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O encontro geoestratégico entre Brasil e China no BRICS: um estudo comparativo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

BACHARELADO EM GEOGRAFIA

CLARA CRISTINA SCHEIDT FRAGOSO

O Encontro Geoestratégico entre Brasil e China no BRICS:

Um estudo comparativo

NITERÓI

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CLARA CRISTINA SCHEIDT FRAGOSO

O Encontro Geoestratégico entre Brasil e China no BRICS:

Um estudo comparativo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como parte das exigências para a obtenção do título de bacharelado em Geografia.

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BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Ivaldo Gonçalves de Lima/UFF - Orientador

Prof. Dr. Jorge Luiz Barbosa/UFF

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Trate um homem como ele é e ele permanecerá como é. Trate um homem como ele pode e deve vir a ser e ele tornar-se-á no que pode e deve ser.

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AGRADECIMENTOS

Quero primeiramente agradecer a Deus, pela vida e ânimo para concluir este curso de graduação. Agradeço a minha mãe, Ursula Scheidt por tudo. Por ter me educado, por me proporcionar os subsídios necessários para que eu pudesse estudar sem me preocupar com trabalho, pelo amor e apoio sempre que precisei e por confiar na minha capacidade. Agradeço aos meus avós, já falecidos, Vera e Günter Scheidt, por tudo que me ensinaram, pelo amor e atenção. Agradeço ao meu pai, João Fragoso por também me sustentar durante a graduação e por ter me acolhido em sua casa em Niterói, para que eu pudesse frequentar as aulas noturnas.

Agradeço à Universidade Federal Fluminense e a seus funcionários, pelo suporte necessário para que eu pudesse concluir o terceiro grau, em especial à Coordenadora Professora Doutora Carla Salgado, pela atenção e dedicação. Agradeço a todos os professores do curso, pelo privilégio do convívio diário com professores doutores em geografia, que me fazem acreditar no futuro e importância desta ciência. Sou grata ao meu orientador Professor Doutor Ivaldo Lima, pela atenção e paciência. Agradeço também ao Professor Mestre Giam Miceli por diversas ajudas para a finalização deste trabalho.

Também agradeço aos meus amigos queridos pelo apoio durante a graduação. Em especial Gabriela e Mariza Santana. Sou grata a todos os amigos que fiz no curso de geografia, pelas conversas e aprendizados.

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RESUMO

A maneira como os países vêm se relacionando no mundo globalizado, com destaque para o período pós-Segunda Guerra Mundial e depois com o fim da Guerra Fria, é de fato interessante e curiosa. Diversos países com adversidades conhecidas historicamente se tornam aliados econômicos, como é o caso do bloco BRICS com países que apresentam diversos aspectos divergentes, mas que, por certas razões, vislumbram mais vantagens ao formarem alianças mesmo com divergências entre alguns dos países do bloco, mas com o objetivo de conquistarem relevância no cenário internacional em prol de uma política globalizada mais eficiente e autônoma dos atores vigentes. Discutir algumas das razões que levam os cinco países a formarem o bloco do BRICS e tornar a pesquisa mais viável para um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi analisada mais especificamente a relação entre Brasil e China, levando em consideração suas relações político-econômicas, num plano estratégico. Para isso, a metodologia escolhida foi a qualitativa com base em artigos acadêmicos, jornalísticos e sites oficiais e instituições de pesquisa. A China deixa claros seus objetivos em relação a políticas internacionais enquanto o Brasil, ainda não definiu suas metas geoestratégicas.

Palavras-chave: Globalização; Regionalização; BRICS; Relação Estratégica

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ABSTRACT

The way countries have been interacting to each other in the globalized world, especially the post-World War II period and the end of the Cold War, is indeed interesting and curious. Several countries with historically known adversities become economic allies, such as the BRICS economic bloc with countries that have different points of standpoints, but which, for certain reasons, see more advantage in forming alliances even with divergences between some of the bloc's countries, but with the aim of gaining relevance at the international scenario, in favor of a more efficient and autonomous globalized policy of the current actors. Discussing some of the reasons that lead the five countries to form the BRICS bloc and make research more viable for a Course Conclusion Work, was analyzed more specifically the relationship between Brazil and China, taking into account their political and economic relations in a strategic plan. In order to do so, the method chosen was the qualitative one based on academic articles, journalistic and official websites and institutions. China makes clear its objectives in relation to international policies, while Brazil has not yet set its geostrategic goals.

Keywords: Globalization; Regionalization; BRICS; Brazil-China Strategic

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LISTA DE FIGURAS

MAPAS

Mapa 1: Países pertencentes ao Terceiro Mundo...p.17

Mapa 2: Divisão entre Norte e Sul pelo PIB e Paridade de Poder de Compra (PPC) em dólares...p.19

Mapa 3: O mundo visto pelo Brasil...p.33

Mapa 4: Nova Rota da Seda...p.43

Mapa 5: O mundo visto pela China...p.44

QUADRO

Quadro 1: Cúpulas dos BRICS...p.25

GRÁFICOS

Gráfico 1: Projeções do Banco Mundial para o PIB em 2019...p.51

Gráfico 2: Exportações brasileiras para o mundo e para a China (US$ bilhões)...p.55

Gráfico 3: Importações brasileiras do mundo e da China (US$ bilhões)…..p.55

Gráfico 4: Pauta exportadora do Brasil com a China, por intensidade tecnológica do produto...p.56

Gráfico 5: Pauta importadora do Brasil com a China, por intensidade tecnológica do produto...p.57

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SUMÁRIO

Introdução...p.11

1. A formação do BRICS: uma perspectiva

regional-global...p.14

1.1 Entre a Globalização e os Blocos de Poder: a face geoestratégica da regionalização...p.14

1.2 A criação do BRICS: um olhar geo-histórico...p.21

2. A condição geoestratégica do Brasil e da China antes do

BRICS...p.25

2.1 O Brasil extrovertido: entre o subimperialismo e o pragmatismo responsável...p.26

2.2 China: a desconcentração do Império do Centro...p.33

3 A Parceria entre Brasil e China no contexto do BRICS...p.45

3.1 O contexto da década bilateral...p.45

3.2 A vertente tecnológica da aproximação estratégica sino-brasileira...p.52

3.3 A vertente comercial da aproximação estratégica sino-brasileira...p.55

3.4 Uma breve análise do “efeito China”...p.59

Considerações finais...p.65 Referências ...p.67

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INTRODUÇÃO

Brasil e China são países afastados fisicamente e com histórico de adoção de políticas econômicas e sociais bem diferentes, além de terem culturas também muito distintas. Porém, esses países se encontram atualmente como efetivos aliados econômicos. Tal aliança começa no fim do século XX e ganha enorme destaque no século XXI. São países que embora separados por vários aspectos, se identificam quanto ao tamanho territorial e ao posicionamento econômico internacional, com economias que buscam se desenvolver e alcançar posições geoestratégicas mais significativas no cenário global.

A principal aproximação entre esses países se dá no bloco do BRICS, com os outros três países – Índia, Rússia e África do Sul - que compartilham os mesmos objetivos na agenda global. O que torna o bloco alvo de curiosidade científica é a diversidade entre os membros, por mais que possuam semelhanças no que tange à geografia física, como detentoras de grandes reservas de recursos naturais, vastos territórios e contingente populacional expressivo que demanda políticas sociais e recursos energéticos. Esses países chamam a atenção por seus posicionamentos políticos bem diferenciados. Poderiam eles entrar mais vezes em acordo do que em desacordo?

