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A identidade água abaixo - os reassentados da usina hidrelétrica Dona Francisca - RS

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Academic year: 2021

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(1)UFSM. Dissertação de Mestrado. A IDENTIDADE ÁGUA ABAIXO OS REASSENTADOS DA USINA HIDRELÉTRICA DONA FRANCISCA - RS ____________________________. Maria Madalena S. Marques. CPGExR. Santa Maria, RS, Brasil 2005.

(2) A IDENTIDADE ÁGUA ABAIXO OS REASSENTADOS DA USINA HIDRELÉTRICA DONA FRANCISCA - RS ____________________________. por Maria Madalena S. Marques. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Extensão Rural, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Extensão Rural.. CPGExR. Santa Maria, RS, Brasil 2005.

(3) Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Curso de Pós-Graduação em Extensão Rural. A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado A IDENTIDADE ÁGUA ABAIXOOS REASSENTADOS DA USINA HIDRELÉTRICA DONA FRANCISCA - RS. elaborada por Maria Madalena S. Marques. como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Extensão Rural. COMISSÃO EXAMINADORA:. __________________________________ Dr. José Marcos Froehlich (Orientador) / UFSM. _____________________________________ Ph. D. Ricardo Rossato / FADISMA. _____________________________________ Ph. D. Joaquim Anécio de J. Almeida / UFSM. Santa Maria, 26 de junho de 2005..

(4) "...A essência de toda vida espiritual é a emoção que existe dentro de você, é a sua atitude para com os outros. Se a sua motivação é pura e sincera, todo o resto vem por si. Você pode desenvolver essa atitude correta para com seus semelhantes baseando-se na bondade, no amor, no respeito e sobretudo na clara percepção da singularidade de cada ser humano." Dalai-Lama.

(5) DEDICATÓRIA. Quero dedicar essa dissertação a minha madrinha Adjanira e meu padrinho Venuto, que desde o dia que passei a fazer parte de suas vidas, não mediram esforços para que eu pudesse alcançar meus objetivos..

(6) AGRADECIMENTOS. Muitos são os obstáculos que se apresentam em nossa vida, mas cada vez que consegui passar pelas dificuldades, tinha a certeza de que Deus estava ali, do meu lado, dando-me força e persistência para chegar onde cheguei e sempre com o desejo de continuar a buscar meus objetivos. Agradeço a meus pais, minha madrinha Adjanira, meu padrinho Venuto, meus irmãos, minhas cunhadas e meus sobrinhos queridos, que sempre acreditaram e estiveram sempre apoiando minha caminhada. Um agradecimento especial ao meu orientador Prof. José Marcos Froehlich, que foi compreensível, confiante e paciente na orientação deste trabalho. Ao Grupo Pôr-do-Sol Tupã – I, que com hospitalidade e gentileza colaborou para minha pesquisa. Aos amigos (as) que dispensaram tempo para auxiliar-me. À Universidade Federal de Santa Maria, ao Centro de Ciências Rurais, ao DEAER, e ao programa de auxílio e bolsas da Capes, que.

(7) vi. permitem que tenhamos espaço e apoio para realização de nossos estudos. Meus reconhecimentos pela amizade compartilhada com minhas colegas e os colegas do curso, também aos professores e funcionários do Curso de Pós-Graduação em Extensão Rural - UFSM..

(8) SUMÁRIO. DEDICATÓRIA .............................................................. iv. AGRADECIMENTOS .................................................... v. LISTA DE FIGURAS ...................................................... ix. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ....................... x. LISTA DE ANEXOS ........................................................ xiii. RESUMO .......................................................................... xiv. ABSTRACT ...................................................................... xv. INTRODUÇÃO ............................................................ 1. Hipótese ....................................................................... Objetivos da Pesquisa .................................................. Justificativa ................................................................. Seqüência dos Capítulos ............................................... 5 5 6 6. CAPÍTULO I DA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS PARA USINAS HIDRELÉTRICAS ........................................ 8. 1.1 - Histórico no Brasil .............................................. 1.1.1 - Procedimentos para Construção de Usina Hidrelétrica ................................................................... 8 14.

(9) viii. 1.1.2 - Enquadramento Legal ....................................... 18. CAPÍTULO II OS IMPACTOS SOCIAIS E A LUTA DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS .............................. 22. 2.1 - Impacto Sociocultural ......................................... 2.2 As Lutas Sociais dos Atingidos por Barragens ...... 22 28. CAPÍTULO III NOÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS ........... 37. 3.1 - Noções de Identidade Social ............................... 3.2 - Identidade Territorial .......................................... 3.3 - Área de Estudo ................................................... 3.4 - Método e Técnicas de Investigação ................... 3.5 - Sujeitos da Pesquisa e Local da Coleta ............... 3.6 - Descrição da Pesquisa .......................................... 37 44 48 49 51 56. CAPÍTULO IV A USINA HIDRELÉTRICA DONA FRANCISCA (UHDF): SUA CONSTRUÇÃO E SEUS ATINGIDOS ................................................................ 58. 4.1 - Histórico da Construção da UHDF ..................... 4.2 - Os Atingidos pela Barragem da UHDF ............... 58 69. CAPÍTULO V A IDENTIDADE ABALADA DOS REASSENTADOS ....................................................... 73. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................... 83 88. ANEXOS ............................................................................ 93.

(10) LISTA DE FIGURAS. Figura 01 - Usina em Construção ........................................ 96. Figura 02 - Usina Construída ............................................... 97. Figura 03 - Parte do Reservatório ...................................... 98. Figura 04 - Parte da área Alagada ..................................... 99. Figura 05 - Sala de Máquinas da Usina e Queda D´Água ................................................................. 100.

(11) LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS. ELETROBRAS Centrais Elétricas Brasileiras S.A Amforp. American Foreign Power Company. EEB. Empresa Elétrica Brasileira. CAEEB. Companhia Auxiliar das Empresas de Energia Elétrica. CNAEE. Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica. CEEE. Comissão Estadual de Energia Elétrica. Chesf. Companhia Hidrelétrica de São Francisco. DNOCS. Departamento Nacional de Obras Contra a Seca. DAEE. Departamento de Águas e Energia Elétrica. CIBPU. Comissão Interestadual da Bacia do Paraná e Uruguai. USELPA. Usina Hidrelétrica do Paranapanema. Eletrosul. Centrais Elétricas do Sul do Brasil. Eletronorte. Centrais Elétricas do Norte do Brasil. GCPS. Grupo Coordenador de Planejamento dos Sistemas Elétricos.

(12) xi. DNAEE. Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica. CBGB. Comissão Técnica de Barragens de Usos Múltiplos. EIA. Estudo de Impacto Ambiental. RIMA. Relatório de Impacto Ambiental. LP. Licença Prévia. LI. Licença de Instalação. PCA. Plano de Controle Ambiental. LO. Licença de Operação. CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente. PBA. Projeto Básico Ambiental. AIA. Avaliação de Impacto Ambiental. EPIA. Estudo Prévio de Impacto Ambiental. MAB. Movimento dos Atingidos por Barragens. CMB. Comissão Mundial de Barragens. ONG. Organização Não Governamental. FEPAM. Fundação Estadual de Proteção Ambiental. PBA. Plano Básico Ambiental. UHDF. Usina Hidrelétrica Dona Francisca. DFESA. Dona Francisca Energética S/A. ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. CNPJ. Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica. INEPAR. Inepar S/A Indústria de Construções. COPEL. Companhia Paranaense de Energia Elétrica. CELESC. Centrais Elétricas.

