Notas para o acompanhamento das aulas de
C´
alculo Diferencial e Integral 1
Cap´ıtulo 1
N´
umeros Reais e Fun¸c˜
oes
1.1
Conjuntos Num´
ericos
A teoria envolvendo a constru¸c˜ao matem´atica rigorosa dos conjuntos num´ericos, suas opera¸c˜oes e propriedades foge aos objetivos deste curso introdut´orio. Tal estudo ´e visto em disciplinas mais avan¸cadas de Teoria dos N´umeros e
An´alise Real (ouAn´alise Complexa).
Abaixo segue um resumo de tais conjuntos.
Conjunto don´umeros naturais:
N={1, 2, 3, 4, 5, . . .}.
Alguns autores consideram0(zero) como n´umero natural.
Conjunto dosn´umeros inteiros:
Z={. . . ,−5,−4,−3,−2,−1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, . . .}.
A palavran´umeros em alem˜ao ´e escrita comozahlen.
Conjunto dosn´umeros racionais:
Q=a
b :a, b∈Zeb6=0
.
Existe uma rela¸c˜ao de equivalˆencia importante emQ:
a b =
c
d ⇐⇒ad=bc.
Assim, por exemplo, 1 2=
3
6, pois1.6=2.3.
Todo n´umero racional pode ser escrito em uma forma decimal, sendo esta forma “finita” ou “infinita” formando uma d´ızima peri´odica. Por exemplo,
1 2 =0, 5
7
8 =0, 875 1
3 =0, 3333 . . .
41
333 =0, 123123123 . . .
Existem n´umeros que n˜ao s˜ao racionais. Por exemplo, o comprimento da hipotenusa de um triˆangulo retˆangulo cujos catetos medem uma unidade de comprimento. Tal n´umero ´e indicado por√2e ´e uma raiz da equa¸c˜aox2=12+12 (esta equa¸c˜ao ´e proveniente doTeorema de Pit´agoras), ou seja, x2=2.
Ö2
1 1
Mas como saber se√2n˜ao pode ser escrito na forma a
b coma, b∈Zeb6=0? Necessitamos de umademonstra¸c˜ao
matem´atica.
Suponhamos que existama, b∈Zcomb6=0 de tal modo que a b =
Sabemos que todo n´umero inteiro maior do que1pode ser fatorado em produto de n´umeros primos e tal fatora¸c˜ao ´e ´unica a menos de permuta¸c˜ao dos fatores (este ´e o conhecido Teorema Fundamental da Aritm´etica). Assim, a =
p1p2. . . pn eb=q1q2. . . qm compi, qjn´umeros primos. Logo,
a
b =
√
2⇒ a
2
b2 =2⇒
(p1p2. . . pn)2
(q1q2. . . qm)2
=2⇒ p1p1p2p2. . . pnpn q1q1q2q2. . . qmqm
=2⇒p1p1p2p2. . . pnpn =2q1q1q2q2. . . qmqm.
Ocorre que na ´ultima igualdade, a quantidade de fatores iguais a 2 no primeiro membro ´e par, enquanto que no segundo membro ´e ´ımpar. Uma contradi¸c˜ao que surgiu do fato de supormos que √2 ´e um n´umero racional. Logo, conclu´ımos que √2 n˜ao ´e um n´umero racional.
Ali´as, o leitor perceber´a facilmente que o racioc´ınio desenvolvido acima pode ser repetido para qualquer n´umero da forma√pcompprimo.
Podemos associar os n´umeros racionais a pontos de uma reta. Para tanto, basta fixarmos dois pontos A e B
distintos na reta e associarmos os n´umeros0e1, respectivamente. Com isto, estabelecemos umaunidade de medida geom´etrica sobre a reta que, por meio de seus m´ultiplos e subm´ultiplos, permite a localiza¸c˜ao dos demais n´umeros racionais sobre a reta. Os n´umeros racionais positivos est˜ao associados a pontos da semirreta com origem emAque passa por B, enquanto que os n´umeros racionais negativos est˜ao associados a pontos da semirreta com origem emA
que n˜ao passa porB. A figura abaixo esclarece o procedimento acima.
0 1 2 3
-1 -2 -3
-0 5,
A B
2 5, 5
2
Existem pontos da reta que n˜ao est˜ao associados a n´umeros racionais. Tais pontos est˜ao associados aos chamados
n´umeros irracionais. `
A reuni˜ao do conjunto dos n´umeros racionais e do conjunto dos n´umeros irracionais chamamos de conjunto dos
n´umeros reaise indicamos porR.
A reta associada ao conjunto dos n´umeros reais, conforme descrevemos acima, chamamos dereta realoueixo.
Todo n´umero irracional pode ser aproximado por n´umeros racionais e possui uma representa¸c˜ao decimal “infinita” que n˜ao formad´ızima peri´odica. Por exemplo,
√
2=1, 41421356 . . . √3=1, 73205080 . . . √5=2, 23606797 . . . π=3, 14159265 . . . e=2, 71828182 . . .
Ainda h´a o conjunto dos n´umeros complexos:
C=a+bi:a, b∈Rei=√−1
Em resumo:
N Z Q R C
Neste curso trabalharemos apenas com o conjunto dos n´umeros reais, admitindo suas opera¸c˜oes usuais, bem como suas propriedades.
Exerc´ıcio. Representa¸c˜ao decimal de n´umeros racionais. Escreva os n´umeros racionais
0, 42 0, 888 . . . 0, 62555 . . . 0, 999 . . .
em forma de fra¸c˜ao com numerador e denominador inteiros.
