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Refugiados e sua proteção: aspectos internacionais e nacionais

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

JOÃO LOURENÇO RODRIGUES BASSANI FERREIRA

REFUGIADOS E SUA PROTEÇÃO: ASPECTOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS

Ijuí (RS) 2017

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JOÃO LOURENÇO RODRIGUES BASSANI FERREIRA

REFUGIADOS E SUA PROTEÇÃO: ASPECTOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho à minha família, por ser a fonte de inspiração que levo para todas as atividades que faço, pelo apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que mesmo não estando presente me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi a enfrentar os obstáculos que a vida tem para os que se atrevem, e mesmo assim seguir em frente de cabeça erguida e continuar batalhando pelos meus objetivos.

Ao meu orientador Marcelo Loeblein dos Santos, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus colegas da UNIJUÍ, bem como aos camaradas do Exército Brasileiro, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“o mundo não será destruído pelo mal, mas por aqueles que os olham e não fazem nada.” Albert Einstein.

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O presente trabalho de conclusão de curso versa sobre as legislações internacionais que consagram o direito de toda pessoa vítima de perseguição que procura refúgio em outros países. Verifica-se quais são os direitos dos refugiados, conceituando os mesmo, além de reconstituir uma breve evolução histórica até atingir os patamares atuais, discorrendo sobre a promulgação da lei brasileira nº 9.474 de 1997, que trata do Estatuto dos Refugiados. Aborda questões pertinentes a respeito da proteção dos refugiados e das situações que os levaram ao ponto que estão. Por fim analisa como o CONARE trata o processamento dos pedidos de refúgio no Brasil.

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The present work of conclusion of course is about the international laws that enshrine the right of every person victim of persecution who seeks refuge in other countries. Verifies what the rights of the refugees, conceptualizing the same, and reconstitute a brief historical evolution until reaching The current levels, discussing the promulgation of Brazilian Law No. 9,474 of 1997, which deals with the Refugee Statute. It addresses pertinent questions regarding the protection of refugees and the situations that have brought them to the point they are. Finally, it analyzes how CONARE handles the processing of requests for refuge in Brazil.

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INTRODUÇÃO ...8

1 ASPECTOS ACERCA DO RESPEITO AOS REFUGIADOS ... 10

1.1 Evolução histórica e conceito de refugiado ... 10

1. 2 Crises Humanitárias ...17

1.3 Reassentamento dos povos refugiados ...18

2 O DIREITO INTERNACIONAL COMO FONTE PROTETIVA ... 22

2.1 Proteção dos Direitos Humanos pelos Estados... 22

2.2 O papel da Organização das Nações Unidas e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR ...28

2.3 Refugiados no Brasil e a colaboração da Caritas Arquidiocesanas ...33

3 REFUGIADOS NO BRASIL ... 38

3.1 Advento da Lei 9.474/97 e a criação do Comitê Nacional para refugiados – CONARE ... 38

3.2 A nova lei de Migração ...41

3.3 Perspectivas e realidade ...43

CONCLUSÃO... 51

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende abordar o estudo acerca das primeiras noções sobre os refugiados, a fim de efetuar uma investigação em busca pelo surgimento e o conceito de refugiado. Essa busca é necessária face aos diversos conflitos ao redor do mundo envolvendo ideologias e crenças religiosas que dividem as sociedades. Tais conflitos proporcionam como consequências, diversas violações aos direitos humanos fundamentais.

Tendo como objetivo da pesquisa estudar as legislações internacionais que consagram o direito de toda pessoa, vítima de perseguição que procura refúgio em outro país, verificar quais são os direitos dos refugiados, conceituando os mesmos, além de fazer uma breve evolução histórica, abordando sobre o problema que envolve o direito ao refúgio com as mais diversas situações envolvendo o Estado e os direitos humanos.

Para a realização deste trabalho será utilizado o método hipotético-dedutivo desenvolvido por meio de pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando as legislações, que tratam do direito dos refugiados, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo, revelar a importância de observar os direitos dos refugiados como sendo um direito que protege o cidadão que esta sofrendo perseguição ou constrangimento e por tal motivo, teve de abandonar seu país de origem, no intuito de reiniciar uma nova jornada e seguir a vida com dignidade.

Abordar-se-á no primeiro capítulo, sobre a importância dos tratados e convenções, para dirimir as consequências dos diversos conflitos ao longo da

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história, e demonstrar a vulnerabilidade que o cidadão é submetido diante desses episódios. Segue uma análise sobre a União das Nações Unidas e sua atuação na implantação e defesa dos direitos humanos bem como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados para a divulgação e defesa dos direitos dos refugiados em âmbito global.

No segundo capítulo serão abordados os aspectos envolvendo o Direito Internacional, atuando conjuntamente com o direito humanitário, bem como a contribuição da Organização das Nações Unidas e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR para o desenvolvimento de ações em prol da proteção desses direitos.

Por fim no terceiro capítulo será analisada, de forma mais profundada, a lei 9.474/97 conhecida como Estatuto dos Refugiados, seu conceito, princípios, procedimentos e técnicas de aplicação sobre a situação jurídica dos refugiados no Brasil. Bem como da chegada dos refugiados no país, quando aportam dos navios sem qualquer amparo estatal. Verificar o apoio fornecido pela Caritas Arquidiocesana dos estados, atuando conjuntamente com o Ministério da Justiça e demais órgãos do Governo Federal, na busca de melhores condições para os refugiados no Brasil.

Discorrer-se-á sobre o processo que o refugiado tem pela frente ao solicitar o refúgio junto a Policia Federal, na busca pelo reconhecimento, fator este que influência sobremaneira nas suas condições pessoais, sendo necessário para conseguir um lugar no mercado de trabalho e sua inserção na sociedade.

Versar sobre as atividades e os programas criados para a proteção dos direitos dos refugiados através da lei 9.474/97, bem como uma busca pela realidade desses refugiados, antes da sua partida do país de origem e após a sua chegada no Brasil. Para tanto, é necessário mencionar que as relações entre as pessoas mostram-se de suma importância para inserção desses indivíduos na sociedade, bem como para promover a solidariedade com o próximo.

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1 ASPECTOS ACERCA DO RESPEITO AOS REFUGIADOS

No presente capítulo pretende-se abordar a contextualização sobre o direito dos refugiados, e sua evolução histórica, tendo em vista a importância no enfrentamento às desigualdades, e o resultado que os conflitos em escala mundial têm piorado a situação dos refugiados, bem como sua enorme abrangência nas nações, com exposição da dignidade da pessoa humana. Sendo assim às violações a este instituto levam a restrição de direitos humanos básicos que encontram-se consagrados na Convenção de Genebra de 1951 e seu Protocolo Adicional de 1967, relativo ao direito dos refugiados, sendo estas orientações internacionais seguidas pelos Estados na defesa dos direitos humanos.

Os refugiados encontram proteção à luz do direito internacional. A todos é assegurado, com base na Declaração de 1948, o direito fundamental de não sofrer perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, participação em determinado grupo social ou opiniões políticas. Neste sentido a Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 e o Protocolo de 1967, surgem como sendo os principais documentos jurídicos internacionais que abrangem a proteção dos refugiados. O Brasil editou a lei nº 9.474 de 1997, disciplinando o Estatuto dos Refugiados e cria o Comitê Nacional para os Refugiados CONARE, órgão de deliberação coletiva que trata do procedimento de análise da solicitação de refúgio, bem como da proteção e apoio aos que forem considerados refugiados no país.

