PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SAÚDE
COMÉRCIO DE CELULARES E DESCARTE DE BATERIAS:
ESTUDO DE CASO EM GOIÂNIA
LILIANE DE MOURA BORGES
GOIÂNIA 2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SAÚDE
COMÉRCIO DE CELULARES E DESCARTE DE BATERIAS:
ESTUDO DE CASO EM GOIÂNIA
LILIANE DE MOURA BORGES
Orientador: Prof. Dr. Nivaldo dos SantosDissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais e Saúde.
GOIÂNIA 2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SAÚDE
Dissertação do Mestrado em Ciências Ambientais e Saúde defendida em
___ de ___________ de 2012 e considerada ____________ pela banca
examinadora constituída pelos seguintes professores:
_________________________________________________
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos – PUC-Goiás (Presidente)
_________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Pasqualetto/IFG (Membro Externo)
_________________________________________________
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais, Jair e Olíria, pelo simples fato de me darem a vida. Aos meus irmãos, Jean e Lílian, por terem sido exemplos na minha formação acadêmica. Ao meu esposo Victor Hugo e ao meu filho Enzo, por suportarem com bravura minha ausência nos últimos dois anos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, em quem aprendi desde cedo a confiar.
Ao meu pai, Jair, que me ensinou a importância de estudar, e à minha
mãe, Olíria, que me encorajou a ingressar no curso de graduação (na então
UCG), onde se deu o início da minha paixão pelo Direito e por ser a minha
fortaleza.
Ao meu irmão Jean, quem me deu o insight para o estudo do tema.
À minha irmã, Lílian colega do MCAS, que tantas vezes contribuiu com
suas sugestões e experiências para a conclusão deste trabalho. Obrigada, minha
amiga de todas as horas.
Ao meu esposo, Victor Hugo, que suportou meu stress e compartilhou as
angústias e as alegrias deste momento tão importante da minha vida.
Ao meu filho Enzo, a quem ouvi tantas vezes perguntar: “Mamãe, você já
acabou? Quer brincar comigo?”. Com seus 3 anos de idade soube entender como ninguém a minha falta de tempo.
Aos amigos Márcia e Roberto e à minha sogra Neusa, por terem sido
solidários ao preencher a vida do meu filho durante as semanas de aulas e tantas
viagens entre Palmas e Goiânia ao longo deste trabalho.
Aos colegas de curso, por compartilharem suas experiências em
discussões acaloradas.
Aos sujeitos entrevistados e aos administradores dos locais da
pesquisa de campo, que compartilharam depoimentos valiosos que enriqueceram
Aos professores do MCAS pelo valoroso ensinamento em todas as
disciplinas cursadas, principalmente à professora Maira Barbieri, que me auxiliou
a encontrar a metodologia adequada para a execução do estudo.
À professora Sandra Regina Longhin, pela estimável contribuição neste
trabalho e por aceitar fazer parte da banca.
Ao professor Antônio Pasqualetto, pelas estimulantes e encorajadoras
considerações durante a banca.
Ao meu orientador, professor Nivaldo dos Santos, pela confiança em mim
depositada para a execução deste trabalho.
À PROSUP/CAPES, pela bolsa de estudo concedida, o que possibilitou a
minha dedicação para a realização deste estudo.
A todos que, apesar de não terem seus nomes citados, recebem minha
RESUMO
Um dos problemas ambientais mais graves é o manejo adequado dos resíduos sólidos. A obsolescência precoce dos produtos eletrônicos em razão do avanço tecnológico e o crescimento do volume de venda de telefone celular, inclusive no mercado informal, contribuem para aumentar a quantidade de resíduos gerados. O descarte de baterias de celular em lixo domiciliar representa prejuízo ao meio ambiente, pois estas, devido à composição de elementos tóxicos, se acomodadas nos aterros sanitários ou no solo, provocam impacto ambiental, causando a contaminação de pessoas, animais, subsolo e lençóis freáticos. A legislação brasileira prevê a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto e a logística reversa como instrumento para mitigar impactos ambientais negativos. Nesse contexto, o trabalho tem por objetivo avaliar o conhecimento que os vendedores de telefone celular do comércio informal têm sobre a legislação ambiental para descarte de baterias, visando diagnosticar a responsabilidade social deste vendedor quanto ao destino dos resíduos perigosos e, por fim, identificar se há prática do processo de logística reversa. A metodologia utilizada foi o Estudo de Caso em grau comparativo entre dois centros de comércio popular administrados por ente privado e pelo poder público. A pesquisa tem fim exploratório e descritivo por meio de levantamento bibliográfico e pesquisa de campo. Os sujeitos da pesquisa foram os vendedores de telefone celular que trabalham nos dois centros de comércio popular e os dados foram coletados por entrevista semi-estruturada. Os resultados apontam que existe pouca participação do consumidor no processo de devolução das baterias, que 100% dos entrevistados não têm conhecimento sobre a legislação de descarte de baterias e que os comerciantes não têm comportamento corresponsável no processo de logística reversa para a destinação final ambientalmente adequada das baterias de celulares. Diante disso, recomenda-se a educação ambiental como instrumento de informação para promover a mudança de comportamento dos usuários e vendedores de telefone celular do mercado informal de Goiânia.
Palavras chave: Baterias de Celulares; Logística Reversa; Sustentabilidade; Legislação Ambiental.
ABSTRACT
One of the most serious environmental problems is the proper management of solid waste. The early obsolescence of electronics because of technological advances and the growth of sales volume of mobile phone including the informal sector contribute to increase the amount of waste generated. Disposal of mobile phone batteries in household waste represents loss to the environment, because of toxic elements composition, if are accommodated in landfills or land, represent health and environmental impact causing the contamination of people, animals, and ground sheets water tables. The Brazilian legislation defines shared responsibility for the lifecycle of the product and reverse logistics as a tool for reducing environmental impact. In this context, this study aims to evaluate the knowledge of the mobile phone vendors in the informal market about environmental legislation for disposal of batteries, diagnose the social responsibility of those vendors related to hazardous wastes and finally, identify if there practice of reverse logistics process. The methodology used was Case Study in degree compared between two popular markets managed by the private entity and the government office. The research is exploratory and descriptive order through a literature review and field research. The respondents for the research were the sellers of mobile phone that working in two popular markets and the data were collected through semi-structured interview. The results show that there is little consumer participation in the process of discarding cell phone batteries that 100% of the respondents have no knowledge about the legislation for disposal of cell phone batteries and that vendors don’t have co-responsible behave in the reverse logistics process for the environmentally disposal of cell phone batteries. Therefore, it is recommended environmental education as a tool to give information to promote change in the behavior of users and mobile phone vendors in the informal market in Goiânia.
Keywords: Cell Phone Batteries; Reverse Logistics; Sustainability; Environmental Law.