1.2
Intervalos, Desigualdades e Valor Absoluto
H´a subconjuntos deRque s˜ao especiais para o desenvolvimento da teoria envolvendo C´alculo Diferencial e Integral. S˜ao osintervalos. Sejama < bn´umeros reais.
(1){x∈R:a < x < b}= ]a, b[´e chamado de intervalo aberto de extremosaeb.
b a
R
(2){x∈R:a≤x≤b}= [a, b]´e chamado de intervalo fechado de extremosaeb.
b a
R
De modo an´alogo:
(3){x∈R:a < x≤b}= ]a, b]
b a
R
(4){x∈R:a≤x < b}= [a, b[
b a
R
(5){x∈R:a≤x}= [a,+∞[
a
R
(6){x∈R:a < x}= ]a,+∞[
a
R
(7){x∈R:x < b}= ]−∞, b[
b
R
(8){x∈R:x≤b}= ]−∞, b]
b
R
(9)R= ]−∞,+∞[
R
Inequa¸c˜oes do 1o
. graus˜ao desigualdades redut´ıveis a uma das seguintes formas:
ax > b, ax≥b, ax < b, ax≤b.
Exemplo. Encontrar os valores de xtais que 2(x−1)< 5x+3.
Resolu¸c˜ao:
Temos2x−2 < 5x+3⇒−3x < 5⇒x >−5
3. Logo, os valores de xest˜ao no intervalo
−5 3,+∞
.
Definimos om´oduloouvalor absolutode um n´umero realxcomo sendo
|x|=
x, sex≥0
−x, sex < 0 .
Por exemplo,|5|=5 e|−7|=7.
Propriedades. Sejak > 0.
(1)|x|=k⇐⇒x=koux= −k.
(2)|x|< k⇐⇒−k < x < k.
(3)|x|> k⇐⇒x > koux <−k.
(4)√x2=|x|.
Exerc´ıcio. Resolva|2x−3|> 7.
1.3
Fun¸c˜
oes
Sejam XeY conjuntos ex7−→yuma regra que associa acadaelementox∈Xumunico´ elementoy∈Y. `
A terna(X, Y, x7−→y)chamamos defun¸c˜ao. Uma fun¸c˜ao pode ser indicada por
f:X−→Y,f(x) =y
ou ainda
f: X −→ Y x 7−→ y
.
O conjuntoX´e chamado dedom´ınioda fun¸c˜aof.
O conjuntoY ´e chamado decontra-dom´ınio da fun¸c˜aof.
O conjuntoI={f(x)∈Y:x∈X}⊂Y ´e chamado deconjunto imagemda fun¸c˜aof. O elementof(x)∈Y´e chamado deimagem do elementox∈Xpela fun¸c˜aof.
Exemplos e contra-exemplo.
(1)X={0, 1, 2, 3, 4},Y={5, 6, 7, 8}ef:X→Y tal que
x y=f(x)
0 8
1 8
2 5
3 5
4 6
0
1
2
3
4
5
6
7
8
X Y
0 1
1 2 3 4 5 6 7 8
2 3 4
(2)X=N,Y=Ze
f: N −→ Z
x 7−→ 2x
4
3
2
4
3
2
1
0 1 1 2 3 4 5 6 7 8
2 3 4
1 0
-1
5 6
7 8
Z
N -1
(3)X={1, 2, 3}, Y={1, 2, 3}ef:X→Y tal que
x y=f(x)
1 1
1 2
2 3
3 3
1
2
3
3
2
1 X
Y 0 1
1 2 3
Observemos quefn˜ao´e fun¸c˜ao, pois ao elemento1∈Xn˜aoest´a associado um´unicoelemento deY.
Sejaf:X→Y,f(x) =y, uma fun¸c˜ao.
Quando elementos distintos do dom´ınioXest˜ao associados a elementos distintos do contra-dom´ınioY dizemos que
f´e uma fun¸c˜aoinjetiva (ou injetora). Matematicamente:
x6=y⇒f(x)6=f(y)
ou, equivalentemente,
f(x) =f(y)⇒x=y.
Quando o conjunto imagem defcoincide com seu contra-dom´ınio, isto ´e,I=Y, dizemos quef´esobrejetiva(ou sobrejetora).
Quandof´e injetiva e sobrejetiva dizemos quef´ebijetiva(ou bijetora, ou ainda que f´e uma bije¸c˜ao).
Exemplos.
(1)A fun¸c˜ao
f: N −→ N
x 7−→ x2 ´e injetiva.
De fato, sejamx1, x2∈Ntal que
f(x1) =f(x2)⇒x21=x22⇒ q
x2 1=
q
x2
2⇒|x1|=|x2|⇒x1=x2 pois x1, x2> 0.
A fun¸c˜aof n˜ao ´e sobrejetiva, pois, por exemplo, 2∈Ne n˜ao ´e quadrado de n´umero natural, ou seja,6 ∃x∈Ntal quef(x) =x2=2. Portanto, I6=N.
Naturalmente,fn˜ao ´e bijetiva.
(2)A fun¸c˜ao
f: N∪{0} −→ N
x 7−→ x+1
´e bijetiva.
De fato, sejamx1, x2∈N∪{0}tal que
f(x1) =f(x2)⇒x1+1=x2+1⇒x1=x2.
Portanto,f´e injetiva.
Seja y ∈ N. Temos x = y−1 ∈ N∪{0} e f(x) = f(y−1) = (y−1) +1 = y. Portanto, I = N, ou seja, f ´e sobrejetiva.
