• Nenhum resultado encontrado

Asnovasreferênciasdesociabilidadeeinteraçõesdossujeitosnoespaço

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Asnovasreferênciasdesociabilidadeeinteraçõesdossujeitosnoespaço"

Copied!
22
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL INTEGRADA À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

As novas referências de sociabilidade e interações dos sujeitos no espaço

escolar da Educação de Jovens e Adultos

Daniel Colvara Nunes

Orientadora: Profª. Drª. Carmen Teresinha Brunel do Nascimento

(2)

FICHA CATALOGRÁFICA

___________________________________________________________________________

N972n Nunes, Daniel Colvara

As novas referências de sociabilidade e interações dos sujeitos no espaço escolar da Educação de Jovens e Adultos / Daniel Colvara Nunes ; orientadora Carmen Teresinha Brunel do Nascimento. – Porto Alegre, 2009.

21 f.

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.

1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. Sociabilidade – Sujeitos – Espaço escolar - EJA. I. Nascimento, Carmen Teresinha Brunel do. II. Título

CDU 374.7 _____________________________________________________________________________ CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.

(3)

GRANDEZA SIGNIFICA DIREÇÃO

Nenhum curso d'água é por si próprio grande e rico; é pelo fato de receber e carregar muitos afluentes secundários que assim se torna. O mesmo ocorre com todas as grandezas de espírito. Basta somente que um indivíduo imprima a direção e em seguida muitos afluentes a seguirão necessariamente e não, de maneira alguma, porque ele próprio é desde o início pobre ou rico de dons naturais.

(4)

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO... 4

2. O CONTEXTO ... 6

2.1 A Educação de Jovens e Adultos no Brasil ... 6

2.2 Aspectos legais da EJA ... 7

3. OS SUJEITOS E OS ESPAÇOS DA EJA ... 8

3.1 O espaço escolar da EJA ... 8

3.2 O rejuvenescimento dos educandos ... 11

3.3 O perfil do aluno e sua inserção na EJA ... 13

4. AS DEMANDAS E PERSPECTIVAS ... 15 4.1 Os entraves existentes ... 15 4.2 As possibilidades ... 17 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 19 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...20 7. ANEXO ANEXO I – Questionário... APRESENTAÇÃO

O novo panorama criado no final do último século, a partir do avanço do conhecimento científico e da relação direta da educação com o mundo do trabalho,

(5)

contribuiu para o surgimento da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Paralelas a esse fato surgem também as dificuldades que serão problematizadas ao longo desse estudo que afloram diretamente nas escolas, cujas origens estão na estrutura da sociedade e nos próprios sistemas de ensino, interferindo diretamente no processo educativo dos sujeitos que compõem a EJA em nosso país.

Atualmente, compreender o espaço escolar da EJA que se constrói a partir das novas referências de sociabilidade e interações dos sujeitos que integram esta modalidade de ensino requer uma atenção especial. É preciso considerar que a EJA não é mais apenas o retorno à escola, mas uma alternativa para aqueles que ainda não a abandonaram e que buscam na Educação de Jovens e Adultos um espaço para a ressignificação de suas experiências, oportunidades e horizontes.

Este instrumento de análise está centrado no estudo das especificidades dos sujeitos jovens e adultos, considerando sua trajetória escolar e as razões que conduzem estes alunos à Educação de Jovens e Adultos, tendo como ponto de partida, as inquietações e questionamentos de professores, colegas de escola e de profissão, pessoas que vivenciam o dia-a-dia da EJA.

Em termos metodológicos, inicialmente, a pesquisa parte de um levantamento bibliográfico a respeito do tema, que visou revelar o perfil destes alunos em relação ao momento da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, analisando sua realidade e buscando compreender, principalmente, suas expectativas referentes à escola.

O trabalho de campo foi realizado através de um questionário, onde foi possível analisar diferentes trajetórias de vida e construir hipóteses relativas à opção destes educandos pela EJA. As dinâmicas em sala de aula possibilitaram observar, na prática, a interação dos sujeitos em diversas situações. O diário de campo foi o instrumento de armazenamento dos registros obtidos desde o surgimento do interesse por este tema, em meados de 2006, primeiro ano em que atuei diretamente com jovens e adultos em sala de aula.

