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Entropias geométricas em Teoria Quântica de Campos

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David Rosa Junior

Niter´oi

Janeiro de 2017

(2)

Resumo

Neste trabalho estudaremos alguns tipos de entropias geom´etricas que podem ser definidas em teoria quˆantica de campos. Uma atenc¸˜ao especial ser´a dada `a informac¸˜ao m´utua de Shannon. Sugerir-se-´a uma maneira de calcul´a-la para o estado fundamental de um campo escalar livre sem massa em dimens˜ao arbitr´aria. Al´em disso, ser´a obtida uma forma expl´ıcita para probabili-dade de encontrar uma configurac¸˜ao de campo φ com suporte em SD−1ou em seu complemento, para qualquer D.

V´arios conceitos necess´arios para o c´alculo, tais como a representac¸˜ao de configurac¸˜oes de campo bem definidas de uma teoria quˆantica de campos, o laplaciano fracion´ario, e o determi-nante de um operador diferencial, ser˜ao introduzidos e discutidos ao longo do trabalho.

(3)

Sum ´ario . . . . 3

2 OBSERVAC¸ ˜OES SOBRE NOTAC¸ ˜AO . . . . 5

3 INTRODUC¸ ˜AO . . . . 7

4 ENTROPIAS CL ´ASSICAS E QU ˆANTICAS . . . . 9

5 OBSERVAC¸ ˜OES ´UTEIS SOBRE MEC ˆANICA QU ˆANTICA . . . . 15

6 DETERMINANTES E TEORIA QU ˆANTICA DE CAMPOS EM OR-DEM ~ . . . . 19

7 REGULARIZAC¸ ˜AO, RENORMALIZAC¸ ˜AO E ANOMALIAS . . . . . 23

7.1 Regularizac¸ ˜ao e renormalizac¸ ˜ao . . . . 23

7.2 Anomalias . . . . 24

8 DETERMINANTES . . . . 27

8.1 M ´etodo da func¸ ˜ao zeta . . . 27

8.2 Uma outra definic¸ ˜ao . . . . 31

9 ENTROPIAS GEOM ´ETRICAS . . . . 35

9.1 Representac¸ ˜ao de formas bem definidas de uma teoria qu ˆantica de campos . . . . 37

9.2 C ´alculo da entropia de emaranhamento para uma esfera em tr ˆes dimens ˜oes via discretizac¸ ˜ao . . . . 39

9.3 C ´alculo da R ´enyi-n . . . . 41

10 T ´ECNICAS ´UTEIS PARA O C ´ALCULO DA INFORMAC¸ ˜AO M ´UTUA DE SHANNON . . . . 45

11 C ´ALCULO DA PROBABILIDADE REDUZIDA ASSOCIADA A UMA REGI ˜AO . . . . 51

(4)

12 C ´ALCULO DA INFORMAC¸ ˜AO M ´UTUA DE SHANNON PARA UMA VARIEDADE ARBITR ´ARIA . . . . 57 13 CONCLUS ˜OES . . . . 61 REFER ˆENCIAS . . . . 63

(5)

Ao longo deste trabalho, a n˜ao ser que seja dito explicitamente, o espac¸o f´ısico ´e RD. As

coordenadas nesse espac¸o ser˜ao denotadas por x. As unidades s˜ao tais que ~ = c = kB = 1.

Quando isso n˜ao for feito, deve ficar claro pelo contexto ou ser´a dito explicitamente. Produtos internos ser˜ao denotados por · quando o espac¸o tiver assinatura euclidiana. SD quer dizer a D-esfera e seu interior.

(6)
(7)

3 Introduc¸ ˜ao

O estudo de entropias geom´etricas em teoria quˆantica de campos visa medir as correlac¸˜oes entre os graus de liberdade dentro e fora de uma certa regi˜ao do espac¸o. Esse estudo comec¸ou com o c´alculo da entropia de emaranhamento de uma regi˜ao esf´erica para o estado fundamental do campo escalar livre sem massa [1], obtendo-se o valor S = 0.30a12R

2 (a ´e um parˆametro

que vai a 0 no limite do cont´ınuo). Tal resultado foi interpretado como uma “lei da ´area”, em analogia com a entropia de um buraco negro de Kerr-Newman [2], que ´e proporcional `a ´area do horizonte de eventos.

Desde ent˜ao, uma variedade de resultados foi obtida para a entropia de emaranhamento, con-siderando teorias e estados diferentes [3], [4], [5]. Novas entropias, como a “R´enyi-n” [6] e a informac¸˜ao m´utua de Shannon [7], [8] tamb´em passaram a ser consideradas. Entre os resul-tados obtidos, est˜ao uma definic¸˜ao mais rigorosa do que se quer dizer com “lei da ´area” e a descoberta de que ´e poss´ıvel obter informac¸˜oes importantes sobre a teoria a partir do c´alculo da parte divergente dessas entropias. Para teorias conformes, se sabe que na R´enyi-n e na en-tropia de emaranhamento est˜ao presentes informac¸˜oes sobre a anomalia conforme. Em D = 1, por exemplo, ´e poss´ıvel obter a carga central a partir delas. A busca por novas conex˜oes desse gˆenero constitui uma importante motivac¸˜ao para continuar explorando essas entropias. Tamb´em existem aplicac¸˜oes em outros contextos [8], [3].

Por´em, os resultados para informac¸˜oes m´utuas de Shannon s˜ao escassos, principalmente no cont´ınuo. Um dos poucos c´alculos feitos se encontra na ref. [7], em D = 1, com a regi˜ao geom´etrica sendo um segmento de reta. O resultado confirma a expectativa de que essa entropia fornece informac¸˜oes importantes sobre a teoria, pois o coeficiente da divergˆencia logar´ıtmica ´e proporcional `a carga central.

O presente trabalho comec¸a com uma breve introduc¸˜ao aos diferentes tipos de entropias na mecˆanica cl´assica e quˆantica. A continuac¸˜ao, s˜ao feitas algumas observac¸˜oes importantes sobre mecˆanica quˆantica e teoria quˆantica de campos para o c´alculo das entropias, principalmente para o caso da informac¸˜ao m´utua de Shannon. Na sec¸˜ao sobre teoria de campos, ´e dada uma motivac¸˜ao para o estudo de determinantes de operadores diferenciais, que tamb´em ser´a ´util para o c´alculo das entropias. Finalmente, as entropias s˜ao definidas em teoria quˆantica de cam-pos e s˜ao apresentados m´etodos para calcular as entropias de emaranhamento e R´enyi-n. Nos

(8)

8 Cap´ıtulo 3. Introduc¸˜ao

cap´ıtulos 11, 12 apresentamos, respectivamente, um c´alculo original da probabilidade reduzida associada a uma regi˜ao Σ = SD−1 e da informac¸˜ao m´utua de Shannon associada a uma varie-dade arbitr´aria, para o estado fundamental de um campo escalar livre sem massa em dimens˜ao arbitr´aria.

(9)

4 Entropias cl ´assicas e qu ˆanticas

Existem diversas maneiras de medir as correlac¸˜oes entre duas regi˜oes espaciais em teo-ria quˆantica de campos. As mais conhecidas s˜ao a entropia de emaranhamento, R´enyi-n e a informac¸˜ao m´utua de Shannon. Para motivar as definic¸˜oes usadas, ser´a feita uma breve revis˜ao das definic¸˜oes da entropia nos contextos cl´assico e quˆantico.

Comec¸aremos com a noc¸˜ao de informac¸˜ao cl´assica. Adotaremos o ponto de vista de que a informac¸˜ao de um certo evento est´a relacionada com a probabilidade de ele acontecer: um evento possui mais informac¸˜ao se ´e menos prov´avel [9]. Al´em disso, ´e razo´avel pedir que a informac¸˜ao contida em um par de eventos seja a soma da informac¸˜ao que cada um cont´em. Pode-se mostrar que com essas exigˆencias existe uma ´unica definic¸˜ao, a menos de constantes aditivas e multiplicativas, que ´e a informac¸˜ao de Shannon de um evento x:

I(x) = −ln(px), (4.1)

onde px ´e a probabilidade do evento x ocorrer. Com esse resultado, a entropia de Shannon de

uma distribuic¸˜ao de probabilidades X ´e definida como sendo o valor esperado da informac¸˜ao de Shannon:

S(X) = −X

i

pi ln(pi). (4.2)

A partir dessa definic¸˜ao pode-se definir v´arias medidas ´uteis de correlac¸˜oes entre duas vari´aveis aleat´orias A e B, como a entropia relativa, entropia conjunta, entropia condicional e, finalmente, a informac¸˜ao m´utua de Shannon. Aqui estaremos interessados na ´ultima, que mede qu˜ao inde-pendentes as vari´aveis A e B s˜ao:

S(A : B) ≡ S(A) + S(B) − S(A, B), (4.3)

que tamb´em pode ser escrita como, denotando a probabilidade de Ai e Bj ocorrerem

simulta-neamente por pAiBj, −X i pAi ln(pAi) − X i pBi ln(pBi) + X ij pAiBj ln(pAiBj), (4.4) onde pAi ≡ X j pAiBj, (4.5)

(10)

10 Cap´ıtulo 4. Entropias cl´assicas e quˆanticas

pBi ≡

X

j

pAjBi. (4.6)

Note que, se as vari´aveis forem independentes,

pAiBj = pAipBj, (4.7)

de modo que

S(A, B) = 0. (4.8)

No formalismo quˆantico, as probabilidades aparecem de maneira natural: dado um estado |ψi, pode-se escolher uma base qualquer e calcular as entropias cl´assicas associadas `a distribuic¸˜ao de probabilidade obtida. Uma consequˆencia interessante desse fato ´e que a entropia de um estado em geral depender´a da base que ´e escolhida para fazer o c´alculo. Um sistema que pos-sui uma distribuic¸˜ao estreita no espac¸o de posic¸˜ao, por exemplo, ter´a uma entropia de Shannon nessa base bastante pequena, enquanto que, pelo princ´ıpio da incerteza, ele necessariamente ter´a uma distribuic¸˜ao de probabilidades bastante larga no espac¸o de momentos, implicando em uma entropia elevada. ´E claro que o mesmo valer´a para as outras informac¸˜oes cl´assicas definidas an-teriormente, como a informac¸˜ao m´utua: duas part´ıculas podem estar bastante correlacionadas no espac¸o de posic¸˜ao e com pouca correlac¸˜ao no espac¸o de momentos. ´E bastante impressio-nante, portanto, que essa informac¸˜ao m´utua, no contexto de teoria quˆantica de campos, possa ter informac¸˜oes universais sobre a teoria subjacente, como ser´a visto mais adiante.