(13) xii. GERDAU. Santa Felicidade Importações e Exportações de Produtos Metalúrgicos. Desenvix. Engenharia S/A de Estudos e Projetos de Engenharia. BID. Banco Interamericano de Desenvolvimento. S/A. Sociedade Anônima. SOMA. Soluções em Meio Ambiente. FUNTERRA SAA. Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. VMT. Verba de Manutenção. GRA. Gabinete de Reforma Agrária. OD. Diretriz Operacional. MW. Mega Watts.

(14) LISTA DE ANEXOS. ANEXO 01 – Questionário para a entrevista .................. 94. ANEXO 02 - FOTOGRAFIAS ....................................... 95.

(15) RESUMO Dissertação de Mestrado Programa de Pós-graduação em Extensão Rural Universidade Federal de Santa Maria A IDENTIDADE ÁGUA ABAIXO OS REASSENTADOS DA USINA HIDRELÉTRICA DONA FRANCISCA (UHDF) - RS. AUTORA: Maria Madalena S. Marques ORIENTADOR: Dr. José Marcos Froehlich Local e Data da Defesa: Santa Maria, 26 de Abril de 2005. O presente trabalho aborda os impactos sociais advindos do deslocamento compulsório a que foram submetidos os agricultores atingidos pela construção da barragem da Usina Hidrelétrica Dona Francisca (UHDF), na região central do Rio Grande do Sul. O estudo foi realizado no reassentamento Tupã I - Grupo Pôr-do-Sol, localizado no município de Tupanciretã – RS, Brasil, que compreende 41 famílias. Como método e técnicas de coleta de dados utilizou-se a pesquisa documental, a observação não participante e entrevistas semi-diretivas. O trabalho aponta que as indenizações realizadas pela UHDF às famílias atingidas, em muitos casos não foram suficientes para que as mesmas pudessem retomar e reestruturar suas vidas em um novo território, diante da mudança imposta pela construção da barragem. O deslocamento compulsório a que foram submetidos estes atingidos provocou efeitos na realidade social muito além da capacidade reparatória da desapropriação, posto esta ser reduzida a uma mera avaliação e indenização monetária. Tal deslocamento desestruturou o padrão de organização social da população envolvida, desarticulando suas redes de amizade, comunitárias e de parentesco, comprometendo assim a identidade coletiva e territorial das famílias atingidas. Palavras-Chaves: atingidos por barragens; impactos socioambientais; identidade social..

(16) ABSTRACT Dissertation of Mastership Post-graduation in Rural Extension Federal University of Santa Maria Resettled people from the hydroelectric power plant “Dona Francisca”, RS: Evaluation of their social identity. Author: Maria Madalena S. Marques Adviser: Dr. José Marcos Froelich Date and defense’s place: Santa Maria, april 26nd, 2005.. This study implies an evaluation of the social identity of people who were resettled from their original place of living because a hydroelectric power plant was built (Dona Francisca). The objectives of the study were focused on revealing problems that emerged from this reallocation, for example degree of identification of families to the new place, organization of the people, people’s expectative, and so on. The methodology employed was case study which belongs to the qualitative paradigm. The case was the group “Por do Sol Tupa-I”. In particular, deep interviews were carried out within the group and recorded. After that, a qualitative analysis was performed following the objectives of the study. In addition, reviewing of documents and records was also utilized to support results. The results indicate that families are not satisfied with their general situation, including those that were resettled from the beginning. After four years they continue the process of adjustment to the new environment. The main problem that emerged was that the production system and the social relations that sustained their lives changed abruptly. The expectative of the people is to return to live to the old place or at least close to it. Key words: Qualitative evaluation, Social / environmental impact, social identity.

(17) INTRODUÇÃO. O presente trabalho aborda os impactos sociais advindos do deslocamento compulsório a que foram submetidos os agricultores atingidos pela construção da barragem da Usina Hidrelétrica Dona Francisca (UHDF), na região central do Rio Grande do Sul. Dentre estes impactos, ressalta-se a perda de identidade coletiva decorrente da perda da propriedade rural e dos padrões de organização social, que desarticulam suas redes de amizade, comunitárias e de relações de parentesco. Com o aumento da população mundial e brasileira, também houve o aumento na demanda energética, destacando-se a demanda por energia elétrica como uma das principais. No Brasil, a utilização dos recursos hídricos para gerar energia elétrica tem se constituído num dos principais vetores da matriz energética, acarretando na construção de usinas hidrelétricas como grandes empreendimentos tecno-econômicos. A necessidade do uso de energia elétrica está em vários segmentos, desde grandes indústrias até no cotidiano de nossas casas. Segundo Müller (1995), as fontes de energia primárias foram.

(18) 3. classificadas, no território brasileiro, em convencionais (térmicas e hidrelétricas) e não renováveis. No Brasil, cerca de 95% da eletricidade é produzida atualmente em Usinas Hidrelétricas, demostrando assim a grande demanda existente. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que o setor de energia elétrica teve grande impulso no mundo, pois devido a dificuldades de importação de carvão e derivados do petróleo, surgiu a necessidade de se buscar outra fonte de energia, a hidrelétrica. Mas foi na década de 1970 que se deu o forte crescimento no setor elétrico no terceiro mundo, onde grandes investimentos trariam retorno para as economias centrais do capitalismo, com a participação ativa de grupos industriais e financeiros transnacionais, onde os grandes investimentos seriam considerados geradores de progresso econômico, mesmo que, por outro lado, tais projetos fossem antisociais e anti-nacionais por trazerem dependência econômica e tecnológica às economias nacionais associadas (Costa, 1990). O Brasil está entre os países em desenvolvimento que se destaca como um dos que mais investiu em grandes projetos de geração de energia e usinas hidrelétricas. Com o aumento de demanda de energia elétrica, em 1950 observou-se no país o aumento do número de construções de usinas, sendo registradas 21 barragens. Nas décadas posteriores o setor de energia elétrica continuou crescendo, e entre os anos de 1960 e 1980, mais de 66 barragens hidrelétricas foram levantadas. Como geradores de energia, estes grandes empreendimentos também geraram muitos problemas socioambientais. A construção de usinas hidrelétricas é uma atividade causadora de impactos dentre os.

(19) 4. quais podemos citar os impactos ecológicos, sócio-econômicos e os culturais, que afetam respectivamente a fauna e a flora, assim como o modo de vida das populações direta e indiretamente atingidas pelo empreendimento.. A. população. atingida. é. submetida. a. um. deslocamento compulsório que atua sobre a vida das pessoas com características de catástrofe natural, irreversível e imune à vontade dos afetados. Sob tais circunstâncias, introduz-se um componente adicional de incerteza e uma sensação de impotência frente a processos cujas causas e razões poucas vezes são compreensíveis para a população e que por ela são percebidas como arbitrárias (Vainer e Araújo, 1992). No que concerne ao processo de reassentamento, as experiências já vivenciadas, tanto no Brasil como em outros países, demonstram que estes deslocamentos compulsórios são geradores de processos traumáticos, promovendo uma série de crises de identidades nas. populações. afetadas,. pois. as. mesmas. não. escolheram. voluntariamente essa situação. E as mudanças de território implicadas neste processo desarticulam as redes de relações sociais baseadas na vizinhança e nos laços familiares, e que conformam um marco vital para muitas das pessoas e famílias atingidas (Rothman, 2004). Essas redes não só canalizam as relações de ajuda mútua, trabalhosamente construídas através do tempo pela população de menor recurso, como também o fluxo de informações, os quais são fundamentais para seus esquemas de sobrevivência. Desta forma, a perda da rede de relações sociais de ajuda mútua conduz a uma diminuição de produtividade na pequena propriedade agrícola, que se agrava. ainda. mais pela.

