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RITA DE CÁSSIA FERRER DA ROSA MOTOOKA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

RITA DE CÁSSIA FERRER DA ROSA MOTOOKA

Aspectos emocionais investigados na infertilidade

através do método de Rorschach

Mestrado – Psicologia Clínica

São Paulo

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

RITA DE CÁSSIA FERRER DA ROSA MOTOOKA

Aspectos emocionais investigados na infertilidade

através do método de Rorschach

Mestrado em Psicologia Clínica

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para

obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica, sob orientação da Profª. Drª. Ceres Alves de Araújo

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BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

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AGRADECIMENTOS

Ao Hospital Pérola Byington pela permissão a mim concedida, em poder realizar este estudo nesta tão conceituada instituição.

À Profª Drª Ceres Alves de Araújo por sua generosidade e competência, foi uma honra ser sua orientanda.

À Profª Drª Regina Sonia Gattas F. do Nascimento por sua continência e pelas valiosas sugestões no exame de qualificação.

Ao Profº Drº Jhonatas Soares por sua disponibilidade e gentileza.

Aos amigos, Fernanda Menin, Ana Pandini, Rosangela Fígaro, Cristina Masiero, Thais infante, Daniela Borba, Claudinei Affonso, Alexandre Hilel, Fernando Maeda, Maria Aparecida Melo, por compartilharem comigo parte desta jornada.

À minha família querida, por todo apoio e por suavizarem meu caminho.

A todas as mulheres que participaram deste estudo, sem vocês ele não seria possível.

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RESUMO

Motooka, Rita de Cássia Ferrer da Rosa; Aspectos emocionais investigados na infertilidade por meio do método de Rorschach. São Paulo, 2008.

Orientadora: Ceres Alves de Araújo.

Esta pesquisa foi realizada com um grupo de 15 mulheres inscritas no programa de Reprodução Assistida do Hospital Perola Byington, e objetivou investigar o psiquismo de mulheres inférteis através do método de Rorschach (Sistema Compreensivo).

O protocolo de pesquisa foi elaborado de forma que pudesse coletar dados da vivência emocional da infertilidade e seu enfrentamento. As participantes foram submetidas a uma entrevista-semidirigida e ao método de Rorschach.

Este estudo abordou questões acerca do princípio feminino, das primeiras fases de desenvolvimento humano, e apresentou de forma sucinta aspectos do papel que a mulher vem ocupando ao longo da história em nossa sociedade.

O corpo teórico do presente estudo foi elaborado a partir dos pressupostos da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, os conteúdos disfóricos e depressivos, e também a manifestação de estresse foram averiguados através do método de Rorschach, teste projetivo, elaborado por Hermann Rorschach.

A análise dos resultados encontrados no método de Rorschach corroborou estudos anteriores que apontam a manifestação de estresse e depressão em mulheres submetidas a procedimentos de reprodução assistida. A categorização dos dados da entrevista semidirigida evidenciou aspectos dolorosos dessa vivência e o grande impacto sofrido por estas mulheres.

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ABSTRACT

Motooka, Rita de Cássia Ferrer da Rosa; Emotional aspects of infertility, investigated with Rorschach method. Sao Paulo, 2008.

This research was made with a group of 15 women enrolled in the Assisted Reproduction Program of the Perola Byington Hospital, and aimed to investigate the psychism of infertile women through the Rorschach method (Comprehensive System).

The research protocol was designed to collect data about infertility’s emotional aspects and how women deal with them. The members of the group participated in a semi-structured interview and in a test using the Rorschach method.

This study covered questions about the feminine principle, the initial phases of the human development and showed, briefly, some aspects of the role the woman have been playing in our society.

The theory utilized in this study was based on the Analitical Psychology by Carl Gustav Jung, and the depressed and disphoric content, as well as the stress manifestation, were verified by using the projective test of Rorschach method, developed by Hermann Rorschach.

The analisys of the results provided by the Rorschach method reinforced former studies results that pointed to the presence of stress and depression in women under assisted reproduction procedures. The categorization of the semi-structured interview data highlighted painful aspects and the strong impact these women suffered.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

2 – REVISÃO DE LITERATURA 83

1.1. PSICOLOGIA ANALÍTICA -PRINCÍPIO FEMININO E PRINCÍPIO MASCULINO... 83

1.1.1. Anima e Animus ... 83

1.1.2. Estágios do Desenvolvimento – Psicologia Analítica... 83

1.2. MITOSDECRIAÇÂOEAMULHER–UMBREVEHISTÓRICO... 83

1.2.1. A MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA ... 83

1.3. FERTILIDADEEINFERTILIDADE... 83

OBJETIVO 83 CAUSAS DA INFERTILIDADE 84 1.4. INFERTILIDADEEIMPLICAÇÕESPSICOLÓGICAS... 84

REPRODUÇÃO ASSISTIDA 84 1.5. FERTILIZAÇÃOINVITRO–FIV... 84

1.6. III.4B-ICSI–INJEÇÃOINTRA-CITOPLASMÁTICADEESPERMATOZÓIDES... 84

1.7. III.4C-IIU–INSEMINAÇÃOINTRAUTERINA... 84

ATUALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 84 1.8. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS IMPLICAÇÕES EMOCIONAIS DA INFERTILIDADE... 84

MÉTODO 84 1.9. CARACTERÍSTICA DO ESTUDO... 84

1.10.PARTICIPANTES DA AMOSTRA... 84

1.11.CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO... 84

1.12.LOCAL DA COLETA DOS DADOS... 84

1.13.INSTRUMENTOS... 84

1.13.1. Ficha de Identificação ... 84

1.13.2. Questionário ABIPEME ... 84

1.13.3. Entrevista semidirigida... 84

1.13.4. Psicodiagnóstico de Rorschach ... 84

1.14.PROCEDIMENTOS... 84

1.14.1. Grupo Experimental ... 84

1.14.2. Tratamento dos Dados... 84

1.14.3. Cuidados Éticos... 84

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 84 1.15.CRITÉRIO ABIPEME... 84

1.16.ENTREVISTA SEMIDIRIGIDA... 84

1.17.NATURALIDADE... 84

1.18.COR... 84

1.19.INSTRUÇÃO... 84

1.20.PROFISSÃO... 84

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1.22.TEMPO DE CONJUGALIDADE... 84

1.23.ETIOLOGIA DA INFERTILIDADE... 84

1.24.PATOLOGIAS... 84

1.25.TEMPO DE TRATAMENTO... 84

1.26.TEMPO DE DIAGNÓSTICO... 84

1.27.ENTREVISTA SEMIDIRIGIDA... 84

1.27.1. Vivências relatadas... 84

1.27.2. Opinião do parceiro ... 84

1.27.3. Sentimentos Expressos... 84

1.27.4. Onde busca apoio. ... 84

1.27.5. Palavras expressas diante da infertilidade... 84

1.28.TESTE DE RORSCHACH... 85

DISCUSSÃO DE RESULTADOS 103 CONSIDERAÇÕES FINAIS 110 GLOSSÁRIO 113 4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 116 1.29.4.1–BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... 117

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INTRODUÇÃO

A fertilidade humana tem sofrido, ao longo da história, várias transformações. O final do séc. XX e início do séc. XXI foram marcados por significativos avanços da ciência que possibilitaram, entre outras coisas, a compreensão do processo biológico da fecundação.

Desde os tempos primitivos, o homem tenta compreender os mistérios de sua origem, de sua transitoriedade e sua morte. A percepção dos ciclos de nascimento e morte constituem marcos importantes para a sobrevivência e perpetuação da espécie.

A possibilidade de gerar filhos, assim como, sua impossibilidade, nos remete a uma vasta experiência emocional, rica em conteúdos simbólicos e valorizada em todas as culturas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), estima-se que entre 60 e 80 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentem dificuldades para levar a cabo seu projeto de maternidade e paternidade.

