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As relações entre Brasil e o Oriente Médio

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CAMILA GREGURINCIC

AS RELAÇÕES ENTRE BRASIL E O ORIENTE MÉDIO: REPERCUSSÕES DA PRIMAVERA ÁRABE NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Florianópolis 2012

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CAMILA GREGURINCIC

AS RELAÇÕES ENTRE BRASIL E O ORIENTE MÉDIO: REPERCUSSÕES DA PRIMAVERA ÁRABE NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Márcio Roberto Voigt, Dr.

Florianópolis 2012

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CAMILA GREGURINCIC

AS RELAÇÕES ENTRE BRASIL E O ORIENTE MÉDIO: REPERCUSSÕES DA PRIMAVERA ÁRABE NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

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Aos meus pais, Magna e Tomislav, pela

oportunidade, apoio, confiança, e

principalmente, pelo exemplo de educação. Esse título não teria sido conquistado sem o apoio diário de vocês.

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AGRADECIMENTOS

Meus pais sempre me disseram que “o que é seu será” e “será no seu devido tempo”. Ensinaram-me que para que isso fosse possível, era necessário meu esforço e minha dedicação, e eu teria “apenas” a orientação, o suporte e a educação deles, porque o meu presente e o meu futuro seriam baseados pelas minhas escolhas.

Agradeço primeiramente a eles, aos meus maiores exemplos: os meus pais, Magna e Tomislav, que foram base para a minha formação. Agradeço pelo grande investimento nos meus estudos, pela dedicação, força e principalmente, pelo amor. À minha mãe, não há palavras para descrever o meu agradecimento pelos seus cuidados, que mesmo distante fisicamente no período da minha graduação, sempre esteve presente para me auxiliar no que fosse possível. Obrigada pelas suas orações ao meu favor e pela preocupação constante para que eu estivesse sempre no caminho correto. Ao meu pai, também não há palavras para descrever nossa parceria e amizade. Obrigada pelos seus ensinamentos diários, pelo seu grande conhecimento repassado aos poucos para mim, o grande aprendizado de história e aspectos gerais que hoje possuo, foram adquiridos a maior parte do tempo com você. Tenho muito orgulho de vocês dois!

“Algumas pessoas marcam a nossa vida para sempre, umas porque nos vão ajudando na construção, outras porque nos apresentam projetos de sonho e outras ainda porque nos desafiam a construí-los”. Com esta citação, posso dizer que nesses quatro anos de graduação, conheci pessoas que me guiaram e serviram de espelho para grande parte dos meus planos de vida. Com imenso carinho, agradeço à minha amiga Maria Cristina Arcego pelo companheirismo, parceria e força tanto na faculdade quanto no trabalho. Além disso, agradeço aos grandes amigos Dóris Dávi, José Enrique “kike”, Caroline Portela e Amanda Neves pela oportunidade de conhecer pessoas como vocês. Muito deste trabalho não teria sido conquistado sem o essencial apoio de todos.

Agradeço ao Prof. Dr. Márcio Roberto Voigt por aceitar me orientar, o qual além de professor e orientador se mostrou amigo nas horas de preocupação pessoal e escolha profissional. A minha admiração e meus sinceros agradecimentos pela sua orientação oferecida.

Enfim, agradeço a todos os meus amigos e colegas de trabalho que de alguma maneira contribuíram para esta realização.

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“O que pensais, passais a ser” (Mahatma Gandhi).

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RESUMO

No final do ano de 2010 e início de 2011, o mundo presenciou uma onda revolucionária de protestos e manifestações no Oriente Médio e Norte da África, que reivindicavam melhorias e mudanças sociais, políticas e econômicas na região. Sabe-se que os países do OM possuem especificidades únicas, as quais fizeram dos protestos e seus desdobramentos serem distintos em cada país atingido. Em virtude da intensa repercussão internacional das manifestações, vários países e a própria Organização das Nações Unidas (ONU) se viram sujeitos a se posicionarem ou manifestarem, seja de forma favorável, contrária ou imparcial, perante o conflito. Assim, em virtude da intervenção desses atores perante as manifestações árabes e da aproximação do Brasil com a região do Oriente Médio, fortificada a partir dos anos 70, o presente trabalho busca compreender o posicionamento do Itamaraty nas relações, sejam elas estratégicas, comerciais ou diplomáticas com o Oriente Médio, através de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa das tradições da Política Externa Brasileira, para que seja possível, dessa maneira, analisar o posicionamento do Brasil perante o fenômeno conhecido por Primavera Árabe. Todavia, haja vista que os princípios da política externa brasileira são característicos e baseados na não intervenção e na coexistência pacífica, acredita-se que a posição brasileira para os protestos no mundo árabe manteve sua postura pacífica e não abandonou suas diretrizes históricas. Dessa maneira, o presente trabalho contribuiu para aprimoramento no estudo da política externa brasileira, como também, para a compreensão de uma região tão conturbada no cenário internacional como o Oriente Médio.

Palavras-Chave: Política Externa Brasileira. Tradição Global-Multilateral. Oriente Médio. Primavera Árabe.

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ABSTRACT

In the end of the year 2010 and beginning of 2011, the world witnessed a revolutionary wave of demonstrations and protests in the Middle East and North Africa, claiming improvements and, social, economic and political changes in the region. It is known that countries of Middle East have unique characteristics, which made the protests and their consequences distinct in each country hit. Because of the intense international repercussions of the events, many countries and even the United Nations (UN) found themselves subjected to position or express, either favorable, contrary or impartial facing the conflict. Thus, due to the intervention of these actors ahead of the Arab manifestations and approximation between Brazil and the Middle East region, fortified from the 70s, this study seeks to understand the Itamaraty position, whether strategic, commercial or diplomatic relations with the Middle East through the an exploratory qualitative approach with the traditions of brazilian foreign policy, to be able to analyze the position of Brazil in relation to the phenomenon known as the Arab Spring. However, given that the principles of brazilian foreign policy is based on the characteristic and non-intervention, peaceful coexistence and support the decolonization of territories, it is believed that the brazilian position for the protests in the Arab world, maintained yours peaceful position and not abandoned its historical guidelines. Thus, this study has contributed to improvement in the study of brazilian foreign policy, but also, to understanding a so troubled region in the international arena as the Middle East.

Key-words: Brazilian Foreign Policy. Global Multilateral Tradition. Middle East. Arab Spring.

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LISTA DE SIGLAS

AGNU - Assembleia Geral da ONU

ASPA – Cúpula América do Sul – países Árabes DOMA – Departamento do Oriente Médio EAU – Emirados Árabes Unidos

EUA – Estados Unidos da América FHC – Fernando Henrique Cardoso JK – Juscelino Kubitschek

MRE – Ministério das Relações Exteriores OLP – Organização para Libertação Palestina ONU – Organização das Nações Unidas OM – Oriente Médio

OPA – Operação Pan-Americana

OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo OTAN – Organização do Tratado Atlântico Norte

PEB – Política Externa Brasileira PEI – Política Externa Independente RI – Relações Internacionais

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 11

1.2 OBJETIVOS ... 13 1.1.1 Objetivo geral ... 14 1.1.2 Objetivos específicos ... 14 1.3 JUSTIFICATIVA ... 14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 15 1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 19

2.1 CONCEITOS DE POLÍTICA EXTERNA ... 19

2.2 UM ESTUDO SOBRE A EVOLUÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA ... 21

2.2.1 Tradição Bilateral-Hemisférica ... 23

2.2.2 Tradição Global-Multilateral ... 25

2.3 UMA BREVE ABORDAGEM NA EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES BRASIL E ORIENTE MÉDIO ... 28

2.3.1 A PEB e o Oriente Médio no final do século XX e início do século XXI ... 35

3 A “PRIMAVERA ÁRABE” ... 42 3.1 OS MOTIVOS HISTÓRICOS ... 46 3.2 A REPERCURSSÃO INTERNACIONAL ... 50 3.2.1 A Posição Brasileira... 52 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 55 REFERÊNCIAS ... 58

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1 INTRODUÇÃO

Este primeiro capítulo introdutório é reservado para: apresentação do tema e o problema, demonstração dos objetivos gerais e específicos a serem alcançados, a justificativa pela opção do presente tema, a metodologia científica e, por fim, a estrutura do trabalho.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

O tema deste estudo consiste na atuação da Política Externa Brasileira (PEB), analisando as suas tradições e a relação do Brasil com o Oriente Médio1 (OM), para então, averiguar a posição brasileira perante as manifestações árabes, denominadas por “Primavera2 Árabe.”

