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Justiça de paz frente à Constituição Federal de 1988

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RODRIGO PLACK FERREIRA

JUSTIÇA DE PAZ FRENTE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Três Passos (RS) 2018

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RODRIGO PLACK FERREIRA

JUSTIÇA DE PAZ FRENTE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientador: MSc. Carlos Guilherme Probst

Três Passos (RS) 2018

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“Quero dedicar esse momento à minha esposa Margarete, que me deu forças em todas as etapas desse trabalho, muitas vezes abrindo mão de algo para estar ao meu lado, a minha filha Vitória que é a razão da minha vida.”

(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente, por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.

A esta universidade, seu corpo, docente, direção, administração, conselho financeiro, que oportunizaram à janela que hoje vislumbro um horizonte superior, eivado pela acentuada confiança no mérito e ética aqui presentes.

Ao meu orientador, CARLOS GUILHERME PROBST, pelo suporte, em pouco tempo e quase descentralização do tema que lhe coube, correções, ajustes, pity’s, incentivos e objetividade estratégica.

A minha esposa (MARGARETE JAHN), e minha filha (VITÓRIA JAHN FERREIRA), pelo amor, estímulo e apoio inconstitucional.

Aos meus pais, avós, ascendentes e descendentes pela crença genealógica.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte de minha formação e caminho neste deserto carnal.

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“O princípio da democracia corrompe-se quando perde o espírito da igualdade.”

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RESUMO

O presente trabalho monográfico aborda o tema da justiça de paz a partir de um resgate histórico até os dias atuais. Além disso, analisa atribuições do juiz de paz, com enfoque na esfera familiar e trabalhista. Posteriormente avalia o posicionamento do STF a respeito do tema. E, por fim, aborda a omissão legislativa em relação ao assunto e suas consequências, tendo em vista que ainda não se realizou, até a presente data, eleição para justiça de paz em nenhuma unidade da federação no Brasil.

Palavras-chave: Justiça de Paz - Meio extrajudicial de solução de conflitos – Omissão legislativa

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ABSTRACT

This monographic work approaches the theme of the justice of peace from a historical rescue to the present day. In addition, it analyzes the attributions of the justice of the peace, focusing on the family and labor. Subsequently, it assesses the STF's position on the subject. Lastly, it addresses the legislative omission in relation to the subject and its consequences, given that no election to peace justice has yet been held in any unit of the federation in Brazil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 JUIZ DE PAZ ... 11

1.1 O juiz de paz e sua evolução histórica ... 11

1.2 Escolha/Regimes de atuação ... 14

1.3 O procedimento de escolha do Juiz de Paz ... 21

2 A JUSTIÇA DE PAZ FRENTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL ... 25

2.1 Juiz de paz na homologação das rescisões trabalhistas ... 25

2.2 O Juiz de Paz e a resolução de conflitos familiares através da conciliação e mediação ... 28

2.3 A justiça de acordo com o STF ... 33

2.4 Da Omissão Legislativa para implementação da Justiça de Paz no Brasil ... 36

CONCLUSÃO ... 42

REFERÊNCIAS ... 47

(9)

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é o chamamento sobre a regulamentação da Justiça de Paz, tanto no quesito de competência, atuação, especificidades e atribuições, como no formato importantíssimo desta atividade e da sua evolução histórica aos períodos contemporâneos e, por conseguinte, suas conexões e formas de resoluções de conflitos mais céleres presentes em nosso ordenamento jurídico.

Pretende-se verificar a importância que assume a Justiça de paz, para compreender se realmente é um instrumento que visa à pacificação social, uma vez que com os precedentes recém-aprimorados e inclusos do novo CPC, e, também da reforma trabalhista, onde percebe-se uma justiça restaurativa por meio de conciliação, arbitragem e mediação, obedecendo, ainda, ao princípio da economicidade aos cofres públicos.

Destaca-se que esta pesquisa tem como metodologia o tipo exploratório utilizando no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Quanto à realização, utiliza-se o método de abordagem hipotético-dedutivo, para melhor compreender o tema e sua importância jurídico-social.

Neste trabalho monográfico evidencia-se, a partir da ótica não valorativa dos princípios objetivos do modelo de Estado, a descrença jurisdicional do direito contemporâneo, tanto, pela ineficiência da máquina pública, quanto pela lentidão, falta de servidores e o crescimento expressivo de processos remetidos à análise judicial. A utilização da Justiça de Paz pode propiciar, de certa forma, economia processual, pois por meio das composições poderá quebrar um paradigma processual e agilizar a solução de conflitos.

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O presente trabalho será desenvolvido em dois capítulos. No primeiro, mais precisamente na sessão 1.1, será abordado sobre o Juiz de Paz, assinalando quando houve a sua institucionalização e sua introdução no ordenamento jurídico nacional. Já na sessão 1.2 será tratado sobre a sua escolha e regimes de atuação, e a partir disso, demostrar-se-á, na sessão 1.2.1, de que forma ocorre o procedimento de escolha do Juiz de Paz.

Apresenta-se, também, aspectos constitucionais, uma vez que a Constituição Federal (CF) estabelece algumas atribuições ao Juiz de Paz em seu artigo 98 inciso II, dentre elas, atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação, o que será explanado no capítulo segundo.

Neste contexto, na sessão 2.1 abordar-se-á a questão da homologação da rescisão do contrato de trabalho realizada pelo Juiz de Paz, a qual era prevista na legislação infraconstitucional, ou seja, no artigo 477, parágrafo terceiro, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), revogada com a reforma trabalhista realizada no ano de 2017, através da Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017.

Já na sessão 2.2 objetiva-se tratar acerca conciliação e a mediação como possíveis formas de atribuições conciliatórias do Juiz de Paz na resolução de conflitos, podendo estas serem regulamentadas por lei estadual, efetivando o preceito constitucional acima citado, sendo que neste tópico será dado enfoque nas demandas relacionadas a desentendimentos familiares.

Observa-se que a CF prevê ainda que no art. 98, II que a União, o Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos, diante disso, será analisado no tópico 2.3 de que forma o STF definiu alguns contornos para a implementação da justiça de paz no Brasil.

Por fim, analisa-se a ocorrência das omissões de diversos órgãos do Legislativo e do Judiciário da União e dos Estados para demonstrar que isso pode inviabilizar a efetividade do comando constitucional em comento, ou seja, a realização de eleições para os cargos de juiz de paz e, consequentemente, a instituição do juiz de paz no país de acordo com a vontade do poder constituinte originário.

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1 JUIZ DE PAZ

Neste capítulo aborda-se sobre o Juiz de Paz, assinalando quando houve a sua institucionalização e sua introdução no ordenamento jurídico nacional, bem como se descreve a evolução dos regimes de escolha daqueles que iriam exercer a função.

Ainda, neste mesmo capítulo, estuda-se os regimes de escolha e de atuação do Juiz de Paz, lembrando que a Constituição da República Federativa do Brasil, menciona sobre o juiz de paz no artigo 14, §3ª, VI, “c” evidenciando-se sua importância para a sociedade, embora muitos desconheçam, ou não tenham a informação sobre como ocorre sua escolha e atuação.

1.1 O Juiz de Paz e sua evolução histórica

A legislação brasileira herdada de Portugal, não poderia ser diferente. Obviamente que o Brasil Imperial era colônia da Corte lusitana e havia herdado, além de seus costumes suas fontes e tradições, um modelo de organização judiciária baseada nas leis e regulamentos das Ordenações Filipinas que precisa ser revista, pois “A “barbárie” das leis herdadas de Portugal, consubstanciada nos horrores do Livro V das ordenações, a chicana, a venalidade e o arbítrio das práticas jurídicas conformam o objeto das críticas reformistas, segundo Tomas Flory (1981, p.63).

