da população e do outro o regime socialista controlador. Alguns fatos importantes da história mundial ocorreram durante esse período, como a corrida armamentista, espacial, guerras paralelas entre países de menor porte e ditaduras.

Discorrer acerca do cenário político no Brasil sem antes pensar em que ponto a intervenção das políticas internacionais tomam do Governo Brasileiro o poder decisório para o estabelecimento de políticas que desenvolvam a reflexão social é impossível. Assim, é necessário observar que a Guerra Fria na América Latina teve um importante papel, estrategicamente os exércitos deixaram de combater os inimigos que estavam além das fronteiras para combater inimigos que acreditavam estar dentro de seus países.

A Revolução Cubana representou um fortalecimento para a União Soviética, com o intuito de desacelerar esse expansionismo os Estados Unidos passaram a apoiar e manipular países sul-americanos para combater opositores do capitalismo. Um número expressivo de pessoas no continente apoiou a intervenção militar, com receio de que se propagasse a onda comunista na região. Grande parte desse grupo foi formado por pessoas de classe média e alta.

Na análise da opção brasileira das esquerdas pela luta armada, foram levados em conta os antecedentes de 1964, na conjuntura internacional e latino-americana e mais especificamente seus reflexos no Brasil, onde se destaca o populismo, a esquerda no pós-guerra, resgatando a História do Partido Comunista Brasileiro (PCB), suas dissidências e “rachas”. Destacando também as opções nacionalistas e popular-reformistas,

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enquanto via de compreender os diversos matizes da luta armada no Brasil, representados pelos mais de 70 partidos e organizações que escolheram a via armada como forma possível para a imediata derrubada da ditadura militar (REIS FILHO e SÁ apud CERVEIRA, 2009, p. 102).

Esta ideia de combate ao “perigo vermelho” foi amplamente construída pelos Estados Unidos da América, na Escola das Américas1 e disseminada pelas

Escolas Nacionais de Guerra em países sul-americanos, através de uma ampla doutrina que tinha como principal objetivo desmantelar qualquer oposição política. Tudo isso ocorreu com o apoio de serviços secretos que trabalhavam a partir do modelo da Central Intelligence Agency (CIA). A pergunta que direcionará esse trabalho é: “Qual foi a atuação norte-americana durante o período pré-golpe de 1964?”.

1.2 OBJETIVOS

Tendo como base o problema de pesquisa, segue o objetivo geral e os objetivos específicos.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral desse trabalho é analisar a contribuição dos Estados Unidos da América para a efetivação do golpe militar de 1964 no Brasil.

1.2.2 Objetivos específicos

Com o intuito de complementar o objetivo geral, seguem os objetivos específicos:

- Compreender o contexto internacional de Guerra Fria;

- Entender o contexto da instalação do Regime Militar brasileiro;

1 A Escola das Américas foi um instituto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, fundado no ano de 1946, no Panamá. Em 1961, seu objetivo oficial passou a ser o de ensinar a "formação de contra insurgência anticomunista". A Escola treinou vários ditadores latino-americanos, gerações de seus militares e, durante os anos 1980, incluiu o uso de tortura, execuções sumárias e guerra psicológica em seu currículo. A língua oficial adotada durante os treinamentos era o espanhol, que se tornou o idioma oficial.

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- Analisar a atuação norte-americana no período pré-golpe de 1964 no contexto da Guerra Fria.

1.3 JUSTIFICATIVA

Refletir acerca da verdade dos fatos que compõe o cenário brasileiro é fundamental para qualquer cidadão que pretende construir novos caminhos, fazer-se parte de uma nova e atual história e também, para que cada um possa se compreender enquanto ser social que compõe, constrói e refaz uma mesma história. Perceber que cada acontecimento tem vários lados, várias faces e que isolados são vistos de uma perspectiva e quando juntos compõe novos cenários é essencial para que as análises sejam realizadas, comparadas e redimensionadas.

É neste contexto que deve se posicionar sobre a atuação dos Estados Unidos e sua influência na política, economia e vida em sociedade do Brasil, compreender e discutir cada encaminhamento, cada ação, seja do exército, da imprensa ou da sociedade em geral. Os desdobramentos causados nestas ações tornam-se fundamentais para que possamos observar cada papel assumido pela sociedade, pelos políticos e como isso se desdobra nos dias atuais. Observar as ações nacionais bem como as intervenções internacionais nos dá a dimensão articulada dos interesses dos envolvidos.

Como podemos observar, OLIVEIRA, R. (2013, p. 35) nos esclarece: A política externa dos Estados Unidos para a América Latina marca-se pela carência de importância, voltando quase que exclusivamente para a Europa. Com a tomada do poder pelos comunistas em Cuba e o fracasso da visita de Nixon nos países da América Latina, os EUA adotaram uma nova política externa para o continente, instalando-se programas militares e de reforma social e econômica. Esses fatores demonstram como o objetivo se manteve focado sempre na contenção do comunismo no continente. Da “Aliança para o progresso”, passando pela “Doutrina Mann” é possível perceber como o discurso anticomunista dos EUA foi empregado durante a Guerra Fria, o que tornou a influência norte-americana a grande base catalisadora para os regimes militares na América Latina.

Ao analisar o papel americano na adoção de políticas em âmbito local e a partir das leituras e discussões realizadas durante o curso de Graduação em Relações Internacionais e documentários assistidos, como 1964: Um golpe contra o Brasil e O dia que durou 21 anos, inúmeros questionamentos e reflexões foram feitos pela autora, talvez até pelas incessantes notícias vinculadas na mídia, pois

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tem se falado muito em golpe militar nos últimos tempos, como se o retorno do Regime Militar respondesse, para algumas pessoas às necessidades de ética e justiça social tão solicitado pela população brasileira. É perceptível que há certo silêncio quando nos deparamos com as ações durante o Período Militar já vivenciado no Brasil, há muitas lacunas sobre a forte colaboração e acobertamento norte americano nas torturas e mortes de sul-americanos durante os anos de 1970 e 1980.

É neste espaço que entre a curiosidade e a realidade, entre o fato verídico e a ficção que se pretende caminhar: compreender qual foi a atuação americana nesse período, quais foram suas reais motivações, que mesmo ocultadas do mundo todo por algum tempo, ainda escondem um período sombrio e dolorido da história brasileira, verdades estas que aos poucos estão sendo reveladas pela Comissão Nacional da Verdade2.