SUMÁRIO
RESUMO ... vii
ABSTRACT ... viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS... xi
LISTA DE QUADROS ... xiii
LISTA DE FIGURAS... xiv
1 INTRODUÇÃO ... 15
2 OBJETIVOS ... 20
2.1 Objetivo Geral ... 20
2.2 Objetivos Específicos ... 20
3 REFERENCIAL TEÓRICO ... 21
3.1 Legislação Ambiental e Desenvolvimento Social no Brasil ... 21
3.1.1 Legislação Ambiental no Brasil ... 21
3.1.2 Conselho Nacional do Meio Ambiente... 24
3.1.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS ... 26
3.1.4 Setor Informal ... 29
3.1.5 História dos Mercados Municipais de Goiânia ... 33
3.1.6 Responsabilidade Civil Por Dano Ambiental ... 35
3.2 A Sociedade, a Tecnologia da Informação e o Meio Ambiente ... 37
3.2.1 Desenvolvimento Tecnológico ... 37
3.2.2 Resíduos Eletroeletrônicos ... 39
3.2.3 Componentes Perigosos do Aparelho Celular ... 41
3.3 Prática Sustentável: Reutilização, Recuperação, Reciclagem e a Logística Reversa ... 43
3.3.1 Sustentabilidade ... 43
3.3.2 Reutilização, Recuperação, Reciclagem e Descarte ... 50
3.3.3 Logística Reversa ... 54
4 METODOLOGIA ... 58
4.2 Tipologia da Pesquisa ... 59
4.3 Universo e Amostra ... 60
4.4 Coleta dos Dados ... 62
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 66 5.1 Legislação Ambiental ... 67 5.2 Comportamento Ambiental ... 69 5.3 Logística Reversa ... 76 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 86 7 REFERÊNCIAS ... 90 APÊNDICES ... 97
Apêndice I – Formulário para Coleta de Dados ... 98
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRELPE – Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
Ag – Prata Al – Alumínio
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Cd – Cádmio
CEBDS – Conselho das Empresas Brasileiras para o Desenvolvimento Sustentável
CMMAD – Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNC – Confederação Nacional do Comércio
CNRH – Conselho Nacional dos Recursos Hídricos
CNUMAD – Confederação das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
Co – Cobalto
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente Cr – Cromo
CT – Câmara Técnica Cu – Cobre
Fe – Ferro
FOA – Food and Agriculture Organization GSM – Global System Móbile
GT – Grupo Técnico Hg – Mercúrio
IBAMA – Instituto Brasileiro meio Ambiente e dos Recursos Renováveis IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
IPEA – Instituto Pesquisa Econômica Aplicada IPT – Indicador Potencial de Toxicidade
Li – Lítio
Ni – Níquel
ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas Pb – Chumbo
PBT – Tóxicos bioacumulativos persistentes PEV – Posto de Entrega Voluntário
PPP – Princípio Poluidor Pagador
PROGER – Programa de Geração de Renda PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente RPC – Responsabilidade Pós Consumo
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à pequena e micro empresa SEDEM – Secretaria de Desenvolvimento Municipal
SENAC – Serviço Nacional do Comércio
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente Sn – Estanho
STJ – Superior Tribunal de Justiça
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Potencial Poluidor de elementos químicos utilizados em pilhas e baterias ...
4 443 Quadro 2: Qualificação dos entrevistados quanto ao gênero e quanto à
escolaridade ... 63 Quadro 3: Averiguação se o vendedor tem conhecimento sobre a norma
ambiental de descarte de bateria de celular ... 66 Quadro 4.1:
Quadro 4.2:
Quadro 4.3:
Comportamento ambiental – aspectos quanto à entrega de bateria pelo usuário e quanto ao recebimento pelo vendedor ... Comportamento ambiental – aspectos quanto ao conhecimento sobre a periculosidade da bateria de celular ... Comportamento ambiental – aspectos quanto ao conhecimento sobre a logística reversa de bateria de celular ...
70
73
74 Quadro 5.1:
Quadro 5.2:
Logística reversa – identificação da prática de recebimento de baterias fora de uso e se há utilização de canal reverso ... Logística reversa – verificação da responsabilidade do vendedor quanto ao destino das baterias que ele recebe em seu estabelecimento ...
77
LISTA DE FIGURAS E FOTOS
Figura 1: Figura 2: Figura 3: Figura 4: Figura 5: Foto 1: Foto 2: Foto 3 e 4: Foto 5: Foto 6: Foto 7:Representação esquemática dos processos de logística direta e reversa ... Atividades típicas do processo de logística reversa e
revalorização ... Mapa político do Brasil com destaque na localização do Estado de Goiás ... Esquema de lixo depositado em lixão ou aterro sem tratamento .. Ciclo de ações que contribuem para a mudança de
comportamento ... Centro Comercial A ( Público) ... Centro Comercial B ( Privado) ... Caixas improvisadas para coleta de baterias ... Animal se alimentando de lixão a céu aberto ... PEV – Posto de Entrega Voluntária... Compartimento para descarte de pilhas e baterias do PEV
56 57 58 74 89 66 66 72 74 81 81
1 INTRODUÇÃO
Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, questões relevantes sobre o
meio ambiente vêm sendo discutidas no mundo todo. A redução do consumo, a
conservação, a preservação, a reciclagem e a diminuição dos níveis de emissão
de gases poluentes na atmosfera são investigadas por muitos países. Leis e
manuais de procedimento para coleta, segregação, tratamento, transporte e
disposição final do resíduo sólido foram criados e normas regulamentadoras
editadas no intuito de resolver ou amenizar os efeitos de um problema mundial: o
manejo de resíduos sólidos. A preocupação com o meio ambiente e a
necessidade de apresentar destino adequado aos resíduos perigosos e tóxicos
são aspectos discutidos com frequência.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(ABINEE, 2012), as vendas de celulares cresceram 25% no primeiro semestre de
2011 e a comercialização de baterias de celular chega a 400 milhões anuais no
Brasil. Do mesmo modo que essa quantidade encontra-se com os consumidores,
um número igualmente considerável de baterias é descartado inadequadamente,
provocando a contaminação do solo, da água e do ar, além de gerar um volume
enorme de entulho (REBAGA, 2009). O descarte de baterias de celulares em lixo
doméstico representa prejuízo ao meio ambiente, pois estas são acomodadas nos
aterros sanitários ou no solo. Expostos ao calor, o mercúrio ou o cádmio,
presentes nas mesmas, podem ser propagados pelo ar e atingir a água, entrando,
assim, na cadeia alimentar, e contaminando pessoas e meio ambiente
(USA-Massachussets, 2010). Pelo fato de serem bioacumulativos, causam doenças
Esse fato não deveria ser motivo de preocupação, pois o Brasil foi o
primeiro país na América Latina a regulamentar a destinação de pilhas e baterias.
Em 30 de junho de 1999 foi promulgada a Resolução n. 257, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que disciplina sobre os limites de
elementos tóxicos em cada unidade produzida e também sobre o descarte e o
gerenciamento ambientalmente adequado de pilhas e baterias usadas no que
tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final. Essa
resolução foi um avanço na legislação ambiental, porém, não houve adesão
significativa da sociedade. Em 05 de novembro de 2008, dez anos depois, o
CONAMA, sob o argumento de considerar a necessidade de atualizar a normativa
visando conscientização pública e evolução das técnicas e processos mais
limpos, promulga a Resolução n. 401, que, em síntese, reforça o já determinado
pela Resolução 257 e detalha outros procedimentos.
