• Nenhum resultado encontrado

A “PRIMAVERA ÁRABE”

Pobreza, desemprego, autoritarismo, injustiça social, repressão, censura e frustração. Esse era o cenário conturbado e precário que prevaleceu na região do OM e do Magrebe38 durante décadas. A insatisfação e a revolta da população árabe contra os seus Estados foram intensamente evidentes quando, no final de 2010 e início de 2011, iniciaram-se diversos movimentos contra as condições políticas e sociais nessas duas regiões.

Segundo Anderson e outros (2011, p.320), esses movimentos não devem ser considerados como um “fenômeno novo”, muito menos imprevisível e talvez, pouco improvável, visto que esse processo vem sendo construído desde o século XIX e reforçados no século XX, podendo ainda dizer que o recente conflito foi um “levante atrasado”. Conforme Anderson explica, o povo árabe já reivindicava melhores condições sociais datados em 1919, visto que nesse ano, os egípcios e libaneses já se mobilizavam com a mesma finalidade que originaria a Primavera Árabe anos depois.

Para se compreender a localização dos países árabes e quais foram alguns dos países pertencentes à revolução, abaixo é apresentado um mapa da região.

Figura 2 – Países Árabes

Fonte: Mapping the Arab World. The Economist, 2011.

Tendo em vista a imagem do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi, em chamas a fins de protestar contra a falta de recursos, os quais o Estado lhe deveria contribuir, a injustiça social e desemprego presentes na Tunísia, o evento impactou diretamente na população descontente que vivia em condições semelhantes ao do tunisiano e inevitavelmente, se tornou o começo de um grande movimento de âmbito internacional. Segundo Costa (2011, p.23), esse evento “seria fruto de uma repressão que chegou ao extremo e fez com que o jovem, diante de uma perspectiva completamente adversa, seguisse seu instinto contestador, haja vista não haver lideranças e opções internas para seguir.” Ademais, em relação ao episódio apresentado, Lugones (2011 apud GENTILE, 2012, p.11) explica que:

Podría decirse que la bomba en Túnez se activó por un carrito. Un carrito ambulante con frutas y verduras que era manejado por un joven licenciado en informática que había perdido el empleo y no conseguía trabajo. Un policía pidió al joven la autorización para vender en la calle y, como no la tenían, le pego y le confisco el carrito. Días después, el licenciado, deprimido e indignado se quemó vivo frente a un edificio público-. Y el país entero estalló en llamas39.

Com o agravamento da situação econômica e política dos países envolvidos na revolução, principalmente pela inércia governamental, falta de liberdade e precárias condições de vida, os países árabes, então, se mobilizaram com forte impulso dos meios de comunicação, especialmente, das redes sociais, e romperam o status quo instituído pelos regimes autoritários40 característicos, de modo geral, da região. Em verdade, Vizentini e outros (2012, p.58) explicam que “a Primavera Árabe abalou ou derrubou velhas oligarquias autoritárias41 que estavam no poder há décadas – tanto monarquias tradicionais como repúblicas modernizadoras42.” Além disso, nesse momento, o uso da internet e das mídias

39Poderia dizer que a bomba na Tunísia foi desencadeada por um carrinho. Um carrinho móvel com frutas e legumes que era dirigido por um jovem licenciado em ciência da computação que havia perdido o emprego e não podia trabalhar. A polícia solicitou ao jovem a autorização para vender na rua, no entanto como ele não a tinha, os policiais confiscaram seu carrinho. Dias depois, o jovem, deprimido e indignado se queimou ao vivo na frente de um prédio público. E o país explodiu em chamas (LUGONES, 2011 apud GENTILE, 2012, p.11, tradução nossa).

40

De acordo com Battera (2012, p.11), os regimes no Oriente Médio devem ser subdivididos, a partir do regime autoritário, em semi-autoritários e em sultanísticos, sendo este último, considerado por Anderson e outros (2011, p.329), um dos motivos dos protestos árabes em 2011. Tendo em vista que a pesquisa em questão abordará, de modo geral, a Primavera Árabe, o estudo não se aprofundará nos regimes apresentados, muito menos nas características de cada país do Oriente Médio, visto que se trata de uma região com grandes diversificações sociais, culturais e políticas.

41

Ben Ali na Tunísia, Hosni Mubarak no Egito, Muammar al-Gaddafi na Líbia, entre outros.