Este trabalho desenvolveu-se com alunos das Etapas V, VI, VII e VIII, de uma Escola de Ensino Fundamental do Município de Canoas – RS. São alunos de classes populares, residentes nas imediações da escola. É importante destacar que os relatos

(6)

informais de colegas professores, que tiveram experiências nesta modalidade de ensino, também foram importantes na construção deste estudo.

A proposta é desafiadora e identificada com o cotidiano escolar, pois se propõe a compreender a relação dos sujeitos no espaço da Educação de Jovens e Adultos, a partir da análise das vivências de sala de aula e episódios transcorridos na trajetória de profissionais e educandos que integram a Educação de Jovens e Adultos.

2. O CONTEXTO

No ensino fundamental, a universalização do acesso está sendo alcançada, mas problemas como a qualidade dos processos

(7)

educacionais, a dualidade público versus privado, a repetência e a evasão persistem. (MEC/PROEJA, 2007, p.11)

2.1 A Educação de Jovens e Adultos no Brasil

No Brasil, a EJA sempre se caracterizou por movimentos ou iniciativas individuais de grupos, órgãos públicos e privados ou de pesquisadores decididos a enfrentar o problema da existência de uma enorme população que não teve oportunidade de freqüentar a escola regular. Atualmente, vivemos uma realidade que aponta para um rejuvenescimento da população que freqüenta a Educação de Jovens e Adultos, modificando o cotidiano escolar e as relações que se estabelecem entre os sujeitos que ocupam este espaço.

A oferta desta modalidade de ensino foi consideravelmente ampliada nos últimos anos, entretanto, a evasão no Ensino Fundamental na Educação de Jovens e Adultos é elevada. Muito se ouviu no passado que o fenômeno da evasão escolar estava situado a partir de parâmetros não dialéticos, onde o fracasso escolar era responsabilidade do sujeito em questão. Sabemos que isto se deve a múltiplas razões, tais como: a necessidade de o estudante trabalhar, no caso das mulheres, à gravidez e outras questões familiares e, principalmente, à dificuldade de socialização com sujeitos que buscam na EJA diferentes perspectivas, neste caso, os adultos. Uma característica comum a estes sujeitos é a idade avançada em relação à série que está cursando e também um reingresso à escola com uma perspectiva imediatista.

O fato é que, desassistidos no passado, jovens e adultos procuram na escola novas oportunidades. A tarefa de mobilização destes sujeitos para o retorno à escola e de fazê-los permanecerem no sistema escolar é uma tarefa que deve estar presente nas ações educativas que envolvem todos os profissionais da educação. Neste aspecto, os educadores devem dedicar-se para que os conhecimentos produzidos em aula sejam significativos aos educandos, tenha qualidade e que possam permitir a eles uma maior autonomia para serem sujeitos da sua própria história.

(8)

O Brasil é um país com dimensões continentais, com enorme diversidade geográfica, política, econômica e cultural, onde pensar uma uniformidade em termos de organização curricular ou mesmo projeto político pedagógico é extremamente inadequado. Nesse sentido, cada estado e município organizam o funcionamento da EJA de acordo com suas especificidades.

Um dos objetivos deste trabalho é conhecer, além das novas referências de sociabilidade e interações dos sujeitos no espaço escolar da EJA, os aspectos legais que contextualizam o tema na forma da lei. Dessa forma, o ponto de partida desse estudo é a própria Constituição Federal de 1988, onde vemos estabelecida a obrigatoriedade e a gratuidade da oferta de ensino a jovens e adultos que não completaram a escolaridade fundamental.

“Art. 208” – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de:

I – Ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurado, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não ele não tiveram acesso na idade própria;

A atual orientação, presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9294/96), no seu Artigo 4º, estabelece a “oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola”.

“Art. 37” – A Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria.

Dado o exposto, considero que a legislação não é mais impedimento para a construção de uma escola no nosso tempo, integrada com as pessoas, instituições e associações que compõem o entorno escolar. Neste sentido a LDB nº 9394/96 inova ao romper com o paradigma de uma escola formalista, centrada apenas em seus modos de organização.

(9)

Um ser vivo não está situado em um ambiente: está em relação com um meio. Está biologicamente aberto para esse meio, orientado para ele, dele se alimenta, o assimila, de maneira que o que era elemento do meio se torna recurso do ser vivo (CHARLOT, 2007, p.77).

