• Nenhum resultado encontrado

Caminhos do "lixo" : percepção ambiental e inclusão social dos catadores informais de materiais recicláveis em Aracaju - Sergipe

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Caminhos do "lixo" : percepção ambiental e inclusão social dos catadores informais de materiais recicláveis em Aracaju - Sergipe"

Copied!
98
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITÓRIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

NÍVEL MESTRADO

ELIANE FREITAS COUTO

CAMINHOS DO “LIXO”: PERCEPÇÃO AMBIENTAL E INCLUSÃO SOCIAL DOS CATADORES INFORMAIS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM

ARACAJU-SERGIPE

SÃO CRISTÓVÃO 2017

(2)

ELIANE FREITAS COUTO

CAMINHOS DO “LIXO”: PERCEPÇÃO AMBIENTAL E INCLUSÃO SOCIAL DOS CATADORES INFORMAIS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM

ARACAJU-SERGIPE

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. Ronise Nascimento de Almeida

SÃO CRISTÓVÃO 2017

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DE LAGARTO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

C871c

Couto, Eliane Freitas.

Caminhos do “lixo”: percepção ambiental e inclusão social dos catadores informais de materiais recicláveis em Aracaju - SE / Eliane Freitas Couto; orientadora Ronise Nascimento de Almeida. – São Cristóvão, 2017.

98 f.: il.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Sergipe, 2017.

1. Coletores de materiais recicláveis – Aracaju, SE. 2. Meio ambiente. 3. Integração social. 4. Política social. I. Almeida, Ronise Nascimento de, orient. II. Título.

(4)
(5)
(6)
(7)

Meu filho Carlos Daniel, meu amor ao triplo! Frase que repetirei para sempre. Eu e você sempre juntos em todos os momentos! Obrigada por cuidar de mim, por ser meu amigo, companheiro, confidente. Um filho simplesmente maravilhoso! Amo você incondicionalmente!

(8)

AGRADECIMENTOS

Acredite é hora de vencer

Essa força vem de dentro de você Você pode até tocar o céu se crer Acredite que nenhum de nós Já nasceu com jeito pra super-herói Nossos sonhos a gente é quem constrói É vencendo os limites

Escalando as fortalezas

Conquistando o impossível pela fé Campeão, vencedor

Deus dá asas faz teu voo Campeão, vencedor

Essa fé que te faz imbatível Te mostra o teu valor

Tantos recordes você pode quebrar

As barreiras você pode ultrapassar e vencer (Beno César, Solange de César).

Embalada pelo ritmo dessa linda canção, venho agradecer a Deus por Ele existir em minha vida, por permitir ser resoluta em meio às adversidades, agora posso escrever uma nova história de vitória e de superação. Obrigada, meus amigos (Rousseaunianos) João, Talitha e a mãezoca do quarteto Thaíse, vocês foram o melhor presente que ganhei no ano de 2015, podem ter certeza que nossa amizade será na alegria, na tristeza, na riqueza, na pobreza, no desespero, no refrigério, e para sempre. Amo muito vocês. Um agradecimento à Mainha Dora pelas orações.

A minha orientadora Ronise, por ter sido tão paciente, amável. Falava sempre que ela foi um ser iluminado enviado para assessorar minha pesquisa, com contribuições excelentes. A minha amiga Marília, Gabriela obrigada! A toda equipe do PRODEMA! A CAPES!

(9)

RESUMO

Diante de uma sociedade que vive em constantes transformações tecnológicas no processo de produção e consumo, os catadores informais de materiais recicláveis há algumas décadas vêm realizando o trabalho de coleta dos resíduos sólidos, o ofício desempenhado no tocante a conservação ambiental é imprescindível para o meio ambiente, visto que, recolhem das ruas os resíduos que são descartados de maneira inadequada pela população. A atividade executada por eles pode ser a única forma de sobrevivência e o meio pelo qual possibilitam fixar-se no mercado de trabalho e obter inserção social. Os catadores estão inseridos nas políticas públicas de inclusão social, todavia essas não contemplam àqueles que trabalham informalmente. A pesquisa apresenta como objetivo geral, analisar a percepção que os catadores informais de materiais recicláveis têm sobre o meio ambiente em Aracaju/Sergipe. Esboça uma abordagem qualitativa e quantitativa, utilizando como instrumentos de coleta de dados a entrevista estruturada e semiestruturada; a técnica de tratamento dos dados se deu por meio da análise de conteúdo. Os resultados alcançados mediante as entrevistas quanto a percepção ambiental e inclusão social dos catadores informais demonstraram que os mesmos percebem suas contribuições para a conservação do meio ambiente, uma vez que realizam o trabalho de catação e segregação dos resíduos, entretanto revelou-se também que alguns vivem à margem da sociedade, do poder público e na ponta de uma cadeia explorada pelos sucateiros e empresas recicladoras.

(10)

ABSTRACT

In the face of a society that lives in constant technological changes in the production and consumption process, the informal collectors of recyclable materials have been carrying out the work of solid waste collection for some decades, the office in the field of environmental conservation is indispensable for the Environment, since they collect from the streets waste that is inappropriately discarded by the population. The activity performed by them may be the only form of survival and the means by which they can establish themselves in the labor market and obtain social insertion. Scavengers are included in public policies for social inclusion, but these do not include those who work informally. The research presents as general objective, to analyze the perception that the informal collectors of recyclable materials have on the environment in Aracaju. It outlines a qualitative and quantitative approach, using structured and semi-structured interviews as instruments of data collection; The technique of data processing was given through content analysis. The results obtained through the interviews regarding the environmental perception and social inclusion of the informal collectors, showed that they perceive their contributions to the conservation of the environment, once they carry out the work of waste segregation and segregation, however it has also been revealed that Some live on the margins of society, public power and at the tip of a chain exploited by scrap metal and recycling companies.

(11)

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Organograma da representação da comissão nacional dos catadores

– – – – – – – – – – – – – – 43 Figura 02 – Trabalho dos catadores informais no cotidiano das ruas 46 Figura 03 – Trabalho dos catadores informais no cotidiano das ruas 46 Figura 04 – Trabalho dos catadores informais no cotidiano das ruas 46 Figura 05 – Mapa de localização do município de Aracaju/SE 50 Figura 06 – Mapa de localização dos bairros para a pesquisa de campo em Aracaju/SE

– –

50 Figura 07 – Catadores informais exercendo a coleta dos materiais recicláveis

56 Figura 08 – Catadores informais exercendo a coleta dos materiais recicláveis 57 Figura 09 – Catadores informais exercendo a coleta dos materiais recicláveis 57 Figura 10 – Peso transportado em excesso nos carrinhos

– – – – – – – – – – – – – – 68 Figura 11 – Peso transportado em excesso nos carrinhos

– – – – – – – – – – – – – – 68 Figura 12 – Peso transportado em excesso nos carrinhos

– – – – – – – – – – – – – – 68 Figura 13 – Catadores informais exercendo a atividade sem uso do EPI

– – – – – – – – – – – – – – 72 Figura 14 – Catadores informais exercendo a atividade sem uso do EPI 72

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Faixa Etária dos Entrevistados 61