(20) 5. anulação de recursos a que os produtores anteriormente dispunham para a sua vida.. Hipótese. O pressuposto deste trabalho está em afirmar que as indenizações realizadas pela UHDF às famílias atingidas não foram suficientes para que as mesmas pudessem retomar e reestruturar suas vidas em um novo território, diante da mudança imposta pela construção da UHDF. O deslocamento compulsório a que foram submetidos os atingidos provocou efeitos na realidade social muito além da capacidade reparatória da desapropriação reduzida a uma mera avaliação e indenização monetária, pois desestruturou toda a forma de organização social da população envolvida, comprometendo assim a identidade coletiva e territorial das famílias atingidas.. Objetivos da Pesquisa. Os objetivos do trabalho são levantar as condições de vida e trabalho das famílias de agricultores atingidos pela UHDF antes de sua construção; levantar as condições de vida e trabalho das famílias de agricultores atingidos pela UHDF que foram reassentadas após a sua construção, analisando a questão da identidade social e territorial destas famílias reassentadas em relação ao deslocamento involuntário a que foram submetidas pela construção da UHDF..

(21) 6. Justificativa. A importância deste estudo está em discutir e tematizar os impactos. sociais. dos. grandes. empreendimentos. hidrelétricos. direcionados à geração de energia, fator fundamental ao estilo de vida altamente consumidor e dependente de energia elétrica vivenciado atualmente no país, mas que atinge diretamente a vida de muitas famílias rurais, abalando suas redes de relações socioterritoriais, com implicações negativas em suas dimensões econômicas (modo de produzir), sociais, ambientais e culturais. O estudo também contribui no sentido de que, ao confirmar as repercussões negativas e suas peculiaridades, apontadas em outros trabalhos e eventos similares, possa estimular a busca por melhores encaminhamentos e ‘soluções’ quando de novos projetos hidrelétricos a serem implantados no futuro, valorizando aspectos que não sejam somente guiados pela valoração monetária mas que relevem as dimensões implicadas num processo de identificação socioterritorial, para muitos difíceis de serem reconstruídas plenamente em outros âmbitos.. Seqüência dos Capítulos. No primeiro capítulo iremos apresentar um histórico a respeito da construção de barragens para fins hidrelétricos no Brasil, os procedimentos necessários para sua construção bem como os.

(22) 7. requisitos para o enquadramento legal destes empreendimentos. No capítulo II será apresentado e discutido os impactos sociais e as lutas sociais dos atingidos por barragens no país. Já no capítulo III serão discutidos as noções teóricas e metodológicas que embasaram o estudo, como as noções de identidade social e identidade territorial, apresentada a área de estudo, as técnicas de coleta de dados, os sujeitos da pesquisa e a descrição da mesma. No capítulo IV será abordado o histórico de construção da Usina Hidrelétrica Dona Francisca(UHDF), bem como a luta dos seus atingidos. Já no capítulo V será apresentado e discutido os impactos que o deslocamento compulsório da construção da UHDF trouxe para a vida e identidade social da população envolvida. Nas considerações finais retoma-se e resume-se as principais contribuições de cada capítulo ao conjunto do estudo..

(23) CAPÍTULO I DA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS PARA USINAS HIDRELÉTRICAS. 1.1 - Histórico no Brasil. Com o passar dos tempos o homem percebeu que poderia gerar, armazenar e distribuir energia através de grandes obras de engenharia e assim fazer história visualizando cenários e conjunturas de futuro. Diante desta evolução, também surgem conseqüências e atos previsíveis e imprevisíveis, que cada vez mais provocam mudanças na vida das pessoas. Como afirma Müller, (1995. pp. 27 e 28).. A natureza dotou cada região do planeta com um número diferente de opções energéticas. Além disso, o fez em várias intensidades, desafiando nossa imaginação criativa para descobri-las, avaliar o volume, desenvolver técnicas para seu uso e empregar todo o seu potencial de utilização econômica. O conhecimento dos recursos e reservas energéticas é fundamental para planejarmos o desenvolvimento nacional.. Os projetos de construção de usinas hidrelétricas são grandes empreendimentos que têm finalidades econômicas, geralmente.

(24) 9. gerenciadas por grandes empresas nacionais e internacionais. Tais projetos acabam gerando, além de impactos ambientais sobre os territórios ocupados, também impactos sócio-culturais, provocando efeitos sobre a realidade social, desestruturando as formas de organização social da população envolvida e implicando, por vezes, em perda da identidade coletiva. Pode-se afirmar que há uma relação entre o grande projeto, construção da usina hidrelétrica e o contexto social em que ambos se desenvolvem. Segundo MÜLLER (1995, p. 45): Uma usina a ser planejada é prevista para operar durante muito tempo. São freqüentes as hidrelétricas que ultrapassam algumas gerações, funcionando com interrupções apenas de manutenção. A energia hidrelétrica, sem dúvida, é um dos sistemas que se enquadra nos conceitos de operação ou desenvolvimento sustentável. Mas sua implantação tem, lamentavelmente, registros de experiências onde sociedades viram suas bases de sustentação econômica e seus valores sócio culturais repentinamente abalados. Ainda que a geração hidrelétrica seja sustentável, algumas regiões atingidas para que ela fosse gerada tiveram, em lugar de desenvolvimento, retrocesso insustentável.. Nos trabalhos de MÜLLER (1995) e ELETROBRAS (2000), registramos um breve histórico sobre a construção de usinas hidrelétricas no país. Em 7 de setembro de 1889, às vésperas da proclamação da República, foi inaugurada a primeira usina hidrelétrica pertencente ao serviço público do Brasil, a usina de Marmelos, construída no rio Paraibina, em Juiz de Fora – MG. Em 1924, instalou-se no Brasil, no interior paulista, a American Foreign Power Company, do grupo Bond and Share Co. ( Amforp),.

(25) 10. criando a Companhia Força e Luz. Em três anos o grupo norteamericano adquiriu o controle acionário de várias empresas concessionárias de serviços públicos de eletricidade, em diversos capitais e cidades. Logo, surgiram várias companhias, assumindo o controle acionário, como Ebasca Internacinal Company que fundou a EEB (Empresa Elétrica Brasileira) em 1927, a CAEEB (Companhia Auxiliar das Empresas de Energia Elétrica), entre outras, nos anos seguintes. No ano de 1934, houve a assinatura do Código de Águas, até hoje norteador das concessões de águas e energia elétrica. Neste mesmo ano o presidente Getúlio Dornelles Vargas promulgou a carta constituinte,. que. introduziu. princípios. nacionalistas. e. intervencionistas do Estado em setores de maior interesse nacional, como o era a expansão do aproveitamento dos recursos hídricos. Em 1937 houve o Golpe de Vargas, criando o Estado Novo, período no qual houve um déficit na produção de energia elétrica, o que demandava solução. Neste período, formulou-se uma nova constituição, que proibia explicitamente qualquer novo projeto hidrelétrico gerenciado por empresas estrangeiras. Desde então teve-se uma maior adesão e parte dos governos federal e estadual como acionistas das empresas geradoras e distribuidoras, além de constituírem suas próprias empresas. Dessa forma, já que até então o capital externo liderava o investimento no setor elétrico e mecânico, com esta adesão dos governos e com os recursos nacionais investido, criou-se. oportunidade. de. industrialização. dos. materiais. e. equipamentos, tanto para a geração, transmissão e distribuição, com.