No entanto, ´e importante lembrar que, al´em da ignorˆancia quˆantica, que ´e intr´ınseca `a teoria, ´e poss´ıvel tamb´em ter ignorˆancia cl´assica sobre um sistema quˆantico. Isso pode acontecer no caso de n˜ao se conhecer exatamente qual o estado quˆantico do sistema, por uma quest˜ao de falta de precis˜ao suficiente nos equipamentos ou algum outro tipo de ignorˆancia cl´assica. ´E muito importante entender a diferenc¸a entre esses dois tipos de ignorˆancia. A cl´assica, em princ´ıpio, poderia ser eliminada completamente com um aumento na precis˜ao das medidas, da mesma maneira que o lanc¸amento da moeda, em n´ıvel fundamental, n˜ao ´e um evento probabil´ıstico, j´a que se a velocidade inicial de lanc¸amento da moeda e todas as forc¸as fossem conhecidas, seria poss´ıvel prever o resultado. O mesmo n˜ao pode ser dito sobre a ignorˆancia quˆantica: quando se diz que n˜ao se pode conhecer os valores de duas grandezas n˜ao comutantes, se quer dizer que isso nunca ser´a poss´ıvel, nem com uma precis˜ao infinita de qualquer tipo de equipamento. Para ser capaz de descrever ignorˆancias cl´assicas juntamente com as quˆanticas, ´e necess´ario in-troduzir o operador densidade. Dado um sistema quˆantico cuja probabilidade de estar no estado

(11)

|Ψii ´e pi, esse operador ´e definido como

ρ =X

i

pi|Ψii hΨi| . (4.9)

Com esse operador podemos calcular m´edias sobre ensembles: a m´edia de um operador A ´e dada por

hAi = tr(ρA). (4.10)

Com isso, ´e poss´ıvel definir a entropia de Von Neumann de um sistema quˆantico:

S(ρ) = −tr(ρ ln ρ). (4.11)

Essa quantidade possui v´arias propriedades [9], algumas das quais s˜ao listadas a seguir: • S(ρ) ´e nula se e somente se o sistema se encontra num estado quˆantico puro.

• S(ρ) ´e m´axima para um estado de ignorˆancia (cl´assica) m´axima, isto ´e , quando tem-se uma mistura de N estados poss´ıveis, cada um com uma mesma probabilidade igual a N1.

• S(ρ) independe da base em que ´e calculada.

• S(ρ) ´e aditiva: S(ρA⊗ ρB) = S(ρA) + S(ρB).

A operac¸˜ao ⊗ ´e conhecida como produto tensorial e ´e definida por exemplo em [9]. Nota-se, portanto, que essa entropia mede qu˜ao misturado ´e o estado quˆantico do sistema.

Um conceito que ser´a importante para as definic¸˜oes que seguem ´e o de trac¸o parcial de um operador. Considere um espac¸o de Hilbert HAB que pode ser escrito como o produto tensorial

de dois subespac¸os HAe HB, com uma certa base ortonormal

|ψAiBji = |ψAii ⊗ |ψBji , (4.12)

onde |ψAii e |ψBji s˜ao bases ortonormais de HAe HB, respectivamente. O trac¸o parcial de um

operador A ⊗ B com respeito a B ´e um operador que atua no espac¸o A, definido pela relac¸˜ao

(12)

12 Cap´ıtulo 4. Entropias cl´assicas e quˆanticas

Mais concretamente, suas componentes s˜ao dadas por hψAi| trB(A ⊗ B) |ψAji ≡

X

k

(hψAi| ⊗ hψBk|)(A ⊗ B)(|ψAji ⊗ |ψBki) = Aij(trB). (4.14)

Com essa definic¸˜ao, tem-se, para um operador qualquer em HAB,

trA(trBO) = trO. (4.15)

O significado dessa operac¸˜ao pode ser entendido da seguinte maneira: considere um observ´avel OAdefinido somente no subsistema A. Se o sistema A fosse o sistema completo, o valor

espe-rado desse observ´avel seria

hOAi = tr(ρAOA), (4.16)

enquanto que, no caso em que A est´a embutido no sistema maior, essa m´edia seria

hOAi = tr((OA⊗ IB)ρAB). (4.17)

Mas isso pode ser escrito como

hOAi = tr(OAtrB(ρAB)). (4.18)

Essa operac¸˜ao ´e ´util quando se est´a interessado nas propriedades de um subsistema A de um sistema maior. Outra utilidade vem do fato de que dois sistemas est˜ao emaranhados quando seu estado conjunto n˜ao pode ser descrito como um simples produto de estados separados. Isso quer dizer que dado um sistema com dois subsistemas A e B emaranhados, o trac¸o parcial da matriz densidade desse sistema com respeito a um dos subsistemas deve fornecer um operador que descreve um estado misto. Mas, como foi dito anteriormente, a entropia de Von Neumann mede qu˜ao misturado um sistema est´a. Isso faz com que seja natural definir a entropia de emaranhamento de um sistema A com relac¸˜ao a B como segue

−tr(ρAln(ρA)) = −tr(ρBln(ρB)), (4.19)

onde

ρA= trB(ρAB), (4.20)

ρB= trA(ρAB), (4.21)

sendo ρABa matriz densidade do sistema AB. Essa quantidade possui uma generalizac¸˜ao

natu-ral, conhecida como entropia R´enyi-n, definida por 1

1 − nln tr(ρ

n

(13)

com n ∈ N∗. Note que no limite em que n → 1 a entropia de emaranhamento ´e recuperada. Essa propriedade ´e importante no c´alculo de entropias em teoria quˆantica de campos, j´a que em algumas circunstˆancias ser´a mais f´acil calcular o trρn

(14)
(15)

5 Observac¸ ˜oes ´uteis sobre mec ˆanica

qu ˆantica

Existem diversas maneiras de abordar problemas de mecˆanica quˆantica. Uma delas ´e usar a representac¸˜ao de Schr¨odinger, na qual os estados evoluem no tempo e os operadores n˜ao. No caso de um estado puro, representado por um vetor de estado |Ψ(t)i, a evoluc¸˜ao ´e dada pela equac¸˜ao de Schr¨odinger:

i~d |Ψ(t)i

dt = H |Ψ(t)i , (5.1)

onde H ´e o hamiltoniano do sistema. Ao projetar esta equac¸˜ao no espac¸o de posic¸˜ao, se obt´em

− ~ 2 2m N X i=1 ∇2 iψ(x1, ..., xN, t) + V (x1, ..., xN, t)ψ(x1, ..., xN, t) = i~ dψ(x1, ..., xN, t) dt , (5.2) onde ψ(x1, ..., xN, t) ≡ hx1, ..., xN|Ψ(t)i . (5.3)

Dessa maneira, o estado do sistema e, portanto, qualquer informac¸˜ao que possa ser obtida sobre ele, pode ser obtida atrav´es da soluc¸˜ao da equac¸˜ao diferencial parcial acima.

Quando H n˜ao depende do tempo, a equac¸˜ao (5.1) tem a soluc¸˜ao

|Ψ(t)i = e−iHt/~|Ψ(0)i . (5.4)

Essa relac¸˜ao ´e ´util para derivar outra representac¸˜ao conhecida como integral de caminhos. Con-sidere a amplitude de probabilidade de medir uma part´ıcula em xN +1 ≡ xf no instante tf se em

um instante t0ela se encontrava com posic¸˜ao bem definida x0(em uma dimens˜ao, por exemplo):

hxN +1|e−iH(tN +1−t0)/~|x0i . (5.5)

Agora divida o intervalo tN +1−t0em N +1 intervalos de tamanho ∆ e insira v´arias identidades:

Z

dx1...dxNhxN +1|e−iH∆/~|xNi ... hx1|e−iH∆/~|x0i . (5.6)

No limite em que ∆ → 0 usando um hamiltoniano da forma H(x, p) = p

2

(16)

16 Cap´ıtulo 5. Observac¸˜oes ´uteis sobre mecˆanica quˆantica mostra-se [10] que hxN +1|e−iH(tN +1−t0)/~|x0i = lim ∆→0  m 2πi~∆ N +12 Z dx1...dxN e i ~ PN l=1  m 2 xl+1−xl ∆ 2 −V (xl)  ∆ . (5.8) Ou seja, k(xf, tf; xi, ti) ≡ hxf|e−iH(tN +1−t0)/~|xii = Z x(tf)=xf x(ti)=xi [Dx]ei~S[x], (5.9)

onde [Dx] ´e uma integral sobre trajet´orias com extremos fixos.

Uma propriedade importante que k satisfaz, para um t1 < t < t2, ´e a lei de composic¸˜ao

k(xf, tf; xi, ti) =

Z

dx k(x2, t2; x, t)k(x, t; x1, t1). (5.10)

Note que essa relac¸˜ao fornece uma maneira de separar uma integral de caminhos com condic¸˜oes de contorno em duas integrais sobre configurac¸˜oes que moram em duas subregi˜oes, com a integrac¸˜ao de um v´ınculo de continuidade na fronteira compartilhada. Essa propriedade ser´a fundamental para o c´alculo da informac¸˜ao m´utua de Shannon numa teoria quˆantica de campos. Uma maneira de fazer a integral de caminhos (eq. (5.9)) ´e usar a aproximac¸˜ao de ponto de sela, que precisa do conceito de derivada funcional. Este ´ultimo, ´e definido de maneira natural: dado um funcional F de x(t) da forma

F [x] = Z t2

t1

dtf (x(t)), (5.11)

varia-se x de um δx pequeno (no sentido de que (δx)2 pode ser desprezado em relac¸˜ao a δx), com δx = 0 fora do dom´ınio de integrac¸˜ao, e analisa-se a diferenc¸a

F [x + δx] − F [x] ≡ δF. (5.12)

Em primeira ordem, isto ser´a igual a algo da forma Z t2

t1

dt g(x(t)) δx(t). (5.13)

A derivada funcional de F com relac¸˜ao a x(t0) ser´a, ent˜ao, g(x(t0)). Para ilustrar, considere F [x] = x(t) = Z t2 t1 dt0δ(t − t0)x(t0). (5.14) Fazendo a variac¸˜ao: δF = Z t2 t1 dt0δ(t − t0)δx(t0), (5.15) obtemos, δx(t) δx(t0) = δ(t − t 0 ). (5.16)

(17)

Voltando a quest˜ao do ponto de sela, a an´alise ser´a restrita ao caso de interesse, que ´e uma ac¸˜ao da forma S[x] = Z dt x(t)O 2x(t), (5.17)

onde O ´e um operador definido por um n´ucleo K: Ox(t) = Z dt0K(t, t0)x(t0). (5.18) Queremos encontrar Z x(t2)=x2 x(t1)=x1 [Dx]e~iS[x] (5.19)

O primeiro passo do m´etodo do ponto de sela ´e expandir a ac¸˜ao em torno da soluc¸˜ao cl´assica, que ´e encontrada da maneira usual: faz-se um δx em S[x], com δx = 0 fora de (t1, t2) e

procura-se o x12

c para o qual S[x + δx] = 0. Com isso, a expans˜ao fica:

S[xc+ δx] = S[xc] + Z t2 t1 dt δS δx(t) x=xc δx(t) + 1 2 Z t2 t1 dt Z t2 t1 dt0δx(t)K(t, t0)δx(t0) (5.20) Ao escrever o terceiro termo da expans˜ao, foi assumido que o intervalo da integral na eq. (5.18) cont´em [t1, t2]. Isso acontecer´a para os casos de interesse. O segundo termo do segundo membro

