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APLICABILIDADE DO RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO DOS ATIVOS BIOLÓGICOS DE UMA MADEIREIRA DA SERRA GAÚCHA

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V.6, N.1 (2016) – ISSN 2237-8472

APLICABILIDADE DO RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO

DOS ATIVOS BIOLÓGICOS DE UMA MADEIREIRA DA SERRA

GAÚCHA

Keli Fernanda de Marchi1 Suélen Cristine Ribeiro2 Itacir Alves da Silva3

Resumo: Com a globalização mundial do mercado financeiro tornou-se imprescindível à internacionalização das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil. Com este intuito o Conselho Federal de Contabilidade juntou-se a outras entidades e criaram o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC, com o intuito de convergir estas normas e aplicá-las no nosso país. Diante disso foram emitidos diversos pronunciamentos, por assuntos específicos. Neste contexto, o presente artigo tem como papel principal esclarecer os conhecimentos técnicos em relação a IAS 41 e o CPC 29, com o intuito de analisar a aplicabilidade do reconhecimento e mensuração dos ativos biológicos de uma Madeireira da Serra Gaúcha.

Palavras-chave: Ativos biológicos. Mensuração. Contabilidade. Normas Internacionais.

1 INTRODUÇÃO

Com a evolução do mercado financeiro e a facilidade de comunicação entre os povos, ocorreu uma crescente relação comercial entre as nações em todo o mundo. Por consequência, muitas empresas de grande potencial, abriram filiais em diversos países, entretanto com esta internacionalização entre as empresas, houve uma grande dificuldade na divulgação das informações contábeis, pois cada país possui a sua própria contabilidade. Diante disso, houve a necessidade de unificar a contabilidade entre os países, surgindo assim as Normas Internacionais de Contabilidade.

No Brasil as Normas Internacionais de Contabilidade foram implantadas através do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que trouxe mudanças significativas na forma de escriturar as contas contábeis, alterando assim as informações recebidas e geradas nas organizações contábeis. Entre as diversas áreas contábeis que tiveram suas demonstrações alteradas, destaca-se neste estudo a atividade agrícola que obteve um tratamento contábil exclusivo para os seus ativos biológicos, mensurando-os a valor justo, ou seja, a valor de mercado.

1 Acadêmica do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade da Serra Gaúcha. 2 Acadêmica do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade da Serra Gaúcha.

3 Mestre em Administração. Contador. Especialista em gestão empresarial. Professor no Curso de Graduação na FSG. Endereço eletrônico: itacir.silva@fsg.br.

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Sob essa perspectiva o estudo de caso abordado neste trabalho será sobre a aplicabilidade do reconhecimento e mensuração dos ativos biológicos, analisando qual o tratamento contábil dos ativos biológicos em uma madeireira da Serra Gaúcha? Com este propósito será analisado o CPC 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola, que define o “tratamento contábil, e as respectivas divulgações, relacionados aos ativos biológicos e aos produtos agrícolas.” (CPC 29, 2008, p. 1). Por conseguinte será comparado se os dados contábeis da madeireira estão de acordo com o CPC 29.

Em virtude destas adoções serem recentes, há muitas dúvidas na aplicabilidade destas normas na contabilidade e pouco domínio entre os profissionais da área. Sendo assim tornou-se imprescindível, o estudo desta pesquisa para compreender o conceito dos ativos biológicos, com o intuito de facilitar a análise e interpretação das informações contidas na contabilidade, levando em consideração o reconhecimento e mensuração dos ativos biológicos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica deste artigo dar-se-á através dos conceitos e normas contábeis relacionados aos ativos biológicos explorados nas atividades agrícolas das empresas rurais. Abordará a origem das Normas Internacionais de Contabilidade e como ocorreu à aplicabilidade das novas regras no Brasil e quais normatizam a contabilidade dos Ativos Biológicos.

2.1 Empresa Rural – Atividade Agrícola

A exploração da terra, através de cultivos ou criação de animais, é considerada de fato uma empresa rural, entretanto poucos reconhecem a agricultura como um negócio. Nesse sentido, Crepaldi (2009, p. 3), define que “Empresa rural é a unidade de produção em que são exercidas atividades que dizem respeito a culturas agrícolas, criação de gado ou culturas florestais, com a finalidade de obtenção de renda.”. Sob o mesmo ponto de vista, Marion (2010, p. 2), salienta que “empresas rurais são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo, por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas”.