Sejam f: A→B eg:C→D fun¸c˜oes tais que B⊂C. Podemos definir uma nova fun¸c˜aog◦f:A→D tal que
g◦f(x) =g(f(x)), chamada defun¸c˜ao compostadegcomf.
x A
B C D
f x( ) g(f x( ))
gof
g f
Exemplo. Sejam
f: N −→ N
x 7−→ x2
e g: N −→ Q
x 7−→ x+x1
.
Temos definida a composta degcomf pois o conjunto imagem defest´a contido no dom´ınio de g. Portanto.
g◦f: N −→ Q
x 7−→ x2 x2
pois g◦f(x) =g(f(x)) =g x2 = x2
x2
+1.
Observemos quef◦gn˜ao est´a definida, pois o conjunto imagem degn˜ao est´a contido no dom´ınio def.
Neste curso trabalharemos com fun¸c˜oes do tipo f : X ⊂ R → R, que s˜ao chamadas de fun¸c˜oes reais de uma vari´avel real. Observemos que o gr´afico de tais fun¸c˜oes pode ser representado no plano cartesiano:
G={(x, f(x)) :x∈X}⊂R×R=R2.
1.4
Algumas Fun¸c˜
oes Especiais
A menos que se diga o contr´ario, nas pr´oximas subse¸c˜oes trabalharemos sempre comdom´ınios maximaisemR, isto ´e, as fun¸c˜oesfque iremos definir ter˜ao sempre omaior dom´ınio poss´ıvel emRpara o qual a express˜ao anal´ıtica deffa¸ca sentido. Tamb´em trabalharemos com o contra-dom´ınio de fcomo sendoR. Assim, os coment´arios sobre injetividade, sobrejetividade e bijetividade def ser˜ao feitos tendo em mente essas considera¸c˜oes.
1.4.1
Fun¸c˜
oes Constantes
S˜ao fun¸c˜oes do tipof:R→Rcomf(x) =b, sendob∈Rconstante.
O gr´afico de uma fun¸c˜ao constante no plano cartesiano ´e uma reta paralela (ou coincidente) ao eixo das abscissas (eixox), passando pelo ponto de ordenadabdo eixo das ordenadas (eixoy).
x y
b
Observemos que fun¸c˜oes constantes n˜ao s˜ao injetivas e nem sobrejetivas (portanto, n˜ao s˜ao bijetivas).
1.4.2
Fun¸c˜
oes Lineares
S˜ao fun¸c˜oes do tipof:R→Rcomf(x) =ax, sendoa∈Rconstante.
O gr´afico de uma fun¸c˜ao linear no plano cartesiano ´e uma reta com coeficiente angular igual a a, passando pela origem do sistema de coordenadas.
x y
1
q
a
0
Observemos que fun¸c˜oes lineares s˜ao bijetivas quando a 6= 0 (prove isso). Quando a = 0 temos a fun¸c˜ao linear nula, que ´e um caso particular de fun¸c˜ao constante.
Lembremos, tamb´em, que o coeficiente angularado gr´afico def´e tal quea=tg(θ), sendoθ a medida do ˆangulo orientado no sentido anti-hor´ario a partir do eixoxque o gr´afico def forma com esse eixo (veja figura acima).
1.4.3
Fun¸c˜
oes Afins
S˜ao fun¸c˜oes do tipof:R→Rcomf(x) =ax+b, sendoa, b∈Rconstantes. (1)
O gr´afico de uma fun¸c˜ao afim no plano cartesiano ´e uma reta com coeficiente angular igual a a, passando pelo ponto de ordenada bdo eixoy(isto ´e,f(0)) e, quandoa6=0, passando pelo ponto de abscissa−ba do eixox(isto ´e, a raiz da equa¸c˜aof(x) =0).
x y
- /b a b
Observemos que fun¸c˜oes afins s˜ao bijetivas quandoa6=0(prove isso). Quandoa=0, fun¸c˜oes afins s˜ao, na verdade, fun¸c˜oes constantes. Quandob=0, temos fun¸c˜oes lineares.
1
1.4.4
Fun¸c˜
oes Quadr´
aticas
S˜ao fun¸c˜oes do tipof:R→Rcomf(x) =ax2+bx+c, sendoa, b, c∈Rconstantes ea6=0.
O gr´afico de uma fun¸c˜ao quadr´atica no plano cartesiano ´e uma par´abola com v´ertice no pontoV = −b 2a,−
∆ 4a
passando pelo ponto de ordenada cdo eixoy. Quandoa > 0 temos a concavidade da par´abola para cima e, quando
a < 0, para baixo. Quando o gr´afico de uma fun¸c˜ao quadr´atica intersecta o eixox, essa intersec¸c˜ao ocorre em pontos de abscissas iguais `as ra´ızes reais def(x) =0.
-D/4a c
x1 x
y
x2
- /b 2a
V
-D/4a
c x1
x y
x2
- /b 2a
V
0
c
x y
- /b 2a
V
0
c
x y
- /b 2a
V
-D/4a
c
x y
- /b 2a
V
-D/4a c
x y
- /b 2a
V
a > 0 > 0 D
a > 0 0 D =
a > 0 < 0 D
a < 0 > 0 D
a < 0 0 D =
a < 0 < 0 D
Observemos que fun¸c˜oes quadr´aticas n˜ao s˜ao injetivas e nem sobrejetivas.
1.4.5
Fun¸c˜
oes Polinomiais
S˜ao fun¸c˜oes do tipo f : R → R com f(x) = anxn +an−1xn−1+· · ·+a1x+a0, sendo an, an−1, . . . , a1, a0 ∈ R constantes.