3.1 O espaço escolar da EJA

Conceber o espaço escolar da Educação de Jovens e Adultos e a interação dos sujeitos que compõem esta modalidade de ensino, diante da complexidade dos processos que estão presentes na sociedade, não é uma tarefa simples. Para tanto, é preciso saber como é o espaço escolar e quem são os sujeitos que compõem a EJA, pois o indivíduo se socializa e aprende continuamente durante toda a sua vida através da interação com outros indivíduos e com seu meio.

Considero o espaço escolar da EJA uma trama complexa de relacionamentos, onde o entendimento das novas tendências, das quais destaco o aumento da presença dos jovens nas classes de EJA, são fundamentais para compreender as novas referências de sociabilidade e interações dos sujeitos. É importante destacar que as próprias instituições de ensino são também responsáveis pelas questões que estão sendo problematizadas neste estudo.

A escola, da sua gênese até os nossos dias não modificou muito as suas práticas pedagógicas, e talvez, também por isso, ela se encontre em crise. Na maioria de nossas escolas, sejam elas públicas ou privadas, os alunos ainda são obrigados a decorar longos textos, a disposição das cadeiras é a mesma na maioria das escolas. O discurso dos professores freqüentemente é o mesmo após muitos anos de magistério. Muitas vezes encontramos professores que não conseguem um diálogo franco e aberto com seus alunos. Esta dificuldade de relacionamento é conseqüência de uma cultura autoritária ainda hoje presente em nossa sociedade. A cultura do diálogo é nova. (NASCIMENTO, 2002, p.33).

Entendo que é necessário trabalhar para construir espaços escolares culturalmente significativos para jovens e adultos. Partindo deste pressuposto, precisamos refletir sobre a definição da categoria jovem na contemporaneidade, problematizando-a não somente pelo viés da biologia e da psicologia, mas também considerando seu aspecto social

(10)

O aumento do número de jovens nas classes da EJA vem acompanhado por uma mudança no perfil desses alunos. Pensar de forma mais complexa esta categoria se justifica pela importância de fortalecer o real propósito da escolarização de jovens e adultos, ou seja, contribuir para a formação profissional e para o crescimento cultural daqueles que foram impossibilitados na idade regular.

Dessa forma, nos últimos anos, a EJA vem perdendo sua identidade, pois, além de oportunizar formação aos adultos trabalhadores que não tiveram oportunidade de concluir os estudos em tempo hábil, está absorvendo uma grande contingência de adolescentes excluídos do ensino “regular” e que estão em busca de “aligeiramento” dos estudos. (FERRARI, 2007, p.123).

Por essa razão, é preciso tornar a sala de aula da EJA um espaço de convívio, re-significação de experiências, conhecimento e transformação. Este espaço se contrapõe ao quadro atual, onde os jovens são despejados nas aulas noturnas sem que estes sujeitos demonstrem especificidades para tal modalidade. Marilia Sposito (1993)1 defende que adotemos o ponto de vista de uma sociologia não escolar da escola, ou seja, que busquemos compreender os tempos e espaços não escolares dos sujeitos jovens que estão na escola, mas que não são, em última instância, da escola. Este jovem aluno cada vez mais jovem que chega às classes de EJA carrega para a instituição referências de sociabilidade e interações que se distanciam das referências institucionais que se encontram em crise de legitimação.

No aspecto relativo à estrutura escolar, é necessário explicitar alguns problemas específicos que envolvem as escolas que oferecem a modalidade EJA. Muitas delas apresentam uma defasagem nos serviços de apoio ao estudante. Além do quadro diretivo muitas vezes reduzido e pouco envolvido, as bibliotecas com freqüência não funcionam ou permanecem fechadas à noite, assim como os laboratórios, sejam eles de ciências ou informática, o que impede com que os alunos possam realizar pesquisas ou utilizar ferramentas diferenciadas no seu processo de aprendizagem.