Em contextos geo-históricos distintos, China e Rússia não possuíam políticas amigáveis no século XX, haja vista a disputa sobre a liderança estratégica da região asiática. China e Índia também não possuíam bom relacionamento na sua fronteira, disputando territórios e recursos. Então, o que esperar de países que já foram inimigos no passado juntos num bloco econômico? Quais os interesses que os fizeram abdicar das discordâncias do passado? E quais são as vantagens de se unirem num bloco? E o Brasil, quais os interesses do governo brasileiro em ser membro do bloco? Como pode o Brasil aproveitar da melhor forma esta aliança?

Este trabalho de conclusão de curso visa agregar à geografia política internacional, aspectos pertinentes à relação entre os países membros do BRICS, com destaque para a estratégica relação político-econômica entre Brasil e China. A China foi escolhida como referência metodológica

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12 comparativa devido ao forte crescimento comercial que realiza com o Brasil extrabloco. Assim, neste trabalho enfoca-se a discussão sobre as relações político-econômicas estratégicas mútuas em que o Brasil e a China se encontram neste início de século XXI, o que constitui o núcleo da questão central. Por um lado, o Brasil pode tirar proveito de tais relações (como a parceria com a China) e, por outro, pode acabar comprometidamente se enredando em novas formas de imperialismo, subalternizando-se. As modificações que o bloco BRICS propõe aos organismos internacionais de poder são de grande importância para o Brasil, mas cabe às autoridades brasileiras terem atenção e visão de longo prazo para que, no futuro, o Brasil não seja excluído dos benefícios da economia global.

Abordar a relação geoestratégica entre Brasil e China no âmbito do BRICS é o objetivo geral definido para este trabalho. Outros objetivos que guiam este texto mais especificamente são:analisar aspectos da globalização e regionalização, bem como esclarecer o poder de influência que o Brasil exerce na América do Sul e o poder regional que a China desenvolve na Ásia; traçar um perfil histórico no relacionamento político estratégico que Brasil e China realizaram desde os anos 1970; e, por fim, elucidar os mais recentes acordos estabelecidos entre ambos e como eles se encontram no bloco BRICS.

Este texto está estruturado da seguinte forma: apresenta-se um capítulo inicial para discutir como o bloco econômico do BRICS foi contextualizado em quais circunstâncias históricas e geográficas foi criado. O momento político internacional, em meio à intensificação da globalização, pós Guerra Fria, crises econômicas mundiais abrangendo quase todas as economias e numa época em que outros blocos econômicos foram estabelecidos, com o objetivo de que os países membros ao estarem juntos se tornassem mais fortes e adquirissem mais possibilidades de ver seus interesses alcançados.

Num segundo capítulo, faz-se um apanhado histórico e geográfico de como o Brasil e a China se comportaram politicamente ao longo das suas relações comerciais. As diferentes posturas adotadas por seus governantes e suas consequências. Também foi abordado o caminho que cada país trilhou para alcançar significativa relevância em suas regiões.

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13 E, finalmente, um terceiro capítulo no qual foram analisados dados sobre as relações comerciais que o Brasil vem realizando com a economia que mais cresce no mundo, que também está ocupando o lugar de sua maior importadora. Outro fator abordado é a entrada de empresas chinesas em território brasileiro e a natureza dos produtos que estão sendo comercializados. São também tratadas as medidas que devem ser tomadas pelo Brasil para que não se estabeleça no longo prazo uma desigual relação de poder e dependência com a China.

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1 A formação do BRICS: uma perspectiva regional-global

1.1 Entre a Globalização e os Blocos de Poder: a face geoestratégica da regionalização

Para iniciar este capítulo, trazemos a citação de um trecho do artigo do geógrafo Rogério Haesbaert, que aborda tanto o conceito de globalização e seu fator chave que é o sistema capitalista e as consequências que os mesmos trazem para a sociedade global, quanto à interferência em grande escala que esse processo vem causando em todas as culturas.

A globalização contemporânea é vista antes de tudo como um produto da expansão cada vez mais ampliada do capitalismo e da sociedade de consumo, acarretando uma crescente mercantilização da vida humana, que teria atingido níveis inéditos na história. Numa sociedade moldada pelo fetichismo da mercadoria, dominada pela lógica contábil em que tudo é transformado em grandezas abstratas, passível de ser comprado e vendido, fica difícil imaginar a manifestação de culturas ou “civilizações” com distintos padrões de organização e sociabilidade. (HAESBAERT, 2001, p. 13)

Nos anos 80, vários fatores se conjugaram para consolidar o processo que passou a ser denominado, mais do que economia ou capitalismo “mundial”, de

globalização. O novo padrão tecnológico pautado na informática valorizou

ainda mais o “capital pensante” dos países centrais e acelerou brutalmente os fluxos de capital, ao mesmo tempo que acentuou as desigualdades, com a exclusão das periferias, já mergulhadas na crise do endividamento externo [...]. (HAESBAERT, 2001, p. 16)

Globalização é um tema bastante abordado pela geografia e conta com a contribuição dos geógrafos que buscam compreender seus processos, tais como Milton Santos, Olivier Dollfus, Edward Soja, David Harvey, dentre outros. A globalização apresenta alguns pontos contraditórios, como o aumento do desemprego, taxas inflacionárias cada vez mais comuns, torna a infraestrutura nacional mais sensível às mudanças externas, o que acarreta no aumento das desigualdades de classe e consequentemente aumenta a concentração de renda, além de um interesse muito maior no mercado externo do que no interno, o que agrava mais as carências sociais. Um interessante trecho do texto de Henrique Rattner exemplifica essa situação globalizada.

[...] as dificuldades reais e crescentes de tomada de decisões soberanas dos governos dos Estados nacionais em um contexto caracterizado por tendências

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contraditórias de globalização centralizadora impulsionada pelas corporações transnacionais, e as pressões internas e externas em direção à cooperação baseada em instituições e comunidades autônomas, porém integradas, a nível local, regional e internacional.

O processo de globalização da economia mundial deve ser analisado em suas dimensões contraditórias ainda que complementares. (RATTNER, 1994, p. 102)

É muito provável que os Estados sejam talvez os que mais encontram dificuldades nesse novo mundo globalizado, afinal quem tem ditado a forma com a qual se devem moldar as indústrias e os mercados são os grandes conglomerados multinacionais. Isso se deve fundamentalmente à alta tecnologia, aos elevados recursos financeiros, à atuação que essas empresas transnacionais têm em vários países, pois a dificuldade geográfica das distâncias foi em parte superada pelos sistemas modernos de comunicação.

Consequentemente, a globalização em curso é comandada por e realiza-se no interesse das corporações e conglomerados transnacionais, que exigem a privatização das empresas públicas, a desregulação, a eliminação de tarifas alfandegárias e a liberação total dos fluxos de comércio e de investimentos, criando assim obstáculos à atuação do poder público, no esforço de planejar e executar estratégias alternativas de desenvolvimento, em escala nacional ou regional. (RATTNER, 1994, p. 103-104)

Em um ensaio intitulado “Por uma outra Globalização” (2000) Milton Santos aprofundou seus estudos a respeito desse mundo contemporâneo. Definiu esse momento da terceira revolução industrial como sendo a revolução do meio técnico-científico-informacional, que molda o atual espaço geográfico. Interpretou a globalização em três perspectivas: a) O mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula; b) O mundo como é: a globalização como perversidade; c) O mundo como pode ser: uma outra globalização.