Fun¸c˜oes constantes, lineares, afins e quadr´aticas s˜ao casos particulares de fun¸c˜oes polinomiais.
Exemplos. Consideremos as seguintes fun¸c˜oes:
(i)f:R→R, comf(x) =x3(gr´afico em preto na figura abaixo).
(ii)g:R→R, comg(x) = 12x3−x2−1
2x+1 (gr´afico em vermelho na figura abaixo);
(iii)h:R→R, comh(x) = 1 2x4−
5
2x2+2(gr´afico em azul na figura abaixo).
y y y
x -1 1 2 x -2 -1 x
0 1 2
1
2
1
1
f g h
Observemos que os gr´aficos das fun¸c˜oes intersectam o eixos das abscissas (eixosx) nos pontos cujas abscissas s˜ao as ra´ızes das equa¸c˜oes polinomiaisf(x) =0,g(x) =0eh(x) =0(verifique!).
J´a os pontos onde os gr´aficos das fun¸c˜oes intersectam os eixos das ordenadas (eixosy) s˜ao os pontos cujas ordenadas s˜aof(0),g(0)eh(0)(verifique!).
1.4.6
Fun¸c˜
oes Racionais
S˜ao fun¸c˜oes do tipo f:X⊂R→Rcomf(x) = pq((xx)), sendo p(x)e q(x)polinˆonios de tal modo queq(x)6= 0 para qualquer x∈X.
Fun¸c˜oes polinomiais s˜ao casos particulares de fun¸c˜oes racionais. Neste caso,q(x) =1 para qualquerx∈R.
Exemplo 1. Consideremos f:R∗ →R comf(x) = 1
mesmo sistema de coordenadas, para que possamos entender melhor a dinˆamica de varia¸c˜ao de n para os valores considerados.
n=3
n=2
-1
-1 0 1
1 x
y
n=2
n=1
n=1
n= 4 n= 4
n=3 n=3
-1
-1 0 1
1 x
y
-1 0 1
1 x
y
n= 4 -1
-1 0
1 1
x y
n=1 - n=2
1 0 1
1
x y
No caso em quen=1o gr´afico def(x) = 1
x (em cor preta) ´e constituido pelos dois ramos de uma hip´erbole (provar isso ´e um bom exerc´ıcio!). J´a para n=2, a fun¸c˜aof(x) = x12 possui imagens positivas apenas (gr´afico na cor verde).
Nos casosn=3,f(x) = x13 possui gr´afico em azul en=4,f(x) = 1
x4 possui gr´afico em vermelho.
Observemos que os gr´aficos das fun¸c˜oes acima n˜ao intersectam os eixos das abscissas (eixosx). Isto significa que as equa¸c˜oesf(x) =0n˜ao possuem ra´ızes (verifique!).
Observemos tamb´em que os gr´aficos das fun¸c˜oes acima n˜ao intersectam os eixos das ordenadas (eixosy). Isto ´e decorrˆencia do fato dex=0n˜ao pertencer ao dom´ınio das fun¸c˜oes.
Exemplo 2. Consideremos f : X1 ⊂R→ R, comf(x) = x23x+3
+2x−8 e g: X2⊂ R→ R, com g(x) = x−5 x2
+2x−15. Os gr´aficos def e degest˜ao ilustrados na figura abaixo (as retas pontilhadas verticais n˜ao fazem parte dos gr´aficos).
y
x x
y
-5 3
-4
2
f g
-1
- /3 8
1 3/
5
Notemos que o dom´ınioX1da fun¸c˜aofn˜ao pode conter as ra´ızes deq1(x) =x2+2x−8, que s˜ao−4 e2, ou seja,
X1=R−{−4, 2}. J´a o dom´ınioX2degn˜ao pode conter as ra´ızes deq2(x) =x2+2x−15, que s˜ao−5e3, ou seja,
X2=R−{−5, 3}.
Observemos que os gr´aficos das fun¸c˜oes f e g acima intersectam os eixos das abscissas (eixos x) nos pontos de abscissas iguais `as ra´ızes das equa¸c˜oes f(x) =0 eg(x) =0, enquanto que intersectam os eixos das ordenadas (eixos
y) nos pontos de ordenadas iguais a f(0)eg(0)(verifique essas afirma¸c˜oes).
1.4.7
Fun¸c˜
oes Potˆ
encias
Casos particulares de fun¸c˜oes potˆencia: Paraa=1 temos quef´e uma fun¸c˜ao linear. Paraa=2 temos quef´e uma fun¸c˜ao quadr´atica. Paraa∈Z+ temos quef´e uma fun¸c˜ao polinomial.
Paraa∈Z− temos quef´e uma fun¸c˜ao racional.
Exemplos. Consideremos f : X ⊂ R→ R comf(x) = xa nos casos em que a = −1 2, −
1 3, −
1 5,
1 5,
1 3 e
1
2. Os seis gr´aficos dessas fun¸c˜oes est˜ao ilustrados na figura abaixo, sendo um de cada cor. Na ´ultima figura todos os gr´aficos est˜ao em um mesmo sistema de coordenadas, para que possamos entender melhor a dinˆamica de varia¸c˜ao dea para os valores considerados.
a= /1 2 a= /1 3 a= /1 5
a= - /1 5 a= - /1 3 a= - /1 2
a = - /1 5 a= - /1 3
a= /1 3 a= /1 5
-1
-1 0 1
1 x
y
a= /1 3 -1
-1 0 1
1 x
y
a= /1 2 0
1
1 x
y
a= - /1 5 -1
-1
0 1
1
x y
a= /1 5 -1
-1 0 1
1 x
y
a= - /1 2 0
1
1 x
y
a= - /1 3 -1
-1
0 1
1
x y
No caso em quea= 1
2 o gr´afico def(x) =
√x(em cor magenta) ´e parte de uma par´abola, sendo queX= [0,+
∞[. J´a para a = −1
2 o dom´ınio de f(x) = 1
√x ´e X = ]0,+∞[ = R+ (gr´afico em verde escuro). Nestes dois casos n˜ao
podemos estender o dom´ınio aos n´umeros reais negativos pois, caso contr´ario, ter´ıamos n´umeros complexos na imagem def.