A construção de uma escola como um espaço que proporcione, aos sujeitos que nela convivem, momentos aprazíveis, alegrias e satisfações contrapõem-se à escola que

1

(11)

jovens e adultos freqüentaram e que acabou por excluí-los do processo educacional. Tecendo as ligações entre os elementos da pesquisa, constatei a importância de apontar novos caminhos em prol de uma escola onde o espaço de convívio entre jovens e adultos esteja aberto à escuta, à re-significação de experiências e aos prazeres propiciados pela construção do conhecimento coletivo. Pôr em prática estas reflexões, não demanda apenas competência e boa vontade dos educadores, mas também a responsabilidade do poder público em viabilizar esta transformação.

(12)

O crescimento do número de jovens nas diversas classes de EJA é um fato que vem, cada vez mais, ocupando a atenção de pesquisadores e educadores na área da educação. Segundo números absolutos expostos no Censo Escolar2 dos últimos anos, tem ocorrido um crescimento significativo do número de jovens com idade entre 15 e 24 anos nas matriculas da EJA, conforme tabela a seguir:

Fonte: INEP

Na forma legal, a EJA abrange uma ampla faixa etária que se dá a partir dos 15 anos, sendo que dessa idade em diante recebe um enorme contingente de alunos, com uma grande variação entre as faixas etárias. No entanto, o aumento progressivo da população que freqüenta as salas de aula da Educação de Jovens e Adultos aponta para a necessidade de respostas significativas para esclarecer este fenômeno. Neste contexto, Nascimento (2002, p.89) nos diz:

O número de jovens, cada dia maior, nos espaços que oferecem educação de jovens e adultos é um fenômeno que interfere no cotidiano escolar, exigindo dos professores um novo olhar sobre esta realidade. As diversas repetências, o descaso dos governantes pela escola pública e problemas de ordem pessoal fizeram com que muitos jovens abandonassem a escola regular e optassem pela EJA.

Ao longo da minha caminhada como educador de jovens e adultos constatei que é grande o número de alunos, principalmente jovens, que procuram esta modalidade de ensino não somente pela necessidade do trabalho, mas por entenderem que na EJA obterão

2

Disponível no sítio do INEP, endereço http://www.inep.gov.br/basica/censo/ - março de 2009.

Número de matrículas de Alunos da Educação de Jovens e Adultos nos Cursos Presenciais por Faixa Etária

Ano FAIXA ETÁRIA

De 15 a 24 anos De 25 a 34 anos Mais de 34 anos

Brasil 2005 1.485.303 893.330 961.172 2006 1.512.089 908.703 1.047.012 2007 2.022.671 1.069.654 1.202.791 Rio Grande do Sul 2005 59.829 26.526 28.237 2006 61.823 25.634 26.867 2007 92.386 35.948 35.767

(13)

algumas vantagens inexistentes no ensino regular. Conversando com os alunos, percebi que há praticamente um consenso quanto ao fato de que na EJA cada semestre corresponde, normalmente, ao período de um ano letivo do ensino regular, o que faz com que esta modalidade de ensino seja mais atraente, pois oferece a possibilidade de concluírem seus estudos mais rapidamente. Dessa forma, os jovens acreditam que na EJA os conteúdos não são tão exigidos, diferente daquilo que, na visão destes mesmos alunos, ocorre no ensino regular.

- Todo mundo diz que a EJA é uma barbada. Até os professores aliviam pra gente. As provas são com consulta e tem poucos trabalhos (BAÍA3 – 15 anos).

- É muito melhor estudar à noite, quase não tem trabalho pra fazer em casa e as provas são bem mais fáceis (GOLFO – 16 anos).

- Já faz tempo que eu queria vir pra EJA, só estava esperando completar 15 anos para conseguir me matricular (TALUDE – 15 anos).

Estes e outros relatos são comuns por parte de alunos oriundos das classes do ensino regular diurno. As próprias escolas, por decisão consensual de professores e equipe diretiva, transferem, muitas vezes, um aluno para a EJA quando este apresenta problemas de disciplina ou de reprovação constante. Entendo ser este um grande equívoco, pois esta situação, além de desqualificar a modalidade de EJA, desvirtua os objetivos que ela apresenta e que estão expostos na própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Para que possamos reverter essa idéia equivocada que alguns educandos têm da EJA é necessário retomar com estes jovens sua posição de sujeitos no processo educativo, construindo experiências significativas de aprendizagem, relacionando teoria e prática, já que o rejuvenescimento dos educandos que freqüentam a Educação de Jovens e Adultos é um fato presente e crescente no cotidiano escolar brasileiro.