Gráfico 02 – Cor/Raça dos Catadores Informais de Materiais Recicláveis 62

Gráfico 03 – Estado Civil dos Catadores Informais 62

Gráfico 04 – Escolaridade dos Catadores 63

Gráfico 05 – Tempo de Exercício no Trabalho de Catação de Materiais Recicláveis 64

Gráfico 06 – Horário de Trabalho dos Catadores Informais 65

Gráfico 07 – Locais de Coleta dos Materiais Recicláveis 66

Gráfico 08 – Materiais Recicláveis Coletados pelos Catadores Informais 67

Gráfico 09 – Local onde os Catadores Informais vendem os Materiais Recicláveis 69

Gráfico 10 – Transporte Utilizado pelos Catadores Informais 70

Gráfico 11 – Renda Obtida com a Venda dos Materiais Recicláveis 71

(12)

LISTA DE SIGLAS

CCJC Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania CBO Código Brasileiro de Ocupações

CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem

CENTRO POP Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua CF Constituição Federal

CIISC Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis

CLT Consolidação da Leis do Trabalho

CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento CRAS Centros de Referência da Assistência Social

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social EA Educação Ambiental

ECA Estatuto da Criança e Adolescente EPI Equipamento de Proteção Individual

FUNDAT Prefeitura Municipal através da Fundação Municipal do Trabalho IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LBV Legião da Boa Vontade

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MNCR Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis MPAS Previdência e Assistência Social

MTE Ministério do Trabalho e Emprego ONU Organização das Nações Unidas

PEGIRS Política Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos PERS Plano Estadual de Resíduos Sólidos de Sergipe

PET Polietileno Tereftalato

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAS Política Nacional da Assistência Social

(13)

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PRODEMA Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente PSE Proteção Social Especial-PSE

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEMA Secretaria Municipal do Meio Ambiente

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 18

2.1 MEIO AMBIENTE, PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CATADORES INFORMAIS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS ... 19

2.2.1 Compreendendo o surgimento da preocupação ambiental ... 19

2.2 PERCEPÇÃO E INCLUSÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRISMA AMBIENTAL E SOCIAL ... 25

2.3 HISTÓRICO DOS CATADORES INFORMAIS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS...32

2.4 A CONSTRUÇÃO DO PERFIL DOS CATADORES INFORMAIS... ... 35

2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL PARA OS CATADORES ... 36

2.6 (IN) VISIBILIDADE DOS CATADORES INFORMAIS DE MATERAIS RECICLÁVEIS ... 41

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 48

3.1 Área de Estudo ... 49

3.2 Universo da pesquisa ... 51

3.3 Levantamento e coleta de dados ... 52

3.4 Métodos e técnicas de pesquisa ... 53

3.4.1 Método Fenomenológico ... 53

3.4.2 Técnicas e Análise da Pesquisa ... 54

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 81

REFERÊNCIAS ... 84

(15)

1

INTRODUÇÃO

Com o consumismo incomensurável na contemporaneidade houve o aceleramento na geração de resíduos urbanos acima da capacidade que o meio ambiente pode suportar, ocasionando assim sérios problemas ambientais decorrentes da acumulação e disposição final inadequado. Desse modo, tem surgido um aumento nas pesquisas sobre a questão ambiental, debates e fóruns no contexto mundial. Para Silva (2010) as discussões sobre as questões ambientais começaram a ganhar eficácia na agenda de diversos segmentos da sociedade mundial, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980 do século XX. Inúmeras ações para a conservação ambiental têm sido desenvolvidas por parte dos governantes e da sociedade, e o catador informal de material reciclável é partícipe dessa conservação, tornando necessário o reconhecimento dos mesmos enquanto categoria profissional aliado às políticas públicas consolidadas que venham os beneficiar de forma integral no aspecto socioeconômico, principalmente aqueles que não estão inseridos em cooperativas e associações.

O trabalho realizado pelos catadores informais pode adquirir duas vertentes: a primeira contempla a parte ambiental no tocante a percepção de conservação, e a segunda, a redução dos resíduos sólidos1 que seriam enviados para aterros sanitários ou lixões, assim, torna-se imprescindível inserção dos catadores informais em políticas públicas mediante o sistema de gestão integrada dos resíduos sólidos, ancorado na Lei nº 12.305 de 2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos). Diante da contribuição dos catadores em relação às vertentes supracitadas esta pesquisa apresenta como objetivo geral analisar a percepção que os catadores informais de materiais recicláveis têm sobre o meio ambiente em Aracaju. E como objetivos específicos, caracterizar o perfil socioeconômico dos catadores informais de materiais recicláveis; verificar a percepção dos catadores informais, quanto a sua compreensão das políticas de inclusão social propostas para o setor; identificar as dificuldades inerentes à atividade do trabalho informal, ao percorrerem o caminho do “lixo” pela busca da sobrevivência.

1

A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) define que resíduos Sólidos são oriundos de atividades de procedência domesticas, industrial, de serviços de varrição, comercial, agrícola e hospitalar. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviável em face à melhor tecnologia disponível. Fonte: (ABNT, NBR 10004:2004).

(16)

Para Demajorovic e Lima (2013), catadores informais são aqueles que coletam os materiais recicláveis pelas ruas, casas, lixões e vendem para as organizações intermediárias que realizam as atividades de prensagem, de trituração, armazenamento e de transporte. A atividade exercida pelos catadores informais de materiais recicláveis vem contribuindo para atenuar os resíduos que seriam enviados aos aterros sanitários, realizam a limpeza urbana, e coletam os restos lançados no espaço público pela população, exercendo a função de agentes ambientais.

Estudar a percepção ambiental dos catadores informais, portanto, traz a notoriedade deles para o processo de reciclagem2 no país, uma vez que podem ser inseridos nas políticas públicas governamentais que contemplem a dignificação do trabalho, tornando-os socialmente reconhecidos enquanto catadores de materiais recicláveis, fortalecendo assim sua formação identitária. Para Faggionato (2002) a percepção ambiental pode ser determinada como sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, significando o ato de perceber o ambiente pelo qual está inserido, desenvolvendo atitudes de cuidado e proteção ambiental.

A percepção pode ser adquirida por meio da visão sobre o meio ambiente, que os catadores informais têm durante o trajeto realizado no trabalho de catação, posto que, percorrem lugares diferentes, como por exemplo: centros urbanos, comércios, praças, parques, litoral dentre outros. Por estarem cotidianamente nesses locais, podem obter visões diversificadas sobre a importância ambiental do trabalho exercido por eles, “duas pessoas não veem a mesma realidade, nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliação do meio ambiente” (TUAN, 1974, p. 6), desse modo construir suas percepções calcadas no mundo vivido.

A escolha pela pesquisa foi a partir do meu bacharelado em Serviço Social, experiência na área social e gestão pública, com trabalho articulado a rede socioassistencial das políticas públicas e órgãos de defesa de direitos humanos com a população em situação de rua (grupo heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a existência de moradia convencional regular), foi percebido que alguns destes grupos exerciam o trabalho de catação de materiais recicláveis como forma de manutenção da família e sobrevivência, no entanto poucos eram os estudos que abordavam a

2 Reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por finalidade o aproveitamento dos detritos e a reutilização no ciclo de produção, é o resultado de uma série de atividades, pela qual os materiais recicláveis que seriam enviados a aterros, são coletados, separados e processados para serem usados como matéria prima na manufatura de novos produtos. Nani (2012).