(26) 11. altos índices de nacionalização. Este estímulo também incentivou o desenvolvimento da engenharia hidrelétrica brasileira. Em 1939 houve a criação do CNAEE (Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica), órgão federal de administração de energia e interligação de usinas e sistemas elétricos. Foi criado para controlar os concessionários, impor tarefas e proceder à regulamentação do código das águas. Este conselho mais tarde, em 1960, veio a ser substituído pelo Ministério de Minas e Energia. A Segunda Guerra Mundial também teve influência no setor de energia elétrica, pois em 1939 se agravou a crise no setor, onde as dificuldades de importação de carvão e derivados de petróleo somaram-se às novas necessidades de energia, pois as indústrias voltaram seus esforços para atender às necessidades bélicas das nações aliadas. Entre os anos de 1939 a 1947 foi registrado apenas um projeto de ampliação do parque gerador na represa de Ribeirão das Lages. Devido a esta crise energética ocorreu racionamento em várias grandes cidades: Belo Horizonte, Niterói, Vitória e São Paulo. No Estado do RS, o primeiro governo que criou uma estrutura para administração energética foi em 1945,1 através da Comissão Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que veio para integrar os sistemas. de geração e distribuição locais, racionalizando a infra-. estrutura energética estadual, aproveitando o potencial hidrelétrico do estado.. 1. Neste período o Governo Federal era presidido por Getúlio Vargas..

(27) 12. Em 1945 o Governo Federal instituiu a Chesf (Companhia Hidroelétrica de São Francisco), onde em 1973 incorporou a Cia. Hidrelétrica de Boa Esperança. A década de 1950 registrou aumento eqüitativo do número de empreendimentos entre o setor elétrico e os demais, com 21 barragens para fins energéticos e de 22 para usos dos DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca). Até 1950 só havia no Brasil 67 barragens, das quais 31 atendiam à regularização de vazão e abastecimento de água no Nordeste (DNOCS), 26 para a geração hidrelétrica e 10 para outras finalidades. Em 1951 o governo de São Paulo ingressou no setor, com a organização do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), que elaborou um plano de aproveitamento dos cursos médio e inferior do rio Tietê. Esse governo também participou da formação do CIBPU (Comissão Interestadual da Bacia do Paraná e Uruguai). Houve ascensão de várias companhias nos anos subseqüentes. Em 1953 surgiu a USELPA (Usina Elétrica do Paranapanema); em 1956, o então eleito presidente Juscelino Kubitschek, cujo governo tinha como slogan “ Energia e Transporte”, criou a primeira estatal federal do setor elétrico, a Central Elétrica de Furnas S.A. construída no Rio Grande entre 1958 e 1965. Entre 1960 e 1980, mais de 66 barragens hidrelétricas foram levantadas, enquanto para outros usos. 2. se registraram 101 empreendimentos. Em 1961 foi criada a Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras S. A.) para coordenar as atividades de. 2. Para outros usos aqui se refere, além da geração de energia elétrica, para aproveitamento hidráulico, para irrigação, piscicultura, entre outros..

(28) 13. planejamento, financiamento e execução da política de energia elétrica do Brasil. Em 1968 foi criada a Eletrosul (Centrais Elétricas do Sul do Brasil) e recebeu três empresas termelétricas. Em 1972 fundava-se a Eletronorte (Centrais Elétricas do Norte do Brasil) que teve em 1980 sua área de atuação ampliada para noves estados, onde as atividades incluem igualmente a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Em 1973 foi assinado o tratado de Itaipu entre o Brasil e o Paraguai, criando a partir deste uma entidade para o aproveitamento hidrelétrico do potencial do rio Paraná. Em 1982 foi estruturado o GCPS (Grupo coordenador de planejamento dos sistemas elétricos) com o objetivo de avaliar e planejar, já que para uma Usina se exige grande investimento, além de exigir planos de longo alcance ao setor para programas sociais e ambientais. Em 1989 foi criado o Colegiado de Meio Ambiente (Comitê Coordenador das atividades de Meio Ambiente do Setor Elétrico), constituído. por. 25. empresas. concessionárias. e. o. DNAEE. (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica), também sob a coordenação da Eletrobrás, onde tal comitê. propôs a política. ambiental do setor elétrico brasileiro com atividades sócio ambientais aplicáveis. Em 1990, do total de 343 aproveitamentos hidráulicos cadastrados pelo CBGB (Comissão técnica de Barragens de Usos Múltiplos), 124 destinavam-se à geração hidrelétrica, quatro à navegação, 72 para o abastecimento d’água, 37 para irrigação, 3 para piscicultura, 76 para regularização de vazão, 12 para o controle das.

(29) 14. cheias e mais de 15 barragens destinadas a usos diversos, como proteção ambiental. O setor elétrico continua em forte crescimento, tanto por questões econômicas quanto por necessidades de consumo da população. Hoje o Brasil conta com um total de 1.429 usinas onde 1.076 estão em operação, gerando energia, 110 usinas em construção e 243 que não iniciaram a construção. Além das hidrelétricas, outras fontes para gerar energia estão tomando força, como as usinas de carvão mineral, eólicas, entre outras.. 1.1.1 - Procedimentos para Construção de Usina Hidrelétrica. A construção de um empreendimento, como usinas hidrelétricas e outras fontes para a produção de energia elétrica, é uma atividade que deve passar por estudos, avaliações e procedimentos. Devendo estes apresentar indicadores apontando e prevendo a causa de impactos que afetarão ao meio ambiente. Dentre os quais podemos citar os impactos ecológicos, socioeconômicos e os culturais, que afetam respectivamente a fauna e a flora, assim como o modo de vida das. populações. direta. e. indiretamente. atingidas. pelo. empreendimento. A hidreletricidade ainda é a base do suprimento energético do Brasil, produzidas por usinas de grande, médio e pequeno porte, situadas freqüentemente distantes dos centros consumidores. A construção de uma usina e suas linhas de transmissão requer prazos, que vai desde a decisão pela obra até o início da geração de.