Essa norma estabelece a logística reversa como forma de amenizar os
efeitos do impacto ambiental negativo causado pelos resíduos sólidos. O
CONAMA editou essas resoluções no intuito de promover um sistema de controle
de comportamento, ou seja, conforme a determinação legal espera-se que os
agentes envolvidos cumpram a ordem de promover o descarte ambientalmente
adequado das baterias de celulares. Contudo, a realidade brasileira mostra que
os “lixões” ainda são o destino final dos resíduos sólidos em metade dos municípios, conforme Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em
2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009).
Outro problema que merece destaque é a inserção, no mercado brasileiro,
das chamadas “baterias ilegais”, provenientes de contrabando e outras origens, sem nenhuma segurança de que seguem os limites de substâncias tóxicas
estabelecidos pelo CONAMA para metais como mercúrio, chumbo e cádmio.
Humberto Barbato, presidente da Abinee, citado em Releases ABINEE 2011, faz
um alerta sobre a competição desleal exercida pela pirataria na venda de pilhas e
baterias de uso doméstico, que geralmente são fabricadas em países asiáticos e
ocupam cerca de 40% do mercado total (de 1,2 bilhão de unidades/ano). Segundo
ele, além de não recolherem impostos, esses produtos ainda representam perigo
ambiental, pois agregam, em sua composição, quantidades de mercúrio muito
superiores ao estabelecido pela resolução do CONAMA (ABINEE, 2011).
O desafio da realização da manufatura reversa e do gerenciamento do lixo
eletrônico (e-lixo), aliado à inclusão digital, é possível não só nas instituições de
ensino, mas também nos diversos segmentos, que geram resíduos eletrônicos
(LIMA; SILVA; LIMA, 2008). Ademais, diversos fatores interferem no processo de
retorno de aparelhos e baterias de celular, pois existe insignificante participação
do consumidor no processo de devolução e descompromisso por parte do
fabricante e das operadoras de telefonia celular em disponibilizar canais de
retorno para que isso funcione efetivamente (BEZERRA, 2009). Também foi
encontrado estudo sobre o consumo e comportamento ambiental, no qual os
resultados indicam que os vendedores relatam ter preocupação com o meio
ambiente e a saúde humana, concordam que os problemas ambientais podem
estar relacionados ao consumismo e consideram importante a reciclagem, porém,
desconhecem a Resolução sobre o assunto (CAIXETA, 2006). Nota-se que
nessas e em outras pesquisas os sujeitos entrevistados fazem parte da população
acadêmica, são revendedores de grandes estabelecimentos ou fornecedores de
O presente estudo justifica-se pela carência de pesquisas que abordem o
descarte de baterias no âmbito do comércio informal. Surge, então, o interesse de
se averiguar o conhecimento do trabalhador do comércio de celular do setor
informal sobre a legislação ambiental e o processo de logística reversa, sua
consciência da necessidade de mudar hábitos e de ter um comportamento
pró-ambiental, e, ainda, se está inserido num programa de interação social que se
preocupa com os efeitos danosos do descarte inadequado de baterias de
celulares.
Hipoteticamente, acredita-se que os vendedores de telefone celular do
mercado informal de Goiânia não cumprem a legislação ambiental que determina
a logística reversa para as baterias de celular, haja vista desconhecerem os
procedimentos para aplicar a lei e não terem consciência real da sua
responsabilidade nesse processo.
Nesse diapasão, o projeto de pesquisa foi apresentado ao Comitê de Ética
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e aprovado sob o CAAE
0024.0.168.000-11. O arcabouço teórico foi organizado de modo a conhecer a
legislação ambiental brasileira, o CONAMA e a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, o crescimento do setor informal, o desenvolvimento tecnológico e os
resíduos eletrônicos e, por fim, a logística reversa como alternativa de
sustentabilidade.
A metodologia utilizada foi o Estudo de Caso em grau comparativo entre
dois centros de comércios popular administrados pelo poder público e por ente
privado. A pesquisa tem fim exploratório e descritivo por meio de levantamento
bibliográfico e pesquisa de campo. Os dados foram coletados com a realização de
baterias usadas e se o comerciante possui conhecimento quanto ao perigo do
descarte inadequado de resíduos tóxicos, bem como diagnosticar se esse
vendedor tem noção da sua responsabilidade social quanto ao destino das
baterias.
O trabalho foi organizado em seis partes, sendo elas: Introdução,
Objetivos, Referencial Teórico, Metodologia, Resultados e Discussão e
Considerações Finais.
O Referencial Teórico foi dividido em três tópicos: o primeiro deles trata da
legislação ambiental e do desenvolvimento social no Brasil; em seguida,
analisa-se a conexão entre a sociedade, a tecnologia da informação e o meio ambiente;
por fim, busca-se conhecer as práticas sustentáveis entre elas, a logística
reversa.
No quarto capítulo descreveu-se a metodologia utilizada, pormenorizando
os critérios utilizados. Ainda, com a finalidade de mais bem explicitar os
resultados, foram elaborados quadros demonstrativos com valores absolutos e
percentuais de cada item entrevistado. As informações colhidas foram divididas
em blocos, nos quais as respostas foram analisadas sob três ângulos: Legislação
Ambiental, Comportamento Ambiental e Logística Reversa. Nas considerações
finais foram feitas ponderações sobre o caso estudado, bem como críticas e
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar o conhecimento dos vendedores de aparelhos de telefonia celular
em centros de comércio popular administrados pelo poder público e por particular
quanto à legislação ambiental relativa ao descarte de baterias e à prática da
logística reversa.
2.2 Objetivos Específicos
· Avaliar o conhecimento do comerciante quanto aos perigos do descarte inadequado de baterias;
· Identificar a prática de recebimento de baterias fora de uso e a utilização do canal reverso;
· Diagnosticar a responsabilidade social do vendedor de telefone celular e bateria quanto ao destino de resíduos perigosos.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Legislação Ambiental e Desenvolvimento Social no Brasil
3.1.1 Legislação Ambiental no Brasil
A avaliação da legislação ambiental requer a análise da história do Brasil. É
sabido, desde o ensino fundamental, que o evento do descobrimento do Brasil e a
sua consequente colonização pelos Portugueses foi de cunho exploratório. Essa
mentalidade se manteve em seus descendentes e é, de fato, um problema
cultural que ainda resiste nos dias atuais.
Desde a época do Brasil Colônia constata-se a preocupação com a
proteção aos recursos naturais, mas voltada para os interesses econômicos
imediatos, como, por exemplo, a exploração da madeira e de seus subprodutos,
que eram monopólio da Coroa. Os detritos lançados nas ruas também eram
problema e, em meados do século XIX, o intendente Paulo Viana publicou um
documento onde vedava o abuso de “se deitarem às ruas imundícies”, conforme relata Eigenheer (2009).