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Dessas acepções, pode-se ressaltar que toda e qualquer atividade agrícola, independente do tamanho da propriedade rural é considerada uma empresa rural. Logo as empresas rurais, são classificadas de acordo com sua atividade agrícola, neste estudo será abordada à silvicultura, que em outras palavras refere-se à plantação de árvores para madeira, sendo assim classificada como “[..] atividade rural o cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercialização, consumo ou industrialização.”(Lei 9.430, de 1996, art.59).

Consequentemente as empresas rurais também necessitam de informações contábeis para a tomada de decisões, ou seja, precisam realizar a contabilidade das suas atividades agrícolas. Nesse sentido, ressalta-se que “Como qualquer empreendimento produtivo, a atividade florestal apresenta uma série de custos de produção como: preparo do solo, aquisição de mudas, insumos, plantio [...], os quais interferem nos retornos econômicos.” (PENTEADO JR, 2005). Portanto, é de suma importância à transparência das informações prestadas pelo empresário ao profissional da área contábil, pois se a comunicação entre ambos, não for clara o contador não conseguirá utilizar as normas contábeis que se enquadram com a real situação da empresa.

2.2 Normas Internacionais de Contabilidade

As Normas Internacionais de Contabilidade surgiram em 1973, na Europa através de uma instituição denominada International Accounting Standards Committee (Iasc), “[...] foi criada com o objetivo de formular e publicar de forma totalmente independente um novo padrão de normas contábeis internacionais que possa ser universalmente aceitado no mundo”. (AZEVEDO, 2011, p. 104). Neste sentido, Martins et al. (2013), comenta que “A linguagem contábil é universal, e, com a globalização dos negócios, tornou-se por demais importante para todos os países, não podendo mais ser praticada por cada um conforme seus próprios desejos.”

No entanto, com o passar dos anos, os órgãos reguladores das normas internacionais, foram se adequando conforme as necessidades que o mercado exigia. Sob este aspecto Benedicto, Leite e Padoveze (2012, p. 39), relatam que:

O Iasc emitia normas internacionais de contabilidade mais conhecidas como Normas Internacionais de Contabilidade – NIC’s (International Accounting Standards - IAS). A partir de abril de 2001, com a nova estrutura organizacional do Iasc, surge a Junta de Normas Internacionais de

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Contabilidade (International Accounting Standards Board - Iasb), órgão sucessor do Iasc na definição e emissão das normas internacionais de contabilidade, agora denominadas International Financial Reporting Standards (IFRS).

Com a evolução das normas internacionais, diversos países que almejam maior transparência e confiabilidade da contabilidade convergiram para IFRS. Logo, empresas que possuem filiais em outros países terão uma única forma de escriturar os lançamentos contábeis, pois auxiliara as organizações a “[...] reportar informações sobre a sua situação econômico-financeira para os seus diversos usuários internacionais (controladores e investidores) no processo de comunicação financeira” (BENEDICTO; LEITE; PADOVEZE, 2012, p. 4). Sendo assim, as demonstrações contábeis serão compreendidas em qualquer nação, através de leis internas que foram regulamentadas por cada nação.

2.3 Padronização das Normas Contábeis no Brasil

Com o intuito de padronizar a contabilidade Brasileira, com as normas internacionais de contabilidade (IFRS), em 2005 o Conselho Federal de Contabilidade se reuniu com algumas entidades brasileiras e implantaram o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), criado através da Resolução CFC nº 1.055/05. Conforme o artigo 3º do capitulo II do CPC:

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC) tem por objetivo o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Neste ínterim, foi criada a Lei 11.638/2007 que alterou a Lei 6.404/76 a lei das S.A, que estabeleceu o ajuste a valor presente de ativos e passivos, sendo esta “a grande mudança que propiciou condições para as convergências às normas internacionais de contabilidade.” (IUDÍCIBUS, 2010, p. 20). Logo após, foi criada a Lei 11.941/2009, com o intuito de formalizar as normais fiscais e contábeis, visando à transparência nas informações contidas nos relatórios financeiros das entidades públicas e privadas considerando o IFRS. Entre os CPCs divulgados, ressalta-se o CPC 29, o qual se relaciona ao tema estudado.