O caminho a ser percorrido ainda é longo, várias peças de um extenso quebra-cabeça necessitam de ajustes e documentos ainda precisam ser abertos, lidos e compreendidos pela sociedade, para que todos saibam as reais intenções, ações e desdobramentos que acarretaram em nosso país. É neste espaço que o presente trabalho se justifica: tornar-se uma fonte de pesquisa bibliográfica para que a sociedade em geral possa consultá-lo e compreender um período nebuloso, mas fundamental para a compreensão histórica e social sobre o Brasil. A autora procurará durante o texto estabelecer uma relação de proximidade entre a leitura e o leitor, entre o fato e o contexto, entre a história e a realidade parta que aos poucos cada um consiga perceber-se fundamental enquanto ser histórico e social diante a estes fatos.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Existem inúmeros conceitos para pesquisa. Ela pode ser definida como a busca pela solução de um problema que possibilita adquirir novos conhecimentos através de sua análise. Segundo Marconi e Lakatos (1996, p. 15), "Pesquisar não é

2Comissão Nacional da Verdade é uma comissão nacional destinada a investigar as violações de direitos humanos cometidas na época da Ditadura Militar brasileira. A comissão foi instalada oficialmente em 2012, durante o primeiro mandato do governo de Dilma Rousseff.

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apenas procurar a verdade; é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos”.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de natureza pura, que visa adquirir conhecimento sem a intenção de utilizá-lo na pratica. A pesquisa básica, para Silveira, D. (2009, p. 34), “Objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais”.

Quanto aos objetivos, o trabalho é exploratório, enfatizando informações que já existem. “A pesquisa exploratória busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto.” (SEVERINO, 2007, p. 123, grifo do autor). A análise dos dados é qualitativa, não apresentando números, apenas informações bibliográficas.

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes (MINAYO, 2007, p. 21).

O procedimento técnico utilizado foi a pesquisa bibliográfica, que utiliza materiais já escritos como referência. Para Gil (2002, p. 44):

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas.

Para complementar o Trabalho de Conclusão de Curso, também é utilizada a pesquisa documental. Ainda segundo Gil (2002, p. 45):

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes/Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa.

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A utilização de todo o desenvolvimento metodológico descrito tem grande importância para responder a pergunta de pesquisa e colaborar com o progresso do trabalho.

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

O trabalho a seguir esta divido em seis partes. A primeira, a introdução, apresenta a exposição do tema e problema, objetivo geral e objetivos específicos, justificativa e os procedimentos metodológicos.

A segunda parte da presente pesquisa apresenta a fundamentação teórica que oferece suporte para responder os objetivos específicos do trabalho.

O desenvolvimento esta dividido em três capítulos, cada um responde um objetivo específico exposto na introdução. A pesquisa começa com o contexto da Guerra Fria, desenvolve para a instalação do Regime Militar Brasileiro e encerra com o papel norte-americano realizado no Brasil durante o período pré-golpe.

O trabalho é concluído com as considerações finais, o resgate da ideia inicial, os objetivos e as limitações e sugestões para futuras pesquisas.

O capítulo seguinte, a fundamentação teórica e revisão bibliográfica, abordarão os tópicos que darão base ao desenvolvimento do trabalho e auxiliarão a conclusão dos objetivos expostos na primeira parte.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo tem o propósito de dar à investigação um sistema coordenado e coerente de conceitos e proposições que permitam abordar o problema. Significa esclarecer os postulados e hipóteses, assumindo os frutos de investigações anteriores e esforçar-se por orientar o trabalho de um modo coerente.

Dessa forma, têm-se como funções, orientar para a organização de dados e fatos significativos para descobrir as relações do problema com as teorias já existentes, guiando na seleção dos fatores e variáveis que serão estudadas na investigação, bem como suas estratégias de medição, sua validade e confiabilidade. 2.1 TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Em toda disciplina a teoria é essencial para a compreensão dos fenômenos, para pensar a respeito de sua inter-relação, para conduzir a investigação e, (mencionando um objetivo mais imediatamente útil nas ciências sociais) para recomendar uma ação política sólida. Os especialistas em biologia, química e outras ciências exigem teorias adequadas para que lhes deem uma direção bem orientada a seu trabalho de busca de curas para doenças tais como o câncer. Não menos importantes são os desenhos teóricos na busca bem mais antiga de uma solução para o que, em geral, se considera como o problema central das relações internacionais: o de impedir a guerra enquanto, ao mesmo tempo, permite-se às sociedades prepermite-servar permite-seus valores mais caros e melhores (MORAES, 1999).

O teórico das relações internacionais recusa a tendência a substituir a análise cuidadosa por slogans superficiais de transferência do tipo "Façamos o amor, não a guerra". Uma doutrina de amor universal; se fosse praticada universalmente, sem dúvida levaria, com toda probabilidade, a uma era de paz na terra, mas semelhante doutrina não parece a ponto de ser aceita pelo grosso da humanidade.

Quem se sente obrigado, seja como membros do Poder Executivo ou Legislativo, responsáveis por tomar decisões econômicas, assessores, diplomatas, especialistas, mestres, jornalistas ou eleitores, a adotar um enfoque responsável dos

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assuntos internacionais; deve ir além das opiniões e slogans, a um estudo sistemático do sistema global.

Os esforços por teorizar a respeito das naturezas das relações entre os estados são bastante antigos; alguns de fato se remontam à antiguidade na Índia, China e Grécia. Embora as reflexões de Platão e Aristóteles sobre o tema são bastante esquemáticas, o historiador da antiga Grécia, Tucídides, escreveu um tratado clássico, História da Guerra do Peloponeso, de fundamental importância para o estudo das relações internacionais. O príncipe de Maquiavel, um precursor da moderna análise do poder e do sistema dos estados, enfatizava uma ciência "livre de valores", do traçado de políticas exteriores e da arte do manejo do Estado (CARVALHO, 1986).

“A Monarquia” de Dante converteu-se em um dos primeiros· e mais poderosos chamados da bibliografia política ocidental a uma Organização internacional capaz de fazer cumprir a paz (FRANCO JR, 2000).

Outros precoces defensores de uma confederação ou liga de nações-estado foram Pierre Dubois (advogado e autor de panfletos políticos francês do final do século XIV e princípios do século XV), Emeric Cruzei (monge francês do final do século XVI e princípio do século XVII), o Duc de Sully (ministro do rei Enrique IV da França), William Penn, o Abbé de Saint Pierre (publicitário francês e reformador teórico do final do século XVII e princípios do século XVIII), Jean-Jacques Rousseau, Jeremy Bentham e Immanuel Kant (JACKSON e SORENSEN, 2007).

Apesar destes escritos clássicos, não se produziu nenhum desenvolvimento sistemático comparável ao das teorias políticas internas do Estado no campo da teoria internacional antes da Primeira Guerra Mundial.

Martin Wight (2002) assinalou que se por "teoria internacional" aludimos a uma tradição de especulação a respeito das relações entre os estados, uma tradição pensada como gêmea da especulação a respeito do Estado à que lhe corresponde o nome de “teoria política", semelhante tradição não existe.

Wight (2002) sugere que uma explicação desta ausência é que desde Grotius (1583-1645), o jurista e estadista holandês, e Pufendorf (1632-1694), o jurista e historiador alemão, quase toda a especulação a cerca da comunidade internacional caiu sob o encabeçamento de direito internacional. Assinala que a maioria dos escritos sobre relações entre os estados dantes deste século estava contida na bibliografia política dos escritores centrados na paz, como os antes

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citados; enterrado 'nos trabalhos dos historiadores; enclaustrado nas reflexões dos filósofos ·ou alojados em discursos, despachos e memórias de estadistas e diplomatas.