(17)

percepção ambiental e inclusão social dos catadores informais de materiais recicláveis em Aracaju/SE.

Essa pesquisa se torna relevante pois irá contribuir para dinamização dos estudos interdisciplinares nos vários campos das ciências como: da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia, do Serviço Social, da Geografia, estabelecendo elos entre os saberes, além de aprofundar o debate acerca da temática proposta, proporcionando subsídios a novos estudos. Para a sociedade pode estar elucidando a compreensão, a importância que os catadores exercem sobre o meio ambiente, ao coletarem os resíduos que muitas vezes são descartados pela população, potencializando danos à saúde humana e ao ambiente.

Desse modo, a pesquisa apresenta alguns questionamentos, a saber: Os catadores informais de materiais recicláveis ao exercerem a atividade da coleta dos resíduos sólidos percebem que contribuem para minimizar os impactos ambientais3? Há um reconhecimento pelos catadores de que o processo da reciclagem começa a partir do trabalho exercido por eles enquanto catadores informais? Os catadores informais têm conhecimento sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 (PNRS)?

Assim, essa pesquisa está dividida em 4 (quatro) capítulos, o primeiro expõe o referencial teórico pautado nas temáticas: meio ambiente, percepção ambiental, inclusão social e catadores informais os quais subsidiarão o contexto teórico da pesquisa, enfatizando o surgimento da preocupação com as questões que envolvem o meio ambiente; no segundo capítulo será abordada a percepção e inclusão social com análise a partir dos prismas ambiental e social, em seguida apresentar-se-á a abordagem sobre os catadores informais de materiais recicláveis retratando a (in) visibilidade social e ambiental. O capítulo terceiro será exposto os caminhos metodológicos para a realização da pesquisa, mediante os métodos e técnicas. Em sequência os resultados e discussões da pesquisa. E por fim, serão expostas as considerações finais e sugestões a futuros trabalhos.

3 Entende-se por impactos ambientais: o aumento desmesurado de enchentes, dificuldades na gestão de resíduos sólidos em áreas potencialmente degradáveis em termos ambientais, contaminação das águas na quantidade e qualidade dos recursos hídricos disponíveis e agravamento da qualidade do ar, (JACOBI, 2006, p.9). A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) relaciona impactos ambientais a degradação ambiental na qual a degradação ambiental é compreendida como a alteração adversa das características do meio ambiente, resultante de atividades que direta ou indiretamente contribuem para: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. PNMA-Lei 6.938/81, artigo 3o. incisos II, III p.2,3.

(18)
(19)

2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 MEIO AMBIENTE, PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CATADORES

INFORMAIS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

2.2.1. Compreendendo o surgimento da preocupação ambiental

O crescimento populacional nas últimas décadas ocasionou um avanço desenfreado do esgotamento dos recursos naturais, em virtude da expansão do consumo em larga escala, gerando a produção de poluentes e consequentemente danos irreversíveis ao meio ambiente4. O homem ao utilizar matérias primas da natureza propendendo apenas aos valores econômicos que podem ser agregados para uso próprio vem se esquecendo de que os recursos naturais são finitos, Camargo (2003, p. 45) “a questão ambiental é antes de tudo uma questão pessoal”. Sendo assim, a percepção ambiental com relação a conservação é uma questão individual, da qual precede ações coletivas em benefícios ao meio ambiente.

A esse respeito a Constituição Federal de 1988 apresenta o artigo que se consagrou nacionalmente quando se fala em conservação ambiental, o Art. nº 225, expressa que é dever do poder público e da coletividade a responsabilidade de proteger o meio ambiente para as gerações futuras, assegurando as condições de reprodução e habitabilidade no planeta, estabelecendo nas afirmativas supracitadas um pacto imanente entre homem e natureza, no qual não se pode incidir rompimentos.

Buscando respostas para minimizar os problemas ambientais para que a sociedade percebesse que é parte complementar na conservação ambiental, ou seja, que o homem e meio ambiente são indissociáveis, embora essa relação nem sempre conviveu em harmonia, começaram a surgir ações de grupos ambientalistas em defesa do meio ambiente, ancorados em legislações para a conservação ambiental. As iniciativas para essas ações começaram a

4 Meio ambiente: é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (PNMA, Lei 6.938/81, artigo 3º inciso I, p.1.).

(20)

partir de reuniões internacionais, cujo objetivo era de conscientizar a sociedade da importância de participar da luta em defesa do meio ambiente. Assim serão apontados, breve histórico de algumas conferências ocorridas em prol da conservação ambiental a partir da década de 60.

A criação do Clube de Roma em 1966, foi considerado um marco fundamental para despertar a consciência ambiental em escala mundial. Algumas reuniões foram realizadas, resultando em relatórios, que descreviam e apontavam soluções para os problemas ambientais. Nesse período foram intensificadas as discussões acerca das relações existentes entre meio ambiente e desenvolvimento (CAMARGO, 2003).

A década de 1970 foi marcada por movimentos e eventos bastante significativos do ponto de vista socioambiental, como a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Estocolmo). Participaram desse evento 113 países, oficializando em nível mundial a preocupação ambiental. Começavam então as ações para a conscientização a respeito da finitude dos recursos naturais e dos impactos ambientais causados pela degradação tais como: poluição das águas; poluição da atmosfera; degradação das florestas; danos à camada de ozônio; aquecimento global; erosão dos solos; desertificação; deterioração dos habitats das espécies; perda de biodiversidade; acúmulo de resíduos urbanos em locais inadequados, dentre outros.

Esses efeitos negativos ao meio ambiente tiveram início a partir do estabelecimento da economia industrializada baseada numa tecnologia altamente consumidora de energia e matérias-primas, radicalizando os impactos antrópicos sobre a natureza. Camargo (2003), ao mencionar que o modelo econômico de desenvolvimento modificou e aperfeiçoou em muitos aspectos a relação do ser humano com seu meio ambiente provocando transformações no ambiente natural, em que se pese o desenvolvimento tecnológico trazendo inúmeros benefícios nos aspectos sociais e econômicos, em contrapartida esses mesmos benefícios ocasionaram problemas de ordem socioeconômicos, como a pobreza e o aumento elevado de resíduos.

Na Conferência de Estocolmo dentre outros documentos, pode destaca-se a Declaração do Meio Ambiente que elencou o meio ambiente como sendo direito fundamental do ser humano, bem como o direito à liberdade, a igualdade de desfrutar de condição de vida digna com o comprometimento de protegê-lo, como se pode observar, é dever de toda a sociedade e órgãos governamentais;

(21)

exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (C.F de 1988 art. 225, p. 112).

Esse comprometimento consiste em um equilíbrio entre as ações humanas e a conservação do meio ambiente em que vivemos, ou seja, relação entre o homem/meio ambiente de forma harmoniosa com vistas a eliminação das desigualdades sociais entre países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, a eliminação da deterioração do ambiente físico; buscar a erradicação da hipossuficiência e a efetivação de um modelo ético global racional conscientizando a sociedade de sua missão para conservação do meio ambiente, baseado nas primícias do desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi expresso no Relatório Brundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum, produzido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em 1987 para atender as necessidades da geração presente sem comprometer as futuras gerações. Vale ressaltar que houve o entendimento que o Relatório estivesse preparando o fim da civilização ao mencionar limites para o crescimento econômico, entretanto propunha a possibilidade de uma nova era de crescimento econômico, que deveria se apoiar em práticas que conservassem a base de recursos ambientais.