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2.4 CPC 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola

Em agosto de 2009, o CPC aprovou o Pronunciamento técnico CPC 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola, sendo elaborado a partir do International Accounting Standard 41 – Agriculture (IAS 41), divulgada pelo Iasb em dezembro de 2000, tendo como principio a mensuração pelo valor justo menos os custos de venda. Na opinião de Martins et al. (2013, p. 326), “[...] a mensuração dos ativos biológicos a valor justo captura de maneira mais apropriada as alterações econômicas no patrimonio das entidades que conduzem atividades agrícolas.” Sob este enfoque, o CPC 29 aborda o tratamento contábil dos ativos biológicos e dos produtos agrícolas, “aplicado para a produção agrícola, assim considerada aquela obtida no momento e no ponto de colheita dos produtos advindos dos ativos biológicos da entidade.” (CPC 29, 2009, p. 2).

Em vista disso, alguns termos utilizados neste CPC possuem definições próprias, possibilitando, assim uma melhor compreensão:

a) Atividade agrícola é o gerenciamento da transformação biológica e da colheita de ativos biológicos para a venda ou para a conversão em produtos agrícolas ou em ativos biológicos adicionais pela entidade; b) Produção agrícola é o produto colhido de ativo biológico da entidade; c) Ativo biológico é um animal e/ou uma planta, vivos;

d) Transformação biológica compreende o processo de crescimento, degeneração, produção e procriação que causam mudanças qualitativa e quantitativa no ativo biológico;

e) Despesa de venda são despesas incrementais diretamente atribuíveis à venda de ativo, exceto despesas financeiras e tributos sobre o lucro; f) Grupo de ativos biológicos é um conjunto de animais ou plantas vivos

semelhantes;

g) Colheita é a extração do produto de ativo biológico ou a cessação de vida desse ativo biológico.

Conforme o que descreve o CPC 29 (2009, p. 4), o “ativo biológico é um animal e/ou planta vivo”, ou seja, é tudo aquilo que dá origem a outro produto, como por exemplo, o cultivo de árvores para madeira é um ativo biológico e a madeira cortada é o

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produto agrícola. Neste contexto, a tabela a seguir menciona alguns exemplos de ativos biológicos e produtos agrícolas e os produtos que se originaram após a colheita.

Atividade Agrícola Produção Agrícola Produto Resultante

Plantação de árvores para madeira Árvore cortada Toras, madeira Serrada

Árvore Frutífera Fruta Colhida Fruta Processada

Carneiros Lã Fio, tapete

Gado de leite Leite Queijo

Seringueira Látex colhido Produto da borracha

Tabela 1: Ativos biológicos, Produto agrícola, Produtos resultantes do processamento após a colheita Fonte: CPC 29

Vale ressaltar que os produtos resultantes do ativo biológico, não são contabilizados no CPC 29, mesmo que “possa ser extensão lógica e natural da atividade agrícola, e os eventos possam ter similaridades.” (CPC 29, 2009, p. 2).

2.4.1 Valor Contábil e a Mensuração pelo Valor Justo

Este pronunciamento trata também do valor contábil que “é o montante pelo qual um ativo é reconhecido no balanço.” (CPC 29, 2009, p. 5). Contanto, o valor justo dos ativos biológicos, refere-se ao valor do ativo atualizado ao valor de venda. Sendo assim, mensurado o ativo biológico pelo valor justo, ou seja, valor que o mercado esta ofertando por determinado produto. Conforme o item 12 do CPC 29 (2009, p. 6) “o ativo deve ser mensurado ao valor justo menos a despesa de venda no momento do reconhecimento inicial e no final de cada período de competência [...]”, mas se não houver mercado para o ativo ofertado, o item 30 do CPC 29 (2009, p. 9), menciona que deve ser “[...] mensurado ao custo, menos qualquer depreciação e perda por irrecuperabilidade acumuladas.”