Wight (2002) chega à conclusão de que na tradição política clássica, a teoria internacional, ou o que há dela, está dispersa; é não sistemática e em sua maioria se torna inacessível para o leigo, tanto como é em grande parte intratável em sua forma.

A única teoria que inspirava o pensamento da época era uma teoria (de certa forma mais cara aos diplomatas profissionais que aos especialistas universitários) a do equilíbrio de poder. Certamente, era uma coleção do que pareciam ser axiomas de sentido comum, mais que uma teoria rigorosa.

O período da história europeia que vai de 1648 a 1914 constitui a idade de ouro da diplomacia, o equilíbrio de poder, as alianças e o direito internacional. Quase todo o pensamento político se centrava no estado-nação soberano: as origens; funções e limitações dos poderes e governantes, os direitos dos indivíduos dentro do Estado, as exigências de ordem e os imperativos da autodeterminação e a independência nacional. A ordem econômica de maneira simplista se entendia como algo separado da política e as políticas internas derivadas da arte e a diplomacia. Esperava-se que os governos promovessem e protegessem o comércio, mas não que o regulassem. Diversos ramos do pensamento socialista buscavam avançar em novas direções, mas os socialistas, apesar de seu professo internacionalismo, realmente não produziram uma teoria internacional coerente. Postularam uma teoria do imperialismo tomada em grande parte de John A. Hobson (1858-1940), o economista britânico, e em consequência derivada de uma teoria econômica oriunda dos estados capitalistas (HALL, 2006).

Até 1914, os teóricos das relações internacionais quase uniformemente supunham que a estrutura da sociedade internacional era inalterável e que a divisão do mundo em estados soberanos era necessária e natural (HALL, 2006).

2.1.1 As relações internacionais ocidentais

As relações internacionais como construção cultural é indissociável do marco histórico em que surge e evolui. Uma noção dinâmica e complexa em sua natureza que impregna de forma constante a visão e a interpretação do passado. A

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expressão abarca em si mesma, um duplo plano de convergência: por um lado, o que circunscreve um setor da realidade social e, por outro, o que traça seu contorno como disciplina científica.

Uma dupla dimensão caracterizada por sua vez pela constante interação e interdependência entre o objeto e o sujeito. O historiador, do mesmo modo que outros cientistas sociais foram e são criadores de nossa visão do mundo.

Em sua natureza e seu gênesis as relações internacionais incorporam uma parte muito significativa da experiência histórica da civilização ocidental. Na medida em que o Ocidente tem desempenhado um papel hegemônico no mundo na trajetória de sua modernidade, seu sistema ou sistemas de relações sociais internacionais e seus mecanismos intelectuais para fazê-lo inteligível, e com frequência legitimá-lo, traduzem essa posição privilegiada.

2.2 ESTADO, IMPÉRIO E IMPERIALISMO

O mundo é formado por Estados soberanos. Existem muitas possíveis definições para o conceito de Estado, Chaui (2004) defende a ideia de que ele é quem possui poder para administrar a sociedade, aplicando leis, tributos e obrigações para a população. O Estado também é responsável por combater seus inimigos, tendo o direito de usar a força através do poder militar e pode decretar guerra contra outros Estados.

O imperialismo, a dominação e exploração político-econômica dos países através da penetração econômica e/ou a conquista militar ou intervenção é a força impulsora da história contemporânea. Regiões inteiras do leste europeu, a antiga URSS, África, o Sudeste e Centro da Ásia e América Latina foram transformadas em neocolônias, colônias ou esferas de influência dos Estados Unidos, da União Europeia e Japão. Países capitalistas que acabam de emergir como tais, como a China, estão desafiando aos poderes imperiais estabelecidos nos mercados, as matérias primas e as fontes de energia. As guerras imperiais, as ocupações coloniais, as intervenções e golpes militares para alargar o império são eufemisticamente denominados “mudança de regime” e “democratização” (COHEN, 1976).

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O imperialismo é a expressão política do processo de acumulação do capital. Em sua luta para conquistar as regiões não capitalistas que não se encontram ainda dominadas. Geograficamente, esse meio abrange, ainda hoje, a grande parte da terra. Mas, comparado como poder do capital já acumulado nos velhos países capitalistas, que luta para encontrar mercados para seu excesso de produção, e possibilidades de capitalização para sua mais-valia, comparado com a rapidez com que hoje se transformam em capitalistas territórios pertencentes a culturas pré-capitalistas, ou, em outros termos, comparado com o elevado grau de forças produtivas do capital, o campo revela-se mesmo pequeno para sua expansão.

Para entender a natureza, estrutura e dinâmica do sistema imperial são necessárias identificar e explicar conceitos políticos chave e o lugar que ocupam na construção do império mundial contemporâneo.

Há três conceitos inter-relacionados que são fundamentais para entender o mundo contemporâneo: estado imperial, imperialismo e império. As dinâmicas de acumulação em escala mundial, a necessidade de maiores concentrações de capital estabelecidas em grandes unidades econômicas para poder estender-se por todo mundo, se baseiam na ideia de que podem se transladar ao exterior e podem encontrar segurança e territórios rentáveis e força de trabalho à qual explorar. A deslocação de capital (via corporações multinacionais), sua capacidade para explorar as matérias primas, para assegurarem-se fontes de energia, prestar capitais e impor o pagamento de dívida, dominar mercados cativos e fixar salários baixíssimos para as filiais de manufaturas dependem de forma absoluta das relações políticas que facilitam essas condições (COHEN, 1976).

A instituição política essencial que facilita a expansão exterior do capital é o estado imperial, bem como o surgimento, nas regiões eleitas, de regimes e classes dirigentes orientadas para modelos imperiais de acumulação de capital.

A organização e atividade do estado imperial são cruciais na criação das condições políticas para o imperialismo - a expansão econômica do capital. O império é o produto conjunto da atividade combinada do estado imperial e o processo de expansão econômica imperialista. Muito se escreveu a respeito das dimensões econômicas do imperialismo: o crescimento e papel das corporações multinacionais (CMN), a importância dos recursos energéticos e a indústria do petróleo, a absorção e compra de empresas que foram privatizadas, as condições econômicas e as políticas de ajuste estrutural impostas pelas instituições financeiras internacionais (IFI) como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) (MAGDOFF, 1975).

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Alguns estudos conectaram estas forças econômicas imperialistas com políticas imperialistas e seus resultados favoráveis para as CMN e as consequências socioeconômicas negativas para o país escolhido. O suposto normal, o não declarado, é que o estado imperial é simplesmente um reflexo passivo, uma vasilha vazia de capital imperialista; a assunção de que o estado imperial pode se reduzir a um simples instrumento dos interesses e forças coletivas do capital imperial. Isto leva a confundir a análise das estruturas políticas do imperialismo com os processos econômicos do imperialismo (a expansão do capital). A suposição que se tem é que há uma identidade tão poderosa entre estrutura e processo que só se precisa olhar o processo (acumulação de capital) para deduzir a natureza e dinâmica interna do estado imperial (CRAVEIRO, 2008).