´e zero, pela definic¸˜ao de trajet´oria cl´assica. Com isso, a amplitude de probabilidade ´e e~iS[xc] Z [Dδx]e~i 1 2 Rt2 t1dt Rt2 t1 dt0δx(t)K(t,t0)δx(t0), (5.21)

com a condic¸˜ao de contorno de que δx = 0 fora de (t1, t2). Nessa linguagem, a eq. (5.10) pode

ser escrita Z x(t2)=x2 x(t1)=x1 [Dx]e−~iS[x] = Z dxte i ~S[x 1t c] Z [Dδx1t]e i ~ 1 2 Rt t1dt Rt t1dt 0δx 1t(t)K(t,t0)δx1t(t0) ei~S[x t2 c ]× Z [Dδxt2]e i ~ 1 2 Rt2 t dt Rt2 t dt0δxt2(t)K(t,t0)δxt2(t0), (5.22) onde x1t

c , xt2c s˜ao as soluc¸˜oes cl´assicas nos intervalos [t1, t] e [t, t2], respectivamente. δx1t, δxt2

s˜ao as variac¸˜oes associadas aos intervalos [t1, t] , [t, t2] e xt ≡ x(t). Outra maneira de escrever

´e Z x(t2)=x2 x(t1)=x1 [Dx]e~iS[x] = Z x(t2)=x2 x(t)=xt e~iS[x] Z dxte i ~S[x 1t c] Z [Dδx1t]e i ~ 1 2 Rt t1dt Rt t1dt 0δx 1t(t)K(t,t0)δx1t(t0) , (5.23)

(18)

18 Cap´ıtulo 5. Observac¸˜oes ´uteis sobre mecˆanica quˆantica

esse tipo de partic¸˜ao ser´a usado no c´alculo da informac¸˜ao m´utua de Shannon (eq. (12.3)). Para tratar melhor esse tipo de integral ´e conveniente definir β ≡ −it e substituir na eq. (5.9):

k(x2, β2; x1, β1) = M Z x(β2)=x2 x(β1)=x1 [Dx]e−SE [x]~ , (5.24) onde SE[x] = Z βf βi dτ " m 2  dx dτ 2 + V (x) # . (5.25)

Com isso, a equac¸˜ao (5.21) ficar´a e−SE [xc]~ Z [Dδx]e−1~ 1 2 Rβ2 β1dt Rβ2 β1 dt 0δx(t)K(t,t0)δx(t0) , (5.26)

e ser´a obtido um resultado que depende de β1, β2. Caso se deseje obter em func¸˜ao de t1, t2,

basta fazer a continuac¸˜ao anal´ıtica da express˜ao final obtida. Note que as integrais no tempo imagin´ario s˜ao mais bem comportadas. Como esse tipo de integral gaussiana ir´a aparecer repe-tidamente, ser´a ´util encontrar uma express˜ao geral para ela. Considere uma integral da forma

Z dx1...dxne− 1 2 Pn i,j=1Aijxixj = Z dxne−12x TAx , (5.27)

com A sendo uma matriz sim´etrica, sendo, portanto, diagonaliz´avel atrav´es de uma transformac¸˜ao ortogonal:

AD = OTAO. (5.28)

Mudando vari´aveis para y = Ox e usando que o jacobiano de uma transformac¸˜ao ortogonal ´e 1, a integral anterior pode igualar-se a

Z dyne−12 P iλiyi2, (5.29) resultando portanto, s (2π)n Q iλi = r (2π)n detA. (5.30)

Para uma integral de caminhos da forma Z

[Dφ]e−12

R

ΣdDxφ(x)Aφ(x), (5.31)

sendo A um operador diferencial com um n´ucleo A(x, x0), o resultado seria cNΣ2

detA, (5.32)

onde c ´e uma constante independente da geometria e NΣ ´e um termo volum´etrico em Σ, tamb´em

ser´a ´util definir LΣ ≡ c

2 e L ≡ c N

2, onde N ´e um termo volum´etrico em RD. Esses

determi-nantes de operadores diferenciais desempenham um papel fundamental na mecˆanica quˆantica e em teoria quˆantica de campos. Esses objetos ser˜ao estudados no cap´ıtulo 8.

(19)

6 Determinantes e Teoria qu ˆantica de

campos em ordem ~

Nesta sec¸˜ao, x s˜ao as coordenadas no espac¸o-tempo D + 1 dimensional.

Uma teoria quˆantica de campos, assim como a mecˆanica quˆantica, possui v´arias representac¸˜oes. Em geral, o interesse est´a em calcular amplitudes de espalhamento para processos f´ısicos. Es-tas, por sua vez, podem ser usadas para calcular sec¸˜oes de choque a serem medidas em um laborat´orio. Para esse fim, utiliza-se a f´ormula LSZ, que relaciona a func¸˜ao de correlac¸˜ao

h0| T φ(x1)...φ(xn) |0i (6.1)

com a amplitude de espalhamento para um certo processo [11], [12] (T indica ordenamento temporal: campos `a direita est˜ao a tempos menores). Neste trabalho, a atenc¸˜ao ser´a restrita a uma teoria com um ´unico campo escalar em D dimens˜oes espaciais.

Para calcular um objeto da forma

hqf, tf| T ˆq(tl)ˆq(tm) |qi, tii , (6.2)

o procedimento ´e an´alogo ao adotado na eq. (5.5). Ao inserir as identidades, o ordenamento cronol´ogico ser´a automaticamente implementado, j´a que este ordenamento permite atuar nos autovetores nos tempos corretos. Isto ´e, se tl> tm, podemos escrever

hqf, tf| ˆq(tl)ˆq(tm) |qi, tii = hqf, tf| Z dl ˆq(tl) |li hl| ... hm + 1| ˆq(tm) |mi .... (6.3) Logo, hqf, tf| T ˆq(t1)...ˆq(tn) |qi, tii = N Z [Dq]q(t1)...q(tn)eiS. (6.4)

A generalizac¸˜ao para campos ´e imediata:

hφf, tf| T ˆφ(x1)...ˆq(xn) |φi, tii = N

Z

[Dφ]φ(x1)...φ(xn)eiS, (6.5)

Este n˜ao ´e ainda o objeto que aparece na f´ormula LSZ, mas ele pode ser obtido facilmente notando que hφf, tf| T ˆφ(x1)... ˆφ(xn) |φi, tii hφf, tf|φi, tii = R [Dφ]φ(x1)...φ(xn)e iS R [Dφ]eiS , (6.6)

(20)

20 Cap´ıtulo 6. Determinantes e Teoria quˆantica de campos em ordem ~

hφf, tf| T ˆφ(x1)... ˆφ(xn) |φi, tii =

X

n,m

hφf| e−i ˆHtf |ni hn| T ˆφ(x1)... ˆφ(xn) |mi hm| ei ˆHti|φii

(6.7)

=X

n,m

e−iEntfeiEmti

f|ni hn| T ˆφ(x1)... ˆφ(xn) |mi hm|φii . (6.8)

Fazendo ti → ti(1 − i), tf → tf(1 − i) e ti → ∞, tf → −∞, apenas o estado fundamental

contribui e chegamos a hφf|0i h0| T ˆφ(x1)... ˆφ(xn) |0i h0|φii . (6.9) Analogamente, hφf, tf|φi, tii = hφf|0i h0|φii , (6.10) logo, h0| T ˆφ(x1)...ˆq(xn) |0i = R [Dφ]φ(x1)...φ(xn)eiS R [Dφ]eiS , (6.11)

onde as quantidades devem ser calculadas com o tempo “inclinado” por um ˆangulo  → 0. Analogamente ao que foi feito no caso da mecˆanica quˆantica, ´e conveniente continuar incli-nando o tempo at´e chegar a π2, o que corresponde a fazer t → iT , obtendo,

h0| T ˆφ(x1)... ˆφ(xn) |0iE =

R [Dφ]φ(x1)...φ(xn)e−SE

R [Dφ]e−SE , (6.12)

onde o ´ındice E indica que a quantidade ´e euclidiana. ´

E conveniente definir um funcional que gere as quantidades acima a partir de derivac¸˜oes funci-onais, conhecido como funcional gerador:

Z[J ] = R D[φ]e

iS+iR dD+1xJ (x)φ(x)

R [Dφ]eiS . (6.13)

Note que os produtos ordenados podem ser obtidos derivando-se Z em relac¸˜ao a J em diferentes pontos. Al´em disso, ´e conveniente definir uma ac¸˜ao efetiva: algum tipo de ac¸˜ao que consiga incorporar os efeitos quˆanticos da teoria utilizando vari´aveis cl´assicas. Para isso, primeiro se define a funcional, (recolocando os fatores ~ por um momento)

W [J ] = −i~ lnZ. (6.14) Note que δW [J ] δJ (x) = ~ R [Dφ]φ(x)eiSJ/~ R [Dφ]eiSJ/~ = ~ h0| ˆφ(x) |0iJ ≡ ~φJ(x), (6.15)

(21)

onde

SJ = S + ~

Z

dD+1xJ (x)φ(x). (6.16)

φJ(x) representa a m´edia no v´acuo(|0iJ) do operador ˆφ(x) na presenc¸a de uma fonte externa

J, contendo, portanto, informac¸˜oes n˜ao triviais sobre a teoria, como a m´edia do operador de campo no v´acuo (J = 0), que fornece informac¸˜oes sobre a existˆencia de quebra espontˆanea de simetria, por exemplo [10], [12].

Uma definic¸˜ao ´util para estudar φJ(x) ´e a de ac¸˜ao efetiva Γ[φ], que ´e um objeto que satisfaz

δΓ[φJ]

δφJ(x) = −~J(x).

(6.17) Colocando J = 0 ´e obtida uma equac¸˜ao que permite encontrar h0| ˆφ(x)|0i! Note que como φJ

´e func¸˜ao de J ent˜ao J ´e func¸˜ao de φJ. Tentando

Γ[φJ] = W [J ] − ~ Z dD+1x φJ(x)J (x), (6.18) tem-se δΓ[φJ] δφJ(x) = δW [J ] δφJ(x)− ~ Z dD+1x0δ(x − x0)J (x0) − ~ Z dD+1x0φJ(x0) δJ (x0) δφJ(x) (6.19) = Z dD+1x0 δW δJ (x0) δJ (x0) δφJ(x) − ~J(x) − ~ Z dD+1x0φJ(x0) δJ (x0) δφJ(x) . (6.20)

Finalmente, usando a eq. (6.15):

δΓ[φJ]

δφJ(x) = −~J(x).

(6.21) Essa ´e, portanto, uma boa definic¸˜ao de ac¸˜ao efetiva.