1.1 Evolução histórica e conceito de refugiado

Até o século XIX, muitos países não tratavam das questões de direitos de pessoas nacionais e de estrangeiros de forma diferenciada. Contudo existiam as perseguições, penas de exílio, violações de direitos que forçaram essas pessoas a fugirem dos locais que tinham como sua residência, para se protegerem dessas situações degradantes e que colocavam suas vidas em risco, na busca por um lugar onde lhes pudesse proporcionar segurança para levar uma vida digna.

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Com a Primeira Guerra Mundial ocorreram mudanças quanto a isso, com diversas restrições à liberdade e diferenças entre os cidadãos. Também teve início nesse contexto a formação do direito internacional dos refugiados, com o desenvolvimento na Liga das Nações.

Para melhor compreensão sobre a origem do regime de proteção aos refugiados é necessário um apanhado histórico geral, a respeito dos Tratados e Convenções, criadas no contexto internacional. A cronologia dos acontecimentos históricos acontece primeiramente com a criação da Liga das Nações em 1920.

Cristiano Hehr Garcia (2010, p. 17) aponta:

Em 10 de janeiro de 1920, entrou em vigor internacional o Pacto da Liga das Nações, órgão internacional que no seu preâmbulo já assinala o quão difícil seria a sua missão, pois almejava “entreter à luz do dia relações internacionais fundadas na justiça e na honra” comprometendo os seus Estados-parte a “assegurar e manter condições de trabalho equitativas e humanas” e isso não só em seus territórios domésticos mais em todo o mundo.

Nesse sentido Flávia Piovesan (2000) vai dizer que a Liga das Nações tinha o escopo de promover a cooperação, a segurança e a paz internacional, condenando as incursões externas, a integridade territorial e a independência política dos seus membros.

De acordo José H. Fischel Andrade (1952, p. 2) “A liga das Nações cria o Alto Comissariado para Refugiados Russos diante da desnacionalização de cerca de dois milhões de russos que deste modo, estavam dispersos pela Europa e pela Ásia”.

Em seguida à celebração do acordo para emissão de certificados de identidade para refugiados russos, no ano de 1922, esse acordo estende o direito aos certificados de identidade a refugiados armênios, vindo a defini -los, assim como aos refugiados russos.

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Conforme Alberto do Amaral Júnior e Claudia Perrone-Moisés (1999) no ano de 1930 ocorre o encerramento das atividades do Alto Comissariado para Refugiados Russos, após a morte de uma figura importante o Noroeguês Fridjot Nansen. Este foi o ponto de partida para a criação do Escritório Nansen para os Refugiados, que herdou e deu continuidade ao trabalho iniciado pelo Dr. Nansen em 1921, que cuidava de trabalhos assistenciais e proteção jurídica.

Dando continuidade aos acontecimentos históricos, é de se ressaltar que a influência da Segunda Guerra Mundial é determinante para o desenvolvimento do direito internacional dos refugiados.

Após a Primeira Guerra Mundial havia refugiados políticos e pessoas que “permaneciam sem lar, quando deixavam seu Estado tornavam-se apátridas: quando perdiam seus direitos humanos, perdiam todos os direitos - eram o refugo da terra”. (ARENDT apud SALES, 2013, p.17), essas pessoas encontravam-se em situação de completa falta de proteção estatal, por suas opiniões políticas ou de suas crenças religiosas.

Os apátridas são aqueles que não possuem nacionalidade e os deslocados são os indivíduos que se encontram deslocados de suas regiões, contudo sem terem atravessado as fronteiras do país.

Segundo Pietro de Jesus Lora Alarcón (2016) diante da falta de previsão legal a respeito da situação dos apátridas, impossibilitando sua locomoção por falta de documentos e indefinição quanto a sua real nacionalidade, que os apátridas, tiveram seus direitos assegurados pelo Estatuto dos Apátridas de 28 de setembro de 1954, que foi atualizado, em 1961, conforme artigo 1º da convenção de 1954 que conceitua o apátrida como a pessoa que não for considerada como nacional por qualquer país, a luz da legislação vigente.

De acordo com André de Carvalho Ramos, Gilberto Rodrigues Guilherme Assis de Almeida (2011) a ausência de normas internacionais reguladoras de direitos para pessoas que após fugirem de seu Estado residente buscam abrigo em

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outro Estado, fazia com que estas dependessem exclusivamente da generosidade do país acolhedor, caso contrário não seriam aceitos.

Na sequência do pós-guerra é registrado à celebração do Acordo sobre Medidas Provisórias em relação aos Refugiados e Deslocados, o estabelecimento da Comissão Preparatória para a Organização Internacional para Refugiados (OIR).

O ano de 1948 foi um marco histórico para a defesa e proteção dos direitos humanos, foi quando se deu o inicio das atividades da OIR e a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Com os diplomas de orientação em âmbito internacional relativo à proteção dos direitos humanos, os direitos dos refugiados foram se consolidando e tendo uma exponencial ampliação, e para isso em 1949 é criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, a Convenção de Genebra sobre Estatuto dos Refugiados em 1951 e posteriormente a Declaração de Cartagena em 1984.

As atrocidades praticadas ao longo de duas grandes guerras conduziram à comunidade internacional à consciência de que não poderia deixar de prestar assistência aos refugiados. Com o desenvolvimento do direito internacional verificou-se que os Estados devem ter total consciência e responsabilidade para conferir proteção internacional às pessoas que sofrem violações de direitos humanos.

Segundo Doglas Cesar Lucas (2016) os deslocamentos humanos, forçados ou não, diante os contornos, violências, nos mostra que o mundo continua sendo construído pelo ser humano, pelos limites impostos a sua mobilidade e pelo controle social dos seus contingentes. Essa mobilidade humana é motivada por questões étnicas, políticas, religiosas, guerras, catástrofes ambientais e fome, que ao longo do tempo reprogramam a vida em todas as formas.

Feita essa abordagem inicial, cabe mencionar a importância da proteção do direito dos refugiados, conforme artigo 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que indica o seguinte: “toda pessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países”.

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Faz-se necessário o entendimento sobre uma definição do que seria um refugiado, unindo a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967, refugiado é todo aquele que sofre fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, participação em determinado grupo social ou opiniões políticas, não podendo ou não querendo por isso valer-se da proteção de seu país de origem.

Para Piovesam (2001, p.45):

Refugiada é a pessoa que não só não seja respeitada pelo Estado ao qual pertence como também seja esse Estado quem a persiga ou não possa protegê-la quando ela estiver sendo perseguida. Essa é a suposição dramática que dá origem ao refúgio, fazendo com que a posição do solicitante de refúgio seja absolutamente distinta da do estrangeiro normal.

Todavia a Convenção de Genebra ao conceituar o refugiado restou com alguns vícios que mais tarde passaram a dificultar a ampliação dos direitos aos solicitantes de refúgio, o primeiro conceito tem caráter temporal, onde o refugiado seria aquele que sofreu coação antes de 1951, certamente se referindo aos atentados ocorridos nas primeira e segunda grande guerra.