No decorrer da evolução histórica da legislação brasileira que visava melhorar a estrutura jurídica e disciplinar aspectos processuais menciona-se o Código Criminal, promulgado em 16 de dezembro de 1830, e o Código do Processo Criminal, tornado lei em 29 de novembro de 1832, porém, é a Lei de 15 de outubro de 1827, que apresenta a figura do juiz de paz eletivo em todas as freguesias e capelas filiais, naquela época (FLORY, 1981).

Neste sentido, Ivan de Andrade Vellasco (2003, p. 4) baseado na obra de Thomas Flory “El

juez de paz y el jurado en el Brasil imperial, 1808 –1871. México reeditada em 1986, relata que:

A criação do juizado de paz marcava uma mudança importante na configuração do poder judiciário e criava um personagem que marcaria toda a década seguinte, alterando profundamente o cotidiano da justiça. Com atribuições administrativas, policiais e judiciais, o juiz de paz, eleito, acumulava amplos poderes, até então distribuídos por diferentes autoridades (juízes ordinários, almotacés, juízes de

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vintena) ou reservados aos juízes letrados (tais como julgamento de pequenas demandas, feitura do corpo de delito, formação de culpa, prisão etc.), que passavam então a ter de compartilhá-los com esse intruso personagem. O exercício do juiz de paz envolvia a justiça conciliatória e o julgamento de causas cujo valor e/ou a pena não ultrapassasse certo limite, a imposição do termo de bem viver, a manutenção da ordem pública e emprego da força pública, vigiar o cumprimento das posturas municipais, a condução das eleições, enfim, funções administrativas, judiciais e policiais as mais amplas.

Verifica-se, assim quea Justiça de Paz fora introduzida em nosso ordenamento civil brasileiro em 1827, após a independência e com a promulgação da Constituição de 1824 e provavelmente nenhum cidadão tinha mais importância nas sociedades das comunidades antigas do que eles.

É inquestionável, segundo entendimento de Flory (1981), que o catolicismo era a religião oficial do Estado, naturalmente, se esperava que os sacerdotes, sendo nomeados e pagos pelo Imperador, realizassem certos deveres para com o Estado desde muito antes da chegada do Juiz de Paz. Salienta que os Conselhos Municipais não podiam supervisionar as eleições em todas as paróquias de seus distritos, os sacerdotes locais eram os únicos agentes que o governo podia contar nas zonas eleitorais. Invariavelmente, os sacerdotes participavam das juntas eleitorais. Assim, o número de eleitores em cada paróquia era determinado pelo cálculo do sacerdote sobre a população total da localidade.

Nos anos iniciais de existência dos cargos de magistratura, principalmente nas paróquias do interior, foram eleitos como magistrados locais os sacerdotes.

Flory (1981, p. 151) ressalta que “a analogia entre o conceito original do Juiz de Paz conciliador e paternalista, e o pároco vigiando seu rebanho é inevitável.”

Neste cenário, Jose Murilo de Carvalho (1980, p. 142) comenta que “a situação do clero em relação ao Estado era ambígua.” Se por efeito da união Igreja-Estado, o padre era um funcionário público, pago pelos cofres do governo geral, não deixava também de pertencer a uma burocracia paralela, uma organização que ao longo da história se tinha empenhado em longas batalhas contra o mesmo Estado pelo controle do poder político.

Outro aspecto que chama a atenção sobre a implantação da Justiça de Paz no Brasil, segundo Rosa Maria Vieira (1997), foi de que essa foi implantada sob inspiração das ideias

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liberais, já bastante disseminadas pela Revolução Francesa1. O imperador, ao implantá-la, responde a pressões de alguns setores da sociedade ansiosos por reformas descentralizadoras. Os Juízes de Paz eram eleitos pelo mesmo tempo e maneira, pelos quais se elegiam os vereadores das câmaras. Eram eleições diretas, com o voto censitário e obrigatório e em cada Distrito de Paz havia quatro Juízes de Paz. Suas atribuições eram conciliatórias, judiciárias, policiais e administrativas.

A criação do juiz de paz, leigo e eletivo em base local, representou uma expansão da capacidade de ação judiciária. Embora do ponto de vista da estrutura da administração judiciária, o juiz de paz tenha sido instituído assumindo poderes antes dispersos entre outro postos, tais como juízes de vintena e almotacés, que exerceriam poderes de polícia e justiça de pequena causas, o fato é que essas entidades, quando existentes, parecem ter tido uma atividade no mínimo extremamente irregular e sem qualquer eficácia (VELLASCO,2003, p.11).

Assinala-se que este procedimento só voltou com a Constituição de 1988, em sua redação expressa do artigo 14, parágrafo terceiro, inciso sexto na alínea “c”, até então a escolha era por meio dos chefes de Poderes:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

[...]

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: [...]

VI - a idade mínima de: [...]

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz.

Convém apontar que houve casos onde um juiz de paz de longa data nas atribuições das funções fora designado para exercer a função de Juiz de Paz decorridos mais de cinco anos da vigência da CF/88, da Constituição do Estado do Espírito Santo e da Lei Estadual n. 4.380/90.

O entendimento sobre tal discussão é de que era indiscutível que os dispositivos constitucionais e legais dos quais tratavam destas hipóteses de pessoas que se encontravam

1

Revolução Francesa (em francês: Révolution Française, 1789-1799) foi um período de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente Europeu. (VELLASCO, 2003, p 13).

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nomeadas na função de Juiz de Paz à época de suas vigências, deveriam permanecer licenciados ou inertes até a realização de nova eleição.

1.2 Escolha e regimes de atuação

É imprescindível apontar como se dá a escolha e os regimes de atuação do Juiz de paz frente a CF/88 para que se possa compreender a sua importância como auxiliar na solução de conflitos.

Primeiramente, cabe mencionar que as Leis brasileiras, em especial o Código Civil, aponta que as autoridades religiosas (pastores, padres) que exercem o Ministério podem se autodenominarem de Juiz de paz.

O Código Civil- Lei nº 10.406/2002, no Subtítulo I – Do Casamento, art. 1515, assim dispõe: “O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração”. Isso mostra que as autoridades eclesiásticas podem celebrar uniões como se Juiz de paz fossem.

Na verdade, na celebração das uniões religiosas, pode-se realizar também o casamento civil, onde o pastor, após a realização do casamento, de acordo com a religião e na presença dos nubentes e demais convidados, esteja investido de autoridade civil para que depois desta realizar a cerimônia da união e matrimônio como autoridade religiosa junto da igreja, assumindo também papel de autoridade civil, onde nestes casos o casamento religioso obtenha efeito civil perante a lei, conforme o expressa na Constituição Federativa do Brasil de 1988, através da solicitação e da habilitação ao casamento na modalidade civil, podendo em casos atípicos ocorrer sem este tal requisito, conforme o expresso nos artigos 1515 e 1516 do novo Código Civil brasileiro, o qual aponta que todas as autoridades religiosas atuantes no Ministério, poderão desempenhar e se autodenominarem de juízes de paz Eclesiásticos.

Assim, dispõe o Código Civil de 2002, in verbis:

Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil.

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§ 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.

§ 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.