´

E instrutivo calcular a func¸˜ao de partic¸˜ao para uma teoria bosˆonica geral da forma L = 1

2∂

µφ∂

µφ − U (φ). (6.22)

O c´alculo de Z pode ser feito usando o m´etodo do ponto-sela discutido na sec¸˜ao anterior: eiW/~ = N eiSJ[φc]/~ Z [Dφ]e−2~1 R d D+1xφ(x)(2+U00 c))φ(x)+1 ~O(φ 3) . (6.23) Fazendo a substituic¸˜ao φ ~ 1

2 → φ, e usando a eq. (5.30) obtem-se,

W [J ] = SJ[φc] + i~

2lndet(2 + U

00

(φc)) + O(~2), (6.24)

onde φc ´e a configurac¸˜ao de campo que extremiza a ac¸˜ao cl´assica. Esse funcional ´e

(22)

22 Cap´ıtulo 6. Determinantes e Teoria quˆantica de campos em ordem ~

semelhantes podem ser feitas para a ac¸˜ao efetiva [10]. No fim, o resultado ´e que as primeiras correc¸˜oes quˆanticas para Γ s˜ao

i~

2lndet(2 + U

00

(φJ)). (6.25)

Uma outra utilidade de Γ vem de que, para v´acuos invariantes sob translac¸˜oes e transformac¸˜oes de Lorentz, [10]

Γ[φJ] = −Uef f(φJ)

Z

dD+1x. (6.26)

Esse Uef f ´e conhecido como potencial efetivo e cumpre um papel fundamental na an´alise dos

poss´ıveis v´acuos da teoria no n´ıvel quˆantico [10]. Esses resultados (eq. (6.24)), (eq. (6.25)) e (eq. (6.26)) ilustram a importˆancia do estudo dos determinantes funcionais, que ser´a desenvol-vido no cap´ıtulo 8.

(23)

7 Regularizac¸ ˜ao,

renormalizac¸ ˜ao

e

anomalias

7.1

Regularizac¸ ˜ao e renormalizac¸ ˜ao

Numa teoria de campos geral, a express˜ao (6.25) ´e divergente, assim como as derivadas do funcional Z[J ], que fornecem quantidades importantes para o c´alculo de sec¸˜oes de choque. As entropias que ser˜ao calculadas tamb´em ser˜ao divergentes. A primeira impress˜ao ´e que teorias quˆanticas de campos n˜ao poderiam possuir um significado f´ısico. No entanto, um pouco de reflex˜ao mostra que isso n˜ao ´e verdade. A sutileza est´a no fato de que os parˆametros que apare-cem na Lagrangiana, como m ou constantes de acoplamento, n˜ao s˜ao necessariamente f´ısicos. A massa de uma part´ıcula, por exemplo, ´e o polo do propagador da teoria, que deve ser finito, e n˜ao o parˆametro m da lagrangiana, que pode ser divergente. Portanto, para que tudo fac¸a sentido, ´e necess´ario aprender como relacionar os parˆametros da lagrangiana com a f´ısica. Suponha que uma certa quantidade f´ısica F seja uma func¸˜ao dos parˆametros da lagrangiana: F = F (λ1, ...λn, m) e que seja calculada em primeira ordem em teoria de perturbac¸˜ao. Em

geral, essa func¸˜ao apresentar´a divergˆencias. Para manipul´a-la, ser´a necess´ario regularizar a ex-press˜ao. Regularizar significa colocar algum parˆametro  na express˜ao de modo que ela seja finita para  6= 0 e a divergˆencia aparec¸a quando  → 0. Um exemplo ´e a regularizac¸˜ao dimen-sional, que consiste em calcular as express˜oes em dimens˜ao D −  arbitr´aria [12], [13], [14]. Nesse m´etodo, surge uma escala de massa µ para manter a dimens˜ao original dos acoplamen-tos. Em outras regularizac¸˜oes tamb´em surgem escalas de massa, por exemplo, ao introduzir um “cut-off”ultravioleta. Este tipo de escala ser´a denotado gen´ericamente por κ.

A seguir, a divergˆencia em F quando  → 0 deve ser eliminada, j´a que F ´e uma quantidade f´ısica. Aqui tamb´em existem v´arias maneiras de se fazer isso, cada uma correspondendo a um esquema de renormalizac¸˜ao diferente. No caso da regularizac¸˜ao dimensional, uma delas se chama esquema de subtrac¸˜ao m´ınima, na qual a parte polar, termos proporcionais a 1n,

s˜ao subtra´ıdos. Isso quer dizer que s˜ao adicionados novos termos `a F, o que pode ser inter-pretado como uma redefinic¸˜ao dos parˆametros da lagrangiana. Muitas vezes s˜ao necess´arios parˆametros (β1, ..., βa) que n˜ao estavam presentes na lagrangiana inicial. Em teorias

(24)

24 Cap´ıtulo 7. Regularizac¸˜ao, renormalizac¸˜ao e anomalias

quantidades convergentes,

F = F (λ1(κ), ...λn(κ), m(κ), κ). (7.1)

Desta forma, aparece nas express˜oes uma dependˆencia com a escala κ. Por outro lado, as grandezas f´ısicas n˜ao podem depender desta escala,

dF

dκ = 0. (7.2)

Outras grandezas f´ısicas Gi obviamente tamb´em tˆem que satisfazer esse tipo de equac¸˜ao. Esse

conjunto de equac¸˜oes ´e conhecido como equac¸˜oes do grupo de renormalizac¸˜ao. As condic¸˜oes iniciais dessas equac¸˜oes vˆem da f´ısica: ´e necess´ario medir (F, Gi) em alguma escala κ0, que no

caso da regularizac¸˜ao dimensional, por exemplo, tem relac¸˜ao direta com a escala de energia do experimento. Depois desse processo, a teoria ser´a finita na ordem considerada, e ter´a poder de predic¸˜ao.

7.2

Anomalias

Um aspecto interessante associado `as entropias geom´etricas ´e a possibilidade de calcular quantidades da teoria, como a carga central de uma teoria conforme. Essas quantidades podem ser usadas para calcular anomalias, por exemplo, que ser˜ao discutidas brevemente nesta sec¸˜ao. Uma anomalia ocorre quando uma simetria cl´assica da ac¸˜ao n˜ao ´e uma simetria da teoria quˆantica. Isso pode ser entendido notando que

Z[J ] = Z

[Dcampos]eiSJ. (7.3)

Para que a teoria seja invariante por alguma transformac¸˜ao, n˜ao basta que a ac¸˜ao seja invariante: a medida de integrac¸˜ao tamb´em tem que ser.

Exemplos de anomalias ocorrem em algumas teorias conformes. Uma teoria ´e dita conforme se sua ac¸˜ao ´e invariante por transformac¸˜oes conformes. Uma transformac¸˜ao conforme ´e uma mudanc¸a de coordenadas x → x0 que induz uma mudanc¸a na m´etrica do tipo g(x) → g0(x) = Ω2(x)g(x). Mostra-se que uma condic¸˜ao necess´aria para que a ac¸˜ao seja invariante sob essas

transformac¸˜oes ´e que Tµµ = 0, onde Tαβ = √1gδgδSαβ ´e o tensor de energia-momento. Em uma

dimens˜ao espacial, para uma teoria conforme em um espac¸o-tempo curvo obtˆem-se [15] hTµ

µi = −

c

(25)

Portanto, no n´ıvel quˆantico, a simetria conforme ´e quebrada. Isso quer dizer, por exemplo, que as func¸˜oes β da teoria podem ser n˜ao nulas. Um exemplo bastante importante de onde isso ocorre ´e na cromodinˆamica quˆantica, uma teoria que ´e conforme classicamente mas n˜ao no n´ıvel quˆantico, o que abre a possibilidade da existˆencia de confinamento [12], [10].

Na express˜ao acima, c ´e a carga central, uma quantidade importante em uma teoria conforme. Para D campos escalares livres, c = D. Assim, essa constante mede de alguma forma o n´umero de graus de liberdade na teoria conforme. Isso n˜ao deve ser encarado com muito rigor, j´a que c pode assumir valores n˜ao inteiros. Em dimens˜oes maiores surgem anomalias similares. Por exemplo, em 3 + 1 dimens˜oes, novamente em um espac¸o-tempo curvo, tem-se [15]

hTµµi = c 16π2CρσκλC ρσκλ a 16π2R˜ρσκλR˜ ρσκλ , (7.5)

onde C ´e o tensor de Weyl , ˜R ´e o dual do tensor de Riemann e a ´e outra quantidade intr´ınseca da teoria conforme. Note que conhecer c e a ´e conhecer essas anomalias.

(26)
(27)

8 Determinantes

8.1

M ´etodo da func¸ ˜ao zeta

Existem v´arios m´etodos para definir o determinante de um operador diferencial, o que fisi-camente corresponde a diferentes maneiras de regularizar e renormalizar a teoria. Um deles ´e conhecido como m´etodo da func¸˜ao zeta do operador diferencial, onde ´e definida a func¸˜ao

ζO,µ(s) = X i  λi µ2 −s , (8.1)

para s ∈ C tal que a soma converge. A escala µ foi introduzida para manter o lado direito da equac¸˜ao adimensional, onde λis˜ao os autovalores do operador, que dependem tanto de O como

das condic¸˜oes de contorno do problema. A seguir, ´e feita a continuac¸˜ao anal´ıtica de ζO,µ(s)

para todo s ∈ C, a menos de poss´ıveis polos, e o logaritmo do determinante do operador O ´e definido como

ln det O ≡ −ζO,µ0 (0). (8.2)

A continuac¸˜ao anal´ıtica de uma func¸˜ao f : D ⊆ C → C anal´ıtica em D ´e uma func¸˜ao g anal´ıtica em um dom´ınio E tal que D ⊆ E e g = f em D. Pode-se demonstrar que tal continuac¸˜ao anal´ıtica ´e ´unica. Considere o caso em que D = R+e que f tenha um polo simples em z0 = 0. Suponha que existam duas continuac¸˜oes anal´ıticas g e h que n˜ao possuem polos

fora de D e defina m ≡ h − g. Tem-se m = 0 em D. Como m ´e uma diferenc¸a de func¸˜oes anal´ıticas, possui uma s´erie de Taylor centrada em qualquer ponto x0 ∈ D com um raio de

convergˆencia |x0|. Com isso garante-se que g = h em um dom´ınio maior do que D (Figura

1). Agora escolhe-se um ponto x1 no dom´ınio extendido e repete-se o processo. Iterando esse

racioc´ınio um n´umero suficiente de vezes conclui-se que a continuac¸˜ao anal´ıtica ´e ´unica. ´

E instrutivo fazer a continuac¸˜ao anal´ıtica de uma func¸˜ao que sempre aparece no c´alculo de determinantes, conhecida como func¸˜ao zeta de Riemann, definida por

ζ(s) =

X

n=1

n−s. (8.3)

Primeiro, usando a identidade

λ−s= 1 Γ(s)

Z ∞

0

(28)

28 Cap´ıtulo 8. Determinantes

Figura 1 – o dom´ınio D ´e a reta preta. A regi˜ao cinza ´e onde a expans˜ao em s´erie de Taylor em torno de x0garante

a unicidade da continuac¸˜ao anal´ıtica.