O advento da pílula anticoncepcional e o ingresso da mulher no mercado de trabalho afetaram os papéis femininos e masculinos em nossa sociedade. A expectativa de vida mudou muito nas últimas décadas, hoje vivemos mais anos que as gerações anteriores, por isso, muitos pais deixam para mais tarde a chegada do bebê. As pessoas casam-se mais tarde, sendo que, do ponto de vista orgânico, a mulher, aos 35 anos, já está em franco declínio da fertilidade.

Muitas mulheres que procuram as técnicas de reprodução assistida estão nessa faixa etária e acima dela. A maternidade é postergada, pois o desenvolvimento das técnicas de reprodução assistida e o avanço farmacológico apresentam um amplo quadro de possibilidades, tornando a infertilidade menos limitante.

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presente estudo se dedicou a investigar o psiquismo de mulheres que vivem nesse momento contemporâneo, que trabalham e residem em grandes metrópoles ou próximo destas.

Muitas mulheres atualmente engajam-se primeiramente em realizações profissionais, acadêmicas, estabilidade financeira e viagens, para depois pensarem em ter filhos. Para os homens, embora, não estejam sujeitos ao mesmo limite biológico, existem parâmetros que merecem reflexão, como vitalidade e disponibilidade para criar um filho após 40 ou 50 anos.

Percebemos um novo cenário envolvendo a fertilidade. Embora novas questões surjam, o fato é que ter filhos continua sendo um grande projeto de vida, para a maioria dos casais. Entretanto para muitos, a reprodução não é um processo linear, ter filhos biológicos implica em transpor dificuldades ou mesmo enfrentar a impossibilidade de consegui-los.

Outra consideração importante é que mulheres e homens em idade avançada já tiveram maior probabilidade de exposição a doenças sexualmente transmissíveis ou outras doenças como, por exemplo, endometriose nas mulheres. Esses e outros fatores ligados ao estilo de vida também podem afetar a fecundidade, conforme Ribeiro (2004).

As tentativas de realização do desejo de conceber um filho podem trazer momentos de intensas emoções na vida do casal, uma vez que tal desejo se insere dentro de um campo psíquico carregado de significações inconscientes. Portanto, não é a dor física, pois ela quase inexiste, mas os aspectos social, cultural e emocional que determinam como a infertilidade vai ser vivida pelo casal, de acordo com Becker & Nachtigall (1991).

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aspectos emocionais apontam estresse, depressão e ansiedade como as queixas mais presentes desta vivência.

A infertilidade apresenta a confluência de varias disciplinas, e, portanto, deve ser considerada além de seus aspectos biológicos. Perpassa aspectos culturais, sociais e psicológicos, sendo este último, o foco do presente trabalho.

O aporte teórico que subsidiou este estudo é o da Psicologia Analítica. Os tópicos que serão apresentados no corpo trabalho têm por objetivo auxiliar o leitor a compreender os estágios iniciais do desenvolvimento do ser humano e suas implicações psicológicas, o contexto sociocultural e os aspectos orgânicos e científicos que envolvem a infertilidade.

O interesse deste estudo volta-se para a compreensão da vivência da infertilidade e pretende esclarecer aspectos da personalidade e da dinâmica psíquica de mulheres submetidas a tratamentos de reprodução assistida, por meio do Método de Rorschach.

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2 – REVISÃO DE LITERATURA

Psicologia Analítica - Princípio Feminino e Princípio Masculino

A Psicologia Analítica fundada por C. G. Jung, ofereceu vasto material para compreender fenômenos ligados aos processos psíquicos mais profundos do ser humano. A partir desse construto básico, muitos autores têm se dedicado a articular e ampliar os pilares da Psicologia Analítica. E. Neumann, E. C. Whitmont, J. S. Bolen, M. E. Harding, S. B. Perera, entre outros, desenvolveram muitas questões sobre o feminino, o masculino e suas inter-relações.

O imponderável para o surgimento de uma nova vida é o encontro do masculino/espermatozóide e do feminino/óvulo. Para abordar a questão da implicação psicológica advinda da infertilidade, cabe uma incursão nos dois princípios que compõem toda a vida do planeta.

O princípio masculino e princípio feminino são dinamismos complementares para a personalidade, tanto da mulher, quanto do homem. Estão presentes na natureza e na humanidade, e não se limitam a conferir características e atitudes a ambos. O princípio masculino caracteriza-se pela valorização da lógica racional, enquanto o princípio feminino caracteriza-se pela valorização do sentimento.

Para compreender aspectos do feminino e do princípio feminino, será necessário abordar também o princípio masculino. Ulanov (1971) esclarece que para a psicologia analítica a completude pessoal só pode ser alcançada através da conscientização de contrasexualidade.

Feminilidade e masculinidade, consequentemente, não devem ser entendidas como características diretas das mulheres e dos homens; elas são antes representações simbólicas das energias que incluem aquilo que comumente chamamos de feminilidade e masculinidade, conforme Whitmont (1994 [1969]).

Podemos pensar em feminino e masculino como arquétipos, que são, como

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expressam simbolicamente na cultura e nos indivíduos, sejam homens ou mulheres. Jung descrevia os arquétipos como “imagens do instinto” e como as formas que os instintos assumem.

“Não se trata de idéias herdadas, mas da possibilidade herdada das idéias. Não são aquisições individuais, mas, em geral, são comuns a todos os seres humanos, como se depreende de sua ocorrência universal” (JUNG, O C, 10, par. 53).

A compreensão dos aspectos contidos no principio feminino e do principio masculino, se torna mais acessível se nos aproximarmos das noções de Yin e Yang

apresentadas pela filosofia chinesa. O princípio primordial feminino é descrito como

Yin e o masculino como Yang, são citados no antigo livro chinês I Ching: o livro das mutações, traduzido por Richard Wilhem (1923), e prefaciado por Jung em 1949.

A unificação e a complementaridade desses princípios primordiais são eficazmente expressas pela imagem do Tao, um círculo que é constituído de duas

metades, uma preta (Yin) e outra branca (Yang), que contêm respectivamente um

ponto branco e um ponto preto, que indicam o fato de que cada uma destas duas metades traz em si a representação do próprio oposto.

Neumann traz uma citação de Lao Tsé para explicar estes princípios primordiais: “ocontinente dos opostos é o t’ai chi chinês, um redondo que contém o

negro e o branco, a noite e o dia, o masculino e o feminino” (NEUMANN, 1991, p. 27).

Havia algo sem forma, porém completo,

Existente antes do céu e da terra,

Sem som, sem substância,

De nada dependente, imutável,

Impregnando tudo, inquebrantável,

Pode se considerá-lo a mãe de todas as

coisas sob o céu.

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Segundo Whitmont (1969), Yin representa a natureza, é receptivo,

continente, envolvente, dócil, retraído, frio, úmido, escuro. É gerador, iniciador, representa o mundo em formação, os impulsos, anseios e instintos, a sexualidade. É percebido no simbolismo da Terra e da Lua, da escuridão, do espaço. É negativo, indiferenciado e coletivo.

As imagens simbólicas representantes do princípio feminino abrangem o mundo da natureza, da vida, das emoções e dos impulsos. Sua dinâmica diz respeito à fusão e ao envolvimento, sendo que separação e abstração referem-se ao masculino.

Yang é o principio criativo, representa ordem, iniciativa, energia, força,

agressividade e rebelião. Tem características como calor: estímulo, luz. Apresenta representações fálicas como espada, lança, manifesta-se na disciplina e separação, é individual. Representa o espírito, desperta, luta, é positivo e criativo, mas também destrói e restringe.As características de Yang dizem respeito ao mundo do

discernimento, do espírito e da ordem, como também da abstração.

A interação concreta entre homens e mulheres é percebida através da polaridade dualística dos princípios primordiais Yin e Yang. Homens não são encarnações do

Yang e nem as mulheres criaturas do Yin, mas expressam características desses

dois princípios em diversos graus.

De acordo com Whitmont, (1969), a masculinidade e a feminilidade não são determinadas por uma predominância absoluta, mas relativa, de um conjunto de características sobre o outro. Podemos encarar a Psicologia do homem como determinada por vários graus de predominância do Yang manifesto e uma

recessividade ou funcionamento em segundo plano do Yin. Do mesmo modo, a

mulher é caracterizada por uma predominância relativamente manifesta do Yin e

pelo funcionamento em segundo plano do Yang.