3.3 O perfil do jovem e sua inserção na EJA

(14)

Toda a experiência adquirida atuando diretamente com estes jovens favoreceu minha percepção sobre fatos, situações, falas e olhares que contribuíram, sobremaneira, para o desenvolvimento da pesquisa.

Nas linhas que seguem, apresento os educandos e educandas, sua idade, profissão, opção pela EJA e perspectiva para o futuro. Os nomes fictícios representam feições de relevo constituintes das diferentes paisagens do espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia, ciência a qual leciono. Esta amostra representa uma turma da Etapa V (equivalente à 5ª Série do Ensino Fundamental), transcorridos dois meses de aula, ou seja, após o abandono de grande parte dos alunos, em sua maioria jovens, que iniciaram o semestre letivo. São alunos que em sua maioria apresentam baixa auto-estima no que se refere às questões cognitivas.

ENSEADA – 15 anos. Não trabalha e optou pela EJA porque considera sua idade avançada para o ensino regular. “Por enquanto só penso em terminar os estudos e depois fazer alguns cursos.”

CANYON – 16 anos. É hortifrutigranjeiro e optou pela EJA porque trabalha durante o dia. “Com os estudos é minha vida que vai para frente.”

BAÍA – 15 anos. Não trabalha e optou pela EJA porque considera a noite melhor para estudar. “Pretendo continuar estudando, fazer um curso de Informática e trabalhar para ajudar meu namorado.”

ATOL – 40 anos. É pintor automotivo e optou pela EJA devido ao horário das aulas. “Concluir os estudos para crescer na profissão.”

DUNA – 40 anos. É auxiliar de serviços gerais e optou pela EJA porque trabalha durante o dia. “Fazer um concurso público e aprender um pouco mais.”

PENÍNSULA – 42 anos. É confeiteira, faz “bicos” e optou pela EJA porque considera ser uma forma mais rápida de recuperar o tempo perdido. “Quero conseguir uma profissão melhor.”

RAVINA – 54 anos. É dona-de-casa e optou pela EJA porque considera sua idade avançada. “Quero vencer e ter novas oportunidades.”

RECIFE – 15 anos. Não trabalha e optou pela EJA porque se achava um aluno muito “brabo”, sem paciência, e buscou na noite uma oportunidade de mudança. “Pretendo seguir a carreira militar.”

(15)

MEANDRO – 19 anos. Trabalha em um restaurante e optou pela EJA porque brigava muito durante o dia. “Quero ser salva-vidas.”

MONTANHA – 30 anos. É empregada doméstica e optou pela EJA porque trabalha durante o dia e a EJA lhe proporciona uma oportunidade para voltar a estudar. “Pretendo adquirir outra profissão.”

LAGUNA – 25 anos. Trabalha como manicure, vende produtos cosméticos e optou pela EJA porque são apenas seis meses para concluir cada série, podendo se formar mais rápido. “Quero me formar para fazer faculdade de Educação Física.”

RESTINGA – 19 anos. Trabalha como vendedora de peças de trator e optou pela EJA porque trabalha durante o dia. “Estudar é bom.”

O convívio com os alunos, somado à análise do questionário, possibilitou estabelecer a seguinte constatação: apesar da pouca idade dos jovens alunos da EJA, nota-se que estes educandos aprenota-sentam perspectivas futuras em relação aos estudos. Este pode ser o ponto de partida para a construção de uma EJA que favoreça a permanência dos jovens na escola e que, ao mesmo tempo, seja um espaço de vida, palco de ações educativas contribuindo com a formação de pessoas autônomas, que promovam interações pacíficas e respeitem as diferenças.

(16)

preocupação com os jovens na EJA está, em grande medida, relacionada com a evidência empírica que eles e elas já constituem fenômeno estatístico significativo nas diversas classes de EJA e, em muitas circunstâncias, representam a maioria ou quase totalidade dos alunos em sala de aula. (CARRANO, 2007).