´e poss´ıvel escrever,

ζ(s) = 1 Γ(s) Z ∞ 0 dt t s−1 et− 1. (8.5)

Depois, separa-se a integral ζ(s) = 1 Γ(s) Z 1 0 dt t s−1 et− 1+ 1 Γ(s) Z ∞ 1 dt t s−1 et− 1, (8.6) e usa-se a identidade t et− 1 = ∞ X k=0 Bk k!t k , (8.7)

onde Bks˜ao os n´umeros de Bernoulli, tabelados. A primeira integral converge ∀s > 1, sendo s

real e a segunda converge ∀s ∈ C. Considerando s > 1 e real, portanto, tem-se: ζ(s) = 1 Γ(s) ∞ X k=1 Bk k! 1 k + s − 1 + 1 Γ(s) Z ∞ 1 dt t s−1 et− 1. (8.8) Como, para m ∈ N, 1 Γ(−m + ) = (−1) mm!(1 + O()), (8.9) o lado direito da eq. (8.8) vale, para s = −m ,

(−1)mBm+1

m + 1. (8.10)

Isso mostra que o ´unico ponto onde o lado direito da eq. (8.8) tem problemas ´e em s = 1! Ele define uma func¸˜ao anal´ıtica em C − { 1 } que ´e igual a ζ(s) em seu dom´ınio original, portanto ´e a continuac¸˜ao anal´ıtica da func¸˜ao zeta de Riemann!

Para ilustrar o c´alculo de um determinante, considere o operador laplaciano unidimensional no intervalo [0, a] com condic¸˜oes de Dirichlet nos extremos do intervalo. Seus autovalores s˜ao

n2π2

a2 , com n ∈ N. A func¸˜ao zeta desse problema ´e

 π2 µ2a2 −s ∞ X n=1 n−2s =  π2 µ2a2 −s ζ(2s), (8.11)

(29)

onde ζ(2s) ´e a func¸˜ao zeta de Riemann usual. Com isso, o logaritmo desse determinante ´e ln  π2 µ2a2  ζd2 dx2,µ (0) − 2ζ0(0) = ln  π2 µ2a2  ζ(0) − 2ζ0(0) = ln(2π) −1 2ln  π2 µ2a2  (8.12) Note que a dependˆencia em µ est´a acompanhada de ζd2

dx2,µ

(0) . Veremos mais adiante que isso sempre acontece. Sempre que se conhece o espectro do operador no problema de interesse, esse ´e o procedimento: escreve-se sua func¸˜ao zeta e tenta-se express´a-la em termos de func¸˜oes cujas continuac¸˜oes anal´ıticas j´a s˜ao conhecidas. No entanto, em uma enorme variedade de proble-mas, o espectro do operador n˜ao ´e conhecido. Nesses casos, o conceito de n´ucleo da equac¸˜ao do calor de um operador diferencial ser´a ´util.

Imagine que se tem um problema de contorno de um operador O em alguma variedade dife-renci´avel M com condic¸˜oes de contorno em ∂M . O n´ucleo da equac¸˜ao do calor FO de um

operador O ´e definido pela equac¸˜ao d

dtFO(x, y, t) + OFO(x, y, t) = 0, (8.13)

junto com a condic¸˜ao

FO(x, y, 0) = δ(x − y), (8.14)

onde FOsatisfaz as mesmas condic¸˜oes de contorno que o operador O nas vari´aveis x, y. Essa

quantidade representa a difus˜ao de uma quantidade unit´aria de calor colocada em y em t = 0 e tem a soluc¸˜ao formal

FO(x, y, t) =

X

i

φi(x)φi(y)e−λit, (8.15)

onde φi s˜ao as autofunc¸˜oes ortonormais do problema de contorno em M e λiseus autovalores.

Sua primeira utilidade vem da relac¸˜ao de seu trac¸o em M YO(t) ≡ Z M dDx√g FO(x, x, t) = X n e−λnt, (8.16)

onde g ´e o determinante da m´etrica em M , com a func¸˜ao zeta do operador, que pode ser obtida a partir da eq. (8.4): ζO,µ(s) = 1 Γ(s) Z ∞ 0 dt ts−1X n e−tλnµ2. (8.17)

A segunda, e mais importante, ´e que esse trac¸o possui uma expans˜ao [16] quando t → 0 para o caso em que O possui a forma geral,

(30)

30 Cap´ıtulo 8. Determinantes

onde ∇a ´e a derivada covariante e R o escalar de curvatura. Esta expans˜ao tem a forma

YO  t µ2  ≈ (µ 2)D2 (4πt)D/2 ∞ X j=0 Cj  t µ2 j/2 , (8.19) com Cj = Aj + Bj = Z M dDx√g aj+ Z ∂M dD−1y√g0 bj. (8.20)

Os a’s dependem de potˆencias do tensor de Riemann e contrac¸˜oes, e s˜ao independentes das condic¸˜oes de contorno. Os coeficientes bj s˜ao polinˆomios escalares da m´etrica, do vetor normal

`a fronteira e suas derivadas covariantes e dependem do tipo de condic¸˜ao de contorno imposta (Dirichlet, Neumann, Robin, etc). Tamb´em demonstra-se que aj = 0 para j ´ımpar e b0 = 0.

Essas quantidades est˜ao tabeladas por exemplo em [17], [18], [19]. Os primeiros coeficientes para condic¸˜oes de contorno de Dirichlet de um operador ∇a∇a+ ξR s˜ao os seguintes,

a0 = 1, (8.21) a2 =  ξ − 1 6  R, (8.22) a4 = 1 180 R abcdR abcd− RabRab+ 30(1 − ξ)2R2− (6 − 30ξ)∇2R , (8.23) a2k+1 = 0, (8.24) b0 = 0, (8.25) b1 = − √ π 2 , (8.26) b2 = χ 3, (8.27) b3 = √ π 192(3(3 − 32ξ)χ 2+ 6(16ξ − 1)χ jkχjk − 16(1 − 6ξ) ˆR − 24(8ξ − 1)Rabnanb), (8.28)

onde χab ≡ −∇bna , χ ≡ gjkχjk e ˆR ´e a curvatura na fronteira. Um algoritmo para

(31)

func¸˜oes ´ımpares do vetor normal. Al´em disso, sabe-se que YO(t) decai exponencialmente para

t grande. Essa expans˜ao, a f´ormula (8.17) e o comportamento para t grande de YO(t) implicam

(esquecendo da escala µ por um momento) ζO(s) = 1 Γ(s) " 1 (4π)D/2 X j Cj j−D 2 + s + F (s) # , (8.29)

onde F (s) ´e uma contribuic¸˜ao finita para todo s. Isso pode ser visto separando a integralR0∞ = R1

0 +

R∞

1 na eq. (8.17) e integrando termo a termo. Com essa identidade, ´e poss´ıvel entender

como o determinante depende da escala µ e como ele se comporta com uma mudanc¸a na escala de comprimentos: considere uma mudanc¸a g0 = rg e µ → µ0. Os autovalores do laplaciano se transformam λ0 = r−1λ, de modo que o determinante se transforma em

lndet A 0 µ0  = −ζA000(0) = lndet  A µ2  − ζA,µ(0) ln r2− ζA,µ(0)ln  µ02 µ2  . (8.30)

Repare que conhecer ζO(0) ´e conhecer como o determinante se comporta mediante essas transformac¸˜oes.

Isso est´a de acordo com o que foi obtido na eq. (8.12) , onde a dependˆencia em µ ficou propor-cional `a ζ d2

dx2

(0) = ζ(0) = 0. De volta `a eq. (8.29), note que

ζO(0) =

1

(4π)D/2CD. (8.31)

8.2

Uma outra definic¸ ˜ao

Existe outra maneira de definir o determinante que permite calcular sua parte divergente e geom´etrica, que ´e a que estaremos interessados, diretamente da expans˜ao de Y (t). Para motiv´a-la, considere a integral

Z ∞ 0 e−tm2YO(t)dt = X n (λn+ m2)−1. (8.32)

Aqui fizemos µ = 1. Com isso,

Z ∞ 0 dm2 Z ∞ 0 e−tm2YO(t)dt  =X n ln(λn+ m2)|∞0 . (8.33)

Mudando a ordem de integrac¸˜ao, X n ln(λn+ m2)|∞0 = − Z ∞ 0 dt t−1YO(t). (8.34) Assim, chegamos a, X n ln λn µ2  = Z ∞ 0 dtt−1X i e−µ2λit+ ... = lim →0 Z ∞ 2 dt t−1X i e−µ2λit+ ..., (8.35)

(32)

32 Cap´ıtulo 8. Determinantes

onde “...” na express˜ao acima e at´e o fim desta sec¸˜ao quer dizer contribuic¸˜oes que n˜ao s˜ao geom´etricas e divergentes. Mudando vari´aveis, a escala µ some e t adquire dimens˜ao de comprimento2: lndet(O) = Z ∞ 0 dtt−1YO(t) + ... = lim →0 Z r2 a2 2 dt t−1YO(t) + ..., (8.36)

onde r ´e alguma escala de comprimento do problema e a uma constante que ´e escolhida de modo que ra << 1. Usando a eq. (8.19)

lndetO() = 1 (4π)D2 ∞ X j=0 Z r2 a2 2 dt Cj tj/2−D/2−1+ ... (8.37) = − 1 (4π)D2 C0 −D 2 (2)−D2 + C1 1−D 2 (2)1−D2 + C2 2−D 2 (2)2−D2 + ... + 2C Dln r   ! + ... (8.38) = 1 (4π)D2 C0 D 2 (2)−D2 + 1 (4π)D2 C1 D−1 2 (2)1−D2 + 1 (4π)D2 C2 D−2 2 (2)2−D2 +...+2CDln  r  +.... (8.39)

Um operador que ser´a importante nos c´alculos deste trabalho ´e o laplaciano fracion´ario (−∆)1/2. Uma pergunta natural ´e se existe alguma relac¸˜ao entre seu determinante e o do laplaciano. Para responder isso, considere a equac¸˜ao do calor para esse operador

(−∆)1/2u(x, y, t) + d

dtu(x, y, t) = 0, (8.40)

u(x, y, 0) = δ(x − y). (8.41)

As condic¸˜oes de contorno na vari´avel x s˜ao as mesmas do problema de contorno de interesse, que podemos considerar como sendo Dirichlet. Existe uma diferenc¸a importante entre o lapla-ciano fracion´ario e o laplalapla-ciano usual no que se refere a problemas de contorno Dirichlet: n˜ao ´e suficiente especificar as condic¸˜oes na borda de M num problema de contorno fracion´ario, ´e preciso especific´a-las em todo ¯M (o complemento de M). Isso ser´a discutido com mais cuidado no cap´ıtulo 11. Por enquanto, basta considerar que u satisfaz as equac¸˜oes acima em M e vale 0 em ¯M . Aplicando (−∆)1/2 na eq. (8.40) e voltando a usar a mesma equac¸˜ao fracion´aria:

∆u(x, y, t) + ∂

2

(33)

onde −∆ ´e o laplaciano usual. Note que u(x, y, t) =X i φi(x)φi(y)e−λ 1/2 i t, (8.43)

onde φi s˜ao as autofunc¸˜oes de −∆ e λi seus autovalores, ´e uma soluc¸˜ao para esse problema.