Nos casosa= 1
3 (gr´afico em azul) ea= 1
5 (gr´afico em preto) o dom´ınio def´eX=R.
J´a nos casos em quea= −13 (gr´afico em vermelho) e a= −51 (gr´afico em verde claro), o dom´ınio def´eX=R∗.
O exemplo acima permite algumas observa¸c˜oes interessantes. De um modo geral, quando a∈Qest´a escrito em forma de fra¸c˜ao simplificada (isto ´e, numerador e donominador primos entre si) e com denominador par, ent˜ao o dom´ınio de f ´eX = [0,+∞[ quandoa > 0, e X= ]0,+∞[ quandoa < 0. Com denominador ´ımpar, X= Rquando
a > 0, eX=R∗ quandoa < 0.
J´a nos casos em quea´e irracional positivo, temos X= [0,+∞[, enquanto que paraa irracional negativo, temos
X= ]0,+∞[.
1.4.8
Fun¸c˜
oes Exponenciais
S˜ao fun¸c˜oes do tipof:R→Rcomf(x) =ax, sendoa > 0ea6=1 constante real.
Constantesa negativas n˜ao s˜ao consideradas em nossos estudos para que evitemos valores complexos na imagem def, como por exemplo(−1)
1 2
J´a a = 1 oua = 0 (com x > 0) conduzem a fun¸c˜oes constantes que, por sua vez, n˜ao s˜ao consideradas fun¸c˜oes exponenciais.
Exemplos. Consideremosf:R→Rcomf(x) =ax, com a=0, 2; a=0, 5;a=0, 7;a=1, 5; a=2ea=e, cujos gr´aficos s˜ao dados abaixo.
a= ,0 5
0 x
y
1
a= ,1 5
0 x
y
1 a 2
=
0 x
y
1 a e
=
0 x
y
1
a = ,0 7
0 x
y
1
a= ,0 2
0 x
y
1
Observemos que quando0 < a < 1o gr´afico de f´e decrescente, sempre intersectando o eixo das ordenadas (eixo
y) no ponto de ordenada1. Observemos tamb´em que, quanto maisaest´a pr´oximo de1, tanto mais o gr´afico defest´a pr´oximo do gr´afico da fun¸c˜ao constanteg(x) =1,∀x∈R(que corresponde ao gr´afico def(x) =1x).
De modo an´alogo, quando a > 1 o gr´afico de f ´e crescente, sempre intersectando o eixo das ordenadas (eixoy) tamb´em no ponto de ordenada1.
Um destaque especial para o ´ultimo gr´afico, que corresponde ao gr´afico da fun¸c˜ao exponencial de basee, ou seja,
f(x) =ex. Esta fun¸c˜ao ser´a muito importante para estudos posteriores.
Por fim, observemos que se considerarmosf:R→R+ as fun¸c˜oes exponenciais s˜ao bijetivas (prove isso!).
1.4.9
Fun¸c˜
oes Logar´ıtmicas
S˜ao fun¸c˜oes do tipof:R+→Rcomf(x) =loga(x), sendoa > 0ea6=1 constante real. Lembremos que
loga(x) =y⇔ay=x.
Desta forma, para que trabalhemos restritos ao conjunto dos n´umeros reais e tenhamos a fun¸c˜ao logar´ıtmica bem definida, precisamos, de fato, da restri¸c˜aoa > 0ea6=1.
Exemplos. Consideremosf:R+ →Rcomf(x) =loga(x), coma=0, 2; a=0, 5; a=0, 7;a=1, 5; a=2 ea=e, cujos gr´aficos s˜ao dados abaixo.
a= ,0 5
0 y
a= ,1 5 a =2 a=e
1
0 y
0 y
0 x
y
a = ,0 2
0 x
y
1 a= ,0 7
0 y
1
Observemos que quando0 < a < 1 o gr´afico def´e decrescente, sempre intersectando o eixo das abscissas (eixox) no ponto de abscissa 1. Observemos tamb´em que, quanto maisa est´a pr´oximo de 1, tanto mais o gr´afico def est´a pr´oximo da reta vertical que passa pelo ponto de abscissa1do eixox.
De modo an´alogo, quando a > 1 o gr´afico de f ´e crescente, sempre intersectando o eixo das abscissas (eixo x) tamb´em no ponto de abscissa 1.
Um destaque especial para o ´ultimo gr´afico, que corresponde ao gr´afico da fun¸c˜ao logar´ıtmica na basee, ou seja,
f(x) =loge(x), que ´e chamada de fun¸c˜ao logar´ıtmica natural e denotada porf(x) =ln(x). Esta fun¸c˜ao tamb´em ser´a muito importante para estudos posteriores.
Por fim, todas as fun¸c˜oes logar´ıtmicas s˜ao bijetivas (prove tamb´em isso!).