Esta pesquisa parte do pressuposto de que a PEB, no presente momento, diferente de seu passado, norteia-se, em suas relações geográficas e políticas, em linha horizontal3, conhecida nas relações internacionais por uma relação e cooperação Sul-Sul, e em linha vertical4, permitindo dizer que a política exterior do Brasil no século XXI seja caracterizada, conforme Pecequilo (2010, p.202), por “eixos combinados.”

Em um contexto histórico, a política externa brasileira baseou-se inicialmente na busca pela paz entre os povos e, posteriormente, por recursos de poder que aumentassem sua autonomia perante o cenário internacional e pudesse, dessa forma, se aproximar de outras potências e/ou blocos de integração; e pela busca em desenvolvimento, passando de um modelo agro-exportador, para um modelo desenvolvimentista com forte proteção Estatal.

1Segundo as divisões do Departamento do Oriente Médio (DOMA) do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, isto é, a Divisão do Oriente Médio I (DOM I) e a Divisão do Oriente Médio II (DOM II), o Oriente Médio é composto por: Arábia Saudita, Autoridade Nacional Palestina, Bahrein, Catar, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Iêmen, Israel, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã e Síria. Todavia, segundo Pecequilo (2011, p.160), além dos países apresentados, Turquia e Irã também compõem a região.

2De acordo com o estudo aprofundado no termo ‘primavera’ no conflito árabe, entende-se que o mesmo foi designado relacionando-o ao conflito de 1968, conhecido por Primavera de Praga ou ao conflito de 1848, conhecido por Primavera dos Povos, ainda que cada um tenha suas características particulares e diferentes. Sobre o conflito Primavera Árabe, segundo Torres (PORTAL RI, 2012), “apesar dos países afetados pelas revoltas não serem todos árabes, estes foram agrupados dentro do conceito de ‘primavera’ por uma questão midiática e ideológica, que tenta dar a noção de mudança positiva para a região”.

3Segundo Pecequilo (2008, p.145), “o eixo horizontal é representado pelas parcerias com as nações emergentes, por suas semelhanças como grandes Estados periféricos e países em desenvolvimento como Índia, China, África do Sul e a Rússia [...], e também pelos países menos desenvolvidos (LDCs) da África, Ásia e Oriente Médio”. 4Segundo Pecequilo (2008, p.148), o eixo vertical é “representado pelos tradicionais intercâmbios com países do Primeiro Mundo, EUA, nações da União Europeia e Japão”.

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Segundo Amorim (BRASIL, 2012B), Ministro das Relações Exteriores (1993-1995 e 2003-2010), para que o Brasil pudesse se inserir amplamente no cenário internacional era necessário que a gestão da PEB atuasse em diversas regiões e não ficasse restrita somente a um único hemisfério, como na tradição bilateral-hemisférica. Assim, com o nascimento da tradição global-multilateral (1961), ocorre a potencialização e mundialização das relações internacionais brasileiras, visto que as relações multilaterais se tornaram foco da agenda nacional e o aprofundamento nas relações com o Oriente Médio ganhou maior densidade, especialmente diante o Choque do Petróleo em 1973.

Por mais que há algumas bibliografias que considerem uma aproximação gradual (SILVA; PILLA, 2012) do Brasil com o Oriente Médio desde 1947, é durante o primeiro Choque do Petróleo (1973), ocasionado pelo aumento vertiginoso do preço do barril do petróleo, que ocorre uma maior aproximação brasileira com os países do OM. Conforme explica Santana (2006, p.157), esta proximidade está associada “à crise energética da primeira metade da década de 1970 e ao projeto nacional de desenvolvimento econômico”, como será apresentado no decorrer do trabalho.

Com o fim da estrutura mundial bipolar, reformas e reestruturações dos sistemas políticos aconteceram e impulsionaram o processo de formação de uma nova ordem internacional que favoreceram a aproximação entre Estados e, consequentemente, os incentivaram a alterarem e/ou adotarem objetivos para atuarem nesse novo cenário. No entanto, diversas nações se viram desprovidas desses objetivos e estratégias políticas para lidarem com as mudanças no sistema internacional5. Segundo Pecequilo (2010, p.14), enquanto no Brasil, o desafio era de se recuperar da década perdida e buscar sustentar sua reinserção global, atuando no cenário internacional como um global trader e player, o desafio no Oriente Médio e na África era de redesenharem suas fronteiras e se tornarem nações democráticas. Problemas esses, presentes durante décadas nas duas regiões e que caracterizaram o movimento “Primavera Árabe.”

Durante décadas, a maioria dos países do OM, mesmo com suas peculiaridades e diferenças políticas e culturais, buscaram e lutaram por melhorias sociais, políticas e econômicas na região. As reivindicações eram muitas, mas as mudanças poucas. Não obstante, no final do ano de 2010, esse panorama se modificaria e as manifestações no “mundo árabe”, seriam lembradas eternamente na história do local. O fenômeno, conhecido

5Bull define o sistema internacional como um sistema de Estados “quando dois ou mais Estados têm suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco nas suas decisões, de tal forma que se conduzam, pelo menos até certo ponto, como partes de um todo.” (BULL, 2002, p.15).

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por Primavera Árabe, provocara, desse modo, uma alta repercussão internacional e perpetrou diversos países e organizações a tomarem posição quanto às manifestações e regimes governamentais impostos, até aquele momento, naquela região. Segundo Ferabolli (2012, p.101), “o que há de irreversível na nova dinâmica instaurada pela Primavera Árabe é uma percepção de que um novo contrato social é necessário não só entre os governantes e as populações árabes como entre os Estados árabes e a comunidade internacional.” Pollack e outros (2011, XI) apontam que:

What happened in the Arab world in 2011 was stunning. Wondrous things happened. Tragic things happened. The result is that the Middle East will never be the same. And because the Middle East – through its energy supplies and central location – affects every other part of the world, neither will anything else6.

Assim, o presente trabalho foi elaborado com o desígnio de se compreender as tradições da PEB e entender o conflito da Primavera Árabe, com foco na Líbia, analisando anteriormente a relação entre Brasil e o Oriente Médio, visto que segundo o atual Ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, o Brasil tem buscado, por diversos meios, aproximar-se dos países árabes7 e do OM de modo geral, para estabelecer mecanismos de interlocução privilegiada e cooperação com essa região (OPERA MUNDI, 2012).

Com base nas considerações expostas, o estudo apresentado conduz à seguinte questão central de pesquisa, que direciona e aprofunda o desenvolvimento do trabalho:Como a PEB atual se posiciona ou se manifesta sobre o fenômeno da Primavera Árabe?

Dessa maneira, a fim de se responder a pergunta de pesquisa, a seguir são apresentados os objetivos gerais e objetivos específicos que a autora busca alcançar no decorrer do trabalho.

1.2 OBJETIVOS

Os objetivos são fundamentais para quaisquer pesquisas, para que seja identificado e demonstrado onde se pretende chegar com o estudo apresentado. Sendo assim, apresentam-se a seguir, os objetivos gerais e específicos a serem alcançados neste trabalho.