Corroborando, Camargo (2003) relata que o desenvolvimento sustentável se revelou uma nova maneira de perceber as soluções para os problemas globais, que não se reduzem apenas à degradação ambiental, mas incorporam também dimensões sociais, políticas e culturais; colocando em evidência os princípios do desenvolvimento sustentável pautados: na preocupação com a geração presente e futura, na viabilidade da economia, no respeito às culturas, na integração popular, na conservação dos recursos naturais, dentre outros.

Nas análises de Sachs (1996, p. 113) um desenvolvimento sustentável é “socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente prudente”. Pode-se dizer que a atividade econômica, o meio ambiente e o bem-estar, requerem a participação do poder público, iniciativa privada e sociedade civil, como forma de garantir o equilíbrio ambientalmente sustentável.

Na Conferência nas Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra, o encontro chamou a atenção do mundo para a dimensão global dos perigos que ameaçam a vida na terra e, por conseguinte, para a necessidade da aliança entre todos os povos em prol da sociedade

(22)

sustentável. Foi elaborada nessa conferência a Agenda de trabalho para o século XXI (Agenda 21) que estabeleceu: convenção sobre mudanças climáticas; declaração do Rio de Janeiro/RJ sobre o meio ambiente; declaração de princípios sobre florestas. Após a conferência a interligação entre desenvolvimento socioeconômico e as transformações no meio ambiente durante décadas ignoradas entrou no discurso oficial da maioria dos governos do mundo (CAMARGO, 2003).

Durante a conferência Rio +5 ocorrida em 1997, na cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de avaliar o efetivo andamento das decisões propostas na Agenda 21, existiram discussões sobre mudanças climáticas; aquecimento global; emissão dos gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e a necessidade de diminuição da emissão desses gases no planeta. Estabelecendo assim um plano de ação objetivando alcançar o desenvolvimento sustentável. Camargo (2003) afirma que o desenvolvimento sustentável não é tarefa somente para uma geração é um compromisso a ser instituído, um projeto global que demanda período, compromisso e esforços de várias gerações e participação de toda sociedade civil e poder público.

Para esse mesmo autor os principais entraves ao desenvolvimento sustentável são: culturais- os diferentes valores e crenças dos povos; científicos- falta de maior conhecimento sobre as inter-relações homem e meio ambiente; político-econômico, diferença econômica existente entre os países quanto aos níveis de produção, consumo e renda; sociais – pressão decorrente do crescimento populacional humano, bem como desigualdade e exclusão social; éticos quanto a noção prevalecente de que o homem pode apropriar-se o quanto e como quiser da natureza; ideológicos – excessiva confiança de que a engenhosidade humana pode superar os problemas civilizatórios; psicológicos – dificuldade do ser humano em perceber sua importância no meio ambiente e da necessidade de conservação; filosóficos-metafísico – as emoções, as motivações, as consciências e atitudes dos homens com relação a si próprios, e aos seus semelhantes, à vida e ao mundo natural.

Os entraves do desenvolvimento sustentável estão presentes e integrados de forma global em diversas sociedades, no entanto precisam ser reconhecidos enquanto obstáculos, com o objetivo de serem resolvidos, ou seja, soluções por meio de ações eficazes que minimizem a degradação ambiental de forma consciente, crítica e criativa, que as práticas dessas ações consigam nortear a geração vigente transpassando as mesmas para a futura geração.

(23)

Ao pensar em desenvolvimento sustentável com o propósito de evitar as catástrofes ambientais que poderiam levar a perda de vidas humanas, da biodiversidade, e controlar as atividades antrópicas sobre o meio ambiente, acredita-se que seria necessário a sociedade perceber que os recursos naturais são finitos. Ribeiro e Morelli (2009) descrevem que ao longo da história da humanidade a ideia de crescimento se confundia com um crescente domínio e transformação da natureza, nesse paradigma, os recursos naturais eram vistos como ilimitados.

Corroborando com os autores supracitados, Camargo defende que [..] “as mudanças de paradigmas não se dão impulsionadas propriamente por pessoas, tem a ver com mudanças profundas na realidade, que impõe novas exigências” (2003, p. 97). A construção dessa transformação de atitude na relação entre homem e meio ambiente, a educação ambiental5 podem proporcionar essa mudança, por meio do acesso à informação sobre as legislações vigentes, ao uso adequado dos recursos naturais, ao conhecimento da realidade sobre o meio ambiente. O que facilitaria um comprometimento dos governantes a aplicabilidade na íntegra da Lei nº 12.305/2010 (PNRS), propondo a construção de políticas sociais, como também de auxiliar na proteção ambiental.

Com a necessidade do meio ambiente ecologicamente equilibrado, mais uma conferência foi realizada, a Rio +10 ou Cúpula Mundial sobre desenvolvimento sustentável, em Johanesburgo, na África do Sul em 2002. Essa Conferência mostrou que a sociedade não está pronta para compreender e sensibilizar-se com os problemas socioambientais, visto que ainda prevalecem os interesses comerciais e econômicos sobre os direitos humanos e a conservação ambiental, principalmente nos países desenvolvidos, conforme se observa,

para muitos países ricos, o meio ambiente sempre foi visto como uma bela oportunidade de extração de riquezas naturais. [...] por isso a necessidade dos governos, das empresas e da sociedade repensarem seus critérios de crescimento econômico, levando em consideração os impactos ao meio ambiente, principalmente o conceito de desenvolvimento sustentável (GRIPPI, 2006, p. 141).

5Educação Ambiental: são os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade e no Art. 2° inciso 1 incumbe ao poder público: definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente (Política Nacional da Educação Ambiental - PNEA instituída pela lei no 9.795, de 27 de abril de 1999).

(24)

A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou o relatório da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável a Rio+20 realizada no Rio de Janeiro em 2012, e no preâmbulo todos os Chefes de Estado e de Governo assumem o compromisso em trabalharem juntos na busca de um futuro próspero, seguro e sustentável para os povos e para o planeta. Essa parceria internacional pode ser considerada como o caminho correto e eficaz na medida em que toda a sociedade globalizada sensibilizasse e participasse com as questões ambientais, conforme detalha o relatório,

nós encorajamos as iniciativas e parcerias internacionais para abordar a inter-relação entre água, energia, alimentos e mudança climática, de modo a obter sinergias assim como minimizar conflitos entre objetivos políticos, com particular sensibilidade aos impactos sobre populações vulneráveis (ONU, 2012, p. 56).

De acordo com Guimarães e Fontoura (2012), a Rio+20 não atingiu os objetivos propostos das negociações sobre aspectos fundamentais para o futuro ambiental do planeta, focou-se somente em discussões, aparentemente acadêmicas, em torno de economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza, e sobre o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. Após quatros anos da supracitada conferência o cumprimento do pacto assinado pelos representantes de quase 200 países, alguns temas abordados, não foram cumpridos integralmente, a saber: desemprego; desenvolvimento sustentável para o combate à pobreza; segurança alimentar e nutricional; energia sustentável para todos; água; cidades sustentáveis, dentre outros. Igualmente ao verificar o cumprimento das metas e prazos contidos no relatório percebe-se que não houve avanço significativo quanto aos acordos firmados entre os países no tocante aos temas citados nas conferências.