Nesse caso, levanta -se o questionamento sobre o que seria um juiz de paz Religioso ou Eclesiástico?

Sem sombra de dúvida, é aquela pessoa incumbida de poder e funções não transferíveis conforme expresso em nossa Constituição da República, estando investido da competência legal para celebrar casamentos, e, também de verificar ofícios em fase de impugnações, apresentando os documentos solicitados para verificação da habilitação dos nubentes e desempenhar funções de mediações ou conciliatórias sem o aspecto jurisdicional, adicionando ainda outras funções, expressas nas legislações que a estes conferem a investidura de autoridade cível.

Neste cenário então, o que seria preciso para ser um juiz de paz Eclesiástico?

A primeira seria ser pastor, obreiro ou ministro de alguma religião devidamente credenciada em sua denominação, posterior a isso, encontros na igreja com Ministro religioso devidamente credenciado no Cadastro Nacional de pessoas jurídicas no caso CNPJ e ser filiado a alguma entidade ou ONG de cunho religiosa, à qual, seja destinada a defesa de interesses da classe e também possuir carteira de filiação ou credenciamento registrada que o qualifique como um pastor, o qual, trabalhará em contato com a legislação vigente sobre os casamentos e também com os casamentos religiosos (grifo nosso).

Já no casamento civil como pastores e membros da igreja também devem entender um pouco sobre o casamento dentro da Bíblia na palavra de Deus e também um pouco sobre as leis que são regentes sobre juízes de paz, suas funções e atribuições enfim tudo que envolve a questão desta função do juiz de paz Eclesiástico.

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Muitos países, como França e Argentina, garantem a prevalência dos tratados. Alguns países, como Alemanha e Itália, adotam em suas Constituições cláusulas de adoção global das regras do direito internacional público pelo direito interno e regras que conferem primazia às normas de direito internacional.

Outros países também adotam a cláusula de adoção global das regras do direito internacional, mas não estabelecem a primazia do direito internacional sobre as normas de direito interno. Outros estabelecem a primazia do direito internacional sobre as normas de direito interno apenas no que diz respeito aos tratados internacionais que versem sobre Direitos Humanos, como no caso da Constituição holandesa (após a revisão de 1956).

No caso brasileiro – anteriormente à Emenda Constitucional n. 45, de 2004 –, a Constituição não determinava, de maneira expressa, a posição hierárquica das normas de direito internacional, exceto dos tratados internacionais sobre direitos humanos.

A jurisprudência brasileira passou então a conferir aos tratados em geral valor equivalente ao das leis infraconstitucionais; os tratados que versam sobre Direitos Humanos assumem valor de emenda constitucional ou valor de legislação infraconstitucional, mas supralegal2.

Com base no art. 102, inciso III, alínea b da Constituição Federal de 1988, que determina que o Supremo Tribunal Federal tem competência para julgar, mediante recurso extraordinário, “as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal”, a jurisprudência e a doutrina brasileira acolheram a tese de que os tratados internacionais e as leis federais possuem a mesma hierarquia jurídica.

Importante destacar que parte da doutrina brasileira sustentava a adoção de um sistema misto no que concerne à recepção dos tratados internacionais no direito interno. Para esses autores, com base no art. 5º, §§ 1º e 2º da CF/88, todos os tratados internacionais ratificados pelo Brasil que versarem sobre direitos humanos serão recepcionados automaticamente; por

2

Vertese do ministro Gilmar Mendes (RE 466.343-SP), que foi reiterada no HC 90.172-SP, 2ª Turma, votação unânime, j. 05 de junho de 2007 e ratificada no histórico julgamento do dia 03 de dezembro de 2008

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outro lado, para os demais tratados internacionais, continuaria sendo adotada a teoria dualista, que exige a edição do decreto presidencial para que tais tratados sejam incorporados ao direito interno.

No dia 30 de dezembro de 2004, entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 45, que trouxe inegável avanço ao inserir, no texto constitucional, referência expressa ao posicionamento hierárquico das normas de direito internacional, mais precisamente dos tratados de direitos humanos, dentro do direito brasileiro.

Além dessa inovação, o dispositivo traz uma série de outras indagações sobre a processualística de incorporação dos tratados de direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro. Atribui que tratados e convenções internacionais terão status de norma constitucional, norma supralegal ou lei ordinária, possibilitando que o ordenamento jurídico incorpore os tratados e convenções internacionais3.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Artigo 98, inciso “II’, prevê:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação.

3 Os tratados de direitos que vierem a ser incorporados no Brasil podem ter valor constitucional, se seguirem o

parágrafo 3º, do artigo 5º, da CF, inserido pela Emenda Constitucional 45, que diz: "Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais"(STF, 2008).

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A existência da justiça de paz, também está prevista na LOMAN – Lei Complementar nº 35 de 14 de março de 1979, que dispõe sobre a Lei Orgânica da Magistratura Nacional:

Art. 17 - Os Juízes de Direito, onde não houver Juízes substitutos, e estes, onde os houver, serão nomeados mediante concurso público de provas e títulos.

[...]

§ 5º - Podem, ainda, os Estados criar Justiça de Paz temporária, compete para o processo de habilitação e celebração de casamento.

Os juízes de paz em vários locais do mundo surgiram a exemplo da Inglaterra, onde, eram escolhidos os homens bons, vindo a desaparecer com a nomeação dos juízes. Após isso, em sua evolução histórica, reaparecem como conciliadores, resistindo até a Revolução Liberal, onde o papel do Juiz de Paz se manteve intacto até o Código de Processo Civil- CPC de 1939.

Mesmo a lei dos juízes de paz, ter entrado vigência alguns anos após a Constituição, já haviam sinais na Carta Imperial de 1824, no alto dos artigos 161 e 162, tratando sobre meios conciliatórios e alternativos para a resolução de demandas extrajudiciais, assim como os meios de eleições, tempo e forma como isso ocorreria, objetivando com este meio aproximar as partes para uma composição, á exemplo da Inglaterra, testando este meio aqui em nosso país.

Para melhor entendimento do que se está expondo, nada mais interessante do que se analisar o que dispõe a Carta Imperial de 1824, sobre o assunto:

Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará Processo algum.

Art. 162. Para este fim haverá juizes de Paz, os quaes serão electivos pelo mesmo tempo, e maneira, por que se elegem os Vereadores das Camaras. Suas attribuições, e Districtos serão regulados por Lei (sic).

Algumas igrejas realizam a reconciliação em uma espécie de tribunal dentro destas, contando com a presença de um juiz e um advogado, tendo como finalidade fazer com que todos os problemas causados com os membros venham a ser resolvidos ali mesmo, sem a necessidade de autoridades jurídicas ou leis governamentais.

Segundo publicação disponível no Blog Casamento Civil (2017), o reconhecimento dos juízes de paz nos tribunais das igrejas, é que eles possam, além de fazer casamentos,

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poder dentro destes tribunais agir como juízes e poderem julgar as causas dentro destas condições. Resumindo, os juízes de paz Eclesiásticos dentro dos tribunais das igrejas, podem dar seus alvarás em questões de conflitos até mesmo em lares de casais onde membros da igreja estejam em conflito nos seus lares com suas famílias ou filhos que estejam com certos tipos de problemas onde estes problemas são trazidos até o pastor, e, o pastor agindo como um juiz de paz forma um tribunal onde se reúnem o advogado e também reúnem-se algumas pessoas competentes naquele tribunal para julgarem a causa daquela família e tentar resolver da melhor forma esta pendência seja financeira, pessoal ou sentimental, aonde o juiz de paz como Advogado da igreja irá tentar resolver e conseguir legalizar com orações e aconselhamentos, devendo este para isso estar preparado psicologicamente, falando e também tendo preparo teológico, pois, entendendo de teologia ele tem através da palavra ou dentro das leis poder para dar tal direção à estas pessoas.