Para os princípios primordiais Yin e Yang, Jung (1993 [1927]) utilizou os

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masculino-feminino. Eros pode ser expresso como relacionamento psíquico e

Logos como interesse objetivo.

O aspecto dinâmico de Yin se expressa através do relacionamento, união,

envolvimento, contato humano e fusão, não necessariamente entendimento. Seu aspecto estático caracteriza-se pela indiferença, o ventre da alma que gera e destrói, avesso à disciplina. É impessoal e coletivo. O aspecto dinâmico do Yang é

um impulso para ação e também é desafiador. Seu aspecto estático manifesta-se como reflexão, consciência, discernimento, razão, lei, ordem.

Anima e Animus

C. G. Jung (1988 [1951) descreve o fato de que o consciente da mulher é mais caracterizado pela qualidade conectiva de Eros do que pela discriminação

cognitiva de Logos, dando-se o inverso para o homem. O inconsciente feminino tem

um sinal masculino, e o inconsciente masculino tem um sinal feminino, que ele designou animus e anima.

Pode-se afirmar que os princípios feminino e masculino são princípios

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observadas nas interações humanas de ambos os sexos e na interação, dentro da pessoa, de seu ego com seu animus ou anima respectivamente, conforme Ulanov

(1971).

Jung postula que podemos compreender esses dois arquétipos como atuantes num complexo funcional que se comporta de forma compensatória em relação à personalidade externa; de certo modo, uma personalidade interna que apresenta aquelas propriedades que faltam à personalidade externa, consciente e manifesta.

De acordo com Jung, há uma masculinidade recessiva na mulher que é o

animus, e uma feminilidade recessiva no homem, a anima. As características

manifestas, tanto para a mulher quanto para o homem, podem não ser completamente conscientes, e adicionando-se a isto os traços inconscientes complementares, teremos uma variação de interações entre o princípio feminino e o masculino na determinação da personalidade dominante e recessiva, que possibilitam vários tipos de personalidade, tanto feminina quanto masculina, conforme disse Whitmont (1994 [1969]).

É possível afirmar que o princípio feminino presente na consciência é complementado pela sua contraparte masculina inconsciente, o animus. E a

assimilação deste inconsciente deverá ocorrer de forma gradativa através da progressão por todas as fases do desenvolvimento. Kato, (2002, p. 15)

A anima e o animus são sempre necessariamente inconscientes e, de fato, operam como personalidades separadas e desconhecidas do sexo oposto – uma mulher inconsciente no homem e um homem inconsciente na mulher (...) e que tendem a funcionar de modo relativamente inferior, primitivo e inadaptado. (WHITMONT, 1969, p. 159)

Whitmont (1969), afirma que é imprescindível que a mulher integre seus potenciais inconscientes e para que isso seja possível é necessário confrontar-se com o animus e tudo aquilo que ele representa.

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independência e a responsabilidade, assim como a racionalidade.(WHITMONT, 1969, p. 189)

Arquetipicamente a feminilidade se realiza através de associações da imagem feminina que a menina ou menino, vão elaborando durante a infância. Essa interação vai possibilitar a formação de um padrão feminino, onde a anima poderá

mais tarde se realizar no aspecto pessoal.

Todas as experiências que correspondem ou são contíguas ao modo como o feminino foi encontrado pela primeira vez e de modo mais marcante, formam um padrão de expectativas a priori, que continua a funcionar por toda a vida do indivíduo. Tais expectativas, esperanças e temores interiores serão automaticamente projetados em pessoas. (WHITMONT, 1969, p. 170)

Os complexos formados em torno da anima dirigem as reações do homem

às situações emocionais e a determinadas mulheres e também modelam suas expectativas inconscientes em relação ao modo como essas mulheres se comportarão, segundo Whitmont (1969). Animus e anima são arquétipos que

subsidiam os padrões humanos gerais mais instintivos. No decorrer do processo de individuação, surge a necessidade de integração e elaboração de aspectos referentes ao arquétipo da anima-animus.

Whitmont (1995) esclarece que uma das formas mais básicas nas quais vivenciamos o conflito universal dos opostos em nós mesmos e nosso encontro com os outros é a polaridade masculino-feminino. Afirma que ao introduzir o conceito de Logos-Eros, Jung iniciou uma abordagem para o entendimento dessa

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Estágios do Desenvolvimento – Psicologia Analítica

A representação da serpente mítica que morde a própria cauda foi introduzida por Jung na Psicologia Analítica para indicar o indiferenciado e, junto a isso, o originário. Neste sentido, exprime a remitência à origem pela qual pode verificar-se nova interpretação de si e do mundo.

Do uróboro fala-se como do símbolo que mantendo juntos os opostos, dá

início à dinâmica psíquica e ao desenvolvimento da personalidade e, portanto, à constituição da própria identidade pessoal. Uróboro é o símbolo do “opus circulare”

obra circular da natureza e da arte, este símbolo era utilizado pelos alquimistas

para expressar a reconstrução de um estado de totalidade primitiva, de acordo com Piero (2002).

O estado psíquico inicial e a situação primordial nas quais o ego não está diferenciado do Self são representadas pelo uróboro. Ele representa a origem, os

opostos – positivo e negativo, masculino e feminino, luz e escuridão.

Segundo o modelo analítico, o ego, ao nascer, está imerso na totalidade do

Self, sem haver discriminação entre o eu e o não eu. O estado pré-egóico é o

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Neumann (2000 [1953]), a partir dos pressupostos da Psicologia Analítica, estabelece uma seqüência na qual o primeiro estágio, denominado de

relacionamento primal, é descrito como o da unidade psíquica. Neste estágio, o ego

do indivíduo do sexo feminino, assim como o do sexo masculino, se relaciona com a superioridade do inconsciente numa unidade tal que ainda não se pode falar em inconsciente e ego.

As fases do desenvolvimento da criança são descritas por Araújo, referendando os postulados de Neumann em sua obra História da origem da

consciência, onde este descreve os estágios do desenvolvimento psicológico. Fala

de uma fase urobórica, o Eu existe somente, como potencialidade latente, num

estado de identidade primária com o Self ou com a psique-objetiva. Este estado

perdura durante o período pré-natal e a primeira infância.Este primeiro estágio do desenvolvimento caracteriza-se pela indiferenciação com a totalidade.

A transição para o estágio posterior corresponde à criação do mundo para a psique individual. Este estágio é chamado de matriarcal, onde a consciência é

tênue e o Eu passivo e dependente da matriz urobórica, que agora toma o aspecto

da Grande Mãe. A este estágio pertence a imagem da mãe fálica incorporando

componentes masculinos e femininos. A busca do Eu é pela nutrição e sustento, evitando o aspecto destruidor, devorador da Grande Mãe.

O terceiro estágio é denominado de patriarcal. Na tentativa de libertar-se da

fase do matriarcado, o feminino é depreciado e rejeitado. O arquétipo do pai ou o princípio masculino expressa sua força, evoca a responsabilidade, a disciplina, a racionalidade, conforme citou Araújo. (apud Neumann, 1970, pp. 261-360)

O ser humano, desde bebê, tem duas tendências básicas: a de se adaptar ao meio que está inserido e também o desenvolver seus potenciais. O instinto e a cultura são polaridades básicas presentes no ser humano e essas duas tendências são importantes, pois o indivíduo precisa se inserir no coletivo, mas também precisa ser único. A mãe, no início da vida do bebê, através do relacionamento primal, é

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É importante que essa relação primal seja suficientemente boa, que a mãe compense os fatores de ameaça sentidos pelo bebê. A partir dessa experiência suficientemente boa com a mãe, o bebê pode experienciar um mundo externo bom.