Este enfoque simplista de dedução econômica tem várias debilidades notórias no momento de compreender a formação do império. Em primeiro lugar, o estado imperial formula estratégias e táticas que vão além das demandas e interesses imediatos de todos ou da maioria dos capitais que estão comprometidos na expansão exterior. Em segundo lugar, esta aproximação reducionista não leva em conta os conflitos de interesses entre os que tomam as decisões político-militares e os ideólogos do estado imperial e os estrategistas das CMN. Os reducionistas supõem simplesmente que qualquer coisa que os políticos imperiais decidam vai automaticamente a interesse das corporações econômicas imperiais. Há uma pretendida unidade entre política, estratégia e ideologia onde na realidade deveria ter simplesmente uma hipótese de trabalho que deveria ser comprovada através de fatos empíricos ou historicamente observáveis (JACKSON e SORENSEN, 2007).

2.2.1 O percurso das superpotências

O poder do ser humano é incalculável, o poder de mudar o curso da história, o poder de fazer de todo o impossível algo possível, esse poder que herdaram tudo está tão só na capacidade de tomar decisões.

Em sua obra, Oliveira, O. (2001), através de Cerveira (1991), define superpotência:

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[...] as superpotências surgiram em momento bem singular da história, podendo ser entendidas como aqueles Estados que apresentavam “capacidade e vontade de exercer uma hegemônica absoluta no marco de uma sociedade mundial, mediante a disponibilidade de um poder militar de natureza nuclear, suscetível de provocar uma guerra de destruição maciça e simultânea, capaz de pôr em perigo a existência de toda a humanidade, assim como de uma potência econômica e técnica que permitisse manter e incrementar dito poder militar nuclear ao objeto de garantir sua capacidade dissuasória” (CERVERA, 1991 apud OLIVEIRA, O., 2001, p 148-149). Segundo Ubaldi (2008), os Estados Unidos é o único império supérstite do mundo. Em seus domínios nunca se põe o sol. Seu poderio militar é esmagador, e suas forças armadas são o fator decisivo na construção de sua política exterior. É bem sabido que, nas coalizões que os Estados Unidos persegue para compensar suas invasões militares, os demais integrantes do conglomerado ocasional são maus elementos decorativos, tanto por sua oferta bélica concreto como por seu peso na hora de tomar resoluções. Assim ocorreu quando recentemente foi a invasão ao Iraque. Nem sequer a Grã-Bretanha tem um peso específico o bastante significativo como para modificar em algo o curso das ações empreendidas pela Casa Branca ou pelo Pentágono.

Historicamente, os investimentos norte-americanos foram a dobradiça perfeita para seus movimentos bélicos. Os pretextos para as invasões têm estado sempre centrados em dois argumentos básicos: a defesa da vida e integridade física de cidadãos norte-americanos e a defesa dos investimentos de empresas dos Estados Unidos em outros países ou territórios. Assim ocorreu em Cuba quando o jateamento do navio Maine, há mais de um século; na Nicarágua, na República Dominicana, no Panamá e em tantos outros países. Companhias como a United Fruit Company e a ITT se tornaram famosas não por suas performances na bolsa de Wall Street, mas por ter gestado e sustentado, a sangue e fogo, as políticas imperiais dos Estados Unidos na América Latina (UBALDI, 2008).

2.2.2 Estados Unidos da América X União Soviética

Desde o momento da independência, as treze colônias que formaram inicialmente os Estados Unidos experimentaram um processo de expansão demográfica, territorial e econômica que, junto com a consolidação de seu sistema democrático, pôs as bases da grande potência em que se ia converter depois da guerra de Secessão.

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Crescimento demográfico e industrial. Ao longo do século XIX a população dos Estados Unidos cresceu extraordinariamente por causa de dois fatores, segundo Schoultz (2000):

- A constante chegada de imigrantes europeus, em sua maioria, jovens, procedentes, sobretudo da Grã-Bretanha, Irlanda e Alemanha.

- A alta taxa de natalidade.

A população passou de menos de quatro milhões de habitantes em 1790 a sete milhões em 1810, treze milhões em 1830 e quarenta milhões em 1870.

Os Estados Unidos experimentaram um forte crescimento econômico, sobretudo a partir da década de 1830. Isso se deveu a:

- A disponibilidade de uma mão de obra abundante e jovem.

- O desenvolvimento das inovações técnicas, especialmente na indústria têxtil e na navegação a vapor.

- A precoce aplicação dos métodos de divisão do trabalho e produção em cadeia nas fábricas.

- A indústria têxtil, beneficiada pelo aperfeiçoamento das máquinas, impulsionou a industrialização em um primeiro momento. Depois, a expansão das linhas férreas deu origem a uma poderosa indústria siderúrgica que cedo se transformou no motor do desenvolvimento econômico.

Expansão territorial. O presidente James Monroe (1758-1831) justificou a expansão no continente frente à presença das potências europeias com a chamada doutrina Monroe (1823), resumida na fórmula “América para os americanos”.

A democracia estadunidense. O partido federalista e o republicano se tornaram no poder até a eleição de Andrew Jackson (1767-1845), representante do novo partido democrata, como presidente (1829). Apoiado pelos pioneiros do Oeste, Jackson consolidou a democracia estadunidense com a introdução do sufrágio universal (1830).

Jackson ocupou a presidência durante dois mandatos seguidos, até 1837, mas a democracia jacksoniana, que permitiu a participação política de setores mais amplos da sociedade, foi continuada pelos posteriores presidentes, republicanos ou democratas.

A expansão para o Oeste, cujos colonos demandavam do Governo tarifas protecionistas para sua incipiente produção agrícolas, supôs uma ameaça para os estados escravistas do sul, partidários do livre comércio.

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O confronto entre os estados do Norte e do Oeste com os do Sul agravou-se pela denúncia que os primeiros fizeram do escravismo. Uma série de compromissos manteve o equilíbrio político até o estalo da guerra de Secessão.

Em contrapartida, a Rússia foi a grande rival dos Estados Unidos. Denomina-se império russo ao período entre 1721 e 1917 época em que a Rússia começa a conquistar e abranger grandes áreas do continente europeu asiático e inclusive a América do Norte. É um período cronológico do estado russo que começou em 1721 com a Declaração do Senado e que finalizou no ano 1917 com a Revolução Russa (BERTONHA, 2009).

O extenso império russo atingiu quase 23 milhões de quilômetros. Além da Rússia atual, abrangia a Bielorrússia, uma porção do reino da Polônia, toda a Cáucaso, Finlândia, quase toda a Ásia central e a parte oriental de Turquia, bem como o Alaska. Estava liderado por um imperador conhecido como “Czar”, que controlava a religião oficial, o cristianismo ortodoxo e cuja política era uma monarquia absoluta (BERTONHA, 2009).

