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O TRABALHO DO ENFERMEIRO: A RELAÇÃO ENTRE O REGULAMENTADO, O DITO E O FEITO, NO COTIDIANO DO HOSPITAL 1

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Academic year: 2021

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O TRABALHO DO ENFERMEIRO: A RELAÇÃO ENTRE O REGULAMENTADO, O DITO E O FEITO, NO COTIDIANO DO HOSPITAL1

Antônio César Ribeiro2 Lais Helena Ramos3 Edir Nei Teixeira Mandú4

A enfermagem tem suas ações identificadas pelo cuidado e deve assistir ao indivíduo/comunidade, monitorando seus carecimentos, que se expressam a partir das alterações das necessidades humanas básicas no transcurso do processo saúde-doença, o que define a finalidade do seu trabalho (1,2). Tendo sua ação dirigida ao indivíduo necessitado, ao tempo em que se preocupa com a educação para o auto-cuidado, assume, como seu objeto de trabalho, no espaço do hospital, o corpo humano sadio ou doente (1,2). Toda sua a ação, incluindo aquelas relativas à organização do espaço da assistência, deve convergir para o atendimento das necessidades do seu objeto, o que torna o cuidado o núcleo central de sua prática (1). Para a apropriação do seu objeto, a enfermagem tem estruturado o seu saber. Reunindo conceitos das diversas ciências, seu saber dá direcionalidade ao seu trabalho, se constituindo num dos seus instrumentos de trabalho (1,2). A Enfermagem está organizada e inserida num processo de trabalho coletivizado, marcado pela divisão social e técnica no ato de produzir seus serviços (3). Conforme definido na Lei que Regulamenta o Exercício Profissional da Enfermagem brasileira (LEPE)(4), podem exercê-la: o enfermeiro, o técnico de enfermagem, o auxiliar de enfermagem e a parteira. Segundo a LEPE, ao enfermeiro, detentor do saber de enfermagem (1), cabe as ações que requerem tomadas de decisão imediatas e de alta complexidade. A ele compete, privativamente, a organização e o planejamento da

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Estudo síntese de uma pesquisa que se constituiu na Tese de Doutorado do primeiro autor, defendida em Dezembro/2009 no Programa de Pós-Graduação stricto senso do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso – FAPEMAT.

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Enfermeiro, Doutor em Ciências, Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso – anceri@terra.com.br. Rua das Azaléias, 54 Condomínio Florais Cuiabá – Ribeirão do Lipa – 78.049-408 Cuiabá – MT.

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Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo - lais.ramos@unifesp.br,

4Enfermeira, pós-doutora em Saúde Pública, Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso – e nmandu@terra.com.br.

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assistência de enfermagem, além da assunção dos cuidados mais complexos. A partir da definição do plano individual de cuidado o enfermeiro deve delegar tarefas aos seus pares de nível médio – respeitados os níveis de formação e competência – e controlar a eficiência, pela da supervisão direta (4). Assim deve planejar a assistência de enfermagem que é composta pelo histórico de enfermagem; exame físico; diagnóstico de enfermagem; prescrição da assistência de enfermagem; evolução da assistência de enfermagem; e relatório de enfermagem (5). O enfermeiro deve ainda assumir os cuidados mais complexos e a assistência direta dos pacientes graves e em risco de vida (4)

. Neste sentido, assumindo o trabalho da enfermagem como resultante de determinantes econômicos, sociais, políticos e ideológicos (1), coloca-se em destaque o trabalho do enfermeiro, organizado por um estatuto social e mediado por um saber específico – o saber de enfermagem, expresso no cotidiano das práticas que compõem o processo de trabalho em saúde, considerando o seu papel de protagonista na produção do cuidado de enfermagem (1,4). Nesta perspectiva, o estudo teve como objetivo compreender a relação entre a forma de trabalho do enfermeiro no espaço do hospital e o conteúdo das normas legais que conferem institucionalidade do seu trabalho. Trata-se de um Estudo de Caso, com abordagem qualitativa, realizado em um hospital público no município de Cuiabá – MT. Participaram como sujeitos os enfermeiros das unidades de internação de clínica médica e cirúrgica. O trabalho de campo, realizado entre junho de 2008 e março de 2009, foi encaminhado em duas etapas: I. Aplicação de questionário fechado, onde se buscou a caracterização sócio-demográfica e profissional do quadro geral dos enfermeiros do hospital - cenário; observação não-participante do tipo livre; e análise documental (prontuários). II. Entrevista semi-estruturada, utilizando-se o critério de saturação das informações na definição do número de sujeitos. O tratamento e análise dos dados foi realizado com os recursos da técnica de análise de conteúdo, do tipo temática, e os recursos do processo de triangulação de dados. O Projeto pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da UNIFESP, sendo aprovado com Protocolo N.º CEP/UNIFESP/09 N.º 1.398/09. Da análise identificou-se a seguintes categorias: 1) a externalidade do cuidado e do gerenciamento do cuidado ao trabalho do enfermeiro (6, 7, 8)