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O que aconteceu no mundo árabe em 2011 foi impressionante. Coisas maravilhosas aconteceram. Coisas trágicas aconteceram. O resultado é que o Oriente Médio nunca será o mesmo. E em virtude do Oriente Médio - através de suas fontes de energia e localização central - afetar todas as outras partes do mundo, também nunca mais será o mesmo (POLLACK et al., 2011, XI, tradução nossa).

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São eles: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Ilhas Comores, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão e Tunísia.

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1.1.1 Objetivo geral

Mediante o estudo da política externa brasileira e da Primavera Árabe, a proposta primordial do trabalho é pesquisar e analisar os passos, modelos e diretrizes da PEB e analisar de modo conciso a relação entre o Oriente Médio e Brasil, a fim de se verificar a posição da atual representação diplomática nacional perante o movimento Primavera Árabe, principalmente nas manifestações líbias.

1.1.2 Objetivos específicos

Para aprofundar o objetivo geral, são apresentados abaixo os objetivos específicos que pretendem ser alcançados no decorrer do trabalho:

-Pesquisar os modelos e tradições da Política Externa Brasileira e sua atuação no cenário internacional desde suas primeiras diretrizes;

-Analisar a relação do Brasil com o Oriente Médio - principalmente após o nascimento da tradição global-multilateral;

-Compreender o fenômeno conhecido por “Primavera Árabe” – foco Líbia; -Identificar a posição do Brasil perante as manifestações líbias.

Após terem sido apresentados tema, problema e os objetivos, a seguir se descreve a justificativa do tema escolhido pela autora.

1.3 JUSTIFICATIVA

Considerando o período de crise no “mundo árabe”, o cenário internacional sofre alterações que incidem nos países a modificarem suas políticas e relações exteriores com a região em conflito. Diante dessas variações, a relevância do assunto pesquisado está na atuação e posição do Brasil perante a política internacional, visto que a busca por voz ativa no Conselho da Organização das Nações Unidas (ONU) é altamente almejada. Isto é, identificar a posição do Brasil nesse panorama torna-se essencial para averiguar a presença ativa do Brasil em assuntos internacionais, se adequando ou não como bom ator no cenário internacional.

Com o primeiro Choque do Petróleo em 1973, a PEB coloca-se frente ao conflito no Oriente Médio e apoia o mundo árabe. Em virtude da aproximação do Brasil com esta região, torna-se fundamental estudar o movimento da Primavera Árabe e a posição do Brasil

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perante este cenário para analisar a relevância brasileira no cenário internacional e compreender a relação política entre o Brasil e os países árabes. Em relação à presença brasileira no mundo árabe, deve-se considerar que:

O Brasil sempre manteve presença diplomática no mundo árabe, mesmo antes da constituição dos Estados modernos e independentes da região. Inicialmente pautada por acordos relativos aos fluxos migratórios, a agenda diversificou-se, na medida em que se intensificavam os contratos bilaterais e se ampliavam as trocas comerciais (FUNAG, 2001, p.15).

Ademais, torna-se fundamental mencionar as pretensões pessoais da autora que a motivaram pela escolha do tema. Durante o curso de Relações Internacionais (RI), temas de política externa brasileira e direito internacional, mais precisamente, a relação entre Estados e seus conflitos, foram disciplinas que mais chamaram a sua atenção e a motivam para prosseguir os estudos após sua graduação.

Assim, a realização deste artigo foi motivada, principalmente, pela importância e necessidade de melhor conhecer as tradições da política externa brasileira, e de compreender o conflito no “mundo árabe”, não apenas para fins acadêmicos, mas também por interesse particular. Pressupõe-se, também, que o presente trabalho trará como contribuição para a graduanda, um maior conhecimento na evolução da Política Externa Brasileira e no movimento internacional incipiente, assuntos estes, importantes para o profissional de RI.

Além disso, como estudante de relações internacionais, torna-se essencial o entendimento da política nacional e exterior para conhecer a inserção geopolítica do Brasil no plano mundial e entender quais são os seus interesses nacionais, sendo de obrigatoriedade do profissional estar atualizado dos acontecimentos mundiais, sejam eles conflitos, acordos ou notícias pertinentes à geopolítica. Conforme Pecequilo (2010, p.17), a disciplina de relações internacionais é essencial para analisar o estudo da política internacional, visto que, “[...] envolve o conhecimento dos acontecimentos, atores, fenômenos e processos que ocorrem além das fronteiras dos Estados nacionais.”

Em seguida, é apresentada a metodologia utilizada na busca de dados para fundamentação do presente trabalho.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Pesquisar é um meio de buscar informações para encontrar solução do problema de um tema a ser estudado, tendo procedimentos racionais como base fundamental. Para Gil

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(1999, p.46), a pesquisa é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos.”

Conforme Gil (1991, p.46), “as pesquisas geralmente podem ser classificadas em três grupos: estudos exploratórios, descritivos e explicativos.” Considerada uma das condições necessárias para o êxito de um artigo acadêmico, a metodologia será o método e a técnica utilizada para se poder realizar um estudo analítico e crítico numa pesquisa científica. Segundo Ciribelli (2003, p.31), “a metodologia é, pois, um conjunto de procedimentos utilizados por uma disciplina e ao mesmo tempo sua teorética.”

Diante disso, para compreender a política externa brasileira, visando identificar, observar e descrever os modelos da PEB foi feita uma pesquisa de abordagem exploratória qualitativa e documental, de forma que os modelos apresentados sirvam para pesquisas de outros trabalhos acadêmicos. Conforme explicam Lakatos e Marconi (2003, p. 234):

Trabalhos científicos acadêmicos devem ser elaborados de acordo com as normas preestabelecidas e com os fins a que se destinam. Serem inéditos ou originais e contribuírem não só para ampliação de conhecimentos ou compreensão de certos problemas, mas também servirem de modelo ou oferecer subsídio para outros trabalhos.

Para analisar os fatos históricos das relações internacionais do Brasil com o OM e compreender a aproximação brasileira com essa região no passado e no presente, foi realizada uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, tendo em vista que, segundo Richardson (1999, p.245), os acontecimentos atuais somente são compreensíveis quando há a compreensão e conhecimento dos fatos passados.

A compreensão dos fenômenos sociais dos nossos dias e a relação entre países pobres e ricos, (...) dependem do conhecimento que se tenha do passado. Assim os acontecimentos atuais só têm significado com relação ao contexto dos fatos passados dos quais surgiram.

Ademais, com intuito de compreender o conjunto de manifestações no mundo árabe, foi feita uma pesquisa bibliográfica e documental para identificar e observar os fatores que determinaram ou contribuíram para a ocorrência do conflito, esclarecendo os motivos e consequências do mesmo, apresentando também o significado do nome dado ao movimento.

Outro ponto a ser estudado, foco principal desta pesquisa, será a análise da política externa brasileira perante a Primavera Árabe. Far-se-á, contudo, análises da tradição

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da PEB para compreender a posição ou manifestação da atual PEB nas manifestações. No entanto, cabe salientar que as descrições das tradições da política externa brasileira a serem apresentadas nesta pesquisa são secundárias uma vez que são utilizados dados produzidos por analistas renomados na área de relações internacionais.

Assim, para alcançar os objetivos, foram pesquisados os modelos e posições da PEB em livros de conceituados analistas de relações internacionais do Brasil, tais como Amado Luiz Cervo, Paulo Vizentini e Cristina Soreanu Pecequilo e, pesquisas em revistas, jornais e artigos científicos pertinentes ao tema, e para se compreender as manifestações árabes, a busca não se deteve apenas às bibliografias nacionais, sendo as principais aquelas editadas em língua inglesa. Além disso, revistas e organismos internacionais eletrônicos, tiveram base para se compreender o conflito, uma vez que o assunto é incipiente e muito de seu conteúdo encontra-se em andamento.