(30) 15. energia. Processo que pode levar não menos que cinco anos, requerendo um planejamento de longo alcance por parte do empreendedor. Desta forma, para que a construção se efetive, há passos a serem seguidos, ou seja, a realização da identificação e a avaliação dos impactos ambientais de forma detalhada, para, a seguir, obter-se os licenciamentos devidos. Segundo MÜLLER (1995) as etapas para o planejamento de uma usina hidrelétrica, recomendadas pela Eletrobrás, são as seguintes: 1ª) Etapa - Estimativa preliminar ou avaliação de escritório: é realizada em grande escala, verificando a topografia hidrológica de uma bacia hidrográfica, para detectar sua capacidade para a hidreletricidade e outros usos das águas. Desta estimativa resulta a avaliação preliminar, onde se tem a primeira previsão dos custos de seu aproveitamento, assim como define-se as prioridades dos estudos das fases seguintes, com os custos e prazos. 2ª) Etapa - Inventário: nesta fase verifica-se a divisão de queda d’água disponível da bacia, para verificar o maior aproveitamento hidrelétrico, comparando o custo com outras fontes. energéticas,. considerando os efeitos sócio ambientais aceitáveis. Ou seja, o levantamento aqui mencionado deve levar em conta principalmente os aspectos sócio ambientais, assim como os dados geológicos, hidrológicos etc. 3ª) Etapa - Viabilidade: a viabilidade é a etapa em que se terá a dimensão do empreendimento, o reservatório e a respectiva área de.

(31) 16. influência, as obras de infra-estrutura necessária, a implantação, os potenciais e os efeitos sócio-ambientais. Nesta etapa de viabilidade é elaborado o EIA (Estudo de Impacto Ambiental), que tem por objetivo prevenir, servindo de instrumento de planejamento e controle ambiental. Bem como avaliar com antecedência os efeitos causados pela obra. O EIA deve ser elaborado antes da implantação da obra ou atividade de significativa degradação do meio ambiente. Vejamos seus objetivos, segundo as diretrizes da Eletrobrás (2000, p. 23):. - complementar e ordenar uma base de dados temáticas sobre a região onde se inserem as obras propostas; - permitir, através de métodos e técnicas de identificação/avaliação de impactos, o conhecimento e o grau de transformação que a região sofrerá com a introdução das obras propostas, como agente modificador; - estabelecer programas que visem prevenir, mitigar e/ou compensar os impactos negativos e reforçar os positivos, promovendo possível inserção regional das obras propostas; - caracterizar a qualidade ambiental atual e futura da área de influência; - definir os programas de acompanhamento, monitoramento que deverão ser iniciados e/ou após a implantação do empreendimento.. Respectivamente nesta mesma etapa é elaborado o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), o qual será apresentado ao órgão licenciador ambiental, requerendo três licenças: Licença Prévia (LP), para início da etapa do projeto básico; Licença de Instalação (LI), como pré-requisito do início das obras, ou seja, é onde autoriza-se a instalação do empreendimento após a elaboração do Plano de Controle Ambiental (PCA) e realiza-se a negociação com a população; e.

(32) 17. Licença de Operação (LO) que permitirá o início do enchimento do reservatório e a própria operação comercial. Neste caso, se a obra estiver situada em um só município deve ser licenciada em nível municipal. Se abranger mais de um município, ou um rio estadual, deverá ser licenciada pela agência estadual. Ou ainda ser for um rio interestadual, os órgãos licenciadores devem ser dos dois estados. Mas caso a obra seja de importância nacional, o licenciamento dependerá da aprovação do Ibama. A elaboração de um EIA/RIMA ocorre quando houver a previsão de ocorrência de impactos de grande magnitude provocados pelos empreendimentos, e os órgãos responsáveis devem exigir a edição e discussão pública do EIA/RIMA. O RIMA é um documento elaborado a partir do EIA, que apresenta uma abrangência menor, podendo ser considerado um resumo do EIA, pois este compreende o detalhamento técnico científico dos meios físicos, biótipos e antrópico, associado à inserção do empreendimento. O RIMA também reflete as condições do EIA, segundo a própria resolução 01/86 do CONAMA, que determina o seu conteúdo mínimo. 4ª) Etapa - Projeto Básico Ambiental (PBA): é o detalhamento da proposta, onde permitirá a contratação das obras e aquisição dos equipamentos eletromecânicos de geração. É o conjunto de programas a serem implantados, visando viabilizar as recomendações emitidas no EIA e no RIMA e atender as exigências e condicionantes fixadas pelo órgão ambiental licenciador. 5ª) Etapa - Projeto executivo: construção, é quando são desenhados os planos das obras civis e dos equipamentos e.

(33) 18. implementadas as providências sócio ambientais da área do reservatório e da usina. Após estas etapas, consolida-se o efetivo funcionamento de uma usina hidrelétrica, mesmo que a instalação de máquinas continue sendo feita progressivamente por vários anos. Assim como pode acontecer com o processo de reassentamento das famílias removidas do local da obra, se for o caso, como veremos no decorrer deste trabalho.. 1.1.2 - Enquadramento Legal. As questões legais voltadas ao meio ambiente surgiram a partir da pressão de movimentos ambientalistas na década de 1980. Desde então a legislação brasileira estabeleceu a necessidade de prévio licenciamento. ambiental. para. a. construção,. instalação. e. funcionamento de empreendimentos que utilizem os recursos naturais e que possam causar considerável degradação ambiental. Para a construção e funcionamento de uma usina hidrelétrica, vimos anteriormente que esta deve passar por etapas, onde há procedimentos que devem ser seguidos, obedecendo as questões legais, ou seja, há uma legislação a ser cumprida. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) surgiu com a Lei 6.803 de 03.07.1980, onde inicialmente seria somente para alguns estabelecimentos industriais, localizados em áreas vulneráveis à poluição..

(34) 19. No ano seguinte, a legislação brasileira cria a Lei 6.938 de 31.08.1981, referente à Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), também nesta mesma Lei foi instituído o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), onde em sua Resolução n.01, de 23.01.1986, elaborou novas disposições sobre o Estudo de Impactos Ambientais. Conforme consta na Constituição Federal:. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público; (...) IV – exigir, na forma da lei, para instalações de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;. O EPIA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental) e/ou EIA, tem tido importância reconhecida desde sua criação, neste processo de construção de empreendimentos que, de uma forma ou de outra, afetam o meio ambiente. Mesmo assim este documento também tem passado por alguns ajustes, conforme MÜLLER (1995, p.97). O EPIA é reconhecido como um bom instrumento para avaliar e prevenir, com relativa antecedência, os efeitos causados pelas grandes obras. Apesar desse mérito, a legislação específica vem passando por processo de aperfeiçoamento para delimitar melhor alguns critérios genéricos, ainda que sem retirar a necessária flexibilidade de ações e decisões. Esse aperfeiçoamento é necessário em duas mãos: na ampliação e precisão dos critérios a se considerar frente aos diversos tipos de impactos (difusos, pontuais, sazonais, contínuos etc.) e nas metodologias de caracterização ambiental..

(35) 20. A partir da resolução específica do Conama, a de nº 06/87, de 16.09.82, que trata do licenciamento ambiental de obras consideradas de grande porte e de geração de energia elétrica, entre os documentos necessários ao licenciamento para usinas, está a exigência de elaboração e aprovação do Projeto Básico Ambiental. Como citado anteriormente, no item procedimentos para a construção, a partir de então o órgão ambiental fornece a licença de instalação (LI) para início da obras. Em relação ao licenciamento ambiental, este também passa por ordens legais, pois é parte do processo que irá conceder a liberação ou não da construção do empreendimento. Na Resolução 237 de 19.12.1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), observamos o art. 1º desta resolução, transcrito abaixo:. Art. 1º. Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: I – Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso;. Desta forma fica claro mais uma vez a importância do processo de licenciamento, pois este segue critérios para a regulamentação técnico-administrativa para dar seguimento a obra..