Após a Independência, essa ideia de “proteção” continuava presente e
priorizava setores que envolviam o meio ambiente, visando prolongar a sua
exploração. As modificações políticas, ocorridas a partir da década de 1930,
geraram a legislação que focava a proteção de determinados recursos ambientais
de importância econômica, como a regulamentação do Código de Águas, que
buscava mais que a proteção ao recurso natural, mas a sua exploração para a
geração de energia elétrica. O advento da crise política de 1964 traz as primeiras
pela compreensão, à época, de que tais recursos só se transformariam em
riquezas se explorados de forma racional e de que se deveriam dar múltiplos usos
a esses recursos, de tal forma que sua exploração para determinada finalidade
não impedisse sua exploração para outros fins, nem viesse em detrimento da
saúde da população e de sua qualidade de vida, conforme explica o advogado
Antônio Inagê Oliveira em artigo escrito para a revista virtual do Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento sustentável (CEBDS, 2012).
Um excerto do artigo intitulado “Linha do tempo: um breve resumo da
evolução da legislação ambiental no Brasil”, extraído do portal do Superior
Tribunal de Justiça (STJ, 2010), permite a percepção de quais eventos históricos
foram determinantes para o surgimento de importantes leis que tratam do meio
ambiente:
1605
Surge a primeira lei de cunho ambiental no País: o Regimento do Pau-Brasil, voltado à proteção das florestas.
1797
Carta régia afirma a necessidade de proteção a rios, nascentes e encostas, que passam a ser declarados propriedades da Coroa.
1799
É criado o Regimento de Cortes de Madeiras, cujo teor estabelece rigorosas regras para a derrubada de árvores.
1850
É promulgada a Lei n° 601/1850, primeira Lei de Terras do Brasil. Ela disciplina a ocupação do solo e estabelece sanções para atividades predatórias.
1911
É expedido o Decreto nº 8.843, que cria a primeira reserva florestal do Brasil, no antigo Território do Acre.
1916
Surge o Código Civil Brasileiro, que elenca várias disposições de natureza ecológica. A maioria, no entanto, reflete uma visão patrimonial, de cunho individualista.
1934
São sancionados o Código Florestal, que impõe limites ao exercício do direito de propriedade, e o Código de Águas. Eles contêm o embrião do que viria a constituir, décadas depois, a atual legislação ambiental brasileira.
É promulgada a Lei 4.504, que trata do Estatuto da Terra. A lei surge como resposta a reivindicações de movimentos sociais, que exigiam mudanças estruturais na propriedade e no uso da terra no Brasil.
1965
Passa a vigorar uma nova versão do Código Florestal, ampliando políticas de proteção e conservação da flora. Inovador, estabelece a proteção das áreas de preservação permanente.
1967
São editados os Códigos de Caça, de Pesca e de Mineração, bem como a Lei de Proteção à Fauna. Uma nova Constituição atribui à União competência para legislar sobre jazidas, florestas, caça, pesca e águas, cabendo aos Estados tratar de matéria florestal.
1975
Inicia-se o controle da poluição provocada por atividades industriais. Por meio do Decreto-Lei 1.413, empresas poluidoras ficam obrigadas a prevenir e corrigir os prejuízos da contaminação do meio ambiente. 1977
É promulgada a Lei 6.453, que estabelece a responsabilidade civil em casos de danos provenientes de atividades nucleares.
1981
É editada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente. A lei inova ao apresentar o meio ambiente como objeto específico de proteção.
1985
É editada a Lei 7.347, que disciplina a ação civil pública como instrumento processual específico para a defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
1988
É promulgada a Constituição de 1988, a primeira a dedicar capítulo específico ao meio ambiente. Avançada, impõe ao Poder Público e à coletividade, em seu art. 225, o dever de defender e preservar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras.
1991
O Brasil passa a dispor da Lei de Política Agrícola (Lei 8.171). Com um capítulo especialmente dedicado à proteção ambiental, o texto obriga o proprietário rural a recompor sua propriedade com reserva florestal obrigatória.
1998
É publicada a Lei 9.605, que dispõe sobre crimes ambientais. A lei prevê sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
2000
Surge a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985/00), que prevê mecanismos para a defesa dos ecossistemas naturais e de preservação dos recursos naturais neles contidos.
2001
É sancionado o Estatuto das Cidades (Lei 10.257), que dota o ente municipal de mecanismos visando permitir que seu desenvolvimento não ocorra em detrimento do meio ambiente.
Na última década, várias foram as leis de proteção ambiental criadas no
· 2001 - Medida Provisória n. 2186-16 – deliberou sobre o acesso ao patrimônio genético, acesso e proteção ao conhecimento genético e
ambiental, assim como a repartição dos benefícios provenientes;
· 2005 - Lei n. 11.105 (Lei de Biosegurança) – estabeleceu sistemas de fiscalização sobre as diversas atividades que envolvem organismos
modificados geneticamente;
· 2006 - Lei n. 11.284 (Lei de Gestão de Florestas Públicas) – normatizou o sistema de gestão florestal em áreas públicas, criou um órgão regulador
(Serviço Florestal Brasileiro) e o Fundo de Desenvolvimento Florestal;
· 2009 - Medida Provisória n. 458 – estabeleceu novas normas para a regularização de terras públicas na região da Amazônia;
· 2010 - Lei n. 12.305 – instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos; · 2011 - PLC 30/2011 – trata de alterações no Código Florestal.
3.1.2 Conselho Nacional do Meio Ambiente – (CONAMA)
O CONAMA foi instituído pela Lei 6.938/81 como um órgão consultivo e
deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). É representado
por cinco setores da sociedade: órgãos federais, estaduais e municipais, setor
empresarial e sociedade civil. Tem como estrutura o Plenário, onde as
resoluções, proposições, recomendações, moções e decisões são votadas; as
Câmaras Técnicas (CT), nas quais os conselheiros preparam as matérias com
temas específicos, como controle e qualidade ambiental, educação ambiental e
assuntos internacionais para a apreciação do Plenário. Por fim, as CT podem
formar Grupos de Trabalho (GT) para fazer estudo de assuntos considerados
em seguida ao Plenário. As reuniões do CONAMA são públicas; no Plenário e nas
CT as matérias são votadas pelos conselheiros. Já nos GT são realizados fóruns
em que especialistas e grupos de interesse podem opinar na decisão do tema
debatido, conforme informações apreendidas do Decreto n. 99.274, de 06 de
junho de 1990, que regulamenta a Lei n. 6.938/81.
Em 1992, aconteceu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como ECO-92,
que envolveu 178 países e foi a mola propulsora para a preocupação com uma
Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS. No Brasil, sob a influência das
experiências europeias, agentes políticos e civis começaram a demandar uma
legislação específica para resíduos sólidos. Assim, o CONAMA criou um GT para
propor diretrizes para a gestão de resíduos sólidos no Brasil. Nesse contexto,
surgiu o princípio da Responsabilidade Pós-Consumo (RPC), cujos pressupostos
são a transferência de responsabilidade, desenvolvimento de tecnologias
preventivas e uso de políticas participativas para os diversos segmentos da
cadeia do produto. O projeto, discutido pelos membros do CONAMA, criava a
RPC e definia que tipos de resíduos específicos teriam tratamento diferenciado,
sendo o próprio CONAMA que deliberava sobre os procedimentos. Assim, havia
GT para discutir resolução para embalagens, lâmpadas fluorescentes, pneus e
baterias. As resoluções para baterias e pneus foram aprovadas em 1999, tendo a
primeira sofrido uma revisão em 2008, como mencionado por Milanez e Buhrs
(2009).