Por fim, descreve-se na sequência a forma que a fundamentação teórica esta estruturada neste trabalho.

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

Este trabalho esta dividido em quatro capítulos, sendo eles: Introdução, Fundamentação Teórica, a Primavera Árabe e as Considerações Finais. O primeiro capítulo nada mais é que a parte de abertura do tema e apresentação dos objetivos a serem apresentados, fazendo uma breve explicação de cada para serem aprofundados então, no segundo capítulo.

A fundamentação teórica deste trabalho esta estruturada em três capítulos que estão subdivididos para melhor entendimento do estudo realizado. No primeiro capítulo são apresentados os conceitos da política externa na visão de cinco autores renomados no assunto, buscando sintetizar e comparar as ideias desses autores para em seguida, abordar a política externa do país escolhido neste trabalho.

No segundo capítulo, é realizada uma abordagem da política externa brasileira, no qual são apresentados os paradigmas e tradições da PEB, onde é analisada a evolução das relações exteriores brasileira.

E por fim, o terceiro capítulo do referencial teórico tem como foco a relação entre Brasil e o Oriente Médio, fazendo uma abordagem na evolução do estreitamento das relações brasileiras com essa região e mostrando os períodos distintos dessa aproximação, para

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posteriormente, serem expostas as principais diretrizes da PEB no século XXI dentro desse assunto.

Em continuidade, o terceiro capítulo do trabalho, é exposto o conflito da Primavera Árabe, apresentando os conceitos, causas e suas consequências; e por fim, para alcançar o principal objetivo deste trabalho, é analisada a posição do Brasil perante o conflito em questão.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Diante da conquista da soberania política e construção de um Estado Nacional (1822), as primeiras diretrizes da política externa brasileira se estabeleceram e constituíram, na evolução das relações exteriores do Brasil, duas tradições consideradas por Pecequilo (2010, p. 180-181), em bilateral-hemisférica e global-multilateral.

Como será apresentada neste capítulo, desde o nascimento da tradição global-multilateral, a política externa brasileira vem demonstrando grande interesse em estreitar relações sejam elas, comerciais, econômicas e/ou diplomáticas, com os países do Oriente Médio. Além disso, nos anos 70, os fatores econômicos e políticos no cenário internacional, produziram um vinculo político e econômico ainda maior entre o Brasil e os países árabes, sendo fortemente intensificado na política externa brasileira do final dó século XX e durante o atual século XXI.

Dessa forma, para que seja possível compreender a aproximação do Brasil com o Oriente Médio, torna-se imprescindível realizar uma pesquisa abrangente sobre os principais temas ligados à política externa brasileira em geral e, posteriormente, com as relações do Brasil com essa região.

Assim, apresentam-se a seguir os principais suportes teóricos que envolvem e servem como base para o tema do trabalho.

2.1 CONCEITOS DE POLÍTICA EXTERNA

Diante dos conflitos entre Estados e suas diferenças políticas, econômicas e diplomáticas, um conjunto de objetivos e posturas de um sujeito do direito internacional, seja ele Estado8 ou Organização Internacional9, foi se desenvolvendo e surgiu o que se conhece por política externa. Segundo Cervo (1992, p.9), a política externa se constituiu para manter a paz ou fazer guerra, resultando em crescimento ou atraso e desenvolvimento ou dependência do país.

8Rezek define o Estado como “sujeito originário de direito internacional público que ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área, e uma forma de governo não-subordinado a qualquer autoridade exterior.” (REZEK, 1991, p.163). E na concepção de Pecequilo os Estados são “unidades políticas centralizadas surgidas a partir da Paz de Westphalia em 1648.” (PECEQUILO, 2010, p.20).

9Bronwlie define Organização Internacional como uma “associação permanente de Estados, que prossegue fins lícitos, dotada de órgãos próprios.” (BROWNLIE, 1997, p.709).

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De acordo com Seitenfus (2004, p.84), não se deve achar que política externa e política internacional são termos semelhantes, visto que, a política externa nada mais é que a relação causal entre os Estados, e a política internacional é limitada aos Estados com maiores poderes de voz. Segundo o autor, “somente um número reduzido de Estados participa da política internacional, enquanto todos participam da política externa.”

Segundo Pinheiro (2004, p.7), a política externa não é necessariamente determinada por um Estado, e sim, por um ator internacional, seja ele Estado ou não. Segundo a autora, política externa é:

[...] conjunto de ações e decisões de um determinado ator, geralmente mas não necessariamente o Estado, em relação a outros Estados ou atores externos, – tais como organizações internacionais, corporações multinacionais ou atores internacionais –, formulada a partir de oportunidades e demandas de natureza doméstica e/ou internacional (PINHEIRO, 2004, p.7).

Para Seitenfus (2004 p. 76-84), a política externa é um “processo de percepção, avaliação, decisão, ação e prospecções estatais”, considerando ainda, que o estudo dela ou das relações internacionais nasce quando há desigualdades entre os Estados. Para o autor, o “traço fundamental das relações internacionais consiste na inexistência de uma ordem legal dos Estados a instâncias coletivas superiores.”

Um dos objetivos estatais perante a política externa é o compartilhamento de interesses estabelecidos a partir das necessidades internas e/ou internacionais do Estado, muitas vezes, na busca de maior autonomia e/ou relações políticas e econômicas. Seitenfus (2004, p.83) considera que a política externa, nada mais é, que a “resultante entre as necessidades internas e os constrangimentos externos.”

O posicionamento de Santana (2006, p.157) segue o mesmo de Seitenfus, segundo o autor, “um problema diplomático da agenda de política externa pode advir de diversos fatores, como, por exemplo, a macroestrutura internacional, as circunstâncias geográficas e as necessidades internas do país”. Assim, além dos interesses nacionais e prosperidade econômica, a política externa tem como objetivo tentar solucionar de forma pacífica demais controvérsias entre os Estados.

De maneira geral, a posição que um país se insere no cenário internacional é coordenada com embasamento na legislação do país, muitas vezes, por um Chefe de Estado10 e/ou Representante do Estado que determinam quais serão as prioridades nacionais e seus objetivos ao interagir com outro país, mantendo metas instituídas no interesse nacional,

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diplomacia e em objetivos econômicos. Segundo Seitenfus (2004, p.83), a decisão final nas decisões da política exterior sempre será do Chefe de Estado, assim, “a política das relações exteriores não pode prescindir a ação do Chefe de Estado, nada podendo ser feito sem seu ativo e formal discurso.”

Por outro lado, na visão de Vizentini (1999, p. 134-135), os rumos e as disposições de uma política externa sofrem influências de grupos de interesse do governo, ou seja, “as decisões da política externa são definidas por alguns setores hegemônicos dos blocos sociais de poder que dão suporte ao governo.”

Castro (2012, p.156) segue o mesmo posicionamento de Vizentini, dizendo que “a formação e a execução da política externa são produtos de forças diversas, manuseadas complexamente por diversos atores políticos, diplomáticos, sociais e econômicos.”

Dessa maneira, apresentados os conceitos de Política Externa na visão de alguns autores das relações internacionais, entende-se que a política externa surgiu para complementar a política interna, seja no âmbito econômico ou nas relações entre Estados, seja na resolução de conflitos ou na relação comercial/econômica. Assim, o estudo apresenta a seguir uma abordagem com visão teórica da Política Externa Brasileira, onde serão apresentados os paradigmas e as tradições que fazem parte da evolução das relações exteriores do Brasil. Posteriormente, o foco será nas relações brasileiras com a região predominante do conflito a ser aqui explicado, o Oriente Médio.