– evidenciada exatamente durante as suas ausências, pode-se constatar que, em nenhuma das situações em que um dos enfermeiros-assistentes esteve ausente, sua presença fora reclamada pelos Agentes de Nível médio do Trabalho da Enfermagem

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(ANMTE), que encaminham o trabalho de assistência à revelia da presença do enfermeiro, ou por outro profissional da equipe de saúde. Percebeu-se ainda o cuidado como ação secundária com relação às ações administrativas e que, a forma como a enfermagem cuida, prescinde da presença ou permanência do enfermeiro na unidade. 2) a percepção do enfermeiro acerca do seu trabalho – ao fazerem referência à forma de encaminhamento do trabalho de enfermagem, na tentativa de explicarem com se dá a organização do cuidado, encontrou-se mais o tipo padrão idealizado que a coerência entre o dito e o feito, evidenciado nos momentos de observação, onde percebeu-se o distanciamento do enfermeiro do cuidado e/ou de seu comando (6, 9). Além de assumir que seu trabalho é focado na burocracia as enfermeiras deixaram claro que o cuidado é parte do trabalho dos ANMTE e estes, pela prática, assumem, inclusive, as decisões acerca do que fazer e como fazer no encaminhamento do cuidado (1). Mesmo evidenciando traços da hierarquia presente no trabalho em equipe de enfermagem, as enfermeiras invertem os papéis quando assumem que o “suporte da equipe” nas questões relacionadas aos cuidados está na própria vivência prática dos ANMTE, ainda que estes estejam subordinados à sua autoridade técnica. 3) a relação do trabalho do enfermeiro com o conteúdo das normas legais que o regulamentam (4, 10) –os depoentes foram unânimes nas respostas acerca do conhecimento da lei (4), em que pese à evidência de graves equívocos com relação ao seu conteúdo e entendimento, sempre fazendo referência e confundido a LEPE com a normatização do Conselho Federal de Enfermagem sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE (5). Ao fazerem referência à LEPE o fazem como se a regulamentação do seu trabalho fosse algo externo à corporação e seus dispositivos fossem impostos como um constrangimento sem a devida contrapartida, citando a baixa remuneração como não condizente ao cumprimento do real papel do enfermeiro. As opiniões se dividiram no que diz respeito à execução do trabalho em conformidade com a LEPE, trazendo, de forma unânime, a questão polêmica da SAE como expressão do trabalho apenas idealizado. À guisa de conclusão do estudo, tem-se que a organização e o conteúdo do trabalho do enfermeiro no cotidiano do hospital, apreendidos por meio da observação direta e da documentação da assistência, em forma dos registros do trabalho da enfermagem – o feito e pela própria representação dos sujeitos por meio das suas falas – o dito, evidencia uma cisão com a institucionalidade deste trabalho, expressa nas

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normas legais que regulamentam e regulam o exercício profissional da enfermagem brasileira. Considerando o sentido inacabado do processo de construção do conhecimento, sugere-se que outros estudos necessitam ser desenvolvidos naquele espaço, como forma de melhor compreender os fatores determinantes do modo de ser do enfermeiro no seu trabalho.

Palavras-chave: 1.Enfermeiros; 2. Trabalho; 3. Legislação de Enfermagem. Área Temática: Produção social e trabalho em Saúde e Enfermagem.

1. Almeida, MCP, Yazlle Rocha, JS. O saber da enfermagem e sua dimensão prática. 2a ed. São Paulo: Cortez; 1989.

2. Sanna, MC. Os processos de trabalho em enfermagem. Rev. Brasileira de Enfermagem, Brasília, 2007;60(2):221-4.

3. Pires, D. Hegemonia médica na saúde e a enfermagem: Brasil 1500 a 1930. São Paulo: Cortez; 1989.

4. Brasil. Lei 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a Regulamentação do Exercício da Enfermagem e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde; 1986. [citado em 05 mai 2008]. Disponível em:

http://www2.camara.gov.br/internet/legislacao/legin.htm

5. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução n. 272, de 27 de agosto de 2002. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE - nas instituições brasileiras. Rio de Janeiro: COFEN; 2002. Disponível em:http://www.bve.org.br/portal/materis.asp?ArticleID=1256&SectionID=194& SubSection ID=194&SectionParentID=189 .

6. Hausmann, M, Peduzzi, M. Articulação entre as dimensões gerencial e assistencial do processo de trabalho do enfermeiro. Rev. Texto Contexto Enferm. Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 258-65.

7. Lima, MADS, Almeida, MCP. O trabalho de enfermagem na produção de cuidados de saúde no modelo clínico. Rev. Gaúcha Enferm., 1999;20(n. esp.):86-101.

8. Silva EM, Ribas Gomes EL, Anselmi ML. Enfermagem: realidade e perspectiva na assistência e no gerenciamento. Rev Latino-Am Enf. 1993;1(1): 59-63.

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9. Rossi FR, Silva MAD. Fundamentos para processos gerenciais na prática do cuidado. Escola Enfermagem USP 2005; 39(4):460-468.

10. Oguisso, T, Schmidt, MJ. O exercício da enfermagem: uma abordagem ético-legal. 2ª ed. atual. e ampl. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2007.

Referências

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