A primeira perspectiva ressalta como a globalização aproxima algumas as pessoas e as informações por meio dos canais de comunicação, mas, por outro lado, aprofunda as diferenças locais, algo que não é divulgado “Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas” (SANTOS, 2000, p. 9) Esse aprofundamento das diferenças que se dá pela via de exclusão é representado pelo aumento da desigualdade social, diminuição das oportunidades de mobilidade social, concentração de renda e aumento da

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16 pobreza. Assuntos de extrema importância social, que devem ser prioridade para qualquer Estado.

Outro ponto abordado por Milton Santos é a nova participação do Estado, Ele discorda do que outros autores defendem e que ficou conhecido como “a morte do Estado”, onde o Estado deixaria de ter um papel importante e estaria fadado a acabar. Santos defende outro ponto de vista sobre a nova participação do Estado.

Fala-se, igualmente, com insistência, na morte do Estado, mas o que estamos vendo é seu fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações cuja vida se torna mais difícil. (SANTOS, 2000, p. 19)

Na segunda perspectiva sobre a globalização na sua forma perversa, M. Santos aborda com mais profundidade as consequências em escala global que vem se tornando mais comuns, como o ressurgimento de doenças, mortalidade infantil, redução dos salários, aumento do desemprego, diminuição da qualidade de vida das pessoas da classe média, males morais e espirituais, além do aprofundamento de egoísmos, indiferença e corrupção.

E por fim, a terceira perspectiva abordada por Milton Santos, possui um caráter otimista, pois espera que a globalização possa de fato mudar e se tornar algo bom para a sociedade global. Para este autor, o caminho para essa nova globalização se dá pela mudança na maneira como são usadas às bases técnicas, que devem servir a outros princípios sociais e políticos.

Considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças aos progressos da informação, a “mistura” de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias.

[...] Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na história do homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. [...] É isso, também, que permite conhecer as possibilidades existentes e escrever uma nova história. (SANTOS, 2000, p. 20-21)

Rattner e Santos a princípio discordam sobre o papel do Estado no mundo globalizado. Rattner acredita que o Estado fica enfraquecido, Santos por sua vez defende que o Estado é fortalecido na globalização para atender a

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17 demanda das empresas multinacionais. Contudo, a meu ver, o Estado que age “para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais” está mais para Estado submetido e por tanto enfraquecido.

O mundo já foi regionalizado de diversas maneiras. Entre os séculos XX e XXI o mundo foi dividido em Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo – que era baseado no critério econômico e de desenvolvimento científico e humano – pertenciam ao Primeiro mundo os países europeus do oeste e Norte Americanos, países em estágio avançado do capitalismo; faziam parte do Segundo mundo os países socialistas, com destaque para os membros do Bloco da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS); por fim os países designados para o Terceiro Mundo1 eram todos os outros, a periferia do capitalismo mundial, como os nem capitalistas e nem socialistas, como demonstrado no Mapa 1.

Mapa 1: Países pertencentes ao Terceiro Mundo

Fonte: Atlas do Mundo Global, 2009, p. 22.

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[...] o Terceiro Mundo, que é pobre, majoritário, dominado por antigas potências coloniais e sem grande poder, define-se por oposição: não se quer nem capitalista, nem comunista.

Esses países situam-se essencialmente no hemisfério Sul. A oposição Norte-Sul, é segundo eles, mais determinante que o confronto Leste-Oeste. Os países do Norte podem ser divididos ideologicamente entre comunistas e ocidentais (economias avançadas de mercado), todos pertencentes, contudo, ao mundo desenvolvido, em face do qual o Sul deve afirmar sua identidade. Trata-se de, ao mesmo tempo, concluir a descolonização, preservar a independência dos países do Sul diante da competição soviético-americana e permitir sua decolagem econômica. (BONIFACE; VÉDRINE, 2009, p. 23)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o transcorrer dos anos 1950 e 1960, o mundo passou a ser dividido em países Desenvolvidos e Subdesenvolvidos, porém esse último termo foi pouco tempo depois modificado para Em Desenvolvimento. Outra perspectiva chamada de Nova Ordem Mundial, também surgiu após o fim da URSS, os países passaram a ser divididos em Centrais, Semiperiféricos e Periféricos; essa divisão estava mais vinculada com as economias dos países e suas empresas. Para o grupo dos Centrais estavam alguns países europeus, os norte-americanos e asiáticos (o grupo dessas unidades políticas com elevado crescimento econômico é denominado Tigres Asiáticos2); os Semiperiféricos são os que mesclam suas economias com características dos países centrais e periféricos, ou seja, passaram por um processo tardio de industrialização – suas economias estão em desenvolvimento. Os países periféricos apresentam uma economia de caráter subordinado aos países centrais e, por vezes, aos países semiperiféricos também, possuem graves dificuldades em desenvolver suas indústrias, o que os torna dependentes das tecnologias de outros países e com economias extrativistas pouco desenvolvidas. Trata-se de processos bem definidos, como se explicitam no texto de Peter Taylor e Colin Flint.

Os processos de centro e periferia são dois tipos opostos de relações complexas de produção. Em termos simples, os processos de centro consistem na relação que combinam salários relativamente altos, tecnologia moderna e um tipo de produção diversificada [...] os processos da periferia são uma combinação de salários baixos, tecnologia mais rudimentar e um tipo de produção simples. [...] as consequências de ambos os processos para esses dois países tiveram mais a ver com as relações sociais do que com o tipo concreto de produto.

O conceito de semiperiferia, que não é nem o centro nem a periferia, combina de uma forma particular ambos os processos. [...] as relações sociais gerais que se produzem nestas zonas supõem a explotação de zonas periféricas, a

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vez que a mesma semiperiferia sofre a explotação do centro. (TAYLOR; FLINT, 2002, p. 21-22)

No Mapa 2, é exposta a divisão dos países pelo Produto Interno Bruto (PIB) de cada um, ao analisá-lo pode se observar que os melhores PIB estão nos países do hemisfério Norte, salve algumas exceções. E é nesse contexto dos países do Norte fazendo acordos com outros países do Norte e os países do Sul fazendo acordos com os demais países do hemisfério Sul, que algumas relações econômicas têm sido feitas entre Norte-Norte e Sul-Sul. O acordo de maior destaque entre os países do Sul-Sul é o bloco econômico do BRICS, que abrange as potências econômicas emergentes da América do Sul e da África, o grande país ex-socialista, Rússia; a potência asiática com surpreendente crescimento econômico, China; e a outra grande asiática que vem conquistando interesse internacional pelas conquistas no campo técnico científico e por ser a segunda maior população mundial, Índia.

Mapa 2: Divisão entre Norte e Sul pelo PIB e Paridade de Poder de Compra (PPC) em dólares

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20 Segundo Pascal Boniface e Hubert Védrine é com a queda do muro de Berlim e com o primeiro uso da força para fazer valer as regras da Carta das Nações Unidas, na Guerra do Golfo (1990-91), que de fato a “globalização” se materializa junto com a noção de “comunidade internacional”. Os teóricos da época, como Francis Fukuyama, ficaram entusiasmados com a possível generalização da democracia e da economia de mercado global, que pensavam ser benéficos para todos, acreditavam também no fim dos conflitos ideológicos, pois o interesse comercial nas trocas prevaleceria. Por outro lado, o cientista político Samuel Huntington, não foi tão otimista, alertando que tal aproximação entre as civilizações poderia acabar mal, com um choque entre culturas, destacando a parte extremista dos mulçumanos. Neste período foram usados conceitos que o caracterizam como “nova ordem internacional”, “valores universais”, “comunidade internacional”, “o fim da história”, “universalistas, globalistas e mundialistas”, como constam no livro Atlas do Mundo Global de Boniface e Védrine.