Segundo Ramos, Rodrigues e Almeida (2011), com a Convenção de Genebra de 1951, sendo o primeiro tratado internacional que aborda a questão genérica do refugiado, seus direitos e deveres, pois anteriormente esse tema era tratado de forma isolada para grupos específicos. Os refugiados passaram a ter direito a receber documento de viagem, bem como motivos para levar a cessação da condição de refugiado. Contudo, era aplicável somente a fatos que deram origem antes do ano de 1951 e era faculdade dos Estados decidirem quais regiões seriam contempladas com esses direitos, ou seja, não seria tratado como um direito universal.

No mesmo entendimento o autor, aborda que em 1967, foi editado o Protocolo Adicional à Convenção sobre Refugiados, que suprimiu a limitação temporal da definição de refugiado constante originalmente da Convenção.

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Pode-se verificar que os diversos documentos elaborados com a intenção de proteger os refugiados possuem algumas variações na definição de refugiado dada pelo Estatuto dos Refugiados de 1951, é possível notar que em cada época existia uma determinada situação que balizava a definição de refugiado, ao longo dos tempos ela foi se aperfeiçoando.

Os dispositivos que particularmente estabelecem as garantias nos conflitos restam à proibição dos ataques aos civis, recrutamento forçado, torturas e execuções.

Segundo Cesar Augusto S. da Silva (2012) esses tratamentos desumanos oriundos das batalhas travadas entre rebeldes fazem com que pessoas não combatentes tornam-se alvos de ações degradantes, nestes casos geram a necessidade do deslocamento pelas populações por temerem cair na mão de seus algozes.

Nesse sentido cabe ampliar o conceito de refugiado, fazendo referência as Convenções da Organização da Unidade Africana de 1969 e a Declaração de Cartagena de 1984. A Convenção da Organização da Unidade Africana de 1969, em seu artigo 1º em complemento ao que está estabelecido na Convenção de 1951 e do Estatuto de 1967, conceitua refugiada como:

[...] qualquer pessoa que, receando com razão, ser perseguida em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontra fora do país da sua nacionalidade e não possa, ou em virtude daquele receio, não queira requerer a proteção daquele país; ou que, se não tiver nacionalidade e estiver fora do país da sua anterior residência habitual após aqueles acontecimentos, não possa ou, em virtude desse receio, não queira lá voltar.

Segundo Garcia (2007) o documento africano estendeu o conceito de refugiado às pessoas compelidas a cruzar fronteiras nacionais em razão de desastres causados pelo homem, independente da existência do temor de perseguição.

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Nas palavras do autor supracitado, agora fazendo referência aos latino-americanos, diante da experiência da afluência de refugiados na área centro-americana, recomenda-se que a definição de refugiados faça referência aos que tiveram de deixar seus países por sofrerem ameaças, contra sua segurança e liberdade, restringindo seu direito pela violência, agressões, sofrendo com conflitos internos, com a violação generalizada dos direitos humanos, ou por questões de perturbação de ordem pública. Conforme as conclusões do item três da Declaração de Cartagena de 1984 ampliando a definição de refugiado:

[...] a definição ou o conceito de refugiado recomendável para sua utilização na região é o que, além de conter os elementos da Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967, considere também como refugiados as pessoas que tenham fugido dos seus países porque a sua vida, segurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência generalizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública. Diante disso, pode-se verificar que a vida do refugiado é uma preocupação, para que mesmo em uma nação distante, seja considerada uma pessoa, com direitos assegurados, para que seja possível exerce-los de forma eficaz como todo e qualquer cidadão.

Menciona Alarcón (2016) a evolução da legislação no sentido de resguardar o direito dos refugiados em âmbito internacional, consolidou os Estatutos, Protocolos e Convenções relativos ao instituto, a partir deste fato é realizado no ano de 1984 o Colóquio de Cartagena, que ficou voltada a crise de direitos humanos que se apresentava na América Central, devido aos mais variados conflitos internos.

Neste sentido Lucas (2016, p.95) “as movimentações humanas dizem muito de como a vida é percebida e de como ela define os padrões de normalidade para um indivíduo poder fazer parte ou não de uma dada comunidade”.

Cada refugiado é produto de um Estado que viola ou não observa os direitos humanos sendo impossível conceber uma discussão sobre o direito internacional dos refugiados, desvinculada do direito internacional dos direitos humanos.

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1. 2 Crises Humanitárias

As crises humanitárias são o reflexo do enfraquecimento do Estado, resultando em crimes por parte dos grupos armados, demonstrando uma enorme capacidade para praticar violência ao próximo, sobretudo à violência contra populações inteiras de pessoas inocentes e desamparadas.

Segundo Silva (2012), o lado mais obscuro atualmente tem sido os atentados a dignidade sexual contra população civil, esta servindo para manter o controle social e desestabilização da base familiar com a violência generalizada, uma verdadeira tática militar utilizada pelos grupos armados.

Nesse sentido pode-se verificar que a vida humana é determinada no espaço como tal, não devendo pensar em reduzir estas condições, sendo que o homem esta separado dos demais seres vivos.

Dispõe Alarcón (2016) que “partindo dos chamados três graus do ser – a coisa, o animal e ser humano – é uma tarefa essencial para o direito impedir qualquer tentativa de colocar ou enquadrar este último em um dos graus do ser que não lhe corresponda”.

Neste contexto podemos nos deparar com as mais variadas violações de direitos humanos existentes. Em situação de guerra cada pessoa se torna alvo, informante ou suspeito de ir contra o regime dominante.

Aborda Silva (2012, p.24) que segundo os dados de 2003 e 2004 do ACNUR sobre a problemática da guerra civil na Colômbia:

[...] ataques generalizados à população civil, extorsões massivas, assassinatos e massacres de todo tipo. As consequências são catastróficas: existem cerca de 11 mil combatentes infantis, 3 a 4 milhões de deslocados internos e por volta de 250 mil colombianos nos países limítrofes, milhares de sequestrados, assassinatos seletivos e escravas sexuais.

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Diante disso Silva (2012) nos mostra que na Primeira Guerra Mundial, apesar do seu alto poder destrutivo somente 5% das vítimas eram civis. Já os conflitos dos anos 90 este quadro se inverteu sendo que a maioria de vítimas passa a ser civis inocentes, e somente 10% de combatentes.

Os civis tornam-se combustível para a guerra, tendo em vista que sua participação politica não é relevante para o conflito que hora se apresenta, não possuem filiação a grupos étnicos e nem mesmo são opositores do regime atual, somente estão tentando seguir suas vidas no local onde nasceram, constituíram sua família e almejam criar os filhos.

1.3 Reassentamento dos povos refugiados

O instituto do reassentamento é mais uma forma de garantia na proteção dos direitos humanos para os refugiados, sendo que para caracteriza-los deve-se observar fatos motivadores que atingem diretamente as pessoas.

Neste diapasão Silva (2012) vai dizer que a necessidade de proteção legal ou física, é uma característica essencial que deve ser vista, sendo que quando o país de destino não promove a necessária proteção ao individuo. Neste caso pode acontecer do país de destino não fazer parte dos protocolos e convenções e não aceitar refugiados, e ainda no caso de persistir o perigo no país de asilo, pode o refugiado sofrer ataques e perseguições, detenção arbitrária, e este não ter plenas condições de lhe assegurar a devida proteção.