2.2 UM ESTUDO SOBRE A EVOLUÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Conforme Cervo (2005A, p.10), os estudos acerca da política exterior e das relações internacionais do Brasil motivaram conceitos que se guiam em muitos teóricos, porém se adaptam tornando-se objeto próprio por meio de categorias explicativas que são denominadas por ele, paradigmas históricos. Para o autor, é possível definir quatro paradigmas na história das relações internacionais do Brasil, que vão ser base das tradições da Política Externa Brasileira, são eles:

O liberal conservador, que se estendeu da Independência a 1930, o desenvolvimentista, entre 1930 e 1989, o neoliberal ou normal, característico das experiências latino-americanas da década de 90, e o logístico, um padrão recente de condução do setor externo da Nação (CERVO, 2005A, p.10).

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Historicamente, considera-se que as primeiras relações do Brasil foram somente definidas no início da gestão do Chanceler José Maria Paranhos da Silvia Júnior (1902-1912), mais conhecido como Barão do Rio Branco (VIZENTINI, 1999, p.137). O período colonial (1500–1822) foi marcado por uma relação dependente ao Império Português e, posteriormente, à potência industrial inglesa. Conforme Vizentini (1999, p.137), a inserção internacional brasileira ocorreu somente por interferência das potências europeias, “sendo por meio do mercantilismo português e, posteriormente, via liberalismo inglês.” Destarte, somente após a Independência11 é que os rumos para a política nacional e externa, genuinamente brasileiros, foram traçados (CAMPOS; DOLHNIKOFF, 2001, p.76).

Segundo Cervo (1992, p.21), o período mais expressivo da Política Externa Brasileira até a sua independência é quando há o confronto entre os objetivos nacionais e as pressões externas, caracterizando, conforme ele, um período marcado por “jogo de relações.” Assim, as primeiras manifestações genuínas da PEB devem ser somente procuradas a partir de 1822.

Para Cervo (1992, p.21), o início da política externa brasileira pode ser dividido em três fases: a de acomodação (1822-1844), quando há o rompimento político, jurídico e econômico com Portugal (1822); a de reação (1844-1870), e por último, a fase de consolidação (1871-1889), a qual teve como principal consequência, a formação da República (1889).

Dessa forma, com a independência, o principal anseio do governo imperial era em obter o reconhecimento internacional da independência do país. Perante as decisões internas com a Política de Reconhecimento e, principalmente às pressões externas, a política externa brasileira seguiu, em primeiro momento e por mais de um século, o paradigma liberal conservador (1810–1930). Esse paradigma ficou marcado por grandes alterações na história da política externa brasileira, pois é nesse período que o Brasil alcançou a independência e, posteriormente, aboliu o sistema monárquico (CERVO, 2003, p.8-9).

No entanto, mesmo após a independência, o governo brasileiro continuou se orientando aos anseios europeus. Naquele momento, o interesse nacional se confundiu com os interesses particulares das elites dirigentes do país. Ao mesmo tempo em que o Brasil foi totalmente liberal no sentido econômico, abrindo mais o mercado às nações estrangeiras, foi também conservador no sentido territorial, com a grande preocupação de suas fronteiras.

11

Cervo considera que “a época da Independência deve ser vista como o período que se estende de 1808, data da transferência da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, a 1828, data em que o governo brasileiro firmou o último tratado desigual de um pacote de duas dezenas.” (CERVO, 2005A, p.11).

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Cervo (2005A, p.12) explica que por mais que a “diplomacia brasileira lidou mal com a zona de pressão europeia à época da Independência, ela foi capaz de manifestar certa inteligência e determinação em lidar com os vizinhos.”

Segundo Cervo (2005A, p. 12), “nenhum país das Américas cedeu tanto quanto o Brasil na época da independência.” Em troca do reconhecimento internacional de sua independência, o governo brasileiro participou de negociações desiguais com as potências europeias, que atrasaram ainda mais a economia brasileira. Conforme Campos e Dolhnikoff (2001, p.76), os tratados assinados e as concessões feitas naquela época “agravaram ainda mais a pesada herança colonial”, permitindo dizer que naquele período e em um futuro próximo da política brasileira, a autonomia predominava ao lado da dependência, momento esse, considerado por Moura (1980, p.7), de “Autonomia na Dependência.”

Com a crise no regime monárquico e proclamação da República em 1889, o governo brasileiro reduziu a dependência europeia e estreitou relações com os norte-americanos. No entanto, conforme Cervo (1992, p.147), durante o período de 1889 a 1902, “a primeira impressão que se tem sobre a PEB é de que faltou uma diretriz”, e que suas diretrizes iniciais só foram determinadas a partir de 1902. Segundo Cervo (1992, p.15), esses primeiros passos podem ser definidos por quatro variáveis predominantes na elaboração e execução da PEB, são elas:

O jogo das forças que compunham o sistema internacional no inicio do século XIX e os objetivos dos Estados dominantes, a inserção do continente americano nesse sistema, a herança colonial brasileira tanto socioeconômica quanto jurídica-política e, finalmente, o precoce enquadramento luso-brasileiro no sistema internacional vigente, através da aliança inglesa.

A partir desse momento, surge na política externa brasileira sua primeira tradição que tem como temática principal as relações hemisféricas, havendo uma relação prioritária com os Estados Unidos, país ao qual a economia brasileira passou a depender quase que exclusivamente.

2.2.1 Tradição Bilateral-Hemisférica

Segundo Pecequilo (2010, p. 179-181), há duas tradições que compõem a base da PEB ao logo do século XX. Norteada inicialmente pela tradição bilateral-hemisférica (1902-1961), associada ao eixo vertical, a política externa brasileira adquiriu como estratégia a aproximação com demais Estados para maior inserção no plano mundial e, consequentemente,

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maior autonomia. No entanto, conforme Pinheiro (2004, p.08), essa estratégia muitas vezes se demonstrou alinhada a uma determinada potência, como também explica Pecequilo abaixo:

A primeira tradição, a bilateral-hemisférica, dominou o campo diplomático de 1902 a 1961 e foi formulada em suas origens pelo Barão do Rio Branco. A ênfase desta tradição é por uma política externa de cunho regional, com dois focos: os EUA e o Cone Sul (PECEQUILO, 2010, p.180-181).

Nomeado em 1902 para o Ministério das Relações Exteriores (MRE)12, José Maria da Silva Paranhos Júnior ou Barão do Rio Branco (1902-1912), inaugurou uma política que tinha como objetivo na agenda nacional, inserir o Brasil num quadro internacional mais amplo. Segundo (CERVO, 1992, p.162-179), Rio Branco buscava para o Brasil um papel de interlocutor entre a política norte-americana e os desarticulados países hispânicos do Sul. Dessa maneira, esquematizou, como um dos principais componentes de sua gestão, uma relação prioritária com Estados Unidos, por meio da qual queria garantir autonomia do Brasil dentro do subsistema sul-americano, como explica Vizentini abaixo:

Durante a primeira metade do século XX, a diplomacia brasileira teve como tendência predominante a inserção no contexto hemisférico, onde o eixo principal era a relação com os Estados Unidos. Não se tratava apenas da dependência face aos EUA, mas do fato de o Brasil centrar sua política externa no estreitamento das relações com Washington, dentro da perspectiva da ‘aliança não-escrita’, concebida durante a gestão Rio Branco (VIZENTINI, 1999, p.141).