42Segundo Júnior (2012, p.16), “é importante distinguir a existência de dois grandes grupos [existentes no OM e Magrebe], as repúblicas e as monarquias” visto que ambas influenciam nas repercussões e posturas das manifestações árabes. Sufocadas pelas ditaduras militares, as repúblicas árabes tinham como principal objetivo derrubar o regime autoritário. Enquanto nas monarquias, de modo geral, era a melhoria nas condições de vida.

sociais foi de imprescindível apoio para o movimento, visto que serviram como uma ferramenta de debate, informação e organização para os protestantes (ANDERSON et. al, 2011, p.329).

As agitações populares que iniciaram na Tunísia e se difundiram por vários outros países vizinhos, como Egito, Líbia, Jordânia, Síria, Marrocos, Arábia Saudita, Iraque e outros, visto que conforme Júnior (2012, p. 16) após a formação histórica do Oriente Médio e Magrebe, “seria no mínimo ingênuo, pensar que a primavera árabe se manifestaria uniformemente.” Dessa forma, o levante atraiu a atenção da mídia internacional e dos sujeitos do direito internacional a observarem, intervirem e/ou se alertarem em razão das implicações geopolíticas após os movimentos. Segundo Zahreddine (2011, p.3):

No caso tunisiano as manifestações populares levaram à derrubada do presidente Ben Ali, no poder desde 1987. As manifestações que se seguiram na Argélia, Jordânia, Egito, Iran, Bahrain, Líbia, Marrocos, Arábia Saudita, Iraque, Omã, Líbano, Iêmen e Síria geraram resultados distintos, devido às idiossincrasias de cada sociedade, da relação existente entre suas minorias, bem como das interações que cada uma delas mantém com potências regionais ou globais.

Não obstante, em virtude da heterogeneidade cultural, política e social na região do OM, têm-se conhecimento que essas reivindicações aconteceram em proporções diferentes visto que alguns países protestantes não lutaram para o fim de uma monarquia, mas sim por mais direitos humanos e melhores condições econômicas e sociais, como por exemplo, no Bahrein. Segundo Júnior (2012, p.17), “reformas políticas e sociais estão na base das reivindicações, como o direito de beneficiar-se de políticas públicas igualitariamente, de escolher o seu líder, de ter acesso ao mercado de trabalho.” Além disso, de acordo com Joffé (2011, p.86):

[...] embora as circunstâncias econômicas tenham constituído um pano de fundo essencial para os acontecimentos ocorridos no Norte de África durante os primeiros três meses de 2011, elas não são por si só uma explicação cabal. Pelo contrário, o verdadeiro causador do processo tem sido a incoerência entre as afirmações feitas pelos regimes nas suas tentativas de autolegitimação e a realidade do desprezo e da repressão por eles praticados.

Apesar de algumas nações participantes e afetadas pelo movimento não serem exclusivas do “mundo árabe43” as revoltas receberam o nome convencionado não somente por

43

De acordo com Vizentini (2007, p.97 apud PECEQUILO, 2011, p.159), “o Oriente Médio e a Ásia Central possuem uma população de maioria árabe e/ou muçulmana, composta pelas sub-regiões do Oriente Médio (Machrek), o norte da África (Magrebe) e a Ásia Central, representando uma zona de origem e confluência das

um único e característico fator. Para muitos analistas das relações internacionais, o movimento foi comparado e relacionado com eventos históricos, tais como a Primavera dos Povos (1848), visto que também foi um evento marcado por mobilizações da população europeia em reivindicações liberais, nacionalistas e democráticas, e a Primavera de Praga (1968), todavia deve-se considerar que o conflito aqui estudado é bem diferente dos movimentos europeus, haja vista que os protestos ocorridos foram “particulares” do mundo árabe.