Juiz de paz é autoridade apta para realizar casamento civil, essa autoridade ela é feita pelo Estado, o pastor também é autoridade apta para realizar casamento, só que religioso, enfim, são juízes leigos com capacidade para segundo a doutrina, celebrarem casamentos, verificarem processos de habilitações, não tendo forma jurídica. No Distrito Federal, são indicados pelo Corregedor e nomeados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, para atuar nos Serviços de Registros Civil do Distrito Federal. O interessado na indicação formulará requerimento ao Corregedor no qual deverão constar os requisitos previstos nos arts. 10 a 13 do Provimento Geral da Corregedoria da Justiça do Distrito Federal

Casamentos religiosos celebrados sem a prévia habilitação perante o oficial de registro público anteriores ou posteriores à presente, Lei poderão ser escritos e apresentados pelos nubentes com requerimento da inscrição a prova do ato religioso e os documentos exigidos pelo artigo 180 do Código Civil.

Art. 180. A habilitação para casamento faz-se perante o oficial do registro civil, apresentando-se os seguintes documentos:

I - certidão de idade ou prova equivalente;

II - declaração do estado, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos;

III - autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra (arts. 183, XI, 188 e 196);

IV - declaração de duas testemunhas maiores, parentes, ou estranhos, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento, que os iniba de casar;

V - certidão de óbito do cônjuge falecido, da anulação do casamento anterior ou do registro da sentença de divórcio. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977)

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Parágrafo único. Se algum dos contraentes houver residido a maior parte do último ano em outro Estado, apresentará prova de que o deixou sem impedimento para casar, ou de que cessou o existente.

O que é preciso para que um ministro religioso seja um ministro religioso da Justiça de paz, ou seja, um juiz de paz Eclesiástico? Ser devidamente credenciado em sua denominação a qual deverá se encontram regularmente inscritas no Cadastro Nacional de pessoas jurídicas CNPJ.

O que legaliza a lei de Juiz de Paz a nomear pastores a Juiz de paz? A lei legaliza e reconhece a nomeação de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil Capítulo 7 artigo 226 da Lei 1.110 de 23 de maio de 1950 e da lei 6.015 de 31 de Dezembro de 1973:

Mediante a certidão de habilitação para o casamento civil e em casos específicos sem habilitação estabelecidos pelo artigo pelos artigos 1515 e 1516 do novo Código Civil brasileiro todos os ministros religiosos atuantes e seus ministérios poderão exercer e serem titulados a Juiz de paz.

Como que funciona na prática a função primordial inerente ao Ministro religioso da Justiça de paz o juiz de paz Eclesiástico?

É a celebração do casamento religioso com efeito civil, ou seja, o ministro religioso após o término da realização da cerimônia religiosa em que esteve investido na condição de autoridade religiosa em ato subsequente com a permanência dos noivos no altar, assumir a autoridade civil e realizar a celebração do casamento civil nos termos da Lei.

A pesquisa apresenta a evolução das uniões matrimoniais na sociedade, rebuscando os costumes do passado até os dias atuais.

A evolução das famílias e o casamento andam lado a lado, não podendo citar um, sem mencionar o outro. Prevaleceu na sistemática pátria por muito tempo a indissolubilidade matrimonial amparada com previsão constitucional da época.

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É importante lembrar que, com o passar do tempo, além da evolução do casamento, também surgiram outros tipos de dissoluções, antes sendo aceito somente o desquite, depois a separação judicial e atualmente o divórcio direto.

Foram numerosas as tentativas para romper essa muralha constitucional em prol do divórcio e, após relevantes discussões, foi editada a Emenda n° 9 de 1977 que ensejou na Lei 6.515/1977.

Por fim, a Constituição Federal de 1988 consagrou plenamente o divórcio em seu art. 226 e para finalizar a Emenda Constitucional 66/2010 conhecida como a Lei do Divórcio representando verdadeira revolução para o direito de família brasileiro, remodelando o art. 226 da Constituição Federal vigente.

Percebe-se então, que as famílias brasileiras sofreram, ao longo das décadas, modificações muito expressivas e foram sendo aceitos outros tipos de uniões. E com essa evolução e aceitação da sociedade, o Estado se deu por obrigado a criar novas lei e proteger essas novas famílias.

Assim, através desta pesquisa vislumbra-se a carência de aperfeiçoarmos este instituto da Justiça de Paz, tanto quanto à sua atuação, especificidades e atribuições, para regulamentar essa atividade tão relevante ao longo da história e na atualidade para que se enquadre em nosso Ordenamento jurídico dentro das normativas do nosso país Democrático.

1.2.1 O procedimento de escolha do Juiz de Paz

Cabe registrar que se faz necessário conhecer a organização judiciária do Juiz de Paz, para depois saber como se dá a sua escolha e nomeação, pois mesmo que esse cargo exista desde 1988, ainda há um desconhecimento geral sobre sua atuação, além de promover casamentos e sua eleição, que ainda não ocorreu entre nós.

Observa-se que no capítulo XVII da Constituição Federal especifica-se a organização judiciária dos Juízes de paz nos artigos 158, in verbis:

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Art. 158. Em cada distrito e subdistrito das comarcas do interior e em cada circunscrição do Registro Civil, na comarca da capital, haverá um juiz de paz e dois suplentes.

§ 1º. O juiz de paz será competente, nos limites territoriais das respectivas jurisdições para habilitar e celebrar casamentos (art. 144, § 1º, letra c, da Constituição Federal).

§ 2º. A impugnação à regularidade processual, a arguição de impedimentos, ou decisão sobre quaisquer incidentes ou controvérsias relativos à habilitação para o casamento serão decididos pelo juiz de direito competente para a matéria de Registro Civil.

§ 3º. Nos casos de falta, ausência ou impedimento do juiz de paz e de seus suplentes, caberá ao juiz de direito com competência para o Registro Civil, na comarca ou na circunscrição, a nomeação do juiz de paz ad hoc.

Percebe-se, muito claramente que ao Juiz de paz são atribuídas funções não jurisdicionais, sendo que qualquer problema referente a habilitação para o casamento impugnações ou incidentes relacionados ao casamento, quem decidirá é o Juiz de direito da Comarca onde aquele é competente.

Por outro lado, no art. 159 da CF/88, verifica-se que:

Art. 159. O juiz de paz será nomeado pelo Governador do Estado, para servir pelo prazo de quatro anos mediante escolha em lista tríplice organizada pelo presidente do Tribunal de Justiça.

§ 1º. Para a organização da lista tríplice, será ouvido o respectivo juiz de direito ou quando existir mais de um, o juiz competente para matéria de Registro Civil na comarca ou circunscrição.

§ 2º. A lista será composta por eleitores maiores de 25 anos, residentes no distrito ou na circunscrição, dotados de representação e conceito na comunidade, gozando de idoneidade notória, conduta ilibada, não pertencentes a órgãos de direção ou de ação de partido político.