No entanto, percebe-se a preocupação dos governantes em encorajar a participação da sociedade no cenário da conservação ambiental. Para essa iniciativa precisa-se colocar em prática o parágrafo 98, do relatório da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio-20,

nós reconhecemos que o acesso de todos à educação de qualidade é uma condição essencial para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social e nos comprometemos com o fortalecimento da contribuição de nossos sistemas de educação na busca do desenvolvimento sustentável, inclusive através de um melhor treinamento e desenvolvimento curricular dos educadores (ONU, p. 21, 2012).

(25)

Nesse contexto a Educação Ambiental (EA) pode se tornar como um instrumento capaz de efetivar as políticas públicas de proteção ao meio ambiente. Para Melazo (2005) a EA é a formação de cidadãos conscientes, dispostos a tomarem decisões atuando na realidade socioambiental, por meio de uma sintonia entre as diferentes realidades políticas, econômicas, sociais, culturais e ambientais.

De acordo com os Relatórios das Conferências Mundiais foram elaboradas propostas para a conservação ambiental e para a qualidade de vida no planeta Terra, tendo em vista, a necessidade dos recursos naturais para sobrevivência humana. No entanto, para a aplicabilidade das ações pertinentes nos relatórios é imprescindível um comprometimento e participação de todos os cidadãos envolvidos de forma consciente nas questões ambientais, percebendo a relação que cada ser humano tem com o meio ambiente no tocante a sobrevivência.

O trabalho de catação de materiais recicláveis realizado pelos catadores informais está inserido em alguns dos objetivos propostos nessas conferências, visto que parte da conservação ambiental nos municípios é realizada pelos catadores, pois segregam os resíduos que são lançados nas ruas, através da catação, além de manter os segmentos da reciclagem ligados a vários setores da economia, de acordo com Dias (2009), os catadores se encontram integrados a economia, ainda que pela via mais perversa de um trabalho informal socialmente não reconhecido. Entretanto, incita a necessidade de inclusão social na totalidade dos catadores informais nas políticas públicas vigentes.

2.2 PERCEPÇÃO E INCLUSÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRISMA AMBIENTAL E SOCIAL

O século XX presenciou uma grande transformação da relação do homem com o meio ambiente, sobretudo na percepção sobre os problemas ambientais. Passou-se compreender a importância do respeito ao meio ambiente, surgindo o despertar de uma consciência ambiental e da necessidade de encontrar o equilíbrio saudável entre as ações humanas e a conservação (CAMARGO, 2003), proporcionando garantir à coletividade a qualidade ambiental, sem afetar as gerações presentes e futuras no atendimento às suas próprias necessidades.

Para Melazzo (2005) os sentidos humanos são partes necessárias e fundamentais no processo de percepção dos indivíduos e das suas sensações relacionadas ao ambiente, ao seu

(26)

habitat. Não se pode esquecer de associar a esses sentidos, os estudos dos processos mentais, cognitivos e os simbolismos existentes em cada grupo social, em cada pessoa, que possuem diferentes culturas, valores e até mesmo limites fisiológicos ou biológicos, para assim compreendermos melhor essa inter-relação homem versus natureza versus percepção.

Conforme coloca Tuan em seu livro Topofilia “sem a auto compreensão não podemos esperar por soluções duradouras para os problemas ambientais que, fundamentalmente, são problemas humanos” (TUAN, 1980 p.1). Esses problemas apontados pelo autor querem sejam econômicos, políticos e sociais, irá depender do cerne psicológico da percepção para a tomada de valores e atitudes, que dirijam ações governamentais e da sociedade civil para a conservação ambiental,

os objetos que percebemos são proporcionais ao tamanho do nosso corpo, à acuidade e a amplitude do nosso aparelho perceptivo a ao propósito. [...] a visão tridimensional permite aos seres humanos perceber o seu meio ambiente como consistindo contra um fundo indistinto o, e não simplesmente como padrões. [...] notamos arbustos, arvores e gramas, mas raramente as folhas individuais e as laminas; vemos a areia, mas não os seus grãos individuais (TUAN, 1980, p. 19-17).

Desta forma, Tuan defende que “[...] A percepção é uma atividade um estender-se para o mundo” (1980, p.14), corroborando com essa ideia Merleau-Ponty afirma [...] “ tudo que eu sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo” (2011, p. 3), desse modo,

o mundo é não aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável. Há um mundo, ou antes, há o mundo; dessa tese constante de minha vida não posso nunca inteiramente dar razão (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 14).

O autor defende a ideia que a percepção não pode ser construída a partir do que é percebido apenas de fora, no mundo exterior, pois o que é percebido e apreendido ao mesmo tempo é dotado de um mundo interior, que está em constante exploração, vivenciados pelas pessoas por meio de seus aspectos momentâneos. [..] “ a percepção é, ao mesmo tempo, abertura à realidade tal como ela é e a experiência que fazemos dessa realidade” (CAMINHA, 2001, p. 17).

Assim sendo, a percepção é a experiência de referir-se a uma determinada realidade tal como ela se apresenta, portanto, o que é percebido pode estar presente no campo perceptivo

(27)

do indivíduo no qual está realizando o ato de perceber o seu entorno. Nesse sentido o catador informal de materiais recicláveis pode a partir da experiência adquirida no trabalho de catação, perceber que para além das questões relacionadas aos fatores de ordem socioeconômica, ele contribui para diminuir os impactos ambientais, pois vivenciam cotidianamente o contato direto com o meio ambiente,

não podemos falar da coisa no sentido de aparência, sem se submetê-la à percepção de nosso ponto de vista. O aparecer é impensável sem o sujeito perceptivo, capaz de acolher a doação do visível da coisa. [...] a descrição da aparência das coisas percebidas deve ser realizada a partir de nossa condição essencial de ser. [..] no fundo o sujeito é parte integrante do mundo que ele percebe (CAMINHA, 2001, p. 40).

Percepção ambiental está atrelada a maneira pela qual as pessoas vivenciam experiências relacionadas aos aspectos ambientais físicos presentes à sua volta, bem como os culturais, os históricos e os sociais. A percepção sinaliza e explica observações do mundo realizadas a partir da subjetividade do indivíduo, Merleau-Ponty (2011) relata que o homem está no mundo, e é neste ambiente que ele se conhece, pois, o mundo não é aquilo que se pensa, mas o que se vive, uma vez que, não se pode possuir o mundo, somente comunicar-se com ele por meio do processo da obtenção do conhecimento que pode ser adquirido através da percepção. Assim, a percepção pode ser construída com valores éticos compromissados no constructo de práticas consciente de proteção ambiental.

A consciência ambiental define uma crise de percepção vivida pelos cidadãos ao perceberem que “os recursos naturais estão se esgotando, a miséria está se disseminando e a poluição aumentando a cada dia” (CAPRA, 1993 p. 14). Os problemas ambientais podem ser decorrentes da evolução humana, que permitiu a sociedade, transformar, ajustar e adaptar o meio ambiente às suas necessidades, e como consequência dessa atitude a ruptura do homem e meio ambiente. Essa ruptura, especialmente na atualidade, vem ocasionando sérios prejuízos ambientais para a sociedade, uma vez que pode não ser possível a sobrevivência humana sem a utilização dos recursos naturais que se encontram cada vez mais escassos.