A questão-chave para se formar um bloco econômico é a convergência de interesses entre os países membros. É necessário que todos os países acreditem que os outros integrantes possam fornecer-lhes vantagens em negociações, tanto entre eles, como em relação a outro bloco adversário.

O primeiro bloco econômico foi a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) criado em 19523 que contava com a participação da França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Poucos anos depois em 1957 foi formado: Mercado Comum ou Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atômica (EURATOM) em 1958 e a criação em 1993 da União Européia (UE).

Dentre os blocos econômicos que o Brasil faz parte, os mais notórios são o MERCOSUL e o BRICS. Do primeiro, criado em 1991, participam o Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina e Venezuela, que se encontra temporariamente suspensa. Este bloco tem como interesse a maior cooperação entre os países sul americanos, com destaque para os países do Cone Sul; como a circulação de bens, facilidades alfandegárias, tarifa externa comum, uma convergência

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21 em assuntos políticos e macroeconômicos, além de fomentar o processo de integração.

O segundo bloco BRICS, tem como participantes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; entre os objetivos do bloco se destacam o político – conseguir realizar uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSONU) – e na economia criar o Banco em Rede dos BRICS que deverá fazer frente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

1.2 A criação do BRICS: um olhar geo-histórico

BRIC é um acrônimo criado pelo economista Jim O‟Neill, para o conjunto das países: Rússia, Brasil, Índia e China. Segundo o Itamaraty, esses países passaram, a partir de 2006, a realizar reuniões paralelas à Assembleia Geral das Nações Unidas. Antes mesmo de o bloco ser criado, já se comentava como estas quatro potências tinham aspectos em comum - economias emergentes, altos índices de crescimento econômico, contingente populacional muito significativo e amplos territórios.

A grande aposta era que esses países viessem a competir excessivamente no mercado internacional. Contudo, os economistas que acreditavam na formação dessa aliança estavam certos, portanto, hoje, com a real criação do bloco outro fator se mostra mais preocupante “o surgimento dos BRICS como mecanismo político-diplomático que se constitui em um momento de redesenho da governança global” (REIS, 2013, p. 51)4

. Segundo Maria Edileuza Fontenele Reis, há na política internacional uma dúvida sobre a “representatividade” e “legitimidade” dos países que a têm guiado nos anos seguintes do pós-guerra.

A primeira cúpula ocorreu em Ecaterimburgo, na Rússia em 2009, com chanceleres representando cada país. O motivo principal que levou a formação do bloco e a realização da primeira cúpula, bem como seu assunto principal, foi

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REIS, M. BRICS: surgimento e evolução. In: PIMENTEL, José Vicente de Sá. O Brasil, os BRICS e a Agenda

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22 a crise de 2008, que prejudicou a economia internacional e que uma futura crise similar poderia ter seu impacto amenizado ou até mesmo ser evitada com a diversificação dos parceiros comerciais. Dentre inúmeros assuntos acordados entre os países do BRIC estavam: a reforma de instituições internacionais, sendo as principais – a inclusão do Brasil e da Índia no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSONU), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM).

[...] avançar na reforma das instituições financeiras internacionais, de maneira a refletir as mudanças na economia global, e afirmaram a percepção de que os países emergentes e em desenvolvimento deveriam ter mais voz e representação naquelas instituições. A coordenação dos BRICS nessa temática tem recebido grande visibilidade, uma vez que resultados tangíveis têm sido alcançados, como o progresso da reforma das quotas no FMI e no Banco Mundial.(REIS, 2013, p. 59)

A segunda cúpula foi sediada em Brasília, em 2010. Esta cúpula deu mais estabilidade ao bloco e já no ano subsequente se pôde perceber uma comercialização mais efetiva entre os membros do bloco. A terceira cúpula foi em Sanya, na China em 2011. O grande destaque foi a entrada da África do Sul no bloco e a inclusão da letra S no acrônimo BRIC, tornando-se, a partir de então, BRICS.

A terceira reunião de líderes avançou na consolidação do mecanismo em seus dois pilares de atuação: a coordenação em foros multilaterais sobre temas de interesse comum e a construção de uma agenda de cooperação intra-BRICS. Fortaleceu-se a cooperação setorial em áreas como agricultura, estatística e de bancos de desenvolvimento, e foram abertas novas vertentes de atuação na área de ciência e tecnologia e no campo da saúde, entre outros. (REIS, 2013, p. 62).

A quarta cúpula ocorreu em 2012, na cidade de Nova Deli, na Índia, onde foram abordados temas variados como a gestão de crise internacional, foi reiterada a importância na mudança nas principais instituições internacionais e foi discutida a questão na guerra da Síria e sobre o Irã, além do desenvolvimento sustentável, educação, urbanização, saúde e etc. A quinta cúpula foi realizada em Durban, África do Sul em 2013, Diego Santos Vieira de Jesus5 destacou como sendo os principais acontecimentos:

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JESUS, Diego Santos Vieira. De Nova York a Durban: o processo de institucionalização do BRICS. OIKOS, Rio de Janeiro: OIKOS, vol. 12, n. 1, 2012. Disponível em:

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[...] deu-se início às negociações do acordo para a criação de um novo banco de desenvolvimento liderado pelos cinco Estados e voltado para o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Receberam destaque as discussões em torno de um fundo comum de reservas com o objetivo de socorrer os governos em caso de ameaça às contas externas. (JESUS, 2013, p. 34)

A sexta cúpula ocorreu em 2014 em Fortaleza. De acordo com a matéria de Renato Galeno, este encontro teve como assuntos desenvolvimento sustentável e inclusão social, mas os pontos mais importantes foram a formalização do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NBD) e os investimentos que cada país aplicou no NBD, que somam US$ 50 bilhões, com expectativa de logo dobrar esse valor. A sede do banco será em Xangai, na China, os presidentes dos bancos serão revezados entre os países e o valor do fundo de reserva poderá ser usado pelos países membros como uma alternativa ao FMI.

A sétima cúpula dos BRICS ocorreu em Ufá, na Rússia em 2015. Segundo as matérias do jornal Sputnik e do jornal O Globo, foi inaugurado o NBD e no mesmo ano já iniciou suas primeiras operações, o presidente é indiano com um mandato de cinco anos e o diretor é brasileiro, o NBD possibilitará a ampliação da participação dos países nos campos econômico e comercial, além de ser uma alternativa aos países membros a hegemonia financeira global do FMI e BM, o que também contribui para criar mecanismos financeiros próprios sem depender dos EUA. Já no âmbito cultural o bloco estabeleceu formas para criar um site.

A oitava cúpula foi realizada em 2016, em Goa, na Índia, foram assinados acordos que já estavam sendo discutidos desde as cúpulas anteriores. Os interesses dos países do BRICS são muitos dentre os discutidos nesse encontro estão:

A coordenação do BRICS tem-se pautado por um enfoque pragmático que busca identificar áreas de cooperação que tenham potencial de gerar iniciativas conjuntas com resultados tangíveis. Com esse propósito, o BRICS vem consolidando agenda de cooperação nos seguintes temas: assuntos financeiros, comércio, agricultura, saúde, ciência e tecnologia, educação, combate ao terrorismo, ao tráfico de drogas e corrupção. (ITAMARATY, 2016)

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24 A nona cúpula ocorreu em 2017, em Xiamen, na China. Conforme o site do Itamarati, voltaram a tratar assuntos como: maneiras viáveis dos países cooperarem economicamente, assuntos sobre governança global – abrangendo Organização Mundial do Comércio (OMC), FMI, BM, Banco Asiático e o G20; segurança internacional, no que tange ao terrorismo e armamento nuclear e intercambio cultural.