Há discussões de que essas peculiaridades se justificam pelos países árabes serem “antigas” colônias e serem oriundas, principalmente, no período de descolonização. Além disso, análises consideram que a precária situação que o OM se encontrava no momento da Primavera Árabe é oriunda, também, de influências externas, tendo em vista, que a relação dos Estados Unidos e Estados Centrais foi baseada numa política de barganha, considerada, dessa forma, uma grande responsável da degradação econômica no Oriente Médio, onde os governantes opressores manteriam os regimes, e em contrário, os Estados Centrais manteriam as relações comerciais e/ou econômicas com esses países. Em verdade, Costa expõe que:

A interferência estrangeira na África e no Oriente Médio trouxe consigo a perspectiva de um colonizador que simplesmente impõe suas vontades e manipula as situações como bem lhe interessa. Partindo dessa premissa e visão preestabelecida do que vem a ser o ‘Oriente’ e, consequentemente, o árabe, toda a estrutura que foi criada visou deixar a região sob o controle das potências, haja vista sua diferença cultural significar um perigo iminente [...] nessa lógica perversa, a formação de ditaduras pelo Oriente Médio e Magrebe atendia aos interesses das potências, pois o processo de negociação sempre simplificado quando se trata apenas de uma parte envolvida (COSTA, 2011, p. 21-22).

Ademais, o termo “primavera” é ainda associado ao ‘despertar’ do mundo árabe para a sua condição social estagnada e política e governos antiquados, e ao ‘alvorecer’ de uma nova era para as nações da região. Em verdade, Costa (2011, p.15) explica, em uma visão metafórica, que “depois de um longo inverno, chega a Primavera para saudar a vida e lembrar ao mundo de que por mais longa que seja uma estação, um dia cessará e nascerão as flores.”

Destarte, tendo em vista a contemporaneidade dos acontecimentos no mundo árabe, analistas ainda tentam identificar exatamente o que aconteceu e o que viria a acontecer na região do Oriente Médio após a revolução. No entanto, não há dúvida, de que essa revolta ficou marcada, não somente na história do Oriente Médio e do Norte da África, como também, no cenário internacional e nas relações internacionais. A Primavera Árabe não

três grandes regiões monoteístas, judaica, cristã e mulçumana. Além desta confluência religiosa, existe a geográfica, dos continentes europeu, africano e asiático”.

somente representou a abertura de um grande período de transformações na região do Oriente Médio, como também, de novas oportunidades para a região. Vizentini e outros (2012, p.76) apontam que:

A geopolítica do Oriente Médio não mudou muito até 1991, quando ocorreu o fim da URSS e o consequente surgimento da Ásia Central e do Cáucaso e sua incorporação ao que ficou conhecido como o Grande Oriente Médio. Agora há um mundo novo, e a região não é mais simplesmente o ponto geográfico de contato entre três continentes, mas uma zona desorganizada, rica em petróleo e estratégica, em direção à quais potências grandes e médias do entorno projetam seus interesses. Ali o que está em jogo é o desenvolvimento asiático, os interesses europeus e a influência Americana.

A partir do exposto acima, percebe-se que foram diversos motivos e fatores que influenciaram a eclosão de um movimento de repercussão tão significativa. Mesmo tendo conhecimento das peculiaridades políticas e culturais dos países envolvidos, considera-se que as manifestações clamaram, de maneira geral, por liberdade e regimes que provessem mais bem-estar social ao seu povo. Em verdade sobre o evento e os países árabes, Anderson e outros (2011, p. 321) explicam:

Although they shared a common call for personal dignity and responsive government, the revolutions across the countries reflected divergent economic grievances and social dynamics – legacies of their diverse encounters with a modern Europe and decades under unique regimes44.

No entanto, para que seja possível entender os motivos dos movimentos populares no mundo árabe apresentados, torna-se necessário o estudo dos antecedentes históricos da região, visto que os atuais países e respectivos governos foram, conforme Júnior (2012, p.7), “produtos do lento e gradativo desmembramento do Império Otomano”, consequentemente, descolonização dos Estados árabes, conforme será explicado a seguir.

3.1 OS MOTIVOS HISTÓRICOS

A melhor maneira de se compreender o que ocorreu no mundo árabe em 2011 é analisar a estagnação da economia na maioria dos países atingidos pelo movimento. A frustração e insatisfação da população árabe, oriundas dos diversos problemas econômicos

44

Embora eles tenham compartilhado uma chamada comum para a dignidade pessoal e um responsivo governo, as revoluções em todos estes países refletiram divergentes problemas econômicos e dinâmicos sociais - legados de seus encontros diversos com uma Europa moderna e décadas sob regimes únicos (ANDERSON, et. al, 2011, p.321, tradução nossa).