(36) 21. Parte deste processo de licenciamento, que envolve a população atingida, é a audiência pública, principal espaço que envolve a sociedade civil, regulamentada pela Resolução 009/87 do Conama. Segundo Moreira Neto em REZENDE (2003), a audiência pública constitui um dos institutos de participação atualmente em uso que legitima as futuras decisões da Administração Pública, ampliando o controle da legalidade, da legitimidade e da moralidade. A audiência pública pode ser considerada o principal espaço em que a sociedade civil, e principalmente os atingidos, tomarão parte no processo de licenciamento, mas esta audiência não é deliberativa, é de caráter consultivo, onde apenas são tiradas dúvidas e feitas sugestões pela população..

(37) CAPÍTULO II OS IMPACTOS SOCIAIS E A LUTA DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS. 2.1 - Impacto Sociocultural. Nos projetos de reassentamento advindos do deslocamento compulsório a que são submetidos os atingidos por barragens costuma-se subestimar o impacto das mudanças no principal componente do sistema organizacional, as pessoas. Estas não podem ser simplesmente transferidas de um local para outro, religadas, reconfiguradas e sair produzindo, reestruturarem-se de um dia para o outro. Estas pessoas devem ser preparadas para o processo de mudança, uma vez que toda a rotina de trabalho, produção e relações interpessoais, com as quais estão acostumadas, pode ser radicalmente mudada. As pessoas tendem a se apegar às suas rotinas, onde a mudança pode trazer conflito e resistência, uma vez que se está mexendo com estruturas subjetivas e de poder preexistentes. Observemos o que diz ROTHMAN (2004, p.24) a respeito destes impactos..

(38) 23. As decisões sobre esses projetos têm sido tomadas pelas empresas estatais do setor elétrico, com grande influência do setor privado, sem que a população possa se dar conta de que vão gerar enormes conseqüências sobre seu tipo de vida. Embora a maioria das barragens que está sendo planejada seja de escala menor, segundo um pesquisador mineiro, os efeitos negativos cumulativos de um grande número de barragens "pequenas” e médias implicam a continuação de grandes impactos sociais e ambientais. Quanto aos impactos sócioeconômicos e culturais, a construção de grandes barragens tem ameaçado a sobrevivência econômica e o modo de vida dos camponeses atingidos.. Outra. conseqüência. grave,. dentre. os. impactos,. é. o. empobrecimento da população devido a fatores como a mudança de cultura agrícola que compromete a produtividade e assim seus rendimentos. Os valores das indenizações costumam ser irrisórios, diante da realidade imposta a estas pessoas. ROTHMAN (2004, p. 25) comenta a respeito: Um estudo do Banco Mundial citou o casos dos projetos de Itaipu, Sobradinho e Tucuruí, nos quais a indenização para terras desapropriadas foi irrisória, ou, no melhor das hipóteses, totalmente insuficiente, para adquirir terra de tamanho e qualidade semelhantes em outros lugares. Outro estudo do BIRD conclui que, nos projetos de construção de barragens, quase sempre se inicia um processo de empobrecimento. Dentre os impactos sócio-culturais do deslocamento obrigatório estão a perda de identidade coletiva decorrente da perda da propriedade rural e dos padrões de organização social, como relações de parentesco, amizade e comunidade. Durante a década de 80, resistências locais no Brasil ao deslocamento compulsório se transformaram, sob certas condições, em movimento social. A organização preexistente da população local e o apoio de ONGs e setores progressistas de igrejas e de universidades têm contribuído à construção de movimentos de atingidos por barragens, os quais têm procurado aumentar o poder de barganha dos atingidos..

(39) 24. Os impactos a que nos referimos não se limitam apenas ao econômico, mas também ao sócio cultural, que pode afetar além das famílias deslocadas, a população da localidade que os recebe, podendo haver uma reação de resistência também por parte desta população, tendo efeitos multiplicadores sobre um território mais amplo. Em virtude disto pode ocorrer a perda ou interrupção das oportunidades, serviços e infra-estrutura econômica. Segundo ROTHMAN (2004, p. 26):. O reassentamento de um número significativo de pessoas para um local diferente pode causar profunda perturbação econômica e cultural para os indivíduos afetados bem como para o tecido social das comunidades. Isso pode expô-los ao risco de empobrecimento temporário ou permanente, especialmente quando as pessoas afetadas já são pobres ou vulneráveis. Esses riscos e prejuízos ocorrem mesmo quando o reassentamento é objetivo de um projeto, como nos projetos de desenvolvimento ou melhoramento urbano.. Percebe-se que esta discussão não é recente, mas os problemas já previstos3 ainda continuam. A própria experiência4 do Banco Interamericano demonstra que o reassentamento involuntário é uma atividade complexa, cara e arriscada, onde esta nem sempre, ou dificilmente, consegue restaurar as condições em que viviam anteriormente ou mesmo melhorar as condições sócio-econômicas da população deslocada. 3. Em julho de 1998 foi aprovada a Política Operacional OP-710 pela Diretoria Executiva do Banco Interamericano de Desenvolvimento, conforme Reassentamento involuntário - Política operacional e documento de antecedentes (Washington, D.C.), onde antes desta política ter sido posta à consideração do Comitê de Políticas da Diretoria, versões preliminares deste documento foram discutidas com organizações não governamentais por ocasião da Sexta Reunião Consultiva BID-ONG sobre o Meio Ambiente nos dias 27 a 30 de Novembro em Curitiba, Brasil, e várias reuniões subsequentes na sede do Banco e via Internet.A política e documento de antecedentes foi preparada por um grupo de trabalho coordenado por A. Deruyttere (SDS/IND). 4 As experiências a que nos referimos do Banco Interamericano são aqueles projetos financiados tanto pelo Banco quanto pelo BID, em obras como a construção de usinas hidrelétricas..

(40) 25. Esta experiência demonstra ainda que, em geral, os afetados são os setores mais pobres e vulneráveis da população. Isso pode ser visto no caso de projetos hidrelétricos que tendem a ser localizados em áreas remotas, embora gerem eletricidade que beneficiam os consumidores habitantes dos grandes centros urbanos. As pessoa que moram em territórios rurais atingidos tendem a sofrer um impacto ainda maior, pois com o deslocamento compulsório acabam mudando toda a sua estrutura de relações interpessoais, entre outras mudanças já mencionadas. Mesmo que a população tome conhecimento de todo o projeto e possua todas as informações, ainda assim sentirá o impacto somente quando estiver passando pelo momento de transição. É difícil medir anteriormente os custos, plenos, psicológicos, sociais e econômicos do reassentamento. Conforme a Política Operacional OP-710, algumas considerações devem ser feitas.. A gestão de programas de reassentamento involuntário é complexa e requer consideração não apenas do número de pessoas afetadas mas também da gravidade das conseqüências. Se essas questões não forem consideradas adequadamente podem afetar substancialmente os resultados econômicos e sociais de um projeto de desenvolvimento. A fim de assegurar que essas questões sejam consideradas adequadamente, devem ser estabelecidos princípios claros de política, os quais devem ser complementados por diretrizes operacionais mais detalhadas que descrevam as medidas a serem tomadas em cada fase do ciclo do projeto.. Dentre os estudos sobre reassentamento involuntário nas operações do Banco Mundial foram identificados problemas semelhantes aos encontrados pelo BID. Tal estudo verificou que os.