A décima cúpula foi realizada em Johanesburgo, África do Sul, 2018. Segundo o site do Ministério das Relações Exteriores e Nicola Pamplona do Jornal Folha de São Paulo, a principal questão foi a guerra comercial entre China e EUA e como isto afeta a economia global, o bloco se posiciona a favor de uma economia aberta em prol de um bom proveito da globalização por todos. Foram tratados assuntos como a necessidade da reforma de organismos políticos e econômicos internacionais, bem como paz, segurança, desenvolvimento sustentável e foram estabelecidos alguns objetivos para a Agenda de 2030, também foi assinado o Acordo de Sede do Escritório Regional para as Américas do Novo Banco de Desenvolvimento, que ficará em São Paulo. Outros objetivos também foram traçados, como no campo da saúde com o estudo de vacinas, construção de um parque tecnológico dos BRICS que os possibilite competir na Quarta Revolução Industrial.

A décima primeira cúpula aconteceu em Brasília, 2019. Segundo a matéria dos jornalistas Mateus Rodrigues, Guilherme Mazui e Luiz Felipe Barbiéri publicada pelo Portal G1, o documento final da cúpula, chamado „Declaração de Brasília‟ tem como principais pontos: as metas para reduzir as emissões de carbono fixadas pelo Acordo de Paris. Reforma ampla das Nações Unidas, o que inclui o Conselho de Segurança. “Preocupação com a possibilidade de uma corrida armamentista no espaço exterior”. Uma economia com mercados mais abertos, contratos justos, reformas estruturais e saudável concorrência. Desenvolvimento de mecanismos para combater a corrupção no setor público.

O BRICS responde por 23% do PIB e 18,2% do comércio mundiais. De 2006 a 2017, o comércio intrabloco evoluiu de US$ 92 bilhões para US$ 288 bilhões. No mesmo período, o comércio do Brasil com os demais BRICS chegou a US$ 89,7 bilhões, um crescimento de 27,7 % com relação ao ano anterior. (Itamaraty, 2018)

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25 Quadro 1: Cúpulas dos BRICS

Fonte: Autoria própria.

No capitulo seguinte, o leitor encontrará informações de como Brasil e China se tornaram hegemonias em suas regiões. Certas características em comum como, grandes territórios e diversas fronteiras para poder disseminar suas culturas, posturas econômicas diferenciadas de seus vizinhos, postura política expressiva que influencia nas decisões de gestão dos vizinhos, são alguns pontos a serem abordados.

2 A condição geoestratégica do Brasil e da China antes do BRICS

Um dos aspectos que os países do bloco BRICS possuem em comum é que todos representam potências regionais em seus respectivos continentes. Por se tratar de cinco países complexos, serão abordados, nesse trabalho, Brasil e China. Devido à enorme influência que a China vem exercendo no Brasil, com compra de terras (conforme consta no livro Expulsões: brutalidade e complexidade na economia global, da autora Saskia Sassen), investimentos na infraestrutura nacional, com a abertura de estradas, portos (noticiado pelo portal G1 em 2012 sobre o interesse de 3 estatais chinesas na construção de uma ferrovia ligando Cuiabá à Santarém) e, por cada vez mais, ser o principal importador dos produtos alimentícios brasileiros (de acordo com o site do banco Santander, que fez um balanço com informações do Ministério da Indústria, comércio exterior e serviços, o maior importador brasileiro é a China),

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26 com destaque especial para a soja, a referência chinesa será tomada como variável de controle para a análise aqui proposta.

2.1 O Brasil extrovertido: entre o Subimperialismo e o Pragmatismo Responsável.

A partir de meados da década de 1980, a América Latina passou por um período de redemocratização, ou seja, as ditaduras militares estavam se dissolvendo e os países estavam voltando ao sistema político democrático, marcado pelo voto popular. Como a ditadura brasileira havia contribuído com os Estados Unidos para que outros países vizinhos também passassem para o regime ditatorial e militar, quando o Brasil foi aos poucos aliviando a opressão e dissolvendo a ditadura, os demais países também o acompanharam. Isto sinaliza como o Brasil possui forte influência sobre seus vizinhos.

Durante a ditadura o Brasil recebeu bastante investimento norte-americano, o que foi destinado à construção das indústrias nacionais, num período também marcado pela entrada de multinacionais no país. Entre 1965-1974, o Brasil se tornou a 8° maior economia do mundo; a burguesia industrial crescia. Porém, essa burguesia não era mais forte que os latifundiários que ainda se mantinham como os maiores contribuintes para o PIB brasileiro. Assim, com dificuldades de ampliar o mercado interno, a burguesia industrial brasileira expande seus negócios para os vizinhos, como o Uruguai. A capacidade de juntar capital para a criação de uma poupança industrial brasileira era muito baixa, o que deixou o país dependente do financiamento estadunidense e consequentemente sem uma renovação tecnológica crescente. Abrindo mão de uma autonomia econômica e política externa em prol do “milagre econômico”.

O subimperialismo que o Brasil passou a exercer na região era marcado pela exportação de manufaturas, capital e para a busca de fontes de energia e matéria-prima. Desse modo o país adquiriu uma postura expansionista, marca característica do imperialismo. Tal geopolítica foi fomentada pela Escola Superior de Guerra, com destaque para a atuação do general Golbery Couto e Silva. A expansão e consolidação de uma geopolítica foi realizada durante o regime militar tanto para países vizinhos como para dentro do próprio país,

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27 principalmente em direção à Amazônia. Raúl Zibech (2012, p. 37) aponta numa citação do texto de Ruy Mauro Marini de que o subimperialismo requer duas condições básicas: a) “aparatos produtivos nacionais” e b) “política expansionista relativamente autônoma”. Na América Latina naquele momento, apenas o Brasil obtinha tais requisitos. Outro autor que definiu as características de um país subimperialista foi Demétrio Magnoli.

Entre o “centro” imperialista do sistema e sua “periferia” explorada, interpunham-se nações que, embora subordinadas ao capital financeiro internacional, experimentavam um importante desenvolvimento industrial e adquiriram relativa autonomia geopolítica. [...] convertiam-se em nexos do sistema hegemônico dos países imperialistas e funcionavam como guardiões regionais da ordem global.

A teorização sobre o subimperialismo brasileiro atingiu seu ápice, como era de se esperar, na década de 1970, quando a ditadura militar promovia o seu “milagre econômico”. Os teóricos não se preocupavam em analisar factualmente a política externa conduzida pela ditadura brasileira, com seus óbvios traços nacionalistas e seus frequentes desentendimentos com os EUA. (MAGNOLI, 2009, p. 5)

Para caracterizar a postura do Brasil na América Latina, contamos com a contribuição de Bertha Becker e Claudio Egler, quando apontam as políticas externas da ditadura brasileira que buscava para o país o posto de Estado mais importante do sul do continente americano, valendo-se para isso, do apoio dos EUA.

O primeiro destes esforços foi a ofensiva diplomática brasileira na América Latina, através de relacionamentos bilaterais que refletiam os interesses dos Estados Unidos e do Brasil na região. No campo ideológico, os fundamentos da diplomacia do Itamarati foram a “doutrina do cerco” e a “tese de guerra ideológica preventiva”. Esta última manifestou-se no apoio logístico secreto dado aos golpes militares, como na Bolívia, e na repressão aos movimentos de esquerda, como a quase invasão do Uruguai. No campo econômico, a estratégia brasileira visou aumentar sua influência e neutralizar a Argentina. A bacia do Prata foi, assim, o alvo principal através da satelitização do Paraguai, Uruguai e Bolívia, segundo uma diplomacia dos fatos consumados. (BECKER; EGLER, 1993, p. 154)

Qualquer ameaça ao governo militar brasileiro que causasse algum tipo de descontrole na América, por parte dos EUA, seria uma razão para que os militares brasileiros interviessem, como Zibech pondera.