O CONAMA encaminhou as resoluções para a Casa Civil na intenção de
que fossem apresentadas como Projeto de Lei do Executivo. Entretanto, isso não
Deputados como apenso ao que já estava tramitando naquela casa. Como
consequência da falta de apoio político, as duas resoluções sobre baterias
aprovadas pelo CONAMA caíram em desuso, pois tiveram a sua validade jurídica
questionada. De um lado, as empresas alegavam que somente leis aprovadas
pelo Congresso Nacional poderiam criar obrigações e, dessa forma, o CONAMA
não poderia implantar a RPC. Por outro lado, o setor ambiental argumentava não
haver necessidade específica de lei, haja vista já existir a Lei n. 9.605, de 1998,
que trata de crime ambiental. Para solucionar o impasse, o que ocorreu foi um
acordo voluntário entre as empresas e o setor ambiental do governo, e, as
resoluções foram implantadas com brechas na redação, não promovendo uma
melhoria efetiva do desempenho ambiental das empresas. Embora a edição das
resoluções do CONAMA tenha sido um marco histórico para o tema no Brasil,
pode-se perceber que a falta de sincronicidade de objetivos entre as partes
envolvidas/interessadas fizeram com que as determinações deixassem de ter o
objetivo de promover o gerenciamento adequado do descarte de baterias de
celulares cumprido. Isso se deu em decorrência da falha no texto, que não definia
procedimentos para o cumprimento e para a fiscalização do preceituado na
norma, afirma Milanez e Buhrs (2009).
3.1.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS
O projeto de lei que tratava de resíduos sólidos tramitou durante 21 anos
no Congresso Nacional, sendo, enfim, sancionado pelo Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em 02 de agosto de 2010. A Lei 12.305, denominada Política
ambiental brasileira, pois é fruto de ampla discussão com órgãos de governo,
instituições privadas, organizações não governamentais (ONGs) e sociedade civil.
A PNRS trata de princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a
gestão dos resíduos sólidos. Essa lei traça a distinção entre “resíduo” – aquele
lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado – e “rejeito” – aquele que não é
passível de reaproveitamento – e também faz a classificação de todo tipo de
resíduo: doméstico, industrial, construção, eletroeletrônico, lâmpada fluorescente,
agrosilvopastoril, perigosos e de saúde, informa a Confederação Nacional do
Comércio (CNC, 2010).
A PNRS tem seis principais objetivos, previstos no artigo 7º (BRASIL,
2010):
Ø não geração, redução, reutilização e tratamento de resíduos sólidos; Ø destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos;
Ø diminuição do uso de recursos naturais na produção de novos produtos; Ø intensificação de ações de educação ambiental;
Ø aumento da reciclagem no país; Ø promoção da inclusão social;
Ø geração de emprego e renda para catadores de material reciclável.
Nessa diretriz, a lei estabeleceu o consumo sustentável dentre seus
objetivos (art. 7º, XV) e criou a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos, atingindo fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes,
consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de
resíduos sólidos (art. 3º, XVII), bem como a logística reversa. Conforme as novas
terão a parcela de responsabilidade individualizada e encadeada, conforme
apresenta o texto da lei.
A PNRS criou alguns instrumentos que já eram praticados pela União
Europeia, quais sejam:
Ø Planos de resíduos sólidos;
Ø Inventários e sistema declaratório anual de resíduos sólidos;
Ø Coleta seletiva;
Ø Sistema de Logística Reversa e Responsabilidade Compartilhada;
Ø Incentivo às cooperativas de catadores;
Ø Monitoramento e fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária;
Ø Cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o
desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e
tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e
disposição final ambientalmente adequada de rejeitos;
Ø Educação ambiental.
A lei da PNRS tem o propósito de promover a redução do consumo de
recursos naturais até - pelo menos - a capacidade de sustentação do planeta (art.
6º, V). Ainda, estabelece o princípio da ecoeficiência, que nada mais é que
compatibilizar a produção de bens e serviços com o mínimo impacto ambiental.
Essa lei também determina, na parte das disposições transitórias e finais, que
todas as prefeituras do país terão até 2014 para implementar os serviços
relacionados à limpeza urbana e à disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos.
O avanço tecnológico, a abertura econômica, o crescimento populacional e
modificaram as práticas de consumo. Como resultado, nos dias atuais as
organizações governamentais e não governamentais, a sociedade civil e toda a
população devem enfrentar o desafio de reduzir o consumo e administrar o lixo,
de modo a amenizar os efeitos drásticos ao meio ambiente.
3.1.4 Setor Informal
Karl Marx, o grande estudioso do capitalismo, diz que o movimento de
acumulação do capital gera uma superpopulação relativa de trabalhadores
excedentes, que pode ser caracterizada como sendo constituída por todos os
trabalhadores que estão desempregados ou parcialmente empregados e que em
sua maioria está apta para ingressar no mercado formal de trabalho. Essa
superpopulação relativa assume três formas: a primeira é a flutuante, composta
por trabalhadores que perderam seus postos com o próprio crescimento da
economia; a segunda é a latente, geralmente composta pelos trabalhadores
rurais, formando uma população supérflua; a terceira forma da superpopulação é
a estagnada, formada por parte dos trabalhadores em ação, mas que estão
inseridos em ocupações totalmente irregulares. “Ela proporciona ao capital reservatório inesgotável de força de trabalho disponível” (MARX, 2002, p.
741-746).
Assim, considera-se emprego informal, nos dias de hoje, aquele no qual a
pessoa trabalha sem condições regulamentadas pelo governo, ou seja, não há
vínculo empregatício. O setor informal basicamente se resume ao comércio de
ruas e pequenos negócios (firmas sem registro, vendedores ambulantes,
camelôs, feirantes, etc.), formado por uma classe de pessoas que por diversas
crescimento do trabalho informal a informatização da indústria e da agricultura, o
aumento da carga tributária e a taxa de desemprego.
Segundo Theodoro (2000), em As bases da Política de Apoio ao Setor
Informal no Brasil, o governo apresentou três diferentes abordagens entre 1970 e 2000. A primeira etapa se deu em meados dos anos 1970, com a abordagem
técnica do informal, pois, devido à expansão do processo de urbanização,
registrava-se o aumento da força de trabalho. Entendia-se que as atividades
informais eram subproduto das rápidas transformações pelas quais passavam as
nações em desenvolvimento e que seriam extintas quando, enfim, o Brasil
atingisse o status de país desenvolvido. O setor informal seria algo que
desapareceria a longo prazo e que precisava ser combatido. Contudo, a
abordagem técnica não tinha conhecimento suficiente sobre o universo do setor
informal. Órgãos como o Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH-IPEA)
e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) contribuíram
com programas, proposições e políticas no sentido de fomento à regularização do
empreendimento e o que estudiosos acreditavam que iria acabar se ampliou cada
dia mais com o agravo das questões políticas e econômicas. Nos anos 1980,
houve o fim do regime militar, a recessão econômica, a inflação, o aumento do
desemprego e, consequentemente, do setor informal. Nesse contexto, o mercado
informal é visto como um dos pilares de absorção da força de trabalho e o Estado
analisa a questão pela lente da abordagem política, pretendendo, ao contrário de
formalizar o informal, aproveitar suas características para enfrentar o
desemprego. Assim, criam-se programas de apoio ao informal com a participação
governamental continuou a ser residual e os programas continuaram a ser
instrumentos de clientelismo político.