O período em que se desenvolveu o império vai desde o ano 1721 até 1917, um poderoso império. À medida que os anos foram decorrendo passaram pelo trono de Czar diversas quantidades de personagens entre os quais se destacam Catarina I e Catarina II além de Pedro I conhecido como Pedro o grande (BERTONHA, 2009).

As classes sociais estavam muito estratificadas, formada pela nobreza, o clero, comerciantes, cossacos (população pertencente a um antigo povo nômade que se situava entre a Rússia e Ucrânia) e camponeses, os nativos da Ásia Central e Sibéria eram registrados como estrangeiros (BERTONHA, 2009).

O império russo atingiu uma extensão de 23 milhões de quilômetros quadrados e uma população que supera os cento vinte e cinco milhões de habitantes (BERTONHA, 2009).

O último governante foi Nicolas II, Czar que consumiu o império russo em guerras muito sangrentas em severas crises econômicas o que levou a queda do império e sendo assim Nicolas II o último governante dando termino ao império definitivamente com a revolução bolchevique (provocando a revolução russa) em outubro de 1917 (BERTONHA, 2009).

Em 1917 depois de vários fracassos, apareceram movimentos revolucionários marxistas, tendo o governo que desproteger a frente para deter aos

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insurgentes, o que foi aproveitado pelas forças germanas e avançaram rapidamente através de território Russo. Em 1917 depois da revolução de outubro o novo governo Bolchevique assina um tratado de paz com os alemães com o tratado de Brest-Rites pondo fim à participação russa na primeira guerra mundial (BERTONHA, 2009).

O que faz relação com algumas consequências importantes que deixou o império russo destacam o surgimento do socialismo, um novo sistema político, baseado no proposto por Marx com uma nova ideologia econômica, política e social que negava a propriedade privada e propunha as mesmas condições de vida para todos, além do surgimento da URSS (União de Repúblicas Socialistas Soviéticas), formada por Rússia. Estônia, Letônia, Lituânia também há que se considerar o surgimento do comunismo como um fato importante para o qual vem posteriormente para a história mundial (primeira guerra mundial) (BERTONHA, 2009).

2.2.3 A hegemonia e seu exercício

O conceito de hegemonia ocupa um lugar central nos debates teóricos e políticos contemporâneos e exerceu grande influência no desenvolvimento dos estudos culturais em diversas partes do mundo. O ponto de partida das discussões sobre hegemonia costuma localizar-se no trabalho do teórico italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Em seus Cadernos do cárcere e outros trabalhos, Gramsci propôs uma série de ferramentas conceituais para entender as formas históricas concretas em que se exerce a dominação por parte de certos grupos ou classes sobre outros, e os mecanismos políticos e culturais que dão sustento a essas formas (COUTINHO, 1981).

Hage (2004) define hegemonia como:

Hegemonia significa a representação dos atores e instituições mais articulados ou mais influentes na liderança de pactos e alianças; é um termo válido para determinar um número de partidos políticos. [...]. A ascensão de um país hegemônico é resultado do consentimento de um determinado grupo de Estados a favor daquele que consegue unir o maior número de categorias de poder, para que se faça valer sua aliança. (HAGE, 2004, p.42) O que buscava Gramsci era analisar a dialética entre coerção e consenso dentro desse processo e, ao mesmo tempo, superar as interpretações economicistas

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da história e a política ao introduzir de maneira central o papel da cultura dentro da análise da dominação (COUTINHO, 1981).

Gramsci levanta um entendimento da hegemonia como uma forma de dominação na qual a coerção e a violência não desaparecem, mas sim coexistem com formas de aceitação do poder e da dominação mais ou menos voluntárias ou consensuais por parte dos sujeitos subalternos (COUTINHO, 1981).

Para poder exercer a liderança política ou hegemonia Gramsci afirma que não se deve contar somente com o poder e a força material do governo, como também com a aceitação mais ou menos voluntária dos sujeitos dominados, aceitação que aparece crucialmente mediada pelas formas culturais de interação entre dominados e dominadores (COUTINHO, 1981).

Para Alves (2010) o conceito de hegemonia refere-se não só aos assuntos de poder político direto como também inclui, como um de seus elementos centrais, uma maneira particular de ver o mundo e a natureza e relações humanas.

Gramsci sugere que a hegemonia implica que os valores e visão do mundo das classes dominantes se transformam numa espécie de “sentido comum” compartilhado pelos grupos dominados, em virtude do qual terminam aceitando, ainda que não necessariamente justificando, o exercício do poder por parte dos grupos dominantes. Referido sentido comum é disseminado e adquirido através de um processo complexo no qual a educação, a religião e a cultura desempenham um papel fundamental (COUTINHO, 1981).

2.3 O PERCURSO POLÍTICO BRASILEIRO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL

Neste tópico, apresentam-se o percurso político brasileiro e as relações internacionais do Brasil no que tange a sua dependência internacional, o populismo e o autoritarismo.

2.3.1 A dependência internacional

O colonialismo é sem dúvida o aspecto mais característico das ultimas décadas do século XIX e primeira metade do século XX. Suas causas são muitas e complexas. Basicamente são as seguintes: a superpopulação, o excedente de

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capital, a busca de matérias primas e de mercados, o sentimento civilizador e o nacionalismo.

A razão do estancamento econômico do Terceiro Mundo se deve aos efeitos do colonialismo, pois exceto a China, todos os países deste Terceiro Mundo foram colônias europeias em alguma época. No entanto, países como os Estados Unidos e Canadá entre outros, (alguns dos mais ricos do mundo atualmente) pertenceram a Inglaterra até o século XVIII, pelo qual esta teoria se vê descartada.

Mas parece que a razão fundamental foi a retirada apressada e prematura que fizeram as potências coloniais de seus impérios nas décadas posteriores à II Guerra Mundial, pois nesta época se produziu uma total rejeição para o colonialismo, e se transformou em algo mau visto que só podia ser emendado com a concessão imediata da independência.

Também as metrópoles não conseguiram as vantagens econômicas que previam pelo qual as consequências deste processo não se tornaram positivas para nenhuma das duas partes, ainda que fossem menos ainda para as colônias, como sustenta o historiador (BRESSER-PEREIRA, 2006).

A República Velha é o período que vai desde a promulgação da República, em 1889, até a revolução de 1930. Com a promulgação da República, o Brasil mudou sua forma de governo, mas teve poucas mudanças concretas para a grande massa da população: continuou o poder em mãos dos proprietários de latifúndios, a economia seguia baseada na exportação de matéria prima (como o café), e se tornou comum a corrupção entre as elites. A República Velha, pode ser dividida em dois períodos, denominados, República da Espada e República do Café com Leite (VALENTE, 1992).