Compreende-se que durante a primeira fase da República os rumos da política externa brasileira se pautaram pela aproximação com a potência hegemônica no continente americano, limitando-se, conforme Vizentini (1999, p. 134), “predominantemente, ao âmbito do hemisfério.” Segundo Cervo (1992, p.162), essa aproximação foi um marco na gestão do Barão do Rio Branco por ter mudado o eixo da diplomacia brasileira com um alinhamento pragmático e criado uma política de barganha e troca de interesses. Sendo que, para Pecequilo (2010, p.181), essa “centralidade aos EUA era atribuída devido à alteração do equilíbrio de poder mundial.”

É nessa relação prioritária com os Estados Unidos que o Brasil, com recursos e vantagens obtidos dessa aproximação e com o jogo de forças alterado no início dos anos 30, desloca seu foco de uma política externa de agro-exportação, e inicia seu modelo desenvolvimentista. Conforme Cervo (2005A, p.16), nesse momento a economia

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agroexportadora brasileira se altera diante da crise econômica mundial e volta-se às oportunidades de crescimento e desenvolvimento econômico.

Do lado de fora, a crise do capitalismo colocou em xeque a economia agroexportadora de produtos de sobremesa, e a divisão do mundo em blocos antagônicos alterou as oportunidades de movimento de países da periferia, como o Brasil.

Destarte, o segundo paradigma da PEB, o desenvolvimentista (1930-1989), é marcado pela crise no capitalismo com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929 e, consequentemente, pela depressão que atingiu os países capitalistas (CAMPOS; DOLHNIKOFF, 2001, p.251). Com o cenário internacional em crise, a política externa brasileira procurou aproveitar as condições externas e buscou maior industrialização nacional se relacionando com novas potências. Segundo Vizentini, com a ascensão do projeto de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), o período 1930-45 pauta-se por duas características:

[...] a tentativa consciente de tirar proveito da conjuntura internacional e da redefinição da economia brasileira, através da utilização da política externa como instrumento estratégico para lograr a industrialização do País (VIZENTINI, 1999, p.142).

No entanto, com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e início da Guerra Fria, a política externa brasileira que acabara de iniciar uma relação independente com outros países interessados em aprofundar relações com o Brasil, alinha-se novamente e incondicionalmente, à potência norte-americana, através de uma política de barganha. Segundo Campos e Dohnikoff (2001, p. 253), “com o fim da guerra prevaleceria o alinhamento automático da PEB às diretrizes estabelecidas pelos EUA”, esta relação perdura até o início da segunda tradição (1961), a qual está baseada nas relações multilaterais.

2.2.2 Tradição Global-Multilateral

Diante das mudanças na conjuntura internacional e nas condições políticas e econômicas dos países no período pós-guerra, a política externa brasileira atravessou momentos que modificaram suas direções e forma de atuação. Herdeira do “paradigma Rio Branco”, as relações exteriores do Brasil passaram de uma tradição que se orientava nas

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relações prioritárias com a potência mundial americana, para uma tradição que surgiu no contexto da globalização.

Em um contexto histórico, a aproximação do Brasil com demais países vai acontecer a partir de 196113 com o nascimento da tradição global-multilateral. É nesse período que o modelo desenvolvimentista se impulsiona e surge na história da política externa brasileira uma política baseada na maior inserção do Brasil no cenário internacional, a Política Externa Independente (PEI), conforme esclarece Pecequilo abaixo:

O nacional desenvolvimentismo ganha impulso a partir da década de 1960 com um projeto concertado de crescimento, atingindo seu auge no regime militar associado à iniciativa de construção de uma potência média. Este impulso interliga-se ao nascimento da tradição global multilateral a partir de 1961 com a PEI (Política Externa Independente) (PECEQUILO, 2010, p.181-182).

Elaborada no governo de Jânio Quadros (1961), a PEI (1961-1964) se constituiu num marco da PEB, visto que tinha como objetivo principal a universalização das relações internacionais. Seus princípios se baseavam em ampliar o contato brasileiro com todos os países e contribuir para a redução das tensões internacionais. Segundo Cervo e Bueno (1992, p.279), a política externa de Quadros se diferenciava da Operação Pan-Americana (OPA)14 de Juscelino Kubitschek (1956-1961), pois esta priorizava o contexto hemisférico, enquanto a PEI partia de uma visão universal. Segundo os autores:

A PEI, calcada no nacionalismo, não só ampliou a política de JK em termos de geografia, como também enfatizou [...] a mundialização das relações internacionais do Brasil, isto é, o alargamento dos seus horizontes e não sua adscrição às Américas e à Europa Ocidental [...] (CERVO; BUENO, 1992, p.279-280).

Ademais, segundo Pecequilo (2010, p.183), a PEI estava sustentada nas premissas de “transformação doméstica do Brasil em um país urbano em desenvolvimento de porte médio e aumento das alternativas de inserção no cenário bipolar.” Para ela, os princípios da PEI são:

Ampliação do mercado externo dos produtos primários, formulação autônoma dos planos de desenvolvimento econômico, manutenção da paz (coexistência pacífica), auto-determinação e não-intervenção e apoio à emancipação dos territórios coloniais (PECEQUILO, 2010, p.183).

13Encerra-se nesse ano a gestão de Juscelino Kubitschek e dá início à gestão de Jânio Quadros que perdura até agosto do mesmo ano, sendo substituído por João Goulart em setembro.

14

Lançada em 1958 por JK foi uma proposta ambiciosa de cooperação internacional de âmbito hemisférico [...] um meio de consolidar o pan-americanismo, defesa contra ideologias estranhas e a favor da democracia [...] (CERVO; BUENO, 1992, p. 258-259).

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É nesse período, que a política externa brasileira dá forte apoio e reconhecimento às novas nações afro-asiáticas, visto que em 1960, 17 países africanos15 haviam adquirido independência. Além do reconhecimento, o Brasil buscou maiores relações diplomáticas e econômicas com esse continente, visto que naquele momento, o Brasil pretendia formar, juntamente com as novas nações e países que sofriam por opressões governamentais, uma frente contra os governos opressores. Diante disto, em 1961 é formado um “Grupo de Trabalho para a África” que incentiva a aproximação econômica, cultural e comercial entre o Brasil e o continente africano (CERVO; BUENO, 1992, p. 269-287).

No entanto, em 1964, a então recente política externa multilateral é interrompida por um golpe de Estado16 que institui no Brasil um regime militar17, somente finalizado em 198518, quando o congresso nacional aprovara uma emenda constitucional para finalizar a ditadura. A PEB no início do regime (1964-1967) desmantela os princípios da PEI e prevalecem princípios como: o bipolarismo e a abertura ao capital estrangeiro. No entanto, segundo Cervo (1992, p.334), “contextualizar a política externa brasileira pelo confronto bipolar, era inócuo, quando o sistema internacional presenciava sua erosão.”

Dessa forma, o regime militar é marcado, inicialmente, por uma política exterior brasileira guiada pelo nacionalismo e pragmatismo, isto é, exclusiva ao interesse nacional e crescimento econômico. Nesse contexto, a diplomacia brasileira é rotulada em 1967 por uma “Diplomacia da Prosperidade19”, e posteriormente em 1969 por uma “Diplomacia de Interesse

Nacional20.” (CERVO; BUENO, 1992, p.344).

Já a partir dos anos 70, os passos da política externa brasileira basearam-se na aproximação com o Oriente Médio. A relação, até então tardia, vai ser determinada pela elevação dos preços nos barris de petróleo em 73. No entanto, guiada por um pensamento nacional e econômico, o início dessa aproximação com o Oriente, vai ser avaliada por muitos teóricos, como uma relação estratégica para a política externa brasileira (CERVO; BUENO, 1992, p. 381).

15

Benin, Burkina Faso, Camarões, Costa do Marfim, Chade, República Democrática do Congo, República do Congo, Gabão, República Centro-Africana, Madagáscar, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Somália, Togo.