Torna-se necessário, portanto, desmistificar a ideia culturalmente construída que a racionalidade humana difere dos demais seres, que o homem exerce controle e está acima do meio em que habita. Assim, Sachs (1993), esclarece que é preciso mudar os padrões de oferta e de demanda de produtos, visto que, os atuais padrões de consumo no mundo estão além da capacidade de reposição da biosfera, o que impacta diretamente sobre os recursos naturais.

(28)

Camargo (2003) afirma que jamais alguma civilização teve em âmbito planetário o poder desestabilizador que tem a sociedade contemporânea, utiliza-se a natureza para o benefício humano, sem a preocupação em retribuir o que é retirado dela, ou seja, uma troca desigual, que dá origem a uma guerra irracional e desapiedada, a subsistência do homem consiste em conservar e repor o que foi extraído da natureza de maneira consciente, equilibrada e sustentável,

mas não nos iludamos, nós seres humanos, não temos chance de ganhar, pois a terra é ilimitadamente mais poderosa do que nós. Ela existiu, bem antes do surgimento do ser humano e pode, tranquilamente, continuar a viver sem a nossa presença” (BOFF, 2013, p. 23-24).

Neste contexto é possível perceber que o meio ambiente não é simplesmente um elemento exterior a nós mesmos, mas um complemento essencial a vida, sem o qual não existiria a humanidade. De acordo com Tuan (1980) esse processo de percepção entre homem/meio ambiente, é parte integrante das atitudes estabelecidas por meio de experiência adquirida no dia-a-dia, ou seja, no contato direto com o mundo concreto.

Esse contato com o ambiente físico envolve um processo complexo e dinâmico, pois permite o homem formar uma imagem acerca do ambiente e a partir dessa imagem direcionar suas práticas ou simplesmente inibi-las isso dependerá da subjetividade de cada indivíduo. Assim, a visão que cada pessoa tem do meio ambiente é única, ou seja, cada um enxerga de forma distinta o que está a sua volta podendo ter percepções diferentes sobre o mesmo objeto.

Pinheiro (2003) esclarece que o conhecimento acerca do ambiente está carregado de experiências e visões do mundo vivido, fundamentais para se conhecer o significado da percepção e dos valores. Conforme relata Marques et al, (2010), quando se ouve falar em meio ambiente pela mídia impressa ou verbal, cujos exemplos se reportam a florestas, animais, rios e mares, o indivíduo cria em sua memória um cenário de significados, assim, sempre que ouvir falar em meio ambiente relacionará as imagens que foram estabelecidos ao meio ambiente, pois as imagens ficam armazenadas no subconsciente e estarão sendo lembradas à medida que precisar,

a percepção é justamente uma interpretação com o fim de nos restituir a realidade objetiva, através da atribuição de significado aos objetos percebidos. Desta maneira quando se olha, sente e ouve algo, atribui-se a ele significado, que permanece constante na memória (OLIVEIRA,1997, p. 62).

(29)

Para Cavalcanti et al, (2011) o conhecimento da percepção ambiental permite determinar as configurações da inter-relação pessoa-ambiente, na medida em que possibilita conhecer como o ser humano se relaciona com o ambiente, gerando assim compreensões sobre a necessidade de mudança de comportamento em relação a conservação ambiental e a sustentabilidade.

Essa mudança não acontece mecanicamente, não se pode produzir em laboratórios, ela vai se desencadeando mediante ao processo de desenvolvimento sustentável ancorado na educação ambiental, pela qual se constroem valores que definem as atitudes de respeito, de solidariedade, de equilíbrio, que permitirão um modo sustentável de viver.

No Decreto nº 7.704 (2010) traz notas sobre Educação Ambiental no Art. 77 estabelecendo que a gestão dos resíduos sólidos é parte integrante da Política Nacional de Resíduos Sólidos e tem como objetivo o aprimoramento do conhecimento, dos valores, dos comportamentos e do estilo de vida relacionados com a gestão e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

O Poder Público poderá adotar as seguintes medidas, visando o cumprimento da legislação: incentivar atividades de caráter educativo e pedagógico, em colaboração com entidades do setor empresarial e da sociedade civil organizada; promover a articulação da educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos com a Política Nacional de Educação Ambiental; desenvolver ações educativas voltadas à conscientização dos consumidores com relação ao consumo sustentável e às suas responsabilidades no âmbito da responsabilidade compartilhada; promover a capacitação dos gestores públicos para que atuem como multiplicadores nos diversos aspectos da gestão integrada dos resíduos sólidos e divulgar os conceitos relacionados com a coleta seletiva, com a logística reversa, com o consumo consciente e com a minimização da geração de resíduos sólidos de modo sustentável.

Leff (2013) relata que possuir uma existência sustentável depende do tipo de compreensão que se assume como ser humano individual, ou seja, cada pessoa tem culturalmente, o seu modo de ser a partir das experiências vividas, das visões do mundo, das tradições e dos conhecimentos disponíveis, o que lhe atribui previamente o conhecimento de sustentabilidade. Por isso torna-se necessário que o indivíduo compreenda que faz parte do meio ambiente e precisa conservá-lo para continuar existindo,

(30)

aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica responsabilidade na promoção do bem comum (CARTA DA TERRA, 2000, p. 2).

Moura Fé e Faria (2011), ao enunciar que a humanidade precisa reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo para garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos, coloca-se em evidência o trabalho dos catadores informais de materiais recicláveis, que, mesmo de forma anônima, vêm contribuindo para reduzir os impactos negativos ao ambiente. Os catadores informais ao estarem em contato diretamente com o ambiente físico, e coletarem os materiais recicláveis, podem ter percepções de memórias diferenciadas do meio ambiente, isso ocorre a partir de experiências concretas vividas no dia-a-dia trabalho de catação.

a memória é capaz de revelar os significados do ambiente local, as dinâmicas das relações que formaram determinado espaço. As relações dos seres humanos com o ambiente resultam do processo de dar significados e valores aos lugares. Dessa forma, os sujeitos imbuem na subjetividade simbologias do imaginário social dos lugares, resultados de espaços culturalmente formados (ALEXANDRE; OLIVEIRA, 2009, p. 300).

As descrições comuns em percepção Tuan (1980) menciona que o indivíduo percebe o mundo simultaneamente por meio dos cinco sentidos humanos (visão, olfato, paladar, tato e audição) e órgão de sentido mais exercitado, varia de acordo com o indivíduo e seu histórico cultural, podendo influenciar a percepção em relação ao meio ambiente, ou seja, diferentes visões do mundo em um ambiente semelhante.

Pelo fato do indivíduo de ter a visão do ambiente como um todo, não significa que está vendo a realidade, pois ela é percebida através de conceitos e símbolos. Okamoto (1996), coloca que muitas vezes apreender a realidade requer um aprofundamento de visão maior do que a que normalmente se tem. Essa apreensão se dá por meio da percepção,

diante do bombardeio de estímulos, são selecionados os aspectos de interesse ou que tenham chamado a atenção, e só aí é que ocorre a percepção (imagem) e a consciência (pensamento, sentimento), resultando em uma resposta que conduz a um comportamento (OKAMOTO, 1996, p.21).