2.3.2 O populismo

O período conhecido como Período Populista, República Nova, República de 46 ou Segunda República Brasileira, inicia-se com a renuncia forçada do Presidente Getúlio Vargas, em outubro de 1945, pondo fim a Era Vargas, e termina com o golpe militar de 31 de março de 1964 (CARONE, 1976).

A industrialização no Brasil em perspectiva histórica, como resultado das duas guerras mundiais e do aparecimento de governantes que impulsionaram a indústria nascente com mão de ferro. Ressaltaram nessa tarefa Getúlio Vargas e

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Juscelino Kubitschek, construtores do Estado Novo e de Brasília, respectivamente (CARONE, 1976).

No século XIX, José Maria da Silva Paranhos, chanceler brasileiro que passou à história com o apelido de Barão de Rio Branco, disse que seu país estava “condenado a ser grande” (CARONE,1976).

Para Bambirra e Santos (apud BICHIR, 2012) diversos fenômenos que contribuíram para esse vaticínio, em torno de um fato substantivo: a industrialização do Brasil como consequência da II Revolução Industrial, da Primeira e Segunda Guerra Mundial, bem como da Crise de 1929.

O barulho das máquinas e o tráfego de homens trabalhando ocasionou no gigante carioca, igual a outros países da América Latina, a emergência do poder proletário e de agrupamentos políticos de esquerda e de extrema esquerda, bem como o arrebato de setores conservadores (fascistas) que buscaram varrer o movimento operário e os partidos socialistas e comunistas que ansiavam o poder.

Nesse processo histórico, a figura mais ressaltante foi a do presidente Getúlio Vargas, chamado o “construtor” e “modernizador” do Brasil, primeiro democrata e depois ditador-criador do Estado Novo, que governou durante 20 anos (1930-1945/1951-1954) para depois suicidar-se ao ver-se acurralados por seus rivais políticos, conquanto existam rumores de um possível assassinato. Tirou a própria vida, de acordo com alguns biógrafos que acessaram sua última carta, para ‘”ser parte da história” (HARVEY, 2004).

Isto foi o prelúdio ao golpe militar de 1964 do general Humberto Castelo Branco, que deu início a um período cinza na história do Brasil pelas perseguições e violações contra os direitos humanos, mas que tornou ser fundamental porque rompeu o espinhaço do velho esquema de “dominação populista” sentando bases legais e econômicas para o posterior “milagre brasileiro” (HARVEY, 2004).

Para Bambirra e Santos (apud BICHIR, 2012), a primeira metade do século XX no Brasil poderia dividir-se em duas grandes etapas:

1. A fase do processo democrático-burguês, caracterizado pelo desenvolvimento do nacionalismo populista e pela consolidação da burguesia industrial em desmedro da oligarquia.

2. A mudança na estrutura do sistema capitalista dependente, como consequência da Segunda Guerra Mundial, que ocasionou o final do nacionalismo

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populista frente à rearticulação de um novo pacto de poder da burguesia crioula com o imperialismo.

Ambas as fases se perfilaram sobre uma característica que acompanhou o Estado brasileiro desde sua formação no século XIX: seu caráter autoritário, primeiro com os imperadores surgidos depois da independência de Portugal, e depois com os políticos e militares que se instalaram nos palácios do Rio de Janeiro e de Brasília, segundo a época (BICHIR, 2012).

Como aparece a industrialização no Brasil. Os primeiros esboços daquele fenômeno deixaram-se ver em fins do século XIX, com a produção de artigos manufaturados de consumo em massa (calçado, têxteis, roupas e alimentos) a cargo de uma incipiente rede industrial que surgiu da ampliação de um mercado interno que se foi sacudindo das relações pré-capitalistas para amoldar-se a um capitalismo que separou a propriedade dos meios de produção da oferta livre da força de trabalho (DOWBOR, 1978).

Referido processo consolidou-se com a modernização do setor primário-exportador, depois do impulso da II Revolução Industrial (1850-1914) que fez possível a produção de máquinas para a construção de equipamentos e peças em grande escala (DOWBOR, 1978).

Aqui o movimento operário teve momentos expectantes. De 1917 a 1920 surgiu uma plataforma de luta operária de orientação anarquista que impulsionou uma grande greve geral em São Paulo (1917) e que se estendeu até o Rio de Janeiro. Inclusive, seus dirigentes supuseram que podiam derrubar o Estado opressor por meio de uma greve geral revolucionária planejada para 1918. Os setores conservadores reprimiram os operários, mas não puderam evitar a formação do Partido Comunista de Brasil (PCB) em 1922 (CARONE, 1989).

Bambirra e Santos (apud BICHIR, 2012) afirmam que o PCB, desde a incômoda clandestinidade à que foi submetido em várias oportunidades, cometeu erros estratégicos e táticos que evitaram sua projeção política nacional. Esta crise de estrutura e planejamento demoraria décadas em ser resolvida.

Em todo caso, a industrialização brasileira pôde avançar a tropicões até a década dos anos 50, entre protestos e mobilizações sociais que atolaram as iniciativas de modernização.

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Aqui a tradição autoritária brasileira teria sido decisiva para consolidar o processo industrializador nos anos sessenta, com a chegada dos militares ao poder, que desenvolveram uma aliança entre o setor estatal e o privado.

No entanto, dois presidentes civis, Vargas e Juscelino Kubitschek (1956-1961) executaram medidas substanciais em seus governos que contribuíram a decolagem industrial da terra brasileira (HARVEY, 2004).

O protetor da indústria. Vargas, advogado e ex-governador do Rio Grande do Sul, chegou ao poder em 1930 em tempos complicados pela crise econômica mundial e a consequente redução do preço do café, a principal riqueza exportadora de Brasil. A nível local, diversos níveis da sociedade carioca encontravam-se enfrentados pela influência do nazismo e do fascismo, sem esquecer o comunismo, que tinha calado nos âmbitos proletários e em setores da classe média (HARVEY, 2004).

Vargas refletiu a cultura política de entre - guerras, uma mistura variada de centralismo, nacionalismo e populismo, com ressonâncias próprias do fascismo sendo que foi uma figura ambígua, controvertida, como foram quase todos os autocratas modernizadores da América Latina. Mas pode dizer-se que, abaixo da superfície, todas as correntes políticas modernas brasileiras procedem dele (HAUSSEN, 2001).

Em 1934, superada a instabilidade externa e interna, Vargas pôs em andamento uma nova Constituição que ampliou o direito ao sufrágio aos trabalhadores rurais e às mulheres. Não obstante, essas mudanças não evitaram a ocorrência de distúrbios políticos: Vargas fechou o Congresso e iniciou um governo carismático-autoritário que durou até 1945 (HAUSSEN, 2001).

Nesse lapso o afã industrializador de Vargas não se deteve. Além de construir a primeira grande siderúrgica do Brasil em 1942, melhorou as leis sobre segurança social e educação, com impacto direto na massa trabalhadora e nos setores médios (HAUSSEN, 2001).