Portanto, o trac¸o do n´ucleo da equac¸˜ao do calor do laplaciano fracion´ario ´e Y (t) =X

i

e−λ1/2i t. (8.44)

Olhando para a eq. (8.35), nota-se que, denotando-se por wios autovalores de (−∆)1/2:

lndet(−∆)1/2 =X i lnwi = Z ∞ 0 t−1X j e−λ1/2j t+ ... =X i lnλ1/2i = 1 2 X i lnλi = 1 2lndet(−∆) + ..., (8.45)

que ´e a propriedade que se esperaria intuitivamente. Finalmente, comentamos sobre a relac¸˜ao entre os determinantes de A e B tais que A = cB, com c uma constante arbitr´aria. Nesse caso,

lndet(A) = X i lnai = X i ln(cbi) = X i ln(bi) + d = lndet(B) + ..., (8.46)

Nos nossos c´alculos estaremos interessados apenas nas contribuic¸˜oes geom´etricas e divergentes, ent˜ao esses termos que n˜ao s˜ao geom´etricos e divergentes ser˜ao descartados.

(34)
(35)

9 Entropias geom ´etricas

Uma teoria quˆantica de campos n˜ao se resume `a obtenc¸˜ao de amplitudes de espalhamento. Pode-se fazer outras perguntas interessantes. Por exemplo, ainda se tem o conceito de estado |Ψi. Isso permite definir a matriz densidade associada a um certo estado na teoria, que por sua vez abre as portas para todas as definic¸˜oes de entropia que s˜ao usadas na mecˆanica quˆantica que foram discutidas no cap´ıtulo 4. Uma definic¸˜ao importante ´e a de entropia de emaranhamento geom´etrica de um estado: dado um estado, qu˜ao emaranhados est˜ao o interior e o exterior de uma certa regi˜ao espacial V ? A resposta ´e dada por

−tr(ρVln(ρV)) = −tr(ρV¯ln(ρV¯)). (9.1)

Tamb´em ´e definida a entropia R´enyi-n de emaranhamento entre as duas regi˜oes geom´etricas: 1

1 − nln tr(ρ

n

V). (9.2)

A ´ultima quantidade que ser´a estudada neste trabalho ´e a informac¸˜ao m´utua de Shannon, cujo significado f´ısico ser´a discutido depois de uma breve introduc¸˜ao `a representac¸˜ao de formas bem definidas de uma teoria quˆantica de campos. O fato ´e que se ter´a uma distribuic¸˜ao de probabi-lidades P [φ] e, com isso, ser´a natural se perguntar sobre como as correlac¸˜oes entre as vari´aveis aleat´orias φ(x) definidas em uma regi˜ao V e ¯V , por exemplo, dependem do tamanho e forma de V . A quantidade que ser´a ´util para medir essa correlac¸˜ao ´e conhecida como informac¸˜ao m´utua de Shannon e ´e definida pela f´ormula

S[PV[φ]] + S[PV¯[φ]] − S[P [φ]], (9.3)

onde PV[φ] ´e a probabilidade de medir uma certa forma em V sem se preocupar pelo seu valor

fora dessa regi˜ao, e S ´e a entropia de Shannon usual.

A entropia de emaranhamento j´a foi estudada e calculada em uma grande variedade de situac¸˜oes. Em D dimens˜oes espaciais esta entropia possui um comportamento da forma [3]

S(V ) = gD−1[∂V ]−(D−1)+ .. + g1[∂V ]−1+ g0[∂V ]ln() + S0(V ). (9.4)

Os gis˜ao proporcionais `a potˆencia (i − 1) de alguma escala de comprimento caracter´ıstica de V

como o raio, no caso em que V ´e uma esfera. O parˆametro  ´e um regulador: a entropia ´e obtida no limite  → 0 sendo, portanto divergente. S0 ´e a parte finita. Note que a maior potˆencia de

(36)

36 Cap´ıtulo 9. Entropias geom´etricas

 vem multiplicada por gD−1, que tem dimens˜ao de comprimentoD−1. A esse fato ´e dado o

nome de lei da ´area. Os termos proporcionais a gi, com i > 0, n˜ao s˜ao universais, no sentido

de que dependem da regularizac¸˜ao escolhida no c´alculo. Isso levanta um questionamento sobre seu significado f´ısico: essa lei da ´area se manifesta concretamente em resultados observ´aveis da teoria? A resposta n˜ao ´e clara e consiste em um problema interessante para ser abordado no futuro.

Ao contr´ario dos gi para i > 0, acredita-se que g0 independa da regularizac¸˜ao e, portanto,

fornec¸a informac¸˜oes importantes sobre a teoria. Em geral, acredita-se que nos pontos fixos conformes de uma teoria quˆantica de campos relativ´ıstica geral, a entropia de emaranhamento associada a uma regi˜ao V possua uma divergˆencia logar´ıtmica com informac¸˜oes n˜ao triviais [6]. Isso foi confirmado em 1 + 1 dimens˜oes para teorias conformes, onde g0 = c3, c ≡ carga central

da teoria. Tamb´em existe uma proposta de relac¸˜ao entre g0 e quantidades importantes de uma

teoria conforme em 3 + 1 e 5 + 1 dimens˜oes, como os coeficientes da anomalia de Weyl [6]. As entropias de R´enyi-n n˜ao possuem tantos resultados quanto `a de emaranhamento, mas ainda assim j´a existem conex˜oes conhecidas entre g0 e quantidades importantes da teoria conforme

[6]. Por outro lado, c´alculos de informac¸˜ao m´utua de Shannon s˜ao escassos na literatura. Um resultado de que se tem conhecimento ´e o apresentado em [7], [8], onde ´e feito o c´alculo em 1 + 1 dimens˜oes para um segmento de reta de tamanho l, contido em uma reta de tamanho L >> l , para um campo escalar livre sem massa em seu estado fundamental. Em [7], ´e feito o c´alculo para duas definic¸˜oes distintas de probabilidades reduzidas I1 e I2. Para I2, o resultado

para o coeficiente g0 ´e

g0 =

1

4, (9.5)

enquanto que o c0 de I1 ´e duas vezes o de I2. No cap´ıtulo 12 ser´a proposta uma maneira

de calcular a parte geom´etrica e divergente da informac¸˜ao m´utua de Shannon e, portanto, o coeficiente g0associado a uma regi˜ao V suave qualquer, para um campo escalar livre sem massa

(37)

9.1

Representac¸ ˜ao de formas bem definidas de uma

teo-ria qu ˆantica de campos

Tem-se na teoria, para cada ponto do espac¸o, uma vari´avel operatorial ˆφ(x) e seu momento conjugado ˆπ(x), que satisfazem a relac¸˜ao de comutac¸˜ao natural

[ ˆφ(x), ˆπ(x0)] = iδ(x − x0). (9.6)

Uma construc¸˜ao que pode ser feita inspirada na representac¸˜ao de posic¸˜ao da mecˆanica quˆantica ´e a de formas bem definidas do campo, isto ´e, estados |φi que satisfazem

ˆ

φ(x) |φi = φ(x) |φi . (9.7)

Tem-se, portanto, uma vari´avel aleat´oria φ(x) para cada ponto do espac¸o. Uma pergunta natural ´e como determinar a distribuic¸˜ao de probabilidades dessas vari´aveis em um certo estado |Ψi, e a resposta pode ser praticamente copiada da mecˆanica quˆantica:

P [φ] = | hφ|Ψi |2 ≡ |Ψ[φ]|2, (9.8)

onde Ψ[φ] ´e conhecido como o funcional de onda do estado. Este funcional evolui conforme a equac¸˜ao de Schr¨odinger da teoria, dada por

ˆ

H |Ψi = id

dt|Ψi , (9.9)

onde ˆH ´e o gerador de translac¸˜oes temporais da teoria, que pode ser obtido via teorema de Noether.

V´arias perguntas naturais podem ser feitas sobre a distribuic¸˜ao de probabilidades P [φ], inspira-das pela discuss˜ao da primeira sec¸˜ao: as vari´aveis s˜ao independentes? Se n˜ao, como exatamente elas se relacionam? Qu˜ao independentes elas s˜ao? Al´em disso, n˜ao ´e necess´ario restringir esse tipo de questionamento apenas `as vari´aveis individualmente. Tamb´em ´e natural se perguntar como o conjunto de vari´aveis associado a uma certa regi˜ao R do espac¸o se relaciona com o conjunto associado a outra regi˜ao V . No caso de um campo escalar livre de massa m, por exemplo, tem-se ˆ H = Z dDx 1 2πˆ 2(x) + 1 2 ˆ φ(x)(−∇2 + m2) ˆφ(x). (9.10)

Na representac¸˜ao de configurac¸˜oes φ(x), os operadores atuam segundo, ˆ

(38)

38 Cap´ıtulo 9. Entropias geom´etricas

ˆ

π(x) → −i δ

δφ(x), (9.12)

de modo que a equac¸˜ao de Schr¨odinger ´e Z dDx  −1 2 δ2Ψ[φ] δφ2(x)+ φ(x)(−∇ 2+ m2)φ(x)Ψ[φ]  = idΨ[φ] dt . (9.13)

Para soluc¸˜oes de energia bem definida, Z dDx  −1 2 δ2Ψ[φ] δφ2(x) + φ(x)(−∇ 2 + m2)φ(x)Ψ[φ]  = E Ψ[φ]. (9.14)

No caso do campo escalar livre, esta equac¸˜ao admite uma fatorac¸˜ao completamente an`aloga `a do oscilador harmˆonico quˆantico, que pode ser obtida definindo os operadores

ˆ a†(x) ≡ √1 2 √ −∇2+ m2φ(x) − iˆˆ π(x), (9.15) ˆ a(x) ≡ √1 2 √ −∇2+ m2φ(x) + iˆˆ π(x). (9.16)

O operador√−∇2+ m2φ(x) pode ser definido da seguinte maneiraˆ

√ −∇2+ m2 φ(x) ≡ˆ Z dDk (2π)D √ k2+ m2 φ(k)eˆ ikx. (9.17) ´

E poss´ıvel encontrar uma express˜ao para a atuac¸˜ao do operador √−∇2 no espac¸o x a partir

dessa definic¸˜ao. Isso ser´a feito no cap´ıtulo 10. A relac¸˜ao entre derivadas no espac¸o de momentos e de posic¸˜ao tamb´em ´e ´util:

δΨ[φ] δφ(x) = Z dDk (2π)De −ikxδΨ[ ˜φ] δ ˜φ(k), (9.18)

onde Ψ[φ] e Ψ[ ˜φ] expressam o funcional de onda como funcional de φ e sua transformada de Fourier, respectivamente. Com isso, ˆH fica