Quando a relação mãe-criança é suficientemente boa, irá se desenvolver, a partir da matriz somatopisiquica inicial, uma diferenciação progressiva na criança entre seu corpo e o corpo da mãe, o qual é a primeira representação do mundo externo. Os conteúdos psicológicos lentamente se diferenciam dos somáticos na psique infantil. Dentro do padrão normal, é através da relação com a mãe que a relação simbólica verbal vai se desenvolvendo em harmonia com a corporal, complementando-a. A diferenciação psique-corpo vai se firmando e a relação mãe-criança dá a base para a formação da função transcendente. (RAMOS, 1994, p. 45)

Para Neumann (2002 [1954]), a tendência natural para a menina é a identificação com a mãe, que ainda pode continuar; já para o menino, a tendência é distanciar-se do relacionamento primal com a mãe e relacionar-se com o mundo

consciente, na forma de objetividade.

A relação primal é o fundamento de todos os relacionamentos, dependências

e relações subseqüentes. Meninas e meninos experienciam o relacionamento

primal diferentemente. Para a criança do sexo feminino, a mãe é algo semelhante a

ela, enquanto que o menino experiencia a mãe como algo que difere dele.

Para a criança, os pais, ou as pessoas que cumprem tais funções, são inicialmente suas relações mais próximas e mais afluentes. Quando ela cresce, outras fontes podem exercer influência, e as imagos (imagens subjetivamente

geradas) dos pais vão se retirando da consciência e se tornando cada vez mais

inconscientes, conforme Jung (1991 [1928]).

De acordo com Whitmont (1994 [1969]), de forma ideal, todo ser humano primeiramente deveria ser contido, amado, protegido, sustentado e alimentado pela mãe, e depois desafiado, conduzido e dirigido para ideais pelo pai. No entanto, este ideal nem sempre ocorre, e as relações internas variarão por excesso ou falta de um ou de outro, resultando em relacionamentos externos mais ou menos adequados.

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relacionamento interno adequado com os princípios feminino e masculino, e também proporcionará a base para o relacionamento externo adequado com figuras femininas e masculinas.

Um aspecto importante destacado por Ulanov (1971), é que o desenvolvimento do relacionamento interno da polaridade feminino-masculino só pode ser alcançado através da relação com o sexo oposto. Não podemos nos relacionar inteiramente com o outro sem encontrarmos nosso próprio eu profundo, e vice-versa. Isto significa que um desenvolvimento, desde seus estágios iniciais até o estágio da individuação e além não é alcançado através da introversão solitária.

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MITOS DE CRIAÇÂO E A MULHER – UM BREVE HISTÓRICO

Jung considera o mito como uma forma autônoma de pensamento e, portanto, não secundária nem subordinada em relação ao conhecimento racional, que a ela, pelo contrário, está entrelaçado. O material mitológico, para Jung, seria como o emblema da atividade psíquica.

O único elo entre o homem e o conhecimento de sua origem é o mito, memória de um tempo transformado num passado sempre crescente e irrecuperável; tentativa do homem encontrar-se por meio da palavra; discurso do homem sobre sua origem perdida. (MORAES, 1988, pag. 17)

De acordo com Jung, o estudo comparativo dos diferentes mitos e dos sistemas míticos das várias culturas e religiões resulta com efeito importante para a finalidade de reencontrar as convergências temáticas e motivos recorrentes, como vida, morte, abandono, separação, criação, destruição etc.

A linguagem mítica é a tênue superfície do originário que margina a existência do homem, e a memória de um tempo que o domina quase ao infinito e que ele,sem o saber, reanima, conforme Foucault (1995).

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época da Grécia Antiga, os primeiros cientistas que examinaram os espermatozóides julgaram ver um homúnculo no interior.

Buscando encontrar explicações racionais para os fenômenos naturais, os gregos tentaram explicar o surgimento do homem e como este transmitia a sua descendência.

Na semente estão contidas todas as partes do corpo do homem que serão formadas. A criança que se desenvolve no útero da mãe tem as raízes da barba e do cabelo que nascerão um dia. Também estão presentes nesta pequena massa todos os contornos do corpo e tudo o que a posteridade descobrirá nele. (Kolata,1998, p. 43 e 44).

Tubert (1996) salienta que a tradição judaico-cristã apresenta o mito de criação de Adão e Eva. A Gênese explica que Javé criou o mundo em sete dias, deixando, como último ato de sua criação, o homem. Como Adão, o primeiro homem, se sentisse só perante as outras criaturas, Javé criou a mulher para ser sua companheira. Assim, Eva é moldada a partir de uma costela de Adão. Nesse momento, acontece uma inversão, a mulher nasce do homem, formalizando o domínio masculino.

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Eva foi o nome que Adão deu a primeira mulher, e significa, “a mãe de todo ser vivo”. A história de Eva traz em seu significado a substituição da deusa-mãe de todo ser vivo por Javé, sendo, portanto, pautada na idéia da deusa destituída e da rejeição do feminino como entidade sagrada.

Quando Eva fala com a serpente, transgride a proibição de Javé e come o fruto da árvore do conhecimento, provocando a expulsão do primeiro casal do paraíso. Eva é considerada frágil e, na sua debilidade, é passível de ser seduzida e de seduzir Adão, oferecendo-lhe o fruto proibido, o que lhe confere características demoníacas. É culpada pela existência humana na sua condição de dor, trabalho, alienação e morte.

Eva, a primeira mulher, ocasionou as desgraças do homem. Ela simboliza a tentação, o pecado da carne, o desejo de sexo, responsável pela perda do paraíso terrestre. Ao descobrir a sexualidade, metáfora do fruto proibido, Eva é condenada a gerar e parir filhos, submetendo-se a Adão. A maternidade torna-se, portanto, o castigo oriundo do pecado.

Entretanto, a igreja constrói uma outra identidade feminina mítica, a Virgem poderosa – Mãe de Cristo. Mãe da Igreja, Mãe dos pobres e infelizes. O lugar mítico de Maria reinsere a mulher na maternidade, construindo o consenso do instinto maternal. O ideal de Maria é a maternidade imaculada ou a dessexualização do corpo feminino. Santo Irineu faz uma referência a estas duas personagens:

A desobediência de Eva foi a causa da morte para ela própria e para toda a humanidade. Apesar de Maria também ter tido um marido escolhido para si, sendo apesar disso virgem, pela sua obediência ela foi a causa da salvação para si própria e para toda a humanidade (...). O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria. ( SOWER, 1992, p. 281)

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homem e mulher são criados como iguais, a partir do pó; na segunda, Adão é criado em primeiro lugar surgindo a mulher de uma de suas costelas. É esta segunda versão, de que o ser feminino é gerado a partir do masculino, que confere à mulher um caráter imperfeito e uma tendência natural para pecar.

“Houve um defeito na formação da primeira mulher, uma vez que ela nasceu de uma costela dobrada (...) a partir deste defeito ela é um animal imperfeito, ela engana sempre”. Tseelon, (1995)

O Cristianismo representa o universo feminino com Eva e Maria. Enquanto todas as mulheres são identificadas com Eva e percebidas como pecadoras, Maria eleva-se a um estatuto de perfeição inatingível.

Centrando-nos em Maria, verificamos que ela acredita não na serpente tentadora, mas no mensageiro Celeste. Ela colabora, livremente, pela fé e obediência, na salvação dos homens, através da sua função de mãe do Criador.

Maria expressa a figura da mulher como mãe, como esposa e como virgem, ela é nomeada como Maria, a “Mãe de Jesus” e “Virgem Maria”. As questões da maternidade e procriação assumem em Maria particular significado, o que leva a conseqüências práticas para as próprias mulheres no que diz respeito aos seus papéis sociais.

A maternidade encarnada por Maria permite a salvação do sexo feminino e de redimir do pecado sua mãe Eva, desde que o comportamento das mulheres permaneça dentro de outros parâmetros de perfeição, como na primeira carta de Timóteo (2:15): “contudo salvar-se-á, tornando-se mãe, uma vez que permaneça na fé, na caridade e na santidade”.

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que a natureza imaculada de Maria, que inclui dar à luz uma criança permanecendo virgo intacta, excluem-na da experiência daquelas”.