existentes na região do Oriente Médio e África, contribuíram para que a população se mobilizasse e revoltasse contra aquele que deveria proteger e ser capaz de fornecer o bem- estar ao seu povo, o Estado. De fato, é possível notar que enquanto muitos países no cenário internacional, antes agrários, se desenvolveram e passaram para economias desenvolvidas e/ou em desenvolvimento, a região do Oriente Médio permaneceu muito atrasada. No entanto, segundo Joffé (2011, p.87), “embora não podemos negar que questões econômicas [foram] um dos antecedentes das revoltas”, elas não foram a “causa direta das insurreições e das revoluções a que assistimos”. Assim, para que seja possível compreender esse atraso econômico da região e entender ainda, os diversos motivos que originaram a Primavera Árabe, faz-se necessária, principalmente, uma análise mais detida na política das regiões envolvidas.

Por outro lado, segundo Costa (2011, p.16), para que seja possível analisar os problemas econômicos e políticos vivenciados no atual Oriente Médio deve ser estudada, inicialmente, a história de colonização e dependência dos países dessa região, visto que segundo o autor, os problemas mais recentes são “reflexos de um modelo de política externa das potências que fomentou e manteve ditaduras nessas localidades.” Além disso, segundo Júnior (2012, p.13), “apesar da heterogeneidade cultural e étnica, os países árabes compartilham um passado contemporâneo de subjugação colonial.”

Tendo em vista o pioneirismo europeu nas navegações marítimas, muitos territórios descobertos durante esse período foram colonizados e dependentes às nações europeias. Com o Oriente Médio e o Norte da África essa situação não foi diferente. A região do OM foi de grande importância, principalmente, para os impérios, britânico e francês, em virtude da localização geográfica e recursos obtidos por esse território, conforme Hourani explica abaixo:

Para a Grã-Bretanha e a França, o controle dos países árabes era importante não só por causa de seus interesses na própria região, mas porque isso fortalecia sua posição no mundo. [...] Havia também interesses mais gerais: a presença da Grã- Bretanha no Oriente Médio ajudava a manter sua posição como potência mediterrânea e mundial. A rota marítima para a Índia e o Extremo Oriente passava pelo canal de Suez. As rotas aéreas pelo Oriente Médio estavam sendo desenvolvidas nas décadas de 1920 e 1930; uma ia pelo Egito ao Iraque e à Índia, outra através do Egito para a África no sul (HOURANI, 2001 apud COSTA, 2011 p. 322-333).

Esse controle europeu esteve presente na região durante décadas e somente foi ser modificado após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), principalmente, com a queda do

Império Turco Otomano45 (1299-1923). Tendo em vista as revoltas árabes (1916-1918) que tinham como objetivo tornar a região independente dos otomanos, até então mandatários de grande parte da região, é com o fim do Império que acontece, então, a criação do Oriente Médio moderno e dos Estados do Norte da África (ZAHREDDINE, 2011, p.1).

Nesse contexto, considera-se segundo Zahreddine (2011, p.2), que com divisão e configuração do Oriente Médio, fundamentada “a partir dos acordos secretos de Sykes Picot46 e dos acordos posteriores entre as duas potências europeias [França e Grã Bretanha]”, a região do OM foi, então, administrada por regimes autoritários e tornou-se extremamente instável no cenário internacional. Na visão de Hobsbawm (1995, p.41-42), esses acordos secretos “[...] dividiram a Europa do pós-guerra e o Oriente Médio com uma surpreendente falta de atenção pelos desejos, ou mesmo interesses, dos habitantes daquelas regiões.”

Dessa forma, após a Segunda Guerra Mundial os movimentos de independências nos países árabes se tornaram constantes, tais como no Líbano (1943), na Síria (1946) e no Iraque (1931)47 (COSTA, 2011, p.17-18), e principalmente na década de 50, quando ocorre o epicentro do processo de descolonização na região do OM e do Magrebe, no qual, de acordo com Vizentini e Pereira (2010, p. 236), o conteúdo dominante, foi o “nacionalismo árabe de perfil reformista (Egito, Iraque e Argélia).” Além disso, os autores (2010, p.251), apontam que não foi somente o nacionalismo árabe48 que contribuiu para a descolonização na região, visto que “o pan-africanismo e a negritude [também] serviram de catalisadores às vanguardas e elites africanas na luta pela independência.”