Uma vez, não havendo mercado para os ativos biológicos, as empresas utilizam-se do método do fluxo de caixa descontado, visto que no item B13 do CPC 46 – Mensuração do Valor Justo refere-se a “[...] uma ferramenta utilizada para relacionar valores futuros (por exemplo, valores ou fluxos de caixa) a um valor presente utilizando uma taxa de desconto.” (CPC 46, 2012, p.27). Nesse sentido Martins et al. (2013, p. 331), menciona que “Esse é o método utilizado, por exemplo, por grande parte das

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empresas de papel e celulose no Brasil em razão da inexistência de mercados ativos para árvores de eucalipto e pinus, principalmente nos primeiros anos de plantio.”

Após a sua mensuração pelo valor justo, o ativo biológico poderá sofrer perdas ou ganhos, os quais devem ser incluídos no resultado do exercício em que tiver origem. Para exemplificar na atividade florestal, como perda pode-se levar em conta a infestação de insetos na plantação, resultando em uma madeira sem qualidade para venda, como ganho destaca-se as técnicas utilizadas para obter alta qualidade e produtividade do produto para venda.

2.5 Exaustão

A exaustão dá-se origem através da exploração dos recursos naturais, extraídos do solo, como por exemplo, a exploração de minério e\ou florestal. Portanto, o ativo biológico em estudo por tratar-se de uma plantação de pinus, havendo a exploração da terra, gerando assim uma desvalorização do solo, ocorrendo desta forma a exaustão.

No entanto, a exaustão para fins contábeis é realizada por um método de calculo, conforme menciona Martins et al. (2013), “A exaustão objetiva distribuir o custo dos recursos naturais durante o período em que tais recursos são extraídos ou exauridos.”

Para cálculo do valor da cota de exaustão será observado o seguinte critério: apurar-se-á, inicialmente, o percentual que o volume dos recursos florestais utilizados ou a quantidade de árvores extraídas durante o período-base representa em relação ao volume ou à quantidade de árvores que no inicio do ano-base compunha a floresta; o percentual encontrado será aplicado sobre o valor da floresta registrado no Ativo, e o resultado será considerado como custo dos recursos florestais extraídos. (MARION, 2010, p.47)

Sendo assim, a exaustão é calculada de modo semelhante à depreciação e amortização, o que diferencia uma das outras é o bem pelo qual esta sendo calculado, no caso de depreciação refere-se à diminuição do bem do ativo imobilizado pelo seu uso, quanto à amortização é a perda de capital relacionado a marcas e patentes, softwares, neste sentido a exaustão trata-se dos ativos extraídos, portanto a exaustão tem a função de esgotar os recursos necessários para a produção. Para exemplificar o entendimento em função do cálculo da exaustão, Marion (2010, p. 48), salienta que:

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Para um reflorestamento que envolve 10.000 eucaliptos cujo custo da cultura formada é de $ 100.000 e há um total de quatro cortes previstos, a quota de exaustão será de 25% (100/4 cortes) por corte.

Vamos supor que na primeira colheita (em andamento) até o final do exercício social (ano-base) houve a colheita de 4.800 árvores. Qual será o custo dos recursos florestais extraídos?

Cálculo percentual das árvores extraídas = 4.800 árvores extraídas / 10.000 árvores que compõem a floresta = 0,48 -> 48%.

Cálculo de exaustão -> 48% extraídas x 25% exaustão x $ 100.000 = $ 12.000, custo dos eucaliptos extraídos.

A fundamentação teórica deste artigo foi de extrema importância para o esclarecimento dos conceitos relacionados aos ativos biológicos. Em vista disso, a análise de dados deste trabalho refere-se a uma madeireira que tem como ativo biológico a plantação de árvores de Pinus para o corte de madeira, tendo como produto agrícola a árvore cortada (toras), resultando assim na madeira serrada para venda.