No início dos anos 1990, esses programas governamentais de apoio ao
informal estavam proscritos e, nesse momento, aparece a abordagem subsidiária
em termos de políticas sociais a serem implantadas pelo Estado. “O tema
combate à pobreza” passa a ser carro chefe no governo Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso e o setor informal é visto como uma fonte de
sobrevivência para a população pobre. São instituídos três programas básicos de
apoio ao setor informal: Comunidade Solidária e Programa Banco do Povo,
Programa de Geração de Renda - PROGER, Trabalhador e
BNDES-Solidário, programas que possuem visão mais liberal, tendo cada indivíduo como
empreendedor em potencial. O Estado, com o apoio da sociedade civil, se propõe
a assumir o papel de gestor da miséria e das desigualdades, analisa Theodoro
(2000).
A mudança na economia colocou à margem trabalhadores que, para
sobreviverem, precisaram lançar mão de formas alternativas de trabalho. Assim, o
Processo de Informalidade pode ser representado e acompanhado por duas
categorias de trabalhadores que são predominantes no processo: os assalariados
sem registro e os trabalhadores por conta própria (CACCIAMALI, 2000).
Nesse contexto, percebe-se que o mercado de trabalho no Brasil sofreu a
consequência de uma reestruturação política e econômica nas últimas décadas,
que gerou um processo estrutural de desemprego e desigualdade social,
[...] pode-se afirmar, por exemplo, que ampliou-se, nos anos noventa, o grau e a abrangência da precarização do mercado de trabalho brasileiro – quer porque aumentou a proporção de pessoas ocupadas em atividades desprotegidas, que não tem acesso aos direitos sociais e trabalhistas básicos, quer porque ampliou-se a presença de outras formas de ocupação, distintas de assalariamento, que se caracterizam por terem em geral, piores condições de trabalho. (FILGUEIRAS, DRUCK e AMARAL, 2000, p. 24)
O desenvolvimento econômico e a expansão tecnológica são ícones para
uma mudança de comportamento na sociedade. A fatia da classe média
aumentou e, por isso, o mercado ganhou mais consumidores e, com o avanço
tecnológico e a queda do dólar, foi possível colocar mais itens com preço menor à
disposição de mais consumidores. Como consequência, aqueles trabalhadores
marginalizados viram no mercado informal uma fonte lucrativa de renda.
Atualmente nos mercados populares é possível encontrar inúmeros produtos
eletrônicos importados e nacionais com preço acessível e várias formas de
pagamento. Diante desse quadro, pode-se perceber que a dinâmica do trabalho
por conta própria que desemboca nos mercados populares é tema de relevância
para o poder público.
Cacciamali, em “Globalização e Processo de Informalidade”, afirma que:
O crescimento econômico, embora favoreça as condições de funcionamento dos pequenos negócios, atinge de forma distinta diferentes produtores e atividades: este fato pode implicar deterioração nas condições de vida de determinados estratos. Esse é um dos motivos que justificam a execução de políticas públicas específicas para a sua promoção econômica. Outra razão é que a inserção mais favorável e estável nos mercados para esses produtores deve conduzir a um comportamento cidadão na observância das diferentes regulamentações. (CACCIAMALI, 2000, p. 171)
Esse processo de informalidade vem acontecendo paulatinamente, tendo
sofrido uma aceleração impressionante nos últimos anos, principalmente no
aspecto do trabalhador por conta própria. Analisando a questão do Estado nesse
processo é possível verificar três vertentes:
O Estado intervencionista, principal tributário da idéia do setor informal – na vertente Keynesiana; o Estado mercantilista, onde sua presença consubstanciaria por outro lado, o próprio espaço para a proliferação do informal; e o Estado emissor de leis parcialmente cumpridas – co-partícipe, portanto da informalidade e suas conseqüências. Essas parecem ser as principais visões do Estado, na percepção das diferentes abordagens sobre o sistema informal. (THEODORO, 2002, p. 19)
Nesse contexto, o setor informal era visto, a princípio, como algo a ser
combatido, depois, era o próprio instrumento de combate à pobreza, e agora é um
fenômeno estrutural. Atualmente, o setor informal é concebido como um traço
característico de países emergentes, como o Brasil, e as políticas públicas atuais
visam a gestão das desigualdades. O trabalhador por conta própria é visto como
um empreendedor e é alvo de programas e cursos promovidos por entidades
como o Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Microempresa (SEBRAE) e
Serviço Nacional do Comércio (SENAC).
3.1.5 História dos Mercados Municipais de Goiânia
O processo de informalidade do comércio aconteceu de maneira aleatória
no Brasil. Com o aumento da taxa de desemprego, os trabalhadores buscam no
comércio informal uma alternativa para garantirem sua subsistência. Comprar e
revender exige apenas investimento inicial na compra das primeiras mercadorias
economia e a invasão dos produtos de origem chinesa com preço mais acessível
para a classe média e baixa, os mercados populares são muito procurados para a
compra de telefones celulares e acessórios.
O Setor Informal equivale a um segmento importante da sociedade e deve
ser objeto de políticas públicas. Em se tratando do chamado “mercado
ambulante”, em Goiânia muito já foi feito na tentativa de organizar o caos que
existia nas vias públicas com tanta gente, sacolas e bancas e trabalhadores que
atuam no setor informal no comércio de telefonia celular e acessórios. A razão
para essa procura pode ser justificada pelo fato de que esses produtos chegam
ao consumidor por um preço mais acessível que os modelos nacionais e possuem
mais recursos multimídia, tais como mp3, câmera, vídeo, TV, rádio, e, portanto,
tornam-se mais atraentes.
A cidade de Goiânia tem um total de sete mercados populares
administrados pela prefeitura, sendo o mais antigo criado em 1950 e o mais
recente em 1986. Ao longo desses anos foram criadas associações e parcerias
para a melhora e reformas necessárias dos locais, conforme relatório da
Secretaria de Desenvolvimento Municipal - SEDEM (2010).
A organização desses trabalhadores em centros de comércio, além de
estimular o comércio em si, influencia na economia e na estrutura da cidade. É
perceptível o crescimento econômico do ramo imobiliário dos últimos anos, com a
construção de vários imóveis, tais como salas comerciais, galerias e
3.1.6 Responsabilidade Civil por Dano Ambiental
Para melhor entendimento do tema, necessário dissecá-lo começando por
conceituar dano ambiental como toda agressão contra o meio ambiente, causada
por atividade econômica potencialmente poluidora, por ato comissivo praticado
por qualquer pessoa ou por omissão voluntária decorrente de negligência
(SIRVINSKAS, 2010).
Como requisitos para a existência do dano há que se considerar a efetiva
lesão e prejuízo ao patrimônio ou interesse de outrem, que pode ser o indivíduo
ou a coletividade. Dessa forma, danos ambientais podem ser reversíveis ou
irreversíveis. O dano ambiental é reversível quando a alteração do meio ambiente
é momentânea, sendo necessário considerar, para efeitos de responsabilização,
quanto tempo será preciso para retornar ao status quo ante (TONANI, 2011).