No início da década de 1970, foi divulgado um esquema de intervenção militar no Uruguai denominado Operação Trinta Horas, que seria colocada em marcha caso a instabilidade política ameaçasse transbordar o Estado uruguaio ou se

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nas eleições de 1971 a recente Frente Ampla ganhasse a presidência. (ZIBECH, 2012, p. 39)

Um caso de destaque no texto de Zibech, para exemplificar o poder subimperialista do exército brasileiro na região sul do continente, foi a formação da ditadura militar na Bolívia. Os argumentos usados pelos militares brasileiros foram: “doutrina do cerco” e “guerra ideológica preventiva” como já citados por Becker e Egler. Não por acaso o golpe começou em Santa Cruz, onde se encontravam empresários brasileiros. A participação da ditadura brasileira foi definitiva para a formação da ditadura boliviana.

Nos dias prévios e posteriores ao levantamento de Bánzer aterrissaram aviões no aeroporto de Santa Cruz com munições e armas para os golpistas. Tratava-se de grandes quantidades de metralhadoras que foram entregues nesTratava-ses dias decisivos, quando mineiros estudantes resistiam armados contra membros da Falange Socialista Boliviana, que tinha adotado o nome de Exército Nacionalista Cristão. No dia 15 de agosto, quatro dias antes do golpe, o Brasil tinha mobilizado tropas na fronteira; ao aviões que levavam armas aos militares e aos civis golpistas ostentavam a bandeira brasileira. O envolvimento direto com os golpistas foi tão longe que o cônsul do Brasil em Santa Cruz, Mario Amorío, chegou a ser ferido durante os combates. (ZIBECH, 2012, p. 39-40)

Tal apoio foi feito, mas com um preço a ser pago. O pagamento veio em forma de acesso muito privilegiado ao petróleo, gás, manganês e ferro do vizinho, como também o investimento de uma linha de comunicação até o Pacífico. Tais acordos deram as chances necessárias para que a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana, a IIRSA, fosse criada mais tarde.

Outro país afetado pela expansão brasileira foi o Paraguai, por meio da construção da usina hidrelétrica de Itaipu, em 1973. O Brasil se encarregou em construir a usina e tirou, e ainda tira, um proveito muito elevado do que seria tido como justo. A construção da hidrelétrica foi feita para satisfazer a geopolítica interna brasileira: atrair e usufruir os recursos naturais do Paraguai, bem como isolar a Argentina de uma participação ativa na região meridional da América, o que se confirma mais ainda quando se analisa juntamente a Itaipu, o projeto da usina de Corpus, que seria também construída no rio Paraná, beneficiando Argentina e Paraguai. Porém, a construção de Itaipu inviabilizou a construção desta última. O governo brasileiro tinha como projeto inicial instalar a usina mais à montante de onde se localiza Itaipu, o que não excluiria a construção da usina de Corpus, mas tal projeto foi modificado e a usina ficou à

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29 jusante do que havia sido acordado, o que por fim impossibilitou a existência de outra usina.

A importância dos casos de Itaipu e do golpe de Estado de Bánzer na Bolívia mostra a agressividade do Brasil contra seus vizinhos. Esse papel que se conferia o Brasil era algo novo na região sul-americana, e Marini se esforça de maneira notável para compreendê-lo baseado em um conceito de enorme valor teórico e político. A exportação de capitais que começaram a realizar as empresas localizadas no Brasil à região nesse mesmo período era a faceta econômica dessa política expansionista. (ZIBECH, 2012, p.42)

Após algumas crises e desilusões sofridas pela Argentina, no seu relacionamento com os Estados Unidos, especialmente depois da falta de apoio que o país não esperava dos EUA durante a crise em 2001/2002, esse país sul-americano passou a ter nova postura com o Brasil e puderam então realizar acordos interessantes para ambos. Como o Tratado Tripartite (1979), Tratado de Assunção (1991) realizado primeiro entre Brasil e Paraguai, mas que teve interesse por parte dos argentinos depois das desilusões com os EUA6, Protocolo de Ouro Preto (1994) que resultaram na criação do MERCOSUL. Note-se o destaque para Brasil e Argentina como países líderes, sendo que o Brasil possui economia e PIB superiores aos argentinos.

Certas disputas entre Brasil e Argentina permanecem, porém, a cooperação as supera, especialmente após a crise econômica vivida pela Argentina depois de 2001. E, diga-se, o Brasil experimentou um bom momento econômico nesse mesmo período de recessão em que a Argentina também passava.

O alinhamento com os EUA (Norte-Sul) característico do início da ditadura militar no Brasil sofreu alterações ao longo do governo ditatorial, e é com Geisel que esse desalinhamento se tornou visível. Seu governo teve uma política externa chamada “pragmatismo responsável” que utilizou uma postura diferenciada das políticas externas anteriores.

Três elementos se destacam na política do “pragmatismo responsável”. Primeiro, o afastamento militar e comercial em relação aos Estados Unidos. Já em 1969 o Brasil se recusara a assinar o tratado de Não-Proliferação de Aramas Nucleares, mas é em 1974 que adota posição contra o “alinhamento automático” com os Estados Unidos, baseado na concepção de que os interesses econômicos sobrepõem-se aos ideológicos, exigindo sua defesa,

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A Argentina tinha interesse em participar da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), porém os EUA não permitiram sua entrada.

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estejam onde estiverem. Segundo, uma gradativa interação Sul-Sul. (BECKER; EGLER, 1993, p. 155-156).

A partir dessa nova postura do comércio internacional do Brasil, o país passou a valorizar mais as relações comerciais com países periféricos (Sul-Sul). A transformação de priorização dos parceiros econômicos se deu entre 1970 e 1980, que, segundo Becker e Egler, é quando

[a] participação das exportações brasileiras para as nações industrializadas caiu de 72% para 45%, enquanto que as nações periféricas aumentaram sua participação de 28% para 45%. (BECKER; EGLER, 1993, p. 161)

Com o fim da Guerra Fria em 1991 e o fim da polarização econômica mundial, que se dividia entre capitalistas – liderados pelo EUA, e socialistas – liderados pela União Soviética, o Brasil, que desde o governo Geisel vinha diminuindo seu alinhamento com os EUA, pode com mais tranquilidade instituir uma política externa mais independente, fazendo acordos comerciais com países asiáticos. O principal deles foi e ainda é a China, os acordos entre Brasil e China começaram quando o Brasil ainda era colônia, porém, devido à revolução chinesa os dois países cessaram seus acordos, e os retomaram no fim do século XX, estreitando laços durante o século XXI.

Devido aos acordos que o Brasil vem realizando desde o fim da ditadura até o presente momento. O país se tornou mais independente e com uma economia mais pujante, o que por vezes passou a ser visto por seus vizinhos como uma ameaça, já que o mesmo adentrava seus vizinhos com estatais e empresas brasileiras para realizar obras de infraestrutura.

O trecho do texto do Raúl Zibech exemplifica claramente o momento de tensão e o reaparecimento do conceito de subimperialismo acompanhando as atitudes do Estado brasileiro. E na sequência a contribuição de Magnoli sobre essa postura expansiva das empresas brasileiras.