16

Destaca-se que com o golpe, se encerra a gestão de João Goulart (1961-1964). 17

O regime militar é presidido por: Castelo Branco (1964-1967); Costa e Silva (1967-1969); Emílio Médici (1969-1974); Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985).

18Destaca-se que com o fim do regime militar, se encerra a gestão de João Figueiredo que é substituído por José Sarney (1985-1990).

19Exposta por José de Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores no governo de Costa e Silva, em 1967. 20Exposta por Mário Gibson Barbosa, ministro das Relações Exteriores no governo de Médici, em 1969.

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2.3 UMA BREVE ABORDAGEM NA EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES BRASIL E ORIENTE MÉDIO

Conforme apresentado nos sub-capítulos anteriores, observa-se que até 1961 a Política Externa Brasileira esteve fortemente ligada ao eixo vertical das relações internacionais, marcada pela relação prioritária com os Estados Unidos. Após essa época, com o nascimento da tradição global multilateral, a inserção do Brasil no cenário internacional torna-se mais aparente, permitindo dizer que a relação entre o Brasil e Oriente Médio, até início da segunda tradição da PEB, era, conforme Fares (2007, p.130), “pouco atrativa.”

Até 1973, o Oriente Médio significava uma área pouco atrativa na ótica da política externa brasileira, cujo relacionamento era marcado por contatos episódicos. Em outros termos, dentro da lógica do pragmatismo e da diplomacia econômica, adotados pelo Itamaraty, os países do Oriente Médio representavam peça demasiadamente marginal no cenário das relações internacionais.

A flexibilização das relações verticais, por conseguinte, adoção à tradição global-multilateral da PEB, permitiu que a diplomacia brasileira priorizasse as suas interações com o eixo horizontal, em especial com o OM e a África (FUNAG, 2001, p. 63). De acordo com Silva e Pilla (2012, p.112), as relações brasileiras com o mundo árabe devem ser divididas em três períodos distintos21: o primeiro de 1947-1989; o segundo dos anos de 1990 e o terceiro dos anos de 2000. Segundo os autores, esses períodos são “marcados, respectivamente, por uma aproximação gradual, por um afastamento imediato e por uma reaproximação aprofundada.”

Para compreensão do cenário escolhido neste trabalho e conhecimento da localização geográfica do OM, segue abaixo o mapa da região:

21As relações da diplomacia brasileira com o Oriente Médio, apresentadas neste trabalho, são baseadas nos períodos apresentados por Silva e Pilla (2012).

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Figura 1 – O Oriente Médio

Fonte: The Middle East Map. United Nations: Department of Field Support Cartographic Section, 2011.

Historicamente, as relações internacionais do Brasil com o OM aconteceram desde as visitas do imperador D. Pedro II (1840-1889) a essa região, as quais proporcionaram um elevado fluxo migratório dos árabes para o território nacional. No entanto, há de se considerar que as primeiras relações diplomáticas entre o Brasil e os países árabes foram nitidamente estabelecidas em 1924, todavia, pela falta de uma aproximação mais intensa nos mercados árabes e vice-versa, “as relações de troca entre os dois lados [ficaram] muito aquém da capacidade de seus mercados e suas necessidades de desenvolvimento.” (FUNAG, 2001, p.59-61).

Por outro lado, ainda que sejam evidentes as relações diplomáticas em 1924 com o Egito e, em 1946 com o Líbano (FUNAG, 2001, p.10 e p.61), é somente em 1947, com o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha (1938-1944) representando o Brasil no Conselho de Segurança e presidindo a primeira sessão extraordinária da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas22 (AGNU), que o relacionamento brasileiro com a região alcançou maior destaque no cenário internacional. Nesse contexto, torna-se aparente a preocupação brasileira

22Baseada na Resolução 181 (proteção dos lugares santos, estatuto internacional de Jerusalém e Plano de Partição da Palestina) (SANTOS; PILLA, 2012. p.113).

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com a situação política do OM, visto que concernia ao diplomata, a condução do debate e a votação decisória da criação e independência do Estado de Israel23, consequentemente, divisão do Estado da Palestina, sobretudo, considerando a atuação brasileira exclusiva a favor dos israelenses (HILTON, 1994).

Segundo Santana (2005, p.101 apud Santana, 2006, p.158), é necessário compreender que entre 1947 e 1973 a diplomacia brasileira, em relação aos países do Oriente Médio, foi orientada pelo termo, definido pelo próprio Itamaraty, equidistante, e não pela neutralidade. Para ele, o início das relações do Brasil com o Oriente Médio deve ser considerado pela divisão de dois períodos distintos: o período de neutralidade equidistante e o período de pragmatismo. A neutralidade, segundo ele, é determinada pela não posição brasileira perante os conflitos e assuntos pertinentes ao OM, enquanto a equidistância é determinada, não pelo desinteresse, mas sim por uma posição modesta. Em verdade, Silva e Pilla (2012, p. 114) explicam que diante o conflito árabe-israelense-palestino “o Brasil procurou manter a equidistância e o realismo.”

Segundo Vizentini (2004, apud Silva; Pilla p. 114), com a participação do Brasil em assuntos voltados ao Oriente Médio no final dos anos 40 e 50, tais como no Conselho de Segurança em 1947 e também na Assembleia Geral de 195024, as relações do Brasil com o OM foram ganhando destaque e “propiciaram uma maior aproximação com a região.” Dessa forma, em virtude da aproximação tardia e para acelerar a ação de proximidade com a região, em 1969, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil propôs a criação do COÁRABE (Grupo de Coordenação do Comércio com os Países Árabes). Segundo Cervo e Bueno (1992, p.381), o grupo visava “coordenar iniciativas dispersas de órgãos brasileiros interessados em adquirir petróleo, colocar produtos e alocar serviços.” Entretanto, considera-se que essa iniciativa não teve continuidade, muito menos, grandes aquisições.

Na década de 70, a diplomacia brasileira antes orientada pela equidistância é deixada de lado e conforme Pecequilo (2010, p.188), as relações do Brasil com os países do Oriente Médio e da África, tornam-se um dos principais vértices de ação “pragmática” da política externa brasileira. De acordo com Santana (2006, p.159), essa aproximação com o OM produziu, inicialmente, para o Brasil “novas possibilidades em relações aos países árabes, sem, contudo, afetar o relacionamento com Israel”, sendo modificada posteriormente, em

23Torna-se necessário ressaltar a grande participação do Brasil para essa independência, visto que a posição brasileira foi contrária aos árabes e, favorável à criação do Estado de Israel.

24

Baseada na Resolução Acheson, com objetivo de intervir no conflito do Canal de Suez. Ressalva-se que nesse momento o Brasil votou “pela aprovação das principais resoluções da Assembleia que exigiam o imediato cessar-fogo e a livre navegação no Canal de Suez.” (SILVA; PILLA, 2012, p.114).

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decisões brasileiras favoráveis aos árabes, como ainda será apresentada. Sobre esse período, Silva e Pilla (2012, p.115) explicam:

A partir da primeira metade da década de 1970, o reforço nas relações econômicas do Brasil com os países árabes passava a implicar, igualmente, uma intensificação das relações políticas entre os mesmos. No período, seguiram-se acordos de cooperação técnica, missões organizadas pelo Itamaraty para o Oriente Médio, além de uma melhor coordenação entre as representações diplomáticas brasileiras na região.

Ainda que alguns países do OM tenham tido laços diplomáticos com o Brasil antes de 1961, especificamente em contatos episódicos já apresentados neste trabalho, é em presença do primeiro Choque do Petróleo (1973) que o Brasil modifica sua política externa e intensifica suas relações, sejam elas, estratégicas, com os países do Oriente Médio (FARES, 2007, p.130). Pouco antes da eclosão Guerra de Yom Kippur (1973), o governo brasileiro havia feito viagens diplomáticas para o Oriente Médio com o “objetivo de incrementar as exportações brasileiras [buscando mercado para os produtos da incipiente indústria nacional] e garantir o abastecimento de petróleo.” Diante da eclosão da guerra, os preços de barris de petróleo subiram drasticamente e foram determinantes para que MRE mudasse sua relação política para com os países do Oriente Médio (SANTANA, 2006, p.160).