A responsabilidade civil se dá com a aplicação de medidas que obriguem
uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão
de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma
coisa a ela pertencente ou da simples imposição legal. A responsabilidade civil
ambiental, por sua vez, pode acontecer via pagamento de indenização pelos
prejuízos causados e condenação em obrigação de fazer, no caso de restaurar o
que foi poluído, por exemplo, e na obrigação de não fazer, no caso de cessar a
conduta danosa ao meio ambiente (DINIZ, 2007)
Embora o legislador brasileiro adote a teoria objetiva da responsabilidade,
Teoria do Risco na qual se levam em conta apenas o dano e o nexo causal, o
poluidor (Estado ou Particular) é obrigado a reparar o meio ambiente e a indenizar
responsabilidade do agente poluidor é a sua atividade lesiva ao meio ambiente
e/ou terceiros, sem questionar a existência ou não de culpa. No entanto, a
doutrina não é unânime, haja vista alguns doutrinadores entenderem que o
elemento “culpa” (teoria subjetiva da responsabilidade) é essencial para efeitos de
responsabilização; outros, ainda, entendem que tanto uma como a outra podem
ser aplicadas.
Em matéria de dano ambiental, existem causas excludentes de
responsabilidade civil, como a culpa exclusiva da vítima e dolo de terceiro, que se
caracterizam pela inexistência da relação de causa e efeito entre a conduta do
agente e o dano. No entanto, seguindo a teoria da responsabilidade objetiva
aplicada na legislação brasileira, não é possível aplicar o caso fortuito ou força
maior, culpa da vítima e dolo de terceiro como excludentes. Mas, em havendo
culpa da vítima e dolo de terceiro, há a possibilidade da ação de regresso, na qual
a culpa é um quesito a ser analisado. Ainda, a licitude da atividade não exclui o
dever de indenizar, pois quem exerce uma atividade da qual venha ou pretenda
fruir um benefício tem de suportar os riscos dos prejuízos causados pela
atividade, independente de culpa (MUKAI, 2000).
A Lei n. 12.305/2010 trouxe, em seu art. 30, a Responsabilidade
Compartilhada pelo ciclo de vida do produto. Essa lei objetiva, de fato,
compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos
de gestão empresarial com gestão ambiental, promovendo o desenvolvimento
sustentável. Essa obrigação compartilhada entre fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes induz à necessidade de se criar e estruturar
compromisso entre as empresas e o poder público para a efetivação desses
sistemas.
Não há como falar em responsabilidade civil por dano ambiental sem
invocar o princípio constitucional do poluidor-pagador (PPP), que tem por objetivo
que o homem arque com o custo de prevenir e controlar a poluição. O PPP tem o
fim precípuo de que o poluidor arque com os custos de prevenção e/ou
recuperação dos recursos ambientais, como o ar e a água que tiverem sido
prejudicados devido a sua utilização no processo produtivo. Para Fonseca (apud
TONANI, 2011), o dano ecológico deve ser ressarcido por quem dele se houver
beneficiado, seja o próprio causador do dano ou o adquirente do produto para
cuja fabricação foi provocado o dano. Esse último, ao adquirir o produto, paga o
valor acrescido do custo ambiental.
No que tange ao tema responsabilidade, a Constituição Federal, em seu
art. 225, §3º, estabelece, claramente, que condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados (BRASIL, 2010).
3.2 A Sociedade, a Tecnologia da Informação e o Meio Ambiente
3.2.1 Desenvolvimento Tecnológico
A Revolução Industrial é um marco histórico para a humanidade e basta
uma breve retrospectiva para se deparar com invenções e processos de
desenvolvimento de produtos que transformaram o comportamento humano e a
sociedade de um modo geral. Exemplo desse fenômeno é a invenção do telefone
assistente Thomas Watson, passando pela contribuição de outras figuras da
história, o telefone mecanizado começou a ser operado em um quadro de
distribuição com vários fios e cabos. Um aparato de modificações e
aperfeiçoamento aconteceu até o ano de 1973, quando Martin Cooper, diretor de
sistemas da Motorola, realizou a primeira ligação de um aparelho de telefone
celular em Nova York. Ele usou o modelo Motorola Dynatac 8000X, que pesava
cerca de 1 kg e media 25 cm de comprimento e 7 cm de largura. No Brasil, o
primeiro aparelho celular chegou ao Rio de Janeiro em 1990. Em seguida, os
aparelhos celulares começam a ser substituídos por redes digitais, e
posteriormente, pela tecnologia Global System for Mobile Communication-GSM,
segundo relata Fábio Jordão (s/d).
Com a chegada dos smartphones, o aparelho celular deixou de ser um
simples aparelho de comunicação, tem mais velocidade e melhor tecnologia de
dados, que permite transmitir imagens, música, rádio e TV, além de câmera e
internet. O significado do telefone mudou e, graças ao aspecto portátil e
multifuncional dos aparelhos, juntamente com a redução de preços e o aumento
do poder aquisitivo da população, percebe-se o aumento do consumo desse
produto, bem como mudanças marcantes nos hábitos sociais, fato facilmente
observado por qualquer pessoa. O telefone celular é instrumento de trabalho e
único meio de contato para muitos profissionais liberais como marceneiros,
mototáxi, vendedores, pois tem custo menor que uma linha fixa.
A competitividade entre as empresas de telefonia móvel tem sido acirrada e
este é, sem dúvida, o mercado que mais cresce no Brasil. Segundo dados da
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL, 2011), em agosto o Brasil
população do Brasil em agosto de 2011 era de 194.998.639 habitantes, o que
representa uma densidade de 114,88 acessos por 100 habitantes. A qualidade
dos serviços e as tarifas cobradas pelas operadoras fazem com que os usuários
migrem constantemente de uma para outra ou adquiram os serviços de mais de
uma operadora, comprando telefones com capacidade para dois, três ou quatro
chips, aumentando, por conseguinte, o volume de baterias e telefones
descartados.
3.2.2 Resíduos Eletroeletrônicos
Devido ao incremento da indústria da informática e das telecomunicações,
verifica-se o aumento e a diversificação de produtos, gerados pelo avanço
tecnológico e, consequentemente, o aumento dos resíduos gerados pelo descarte
desses produtos. O lixo eletrônico possui características específicas, pois se trata
de resíduo volumoso e que possui componentes perigosos, como metais pesados
e compostos bromados, por isso, é preciso políticas públicas e gestão ambiental
capaz de direcionar fabricantes, importadores, distribuidores e usuários para o
uso e descarte adequados. Com o crescente desenvolvimento tecnológico, os
aparelhos celulares passam para o processo de obsolescência muito rápido,
gerando volume cada vez maior de Resíduos Tecnológicos ou e-lixo
(HOFMANN-GATTI, 2008).