4.1 Os entraves existentes

Diagnosticar os entraves existentes no dia-a-dia de jovens e adultos na sala de aula requer socializar as reflexões dos sujeitos que compõem este espaço escolar. Neste contexto, é grande a dificuldade que os educadores enfrentam para a compreensão dos sentidos culturais da presença destes sujeitos na escola, alguns parecem convencidos de que os jovens alunos da EJA vieram para perturbar e desestabilizar sua aula.

Neste sentido, professores dizem:

- Essa gurizada não quer nada com nada. A maioria desiste e os que ficam, metade só fica perturbando e atrapalhando quem almeja estudar (Prof. Fiorde).

- O problema é que muitos alunos são transferidos para a noite porque os professores do diurno não os agüentam mais e estão loucos para se livrar dessas mazelas. Assim, transferem a responsabilidade para nós como se fossemos salvadores da pátria (Prof. Meandro).

Compartilham desta opinião os alunos considerados adultos, que se sentem incomodados em algumas situações.

- Olha, se fosse só os mais velhos seria muito melhor. Até tem alguns jovens que querem estudar, mas a maioria não tem modos e só quer bagunçar. (PENÍNSULA – 42 anos).

- De vez em quando não consigo me concentrar na aula, às vezes chego a ficar com vergonha com os palavrões que eles falam. Acho que os professores tinham que ser mais rígidos e punir os que não se comportam. (RAVINA – 54 anos).

Por apresentarem uma trajetória escolar muitas vezes permeada por reprovações e descontinuidades, os jovens procuram na EJA uma nova oportunidade, retornam à escola em busca de credenciais escolares e de espaços de aprendizagem, sociabilidade e expressão cultural. Para que isso se confirme, o aluno não pode sentir que aquele espaço é apenas emprestado.

(17)

Tornar as turmas de EJA parte da comunidade escolar é fundamental para o sucesso da aprendizagem e para evitar outro entrave que assola a Educação de Jovens e Adultos: a evasão escolar.

Conforme a tabela do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) exposta na página 11, houve um avanço significativo do número de matrículas na EJA. Entretanto, o INEP não registra oficialmente a evasão no ensino fundamental da modalidade EJA.

Segundo dados da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD) obtidos em 2006, junto às Secretarias Estaduais de Educação, o índice de evasão na EJA gira em torno de 30%.

A evasão escolar e suas razões indutivas constituem um dos principais problemas existentes no ensino público e em especial na Educação de Jovens e Adultos. Esta questão pode ser abordada como um sintoma decorrente das dificuldades enfrentadas pelos alunos no regresso à escola. Nesse sentido, Basegio e Medeiros (2009, p.171) nos dizem:

[...] muitos dos elementos que intensificam o processo de evasão decorrem de problemas internos à escola e a forma como seus conteúdos, grade curricular e estratégias de trabalho estão organizados. Em linhas gerais, esse problema está relacionado a elementos ligados à própria estrutura das escolas e ao seu funcionamento, ou seja, ao seu PPP.

Os problemas sociais brasileiros exercem forte influência nos elevados índices de evasão escolar. É preciso que se compreenda que os alunos da EJA vivenciam problemas como preconceito, vergonha, discriminação, críticas, enfim, dificuldades essas vivenciadas tanto no cotidiano familiar como na vida em comunidade. Cabe ao professor ter a sensibilidade de reconhecer que educar é muito mais que reunir pessoas numa sala de aula e transmitir-lhes um conteúdo.

.

(18)

Discutir sobre Educação de Jovens e Adultos é um convite para nos reportarmos às idéias de Paulo Freire, cuja magnitude de suas contribuições é referência de uma EJA de qualidade.

Em relação à sua experiência enquanto Secretário de Educação da Cidade de São Paulo, Paulo Freire (1991, p.25) ressalta:

Numa perspectiva realmente progressista, democrática e não-autoritária, não se muda a ‘cara’ da escola por portaria. Não se decreta que, de hoje em diante, a escola será competente, séria e alegre. Não se democratiza a escola autoritariamente. A Administração precisa testemunhar ao corpo docente que o respeita, que não teme revelar seus limites a ele, corpo docente. A Administração precisa deixar claro que pode errar. Sá não pode é mentir.