3 METODOLOGIA

Para obter maior esclarecimento do tema abordado, utilizou-se um estudo de caso em uma madeireira da Serra Gaúcha, sendo analisado o tratamento contábil do ativo biológico. Sob este tema, Beuren (2009, p. 84) ressalta que “a pesquisa do tipo estudo de caso caracteriza-se principalmente pelo estudo concentrado de um único caso. Esse estudo é preferido pelos pesquisadores que desejam aprofundar seus conhecimentos a respeito de determinado caso especifico”. Corroborando com o mesmo pensamento Severino (2007, p. 121), afirma “pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo”.

Devido à limitação do conhecimento técnico, referente ao tratamento contábil dos ativos biológicos e da aplicabilidade das Normas Internacionais de Contabilidade foi desenvolvida uma pesquisa exploratória, tendo como propósito a obtenção de conhecimento sobre o tema abordado. GIL (2010, p. 27) esclarece que, “as pesquisas exploratórias têm como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a construir hipóteses.”.

No entanto, para a obtenção de informações fidedignas, foram analisadas planilhas de controle e as demonstrações contábeis do exercício de 2015 da empresa em questão, logo se trata de uma pesquisa documental. Este tipo de pesquisa é bastante

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utilizado na contabilidade, pois, todos os registros originam-se de documentos comprobatórios (BEUREN, 2009, p. 90). O método de coleta de dados foi realizado através uma entrevista com os responsáveis pela mensuração dos ativos biológicos, portanto, trata-se uma pesquisa qualitativa. Ainda na opinião de Beuren (2010, p. 92):

Na Contabilidade, é bastante comum o uso da abordagem qualitativa como tipologia de pesquisa. Cabe lembrar que, apesar da Contabilidade lidar intensamente com números, ela é uma ciência social, e não uma ciência exata como alguns poderiam pensar, o que justifica a relevância do uso da abordagem qualitativa.

Apresentada a metodologia, destaca-se a seguir a analise e coleta de dados.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Em observância ao CPC 29 que trata sobre Ativo Biológico e Produto Agrícola, destaca-se a importância do reconhecimento e mensuração ao valor justo, desde o período da plantação do ativo biológico até a colheita do produto agrícola. Neste contexto, o estudo de caso deste artigo foi aplicado em uma Madeireira da Serra Gaúcha, com sede em Caxias do Sul, tendo por objeto social a industrialização, comércio e exportação de madeiras, o reflorestamento e florestamento e demais atividades inerentes a exploração florestal. Constituindo-se por duas fazendas localizadas nos Campos de Cima da Serra as quais possuem uma área plantada em 31 de dezembro de 2015 de 2.502,02 hectares. Estando subdividas em lotes, sendo estes controlados e contabilizados por projetos, isto é, para cada plantio há um novo projeto.

Salienta-se que para discussão dos resultados foram analisadas as planilhas de controle e as demonstrações contábeis referentes ao exercício de 2015, juntamente com o laudo de estimativa de valor dos ativos biológicos da companhia em 31 de dezembro de 2015. Verificou-se que as demonstrações contábeis foram aprovadas por auditores independentes, os quais foram responsáveis pela adequada apresentação, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria, tendo como base os princípios e normas da legislação societária, de acordo com a resolução do CFC e as orientações emitidas pelo CPC.

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Com base nos documentos disponibilizados pela Madeireira referente aos ativos biológicos da companhia, foram realizadas as seguintes analises, as quais são expressas através das tabelas conforme seguem:

Fazenda Projeto Talhão Área de Efetivo Plantio Quant. de Árvores M³ por Árvore Total Desbastes e Corte Raso

Distribuição da Prognose por ano 2016 2028 2029 TOTAL Martin Rio Negro P-2000 55,78 - - - 1D-10 - - - - 14.019 0,47 6.584 2D-15 6.584 - - 6.584 22.424 1,05 23.528 CR-22 - 23.528 - 23.528 Isidoro Morro Alto P-2000 51,00 - - - 1D-10 - - - - 19.992 0,47 9.384 2D-15 9.384 - - 9.384 23.052 1,01 23.363 CR-22 - - 23.363 23.363

Quadro 2: Estimativa da prognose de produção dos ativos biológicos Fonte: Planilhas de controle da Madeireira