§ 3º. Escolhido o juiz de paz os demais componentes da lista tríplice serão nomeados primeiro e segundos suplentes, em ordem de preferência do Governador do Estado. § 4º. O exercício do cargo de juiz de paz constitui serviço público relevante, assegurará o direito a prisão especial em caso de crime comum, até definitivo julgamento e não causa impedimento para o exercício simultâneo de cargo público, não sendo, no entanto, computado para qualquer efeito, o tempo de serviço prestado nessa função.

Neste artigo está definido como ocorrerá a escolha do Juiz de Paz, destacando-se a idade de 25 anos, residência no distrito ou na circunscrição que vai atuar, bem como a garantia de cela especial em caso de prisão e sua atividade será computada como serviço público.

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Art. 160. O juiz de paz está subordinado ao Conselho da Magistratura que poderá baixar regulamentação sobre o funcionamento da Justiça de Paz no Estado, decidindo sobre os casos omissos.

§ 1º. Os direitos, deveres e penalidades do juiz de paz serão regulamentados pelo Conselho da Magistratura.

§ 2º. A critério do Conselho da Magistratura, o juiz de paz poderá ser afastado de suas funções temporariamente, encaminhando-se ao Governador, quando for o caso, expediente para exoneração ou demissão.

Após se ter analisado o que consta no texto constitucional sobre o Juiz de paz, não se pode deixar de mencionar sobre o procedimento de escolha.

O exercício da atividade de juiz de paz é remunerado, e segundo a CF/88, este passa a ser eleito por voto direto e secreto, com mandato de quatro anos, não havendo disposição específica.

Quanto à sua reeleição, ainda está muito distante e sua eficácia é duvidosa, pois, depende dos Tribunais de Justiça remeterem seus projetos de leis às assembleias legislativas, permanecendo estes com funções conciliatórias, competentes para celebrarem casamentos e verificarem de ofício ou por meio de impugnações os processos de habilitações ou dissoluções consensuais.

O procedimento de escolha necessário para o cargo de juiz de paz é composto de duas fases, são elas:

- Na primeira etapa, de âmbito eliminatório, é normalmente realizada pela Divisão de Justiça da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, sendo seu objetivo a análise da conformidade de documentação do candidato.

- Já na outra etapa, o mérito se dá por classificação, sendo aplicada pela Secretaria da Justiça e da Defesa dos Cidadãos, com a finalidade de apreciar seletivamente, de forma discricionária, os candidatos cujos documentos forem verificados regularidades na fase anterior.

A “Justiça de Paz”, prevista desde a Constituição do Império de 1824 (juizado eletivo e de conciliação), teve as suas regras fixadas no art. 98, II, da CF/88, com as seguintes características:

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Remunerada: devendo tal remuneração ser fixada por lei de iniciativa exclusiva do TJ do Estado (art. 96, II, ‘b’), em valor fixo e predeterminado.

Composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, sendo que o art. 14, § 3.º, VI, “c”, estabelece, como condição de elegibilidade, a idade mínima de 21 anos.

Juiz de paz exercerá mandato de 4 anos.

Tendo atuação, na forma da lei, para realizar casamentos, analisar, o procedimento para habilitação e atuar exercendo atividades conciliatórias, não jurisdicionais, além de outras previstas em nosso ordenamento jurídico, embora revogadas algumas destas atribuições assim como a prevista e já mencionada no artigo 477,§3ª-CLT. REVOGADO.

É inegável a importância que a CF/88 deu ao Juiz de paz, porém a sociedade desconhece o texto constitucional e as atribuições deferidas a esse agente e que muitas demandas poderiam ser solucionadas na Justiça de Paz, com mais celeridade e menos controvérsias.

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2 A JUSTIÇA DE PAZ FRENTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal (CF) estabelece algumas atribuições ao Juiz de Paz em seu artigo 98 inciso II, dentre elas, atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação.

Neste contexto, será abordado na sessão 2.1 a questão da homologação da rescisão do contrato de trabalho realizada pelo Juiz de Paz, a qual era prevista na legislação infraconstitucional, ou seja, no artigo 477, parágrafo terceiro, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), revogada com a reforma trabalhista realizada no ano de 2017, através da Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017.

Já na sessão 2.2 serão tratadas a conciliação e a mediação como formas de atribuições conciliatórias do juiz de paz na resolução de conflitos, podendo estas serem regulamentadas por lei estadual, efetivando o preceito constitucional acima citado, sendo que neste tópico será dado enfoque nos desentendimentos familiares.

A CF prevê ainda que no art. 98, II que a União, o Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos, diante disso, será analisado no tópico 2.3 de que forma o STF definiu alguns contornos para a implementação da justiça de paz no Brasil.

Por fim, na última sessão, será analisado como as omissões de diversos órgãos do Legislativo e do Judiciário da União e dos estados inviabilizam a efetividade do comando constitucional em comento, ou seja, a realização de eleições para os cargos de juiz de paz e, consequentemente, a instituição do juiz de paz no país de acordo com a vontade do poder constituinte originário.

2.1 Juiz de paz na homologação das rescisões trabalhistas

Todos os indivíduos necessitam de um emprego. Essa necessidade ocorre devido ao desenvolvimento do ser humano, pois, para o sustento seu e da família é necessário ter um emprego. Mais que gerir o sustento, o emprego faz várias transformações na vida de uma pessoa, promovendo do desenvolvimento intelectual e abrangendo conhecimentos.

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Muitos trabalhadores são contratados e demitidos o todo tempo, porque no mercado de trabalho há muita circulação de pessoas e esse mercado se movimenta de acordo com a situação financeira de um país. Nas demissões, no momento em que se desligam das empresas, muitos trabalhadores desconhecem seus direitos trabalhistas como por exemplo, as verbas rescisórias.

Antes da aprovação da Lei Nº 13.467 de 13 de julho de 2017, que alterou dispositivos da Consolidação das Leis Trabalhistas, todo empregado, tendo trabalhado um ano ou mais na empresa, tinha o direito de ter a realização da homologação da rescisão do contrato de trabalho no sindicato da respectiva categoria, no Ministério do Trabalho, Ministério Público, Defensoria Pública ou pelo Juiz de Paz.

O §3º do artigo 477 da CLT dizia o seguinte:

§ 3º - Quando não existir na localidade nenhum dos órgãos previstos neste artigo, a assistência será prestada pelo Represente do Ministério Público ou, onde houver, pelo Defensor Público e, na falta ou impedimento deste, pelo Juiz de Paz.

Segundo publicação disponível no Site Consultor Jurídico (2016, p. 01), para que as autoridades descritas no artigo citado, pudessem realizar homologação da rescisão do contrato de trabalho era necessário ter “profundos conhecimentos técnicos inerentes a um jurista ou juiz trabalhista, pois exige, antes de tudo, atenção aos fatos, prazos e formas expressos na literalidade da lei, garantindo ao empregado que tais condições fossem observadas”, fato que assegurava aos trabalhadores a ressalva de seus direitos, bem como a possibilidade de uma futura ação trabalhista se estes não fossem atendidos.

Mas após a revogação do referido parágrafo, não há mais necessidade de homologação da rescisão dos contratos de trabalho. A falta de homologação no desligamento de um empregado em uma empresa, acaba por fragilizar o trabalhador, aumentando a possibilidade de sonegação dos direitos trabalhistas por parte dos empregadores.

Segundo publicação de matéria no site do Senado Federal (2018, p. 01):

A homologação garante segurança jurídica para trabalhadores e empresários, pois demonstra que o empregador pagou o que deveria e o trabalhador recebeu aquilo que tinha direito. A homologação é a coisa mais importante não apenas para o

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trabalhador, mas para o empresário. É uma garantia de que houve um corte no contrato de trabalho.