Assim, com a independência de muitos países na região e a debilidade de vários deles, acontece um maior envolvimento das potências ocidentais, em principal, os Estados Unidos, no OM e Magrebe, tendo em vista que a potência norte-americana queria assegurar sua influência e manter o controle econômico e ideológico na zona. Assim, com a saída dos britânicos e franceses, a nova geopolítica marcada por um cenário bipolar, passou a disputar influências no território do OM, conforme Pecequilo explica abaixo:

45Segundo Vizentini e Pereira (2010, p. 109), “o enfraquecimento e declínio do Império Otomano fez com que a área dos Estreitos de Dardanelos e do Bósforo e dos Balcãs passasse a ser alvo de disputa das principais potências europeias.”

46

Tratados assinados pelo Reino Unido e França em 1916, que objetivavam definir as suas influências na região do Oriente Médio.

47No entanto, esteve sob domínio britânico até final da Segunda Guerra Mundial (1945).

48

Segundo Zahreddine (2011, p.2), “o nacionalismo árabe se notabilizou pela reafirmação do direito de autodeterminação dos povos árabes, principalmente os palestinos; pelo discurso anti-imperialista e anti- Israelense e pelo direito ao desenvolvimento econômico e social dos povos árabes.”

O envolvimento das potências ocidentais na região do Oriente Médio data dos séculos XIX e XX como parte do processo de expansão imperial russo, britânico e francês, redesenhando o mapa local a partir do declínio do Império Turco Otomano. Esta presença europeia, a partir do encerramento da Segunda Guerra Mundial, passou a ser contrabalançada pela norte-americana, consolidando a posição dos EUA como principal poder externo no Oriente Médio (PECEQUILO, 2010, p. 159-160).

Vizentini e Pereira (2010, p.254), explicam que nessa conjuntura os países da região do OM e, especialmente, da África configuraram uma relação externa “tipicamente neocolonial”, tendo em vista que a dependência externa, pós-independência, se intensificou e implicou em maiores “vínculos de subordinação” não somente com os Estados Unidos, como também com as antigas colônias.

Conclui-se então, que o Norte da África e o Oriente Médio são conhecidos nas relações internacionais como duas regiões onde mais prevaleceram, e ainda prevalecem, os regimes ditatoriais. As populações foram oprimidas por seus governos que ao longo de décadas, atenderam somente aos seus interesses imperialistas, e mantiveram por anos de ditadura, o silêncio e a censura. Pollack (2011, p. 2), explica que antes de 2011 somente o Iraque, Líbano e os territórios palestinos, poderiam reivindicar para a democracia, embora muito desses esforços tenham sido imperfeitos. Compreende-se que os governos nas duas regiões foram grandes fundadores da miséria da população e principalmente, da corrupção e desemprego, todavia, não os principais. Os grandes investimentos possíveis no OM, em virtude da quantidade de recursos disponíveis, tais como, petróleo e gás, não tiveram amplitude para a grande maioria do povo árabe, visto que foram favoráveis somente para os regimes e seus aliados. Isto é, no mundo árabe nota-se um distanciamento muito grande da população com uma determinada elite que se beneficia com esses sistemas.

Destarte, durante décadas, diversos foram os problemas que as regiões do OM e Norte da África enfrentavam e lutavam por melhorias. Com as influências externas, os pequenos avanços que aconteciam nas regiões, tais como nos meios de comunicação e informação, até então, limitados em suas origens, permitiram que o mundo árabe enxergasse os benefícios que a liberdade e democracia poderiam fornecer aos seus países.

Diante da intensa repercussão das manifestações árabes no cenário internacional, a seguir serão apresentadas, de modo geral, as intervenções externas nos países árabes, para posteriormente, ser exposta e analisada a posição brasileira perante o evento.

3.2 A REPERCURSSÃO INTERNACIONAL

A repercussão internacional da Primavera Árabe explicada neste trabalho se baseará nos conflitos líbios, uma vez que eles tiveram maior destaque no cenário internacional e sofreram uma forte intervenção militar da OTAN.

Embora o eixo das manifestações populares tenha sido baseado, em todos os casos, em forças domésticas, sejam elas através de instituições políticas nacionais ou dos militares, considera-se que a participação internacional em alguns países participantes do

Documentos relacionados