A ordem da criação e a queda original funcionam de modo a fundar bases de hierarquização sexual que se refletem nas relações sociais; as figuras de Eva e Maria convencem a mulher de que não existe escolha, pois, independentemente do seu desejo, a maternidade torna-se um destino inquestionável.

Essa construção mítica ao longo do tempo constitui a base da significação psíquica e social da maternidade. Concomitante a esse processo, a ciência aponta novas descobertas e traz uma gama de desafios frente ao mistério da vida e concepção.

A MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA

Tubert (1996) salienta que para muitos povos, o matrimônio só era considerado completo com o nascimento de uma criança. Reitera ainda a importância da fecundidade em alguns momentos da história e mostra como a mulher, sendo mãe, entra na ordem do simbólico.

Em algumas sociedades pastoris, o homem pagava, com seu gado, a mulher que lhe desse o direito de considerar, como próprios, os filhos dela. A infertilidade feminina anulava o casamento, e o preço da noiva era devolvido, a não ser que os pais providenciassem outra mulher da família para o esposo.

Mecozzi (1993) explica o fenômeno do patriarcado através da história das sociedades como uma relação de subordinação das mulheres pelos homens. No período patriarcal, o homem sempre teve o poder de decisão e a mulher foi submetida ao homem, nas figuras do pai, irmãos e depois marido; à mulher, só restava ser complacente, submissa e obediente.

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Tubert (1996) explica que a situação da mulher, enquanto participação social, não se transformou durante a Revolução Francesa, embora a condição de esposa e mãe tivesse sido arduamente proclamada. Nos tempos que se sucederam à Revolução Francesa, a função materna permanecia enaltecida, na condição de “mães de gerações futuras”.

Como explica Perrot (1991), as mulheres eram tidas como a representação do privado e sua participação ativa em qualquer atividade fora do lar era rejeitada pelos homens. Elas não tinham qualquer direito político. As mulheres eram reconhecidas somente por seus papéis sociais de mãe e esposa, não havendo espaço para expressão de sua individualidade. Desse modo, o útero define a mulher e determina seu comportamento e seu lugar na sociedade como mãe.

A mulher torna-se símbolo de fragilidade e deveria ser protegida do mundo exterior, público. Por outro lado, as mulheres também são representadas como o inverso do homem, identificadas por sua sexualidade e seu corpo, enquanto o homem é identificado por seu espírito e energia.

De acordo com Perrot (1991), no séc. XIX, o ideal materno passou a ser usado no discurso que justifica a ausência da mulher na vida política. A diferença de funções colocava a mulher na esfera do privado e confere ao homem o domínio sobre o público. Assim, a vocação materna foi consolidada e ser mãe era uma “missão”, uma experiência que implicava sacrifícios, dor e sofrimento. A glorificação da maternidade, ainda no séc. XIX, constituía um fenômeno, sobre o qual podiam ser feitas várias leituras.

O materialismo histórico enfatiza a divisão sexual do trabalho. No capitalismo, a industrialização se expandiu, e a produção no lar deu lugar à produção fora de casa. O homem, cada vez mais afastado do lar, pelas novas condições sociais e econômicas, transferia para a mulher a educação dos filhos.

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contexto, passou a ser cultuada. De acordo com Badinter (1985), o discurso feminista, por outro lado, advertia que o culto da maternidade articulava-se com a restrição feminina na esfera pública, e percebia-se nele um aspecto de compensação.

Em meados do séc. XIX, a necessidade de mão de obra para a indústria, devido à expansão do capitalismo, convocou as mulheres para o trabalho nas fábricas. A industrialização, com sua carga horária de 12 a 14 horas diárias, criou mães extenuadas que não conseguiam realizar o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos.

Tubert (1996) relata que essa situação alarmou a sociedade, e começaram a surgir, no início do séc. XX, movimentos que reivindicavam uma legislação que protegesse as mães, reduzindo a jornada de trabalho, proporcionando tarefas mais leves para as mulheres e concedendo-lhes licença-maternidade.

A segunda metade do séc. XX presenciou uma revolução na vida das mulheres ocidentais. Cada vez mais integrada ao sistema produtivo, a mulher não ficava mais confinada ao lar. O trabalho doméstico das mulheres passa a ser denunciado como uma alienação, uma sujeição ao homem. Assim, trabalhar fora vem a ser para as mulheres o sinal de emancipação.

Badinter (1996) comenta que a maternagem não era mais o eixo principal da vida feminina, que se deslocava para outros campos, como a vida profissional e afetiva. Os métodos de contracepção mudaram a relação da mulher com a sexualidade, colocando-a no domínio de sua fecundidade.

Segundo Prost e Vincent (1992), os recursos aos métodos anticoncepcionais modernos e sua legitimação, historicamente recente, transformam significativamente a vida privada.

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Prost e Vincent (1992) observam que há alguns anos, quando a mulher havia cursado uma universidade, muitas vezes renunciava a qualquer atividade profissional na hora de se casar.

O fato é que atualmente a ascensão social da mulher coloca em questão as relações conjugais. As mulheres com nível de instrução mais elevado são as que se declaram menos satisfeitas com seus casamentos e que sua autonomia, muito maior em relação ao marido, requer uma nova definição da vida conjugal, uma nova divisão das funções e dos papéis, não só dentro, como também fora da família.

A estrutura patriarcal coloca a mulher numa posição de passividade, concebe a mulher como algo frágil, inferior. Mecozzi (1993) entende que a mulher foi anulada, não tendo valor como pessoa. Ela era situada num mundo de papéis; esposa, mãe, dona de casa; fazendo com que seus verdadeiros sujeitos femininos desaparecessem, por trás de seus papéis sociais.

O padrão patriarcal, durante um longo período, exerceu sua primazia. Podemos compreender isto através da supremacia das características masculinas sobre as femininas; o dinamismo patriarcal usurpou das mulheres o direito de viver sua própria vida, de desenvolver sua individualidade, assim como as potencialidades do princípio feminino.

Pode-se dizer que, embora, as normas e leis do padrão patriarcal ainda rejam nossa sociedade, há uma confrontação acerca desse dinamismo.Embora o dinamismo patriarcal exerça grande influência em nossa sociedade, este padrão está mudando, estamos caminhando para um novo ciclo arquetípico.

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Destaca que existe uma hierarquia masculina que é vivida e sentida com valor superior ao feminino, o masculino tem sempre um valor positivo, o feminino negativo. A primeira mulher destacada por Lipovetsky está inserida no contexto

onde todas as atividades que são valorizadas são exercidas por homens.

Ainda que muitas mulheres ocupem posições e atividades ditas masculinas, quase sempre estão em segundo plano, subordinadas a chefia e controle masculino. Por mais que seja confiado às mulheres algum poder, em determinados grupos sociais ou culturas, estas quase nunca assumem cargos elevados, como funções políticas, militares, sacerdotais.

A única função feminina que escapa a essa desvalorização é a maternidade, mas nem por isso a mulher deixa de ser uma “outra” inferior e subordinada, pois seu papel fica restrito ao cuidado dos filhos e às tarefas sem prestígio da vida doméstica.

Lipovetsky (2000) aponta que as mulheres são sempre colocadas em segundo plano, a elas são conferidas a sombra e o esquecimento concedidos aos sujeitos inferiores. O autor cita que, apesar de depreciadas, as mulheres não deixam de ser detentoras de poderes temidos pelos homens. A mulher é associada às potencias do mal e ao caos.

A segunda mulher descrita por este autor vive um período onde

sacraliza-se a “esposa-mãe-educadora”. A mulher torna-sacraliza-se o belo “sacraliza-sexo”, é colocada em um pedestal e coberta de louvores e honras. A mulher nunca foi tão idealizada, passa a ser considerada uma divindade que tem o poder de elevar o homem, mas não deixa de sair da sombra.