Era o caso do Brasil afirma Julia Bertino Moreira (2005) que na década de 70 o país que apesar de ser signatário da Convenção de 1951, só acolhia refugiados oriundos da Europa, devido à reserva geográfica previsto nesse diploma internacional, sendo assim mesmo com grande fluxo de refugiados na América Latina, o Brasil somente concedia visto temporário com prazo máximo de 90 dias e os refugiados não europeus aguardavam para serem reassentados em outro país de asilo.

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Ocorrendo tais situações de necessidade de proteção o Alto Comissariado das Nações para Refugiados (ACNUR) promove reconhecimento do cidadão “sob mandato”, e procede com no encaminhamento do refugiado para outro país que tenha plenas condições de acolhimento.

Menciona Silva (2012), que o Brasil estabeleceu um acordo com o ACNUR no final do século XX, para propor um programa voltado para a defesa dos direitos humanos para refugiados, agora não mais com a reserva geográfica, sendo um reassentamento no qual qualquer país do Cone Sul, Argentina, Paraguai , Chile, Peru e Uruguai poderiam associar-se para receber refugiados oriundos de reassentamento.

Segundo Moreira (2005) desde 2001 o Brasil promove o reassentamento de refugiados, sendo que foram acolhidos 105 colombianos. E no ano de 2004, na celebração dos 20 anos da Declaração de Cartagena, o Brasil instituiu novo programa para reassentamento regional dos refugiados latinos, nesse sentido o programa foi criado como um ato de solidariedade entre os Estados pelo qual prestou-se apoio aos países que recebiam grande fluxo de refugiados oriundos da Colômbia.

Reforça José H Fischel de Andrade e Adriana Marcolini (2002) que o Brasil adota como nova iniciativa diante a promulgação da lei 9.474/97 o programa juntamente com o ACNUR planejando e coordenando a implantação de unidades de reassentamento em estados do país, elencando critérios como atividade econômica e origem étnica, sendo escolhidos os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, para sediar apoio imediato aos reassentamentos.

O ACNUR destaca uma preocupação quanto às crianças vítimas desses reassentamentos, sendo que procede com o reassentamento no sentido de unidade familiar, devendo na medida do possível seguir o interesse das crianças. Este reassentamento pode ter pela frente uma criança com traumas sérios, problemas de saúde, que sofreu violência psicológica, maus tratos, mutilações, diante desses casos mais sensíveis deve se buscar sempre o reassentamento da unidade familiar junta.

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Conforme Juliana Arantes Dominguez e Rosana Baeninger (2016) o ACNUR juntamente com Estados e sociedade civil atuam para realocar os refugiados que continuam sofrendo risco de vida nos países de asilo, sendo que o instituto do reassentamento é de suma importância para a defesa dos povos que estão sofrendo perseguição ou possuem fundado temor quanto ao risco de vida. Este instituto é promovido juntamente com a repatriação voluntária e reintegração social.

Para melhor transparência do tema pode-se dizer que o reassentamento deve ser buscado quando o refugiado não possui condições de adaptação em um determinado período, nem mesmo tem chances de permanência naquele país que lhe forneceu asilo, tendo em vista as disparidades no que tange a dificuldade com a cultura e demais aspectos locais.

Para Silva (2012) os refugiados sem perspectivas de integração local, em alguns casos sofrem discriminações ou são conduzidos a viverem em condições pouco favoráveis. Nesse sentido o ACNUR deve promover a integração local quando as circunstancias permitirem.

Segundo dados de março de 2016 do ACNUR, mais de um milhão e trezentos mil pessoas oriundas da Síria, Afeganistão e Iraque cruzaram fronteiras europeias. O ACNUR dispõe que a crise não se refere somente aos refugiados, mas sim a falta de solidariedade dos Estados da Europa, pelo motivo de que os países na figura de suas lideranças ainda estão com receio em receber os refugiados, deixando de lado um dos princípios mais caros dos direitos humanos em caráter internacional que é a solidariedade dos Estados, fazendo pouco caso da situação de urgência daquelas pessoas que se encontram desamparadas e vulneráveis, sendo que “anomalia tornou-se regra e o deslocamento e as atrocidades viram algo corriqueiro num mundo de realismo político cínico e conformista.” (Silva, 2012, p. 31).

Feita estas considerações a respeito da contextualização sobre o direito dos refugiados, os efeitos devastadores das crises humanitárias, bem como das necessidades em amenizar o deslocamento forçado dos povos refugiados, e o processo de reassentamento por parte dos órgãos internacionais, abordar-se-á no

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segundo capítulo de forma mais abrangente a força do direito internacional na defesa dos direitos dos refugiados, juntamente com a iniciativa dos Estados no fomento as prática de ações humanitárias e demonstrar-se-á a importância da Organização das Nações Unidas para a implementação de orientações que buscam salvaguardar os princípios da dignidade da pessoa humana e o direito dos refugiados em âmbito internacional.

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2 O DIREITO INTERNACIONAL COMO FONTE PROTETIVA

Neste capítulo abordar-se-á a atuação dos organismos internacionais em conjunto com os Estados no combate à desigualdade entre as pessoas, bem como a importância do direito internacional na promoção do princípio da solidariedade entre os Estados. Nesse sentido cabe mencionar o compromisso dos Estados de promover a proteção à vida, tendo como pressuposto a humanização dos direitos quando tratam da observância das convenções e acordos internacionais, apresentando-se de suma importância as ações de acolhimento dos refugiados, mas também de impor restrições as práticas que violam o bem estar social e prejudicam a convivência dos cidadãos.

2.1 Proteção dos Direitos Humanos pelos Estados

De fato o refúgio é resultado da violação de direitos individuais e sociais, mediante perseguições que acabam por tornar à convivência naquele país de origem, de maneira insuportável, com o perigo iminente de risco de vida e com a restrição de liberdade, ameaças e violência.

Para Alarcón (2016) o ser humano é merecedor de um algo a mais, (diz isso fazendo referência aos refugiados), no sentido de elevar a alto estima daquele cidadão que está sendo ameaçado, sob tortura psicológica e passando por uma certa crise existencial, devido sua situação fática de vulnerabilidade.

Em se tratando de refugiados, estes direitos estão sendo infringidos, ou seja, o indivíduo não esta sendo tratado como menciona o princípio da dignidade da pessoa humana, os preceitos de que o ser humano, não pode ser comparado com animais ou coisas, por fazer parte de um status insusceptível de rebaixamento quanto a sua concepção e sua finalidade na terra.

A Convenção de 1951 foi elaborada pensando nos fatos passados, ao término da Segunda Guerra Mundial e logo mais a Declaração de Cartagena que amplia o conceito de refugiado como sendo o deslocamento forçado o foco central do

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conceito, a vida e liberdade das pessoas é violada de forma injusta sendo que “a partir da realidade objetiva da violência generalizada e do conflito que ameaçam qualquer pessoa, independente de suas características individuais” ( Silva, 2012, p. 66).