Os dados que constam nesta tabela são utilizados para realizar a prognose futura, ou seja, é um método que a empresa adotou para controlar a área de efetivo plantio, em que evidência a quantidade de Pinus cultivados e o tamanho da área abrangida por fazendas e projetos, estes nomeados pelo ano que foram plantados. Com esta prognose a empresa também acompanha o ano em que realizará o desbaste e o corte raso da planta, fazendo assim uma projeção futura da área cultivada. Através da prognose ela controla quando ocorrera o primeiro desbaste, sendo que este será realizado entre o décimo e o décimo primeiro ano, nesta intervenção serão retirados 50% das árvores. Posteriormente ocorrerá o segundo desbaste, realizado entre o décimo quarto e o décimo quinto ano, neste momento serão retirados 25% das árvores remanescentes e o corte raso será realizado entre o décimo oitavo e o vigésimo segundo ano. No entanto cabe salientar que a empresa só fará o corte raso, se houver um contrato de venda.

Em vista destes manejos citados anteriormente que são realizados pela Madeireira, foi criada uma tabela, com as informações obtidas pela planilha de Estimativa dos preços e Custos de manutenção, provisionando assim os tributos relacionados com a atividade da empresa, levando em consideração a prognose futura por projetos implantados até a formação da árvore no ponto de corte para comercialização.

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Estimativa dos Preços e Custos de Manutenção

Preços da tora em pé em R$ - Líquidos dos Tributos R$/M³

Classes Stéreo 2015 2014

1º. Desbaste 3,50 4,91 4,21

2º. Desbaste 10,00 13,09 13,09

Corte Raso 65,00 80,83 68,40

Preços Médios em 2014, Receita Total/Volume Total 46,12 Preços Médios em 2015, Receita Total/Volume Total 55,48

Variação do Preço Médio de 2014 para 2015 20,31%

Conversão Stéreo Para M³

1º. Desbaste 1,50

2º. Desbaste 1,40

Corte Raso 1,33

Tributos Incidentes - Descontados do Preço

PIS 0,65%

COFINS 3,00%

FUNRURAL 2,85%

TOTAL 6,50%

Estimativa dos Custos Anuais de Manutenção da Floresta

Despesas com Pessoal (800.000,00)

Benefícios a Empregados (15.000,00)

Outras Despesas Operacionais (300.000,00)

Total (1.115.000,00)

VPL (Desconta %aa ) 10,00%

Quadro 3: Estimativa dos preços, dos custos de manutenção e taxa de desconto. Fonte: Planilhas de controle da Madeireira

A apuração do valor justo dos ativos biológicos ocorre através da prognose futura, sendo este apurado pelo valor comercial a ser gerado em cada fase do projeto, para árvore em pé, excluídos os tributos incidentes, as despesas de administração e de manutenção. Além disso, no laudo é mencionado que a Madeireira utiliza-se a projeção do fluxo de caixa descontado levando em consideração as taxas de juros de longo prazo dos títulos do tesouro norte americano, devido as suas importações e exportações, e pela empresa acreditar que são taxas mais confiáveis que as brasileiras.

A empresa divulga em suas demonstrações contábeis somente o valor total dos ativos biológicos, ou seja, o valor justo no final em cada exercício. Uma vez que o

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Pinus, leva em torno de 20 anos para o seu desenvolvimento, se a empresa evidenciar o resultado apenas quando efetuar o corte raso geraria uma carga tributária muito elevada, impactando de forma negativa nas demonstrações contábeis. Também foi verificado que a empresa não evidencia em suas notas explicativas a quantidade de árvores plantadas por projeto, nem quando estarão prontos para serem cortadas.

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Em virtude dos fatos mencionados, na apresentação dos resultados, verificou-se que a Madeireira reconhece os seus ativos biológicos tendo por base a prognose futura, a qual é aplicada através de planilhas de controle, sendo assim uma forma confiável da mensuração, conforme está previsto no CPC 29. Por conseguinte, de acordo com o Pronunciamento, o valor justo corresponde ao preço que seria recebido pela venda de um ativo, por sua vez a empresa reconhece o valor justo através do fluxo de caixa descontando, utilizando uma taxa de juros especifica. No entanto esta taxa de juros é mencionada apenas nas planilhas de controle, surgindo assim uma proposta de melhoria em que a empresa evidencie esta taxa em suas notas explicativas. Em virtude, que esta informação nas notas explicativas auxiliaria na transparência das informações contidas nas demonstrações contábeis, caso houvesse interesse de outros investidores externos.