A primeira mulher era diabolizada e desprezada; a segunda mulher,

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Lipovetsky (2000) postula que esta época está terminando e estamos entrando em uma nova era, onde a mulher, a terceira mulher, torna-se dona de si

mesma, onde tudo na vida feminina torna-se passível de imprevisibilidade. Hoje, muitas mulheres têm direito de planejar e definir suas vidas, de construir seu futuro. “Tanto a primeira como a segunda mulher, estavam subordinadas ao homem, a terceira mulher é sujeita de si mesma. A segunda mulher era uma criação ideal dos homens, a terceira é uma auto-criação feminina.” (LIPOVETSKY, 2000, p. 237)

A mulher contemporânea está disposta a aprender a lidar com suas dificuldades e a usar suas potencialidades na direção do amadurecimento. Ela deve entrar em contato com seu animus, sua masculinidade interior, para que se

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FERTILIDADE E INFERTILIDADE

Apenas no final do séc. XIX os cientistas iniciaram pesquisas a respeito do desenvolvimento embrionário. Nesse período, descobriram que o óvulo desempenhava papel importante para a fecundação humana, desmistificando a idéia de que apenas o homem, com seu espermatozóide, era o responsável pela geração de vida humana, sendo a mulher considerada mero receptáculo para o novo ser.

Em meados do séc. XX, foi descoberto o processo de meiose celular, que originava as células reprodutoras, e, através da união do espermatozóide com o óvulo, fazia surgir um pequeno ser, possuidor de metade do material genético da mãe e metade do pai.

Apenas na década de 50, graças aos trabalhos de dois grandes geneticistas, Watson e Crick, foi possível desvendar a estrutura do DNA, o material genético primordial de todo ser humano. Daí para frente, os avanços na área da genética foram espantosos e em curto espaço de tempo foi possível o desenvolvimento de técnicas de manipulação do material genético e de fertilização humana em laboratório.

O final da década de 1970 assistiu o nascimento de bebês de proveta, a ficção de Aldous Huxley ganhava forma e se tornava realidade com o nascimento de Louise Brown. Após esse, vários outros bebês de proveta surgiram em todo o mundo. Aperfeiçoaram-se as técnicas de reprodução assistida, surgindo novas tecnologias na área.

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Tognotti (1997) postula que a reprodução entre os seres humanos traduz um processo complexo e envolve o equilíbrio entre estruturas morfológicas, funcionais e comportamentais.

A complexidade das etapas necessárias para que aconteça a reprodução humana explica como o processo não ocorre com 100% de eficiência. Estima-se que um casal fértil, sem contracepção, tenha 20 a 25% de chance de gravidez, a cada ciclo menstrual. Assim, em doze ciclos de tentativas, o casal fértil alcançaria uma taxa cumulativa de 92 a 95% de chance de gravidez, conforme Brandi et al

(1997).

Petracco & Badalotti (1997) apontam os fatores que determinam o desenvolvimento adequado do processo reprodutivo.

1 – Que os espermatozóides sejam produzidos em número e qualidade adequados, resultado da função testicular.

2 – Que os espermatozóides sejam depositados na vagina, resultado do processo de copulação. É necessária a integridade anatômica e funcional dos aparelhos genitais masculino e feminino.

3 – Que a copulação aconteça no momento correto, ou seja, no período periovulatório.

4 – Que os espermatozóides experimentem livre trânsito pelo aparelho genital feminino, fato denominado espermomigração.

5 – Que os ovários sejam normais, com um número adequado de folículos primordiais e que recebam estímulos hormonais responsáveis pelo recrutamento, seleção e postura de um oócito maduro.

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Para as mulheres, fertilidade significa a habilidade de engravidar e ter um bebê. O aparelho reprodutor feminino compreende: dois ovários, duas trompas de Falópio, útero e vagina. Os ovários localizam-se abaixo das trompas de Falópio, um em cada lado do útero. Em cada ovário encontramos uma parte de tecido conjuntivo pela qual penetram vasos sanguíneos, uma camada na superfície externa recoberta por um epitélio germinativo e logo abaixo deste, a porção cortical do ovário, relacionada principalmente com o desenvolvimento dos óvulos e a secreção dos hormônios ovarianos, de acordo com Piato (1981).

Os anos reprodutivos da mulher começam quando ela inicia seus ciclos menstruais durante a puberdade, entre 10 e 13 anos e a capacidade de ter um filho acaba em torno dos 45 anos de idade, embora seja potencialmente possível para uma mulher engravidar até que seus ciclos menstruais cessem com a menopausa, por volta dos 50 anos.

Quando um bebê do sexo feminino nasce, já têm em seu corpo cerca de 400.000 ovos imaturos, oócitos, que são armazenados em seus ovários. Na idade reprodutiva, começa a ter ciclos menstruais mensais e durante cada ciclo, o ovário libera um ovo, ou menos comumente, mais do que um, que pode vir a juntar-se com o espermatozóide de um homem e dar início a uma gravidez. O desenvolvimento e a liberação do ovo dependem de um delicado equilíbrio de hormônios, alguns desses desenvolvidos nos ovários e outros provenientes de duas glândulas situadas no cérebro, o hipotálamo e a pituitária.

Segundo Petracco et al (1999), a partir destes aspectos fisiológicos, foram

estabelecidos critérios para definir o conceito de infertilidade. Na prática clinica, o período de 12 meses foi definido após a constatação de que 80% dos casais engravidam em um ano de tentativa.

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A Associação Americana para Medicina Reprodutiva considera infertilidade a falta de gestação detectada, clínica e hormonalmente, após 12 meses de relações sexuais normais, sem anticoncepção. Esse critério apóia-se na observação de que 80% dos casais engravidam em um ano de tentativa, conforme Petracco & Badalotti (1997).

Brandi et al (1997) consideram o período de um ano para conseguir

engravidar estatisticamente significativo e importante do ponto de vista clínico.A Organização Mundial de Saúde (OMS), citada por Petracco et al (1999),

recomenda, no entanto, uma classificação mais conservadora, ampliando o período para dois anos.

Infertilidade é a incapacidade de um e/ou dos dois cônjuges, quer por causas orgânicas ou não, obter gravidez no período conjugal de no mínimo 1 ano, sem o uso de contraceptivos e com vida sexual ativa. Vale ressaltar que esse critério é também utilizado pela Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE).

Uma vez esgotado o prazo estabelecido, inicia-se a investigação das possíveis causas da infertilidade. Entretanto, Tognotti (1997) considera que outros parâmetros também justificam o início da pesquisa propedêutica antes desse período, como, por exemplo, a idade avançada da mulher, histórico de inflamação pélvica, complicações infecciosas pós-aborto ou parto, alteração em espermograma anterior e dificuldade na relação sexual.

A infertilidade afeta aproximadamente 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva, porém, a incidência da infertilidade varia intensamente conforme a região geográfica a ser analisada. Em termos gerais, estima-se que possa variar entre 10 e 30% dos casais em idade fértil.

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Brandi et al (1997) indicam que nos países industrializados, a incidência da infertilidade em mulheres na idade fértil é de 3,6 a 14,3%. Em algumas regiões da África, a prevalência da infertilidade chega a atingir 30% da população em idade fértil.

De acordo com Tognotti (1997), não se dispõe de dados estatísticos precisos sobre a incidência de infertilidade na população brasileira, mas esse índice deve ser expressivo devido à presença acentuada de processos infecciosos pélvicos adquiridos por contato sexual, nos partos ou em abortos realizados em condições inadequadas.

A infertilidade afeta aproximadamente 80 milhões de pessoas no mundo inteiro. Conforme o manual de reprodução humana da FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia), citada por Febrasco (1997), a infertilidade pode ser dividida em:

- Primária: significa que a mulher nunca concebeu, apesar da prática de coitos regulares sem anticoncepção por um período mínimo de dois anos.

- Secundária: refere-se à mulher que já concebeu anteriormente, todavia não volta a fazê-lo, apesar de manter atividade sexual regular sem anticoncepção por um período mínimo de dois anos, incluindo, neste caso, o abortamento e a gravidez ectópica.