Segundo Alarcón (2016) os Estados são responsáveis pela relação de cooperação entre os de menor potencial econômico, para o fomente ao respeito das desigualdades sociais, na defesa dos direitos humanos e liberdades individuais, para promover mecanismos de garantia e a proteção que qualificam a preocupação, de interesses fundamentais na comunidade mundial em conjunto com tais Estados.

Conforme menciona Maria Leila Sales (2013) que na África a população vítima da guerra civil é forçada nos anos 90 a abandonar tudo em uma tentativa de salvarem suas vidas, causando um grande deslocamento forçado, os civis naquela região tiveram de enfrentar conflitos locais ainda mais perversos, o resultado foi o aumento de vítimas mutiladas pelas minas terrestres que restaram espalhadas, e vítimas decorrentes dos combates.

Diante disso estes indivíduos, que estão na condição de refugiados, merecem todo o apoio possível, pois a situação em que se encontram, não pode ultrapassar as barreiras impostas por seus algozes, sendo que ao buscar uma saída, precisa de solidariedade dos Estados, para a possibilidade de reassentamento sob pena de perder o cidadão, e rebaixa-lo ao status de coisa, pela indiferença praticada contra um necessidade iminente do ser humano.

Ao passo que Sales (2013) define um refugiado por ser um indivíduo que teve de abandonar o seu país devido a um fundado temor de perseguição em virtude de problemas relativos à discriminação racial, de cunho religioso, opinião politica ou pertencer a um determinado grupo social, e que de certa forma não deseja mais voltar aquele país.

Essa definição é diferente do migrante que é a pessoa que se transfere de lugar, para outro lugar comum, região ou país. Refugiados e imigrantes apresentam pontos em comum, um deles e que ambos perdem a cidadania, em consequência,

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do acesso aos direitos civis, políticos e sociais no lugar em que chegam, somente podem contar com ajuda humanitária dos organismos internacionais.

Para Alárcon (2016) a concessão de asilo politico é uma discussão corriqueira que se confunde com o instituto do refúgio, no sentido da discricionariedade do Estado, ainda que a obtenção do instituto seja atendida ao requerente, cabe ressaltar o critério que deve ser pautado pela razoabilidade de proteção dos indivíduos injustamente perseguidos.

Conforme discussão trazida na Convenção sobre Asilo Diplomático em 1954 estabelece que todo Estado pode conceder asilo, porém não é obrigado. Neste caso resta claro a discricionariedade da concessão do asilo político, diferença primordial em relação ao instituto de concessão de refúgio.

Sustenta Alárcon (2016) que o asilo diplomático deve ser analisado com base nos princípios da razoabilidade e solidariedade, pois pode ser decidido como de forma a considerar a ordem moral ou política, ou seja, se a concessão do asilo politico impactar negativamente na relação entre os Estados, bem como, uma análise dos motivos que conduzem o requerimento, analisando o próprio instituto para a promoção da finalidade de proteger o cidadão.

Segundo Sales (2013) a diferença entre o instituto do refúgio para com o asilo é que o primeiro versa sobre direito à vida e o segundo é uma faculdade discricionária do Estado, ele decide de maneira soberana e não a que se falar em questionamento. O refúgio esta previsto nas Convenções de 1951 e o Protocolo de 1967, e está relacionado ao compromisso dos Estados em promover proteção à vida.

O princípio da solidariedade nos remete ao artigo 2º da Declaração sobre o Asilo Territorial de 1967 em que dispõe “quando um Estado encontrar dificuldades em conceder ou continuar concedendo asilo, os Estados, individual ou conjuntamente, ou através das Nações Unidas, deverão considerar em espírito de solidariedade internacional, medidas apropriadas para aliviar aquele Estado”.

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Cabe ressaltar que as nações que estão à margem da realidade do mundo moderno, que é o caso dos países africanos, com altos índices de desnutrição e problemas sociais.

Segundo estatísticas trazidas por Silva (2012) as regiões da África subsaariana concentram os piores índices do mundo, sendo que os problemas apresentados nessas regiões giram em torno da desnutrição, sendo mais de 70% em países como Somália, Congo e Burundi, convivendo com o mesmo percentual de pessoas com o vírus HIV, reservando as últimas colocações no Índice de Desenvolvimento Humano dos 173 países avaliados, 25 últimas posições são de países oriundos do continente africano.

Isso ocorre pela exploração daquela região ao longo de todos os tempos com os conflitos internos e disputas de poder entre os grupos armados. Sendo assim a África hoje é um continente de instabilidade política e econômica, com um Estado enfraquecido e sem condições de promover a paz social para a maioria de sua civilização.

O continente com maior número de refugiados é a África, com 9.145.000 pessoas em situação de refúgio. A Europa, que em 1990 acolhia no seu território apenas 5,3% dos refugiados do mundo, hoje possui 7.689.000 refugiados. A Ásia conta com 7.668.000 refugiados; a América do Norte com 1.335.400; a América Latina com 211.900 refugiados e mais de um milhão de deslocados internos. A Oceania, com 53.600 pessoas, acolhem o restante dos que tiveram que fugir dos seus países para salvar suas vidas e estão sob a proteção de diversos países ou do ACNUR. (SILVA, 2012, p. 68).

Cabe aos Estados assumir compromissos de prestar o apoio e proteção humanitária integral, combatendo os crimes de deslocamento forçado, bem como as diversas violações de direitos humanos, se incluindo neste contexto a fome, desastres ambientais e amparo as famílias, etc.

Para Alarcón (2016) é de suma importância o reconhecimento da pluralidade de pessoas, é dizer sim para a convivência de pessoas de diferentes crenças, nacionalidades, raças e credos, uma universalidade necessária e determinada ao reconhecimento do direito ao amparo do próximo, mesmo que seja uma pessoa

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“diferente” em características física, devendo ser orientado pelo princípio da tolerância, utilizando-se do texto constitucional claramente as garantias para promover o bem de todos, sem preconceitos ou discriminações.

Ao se instaurar estes conflitos, ocorre à violação dos direitos humanos, fato em que recai sobre a vida da civilização, desta feita promove uma problemática intensa sobre fatores na qual envolve divergência entre religião, situação econômica desfavorável, problemas sociais, bem como disputas étnicas, ataques sucessivos a população, utilizando meios cada vez mais letais, como por exemplo: as armas químicas, homens bomba, ataques suicidas e atentados terroristas.

Contribui Sales (2013) no sentido de que no último século os conflitos mundiais aumentaram em suas proporções, demonstrando um cenário de instabilidade entre os Estados, e gerando milhares de deslocados pelo mundo. Esses fatos levaram a preocupação na mudança das limitações geográficas da Convenção de 1951, estas mudanças seriam para se postular no sentido de permitir a qualquer país que acolhesse os refugiados de qualquer nacionalidade.

Contudo os mais diversos conflitos civis internos na América Central nos anos 70 e 80 levaram a necessidade da elaboração de uma nova Declaração, mais tarde seria promovida a Declaração de Cartagena que versa sobre a proteção dos direitos humanos em situações de disputas armadas e o caso dos deslocados por meio de coação da liberdade em seus países de origem.