Continuando, Senado Federal (2018, p. 01), o Senador Paulo Paim assevera que “a extinção da necessidade de comparecimento ao sindicato ou à superintendência do Ministério do Trabalho para homologar uma rescisão contratual abre espaço para fraudes.”

A possibilidade prevista no parágrafo terceiro do artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho, antes da reforma ocorrida em 2017, a qual teve a sua vigência publicada em 11 de novembro do mesmo ano, previa, além da homologação da rescisão do contrato de trabalho realizada por sindicato, também por Juiz de Paz quando, na cidade em que se localizava a empresa, não havia sindicato da categoria, ou a mesma era negada pelos membros da Defensoria Pública e do Ministério Público.

Essa homologação era mais uma atribuição que o Juiz de Paz exercia em nome dos direitos individuais e coletivos dos indivíduos, possibilitando que cada trabalhador que não pudesse ser assistido por central sindical e demais órgãos competentes, pudesse ter resguardado seus direitos trabalhistas, fazendo a conferencia das verbas rescisórias na hora em que empregador e empregado rompiam o vínculo contratual de trabalho.

A reforma trabalhista, segundo o Governo Federal, teve como objetivo, combater o desemprego e a crise econômica no país.

Ocorre que, no caso da homologação da rescisão do contrato de trabalho em municípios longínquos, sem estrutura de sindicato competente, Ministério Público, Defensoria Pública, era realizado por meio de um Juiz de Paz como já citado anteriormente. Nestas situações, a revogação do dispositivo em comento, acabou retirando uma figura que daria um suporte extrajudicial ao empregado, hipossuficiente, desestabilizando a relação trabalhista, pois agora este ficou sem qualquer amparo.

Em outras palavras, o empregador realiza várias rescisões de contrato de trabalho em sua empresa e, na maioria das vezes contando com o suporte de advogados e contadores, pagos por este, fato que lhe deixa a par da legislação e por dentro de cada detalhe das verbas rescisórias. E por outro lado, com a retirada da homologação realizada até mesmo pelo juiz de

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paz, o empregado fica completamente desassistido, ficando assim, evidente o desiquilíbrio dessa relação final entre trabalhador e empregador.

2.2 O Juiz de Paz e a resolução de conflitos familiares através da conciliação e mediação

No seio familiar é possível constatar várias mudanças, seja em sua formação, como na qualidade das relações entre seus integrantes. Como envolve muita convivência e sentimentos, necessita muitas vezes de uma intervenção externa, pois os membros da família não conseguem dirimir conflitos internamente.

Os conflitos gerados no seio familiar compõem uma fração considerável dos processos que são levados ao Poder Judiciário, que na maioria das vezes são gerados pela falta de bom senso e diálogo entre as partes, fato que ocasiona desgaste emocional e psicológico.

Nesta feita, Augusto de Mello e Lilian Thais Konzen ([s.d], p. 02), afirmam que o desgaste nestes casos:

[...] é notório, haja vista que antes de procurar o poder judiciário os abarcados acabam se envolvendo em longas e corrosivas discussões que fulminam na vontade de extinção da comunhão de interesses, como é perceptível nos milhares de processos de separação e/ou divórcio que lotam as estantes das varas de família na totalidade das comarcas. Gize-se que, por muitas vezes, tais embates acabam gerando prejuízos tanto materiais como emocionais aos litigantes, o que dificulta ainda mais a manutenção de tais vínculos.

Adonias Osias da Silva (2016, p. 01) explica que um dos efeitos da vida em sociedade é a multiplicação de conflitos, os quais fazem parte da natureza humana e são necessários para o crescimento das relações entre pessoas. O grande desafio é aproveitar o potencial educativo dessas situações, a partir de uma administração adequada, que utilize o diálogo pacífico, capaz de converter situações adversas em verdadeiras oportunidades de crescimento, e amadurecimento. Com o objetivo de aprimorar a promoção da justiça, estão surgindo mecanismos alternativos para a resolução de conflitos, que atualmente representam peça fundamental no novo modelo de justiça, oferecendo uma justiça menos formal, mais barata e eficaz, possibilitando uma participação ativa dos cidadãos na solução de seus conflitos.

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Mesmo após a procura pelo Poder Judiciário, tendo em vista a resolução do conflito familiar, são evidentes a formalidade e a falta de celeridade nos procedimentos. Mesmo após os trâmites necessários do processo, entra a questão emocional das partes envolvidas, que ocasiona a ausência de diálogo, vislumbrando assim, na falta de resolução do mesmo.

Outro aspecto que merece ser observado é o fato de que nas disputas judiciais as partes geralmente não saem satisfeitas com o resultado final da demanda, devido ao desgaste emocional. Neste sentindo, Silva (2016, p. 03) diz que:

Mesmo os que vencem já não saem tão contentes pelo desgaste emocional que geram e a que se sujeitam. Inicialmente, é muito interessante a possibilidade de deixar que um terceiro possa solucionar aquele conflito no lugar das partes, porém, ao longo do tempo, acaba gerando certo desconforto aos indivíduos o fato de em todos os problemas que surgem terem de ser submetidos à visão de mundo de um terceiro e às suas decisões.

Silva (2016, p. 02) ainda assevera que:

Todos os dias milhares de problemas são expostos e vivenciados nos processos judiciais. As partes depositam no Poder Judiciário suas expectativas e anseios, objetivando que os operadores jurídicos ali presentes possam apontar saídas para os conflitos que não conseguem resolver sozinhas. Ocorre que o Judiciário, imerso numa crise generalizada, não tem oferecido tratamento adequado para muitos problemas que lhe são apresentados.

A mediação e a conciliação entram neste caso, como uma forma consensual de resolver alguns conflitos familiares sem a necessidade de litigar em juízo.

A Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010 dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. O artigo primeiro institui a política judiciária nacional de tratamento dos conflitos de interesses:

Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade.

Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, nos termos do art. 334 do Novo Código de Processo Civil combinado com o art. 27 da Lei de Mediação, antes da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão.

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O artigo 4º da referida Resolução estabelece a competência ao Conselho Nacional de Justiça “organizar programa com o objetivo de promover ações de incentivo à autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da mediação.”

O artigo 12 da Resolução 125/2010 estabelece a capacitação para os mediadores e conciliadores:

Art. 12. Nos Centros, bem como todos os demais órgãos judiciários nos quais se realizem sessões de conciliação e mediação, somente serão admitidos mediadores e conciliadores capacitados na forma deste ato (Anexo I), cabendo aos Tribunais, antes de sua instalação, realizar o curso de capacitação, podendo fazê-lo por meio de parcerias.

§ 1º Os tribunais que já realizaram a capacitação referida no caput poderão dispensar os atuais mediadores e conciliadores da exigência do certificado de conclusão do curso de capacitação, mas deverão disponibilizar cursos de treinamento e aperfeiçoamento, na forma do Anexo I, como condição prévia de atuação nos Centros.

§ 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos deverão submeter-se a aperfeiçoamento permanente e a avaliação do usuário.

§ 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de mediadores e conciliadores deverão observar as diretrizes curriculares estabelecidas pelo CNJ (Anexo I) e deverão ser compostos necessariamente de estágio supervisionado. Somente deverão ser certificados mediadores e conciliadores que tiverem concluído o respectivo estágio supervisionado.