ˆ H = Z dDx ˆa†(x)ˆa(x) + 1 2 √ −∇2+ m2δ(0). (9.19)

O segundo termo ´e claramente a energia de ponto zero da teoria, e o primeiro representa um conjunto infinito de osciladores harmˆonicos quˆanticos. Com essas simplificac¸˜oes, ´e poss´ıvel encontrar o estado fundamental (Ψ0) facilmente, notando que esse ´e o estado que satisfaz

(39)

Ou seja,

δΨ0[φ]

δφ(x) = −

−∇2+ m2φ(x). (9.21)

A soluc¸˜ao pode ser encontrada calculando no espac¸o de momentos. No fim, o resultado ´e: Ψ0[φ] = Ae−

1 2R d

Dxφ(x)−∇2+m2φ(x)

, (9.22)

que ´e mais facilmente interpretada no espac¸o de momentos: Ψ0[ ˜φ] = Ae −12R dD k (2π)D √ k2+m2φ(k) ˜˜ φ(−k) . (9.23)

Para obter a constante de normalizac¸˜ao, faz-se Z [Dφ]Ψ∗0[φ]Ψ0[φ] = Z [D ˜φ]Ψ∗0[ ˜φ]Ψ0[ ˜φ] = 1 = A2 Z [Dφ]e− R dD k (2π)Dωk ˜ φ(k) ˜φ(−k) = A2Y k r π ωk  , (9.24) onde ωk≡ √ k2+ m2, (9.25) [D ˜φ] ≡ Y k d ˜φ(k) (2π)D. (9.26) Assim, Ψ0[ ˜φ] = Y k ωk π 14 e− 1 2 1 (2π)Dωk ˜ φ2(|k|) . (9.27)

Que ´e um produto de func¸˜oes de onda de osciladores harmˆonicos de frequˆencias ωk. Nada mais

natural, j´a que o ˆH j´a indicava que o sistema ´e um conjunto infinito de osciladores.

9.2

C ´alculo da entropia de emaranhamento para uma

es-fera em tr ˆes dimens ˜oes via discretizac¸ ˜ao

Existem v´arias maneiras de calcular entropias de emaranhamento e uma grande variedade de resultados ´e conhecida [4], [3]. Aqui ser´a comentada a ideia por tr´as do c´alculo da entropia de emaranhamento do estado fundamental de um campo escalar livre sem massa em 3 dimens˜oes espaciais. O c´alculo se baseia na discretizac¸˜ao da teoria. A express˜ao formal para a matriz reduzida, chamando V de regi˜ao in e ¯V de regi˜ao out, ´e

ρ(φin, φ0in) =

Z

(40)

40 Cap´ıtulo 9. Entropias geom´etricas

O c´alculo ´e feito explorando a propriedade de que pode-se interpretar o campo como uma colec¸˜ao de osciladores acoplados. Primeiro, calcula-se a entropia de emaranhamento de dois osciladores acoplados com H = 12(p2

1+ p22+ k0(x21+ x22) + k1(x1− x2)2) tomando-se o trac¸o

sobre o oscilador “de fora”:

ρout(x2, x02) =

Z

dx1ψ0∗(x1, x2)ψ0(x1, x02). (9.29)

Nesse caso, os autovalores podem ser obtidos por meio de um ansatz e o c´alculo da entropia n˜ao ´e dif´ıcil [1]. Depois, considera-se um sistema da forma

H = 1 2 X i p2i +X i,j xiKijxj ! . (9.30)

Depois de algumas manipulac¸˜oes, mostra-se que ρout(xn+1, ..., xN, xn+10, ..., x0 N) = Z dx1...dxnψ∗0(x1, ..., xn, xn+1, ...xN)ψ0(x1, ..., xn, x0n+1, ...x 0 N) (9.31) ´e um produto de matrizes densidades de 2 osciladores. A entropia ´e ent˜ao calculada somando a contribuic¸˜ao de cada um dos termos do produto.

O pr´oximo passo ´e discretizar o hamiltoniano do campo escalar livre. Isso ´e feito decompondo o campo φ(x) e seu momento π(x) em harmˆonicos esf´ericos :

φl,m(r) = r Z dΩ Yl,m(θ, Φ)φ(x), (9.32) πl,m(r) = r Z dΩ Yl,m(θ, Φ)π(x), (9.33) [φl,m(r), πl,m(r0)] = iδll0δmm0δ(r − r0). (9.34)

Essa relac¸˜ao de comutac¸˜ao ´e escolhida de modo a garantir que a relac¸˜ao fundamental de comutac¸˜ao [ ˆφ(x), ˆπ(x0)] = iδ(x − x0) seja obedecida. Com isso, H se tornaP

l,m Hl,m, com Hlm = 1 2 ∞ Z 0 dr πl,m2 + r2 ∂ ∂r φ(r) r 2 + l(l + 1) r2 φ 2 l,m(r) ! . (9.35)

A vari´avel radial cont´ınua r ´e ent˜ao substitu´ıda por uma rede de pontos discretos com espac¸amento a e o sistema todo ´e colocado em uma caixa esf´erica de raio L = (N + 1)a de modo que φl,m(r)

se anula para r ≥ L. As componentes Hlmdiscretizadas tˆem a forma

Hlm = 1 2a N X j=1 πlm,j2 +  j + 1 2 2 φ lm,j j − φlm,j j + 1 2 +l(l + 1) j2 φ 2 lm,j ! , (9.36)

(41)

com

[φlm,j(r), πlm,j0(r0)] = iδllmmjj0. (9.37)

Note que o fator global a1 ´e completamente irrelevante j´a que n˜ao muda o estado fundamental, de modo que pode ser descartado. Os Hlm, portanto, s˜ao da forma dada na eq. (9.30) e o c´alculo

da entropia pode ser feito numericamente, resultando em

S = 0.3M2R2, (9.38)

com M = a−1.

Um fato curioso ´e que o parˆametro de discretizac¸˜ao a simplesmente desapareceu do problema no momento em que o trac¸o parcial foi tomado, j´a que ele apareceu como um fator global multiplicativo que n˜ao altera o estado fundamental. Olhando para a eq. (9.31) e lembrando que os xis˜ao os φ(ri), parece que todas as configurac¸˜oes de campo poss´ıveis v˜ao dar contribuic¸˜oes

finitas. Isso ´e muito diferente do que acontece quando se calcula, por exemplo, R DφeiS[φ], j´a que S cont´em termos como ∇φ que se representam por φ(x+ ~δ δ) ap´os a discretizac¸˜ao, suprimindo fortemente configurac¸˜oes de campo que sejam descont´ınuas. Uma pergunta que podemos fazer ´e se essas formas descont´ınuas deveriam estar contribuindo fortemente para o c´alculo. Pensando por exemplo na energia associada a uma configurac¸˜ao de campo φ

E = 1

2 Z

d3xπ2(x) + |∇φ(x)|2, (9.39)

notamos que uma func¸˜ao descont´ınua claramente ter´a uma energia infinita, j´a que δ2 ´e

diver-gente. Isso sugere que a intuic¸˜ao de que campos descont´ınuos deveriam contribuir pouco pode estar correta. A importˆancia de considerar formas cont´ınuas ficar´a clara na abordagem que apresentaremos no cap´ıtulo 11.

9.3

C ´alculo da R ´enyi-n

Existem v´arias maneiras de calcular essa entropia [20], [3], [6]. Uma delas ´e relacion´a-la com a func¸˜ao de partic¸˜ao em um espac¸o mais complicado do que o da teoria. Comec¸a-se com a seguinte representac¸˜ao do funcional de onda do estado fundamental:

Φ(α) = h0|αi A

Z φ(x,t=0)=α(x)

φ(x,t=−∞)=0

[Dφ]e−SE[φ]. (9.40)

Os tempos nessa express˜ao s˜ao euclidianos. Essa integral ´e feita na regi˜ao −∞ < t < 0. Se o espac¸o da teoria ´e M , isso corresponde a integrar na metade de baixo do espac¸o N = M ×

(42)

42 Cap´ıtulo 9. Entropias geom´etricas

(−∞, ∞). Essa metade ser´a chamada de semiespac¸o de N . A matriz densidade desse estado ´e ρ(α, α0) = Φ∗(α)Φ(α). Para tomar o trac¸o sobre os graus de liberdade em ¯V , consideram-se func¸˜oes α = β ⊕ αV, α0 = β ⊕ α0V que s˜ao iguais a β em ¯V ≡ −V e integra-se sobre todas as

func¸˜oes β. Usando a representac¸˜ao do funcional de onda da eq. (9.40), isso corresponde a colar duas c´opias do semiespac¸o N em ¯V e fazer a integral nesse espac¸o com as seguintes condic¸˜oes de contorno (Figura 2):

Figura 2 – `A esquerda, o semiespac¸o N. `A direita, a colagem.

ρV(αV, α0V) = Z [Dβ]Φ(β ⊕ αV)∗Φ(β ⊕ αV) = A Z φ(x,0+)=α0V(x),x∈V φ(x,0−)=α V(x),x∈V [Dφ]e−SE[φ]. (9.41)

Para o c´alculo de ρ2, ficaria algo da forma

ρ2(αV, α00V) =

Z

[Dα0V]ρV(αV, α0V)ρV(α0V, α 00

V), (9.42)

que representa uma integral funcional em duas folhas do espac¸o `a direita da Figura 2, que chamaremos de π, com as condic¸˜oes de que φ = αV na parte inferior de V na primeira folha,

que a parte superior de V na primeira folha seja colada com a parte inferior de V na segunda folha, e que φ = α00V na parte superior de V na segunda folha. Logo, o trρ2consiste em integrar em um espac¸o que ´e formado por duas folhas π identificando o lado superior de V da primeira folha com o inferior de V da segunda e o lado superior de V da segunda folha com o inferior de V da primeira. Com isso, o trρn

V consiste em pegar n c´opias do espac¸o π e colar o lado de

cima de V da k-´esima c´opia com o lado de baixo de V da (k + 1)-´esima c´opia, de modo que a (n + 1)-´esima c´opia coincide com a primeira. O espac¸o resultante consiste de n folhas de π com singularidades de multivalorac¸˜ao localizadas na fronteira ∂V de V (Figura 3) . Logo,

trρnV = Z(n)

(43)

Figura 3 – Colagem das c´opias, resultando em um espac¸o com singularidades cˆonicas.

onde Z(n) ´e a integral funcional nessa variedade resultante complicada. O fator de normalizac¸˜ao foi escolhido de modo que trρV = 1. Com isso, a entropia R´enyi-n ´e

Sn(V ) =

ln(Z(n)) − nlnZ(1)

1 − n , (9.44)

e o problema foi reduzido ao c´alculo da func¸˜ao de partic¸˜ao em um espac¸o complicado. Nova-mente, o resultado dessa Z em primeira ordem ser´a o logaritmo de um determinante, conforme j´a discutido nas sec¸˜oes anteriores. No entanto, como s˜ao determinantes em espac¸os com sin-gularidades de multivalorac¸˜ao, a expans˜ao (8.19) deve ser modificada [19]. Tamb´em ´e poss´ıvel calcular a entropia de emaranhamento a partir dessa f´ormula fazendo a continuac¸˜ao anal´ıtica para n = 1, no entanto existem algumas sutilezas nesse procedimento que surgem de s´o se conhecer a func¸˜ao em um n´umero discreto de pontos, o que n˜ao ´e suficiente para garantir a unicidade da continuac¸˜ao anal´ıtica [3].