(31)

Tuan (1980), esclarece que o meio ambiente natural e a visão do mundo estão estreitamente unidas, e é necessariamente construída dos elementos visíveis do social e físico de uma sociedade. A capacidade perceptiva pode identificar os elementos do mundo exterior, executando transformações por meio dos sentidos, “os sentidos compõem o mecanismo detector da energia e das substâncias químicas, invisíveis aos olhos humanos” (JORGE, 2011, p.10). Nessa perspectiva,

as relações das pessoas com o meio ambiente, do qual fazem parte, processam-se, também a partir da percepção que dele se tem, das atitudes nele tomadas e dos valores a ele atribuídos. São extremamente variadas as maneiras das pessoas perceberem e avaliarem o meio ambiente. Do mesmo modo, são inconstantes as atitudes das pessoas, pois, refletem elas variações individuais, bioquímicas, psicológicas, antropológicas e, de modo relevante, seu estilo de vida (XAVIER, 1996, p.11).

Na vida contemporânea, o contato físico com o próprio meio ambiental natural se encontra limitado, devido aos avanços tecnológicos, ao consumismo elevado, e por decorrência a geração exacerbada de resíduos. Como grande parte desses resíduos são lançados em vias públicas, surge o catador informal de materiais recicláveis que recolhem esses resíduos para posteriormente comercializar com os sucateiros; enquanto a população vê os resíduos como sendo algo inservível, o catador informal, vê como meio de sobrevivência.

Rosa (2011) expressa que processo de globalização da economia e a especulação financeira, têm contribuído para intensificar o aumento acelerado da concentração de renda por parte da minoria da sociedade e o empobrecimento de um contingente populacional em constante expansão. Esse insaciável processo de acumulação de riquezas, pode evidenciar o aceleramento destrutivo dos recursos naturais.

O catador informal de materiais recicláveis é partícipe do modo de produção capitalista, quando se incorpora ao processo do capital de geração de renda e comercializam seus materiais aos sucateiros que por sua vez, repassam para indústria recicladora, gerando novas mercadorias, a partir da reciclagem, detendo a maior lucratividade; faz parte também desse processo de produção que reveste de uma dimensão ambiental desmesurada, responsáveis por retirar das ruas, os resíduos descartados pela população.

Kuhnen (2011) expressa que a percepção envolve, vários aspectos da realidade, não apenas como subordinados à cognição ou às estruturas de desenvolvimento. Perceber também requer atuação no mundo, e a partir dessa atuação é construída a subjetividade.

(32)

Desse modo, conhecer como as pessoas percebem e valorizam o ambiente no qual estão inseridos é essencial para que os gestores de políticas públicas venham planejar ações socioeconômicas, ambientais, culturais, dentre outras e que atendam as demandas sociais, principalmente os catadores informais.

2.3 HISTÓRICO DOS CATADORES INFORMAIS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

A origem dos catadores de materiais recicláveis de acordo Schmitt (1990) possui raízes históricas que podem ser encontradas na imagem de um indivíduo pobre, camponês, que circulavam nos espaços urbanos das cidades. Eram percebidos pela sociedade como marginais e se encontravam excluídos socialmente. Com a ascensão do capitalismo e o surgimento da Revolução Industrial eles passaram a ser considerado massa sobrante, destituídos de direitos, e sem qualificação profissional, que encontravam na atividade de catação uma forma de sobrevivência.

No contexto histórico brasileiro não existe a precisão de uma data, que indique o surgimento dos catadores informais de materiais recicláveis. Alguns relatos apontam a existência deles desde a década de 1930. Nessa época os catadores eram formados por grupos invisíveis socialmente, estigmatizados, por se encontrarem em condição de rua e coletarem sobras de resíduos orgânicos para se alimentarem (RIBEIRO e MORELLI, 2012). Contudo, Gonçalves (2011), aponta que a atividade de catadores de materiais recicláveis existe informalmente desde 1950; outrora, esses catadores eram conhecidos como garrafeiros, trapeiros e papeleiros, burro sem rabo, dentre outros. Essas expressões pejorativas, retratam a discriminação vivenciada pelos catadores na década de 50

De acordo com a Pastoral do Povo de Rua (2003), existem três tipos de catadores de materiais recicláveis: o primeiro tipo são os chamados de formiguinhas ou catadores de rua que recolhem os resíduos diretamente dos logradouros públicos ou diretamente nas casas e condomínios da população, podendo ser vistos separando o resíduo das lixeiras nas calçadas das cidades com seus equipamentos de trabalho, como carroças, carrinhos ou sacos de ráfia; o segundo são os que trabalham em usinas de triagem, incineração, associação e cooperativa, o terceiro tipo são aqueles que trabalham diretamente nos lixões recolhendo materiais recicláveis, reutilizáveis e reaproveitáveis, como alimentos, papel, papelão, alumínio, vidro

(33)

dentre outros, o público alvo desta pesquisa são os catadores classificados pela Pastoral do Povo de Rua como de primeiro tipo chamado catadores de rua.

Conforme esclarece Fé Moura e Faria (2011), a situação de trabalho dos catadores permaneceu durante muito tempo ignorada pela sociedade, tornando-os invisível, excluídos, explorados, eram vistos como um problema social encoberto pelas políticas públicas,

início dos anos 2000 eram raras as iniciativas de regulamentação das atividades dos catadores, das suas formas de produção e comercialização, suas instituições e representações políticas. [..] a atividade dos catadores de materiais recicláveis sempre foi precária, instável, segura e desprotegida. (Fé Moura e Faria, 2011, p. 19).

Em consonância com Silva (2010) os catadores informais de materiais recicláveis são considerados excluídos socialmente, entretanto esses trabalhadores cumprem papel decisivo no processo produtivo da indústria dos reciclados, visto que fornecem matéria prima para a reciclagem, viabilizando direta ou indiretamente o processo de transformação do resíduo em mercadoria, no entanto,

não é reconhecida a centralidade do papel do catador, no circuito produtivo, fato que o destitui do estatuto de trabalhador. A sua função, por excelência é a de resíduos sólidos, dos entulhos produzidos pela sociedade do descarte e do desperdício (SILVA, 2010, p. 131, 132).

Porém houve uma mudança no perfil socioeconômico do catador no decorrer dos anos, desde 2001, o CBO, reconheceu o trabalho de catação e foi concedido nome formal para a profissão: catadores de materiais recicláveis e por definição, “são pessoas que vivem e trabalham, individual e coletivamente, na atividade de coleta, triagem e comercialização de materiais recicláveis" (CBO, 2001, p. 11).

A classificação do catador de material reciclável, reconhecida pela CBO (2001) apresenta uma descrição sumária sobre o trabalho desenvolvido pelos catadores: catam, selecionam e vendem materiais recicláveis como papel, papelão, sucatas, alumínios, materiais ferrosos e não ferrosos, cobre, dentre outros. As condições gerais para o exercício da profissão trazidas pela CBO (2001) podem ser por meio da informalidade, ou em, em cooperativas, a céu aberto e horários diversificados; não exige escolaridade ou formação profissional dos que desenvolvem esta atividade.