Um fato particular ocorreu ao final de seu mandato. Vargas foi forçado pela pressão popular a abandonar sua postura neutra na Segunda Guerra Mundial para apoiar os aliados (Estados Unidos, Grã-Bretanha, União Soviética e França) com o envio de 25.000 soldados que lutaram contra a expansão da Alemanha, Itália e Japão (HAUSSEN, 2001).

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O ressaltante de Vargas foram seus ânimos reformistas a favor da industrialização. Bambirra e Santos (1988) sustentam que “era um próspero latifundiário” e que assumiu a liderança da luta contra o poder oligárquico no Brasil, desenvolvendo em seus dois períodos governamentais uma política que correspondia aos interesses industriais (apud BICHIR, 2012).

Vargas aplicou uma política amplamente protecionista em benefício da indústria nacional e um plano econômico orientado à substituição de importações que se viu favorecido pela Grande Depressão de 1929. Tais medidas aumentaram o emprego e modernizaram a infraestrutura com obras de grande alcance, como poucas vezes se viu no Brasil. Ademais se buscou moralizar e racionalizar o serviço público (HAUSSEN, 2001).

Finalmente Bambirra e Santos (1988) assinalam que a industrialização brasileira foi possível graças a dois fatores essenciais: a estruturação de um mercado interno e a organização de um sistema produtivo industrial baseado no capitalismo (apud BICHIR, 2012).

2.3.3 O autoritarismo

Moore Jr. (1975) concebe um modelo analítico da política e do Estado onde os pontos de partida têm certa conexão com a modernização, entendida como sociedades de mercado, industrializadas e urbanizadas, em que pese à análise que incorpora poucas variáveis políticas, sua obra possui o mérito de, através da análise histórica e econômica, analisar o papel dos diversos atores comprometidos nos processos de modernização.

Os caminhos do mundo pré-capitalista ao moderno podem levar a soluções políticas diversas, dependendo da incorporação dos trabalhadores rurais à nova estrutura social capitalista, como da qualidade desta inserção na sociedade moderna. A forma adquirida por esta modernização determinará a natureza da ordem política. Em sua análise, a depender da combinação de alguns elementos, três rumos são possíveis: capitalismo com democracia, capitalismo autoritário e comunismo.

A denominação de revoluções burguesas é dada, pelos historiadores marxistas. Ao invés dos países que realizaram uma revolução popular, nos países que tomaram o rumo autoritário, a revolução foi feita a partir de cima e o Estado teve

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que racionalizar a ordem política, o que significou criar uma máquina militar poderosa, um governo centralizado e forte e eliminar as barreiras internas ao comércio (TAVARES E ASSIS, 1986).

Para cumprir com sucesso estas tarefas, o Estado teve que se separar da sociedade e adquirir uma forma conservadora, a fim de realizar o que os Estados Absolutistas já tinham executado em outros países: a racionalização e a ampliação da ordem política. Estes Estados realizaram o papel de produtor dos produtores - organizaram a produção, criaram a base fundamental para a expansão capitalista, como por exemplo, o caso de industrialização tardia do Japão, Alemanha e Itália (TAVARES E ASSIS, 1986).

O capitalismo penetrou na sociedade brasileira pelas mãos de um Estado forte e centralizado, e sua ação não foi controlada por atores políticos com o mesmo grau de organização e coesão. O Estado encontrou-se com uma burguesia industrial fraca e uma aristocracia fundadora muito presente, o que contribuiu para as vertentes autoritárias encontradas no país. As transformações ocorridas predominantemente desde cima esclarecem tanto o autoritarismo que tolera a ação política e a sociedade, quanto a ambiguidade do pensamento liberal no Brasil (TAVARES E ASSIS, 1986).

O Estado Novo (1937/1945) interferiu de forma decisiva na administração da economia e da vida política, estimulando um clima autoritário que excluiu a possibilidade de formação de um mercado partidário competitivo. Este período está marcado pelo afastamento da classe política, eliminação dos links intermediários entre o Chefe de Estado e as massas, pela personalização e concentração do poder num único homem: Getúlio Vargas. Os sindicatos sofreram intervenção e transformaram-se em entidades recreativas e assistenciais (CARONE, 1976).

Entendido como oposto às relações modernas que utilizam o mérito da competição, o clientelismo deveria ser reduzido ao mínimo durante o processo de modernização. Mas, no Brasil, os partidos políticos que emergem no processo de modernização política são meras transmutações dos clãs parentais em clãs eleitorais. É que apesar do desenvolvimento da democracia, a incorporação das massas ocorre, em alguns casos, por um processo ainda bastante semelhante ao clientelismo, como no caso paradigmático das máquinas políticas que construíram uma sólida estrutura partidária através da distribuição de favores (CARONE, 1976).

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Esta estrutura pode ser compreendida como sendo parte da mesma família do fenômeno clientelista, apesar de não ser exatamente o mesmo. A semelhança desta política com o clientelismo reside em que estas máquinas partidárias e/ou sindicais tiram benefícios econômicos de uma posição politicamente privilegiada, através de circunstâncias políticas que criam apropriações monopólicas de benefícios (CARONE, 1976).

Hagopian (1996) refuta as teses segundo as quais o desenvolvimento econômico ameaçaria as elites tradicionais e sustenta a hipótese da simbiose entre modernização e o clientelismo no Brasil.

No Brasil, a transição para a democracia exigiu processos de reforma política, econômica e social. No entanto, o impulso do projeto reformista foi impedido. Tais dificuldades podem ser atribuídas, em grande parte, a uma estratégia das elites comprometidas, que tentaram evitar ou bem reverter as reformas.

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3 A ORIGEM DA GUERRA FRIA

A Guerra Fria teve seu início ligado a acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e deixou mais evidente que tinha sérios problemas ideológicos envolvidos. Para Lohbauer (2005, p. 107-108):

A Guerra Fria começou a ter os primeiros sinais de sua consolidação nos últimos anos da II Guerra Mundial. No entanto, entre 1945 e a Guerra da Coréia, que durou de 1950 a 1953, a divisão ideológica entre as potências cada vez mais evidente. Isto aconteceu porque a União Soviética não conteve suas ambições em expandir seu sistema e influência mundo afora. E os Estados Unidos, do seu lado, decidiram manter uma posição mais intervencionista na Europa do que em princípio haviam planejado.

O expansionismo soviético no leste europeu e a presença norte-americana no ocidente criaram um mundo polarizado e vários fatores levaram a essa situação.

Fatores estruturais, de ordem geoestratégica, relativos à distribuição regional e internacional do poder, bem como fatores conjunturais, relativos às orientações de política externa, de economia política internacional e de política de defesa adotadas pelos estados, contribuíram para construir uma ordem internacional polarizada entre os EUA e a URSS. (ALBUQUERQUE, 2005, p. 43).