Para Alarcón (2016) os conflitos da Colômbia ocorridos nos anos 80 equivalem aos enfrentados pelas Nações Africanas, sendo que para estes casos é necessário atuação dos Estados, buscando soluções politicas aos conflitos evitando de certa forma promover mais violência.

Acrescenta Sales (2013) que o conflito na Guatemala nos anos 80, por sua vez, foi de grande repercussão, como conflitos envolvendo ditadura do governo e grupos rebeldes, estes conflitos abateram povoados indígenas e promoveram a migração interna de cerca de um milhões de civis. O Chile naquele período passou a

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enfrentar a ditadura militar, veio a praticar restrição de direitos, provocando grandes deslocamentos forçados pela população para outros países da América Central.

Não distante deste pensamento, tem-se ocorridos no Brasil, na época da ditadura militar, onde foi promovida diversas violações de direitos, e praticados atos contra a dignidade da pessoa humana. E que sobre essa direção o Brasil mesmo aderindo à Convenção de 1951 e posteriormente o Protocolo de 1967 não modificou o conceito geográfico de refugiado, sendo assim aceitando somente refugiados europeus, todavia essa situação foi sendo mais difundida nos anos 80 e o Brasil passa a manifestar interesse em acolher refugiados de outras nacionalidades, mesmo com a reserva temporal e geográfica contida em decreto brasileiro.

Cabe ressaltar que em âmbito mundial, a repercussão que os deslocamentos forçados demonstram em números, conforme dados do ACNUR de 2012, a autora (SALES, 2013, p. 82) nos mostra um gráfico que em simples análise demonstra que são aproximadamente 10,4 milhões de refugiados, 900 mil solicitantes de refúgio, 15,4 milhões deslocados internos, 3,4 milhões de apátridas e mais de 1 milhão em outras situações. Sendo que a maioria advém da África (13 milhões) e Ásia (14,5 milhões).

Para Alarcón (2016) à humanização do direito internacional na defesa dos direitos humanos, sendo que a aplicação das normas internacionais deve ser aplicada no sentido de permitir e promover ações voltadas à ampliação dos direitos humanos, impor restrições e proibições de atividades prejudiciais à comunidade internacional, bem como fiel aplicação naqueles Estados que estão tomados pela crueldade dos conflitos armados. Sendo assim a Conferência Mundial de Direitos Humanos apontou que as violações de direitos, e um dos diversos fatores que levam ao deslocamento forçado das pessoas, sendo que a crise dos refugiados deve ser tratada juntamente com o espirito de solidariedade. Sendo que cabe aos Estados compartilhar as responsabilidades, coordenar atividades e promover maior cooperação com os Estados atingidos.

Neste contexto, devido ao aumento dos conflitos em âmbito internacional que promovem a intolerância com o próximo, principalmente quando este se mostra em

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condição de fragilidade. Percebe-se que os Estados devem promover as ações na manutenção dos direitos humanos no sentido de que este desafio seja superado em acolhida aos povos mais afetados.

Conforme prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis, é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Artigo 1º Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Discorre Alarcón (2016) que o dever jurídico dos Estados praticarem a solidariedade é reconhecido em dispositivos constitucionais, que mostra o interesse em manter o equilíbrio social, no intuito de ajudar o próximo e dividi r os encargos para o Estado que por ventura venha a receber uma grande movimentação de refugiados oriundos dos conflitos mundiais.

O princípio da solidariedade dos Estados se faz necessário no combate à violação de direitos, pelo fato de quase 35 milhões de pessoas em 2012 estarem passando por necessidades relativo aos deslocamentos forçados, como mostrado anteriormente, surgindo nos países por meio de barcos, navios, aeroportos, atravessando fronteiras na busca por uma saída e um recomeço.

2.2 O papel da Organização das Nações Unidas e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR

A Organização das Nações Unidas tem relevante papel no busca pela igualdade e fraternidade, respeito à dignidade da pessoa, sendo que o ponto de partida surge após os acontecimentos de 1945, na Segunda Guerra Mundial.

Ao passo que os direitos humanos tinham de ser mantidos, e buscando uma maior abrangência pelo respeito à dignidade da pessoa humana.

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Segundo Fábio Konder Comparato (2006, p. 210) “as Nações Unidas nasceram com a vocação de se tornarem a organização da sociedade política mundial, à qual deveriam fazer parte todos os Estados e estes imbuídos na defesa da dignidade humana”.

Mesmo sendo este o pretexto para a implantação das Nações Unidas, esta fica com a responsabilidade de corresponder à altura dos interesses das sociedades para promover a defesa dos direitos humanos, pois ela surge do fracasso da Liga das Nações que ficou esvaziada com a não ratificação por parte dos Estados Unidos.

A criação das Nações Unidas surge como um novo propósito, segundo Garcia (2007, p. 51) “de conduta no encaminhamento das relações internacionais focando objetivos bem definidos, tais como o alcance da cooperação internacional no plano econômico, social e cultural, o alcance de um padrão internacional de saúde, a proteção ao meio ambiente”.

Para tal, a ONU que funciona como um agente de proteção dos direitos humanos, estruturado em diversos órgãos como o Conselho de Tutela e Secretariado, Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça (CIJ), Assembleia Geral e o Conselho Econômico e Social.

Cabe fazer menção à Corte Internacional de Justiça, que é o principal órgão da ONU, que conta com quinze juízes e através de seu Estatuto, tem prerrogativas consultivas e contenciosas, sendo que somente os Estados tem legitimidade para provocar sua jurisdição.

Com a assinatura da Carta das Nações Unidas em São Francisco, em 26 de junho de 1945, a comunidade internacional nela organizada se comprometeu desde então, a implementar o objetivo de promover e encorajar o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais de todos, sem qualquer tipo de distinção.

Contudo é criada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em suma o documento de notável reconhecimento na comunidade internacional. A inexistência

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de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos princípios da Declaração a transformou em uma plataforma ética a ser observada pelos Estados.

A DUDH veio para impulsionar a proteção aos refugiados, estabelecendo em seu artigo XIV, que “toda pessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar de asilo em outros países”.

Colaborando com o entendimento à autora Bruna Vieira de Paula (2010) dispõe que nos últimos tempos o direito internacional dos refugiados, bem como os direitos humanos e o direito internacional humanitário foram alvos de inúmeras violações, contudo tiveram de adaptar-se diante dos obstáculos apresentados e novas realidades impostas no cenário internacional. Devido a estes atentados contra as normas, é de suma importância fazer prevalecer os princípios do direito humanitário.

Neste diapasão, com a internacionalização dos direitos humanos fruto do direito humanitário, deve-se observar os direitos fundamentais que estão sendo respeitados, para fixar limites nos Estados, ainda mais nos casos de guerras, sendo que após a criação da ONU, os Estados que violassem os direitos humanos, sofreriam sanções econômicas e militares.

Segundo Sidney Guerra (2005, p. 164):

Hoje, não há povo civilizado que negue uma Carta de Direito e respectivo mecanismo de efetivação, o que, todavia, ainda não significa uma garantia de justiça concreta, porquanto esses direitos podem variar ao sabor do pensamento político ou filosófico informador de determinado Estado.