Devemos trabalhar buscando alternativas possíveis para construir um espaço favorável à construção coletiva do conhecimento a partir da socialização e interação de jovens e adultos na EJA. Reconhecer que grande parte dos alunos da EJA são jovens e, em sua maioria, oriundos de um ambiente urbano, aponta para uma prática docente voltada a uma adequação dos conteúdos e temas que são trabalhados em sala de aula à realidade por eles vivenciada. É preciso recuperar o sentido e o prazer de estar na escola.

A escola para o aluno precisa ter um sentido real. Senão ele não vai, ou se for não aprende. É preciso que este sentido de estar ali tenha sua origem no prazer que o ato de aprender pode proporcionar, e aliada ao prazer exista uma atividade intelectual a ser desenvolvida (NASCIMENTO, 2002, p.80).

A escola deve ser o local onde o presente deverá estar em debate no estudo de todas as áreas do conhecimento. Esta perspectiva não se consolida apenas com o esforço e competência das profissionais da educação, os educandos também são parte de um todo que constitui a Educação de Jovens e Adultos, por isso devem valorizar a oportunidade que lhes é ofertada. Ser jovem é estar inserido num mundo de regras, cuja concordância na maioria das vezes não é facultativa.

Atualmente, as bibliotecas já dispõem de muitos materiais com sugestões de práticas para a EJA. Cabe às escolas e aos educadores analisar e pôr em uso novas idéias para que a escola seja um local onde o presente esteja em debate no estudo de todas as áreas do conhecimento.

(19)

Cada vez mais, as escolas estão sendo equipadas com laboratórios de informática, possibilitando aos alunos a utilização de tecnologias digitais. Dessa maneira, Santos (2006), nos alerta quanto a alguns cuidados para a utilização eficaz do acesso a esses serviços, uma vez que de nada adianta incluir jovens e adultos trabalhadores sem abrir os setores pedagógicos nos horários em que eles estão na escola, da mesma forma oferecer tais serviços conforme as necessidades dos jovens e adultos, pois no laboratório de informática, por exemplo, os adultos, na maioria das vezes, necessitam de mediação, aprendizagem já realizada, na maioria das vezes, pelos jovens que acessam rotineiramente comunidades virtuais.

Considero uma alternativa importante para fortalecer a idéia de re-significação de experiências a problematização da realidade. Entendo ser esta a chave para a motivação do aluno e para a retomada dos prazeres propiciados pela construção do conhecimento coletivo.

O interesse do aluno em resolver uma determinada situação da realidade problematizada, desperta nele o pensamento reflexivo. Mas como despertar no aluno da EJA esta motivação? Segundo Paulo Freire, “faz parte da essência do ser humano, uma vez que este é entendido como incompleto e em constante construção. O inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento” (1996, p.52).

Esta pode ser uma das respostas, compreender que este é o principal agente motivador do aluno da EJA, que esta é a consciência que lhe permite seguir adiante, vencendo as dificuldades e os entraves que surgem durante sua caminhada, principalmente, em relação à sua passagem anterior pela escola, muitas vezes marcada pela exclusão e/ou pelo insucesso escolar. Manter esse aluno motivado o fará superar sentimentos de insegurança e de desvalorização pessoal frente aos novos desafios que a ele se impõem.

(20)

Ainda existe um longo caminho a ser percorrido no sentido de qualificar nosso sistema de ensino, incluindo a modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

Procurei colaborar apontando para a necessidade de inserirmos em nossa prática de sala de aula, além de situações em que a vivência dos alunos é valorizada, a utilização de tecnologias digitais, de novos recursos direcionados especificamente à Educação de jovens e adultos e, principalmente, a problematização da realidade, no sentido de despertar a constante motivação do aluno pela produção do conhecimento.

Nesse trabalho, foi possível notar o perfil marcadamente juvenil que a educação escolar de adultos adquiriu no Brasil nos últimos anos. Isto se deve à combinação de fatores ligados ao mercado de trabalho, principalmente no que se refere à exigência de certificação escolar. Dentro desta perspectiva devemos promover uma adaptação às condições de escolarização de jovens e adultos trabalhadores, no qual os estudantes possam assumir o papel de protagonistas nesse processo, a partir das interações e sociabilidades existentes no espaço escolar da EJA, de modo a desenvolver propostas e práticas pedagógicas que atendam aos interesses e necessidades de aprendizagem desse público.