1.4.10
Fun¸c˜
oes Trigonom´
etricas
Seja uma fun¸c˜aof:X⊂R→Rtal que existe um n´umero real positivopque cumpre a condi¸c˜ao
f(x+p) =f(x) (1)
para qualquerx∈X.
Naturalmente esta mesma condi¸c˜ao ´e cumprida para qualquer m´ultiplo positivomp(m∈N)dep, pois
f(x+mp) =f(x+ (m−1)p+p) =f(x+ (m−1)p) =f(x+ (m−2)p+p) =f(x+ (m−2)p)
.. .
=f(x+2p) =f(x+p+p) =f(x+p) =f(x).
Uma fun¸c˜aofque cumpre a propriedade descrita acima ´e chamada de fun¸c˜ao peri´odicae o menor n´umero real positivo pque satisfaz(1)´e chamado deper´ıododa fun¸c˜aof.
Fun¸c˜ao Seno
´
E a fun¸c˜aof:R→Rtal quef(x) =sen(x).
A fun¸c˜ao seno ´e peri´odica de per´ıodop=2π. Sua imagem ´e o intervalo I= [−1, 1]. Seu gr´afico esta esbo¸cado na figura abaixo.
x y
0 p/2
3 2p/
2p 5 2p/ p
-p/2
-p -3 2p/ -2p -5 2p/
1
-1
Fun¸c˜ao Cosseno
´
E a fun¸c˜aof:R→Rtal quef(x) =cos(x).
A fun¸c˜ao cosseno ´e peri´odica de per´ıodo p=2π. Sua imagem ´e o intervaloI= [−1, 1]. Seu gr´afico esta esbo¸cado na figura abaixo.
x y
0 p/2 3 2p/ 2p 5 2p/ p
-p/2 -p -3 2p/ -2p -5 2p/
1
-1
Fun¸c˜ao Tangente
´
E a fun¸c˜aof:X⊂R→Rtal quef(x) =tg(x)sendoX=R−π
2 +kπ:k∈Z .
x y
0
p/2 3 2p/ 2p
5 2p/ p
-p/2 -p -3 2p/ -2p
-5 2p/
Tarefa Importante. Considere as fun¸c˜oes
f(x) =a+bsen(cx+d)
g(x) =a+bcos(cx+d)
h(x) =a+btg(cx+d)
Utilizando o software GeoGebra, estude o comportamento dinˆamico dos gr´aficos das fun¸c˜oes acima fazendo com que os parˆametrosa,b,cedvariem. Fa¸ca um resumo de suas conclus˜oes.
As conclus˜oes as quais vocˆe chegou valem apenas para as fun¸c˜oes trigonom´etricas?
1.5
Fun¸c˜
oes Inversas
Sejaf:A⊂R→B⊂Ruma fun¸c˜ao bijetiva. Logo, podemos definir a fun¸c˜aog:B⊂R→A⊂Rtal que
f(a) =b⇐⇒g(b) =a.
x y
0 A a=g b( )
B f a( )=b
gráfico def
A fun¸c˜aog´e chamada de inversada fun¸c˜aof e indicada porg=f−1. Assim, sef´e invert´ıvel (ou seja, bijetiva) temos
f(x) =y⇐⇒f−1(y) =x. Com isso,
f◦f−1(y) =f f−1(y)
=f(x) =y=Id(y)
e
f−1◦f(x) =f−1(f(x)) =f−1(y) =x=Id(x)
sendo Id : R → R a fun¸c˜ao linear identidade, cujo gr´afico no plano cartesiano ´e a reta bissetriz dos quadrantes ´ımpares (portanto, coeficiente angular igual a1).
Propriedade geom´etrica das fun¸c˜oes invert´ıveis.
x y
0 A
B
gráfico def
x y
0 x
y
0 B
A
gráfico def-1
f
f-1
Id
Exemplos.
(1)Sejamf:R+→R+comf(x) =x2(que ´e bijetiva com esse dom´ınio e contra-dom´ınio) e sua inversaf−1:R+→R+
comf−1(x) =√x. Temos
f◦f−1(x) =f f−1(x)
=f √x
= √x2 =x
e
f−1◦f(x) =f−1(f(x)) =f x2
=√x2=|x|=x
gráfico def
x y
0 gráfico def-1
f
f-1 Id
1 1
x y
0 1
1
x y
0 1
1
(2)Sejamf:R→R+ comf(x) =ax, sendoa > 0ea6=1 (que ´e bijetiva com esse dom´ınio e contra-dom´ınio) e sua
inversa f−1:R
+→Rcomf−1(x) =loga(x). Temos
f◦f−1(x) =f f−1(x)
=f(loga(x)) =a
loga(x)=x e
f−1◦f(x) =f−1(f(x)) =f(ax) =loga(ax) =x
Na figura abaixo temos os gr´aficos def(x) =exef−1(x) =ln(x), ou seja, tomamosa=enas fun¸c˜oes acima.
gráfico def
x y
gráfico def-1
Id
1
1 0
f
f-1
x y
1 0 x
y
1
0
1.6
Fun¸c˜
oes Pares e Fun¸c˜
oes ´Impares
Dizemos quef´e umafun¸c˜ao parquandof(−x) =f(x)para qualquerx∈X. Dizemos quef´e umafun¸c˜ao ´ımparquandof(−x) = −f(x)para qualquerx∈X.
Propriedade geom´etrica das fun¸c˜oes pares.