§ 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores de diálogo entre as partes ficarão sujeitos ao código de ética estabelecido nesta Resolução (Anexo III). § 5º Ressalvada a hipótese do art. 167, § 6º, do Novo Código de Processo Civil, o conciliador e o mediador receberão, pelo seu trabalho, remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal, conforme parâmetros estabelecidos pela Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania ad referendum do plenário.

Com a leitura da referida resolução é possível constatar a preocupação do legislador em colocar à disposição da sociedade meios alternativos de resolução de conflitos, a fim de que estes sejam resolvidos com dialogo, antes de chegar ao Judiciário e necessitar de uma sentença para pôr fim a lide.

Neste sentido, se faz necessário verificar alguns conceitos de conciliação e mediação, para melhor entender estes importantes mecanismos de resolução de conflitos.

Segundo Sérgio Oliveira de Souza (2015, p. 01) a mediação “é um processo conversacional em que um terceiro qualificado ajuda pessoas em conflito a restabelecerem o diálogo, favorecendo que elas próprias sejam autoras de soluções mutuamente satisfatórias.”

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Verônica A. da Motta Cezar-Ferreira (2007, p. 158) explica que a mediação é opção alternativa para não se recorrer ao judiciário, em razão de viabilizar um procedimento diferenciado e com proposta de trazer inúmeros benefícios, sendo considerada uma prática não terapêutica que vem sendo largamente difundida mundialmente, e obtendo bons resultados, sobretudo em culturas de tradição comunitária, nas quais as comunidades, há tempos, cultivam o hábito de tentar resolver os próprios problemas, antes de entregá-los às autoridades competentes.

Souza (2015, p. 02) esclarece que os objetivos do mediador são:

Construir um contexto de credibilidade pessoal, processual/pré-processual e institucional; estabelecer “rapport” relação de confiança entre partes, advogados e conciliadores; separar pessoas de problemas; focar nos interesses mútuos e não nas posições das partes; cria múltiplas alternativas antes das partes decidirem; insistir nos critérios objetivos, não fazer julgamentos e fazer projeção no futuro das relações. Tem como princípios úteis, a escuta ativa e a intervenção para ajudar a transformar as histórias que chegam as partes.

Já Lília Maia de Morais Sales (2007, p. 24-25), destaca que:

A mediação, por suas peculiaridades, torna-se um meio de solução adequado a conflitos que envolvam relações continuadas, ou seja, relações que são mantidas apesar do problema vivenciado. Ressalta-se, também, que os conflitos que tratam de sentimentos e situações fruto de um relacionamento – mágoas, frustrações, traições, amor, ódio, raiva – revelam-se adequadas à mediação. Isso porque, é nesses tipos de conflitos que se encontram as maiores dificuldades para o diálogo, em virtude da intensidade dos sentimentos. Na mediação, há um cuidado, por parte do mediador, de facilitar esse diálogo entre as partes, de maneira a permitir a comunicação pacífica e a discussão efetiva dos conflitos.

Importante destacar que a atividade do mediador nada mais é que manter o diálogo entre as partes, sem propor acordos, apenas orientando para que o conflito seja solucionado pelos próprios conflitantes, intervindo na demanda como um apaziguador nos momentos em que estes são tomados pela emoção.

Já na conciliação, busca-se uma mudança no comportamento das partes, a fim de que tenham condições de tomar decisões coerentes e sensatas para ambos, assumindo responsabilidades em cada decisão naquele exato momento.

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Clóvis Brasil Pereira (2015, [s.p]) conceitua a conciliação da seguinte maneira:

A conciliação é uma forma de resolução de conflitos, onde um terceiro, neutro e imparcial, chamado conciliador, facilita a comunicação entre pessoas que mantém uma relação pontual na busca de seus interesses e na identificação de suas questões, através de sua orientação pessoal e direta, buscando um acordo satisfatório para ambas.

A função do conciliador é esclarecida por Juliana Demarchi (2008, p. 50):

O que é aceitável para uma pessoa pode não o ser para outra; as noções de “bom” ou “ruim” são pessoais, haja vista diferentes preferências musicais, artísticas, gastronômicas etc. Cada pessoa tem um ponto de vista sobre determinada situação, e esse ponto de vista deve ser respeitado. O relato de pessoas diferentes sobre um mesmo fato pode ser complemente divergente sem que uma delas esteja necessariamente mentindo ou dizendo a verdade: a percepção de cada uma delas é diferente e as duas versões apresentadas, embora discrepantes, são igualmente sinceras [...]

Para o sucesso da conciliação é importante a forma em que o conciliador conduz a demanda, construindo sempre uma relação amistosa com as partes, conduzindo de forma imparcial, para que nenhum dos conflitantes se sinta menos favorecido.

Gissele Leal Bertagnolli e Jucelma de Cássia Tolotti (2016, p. 08) explicam que a conciliação pode ser utilizada para resolver vários tipos de conflitos, e todos os acordos obtidos por meio da conciliação possuem validade jurídica. Entre os tipos de conflitos possíveis de resolução pela conciliação e mediação estão, pensão alimentícia, divórcio, desapropriação, inventário, guarda de menores, acidentes de trânsito, problemas de condomínio dentre outros, somente é excluído da conciliação os casos de crimes contra a vida e situações de agressões físicas, como por exemplo, as situações previstas na Lei Maria da Penha.

A mediação e a conciliação “não radicalizam e procuram aproveitar cada oportunidade aberta pelo discurso das partes, para favorecer e estimular o diálogo inexistente ou comprometido.” (LEITE, 2008, p. 132).

O artigo 98 incisos II da Constituição Federal estabelece a competência para a realização de conciliação através do Juiz de Paz. (grifei):

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Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: [...]

II – justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação.

Sobre o preceito constitucional, Lenio Luiz Streck e Gilmar Mendes (2013, p. 1.337) observam:

A instituição da justiça de paz também se relaciona aos objetivos gerais de acesso ao justo processo e de pacificação social. Quanto a isso, merece destaque o fato de os juízes de paz, que deverão ser eleitos para mandatos de quatro anos, terem competência não só para celebrar casamentos e verificar o processo de habilitação, mas também para exercer atribuições conciliatórias, as quais, se bem aproveitadas, têm o potencial de contribuir de maneira significativa para redução da necessidade de judicialização de controvérsias e da “litigiosidade contida”, ao servir de mecanismo extrajudicial de solução de conflitos.

Neste contexto, é possível verificar que o Juiz de Paz, poderá realizar resoluções de conflitos de forma consensual através da conciliação e até mesmo da mediação, tendo em vista o artigo 98 inciso II da Constituição Federal prever que compete a este “atribuições conciliatórias”, sendo que compete a cada Estado legislar acerca da criação da Justiça de Paz e suas atribuições.

2.3 A justiça de paz de acordo com o Supremo Tribunal Federal

O tema da Justiça de paz já foi objeto de análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sendo que para esse trabalho monográfico será abordado o acórdão da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 2.938/MG objetivando maior aprofundamento da matéria, especialmente porque o mesmo poderá servir como parâmetro para a confecção de leis estaduais a respeito do assunto.

Inicialmente cumpre ressaltar que compete aos Tribunais de Justiça enviar Projetos de Lei com o objetivo de disciplinar a justiça de paz em cada um de seus respectivos Estados, vez que se trata de matéria de organização do Poder Judiciário nos Estados, de acordo com o art. 96, I da Constituição Federal.