Acrescenta-se que a empresa mensura o valor justo correspondente ao valor gerado em cada fase dos projetos, excluídos os tributos e despesas incidentes, como também divulga os ganhos e perdas do período corrente em relação ao valor inicial do ativo biológico e do produto agrícola, como também os decorrentes da mudança do valor justo, menos a despesa de venda dos ativos biológicos. Portanto, a empresa mensura o valor justo e os ganhos e perdas, conforme as normas e procedimentos estabelecidos.

Salienta-se ainda que o item 40 do CPC 29 o qual está relacionado à divulgação de cada grupo de ativo biológico, distinguindo entre consumíveis e de produção ou entre maduros e imaturos, é opcional para a empresa, desse modo a empresa estudada não divulga tais informações separando entre maduros e imaturos. Neste sentido, com a proposta de intervenção a empresa poderia divulgar em nota explicativa, a quantidade de árvores em pé e arvores para a venda, tornando assim a sua demonstração genuína para os futuros investidores.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho realizado na Madeireira teve como objetivo principal compreender a forma que a empresa mensurava os seus ativos biológicos em cada etapa produtiva, verificando assim se os mesmos estavam sendo mensurados de acordo com as normas internacionais de contabilidade. Tendo em vista que para fundamentação teórica e a analise de dados do tema proposto verificou-se o CPC 29, que auxiliou para analisar as informações contidas nas demonstrações contábeis, podendo-se concluir que a empresa estudada utiliza-se de algumas informações divulgadas pelo CPC, dentre elas destaca-se o valor justo dos ativos biológicos, que por sua vez é evidenciado através do fluxo de caixa descontado, evidenciando tais informações em cada encerramento do exercício, assim a empresa reconhece os seus ativos em todas as fases do processo produtivo.

Outro aspecto importante utilizado pela empresa são as planilhas de controles adotadas para acompanhar a plantação por projeto, sendo que através destas planilhas são reconhecidos os custos e os gastos com o reflorestamento, identificando também quando ocorrerão os desbastes e o corte raso. Como também a quantidade de árvores plantadas e o seu desenvolvimento. No entanto a empresa não diferencia os seus ativos entre maduros e imaturos, não fazendo menção em suas notas explicativas, pois o CPC 29 não obriga a entidade a fazer esta menção, apenas motiva a realizar estes dados. Em suma, conclui-se que a empresa durante o seu exercício social é auditada por auditores independentes, os quais são responsáveis pelas informações contidas nas demonstrações contábeis, facilitando assim a aplicabilidade das Normas Internacionais, aplicados pelo CPC 29.

Salienta-se que durante o desenvolvimento do tema abordado, foram identificadas algumas restrições em relação ao objetivo proposto, dentre elas, destaca-se a falta de interesse por parte dos gestores para esclarecimentos das planilhas de controle dos ativos biológicos, outro fator que limitou a análise e interpretação dos resultados foi à falta de conhecimento sobre o assunto por parte dos profissionais da área contábil e pouca bibliografia sobre o tema. Sendo que entre as publicações encontradas muitas

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estavam desatualizadas em decorrência das inúmeras alterações que as leis e normas brasileiras sofreram nos últimos anos.

Entretanto o assunto abordado é de extrema importância para que as demonstrações contábeis estejam evidenciadas de forma correta em relação aos seus ativos biológicos. O presente artigo analisou apenas os ativos biológicos da Madeireira, porém a empresa estudada tem participações societárias em outras empresas, as quais não foram analisadas as demonstrações, tais companhias estão localizadas em outros estados brasileiros, sugere-se que para futuros trabalhos, seja feita uma analise de todas as unidades envolvidas com a entidade.

7 REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Osmar Reis. Comentários às novas regras contábeis brasileiras. 5. ed. São Paulo: IOB, 2010.

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Referências

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