De modo geral, foi constatado que nos últimos anos, houve uma diminuição significativa no índice de fertilidade. Toulemon apud Petracco & Badalotti (1997) menciona que esse declínio traduz a queda da fertilidade no final da vida reprodutiva da mulher, principalmente na faixa dos 30-35 anos.

De fato, a idade é um aspecto importante a ser considerado na infertilidade. No caso específico da mulher, Brandi et al. (1997) apontam que de 20%, a chance

de engravidar até os 30 anos diminui para 5% nas mulheres acima dos quarenta.

Speroff et al (1995) defendem que o aumento do número de casais estéreis

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folículos ovarianos. Cerca de 4% das mulheres entre 15 e 24 anos tem fertilidade prejudicada, 13% entre 25 e 24 anos e aproximadamente 30% entre 35 e 44 anos.

Para o homem, o efeito da idade sobre a capacidade reprodutiva não é tão devastador. Segundo Tognotti (1997), estima-se que, na faixa dos 64 anos, a taxa de fertilidade masculina possa cair 36%, quando comparada com as idades de 20 a 24 anos.

Petracco & Badalotti (1997) observam que, além dos fatores biológicos e fisiológicos, outros aspectos relativos ao estilo de vida e ao meio ambiente têm influência sobre a capacidade reprodutora. Como fatores relativos ao estilo de vida, são apontados a dieta, o estresse, fumo, álcool, freqüência coital e drogas recreacionais e medicinais.

Quanto à questão etiológica, a infertilidade pode ser de origem masculina, feminina ou combinada. Vários autores apontam a importância de se considerar a infertilidade uma condição do casal, o que leva à necessidade de se proceder uma investigação completa tanto no homem como na mulher.

A infertilidade é um problema que afeta tanto as mulheres quanto os homens, abarca a vida humana em toda sua complexidade e em todos os âmbitos. Pode ser descrita como uma crise vital, na qual se atribui múltiplos fatores e que se traduz em um enorme desgaste emocional. Numa sociedade onde a validação social é formada pela construção cultural de gênero de papéis, a questão da reprodução ocupa um papel significativo, segundo Appleton (1999).

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O alto custo financeiro do tratamento, a necessidade de procedimentos cirúrgicos e a invasão da intimidade sexual do casal são adicionais fontes de estresse. Casais inférteis podem sofrer sentimentos de inadequação, desamparo, tristeza, inveja, ciúmes em torno de mulheres grávidas, medo, baixo desejo sexual. Nos homens a ocorrência de disfunção erétil, instabilidade emocional, baixa auto-estima, culpa, depressão e idéias de suicídio.

Um aspecto singular da infertilidade é seu caráter cíclico, que mobiliza profundamente o casal, já que no início do ciclo menstrual há a vivência de esperança com a possibilidade de uma possível gravidez. Num curto período de tempo, aproximadamente 15 dias, também ocorre a vivência de fracasso, quando por fim acontece a menstruação e mina o sonho da maternidade e paternidade.

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OBJETIVO

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CAUSAS DA INFERTILIDADE

As causas da infertilidade feminina podem ser atribuídas aos seguintes fatores:

- Fatores endócrinos - Endometriose pélvica - Ovário policístico - Disfunções ovulatórias - Fatores uterinos - Fatores tubáreos - Fatores vaginais - Fatores imunológicos - Distúrbios sexuais

- Abortamento espontâneo de repetição

- Fatores nutricionais e metabólicos (desordens da tireóide, diabetes mellitus, distúrbios nutricionais graves) (ver ERICKSON, 2005)

- Infertilidade idiopática/Esterilidade sem causa aparente – ESCA

Causas da infertilidade masculina:

- Azoospermia (ausência da produção de espermatozóide) - Azoospermia obstrutiva (vasectomia)

- Oligozoospermia (concentração baixa de espermatozóides) - Astenozoospermia (motilidade baixa de espermatozóides) - Teratozoospermia (morfologia inadequada do espermatozóide)

- Oligoastenozoospermia (concentração e motilidade baixas de espermatozóides) - Oligoastenoteratozoospermia (concentração, motilidade baixas e morfologia ruim)

- hipospermia (volume reduzido do esperma) - Anejaculação (não apresenta ejaculação)

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As causas masculinas da infertilidade são discriminadas em:

- Pré testiculares - Testiculares - Pós testiculares - Idiopáticas

De acordo com Rabar e Erickson (2005), as causas mistas ou combinadas, que correspondem a 1/3 dos casos, são dificilmente avaliadas.

Infertilidade inexplicada, infertilidade psicogênica, infertilidade sem causa aparente e infertilidade funcional, são termos que remetem a um mesmo significado. Giordano (1989) reserva o uso do termo esterilidade sem causa aparente para os casais que, apesar dos esforços próprios e da medicina, não conseguem ter filhos e os profissionais da saúde sabem identificar sua causa.

Classifica-se como portador de infertilidade sem causa aparente o casal que não atingiu concepção, após dois anos de união com vida sexual ativa sem uso de anticonceptivos e cuja investigação não logrou determinar o fator causal. Esta mobilidade acomete 10% a 20% de todos os casais inférteis, conforme Febrasgo (1997); Isaksson & Tiinen (2004).

Tognotti (1997) enfatiza que a primeira consulta de investigação deve envolver o casal. É o momento de se falar sobre as características do processo reprodutivo e dos exames a serem realizados. Entretanto, como cita Jacob (2002), habitualmente a mulher é primeiramente encaminhada ao ginecologista.

Em muitos casos a investigação da infertilidade acontece unilateralmente, ou seja, a mulher busca atendimento médico sem seu companheiro, somente ela responde a anamnese e realiza os exames clínicos.

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exames compõem o protocolo de investigação. Dos simples aos invasivos, como por exemplo, hemograma, espermograma, colpocitologia oncócita, reação sorológica, dosagens hormonais, temperatura basal corpórea diária, análise de secreção pós-coito, análise seriada do muco cervical. Exames diagnósticos mais invasivos podem incluir biópsia endometrial, histeroscopia, histerosalpingografia e laparoscopia.

O espermograma é a prova mais importante na avaliação do fator masculino. Este exame analisa as características físico-químicas, dinâmicas e morfológicas do sêmen. A Organização Mundial de Saúde estabelece os padrões de análise do material. Os principais aspectos a serem avaliados no espermograma são: volume, pH, concentração, motilidade, vitalidade, morfologia, número de leucócitos e aglutinação.

Os procedimentos de diagnósticos atualmente explicam 90% das causas de infertilidade. Tognotti (1997) indica que na investigação da infertilidade feminina é importante discriminar as mulheres com ciclos menstruais regulares e o daquelas que têm ciclos irregulares ou amenorréia. Quando a mulher apresenta ciclos regulares, o que se busca com a rotina propedêutica é confirmar a presença do processo ovulatório e a qualidade do corpo lúteo e do endométrio. No caso das mulheres que apresentam ciclos menstruais irregulares ou amenorréia, a avaliação visa identificar as causas de uma possível anovulação crônica.

INFERTILIDADE E IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS

O modelo psicogênico dominou a década de 1980, período em que os pesquisadores afirmaram que a maioria dos estudos envolvendo mulheres inférteis era voltado mais para a abordagem dos fatores psicológicos na etiologia do problema do que para as conseqüências psicológicas da infertilidade.

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pesquisadores sugerem que o estresse pode influenciar negativamente o resultado do tratamento da infertilidade e a prática clínica confirma a presença de sintomas psicológicos determinados pelo tratamento.

Diferentes mecanismos biológicos relacionados ou desencadeados pelo estresse podem alterar a função reprodutiva a ponto de causar redução de fertilidade. É extremamente difícil estabelecer relações de causa-efeito, entretanto, pesquisas científicas desenvolvidas nesta última década privilegiam a abordagem dos aspectos psicológicos da infertilidade, isto é, consideram que o impacto da infertilidade provoca reações emocionais adversas em homens e mulheres.

Ao comentar sobre esse ponto de vista, Christie (1998) afirma que as evidências científicas sobre a influencia psicológica na infertilidade são inconclusivas. Muitas mulheres com sérios problemas psicológicos concebem e dão à luz, enquanto outras, razoavelmente normais, não engravidam.