Diante da ofensiva do capital e do Estado brasileiro na região sul-americana, não é estranho que um conceito como “subimperialismo” volte a aparecer nos debates políticos e estudos acadêmicos. Três décadas depois da publicação do célebre texto de Ruy Mauro Marini, La acumulación capitalista mundial y el

subimperialismo, o conceito ganha atualidade novamente. Nos últimos anos,

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termo “subimperialismo”, inclusive “imperialismo”, com certa frequência. A ascensão do Brasil pode ser uma das razões desse interesse renovado. Os conflitos mantidos por grandes empresas brasileiras em países vizinhos pequenos (Petrobras na Bolívia, Odebrecht no Equador, entre outros), evidenciaram o papel do Brasil na Região. (ZIBECH, 2012, p. 32).

O Brasil não é, evidentemente, “um centro subimperialista”, mas tem importantes interesses econômicos e políticos no entorno sul-americano. A Petrobrás e a Odebrecht atuam, diretamente, em oito dos treze países da América do Sul. A Petrobras é, de longe, a maior empresa estabelecida na Bolívia: as suas atividades representam cerca de 18% do PIB do país e geram um quarto da arrecadação fiscal total. A construtora Queiroz Galvão realiza obras em três países da região. O Brasil é o maior parceiro comercial dos três sócios platinos do Mercosul. A Usina de Itaipu é a maior fonte isolada de recursos externos do Paraguai, um país que recebeu, nas quatro últimas décadas, algo em torno de meio milhão de brasileiros. Os “brasiguaios”, proprietários de terras na faixa leste do Paraguai, tocam o setor mais moderno e produtivo do país vizinho. Na Bolívia, em número significativo, agricultores brasileiros estabeleceram-se junto às fronteiras orientais. (MAGNOLI, 2009, p. 5)

O Brasil possui dimensões continentais e devido às características de terras agricultáveis, a maior reserva de água potável em estado líquido do mundo e a dispersão da ocupação populacional no seu território, contribuem para um crescimento econômico e com grande destaque se comparado aos seus vizinhos. Ele não pertence à classificação de país de terceiro mundo, mas também não se encaixa no primeiro mundo, devido às contradições internas. A potência prodígio da América do Sul possui indicadores sociais vergonhosos, baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), discriminação social elevada, alta concentração de renda, poucas oportunidades de mobilidade social, preconceito regional e étnico, enfim uma série de problemas que o afastam dos índices de países desenvolvidos.

O Brasil é um país de múltiplos tempos e múltiplos espaços. A velocidade de incorporação de inovações tecnológicas é extremamente rápida em parcelas localizadas de seu território e, sincronicamente, vive-se em condições primitivas, com ritmos determinados pela natureza em imensas extensões. Grandes redes nacionais de televisão, semelhantes ao padrão norte americano, estabelecem diariamente a ponte entre o passado e futuro, entre garimpeiros isolados na selva em busca do Eldorado e gerentes de grandes corporações multinacionais instaladas da Avenida Paulista, a “Wall Street” brasileira. (BECKER; EGLER, 1993, p. 18-19)

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32 O Brasil obteve avanço bastante significativo da sua industrialização durante os anos 1969-19737, tendo adotado o método cepalino de Industrialização por Substituição de Importações e com altos investimentos do Estado brasileiro alcançou o maior e mais diverso parque industrial da América Latina, tornando-se a potência regional. Em contra partida era o país com a maior dívida externa na América do Sul.

Logo no início dos anos 1970, em 1973, ocorreu a crise do petróleo o que colocou todos os países do mundo capitalista em séria dificuldade, o Brasil como endividado passou por um período de crise profunda. Que foi sendo superada com a implantação do Plano Real. Desde essa grave crise o governo procurou investir em alianças internacionais que proporcionassem ao Brasil menor vulnerabilidade as crises internacionais.

As alianças mais significativas que o Brasil realizou foram a criação do MERCOSUL, onde estabelece um diálogo mais próximo com os vizinhos sul americanos e o BRICS, que é um bloco com participação de integrantes de dois grandes asiáticos, de um meio asiático e meio europeu e de um africano. Este bloco é o mais diverso que o Brasil participa e também o com planos de estreitamento das relações mais interessantes, pois garante a entrada do Brasil no mercado asiático e traz alianças diversificadas, ou seja, amplia o número de aliados e diminui o risco de crise grave para o país.

Segundo o mapa 3 é possível observar a ilustração de algumas das relações que o Brasil estabelece com o mundo. Aparecem com destaque a relação com os EUA (Norte-Sul) e a dinâmica com os países do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) (Sul-Sul).

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33 Mapa 3: O mundo visto pelo Brasil

Fonte: Atlas do Mundo Global, 2009, p. 106.

2.2 China: a desconcentração do Império do Centro

A China é uma das sociedades contínuas mais antigas do mundo e manteve ao longo desses mais de cinco mil anos uma defesa territorial invejável, um exemplo de defesa e do avanço tecnológico que os chineses detinham no mundo antigo foi a construção da grande muralha para impedir a invasão dos povos do norte. Também ostenta mais de 20 dinastias contínuas e segundo o historiador Fernand Braudel (1989) 22 séculos de império. Por isso a referência ao país como “Império do Centro”.

A China mesmo sendo a maior população do mundo e que habita o terceiro maior território do planeta, também mantem historicamente uma centralização política. Cada forma de governo que dominou a China adotou particulares formas de se manter centralizado fazendo uso da força e dura repressão. Desde o fim da Guerra Civil Chinesa e o início do governo socialista liderado

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34 por Mao Tsé Tung, o maior acontecimento de repressão foi o massacre na Praça da Paz Celestial em 1989, deixando assim o duplo caráter do governo que se diz baseado nos ideais de uma sociedade justa e solidária, mas que para manter sua unidade de Estado totalitário pode quando julgar necessário utilizar da violência para a manutenção do status de inatingível e onipotente. A China como país centralizado e talvez uma possibilidade para driblá-lo é vista pelo geógrafo Rogério Haesbaert da seguinte forma:

Assim como o passado autoritário e repressivo pode explicar e mesmo “legitimar” (pelo menos na visão dos dominantes) a centralização do poder e a manutenção da ditadura, outros elementos muito positivos e frutos também de uma “tradição oriental” podem corroborar caminhos distintos. Um exemplo é a interpretação feita por alguns marxistas de que Mao teria explorado a antiga utopia camponesa de uma espécie de comunismo primitivo para levar em frente o seu projeto revolucionário. (HAESBAERT, 1994, p. 23)

Um fator que pode ser analisado como medida feita pelo governo para se manter no poder e com crescimento econômico significativo é a abertura ao capital estrangeiro em 1979, o objetivo principal era realizar a modernização na agricultura, defesa, indústria, ciência e tecnologia e o retorno veio na mesma década de 1980 possibilitando tais reformas e investimentos.