(34)

A PNRS (2010) reconhece a importância do trabalho exercido pelos catadores e institui como em um de seus princípios, o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania. Salienta-se a efetivação deste princípio nas esferas governamentais enquanto política pública em benefício dos catadores de materiais recicláveis.

Mesmo com o reconhecimento profissional a atividade de catação ainda tem fortes vínculos com níveis extremos de pobreza, de acordo com Moura Fé e Faria (2011), existem catadores que reviram latas, sacos de lixo, procurando algo para se alimentar, outros coletam os materiais recicláveis para a comercialização com o objetivo de promover o sustento familiar, para esses mesmos autores, “nos períodos de crise econômica e aumento do desemprego, novos contingentes de trabalhadores são descartados pelo processo de produção do capital” (2011, p 18). Assim, vem surgindo um número expressivo de catadores informais, que procuram a sobrevivência por meio da catação dos resíduos sólidos.

Nas últimas décadas, diante dos inúmeros problemas ambientais e sociais vivenciados no século XXI, o trabalho dos catadores que anteriormente era considerado invisível e excluído da economia e da sociedade civil vem conquistando direitos e reconhecimento que outrora não possuíam, alguns desses direitos adquiridos encontra-se na PNRS (2010) onde os catadores são considerados pela lei como agentes da gestão do resíduo sólido, e sua participação tanto na coleta seletiva como na separação dos resíduos para reciclagem, precisa ser priorizada pelos municípios.

O poder público tem dispensação de licitação para a contratação de serviços prestados por catadores organizados em associações ou cooperativas. Cabe ressaltar que a legislação citada, não inclui os catadores informais de materiais recicláveis, embora os mesmos desenvolvam um trabalho de extraordinária protuberância para o meio ambiente, na medida em que evita, diariamente, que toneladas de materiais recicláveis sejam enviados aos aterros e lixões, dando destino ambientalmente adequado aos resíduos sólidos e cumprindo os termos da lei 12.305 de 2010, reaproveitando, reutilizando, reciclando e contribuindo para o aumento da vida útil dos aterros sanitários e dos recursos naturais.

(35)

2.4 A CONSTRUÇÃO DO PERFIL DOS CATADORES INFORMAIS

Os catadores informais de materiais recicláveis alcançaram o reconhecimento enquanto trabalhadores por meio do Código Brasileiro de Ocupações nº 5192-05 (CBO), obtiveram ainda um grande avanço nos aspectos de inclusão social com a criação, em 2010, do Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis (CIISC) no qual foi instituído pelo Decreto nº 7.405/10. O CIISC é coordenado pela Secretária-geral da Presidência da República, composto por integrantes dos Ministérios do Meio Ambiente; do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; do Trabalho e Emprego; Previdência e Assistência Social, dentre outros.

O CIISC instituiu o Programa Pró-Catador, com a finalidade de integrar e articular as ações do Governo Federal voltadas ao apoio e ao fomento à organização produtiva dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, à melhoria das condições de trabalho, à ampliação das oportunidades de inclusão social e econômica e à expansão da coleta seletiva de resíduos sólidos, da reutilização e da reciclagem por meio da atuação desse segmento.

Ademais, os catadores informais podem ter acesso aos benefícios propostos pela Lei Orgânica da Assistência Social nº 8.742/93 (LOAS), no art. 1º estabelece, que assistência por meio da inclusão social, é direito do cidadão e dever do Estado. É uma Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada mediante um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade para garantir o atendimento às necessidades básicas.

A LOAS tem como finalidade contribuir com a inclusão e a equidade dos indivíduos e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais que são programas de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza. De acordo com a referida lei, os catadores informais quando não conseguirem obter rentabilidade necessária ao seu sustento e/ou da família com a comercialização dos materiais recicláveis, podem ter acesso aos serviços ofertados pelas políticas públicas e se incluírem socialmente como cidadãos de direitos.

Outra forma de inclusão social dos catadores de materiais recicláveis é por meio da PNRS (2010), no Art. 4º, institui metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; o Art. 19º estabelece a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e

(36)

recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se houver; e mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a valorização dos resíduos sólidos. No entanto a integração dos catadores de materiais recicláveis do estado de Sergipe, na PNRS, não se concretizou na íntegra conforme prevê a legislação, uma vez que, alguns catadores continuam trabalhando na informalidade.

O Decreto nº 7.404 de 23/12/2010 veio estabelecer normas para execução da PNRS, dentre os regulamentos destacam-se os seguintes artigos que priorizam a inserção dos catadores nas políticas públicas de inclusão social:

Art. 41. Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos definirão programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda.

Art. 43. A União deverá criar, por meio de regulamento específico, programa com a finalidade de melhorar as condições de trabalho e as oportunidades de inclusão social e econômica dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

Art. 44. As políticas públicas voltadas aos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis deverão observar:

I – A possibilidade de dispensa de licitação para a contratação de cooperativas ou associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

II – A melhoria das condições de trabalho dos catadores.

As políticas públicas ambientais e de inclusão social já estão consolidadas enquanto legislação, entretanto elas necessitam promover o reconhecimento da participação dos catadores de materiais recicláveis, como parte integrante da conservação ambiental, além de proporcionar a visibilidade para os catadores como trabalhadores socialmente reconhecidos e valorizados, visto que a catação de materiais recicláveis se tornou uma forma de trabalho legalizada pelo CBO.

2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL PARA OS CATADORES

Por definição de políticas públicas Rua (2009), descreve que são resultantes da atividade política e que esta consiste na resolução pacífica de conflitos, processo essencial à preservação da vida em sociedade. O Estado Democrático de Direito, “assenta na constatação de que a economia de mercado não assegura, espontaneamente, a inclusão e o desenvolvimento social”, (Simões, 2009, p. 277), cabendo a intervenção do Estado no trato da questão social, por meio da implementação de políticas públicas, para atenuar as

Referências

Documentos relacionados

to é, supondo-se que não hajam grandes diversidades de hidrauli - cidade entre os postos correspondentes a usinas e reservatórios que serão substituídos pelos seus

Para o teste da transmiss ˜ao de energia e dados via enlace indutivo, manteve- se a dist ˆancia de 2 mm entre as unidades, por ´em agora al ´em do microcontrolador ser alimentado

Thus, the central objective of this investigation was to understand, from the perspective of Critical Analysis of Discourse (CAD), the students’ discursive

Amparado pelo disposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução CNE/CES n.º 13 de 13 de março de 2002), o curso de História assume como objetivo geral a formação

Na próstata masculina, a prolactina aumentou a imunomarcação de seus receptores (PRLR), de AR, ERα e ERβ em animais intactos, mas não em animais castrados,

Na última terça-feira, dia 20 de junho, a Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil abriu as inscrições para a décima sexta edição do Programa Jovens

O presente trabalho aborda estudos desenvolvidos no Subprojeto 2, relativos aos aspectos hidráulicos e ao transporte de sedimentos no Rio Pandeiros, tendo como base 148

Emenda: De uma obrigação segundo o Parágrafo 3 para a COP adotar exigências de gestão de resíduos como um Anexo à Convenção em data futura, de modo a assegurar a gestão de