(41) 26. componentes de reassentamento deixaram de melhorar o bem-estar social e econômico da população deslocada, principalmente porque não se tratou o componente de reassentamento como parte integral do projeto geral. Com isso, o componente de reassentamento não foi bem projetado, deixou-se de entender as complexidades políticas, culturais e econômicas do reassentamento e não foram proporcionados recursos financeiros e institucionais adequados. Assim, o estudo do Banco Mundial concluiu que: - o mutuário deve fazer planejamento e preparação adequada antes da avaliação do projeto principal; - são necessárias opções social e economicamente viáveis a fim de restabelecer a capacidade produtiva das populações deslocadas, por meio de estratégias financiadas pelo projeto e baseadas na substituição da terra e do emprego; - e a implementação das operações de reassentamento deve ser supervisionadas freqüente, profissional e firmemente, a fim de ajudar aos órgãos de execução a cumprirem as políticas e os convênios dos acordos de empréstimo com o Banco Mundial.. No próprio Manual de Operações do Banco Mundial, onde consta a OD 4.30 Diretriz Operacional, apresenta-se todos os aspectos que devem ser levados em consideração para a construção de um empreendimento desta natureza. Esta diretriz descreve a política e os procedimentos do Banco a respeito de reassentamento involuntário, bem como as condições que os mutuários devem cumprir nas operações referentes a reassentamento involuntário. Segundo consta: O reassentamento involuntário deve ser evitado ou minimizado sempre que possível, explorando todas as alternativas viáveis de desenho de projeto. Por exemplo, o realinhamento de estradas ou redução na altura das represas pode reduzir substancialmente as necessidades de reassentamento. Todos os reassentamentos involuntários devem ser concebidos e executados como programas de desenvolvimento, nos quais as.

(42) 27. pessoas reassentadas recebam recursos suficientes de investimento e oportunidades para compartilhar nos benefícios do projeto. As pessoas deslocadas devem ser compensadas pelo total do custo de substituição das suas perdas antes da mudança acontecer; ajudadas e apoiadas na mudança.. Esta política é do ano de 1990 e podemos considerá-la como uma política recente. Mesmo assim percebe-se lacunas deixadas pelos projetos de construção de hidrelétricas, reconhecendo que deve-se levar em conta, além da questão financeira dos atingidos, a questão social que é parte fundamental na reorganização e desenvolvimento humano da população atingida. Percebe-se que estas políticas operacionais e suas diretrizes devem ser vistas com mais atenção por parte dos empreendedores. Pois não estão trabalhando somente com a organização e o planejamento de uma obra de cimento, concreto e estruturas, mas sim com seres humanos afetados por uma grande obra. Mesmo que esta venha a gerar energia para uma população maior do que aquela deslocada, os impactos gerados a estas pessoas com certeza são bem maiores, complexos e intensos. O deslocamento compulsório advindo da construção de usinas hidrelétricas atua sobre a população atingida com características de catástrofe natural imune à vontade dos afetados. Sob tais circunstâncias, introduz-se uma sensação de impotência frente a processos cujas causas e razões poucas vezes são compreensíveis para a população e que por ela são percebidas como arbitrárias. No que concerne ao processo de reassentamento, as experiências já vivenciadas, tanto no Brasil como em outros países, demonstram que estes deslocamentos compulsórios são geradores de.

(43) 28. processos traumáticos, promovendo uma série de crises de identidades nas. populações. afetadas,. pois. as. mesmas. não. escolheram. voluntariamente essa situação. A mudança de território vêm desarticular as redes de relações sociais, que tem base na vizinhança e nos laços familiares, e que conformam um marco vital para muitas das famílias atingidas. Essas redes não só canalizam as relações de ajuda mútua, trabalhosamente construídas através do tempo pela população de menor recurso e seu desenvolvimento como um todo, informações, os quais. como também. o fluxo de. são fundamentais para seus esquemas de. sobrevivência. Desta forma, a perda da rede de relações sociais de ajuda mútua conduz a uma diminuição de produtividade na pequena propriedade agrícola, que se agrava ainda mais pela anulação de recursos a que os produtores anteriormente dispunham para a sua vida.. 2.2 As Lutas Sociais dos Atingidos por Barragens. No Brasil, na década de 1960, devido ao regime autoritário de governo, as comunidades tinham que aceitar de qualquer forma os projetos de construção de empreendimentos hidrelétricos, chamados de “projetos de desenvolvimento”. Já a partir de 1979, quando os civis começam a readquirir poder de reivindicação, houve a retomada de manifestações populares contra estes grandes projetos hidrelétricos (Muller, 1995)..

(44) 29. Em 1980 com a promulgação da Constituição Federal, a sociedade civil começou a se reorganizar formando grupos para a luta de seus interesses. A história dos atingidos por barragens no Brasil é marcada pela resistência na terra, de luta pela natureza preservada e pela construção de um Projeto Popular para o Brasil que contemplasse uma nova Política Energética justa, participativa, democrática e que atendesse os anseios das populações atingidas, de forma que estas tivessem participação nas decisões sobre o processo de construção de barragens, seu destino e o do meio ambiente (GRZYBOWSKI, 1990; MEDEIROS, 1989). As grandes obras de usinas hidrelétricas desalojaram milhares de pessoas de suas terras, uma enorme massa de camponeses, trabalhadores que perderam suas casas, terras e o seu trabalho. Muitos acabaram sem terra, outros tantos foram morar nas periferias das grandes cidades. Com esta realidade surgiu a necessidade da organização e da luta dos atingidos por barragens no Brasil, como forma de resistir ao modelo imposto. A luta das populações atingidas por barragens que, no início, era pela garantia de indenizações justas e reassentamentos, logo evolui para o próprio questionamento da construção de barragens. Assim, os atingidos passam a perceber que além da luta isolada na sua barragem, deviam se confrontar com um modelo energético nacional e internacional. Para isso, seria necessária uma organização maior, que articulasse a luta em todo o Brasil (GRZYBOWSKI, 1990; MEDEIROS, 1989). Em abril de 1989 é realizado o Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens, com a participação de.

(45) 30. representantes de várias regiões do País. Foi um momento onde se realizou um levantamento global das lutas e experiências dos atingidos em todo o país, e se decidiu constituir uma organização mais forte em nível nacional para fazer frente aos planos de construção de grandes barragens. Dois anos após, em março de 1991, é realizado o I Congresso dos atingidos por Barragens, de todo o Brasil -, onde se decide que o MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, deve ser um movimento nacional, popular e autônomo, que deve se organizar e articular as ações contra as barragens a partir das realidades locais, à luz dos princípios deliberados pelo Congresso. O dia 14 de Março é instituído como o Dia Nacional de Luta Contra as Barragens, sendo celebrado desde então em todo o país. Os Congressos Nacionais do MAB passaram a ser realizados de três em três anos, sempre reunindo representantes de todas as regiões do país, e as decisões tomadas servem como base para o trabalho e linhas gerais de ação. No ano de 1997 é criada na Suíça a Comissão Mundial de Barragens (CMB), ligada ao Banco Mundial e com a participação de representantes de ONGs, Movimentos de atingidos, empresas construtoras de barragens, entidades de financiamento e governos. A CMB teve o objetivo de levantar e propor soluções para os problemas causados pela construção de Barragens a nível mundial, bem como propor alternativas. Do debate que durou aproximadamente três anos, resultou o relatório final da CMB, que mostra os problemas causados pelas barragens e aponta um novo modelo para tomada de decisões..