Essa estratégia de abertura, inédita até então no mundo “socialista”, trouxe sucessos econômicos inegáveis que geraram no país um crescimento recorde na década de 80, tido como um dos maiores e mais estáveis do mundo. Isso não impediu, contudo, que velhos dilemas, muito conhecidos do mundo capitalista, viessem à tona ou fossem reavivados, entre eles a desigualdade social, o desemprego, a inflação, a corrupção e a repressão política. Um individualismo agressivo se projetou pelo interior das antigas comunas, gerando muitas vezes a competição desleal. (HAESBAERT, 1994, p. 20-21)

Porém, não é toda a China que participa de tal abertura econômica. Existem porções do território ainda bem fechadas e segundo Haesbaert (1994) algumas cidades são proibidas de serem visitadas por turistas estrangeiros. A abertura para o mundo capitalista está restrita às ZEE (Zonas Econômicas Especiais) que comportam 14 cidades (as principais são Xangai, Tientsin e Pequim) do litoral chinês. Destaca-se a presença de empresas estatais que são capitaneadas através da CITIC (China International Trust & Investiment Corporation) e recebem benefícios ao firmar seu próprio banco e contrair empréstimos no exterior. Os principais objetivos das ZEE são: a) exportar e b)

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35 atrair capital estrangeiro. Sobre a relação das ZEE com o restante do país, assinala R. Haesbaert;

Quanto aos “íntimos laços com o resto do país”, é uma asserção muito questionável na medida em que o acesso às ZEEs é controlado e, embora não se configure um padrão dualista do tipo “um país, dois sistemas” (até porque isto iria contra a proposta das ZEEs como “centros experimentais” para a difusão da reforma), social e geograficamente a desigualdade entre as “zonas abertas” e regiões vizinhas e o vasto interior do país parece cada vez mais acentuada. (HAESBAERT, 1994, p. 33)

Outro ponto destacado no livro de Haesbaert é a contradição que há entre as cidades que fazem parte das ZEE para as que não fazem e da mão de obra do interior que migra para estas cidades litorâneas em busca de emprego.

O impacto desse mundo ocidental e capitalista, associado ingenuamente pela massa de migrantes, na maioria camponeses, ao mundo “livre e moderno” das cidades e da costa chinesa (“aberta ao mundo exterior”), leva ao acirramento das desigualdades sociais. Estas se reproduzem espacialmente em pelo menos dois grandes “recortes”: o tradicional confronto campo-cidade e, específico da China, a desigualdade entre leste e oeste, as províncias do litoral e as do interior. (HAESBAERT, 1994, p. 37)

Ao adentrar a China, segundo R. Haesbaert, é possível perceber que a centralidade política em nada se assemelha com a diversidade da cultura chinesa, que muda suas características de região para região, tornando cada paisagem única.

À medida que se penetra as pequenas cidades e áreas rurais do oeste do país, a modernidade se rarefaz e as culturas locais manifestam não apenas a China tradicional mas, sobretudo, as múltiplas Chinas representadas por espaços e etnias que se alternam numa diversidade surpreendente em questão às vezes de apenas uma ou duas centenas de quilômetros. A China ocidental é, portanto, a menos ocidentalizada e ao mesmo tempo ao mesmo tempo a menos chinesa [...]. (HAESBAERT, 1994, p. 47)

A China também se mostra como um país que influencia seus vizinhos, projetando-se dentro da sua região Ásia Oriental como um país de forte poder político e econômico. Sua posição geográfica contribui fortemente para seu domínio regional, possui fronteira com o sudeste asiático, Ásia Central, Ásia Meridional e Ásia Setentrional, com muitos vizinhos para estabelecer relações econômicas e acordos de infraestrutura. Também por ser a maior população mundial, existem muitos chineses que migraram para países vizinhos, o que conta a favor para as políticas chinesas, devido à remessa de divisas que

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36 esses emigrantes efetuam, dando origem a uma espécie de Plano Marshall Étnico, segundo alguns analistas.

A numerosa população conta a favor em alguns casos, em outros não. A China possui uma diversidade étnica e cultural que acabam por tornar o país mais divido e por tanto mais frágil em certos aspectos, com um governo pouco flexível e que defende determinada etnia, os demais acabam por se tornar uma resistência relevante. A etnia que possui uma tensa relação com o governo é a Uigur. Esse povo está localizado em Xinjiang, um polo de crescimento regional com elevado potencial. A China desenvolve projetos para a região, que é a porta de entrada entre China e Ásia Central, desenvolver esta região ajudará Pequim a unir o país e aumentar sua influência na região central do continente. Quando a União Soviética e China disputavam zonas de influência na região, uma das estratégias da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) para enfraquecer a China foi apoiar a criação de um país independente em Xinjiang, tentativa que foi fracassada.

Com a formação da União Soviética, a China ficou isolada de acordos com a Ásia central, já que o bloco se estendia até ela e se fazia mais forte na região, ambos disputavam influenciar os países asiáticos que não pertenciam ao bloco, porem nesta época a China se encontrava de certa forma ameaçada pela URSS que planejava maneiras de tornar cada vez mais dividida e frágil a República Popular da China.

Com o fim da URSS (1991), a China necessitou reorganizar suas estratégias geopolíticas regionais, o fim do grande bloco impactou muito a China que acabou por deixar sua política externa com um tom ambíguo, em determinados momentos se posicionava a favor de uma maior interação global e em outros demonstrava certo conservadorismo para manter sua zona regional de influencia. A disputa, para ampliar sua área de influencia ganhou forma com a possível criação da “zona econômica da Grande China” mais uma demonstração do poder regional que a China exercia.

O projeto de formação de uma “zona econômica da Grande China”, embora rechaçado pelo ministro chinês do comércio exterior, vem gerando discussões acirradas em Taiwan. Seria uma das estratégias asiáticas para fazer frente à emergência dos blocos econômicos da CEE e do Nafta (América do Norte) e

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ao mesmo tempo uma estratégia chinesa para diminuir o peso do Japão no oriente. Além de uma forte base econômica, reunindo três potentes tigres (Taiwan, Hong Kong e Cingapura) e a China, este bloco teria uma importante identidade cultural, reforçando os laços da comunidade chinesa na Ásia, com a mesma língua e os mesmos hábitos culturais. (HAESBAERT, 1994, p. 77)

O fim da URSS deixou os países ex-membros bastante enfraquecidos, a China encontrou boa oportunidade de se destacar na região asiática, principalmente na Ásia Central, com os recém-independentes: Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Rússia8. Embora durante o período soviético as disputas fronteiriças fossem acirradas entre soviéticos e chineses, após a dissolução do bloco os países com fronteira com a China encontraram nela uma aliada.

Ao adquirir sua independência, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão herdaram os antigos litígios fronteiriços que persistiam entre a URSS e China. Apesar do degelo sino-soviético da segunda metade da década de 1980, seguiam existindo áreas fronteiriças disputadas e era uma questão que ainda podia provocar fricções graves. (DE PEDRO, 2012, p. 248)

A China logo reconheceu os novos governos independentes e com eles realizou acordos que trouxeram paz às disputas nas fronteiras. O primeiro foi realizado em 1994, entre os governos chinês e cazaque. O acordo com o Quirguistão foi mais complicado, já que o acordo firmado deixou o povo do Quirguistão insatisfeito, devido ao fato de uma significativa área de recursos naturais ter ficado para o estado chinês, os protestantes alegaram uma submissão do governo deles perante o governo chinês. Por último foi feito o acordo fronteiriço entre China e Tajiquistão, em 2002, a demora se deveu a área montanhosa por onde passa fronteira.

Preocupados com a segurança de suas fronteiras os países ex-soviéticos e a China, “a fórmula ficou conhecida como 4+1” segundo Nicolás De Pedro, passaram a participar de reuniões informais para discutir sobre a estabilidade regional. Assim, foram criados dois importantes marcos. Primeiro, o acordo que garantiria a confiança militar nas fronteiras, consistindo em não se atacarem e não realizarem exercícios militares de caráter ameaçador nas fronteiras; segundo, o acordo sobre a diminuição das forças militares nas áreas de fronteira. Tal elenco de países foi denominado Grupo de Shangai.

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