O objetivo da Declaração Universal de 1948 é traçar uma ordem pública mundial voltada à proteção e respeito da dignidade humana ao elencar princípios universais. Esses princípios pretendem ser o ponto forte da declaração. O princípio da universalidade da dignidade da pessoa humana representa um profundo avanço da sociedade diante as atrocidades do passado.

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Assim Piovesan (1997) comenta que as barbáries apresentadas nos conflitos armados, o totalitarismo, significou uma ruptura do paradigma dos direitos humanos, negando o valor da pessoa humana. Diante disso emerge a necessidade de reconstrução do paradigma ético que aproxima o direito da moral.

Conforme dispõe Liliana Lyra Jubilut e Silvia Menicucci. O. S Apolinário (2010, p. 278)

Diante do desafio, a sociedade internacional iniciou um processo de institucionalização, a fim de conferir proteção a estas pessoas – os refugiados e apátridas – por meio do estabelecimento do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e da adoção de tratados, tais como a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 sobre o status de refugiados, e as convenções de 1954 e 1961 sobre a apátrida. A Declaração Universal de Direitos Humanos (1948), documento matriz do sistema internacional universal de proteção da pessoa humana [...].

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados surge em 1950, criado pela Assembleia Geral da ONU e começou o funcionalismo de suas atividades no ano seguinte, tendo sua sede em Genebra.

Pode-se dizer que o direito dos refugiados está diretamente ligado aos direitos humanos e ao direito humanitário, sendo que é indiscutível no plano normativo, já que os problemas de um atingem a garantia dos direitos fundamentais, por se tratar de indivíduos que tem de fugir, deslocar-se e abandonar suas residências habituais, suas histórias, suas raízes, e passam a uma situação de que é preciso recomeçar do zero, ficando totalmente vulneráveis, longe de suas famílias e da sua comunidade.

Diante disso faz-se uma relação do direito humanitário com o direito dos refugiados, onde o direito humanitário age na proteção de indivíduos que se encontram em situação de guerra, de conflitos e lhes são assegurados os direitos fundamentais, muito embora não trate de forma especifica dos refugiados.

José Augusto Lindgren Alves (1994) vai dizer que o direito humanitário inclui em sentido amplo o direito dos refugiados, e tem por finalidade a proteção aos

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direitos fundamentais, se constituindo em um ramo do direito internacional dos direitos humanos.

O ACNUR tem um mandato de três anos para seu Comissário, que deve atuar de forma totalmente apolítica e desempenhando ações humanitárias. Deve procurar resolução dos problemas referente aos refugiados, juntamente com os Estados e instituições privadas, buscando a repatriação voluntária ou aceitação em novas nações. Sendo assim realiza duas funções essenciais: proteger os refugiados e buscar uma solução à situação de refúgio para o indivíduo.

Conforme Luciana Diniz Durães Pereira (2009), o ACNUR resolve as questões atinentes aos apátridas e os deslocados internos, pela relevância de seus serviços em prol dos refugiados, sobretudo pela constante de seu trabalho, e a necessidade dessa atuação diante a crescente crise dos refugiados no mundo.

Discorre o autor supracitado que o Alto Comissariado não possui verba própria para os programas e ações em que está inserido em prol dos refugiados, mantendo-se somente através de doações.

Diante a necessidade foi criado o Comitê Executivo para o ACNUR formado atualmente por setenta e seis Estados e possui competência para assessorar, aconselhar, discutir, propor e auxiliar o ACNUR.

De acordo com Pereira (2009, p.63):

Em mais de cinquenta anos de existência e trabalho, o ACNUR já cuidou de um número estimado de 50 milhões de pessoas, através do empenho de um número aproximado de 6.300 funcionários espalhados por todo o globo, sendo que mais de 80% destes trabalha em campo, ou seja, em ações de assistência e auxílio direto aos refugiados. Atualmente, encontram-se sob a proteção do Alto Comissariado 31,7 milhões de pessoas, incluindo refugiados e deslocados internos. Não integram esse número, porém, os 4,6 milhões de refugiados palestinos que estão sob o mandato da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos no Oriente Médio (ANURPOM).

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Percebe-se que é inevitável a convivência entre diferentes culturas no contexto da diversidade, a necessidade por igualdade entre os seres humanos nos remete a uma sociedade que enfrenta todo momento, o preconceito e o descaso com o outro. Restou necessário a morte de milhões para que a partir daí, abrissem os olhos para a proteção da vida.

Cabe mencionar que o direito internacional humanitário, busca promover a defesa dos não combatentes, que acabam por sofrer hostilidades, tentando distinguir critérios para o uso da força contra essas pessoas em conflitos internos, presentes os dispostos legais nas convenções e protocolos adicionais, em que devem as partes respeitar o acordo ali firmado para proteção da comunidade internacional.

Será também analisada a maneira com que são recebidos os refugiados no Brasil, sendo que apresenta-se como sendo um dos aparatos jurídicos mais completos no que tange ao acolhimento dos refugiados, todavia verifica-se que os órgãos públicos não conseguem suprir a demanda de necessidades dos solicitantes de refúgio, bem como não alcança a outra parcela de refugiados não regulamentados no país,

2.3 Refugiados no Brasil e a colaboração da Caritas Arquidiocesanas

No que tange ao Brasil pode-se dizer que o sistema jurídico brasileiro recepcionou grande parte das legislações internacionais, tratados e convenções, sendo um país bem ativo da Declaração Universal de Direitos do Homem de 1948 e os principais documentos relativos aos refugiados, como Estatuto dos Refugiados de 1951 e o seu Protocolo de 1967.

Neste sentido o Brasil está submetido à Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem, além de ter ratificado o Pacto de San José da Costa Rica de 1969, à jurisdição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Verifica-se que mesmo sem estar participando de guerras externas, vem ao longo do tempo se preocupando com a situação das pessoas que enfrentam esses tipos de conflitos em seus países de origem, estando com previsão legal através da

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ratificação dos instrumentos jurídicos internacionais vigentes. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores:

No Brasil, vivem atualmente mais de 8.800 refugiados de 79 diferentes nacionalidades, sendo as cinco maiores comunidades originárias, em ordem decrescente, de Síria, Angola, Colômbia, República Democrática do Congo e Palestina. A lei brasileira é mais abrangente que a Convenção de 1951, pois prevê também a concessão de refúgio em casos de grave e generalizada violação de direitos humanos. Parcela significativa daqueles que buscam refúgio no Brasil é originária de países vitimados por conflitos ou turbulências internas.

Segundo Silva (2012) cerca de 80% dos refugiados que vivem no Brasil hoje são oriundos da África, estes chegam pelos portos quando do atracar dos navios, isso ocorre pelo simples fato de quando partem em retirada no país de origem, onde estão sobre iminente risco de vida, embarcam em qualquer navio de forma clandestina sem ao menos saber qual será seu destino. Ficam por dias sem comer por estarem escondidos no navio, quando da chegada em terá firme já estão debilitados, desidratados e fragilizados pela falta de comida, necessitando de cuidados médicos.

Ao passo que no ano de 1977 o ACNUR providenciou a abertura de um escritório no Rio de Janeiro/RJ, mediante acordo com o governo, a partir deste ponto passou-se a receber uma quantidade significativa de refugiados oriundos dos países limítrofes da América Latina, onde fugiam de perseguições, violações de direitos humanos e intolerância praticada por seus governos. Através do ACNUR também foi feita intermediação para que o Brasil providencia-se o recebimento e apoio a refugiados oriundos dos conflitos no país do Vietnam nos anos 80, contudo estes refugiados tiveram caráter de residentes estrangeiros e não a concessão de refúgio propriamente dita.