(46) 31. Em novembro de 1999 o MAB realizou seu IV Congresso Nacional, onde é reafirmado o compromisso de lutar contra o modelo capitalista neoliberal, e por um Projeto Popular para o Brasil, onde se inclui um novo modelo Energético. Foi reafirmado que o método de organização de base do MAB é através dos grupos, instância de organização, multiplicação das informações e resistência ao modelo. O MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens -, tem sua luta voltada contra a expropriação da terra, onde reivindicam condições no mínimo aceitáveis, ou seja, que reconstitua no mínimo as condições de vida em que viviam os atingidos anteriormente ao deslocamento. Vejamos o que diz GRZYBOWSKI (1990, p. 26) sobre o MAB. Um aspecto fundamental no movimento de barragens diz respeito ao resgate de elementos sócio-culturais, definidores do grupo atingido, em associados à luta pela terra. Os atingidos, quando organizados em movimentos, tendem a recusar a redução praticada na ação desapropriatória que vê tudo o que vai ser perdido sob as águas do lago como passível unicamente de uma avaliação e uma indenização monetária. Neste processo de radicalização das propostas dos movimentos, a defesa da terra e a oposição às barragens aparecem como uma defesa de um espaço social e culturalmente organizado, com relações de parentesco, vizinhança e amizade, com suas escolas, igrejas e cemitérios.. Desta forma, o movimento vem para resistir ao modelo de desenvolvimento imposto pelos agentes responsáveis pela construção de tal empreendimento, lembrando que há uma heterogeneidade social dos participantes (GRZYBOWSKI , 1990). São atingidos todos os que vivem na área da barragem: posseiros, pequenos proprietários, parceiros e arrendatários, agregados, assalariados, médios e grandes produtores, artesãos, comerciantes, etc..

(47) 32. Existem algumas lutas do MAB que ficaram registradas historicamente por darem início ao reconhecimento à questão dos deslocamentos compulsório das famílias atingidas e a luta por seus direitos; como a barragem de Itaparica, entre Bahia e Pernambuco, onde houve a ocupação do canteiros de obras como tentativa de impedimento de entrada de máquinas em áreas não indenizáveis; os cortes nas cercas da Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF -, em manifesto contra o descaso das autoridades responsáveis com as questões dos atingidos pelo empreendimento. A partir de então se obteve as primeiras reuniões com a participação destas famílias, foi quando tiveram início as obras de Itaipu, no Paraná. Mesmo assim as lutas continuavam, principalmente por indenizações mais justas, conforme cita GRZYBOWSKI (1990, p. 29):. Itaipu, pela importância da própria obra, acabou dando destaque à ação dos atingidos. Através do “Movimento Justiça e Terra”, as lutas dos expropriados centraram-se na justa indenização, obtendo ganhos significativos neste aspecto. Dois acampamentos, com assembléias diárias, foram os piques do movimento. Como os próprios atingidos reconhecem, o seu maior ganho foi o seu crescimento social e político, a coragem de reivindicar direitos e a percepção das artimanhas do poder.. As famílias atingidas pertencem muitas vezes a classe menos favorecida ou com menor poder aquisitivo e acabam sofrendo com as mudanças a que são submetidas e que coloca em estado de crise todo o seu esquema de sobrevivência, excedendo, muitas vezes, a sua capacidade de resposta à situação em que foram inseridas. Muitas das.

(48) 33. lutas organizadas pelo MAB continuam a ter expressão no presente, como vemos nas seguintes reportagens.. CORREIO DO POVO PORTO ALEGRE, SÁBADO, 1º DE JULHO DE 2000 Atingidos por barragem deixam Itá Agricultores aceitaram a proposta de reunião com a Gerasul na próxima terça-feira, em Concórdia Produtores realizaram ato público no canteiro de obras José Ody Em assembléia-geral realizada ontem, na comunidade de Lajeado Ouro, entre Aratiba e a Usina de Itá, cerca de 95% dos atingidos pela barragem de Itá aceitaram a proposta da Gerasul para a realização de uma reunião na próxima terçafeira, às 10h, em Concórdia, Santa Catarina. O representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Luiz Dalla Costa, disse que participaram do encontro representantes da Gerasul, do Ministério da Agricultura, das secretarias de Agricultura do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e do Banco do Brasil. Na pauta da reunião, os agricultores vão reivindicar R$ 3 mil, a fundo perdido, seguindo o exemplo do que a empresa Maesa forneceu aos atingidos pela Usina de Machadinho. Segundo Costa, os agricultores vão pedir também ao governo federal a abertura de uma linha de crédito especial para investimento e recomposição das propriedades. Ele disse que este pedido estava na pauta de reivindicações entregue à Gerasul em outubro do ano passado. 'Deverá ser 50% a fundo perdido e os outros 50% a serem pagos em até dez anos', afirmou Costa. Ele explicou que os atingidos querem construir um projeto de desenvolvimento regional que beneficie a todos. Os atingidos retornaram ontem ao canteiro de obras da usina para ato público. As lideranças elaboraram cadastros com os nomes de todos interessados nos R$ 3 mil para custeio das lavouras de verão. No início da tarde, grande parte dos ônibus já viajavam para seus municípios de origem. Na segunda-feira, ocorrerá reunião na sede do MAB, em Erechim, entre as lideranças do movimento e representantes de todos os municípios que tiveram áreas alagadas. A comitiva deve representar os agricultores na terça-feira..

(49) 34. Correio do Povo Porto Alegre - RS – Brasil. CORREIO DO POVO PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2001 Manifestação paralisa Machadinho Líderes do ato alegam que cidade perderá receita com a saída de colonos atingidos por barragem Hidrelétrica deverá operar em 2002 Mais de mil pessoas participaram ontem, às 10h, do protesto que paralisou todas as atividades na cidade de Machadinho, na região Nordeste do Estado. O movimento, que tem o apoio da prefeitura, hospital, agências bancárias e do comércio em geral, exige que a Maesa, empresa responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Machadinho, reavalie o relatório sobre o impacto ambiental, social e econômico no município. A usina está sendo construída entre os municípios de Piratuba (SC) e Maximiliano de Almeida (RS). As autoridades argumentam que o município de Machadinho perderá 40% da sua população e terá uma redução de 40% na arrecadação. Os projetos na área de turismo ecológico também serão prejudicados, conforme o secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Airton Fabro. No início da tarde de ontem, o prefeito de Machadinho, Luis Rebeschini, levou as reivindicações e um abaixo-assinado para o Ministério Público Federal em Passo Fundo, pedindo apoio e providências. Uma das reivindicações é de que seja dada prioridade ao reassentamento de 150 famílias de atingidas pela barragem, preferencialmente na própria região, impedindo que essas pessoas se transferiram até mesmo de Estado. Às 16h, os organizadores comandaram uma caminhada pelas principais ruas da cidade. A Maesa divulgou, ontem, uma nota oficial sobre a manifestação. Segundo o documento, a opção de sair ou não do município foi feita individualmente pelas famílias, sem qualquer interferência da empresa. A Maesa explica que tentou comprar duas áreas no município, no total de 818 hectares, que poderiam receber 38 famílias. No entanto, de acordo com a nota, o Movimento dos Atingidos por Barragens considerou as terras impróprias para a agricultura..

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