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Por conseguinte, após exercer a inciativa para deflagrar o processo legislativo, elaborando o Projeto de Lei (PL), os Tribunais de Justiça deverão enviar os mesmos às respectivas assembleias legislativas, para que estas deliberem e aprovem a leis em cada ente da federação, conforme confirma José Bonifácio Borges de Andrada (2017, p. 19), Procurador Geral da República em exercício.

Nesse contexto, o Estado de Minais Gerais buscando dar efetividade ao disposto no art. 98, II da Constituição Federal disciplinou acerca da eleição do juiz de paz, por meio da Lei nº 13.454, de 12 de janeiro de 2000. (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA-MG).

Além das competências do juiz de paz, a citada lei estadual fixou regras para eleição do juiz de paz, dentre elas disciplinou sobre a ilegibilidade.

O STF, por sua vez, por meio da ADI 2.938/MG, em princípio afirmou que Lei estadual que regulamenta os procedimentos necessários à efetivação das eleições para a prática da justiça de paz não viola a competência da União para legislar sobre direito eleitoral.

No entanto, conforme o STF não compete aos Estados legislar acerca dos requisitos de elegibilidade de candidatos a juiz de paz, além das constitucionalmente previstas no art. 14, § 3º. Nesse aspecto, a Lei nº 13.454, de 12 de janeiro de 2000 extrapolou os limites previstos na Constituição Federal, vez que é competência privativa da União dispor sobre matéria eleitoral e ilegibilidade conforme determina o seu art. 22, inciso I.

Ademais, o acórdão analisou as atribuições ao juiz de paz dispostas na lei em comento e decidiu sobre quais funções do juiz de paz compete ou não lei estadual regulamentar.

Nesse sentido, transcreve-se a ementa do acórdão da ADI 2.938/MG:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 13.454/00 DO ESTADO DE MINAS GERAIS. JUIZ DE PAZ. ELEIÇÃO E INVESTIDURA.

SIMULTANEIDADE COM AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS. PRINCÍPIO

MAJORITÁRIO. PREVISÃO NO ART. 117, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO. INVIABILIDADE DA AÇÃO DIRETA. 1. A viabilidade da ação direta reclama a impugnação conjunta dos preceitos que tratam da matéria, sob pena de inocuidade da própria declaração de inconstitucionalidade. 2. A ausência de impugnação do teor de preceitos constitucionais repetidos na lei impugnada impede o conhecimento da ação direta. Precedentes [ADI n. 2.132/MC, Relator o Ministro MOREIRA ALVES, DJ

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05.04.2002; ADI n. 2.242, Relator o Ministro MOREIRA ALVES, DJ 19.12.2001 e ADI n. 2.215, Relator o Ministro CELSO DE MELLO, DJ 26.04.2001]. JUIZ DE PAZ. ELEIÇÃO E INVESTIDURA. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CÓDIGO

ELEITORAL E DA LEGISLAÇÃO FEDERAL ESPECÍFICA.

INCONSTITUCIONALIDADE. NORMA COGENTE. 3. Não há falar-se, no que tange à legislação atinente à criação da justiça de paz, em aplicação subsidiária do Código Eleitoral [Lei n. 4.737/65], bem como da legislação federal específica, de observância obrigatória em todo território nacional. JUIZ DE PAZ. ELEIÇÃO E

INVESTIDURA. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA. OBRIGATORIEDADE.

PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS À REALIZAÇÃO DAS ELEIÇÕES. CONSTITUCIONALIDADE. ART. 14, § 3º, E 98, II, DA CB/88. COMPETÊNCIA FEDERAL. 4. A obrigatoriedade de filiação partidária para os candidatos a juiz de paz [art. 14, § 3º, da CB/88] decorre do sistema eleitoral constitucionalmente definido. 5. Lei estadual que disciplina os procedimentos

necessários à realização das eleições para implementação da justiça de paz [art. 98, II, da CB/88] não invade, em ofensa ao princípio federativo, a competência da União para legislar sobre direito eleitoral [art. 22, I, da CB/88]. JUIZ DE PAZ. ELEIÇÃO E INVESTIDURA. FIXAÇÃO DE CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE PARA CONCORRER ÀS ELEIÇÕES. INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA UNIÃO. ART. 14 E ART. 22, I, DA CB/88. 6. A fixação por lei estadual de condições de elegibilidade em relação aos candidatos a juiz de paz, além das constitucionalmente previstas no art. 14, § 3º, invade a competência da União para legislar sobre direito eleitoral, definida no art. 22, I, da Constituição do Brasil. JUIZ DE PAZ. COMPETÊNCIAS FUNCIONAIS. ARRECADAR BENS DE AUSENTES OU VAGOS. FUNCIONAR COMO PERITO. NOMEAR ESCRIVÃO

AD HOC. CONSTITUCIONALIDADE. MATÉRIA MERAMENTE

ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA FEDERAL. ART. 98, II, DA CB/88. 7. Lei estadual que define como competências funcionais dos juízes de paz a arrecadação provisória de bens de ausentes e vagos, nomeando escrivão ad hoc, e o funcionamento como perito em processos não invade, em ofensa ao princípio federativo, a competência da União para legislar sobre direito processual civil [art. 22, I, da CB/88]. JUIZ DE PAZ. COMPETÊNCIAS FUNCIONAIS. PROCESSAR AUTO DE CORPO DE DELITO. LAVRAR AUTO DE PRISÃO. RECUSA DA

AUTORIDADE POLICIAL. INCONSTITUCIONALIDADE. PROCESSO

PENAL. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR. ART. 22, I, DA CB/88. 8. Lei estadual que define como competências funcionais dos juízes de paz o processamento de auto de corpo de delito e a lavratura de auto de prisão, na hipótese de recusa da autoridade policial, invade a competência da União para legislar sobre direito processual penal [art. 22, I, da CB/88]. JUIZ DE PAZ. COMPETÊNCIAS FUNCIONAIS. PRESTAR ASSISTÊNCIA AO EMPREGADO NAS RESCISÕES DE CONTRATO DE TRABALHO. INEXISTÊNCIA DOS ÓRGÃOS PREVISTOS NO ART. 477 DA CLT. INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR. ART. 22, I, DA CB/88. 9. Lei estadual que define como competências funcionais dos juízes de paz, na ausência dos órgãos previstos no art. 477 da CLT, a prestação de assistência ao empregado nas rescisões de contrato de trabalho, invade a competência da União para legislar sobre direito do trabalho [art. 22, I, da CB/88]. Função já assegurada pelo § 3º do mesmo preceito legal. JUIZ DE PAZ. COMPETÊNCIAS FUNCIONAIS. ZELAR PELA OBSERVÂNCIA DAS NORMAS RELATIVAS À DEFESA DO MEIO AMBIENTE E VIGILÂNCIA ECOLÓGICA SOBRE AS MATAS. PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS AO SEU CUMPRIMENTO. CONSTITUCIONALIDADE. ART. 225 E 98, II, DA CB/88. 10. Lei estadual que define como competência funcional do juiz de paz zelar, na área territorial de sua jurisdição, pela observância das normas concernentes à defesa do meio ambiente e à vigilância sobre as matas, rios e fontes, tomando as providências necessárias ao seu cumprimento, está em consonância com o art. 225 da Constituição do Brasil, desde que sua atuação não importe em restrição às competências municipal, estadual e da

União. JUIZ DE PAZ. PRERROGATIVAS. PRISÃO ESPECIAL.

INCONSTITUCIONALIDADE. PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR. ART. 22, I, DA CB/88. DIREITO ASSEGURADO

Referências

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