Vale ressaltar que só se pode falar da participação de fatores psicológicos como causa da infertilidade em casos onde não foi possível detectar anomalias que pudessem constituir uma etiologia orgânica.

Os pesquisadores estão divididos na proposição de que a infertilidade pode ter causas psicológicas, hipótese psicogênica, ou ser causa de uma variedade de dificuldades psicológicas. A infertilidade e os aspectos emocionais convergem na seguinte questão: se existem determinantes psíquicos incidindo sobre a fertilidade, ou se é o problema que acarreta conseqüências psicológicas.

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Diante da perda ou da ameaça do poder de procriação, muitas vezes não se distingue o que causa maior sofrimento: a ausência do filho desejado ou os sentimentos de fracasso, de perda e de insegurança que invadem o indivíduo nessa situação. A infertilidade é sentida e vivida como um evento traumático para a maioria dos casais, sendo experienciada por eles como o evento mais estressante de suas vidas, conforme Klonoff-Cohen et al (2001).

Para Ribeiro (2004), o desejo de sermos pais como nossos pais floresce de nossa trama identificatória, e os sentidos possíveis de ser homem e de ser mulher perpassam as funções parentais. A capacidade de procriação parece ser um significativo referencial da identidade de gênero, o qual diante do diagnóstico de infertilidade exige um importante trabalho de elaboração psíquica para dar conta da possível alteração no projeto da parentalidade.

Goldstein (1996) postula que a maternidade ainda é um elemento muito importante, que define o lugar da mulher em nossa sociedade. A persona da mãe continua muito valorizada dentro da cultura ocidental. Muitas vezes a maternidade é desejada como uma tentativa das mulheres inférteis construírem sua identidade feminina, através do papel de mãe. Por esta razão, a maternidade é muito idealizada. Coloca que é uma forma de essas mulheres sentirem-se femininas. Elas experienciam um sentimento de solidão e o filho desejado acaba sendo o depositário do poder de preencher a sensação de vazio que sentem. O bebê é esperado como se fosse o messias, o grande salvador, que irá dar sentido a toda a existência.

Yin (1987) comenta que a infertilidade tende a gerar dificuldades internas de relacionamento social, isolando a mulher do contato com o outro, bem como dificuldades no relacionamento conjugal, diminuição da auto-estima e comprometimento da identidade feminina. Coloca ainda que as mulheres inférteis também tendem a vivenciar seu sofrimento de forma muito reservada, sem compartilhá-lo ou quando o fazem, com muita dificuldade.

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como intensas decepções e frustrações quando percebem que não estão grávidas. Sentem-se pressionadas por familiares e amigos para engravidarem e quando questionadas sobre a falta do filho, experienciam sentimentos de vergonha, culpa e raiva. Algumas mulheres não conseguem assumir perante o grupo social que estão com dificuldades para engravidar e preferem dizer que não estão tentando ou não querem um filho.

Para Yin (1987), o binômio casamento-maternidade ainda está profundamente enraizado em nossa sociedade. Existe um forte estereótipo social em relação à mulher infértil, que é considerada uma pessoa fracassada e incompleta.

É consenso, tanto na área de saúde, quanto na população leiga, o impacto que o diagnóstico de infertilidade tem sobre estes pacientes. Em sua maioria, os trabalhos científicos que investigam a questão da infertilidade e psiquismo corroboram a premissa de que a infertilidade está intimamente implicada nos aspectos emocionais dos indivíduos.

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REPRODUÇÃO ASSISTIDA

A tecnologia conceptiva ter-se-ia desenvolvido em função de uma demanda tão antiga quanto a própria humanidade: o desejo de ter filhos, de continuidade, de formação de famílias, enfim, de reprodução social, de acordo com Corrêa (2002). A introdução da FIV – Fertilização in Vitro – para o tratamento da infertilidade foi um dos maiores passos na descoberta da medicina reprodutiva atual.

Em 1978 nasce o primeiro bebê após fertilização in vitro (FIV), na Inglaterra, e, em seguida, iniciam-se, no Brasil, as primeiras tentativas de repetição exitosa de emprego da mesma tecnologia, o que veio a ocorrer em 1984. Desde então, bebês de proveta, troca de material reprodutivo humano, congelamento de embriões, clonagem, medicina genética preditiva, entre outros temas, não deixaram mais de sofrer ampla e intensa exploração midiática, conforme Corrêa (1997b).

Concomitante ao desenvolvimento das técnicas de reprodução assistida, surgem na sociedade discussões de problemas éticos, morais, pessoais, fomentados pela disseminação de intervenções no processo reprodutivo. As implicações advindas deste avanço tecnológico impacta a sociedade no plano das constituições de famílias, da subjetividade e das identidades.

As Tecnologias de Reprodução Assistida (TRA) são procedimentos complexos, aplicáveis a mais ou menos 30% dos casais que procuram ajuda para engravidar. O chamado “bebê de proveta” ou Fertilização in vitro, ICSI, ovodoação, biópsia embrionária, são algumas das técnicas que compõem as TRA. Destaca-se dentre estas a micromanipulação, que serve para aumentar as chances de sucesso de gravidez. São técnicas que utilizam microscópios de tecnologia avançada, capazes de injetar um único espermatozóide dentro do óvulo.

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capacidade da paciente e seu parceiro para produzir óvulos e espermatozóides de qualidade mínima, que possam fertilizar in vitro, segundo Lass (1999).

O casal infértil necessita ser submetido a uma investigação precisa, incluindo história familiar, análise do sêmen, teste pós-coito, permeabilidade das trompas e função ovariana. Para Lass (1999), em relação aos exames complementares que fizeram parte da investigação, a histerossalpingografia, a ultra-sonografia, a videolaparoscopia e a videohisteroscopia, dentre outros, poderão alterar o curso do tratamento.

Existem também possíveis efeitos colaterais das Técnicas de Reprodução Assistida, como a ocorrência de gravidez múltipla, prematuridade, síndrome da hiperestimulação ovariana, efeitos colaterais dos hormônios, conforme Eugster e Vingerhoets (1999).

FERTILIZAÇÃO IN VITRO – FIV

A Fertilização in Vitro atende um grande número de problemas de infertilidade, especialmente aqueles relacionados aos fatores femininos. O programa de FIV é realizado em quatro etapas: 1) desenvolvimento dos folículos ovarianos (vesículas contendo os óvulos); 2) coleta dos oócitos (óvulos); 3) fecundação do óvulo e crescimento do embrião; 4) transferência do embrião para dentro do útero, segundo Lass (1999).

Inicialmente, são utilizadas algumas drogas (hormônios) isoladas ou combinadas, com o objetivo de estimular o crescimento do maior número possível de óvulos. Esses medicamentos proporcionam a coleta múltipla de óvulos. Um número maior de óvulos aumenta as chances de fecundação e, consequentemente, maior número de embriões a serem transferidos.

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desenvolvimento folicular, de modo a permitir que os óvulos terminem seu desenvolvimento.

O monitoramento é feito através da ultra-sonografia endovaginal, que é utilizada para acompanhar o crescimento dos folículos ovarianos. As ultra-sonografias geralmente são iniciadas antes da aplicação das medicações, e após cinco a oito dias de tratamento. Cada vez que a paciente se submete a esse exame, possivelmente fará uma coleta de sangue para medir o estradiol e, às vezes, progesterona. Esses hormônios ajudam a determinar se os níveis sanguíneos estão de acordo com o perfil esperado para assegurar a maturidade folicular. A HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana) será aplicada quando os parâmetros hormonais e ultra-sonográficos indicarem que a ovulação está prestes a ocorrer, de acordo com Lass (1999).

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Gráfico 1. Distribuição quanto ao nível socioeconômico
Gráfico 2. Distribuição quanto à idade em faixas etárias
Gráfico 3. Distribuição quanto a naturalidade
Gráfico 4. Distribuição quanto a cor
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Referências

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