Segundo Álvaro Oppermann, em matéria publicada na revista “Veja”:
O Brasil, o México e o Senegal são entre as nações em desenvolvimento, os campeões mundiais de e-lixo per capita, com 0,5 quilo anual produzido por habitante. [...]. A obsolescência programada é um recurso de administração desenvolvido nos anos 20 por Alfred Sloan que consiste na mudança anual de modelos e acessórios. Recentemente essa estratégia é regra no
ramo de hardware, software e celulares. [...] No início dos anos 90, a vida média de equipamentos eletrônicos nos Estados Unidos era de quatro anos, num casamento entre a qualidade do material usado para o hardware e a espantosa velocidade de desenvolvimento dos softwares. Hoje, a vida média é de um ano e meio. (OPPERMAN, 2011, p. 79)
O manejo do resíduo sólido tem sido um desafio para os gestores públicos,
pois fatores como crescimento populacional, aumento da capacidade produtiva e
elevação do grau de toxicidade dos resíduos sólidos trazem prejuízo ambiental,
social e econômico. Lima, Silva e Lima (2008) afirmam que o manejo inadequado
de resíduos sólidos de origens diversas gera desperdícios, contribuindo de forma
significativa para a manutenção das desigualdades sociais, tornando-se uma
ameaça à saúde pública e agravando a degradação ambiental. Ainda,
compromete a qualidade de vida das comunidades dos centros urbanos.
As baterias de celular são consideradas resíduos perigosos, conforme
descrição da Associação Brasileira de Normas Técnicas:
Resíduos Classe I – Perigosos: apresentam riscos à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices, ou ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada. Podem ter características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. (NBR 10004, ABNT, 2004)
A destinação dada pós-consumo ao lixo eletrônico está diretamente ligada
ao fator cultural da população, por isso, o que temos hoje, antes da Política
Nacional de Resíduos Sólidos e até que esta seja implementada, é muito lixo
eletrônico, inclusive baterias de celulares dispostas indevidamente em lixos
comuns, terrenos baldios, aterros sanitários e lixões, provocando poluição
3.2.3 Componentes perigosos do aparelho celular
Os novos produtos, com funções cada vez mais específicas, cores e
designers mais atraentes, possuem, mesmo com todo o avanço tecnológico, o
mesmo desempenho ambiental que os aparelhos dos primórdios. Isso foi
constatado por Wu e colaboradores (2008) em pesquisa sobre o desempenho
ambiental de dois aparelhos celulares, um modelo considerado antigo e outro de
modelo novo. Os aparelhos foram avaliados em termos de Indicador Potencial de
Toxicidade (IPT) e verificou-se que a composição e as percentagens dos
componentes nos dois aparelhos são semelhantes, mesmo o aparelho
considerado mais antigo tendo o dobro do peso do modelo mais recente.
Guimarães (2009) afirma que os telefones celulares descartados em
aterros sanitários ou incinerados são passíveis de liberar substâncias tóxicas, os
chamados metais pesados presentes nas baterias, circuitos, displays, carcaças
de plástico ou na fiação, no solo e até mesmo no ar em decorrência do processo
de lixiviação.
Os constituintes metálicos dos aparelhos celulares são alumínio (Al), ferro
(Fe), cobre (Cu), cobalto (Co), zinco (Zn), níquel (Ni), estanho (Sn), cromo (Cr) e
chumbo (Pb). Dentre estes, alguns são considerados tóxicos bioacumulativos
persistentes (PBT), conforme relatório da Basel Action Network (2004), são
substâncias particularmente perigosas porque persistem no ambiente e não
degradam por um longo período de tempo. Portanto, movem-se facilmente no
ambiente, propagam-se no ar, na água e no solo, percorrendo um caminho
inclusive no tecido adiposo dos seres humanos e animais, colocando em risco a
saúde humana e os ecossistemas.
Nas baterias ainda podem ser encontrados os seguintes elementos,
conhecidos como metais pesados: chumbo (Pb), cádmio (Cd), mercúrio (Hg),
níquel (Ni), prata (Ag), lítio (Li), zinco (Zn), e manganês (Mn).
As Resoluções 257/99 e 401/08, editadas pelo CONAMA,
concentraram-se, primeiramente, em estabelecer um limite à quantidade dessas substâncias na
fabricação, importação e comercialização de baterias, e, em seguida, na
responsabilidade compartilhada, como já acontecia na Europa.
Em decorrência do processo de informalização, as pessoas resolvem
trabalhar por conta própria no mercado de celulares trazem para o mercado
nacional produtos que não estão sujeitos à fiscalização quanto aos limites de
substâncias estabelecido pela legislação brasileira. O produto eventualmente
acaba por ir para o lixo, nas vias públicas, nos aterros ou em lixões, correndo o
risco de contaminar o meio ambiente e trazer prejuízo para a saúde pública.
Segundo o IBGE (2008), 50% dos municípios brasileiros não possuem
aterro sanitário e não fazem coleta seletiva, sendo a prática utilizada a
incineração dos resíduos ou os próprios lixões a céu aberto. Assim, o que ocorre,
nesses municípios, é que os resíduos sólidos urbanos são queimados ou
descartados e amontoados sobre o solo ou em rios e lagos, causando danos ao
meio ambiente e colocando em risco a saúde da população local.
Esses elementos tóxicos que podem ser encontrados em baterias de
celular possuem características de corrosividade, reatividade e toxicidade e são
classificados como Resíduos Perigosos-Classe I, conforme NBR 10004. O quadro
QUADRO 1 - Potencial poluidor de elementos químicos utilizados em pilhas e baterias
Elemento Efeitos sobre o Homem
Pb (chumbo)
Dores abdominais (cólicas, espasmo e rigidez), disfunção renal, anemia, problemas pulmonares, neurite periférica (paralisia), encefalopatia (sonolência, manias, delírio, convulsões e coma).
Hg (mercúrio)
Gengivite, salivação, diarreia (com sangramento), dores abdominais (especialmente epigástrio, vômitos, gosto metálico), congestão, inapetência, indigestão, dermatite e elevação da pressão arterial, estomatites (inflamação da mucosa da boca), ulceração da faringe e do esôfago, lesões renais e no tubo digestivo, insônia, dores de cabeça, colapso, delírio, convulsões, lesões cerebrais e neurológicas, provocando desordens psicológicas e afetando o cérebro.
Cd (cádmio)
Manifestações digestivas (náusea, vômito, diarreia), disfunção renal, problemas pulmonares, envenenamento (quando ingerido), pneumonite (quando inalado), câncer.
Ni (níquel) Câncer, dermatite, intoxicação em geral.
Ag (prata) Distúrbios digestivos e impregnação da boca pelo metal, argiria (intoxicação crônica), provocando coloração azulada na pele, morte. Li (lítio) Inalação - ocorrerá lesão mesmo com pronto atendimento; ingestão - mínima lesão residual, se nenhum tratamento for aplicado.
Mn (manganês) Disfunção do sistema neurológico, afeta o cérebro, causa gagueira e
insônia.
Zn (zinco)
Problemas pulmonares podem causar lesão residual, a menos que seja dado atendimento imediato; em caso de contato com os olhos, lesão grave, mesmo com pronto atendimento.
Fonte: adaptado de Monteiro e colaboradores (2001).
3.3 Prática Sustentável: Reutilização, Recuperação, Reciclagem e a Logística Reversa
3.3.1 Sustentabilidade
A exploração indiscriminada dos recursos naturais advém desde que o