O gr´afico de uma fun¸c˜ao par ´e sim´etrico em rela¸c˜ao ao eixo das ordenadas (eixoy).
y
x
-x x
f x( ) = (f x- )
Propriedade geom´etrica das fun¸c˜oes ´ımpares.
O gr´afico de uma fun¸c˜ao ´ımpar ´e sim´etrico em rela¸c˜ao `a origem do sistemas de coordenadas.
y
x -x
x
f x( )
f x(- ) =-f x( )
Exemplos.
(1)Sejamf:R→Rtal quef(x) =cos(x)eg:R→Rtal queg(x) =x2.
A fun¸c˜ao cosseno ´e par, poisf(−x) =cos(−x) =cos(x) =f(x)para qualquerx∈R. De modo an´alogo,g(−x) = (−x)2=x2=g(x)para qualquerx∈R.
x y
0 p/2 3 2p/ 2p
5 2p/ p
-p/2
-p
-3 2p/ -2p -5 2p/
1
-1
1
-1 x
y
-2 1 2
4 f
g
(2)Sejamf:R→Rtal quef(x) =sen(x)eg:R→Rtal queg(x) =x3.
A fun¸c˜ao seno ´e ´ımpar, poisf(−x) =sen(−x) = −sen(x) = −f(x)para qualquerx∈R. De modo an´alogo,g(−x) = (−x)3= −x3= −g(x)para qualquerx∈R.
x y
0 p/2
3 2p/
2p 5 2p/ p
-p/2
-p -3 2p/ -2p -5 2p/
1
-1
y
x 0
1 1
g
Cap´ıtulo 2
Limite e Continuidade
2.1
O Conceito de Limite
Consideremos a fun¸c˜aof:R∗→Rdada porf(x) = x2+3x
x . Logo,∄f(0). Mas
f(x) = x(x+3)
x x=6=0x+3.
Logo, intuitivamente, para xpr´oximo de0,mas diferente de0,f(x)est´apr´oximo de3.
y
x 0
3 f x( )
gráfico def
-3 x
Quando x tende a 0 (x→0), f(x) tende a 3 (f(x)→3), ou seja, o limite de f(x) quando x tende a 0 ´e 3 e escrevemos
lim x→0
x2+3x
x =3.
Para escrever esta id´eia de modo mais rigoroso, recordemos que a no¸c˜ao de distˆancia entre pontosa, b∈R´e dada pelo m´odulo da diferen¸ca entre estes pontos, ou seja,|a−b|. Assim, dizer quexest´apr´oximo de0significa que|x−0|
´e um valor pequeno. Analogamente, dizer que f(x) est´a pr´oximo de 3 significa que |f(x) −3|´e, tamb´em, um valor
pequeno.
Defini¸c˜ao. Sejam f:X⊂R→Ruma fun¸c˜ao real de uma vari´avel real e a∈Rtal que ]a−r, a+r[∩X6=∅para qualquer r > 0. (1)
Dizemos que f(x)tem limite L∈R quando xtende a a,e escrevemos
lim
x→af
(x) =L,
sempre que: para ∀ε > 0, ∃δ > 0tal que (2)
0 <|x−a|< δ⇒|f(x) −L|< ε.
Desta forma, dizer que lim
x→af(x) =L significa que podemos fazerf(x)arbitrariamente pr´oximo deL, tomando x
suficientemente pr´oximo dea, por´em, diferente dea.
1
Esta condi¸c˜ao garante que existem pontosxdo dom´ınio defarbitrariamente pr´oximos dea. 2
x
0 a
L
x y
a+d
a-d
L-e
L+e
f x( )
gráfico def
Exemplos. Sejam f, g : R → R tal que f(x) = k, sendo k constante real e g(x) = x. Seja a ∈ R. Mostremos, utilizando a defini¸c˜ao acima, que
lim
x→af(x) =k
e
lim
x→ag(x) =a.
De fato, no primeiro caso: dadoε > 0, tomando-se qualquer δ > 0, temos
0 <|x−a|< δ⇒0 < ε⇒|k−k|< ε⇒|f(x) −k|< ε.
No segundo caso: |g(x) −a|< ε⇐⇒|x−a|< ε⇐⇒
x6=a 0 <|x−a|< εou seja, dadoε > 0, tomando-seδ=ε, temos por essa cadeia de equivalˆencias que
0 <|x−a|< δ⇒|g(x) −a|< ε.
Proposi¸c˜ao. Sejam f:X⊂R→Re a∈Rtais que exista lim
x→af
(x). Ent˜ao, este limite ´e ´unico.
Proposi¸c˜ao. (regras para c´alculo de limites)Suponhamos f e gfun¸c˜oes tais que lim
x→a
f(x) =L e lim
x→a
g(x) =M.
(1) lim
x→a
(f(x)±g(x)) = lim
x→a
f(x)± lim
x→a
g(x) =L±M. (limite da soma ´e soma dos limites) (2) lim
x→af(x)g(x) =xlim→af(x)xlim→ag(x) =LM. (limite do produto ´e produto dos limites)( 3)
(3)Se M6=0,ent˜ao lim
x→a
f(x)
g(x) = lim x→af(x)
lim x→ag(x)
= ML. (limite do quociente ´e quociente dos limites, desde que o limite do
denominador seja diferente de zero)
Com o aux´ılio desta ´ultima proposi¸c˜ao e o conhecimento de alguns limites simples, como os do exemplo acima, ´e poss´ıvel calcular limites mais complexos. Vejamos alguns exemplos:
Exemplos.