Menciona o Silva (2012) que no o Brasil em 1986 providenciou o acolhimento de aproximadamente 50 famílias oriundas do Irã, que foram perseguidos por suas escolhas religiosas, contudo foram recebidos com base no Estatuto do Migrante, diferente do que prevê a legislação atual do Estatuto dos Refugiados. Já na década de 90, ocorrendo à mudança de governo no Brasil, foi amplamente aceito a figura do

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refugiado, recebendo cidadãos angolanos, liberianos, oriundos das guerras civis que assombraram seus países de origem, neste caso já vigorava o que previa as orientações da Convenção de 1951, com os direitos e garantias assegurados.

O projeto encaminhado ao Congresso Nacional em 1996 versava sobre o Estatuto jurídico dos refugiados, que fora elaborado pelo Ministério da Justiça e Relações Exteriores, juntamente com apoio do ACNUR, que após passar pelas exigências legislativas, recebe a promulgação pelo Presidente e é publicado no Diário Oficial da União, entrando em vigor 90 dias depois.

Menciona Alarcón (2016) que mais recente o Brasil tem atuado para fornecer refugio aos refugiados da Síria, por força da Resolução Normativa nº 17 emanada pelo CONARE em 2013, o país passou a receber refugiados oriundos da Síria, devido ao recrudescimento dos conflitos naquele país, a resolução facilitou aos refugiados sírios a emissão dos vistos que requererem o refúgio no Brasil.

Nesse sentido o direito dos refugiados aparece como de suma importância para evitar que pessoas continuem a deixar suas casas e famílias, fugindo de perseguições, sendo levadas a situações que coloquem as suas vidas em risco, bem como o deslocamento forçado, sendo vítimas de exploração e abandono.

Para isso o Estado deve intervir buscando proporcionar as condições necessárias à obtenção da qualidade de vida, proteção e segurança ao cidadão, bem como atuar em favor da solidariedade com os outros Estados para difundir compromissos públicos para efetivar os direitos fundamentais e inclusão social dos refugiados no que cabe a manutenção destes em seu território ou seu regresso com dignidade.

A Caritas Arquidiocesana busca a inclusão do refugiado, com a oferta dos mais variados incentivos de inclusão social. As aulas de português, dentro das instalações do caritas, a tentativa de encaminhamento ao mercado de trabalho, sendo que é feita uma avaliação da capacidade do individuo para verificar aonde se encaixaria em uma atuação profissional compatível, ainda com a parceri a firmada com diversos órgãos, dentre ele a Secretaria de Educação, para proceder com a

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equivalência de estudos para o ensino brasileiro ofertado ao refugiado, o convênio com a Defensoria Pública para viabilizar certidões de nascimento as famílias oriundas do refúgio, bem como a investigação de paternidade se for o caso.

Menciona Silva (2012) o surgimento de uma das unidades das Caritas Arquidiocesana espalhadas pelo Brasil, nesse sentido a Igreja Ortodoxa Armênia, localizada na cidade de São Paulo/SP sempre esteve atuando em conjunto com os órgãos públicos na defesa dos refugiados, desde o século XX, recebendo milhares de refugiados sobreviventes dos genocídios.

Para Sales (2013) devido à necessidade de acolher os refugiados que chegavam à cidade do Rio de Janeiro/RJ, tinham de se ter uma iniciativa para dar um lar mesmo que temporário para aquelas pessoas que encontravam-se desamparadas neste primeiro momento, para após esse primeiro contato com a cidade pudessem procurar alguma morada definitiva. A iniciativa veio através do Padre Moacyr Calza em Brás de Pina, no Rio de Janeiro em conjunto com o Caritas/RJ, sendo vinculado ao Ministério da Justiça, órgão este que repassa as verbas necessárias para manter o local em funcionamento com psicólogo, assistente social, professores e advogado.

As Caritas Arquidiocesana são entidades que tem por finalidade auxiliar os povos refugiados, e orientar quanto ao processo de regularização junto à polícia federal para que tenham a possibilidade de um recomeço com dignidade no Brasil. A importância de estabilizar o refugiado tem relação com sua reinserção social, pois o refugiado precisa desse amparo mesmo que básico, mas essencial para conseguir pensar em todo o resto que terá de correr atrás, como a regularização junto ao estado, busca por um emprego e tentar reconstruir aos poucos sua historia.

No mesmo sentido o autor, discorre a respeito do programa criado pelo Ministério da Saúde ao designar o Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro para proporcionar um atendimento médico com atenção especial à saúde dos refugiados, com questionários preliminares a respeito do seu estado de saúde, bem como utilização das vacinas e fazer a inclusão dos refugiados no Sistema Único de Saúde – SUS.

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Ao passo que os convênios e os apoios firmados entre as entidades para promover a integração dos refugiados, um exemplo é o SENAC para que estes tenham acesso aos cursos, porém é de se ressaltar a dificuldade que o refugiado tem de obter documentos para comprovar seu grau de escolaridade.

Desta forma verifica-se que o Brasil tem tradição no acolhimento dos refugiados mesmo que a manutenção deste acolhimento seja precária, nesse sentido será abordado, no último capítulo, o instituto jurídico do refúgio que é regulado pela lei 9.474/1997 que prevê o Estatuto dos Refugiados no Brasil, bem como concede a estes indivíduos direitos e deveres no país, trata do processo para a solicitação de refúgio, repudia a discriminação e aborda a diferença entre os demais estrangeiros.

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3 REFUGIADOS NO BRASIL

Neste capítulo abordar-se-á a maneira com que o Brasil procede com o encaminhamento dos pedidos de solicitação de refúgio, para aqueles indivíduos que vierem a requer proteção jurídica do Estado, diante sua situação de vulnerabilidade. O CONARE órgão responsável por esta análise e processamento, recebe os pedidos e da continuidade, orienta e coordena as ações necessárias para o fiel cumprimento na proteção dos refugiados e apoio jurídico no país.

Ressalta-se a importância do instituto do non refoulement hipótese em que nenhum refugiado será deportado para o país que deu origem ao fundado temor contra sua vida em virtude de discriminação, por raça, religião, grupo social ou opinião politica. Sendo que seu ingresso de forma ilegal no país não caracteriza impedimento para solicitação de refúgio, sendo que conforme estatísticas a maioria esmagadora dos refugiados entram no país de forma clandestina escondidos em navios e embarcações, empreendendo fuga das Nações que não os proporcionaram proteção adequada, restando fundado temor de perseguição não querendo mais regressar ao seu país de origem.

3.1 Advento da Lei 9.474/97 e a criação do Comitê Nacional para refugiados – CONARE

Em 1997, foi editada a lei nº 9.474 de 1997, disciplinando o Estatuto dos Refugiados no Brasil. Tal lei está em sintonia com a definição de refugiado prevista pela Declaração de Cartagena de 1984, sendo que o artigo 1º da lei brasileira define refugiado da seguinte forma:

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

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