Segundo Santana (2006, p.157), a aproximação do Brasil com o OM nos anos 70 se explica e associa, não somente à Crise do Petróleo, mas como também ao projeto nacional de desenvolvimento econômico, visto que essa relação buscava, antes de uma aproximação diplomática, uma aproximação estratégica em virtude da preocupação do governo na economia brasileira desse insumo. Assim, o autor delineia que com o choque, o MRE reforçou duas diretrizes de política externa para o OM: “A primeira, a partir de 73, era pautada pela condenação da expansão territorial de Israel por meio de conflitos armados com seus vizinhos. A segunda, após a Guerra do Yom Kippur, dizia respeito ao apoio à criação do Estado palestino.” (SANTANA, 2006, p.158).

Nesse contexto, para evitar que o governo e economia brasileira sofressem com um embargo petrolífero causado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a diplomacia brasileira passou a demonstrar maior apoio e suporte, se posicionando de forma ativa perante os assuntos árabes, principalmente em presença do conflito entre Israel e Palestina. Conforme explicam abaixo Silva e Pilla (2012, p.116):

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Em 31 de janeiro de 1974, durante a visita ao Brasil de Fouad Naffah, representante da Liga dos Estados Árabes 25e chanceler libanês, o ministro Mário Gibson Barboza afirmou, pela primeira vez, que a retirada de Israel de todos os territórios ocupados era uma condição essencial para uma paz justa e duradoura no Oriente Médio.

Dessa maneira, para uma melhor relação com a região do OM, não somente de cunho estratégico econômico e comercial, a relação diplomática brasileira também se modificou em 1973, uma vez que fora induzida pelas intensas relações econômicas nesse período. Ao final desse ano, o Brasil instalou embaixadas e recebeu visitas de chanceleres do OM, tais como Cervo e Bueno apresentam:

Ao final de 1973, o Brasil havia instalado embaixadas no Iraque e na Arábia Saudita, encarregados de negócios na Líbia e firmado convênios de comércio e cooperação técnica com Israel, Egito e Iraque. Recebera, por outro lado, as visitas dos chanceleres do Egito (1972), Israel e Arábia Saudita (1973) (CERVO; BUENO, 1992, p.381).

Assim, a presença brasileira na região do Oriente Médio começa a ganhar maior aceitação e como consequência, o Brasil passa a receber grandes estoques de petróleo de fornecedores árabes como: Arábia Saudita e Iraque. No entanto, conforme evidencia Santana abaixo, esse resultado somente foi alcançado devido à mudança de estratégia da diplomacia brasileira, a qual havia estabelecido maiores relações diplomáticas e troca de favores econômicos com esses dois países, especialmente.

A realidade emergente proveniente da crise do petróleo exigiu respostas pragmáticas do governo brasileiro. A primeira dessas respostas foi o estabelecimento de missões diplomáticas e a troca de embaixadores plenipotenciários entre Brasil e Arábia Saudita. Nesse contexto, em maio de 73, visitou o país o chanceler saudita Omar Sakkaf, tendo-se avistado com o presidente da República, o ministro das Relações Exteriores e outras autoridades políticas. Durante a visita, foi acertado o estabelecimento de relações diplomáticas plenas entre Brasil e Arábia Saudita [além disso] [...] o chanceler saudita retornaria novamente ao Brasil, em setembro de 74, para a criação da Comissão Mista Brasil-Arábia Saudita, destinada a criar ‘uma estrutura para o desenvolvimento da cooperação bilateral.’ (SANTANA, 2006, p. 161).

Com os acordos assinados entre o Brasil e a Arábia Saudita, explicados por Santana acima, a balança comercial do Brasil entre os anos 68-78 torna-se deficitária uma vez que as importações do petróleo estavam maiores do que as exportações dos produtos da incipiente indústria nacional. Dessa forma, para mudar este contexto, de acordo com Santana (2006, p.162), o Brasil “decidiu intensificar as exportações de calçados, couros, laminados,

25

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compensados e chapas de madeira, vestuário, pisos, azulejos e louças sanitárias para [a Arábia Saudita].”

Para aprofundar mais ainda a relação brasileira com os países árabes, no período 1974-197926 a política externa brasileira iniciou uma diplomacia denominada “Pragmatismo Responsável e Ecumênico27” (SPEKTOR, 2004, p.191), a qual teve como objetivo principal redefinir as relações exteriores do Brasil no plano internacional, principalmente com a África e o Oriente Médio, tendo nessa gestão, o estreitamento de vínculos com os países árabes e caracterização do Oriente Médio como um “parceiro estratégico28.” Segundo Vizentini (1998,

p.202), tal aproximação baseava-se numa política de barganha, visto que em troca de política exportadora, haveria o fornecimento de Petróleo daquela região para o Brasil. Nesse contexto, o autor explica que o Brasil:

[...] adotou uma intensa política exportadora de produtos primários, industriais e serviços, em troca do fornecimento de petróleo. Mais do que isto, o Brasil adotou uma íntima cooperação com potências regionais como Argélia, Líbia, Iraque e Arábia Saudita, sob a forma de joint-ventures para prospecção no Oriente Médio através da Braspetro, e para o desenvolvimento tecnológico e industrial-militar (venda de armas brasileiras e projetos comuns no campo dos mísseis).

Ainda nos anos 70, a mudança mais significativa da diplomacia brasileira diante das questões do Oriente Médio, aconteceu em 1975 na XXX Sessão da AGNU através da Resolução 3379. Nesse momento, em respeito aos direitos do povo palestino, “o Itamaraty apoiou o voto anti-sionista na ONU e permitiu [em 197929] a instalação de um escritório da OLP30em Brasília” (VIZENTINI, 1998, p.202) isto é, a diplomacia brasileira considerou o sionismo31 como uma forma de racismo e de discriminação racial32. Segundo Silva e Pilla

26O ano de 1979 é marcado pelo segundo Choque do Petróleo, o qual causou grande endividamento externo para o Brasil e foi considerado como a principal causa da crise econômica doméstica (SANTANA, 2006, p.172). 27Exposta por Azeredo da Silveira, ministro das Relações Exteriores no governo Geisel, em 1974. Segundo Santana (2006, p.166), “nesse contexto, o Itamaraty deu tal importância ao tema que não só desmembrou o Departamento de Oriente Próximo, Ásia e Oceania – de forma a criar interlocutores que correspondessem à expectativa governamental de crescimento do comércio com os países árabes – como também criou o Departamento de Promoção Comercial para impulsionar as exportações brasileiras”.

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Para Lessa (1998, apud Santana, 2006, p.166), “o conceito de parcerias estratégicas, diz respeito às “relações políticas e econômicas prioritárias reciprocamente renumeradoras, constituídas a partir de um patrimônio de relações bilaterais universalmente configurado”.

29

Vale ressaltar que ainda nesse ano, a representação diplomática brasileira “demandou a desocupação de todos os territórios tomados pela força e o reconhecimento e a efetivação dos direitos do povo palestino à autodeterminação, independência e soberania.” (SILVA; PILLA, 2012. p.118).

30

Organização para Libertação Palestina. Criada em 1969, a OLP visava a criação do Estado Palestino por meios militares, seguida pela destruição de Israel (PECEQUILO, 2011, p. 161).

31Segundo Shohat (2007, p.118), o sionismo é considerado um movimento para a autodeterminação e libertação do povo judeu.

Referências

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