A guerra do mundo capitalista contra o socialismo foi uma disputa de poder ideológico, na época as superpotências procuraram mostrar qual era a mais poderosa em todos os fatores citados por Lohbauer (2005), mas outros autores e Magnoli (2004) tem uma visão mais ampla sobre esse conceito, eles acreditam que a Guerra Fria foi um equilíbrio de poder e mais uma forma de exercício de hegemonia das superpotências para manter suas áreas de influência. Não foi difícil para os dois países terem destaque no cenário internacional, principalmente após a Segunda Guerra, onde o nazismo enfraqueceu grandes potências europeias. Segundo Albuquerque (2005, p. 43):

Durante a II Guerra a Alemanha ocupou praticamente toda a Europa, destituindo as potências européias de qualquer relevância sistêmica. Com sua derrota ao final da guerra, o principal palco das relações internacionais, a Europa, tornou-se um vácuo de poder, ficando dividida entre a aliança anglo-americana e os soviéticos.

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Com o vácuo causado pela Alemanha no pós-guerra, a Europa passou por uma crise e dependia de auxilio externo para se recompor, porém não tinha mais um país com força suficiente para se equiparar aos Estados Unidos ou União Soviética se tratando de poder mundial.

A União Soviética tinha uma influencia muito grande no leste europeu, seu poder militar e de manipulação dos grupos comunistas da região auxiliaram na expansão de seu domínio.

Antes mesmo do fim da Segunda Guerra Mundial convenções entre os países vencedores já estavam sendo feitas para reorganizar o cenário internacional. Três conferências tiveram extrema importância para a época, Teerã, Yalta e Potsdam.

A Conferência de Teerã ocorreu na capital iraniana e foi o primeiro encontro para tratar da guerra entre os líderes Roosevelt, Churchill e Stalin.

No dia 26 de novembro de 1943 ocorria a primeira conferência conjunta dos aliados, em Teerã, na embaixada soviética.(...) Stalin volta a insistir na abertura de uma frente ativa na França. Churchill, preocupado com o sucesso da contra-ofensiva soviética e obcecado com a reconstrução da influência britânica no leste após a derrota do Eixo, propõe um desembarque anglo-americano nos Balcãs. (MAGNOLI, 1988, p. 15).

Foi durante esse encontro que os três países começaram a organizar a futura divisão da Alemanha e a ocupação de seus exércitos no território.

Dois anos depois ocorreu a Conferência de Yalta, a rendição alemã fez com que os países voltassem a se encontrar para resolver as questões ainda pendentes.

A Conferência de Yalta realizou-se em fevereiro de 1945, poucas semanas da rendição alemã. Nessa reunião histórica, reorganizaram-se as fronteiras soviéticas e foram estabelecidas as bases dos novos regimes políticos a serem implantados nos satélites nazistas e países ocupados pela Alemanha, na Europa centro-oriental. (MAGNOLI, 2004, p. 87).

Magnoli (2004) afirma que foi nesse encontro que a União Soviética recuperou parte de seu território e a partir do mesmo já era possível ver o início da futura bipolarização mundial e explica que com essa retomada territorial os soviéticos voltaram a ser soberanos nos países Bálticos.

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No mesmo ano aconteceu outra conferência. “Em julho, nos arredores da Berlim ocupada, os Três Grandes voltavam a se reunir na Conferência de Potsdam. No ponto principal da pauta estava o futuro da Alemanha.” (MAGNOLI, 1988, p.22)

Com a derrota, a Alemanha foi divida em quatro partes para ser administrada pelos vencedores e eles realizarem uma reorganização no território.

O centro das discussões foi a organização da administração da Alemanha derrotada. Decidiu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro zonas de ocupação militar administradas pelas potências vencedoras (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Soviética). Os ocupantes deveriam cumprir um programa de erradicação completa das estruturas nazistas e realizar reformas voltadas para a democratização da sociedade alemã. As medidas concernentes ao conjunto do território seriam tomadas em comum acordo. (MAGNOLI, 2004, p. 88).

Com a divisão dos territórios, a bipolarização começou a ficar mais clara. “O resultado prático de Postam foi o início do processo que dividiu a Europa em duas esferas de influência, o cenário que os líderes norte-americanos na época da guerra estavam mais determinados a evitar” (KISSINGER, 1994 apud LOHBAUER, 2005, p.102).

A partir dessas conferências a estruturação da Guerra Fria começou a ser formada e a tensão entre as duas superpotências da época só aumentou.

3.1 O CONTEXTO INTERNACIONAL DA GUERRA FRIA

A Guerra Fria foi caracterizada pelo enfrentamento das duas superpotências mundiais, os Estados Unidos e a União Soviética. Não houve conflito armado entre os dois países, porém o clima de tensão tomou conta do mundo e conflitos paralelos marcaram o cenário internacional. Segundo Albuquerque (2005, p. 43):

A Guerra Fria é o período compreendido entre o imediato pós-II Guerra e o desmoronamento do Império Soviético. É consenso caracterizar a Guerra Fria como um período inteiramente dominado pela polarização entre duas potências, os Estados Unidos e a União Soviética, cada uma exercendo a hegemonia sobre uma parte do mundo.

O mundo foi bipolarizado, de um lado capitalistas e do outro socialistas, cada superpotência exerceu sua hegemonia. Magnoli (1988, p. 14) afirma que “o

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clima de harmonia e concórdia que resultara do encontro dos Três Grandes na Criméia, o decantado ‘espírito de Yalta’, dissipava-se num ambiente carregado por pesadas acusações trocadas entre os antigos Aliados.”. O período pacífico pós Segunda Guerra Mundial não durou, pois as tensões da Guerra Fria tiveram origem logo após a antiga guerra.

A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica apocalíptica de ambos os lados, mas sobre tudo do lado americano, os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual, mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predominante influência – a zona ocupada pelo Exército Vermelho e/ou outras Forças Armadas comunistas no término da guerra – e não tentava ampliá-la com o uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte e oceanos, assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais. Em troca, não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética. (HOBSBAWM, 1995, p. 224).

O perigo iminente da guerra foi caracterizado pelo armamento nuclear de ambos os países e um enfrentamento direto representava grande risco para todo o planeta. Outro ponto importante para o não enfrentamento foi que nem a União Soviética e nem os Estados Unidos tiveram a intenção de expandir seus territórios através do poder militar, isso manteve a estabilidade durante um período de tempo.

3.1.1 O conceito da Guerra Fria e o equilíbrio de poder

A Guerra Fria esta diretamente ligada ao equilíbrio de poder. Duas nações com ideologias distintas se enfrentaram indiretamente durante anos e causaram tensões no âmbito universal, por essa falta de combate direto ela foi uma representação de estado de paz e guerra ao mesmo tempo. Para Magnoli (1988, p. 44) a “Guerra Fria foi a expressão cunhada para definir o paradoxo contido nessas relações entre Estados Unidos e União Soviética. Ela procura refletir uma situação de exclusão simultânea do estado de paz e do estado de guerra.”

A situação vivida durante essa época foi peculiar, pois nunca havia acontecido antes na história essa divisão tão demarcada e intensa do globo. As

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