(44)
(45)

10 T ´ecnicas ´uteis para o c ´alculo da

informac¸ ˜ao m ´utua de Shannon

O ponto de partida s˜ao as equac¸˜oes (9.22) e (9.27). Considere m=0, por simplicidade. Conforme j´a comentado, para o c´alculo dessa informac¸˜ao tem-se interesse na probabilidade de medir uma forma φΣ em uma regi˜ao Σ sem se importar pelos valores de φ fora de Σ. Como

a regi˜ao Σ ´e uma regi˜ao do espac¸o de posic¸˜ao e n˜ao de momentos, a f´ormula (9.27) ´e in´util, apesar de mais agrad´avel. Ser´a necess´ario definir o que se quer dizer com o operador√−∇2

que aparece na eq. (9.22). Para isso, ser´a ´util o conceito de func¸˜ao generalizada ou distribuic¸˜ao. Uma distribuic¸˜ao ζ ´e um funcional linear que atua em algum espac¸o Γ de func¸˜oes bem com-portadas [21]. Por exemplo, a distribuic¸˜ao δ unidimensional atua em func¸˜oes f : R → R bem definidas na origem e ´e definida pela seguinte relac¸˜ao:

(δ, f ) = f (0). (10.1)

Um conceito importante ´e o de convergˆencia de uma sequˆencia de func¸˜oes generalizadas. Uma sequˆencia ζ1, ζ2, ..., ζn, ... de distribuic¸˜oes converge para ζ se

limn→∞(ζn, f ) = (ζ, f ), ∀f ∈ Γ. (10.2)

No caso em que n ´e substitu´ıdo por um r´otulo α cont´ınuo, ζα converge para ζ em α = α0 se

limα→α0 (ζα, f ) = (ζ, f ), ∀f ∈ Γ. (10.3)

Um outro conceito ´util ´e o de transformada de Fourier de uma distribuic¸˜ao. A transformada de de ζ ´e definida pela relac¸˜ao

(ζ, f ) = 1

(2π)D(˜ζ, ˜f ), (10.4)

que ´e inspirada pelo teorema de Parseval Z dDx ζ∗(x)f (x) = Z dDx Z dDk (2π)Dζ˜ ∗(k)e−ik.z Z dDk0 (2π)Df (k˜ 0 )eik0.z = Z dDk (2π)Dζ˜ ∗(k) ˜f (k), (10.5) que vale quando as distribuic¸˜oes s˜ao regulares, isto ´e, quando se associam a func¸˜oes ζ(x) e

˜ ζ(k).

´

(46)

46 Cap´ıtulo 10. T´ecnicas ´uteis para o c´alculo da informac¸˜ao m´utua de Shannon

n´ucleo, an´alogo ao discutido na eq. (5.18). O ponto de partida ´e a ac¸˜ao do operador no espac¸o de momentos, dada por

Oαf (x) = Z

dDk

(2π)D|k|

αf (k)e˜ ik.x, (10.6)

onde Oα ≡ (−∇)α2. Essa definic¸˜ao garante que OαOβ = Oα+β, por exemplo.

Um conceito ´util ´e o de medida de uma distribuic¸˜ao, que existe quando esta ´e regular. A medida ζ(x) de uma distribuic¸˜ao regular ζ ´e a que aparece na representac¸˜ao, dada uma func¸˜ao f de prova qualquer,

(ζ, f ) = Z

dDx ζ∗(x)f (x). (10.7)

Procedendo para o c´alculo, a transformada de |k|α ´e Oα(x) = Z dDk (2π)D|k| α eik.x. (10.8) Temos, com λ ∈ R, Oα(λz) = Z dDk (2π)D|k| αeiλk.z. (10.9) Fazendo k0 = λk, Oα(λz) = Z dDk0 (2π)Dλ −α−D|k|αeik0.z = λ−α−D Oα(z). (10.10)

A medida |k|α tem simetria esf´erica. Como a transformada de Fourier de uma func¸˜ao

esferi-camente sim´etrica ´e tamb´em esferiesferi-camente sim´etrica, e Oα(λz) = λ−α−DOα(z), esta deve ser proporcional a r−α−D,

Z dDk

(2π)D|k| α

eik.z = Cαr−α−D. (10.11)

A constante pode ser encontrada exigindo que a ac¸˜ao da distribuic¸˜ao de medida Cα r−α−D no

espac¸o de posic¸˜ao seja igual `a ac¸˜ao de sua transformada no espac¸o de Fourier (eq. (10.4)). Por exemplo, considere a func¸˜ao e−r22 , cuja transformada de Fourier ´e e

−ρ2 2 π D 2 (ρ ≡ |k|). Ent˜ao, πD2 (2π)D Z dD ke−ρ22 ρα = Cα Z dDx e−r22 r−α−D. (10.12)

Essas integrais podem ser calculadas indo para coordenadas hiperesf´ericas: πD2 (2π)D Z dρ e−ρ22 ρα+D−1= Cα Z dr e−r22 r−α−1, (10.13) πD2 (2π)D2 1 2(α+D−2)Γ α + D 2  = Cα2− α 2−1Γ −α 2  , (10.14) Cα = 2α−D2 πD2 Γ(α+D 2 ) Γ(−α2 ) . (10.15)

(47)

Essa deduc¸˜ao ´e v´alida apenas para −D < α < 0. Vamos calcular a transformada da convoluc¸˜ao Kα(x) ≡ Z dDy Oα(x − y)f (y). (10.16) ˜ Kα(k) = Z dDx Kα(x)e−ik.x = Z dDx Z dDy Oα(y − x)f (y)e−ik.x, (10.17) , fazendo (y − x) ≡ z, ˜ Kα(k) = Z dDx Z dDz Oα(z)f (x + z)e−ik.x, (10.18) usando (10.4), ˜ Kα(k) = Z dDx Z dDk0 (2π)D|k| αeik0.xf (k˜ 0 )e−ik.x = |k|αf (k)˜ (10.19) Portanto, o n´ucleo desse operador nesse dom´ınio de α ´e

Oα(x − y) = Cα|x − y|−α−D, (10.20) pois (−∆)α2f (x) ≡ Z dDk (2π)D|k| αf (k)e˜ ik.x = Z dDk (2π)DK˜α(k)e ik.x = Z dDy Oα(x − y)f (y). (10.21) Considere um x0 fixo. Tem-se que Kα(x0) ´e uma func¸˜ao anal´ıtica de α para −D < α < 0.

Imagine que ´e feita uma continuac¸˜ao anal´ıtica para 0 < α < 2, resultando em um Gα(x0)

definido em um dom´ınio maior. Repetindo esse processo para todo x, ´e obtida uma fam´ılia de func¸˜oes Gα(x) rotuladas pelo parˆametro cont´ınuo α. Para −D < α < 0, essa fam´ılia consiste

nas transformadas de Fourier de Pα(k) ≡ |k|αf (k). Imagine que H˜

α(x) sejam as transformadas

de Fourier de Pα(k), sempre que existirem. Isso quer dizer que

Hα(x) =

Z dDk

(2π)DP α

(k)eik.x. (10.22)

Isso implica que, se Hα(x) existe para 0 < α < 2, ent˜ao ´e uma func¸˜ao anal´ıtica de α nesse

dom´ınio. Al´em disso, Hα = Kα para −D < α < 0. Isso quer dizer que Hα ´e uma continuac¸˜ao

anal´ıtica de Kα. Como a continuac¸˜ao anal´ıtica de uma func¸˜ao ´e ´unica, Gα = Hα, ∀α. A

transformada de Fourier de |k|αf (k) na regi˜ao de interesse 0 < α < 2 pode ser obtida a partir˜ da continuac¸˜ao anal´ıtica de Kα(x) !

Quer-se continuar analiticamente a express˜ao Kα(y) = CαR dDx r−α−Dφ(x). Onde r ´e a

(48)

48 Cap´ıtulo 10. T´ecnicas ´uteis para o c´alculo da informac¸˜ao m´utua de Shannon

fim da realizac¸˜ao da continuac¸˜ao anal´ıtica, qualquer hiperesfera que for referida quer dizer uma que seja centrada em y . A continuac¸˜ao anal´ıtica de Cαpode ser feita sem grandes dificuldades,

j´a que a func¸˜ao Γ possui uma continuac¸˜ao conhecida. O restante da express˜ao ´e igual a Z S1 dDx r−α−n(φ(x) − φ(y)) + Z Rn\S1 dDx r−α−Dφ(x) + Z S1 dDx r−α−Dφ(y), (10.23) onde S1 ´e a (D − 1)-esfera de raio 1 e seu interior. Note que o segundo termo ´e bem definido

na regi˜ao α de interesse (0 < α < 2). O primeiro e terceiro termos devem ser tratados com cuidado. O primeiro pode ser escrito como

Z

S1

dr r−α−1 Z

dΩD(φ(x) − φ(y)) (10.24)

Expandindo φ(x) em torno de y e notando que Z

dΩDφ(x) =

Z

dΩD(φ(y) + zi∂iφ(y) + zizj∂i∂jφ(y) + ...), (10.25)

qualquer termo com um n´umero ´ımpar de zi ≡ (x − y)|idar´a 0, portanto

Z dΩDφ(x) = Z dΩD(φ(y) + c2r2+ c4r4+ ...). (10.26) Logo, Z S1 dr r−α−1 Z dΩD(φ(x) − φ(y)) = Z S1 dr r−α+1(c2+ c4r2+ ...), (10.27)

que ´e bem comportada na regi˜ao de interesse. O ´ultimo termo ´e Z

S1

dDx r−α−Dφ(y) = ΩD(1)

Z

dr r−α−1φ(y), (10.28)

onde ΩD(1) ´e a ´area da (D − 1)-esfera de raio unit´ario. Para α < 0, essa express˜ao ´e igual a

−ΩD(1)φ(y)

α , (10.29)

que ´e uma func¸˜ao anal´ıtica de α em C \ { 0 }. Al´em disso, note que Z RD\S1 dDx φ(y)r−α−D = SD(1)φ(y) Z RD\S1 dnx r−α−1. (10.30)

Para α > 0, esta integral ´e igual a

ΩD(1)φ(y)

α . (10.31)

O m´odulo dessa express˜ao ´e idˆentico ao m´odulo do ´ultimo termo da express˜ao (10.23). Por-tanto, para 0 < α < 2, pode-se escrever

(−∆)α2φ(x) ≡

Z

dDx Cα

(φ(x) − φ(y))

Referências

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