Neste contexto, é preciso superar o paradigma da Educação de Jovens e Adultos como uma educação compensatória em prol de uma perspectiva voltada à construção de práticas educativas significativas, articuladas com a educação básica regular. Uma mudança de paradigma traz consigo uma mudança nas práticas escolares, onde cada parte envolvida deva cumprir seu papel diante da mudança. Cabe à escola organizar e sistematizar propostas alternativas. Ao poder público qualificar a educação através da oferta de condições dignas de trabalho e remuneração para os profissionais e, por fim, cabe a nós educadores, a importância de exercitar uma docência reflexiva que possibilite analisar o cotidiano escolar, considerando as especificidades dos sujeitos jovens e adultos, a partir das experiências decorrentes das relações entre todos aqueles que ocupam esse espaço.

(21)

BASEGIO, Leandro Jesus e MEDEIROS, Renato da Luz. Educação de Jovens e Adultos I :. Curitiba: Ibpex, 2009.

CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues . Educação de Jovens e adultos (EJA) e Juventude: o desafio de compreender os sentidos da presença dos jovens na escola da "segunda chance". In: Maria Margarida Machado. (Org.). Formação de Educadores de Jovens e Adultos (II Seminário Nacional). 1 ed. Brasília: Secad/MEC, UNESCO, 2008, v. 1, p. 103-118.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução de Bruno Magne. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

FERRARI, Cristiane Regina. Avaliação dos estudantes do PROEJA: em busca da inovação. In: Especialização PROEJA/RS – Construção reflexiva da prática e da teoria. Porto Alegre: 2007, p. 121-131.

FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1995

_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1999.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. Documento Base. Brasília, 2007.

NASCIMENTO, Carmen Brunel. Jovens cada vez mais jovens na educação de jovens e adultos. Porto Alegre: Mediação, 2004.

SANTOS, Simone Valdete dos. Possibilidades para a EJA, possibilidades para a educação profissional: o PROEJA. – Trabalho vinculado ao projeto de pesquisa: Experiências da Educação Profissional e Tecnológica Integrada à Educação de Jovens e Adultos no Estado do Rio Grande do Sul, conforme o edital PROEJA CAPES/SETEC 03/2006.

SPOSITO, Marília Pontes. P. Juventude: Crise, Identidade e Escola. In: Juarez Dayrell. (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. 1 ed. Belo Horizonte: UFMG, 1996, v. , p. 96-104.

(22)

Nome: ____________________________ Idade: ______ Naturalidade: _______________ Escola: __________________________________ Turma: _____ Data: ____\ ____\____

1) Por que você optou pela EJA?

2) Já parou de estudar alguma vez? Em qual data? Em qual série?

3) Você já reprovou alguma vez? No seu ponto de vista, qual foi o principal motivo por isso ter acontecido?

4) Você tem uma profissão? Você trabalha atualmente?

5) Qual é a escolaridade de seus pais? Mãe:

Pai:

6) Qual é o seu objetivo em relação aos estudos?

7) Qual é a melhor qualidade que você atribui a um professor?

8) Você gosta de seus professores e da escola atual?

9) O que é um bom aluno para você?

10) O que mais dificulta a sua aprendizagem em sala de aula?

11) Indique os aspectos positivos e negativos que você identifica na escola? Positivos:

Negativos:

Referências

Documentos relacionados

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

A dose de propofol de 20 mg/kg que foi testada é recomendada para procedimentos clínicos e coletas de amostras biológicas em Lithobates catesbeianus, visto que

A estruturação de suas fantasias revelou a produção de sentidos para a experiência que lhe foi autorgada de viver a ausência presente, pela falta do dito, que se manteve solici-

Direita: Vista lateral do leitor de parede para montagem em superfície (RA) QR code para o vídeo de montagem em superfície QR code para o vídeo de montagem embutida Montagem

De forma relacionada con lo anterior, preguntados sobre las diferencias entre su país de origen y la cultura española, las personas extranjeras perciben que los españoles

3.4 Quando da entrega do produto, caso este não corresponda à especificação exigida no Edital e neste instrumento, a CONTRATADA deverá providenciar, no prazo

9 Do original: Society for Ethnomusicology com African Music Section, tem abordado a espeficidade da experiência negra e a importância de produções acadêmicas dos africanos