(1)Consideremosf:R−{1}→Rtal quef(x) = 2x3x−−2x1 2. Temos
lim x→1
2x3−2x2 x−1 =xlim→1
2x2(x−1)
x−1 =xlim→1
2x2= lim x→1
2lim x→1
xlim x→1
x=2.1.1=2.
1 x
y
2
gráfico def
3
Aqui temos um caso particular interessante: sef(x) =k,k∈R, temos
lim
x→akg(x) =kx→alimg(x) =kM,
pois lim
(2)Consideremosf:R−{a}→Rtal quef(x) = x2−a2
x−a . Temos lim
x→a
x2−a2
x−a =xlim→a
(x−a) (x+a)
x−a =xlim→a
(x+a) = lim x→ax
+ lim x→aa
=a+a=2a.
(3)Consideremosf:R−{−1}→Rtal que f(x) = x2−1
x+1. Temos lim
x→−1 x2−1
x+1 =xlim→−1
(x−1) (x+1)
x+1 =xlim→−1
(x−1) = lim x→−1
x− lim x→−1
1= −1−1= −2.
(4)Consideremosf:R−{2}→Rtal quef(x) = x3
−8
x−2. Temos lim
x→2 x3−8
x−2 =xlim→2
(x−2) x2+2x+4
x−2 =xlim→2
x2+2x+4 = lim
x→2 xlim
x→2 x+lim
x→2 2 lim
x→2 x+lim
x→2
4=2.2+2.2+4=12.
Observa¸c˜ao: x3−a3= (x−a) x2+ax+a2 .
(5)Consideremosf:R→Rtal quef(x) =x2+1. Temos
lim x→2
x2+1 = lim
x→2 xlim
x→2
x+ lim x→2
1=2.2+1=5.
Exerc´ıcios.
(1)Sendoa6=0, dˆe o dom´ınio def e calcule lim x→a
f(x)para:
(i)f(x) =
1 x−
1 a
x−a;
(ii)f(x) =
1 x2 − 1
a2
x−a ;
(2)Dˆe o dom´ınio def(x) = x3−x45x−2+8x−4
5x−6 e calcule limx→2 f(x).
(3)Calcule lim h→0
(a+h)3
−a3
h , sendoa∈R.
2.2
Limites laterais
Recordemos a defini¸c˜ao de limite lim x→a
f(x).
Se impusermos a restri¸c˜ao x > a, estamos fazendo x tender a a pela direita e denotamos este limite com esta restri¸c˜ao por
lim x→a+
f(x).
Se a restri¸c˜ao forx < a, estamos fazendo xtender aa pela esquerda e escrevemos
lim x→a−f(x).
Os limites acima recebem o nome delimites laterais `a direita e `a esquerda de f, respectivamente, ema. Estes limites podem existir ou n˜ao. Caso um deles n˜ao exista ou caso difiram, ent˜ao lim
x→a
f(x)n˜ao existe. Natural-mente,
lim x→a
f(x) existe⇐⇒ lim x→a+
f(x) = lim x→a−
f(x) = lim x→a
f(x).
Exemplos.
(1)Os limites laterais def(x) = |xx| no ponto0 s˜ao:
lim x→0+
f(x) = lim x→0+
|x|
x =xlim→0+ x
x =xlim→0+ 1=1.
lim
x→0−f(x) =xlim→0− |x|
x =xlim→0− −x
x =xlim→0−−1= −1.
Como lim
+
x y
gráfico def
-1 1
0
-Observa¸c˜ao:
|x|=x, sex≥0
|x|= −x, sex < 0 .
(2)Os limites laterais def(x) =|x|no ponto0s˜ao:
lim
x→0+f(x) =xlim→0+|x|=xlim→0+x=0.
lim
x→0−f(x) =xlim→0−|x|=xlim→0−−x=0.
Como lim
x→0+f(x) =x→lim0−f(x), temos que limx→0
f(x) =0.
+ x
y
gráfico def
0
-Exerc´ıcios.
(1)Calcule os limites laterais defem−1 e1 sendof(x) =
1sex <−1 x2se −1≤x≤1
x+2sex > 1
.
(2)Calcule, caso exista, lim x→0
x
√
x4
+4x2.
2.3
Fun¸c˜
oes Cont´ınuas
Defini¸c˜ao. Sejam f:X⊂R→R,p∈Xe suponhamos que exista lim
x→pf(x). Dizemos que f´e cont´ınua em pquando
lim
x→p
f(x) =f(p).
Quando f for cont´ınua para qualquer p∈X, dizemos que f ´e cont´ınua em X.
Caso pseja extremo de um intervalo fechado ou semifechado em X,o limite acima deve ser substituido pelo limite lateral conveniente em p.
Geometricamente, uma fun¸c˜ao cont´ınua possui gr´afico sem “saltos”em seu dom´ınio.
Exemplos.
(1)A fun¸c˜aof(x) =x2´e cont´ınua emX=R. De fato: lim x→pf
(x) = lim x→px
2=p2=f(p)para qualquerp∈X.
p x
y
p2
(2)A fun¸c˜aof(x) =
xsex6=1
2sex=1 ´e descont´ınua emp=1, pois limx→1
f(x) = lim x→1
x=16=2=f(1). Nos demais pontos
f(x)´e cont´ınua pois, sep6=1, lim x→p
f(x) = lim x→p
x=p=f(p).
x y
gráfico def
0 1
1 2
(3)A fun¸c˜aof(x) = |xx| ´e cont´ınua emX=R∗ pois: (i)Sep > 0, ent˜ao lim
x→pf(x) =xlim→p
|x|
x =xlim→p
x
x =xlim→p1=1=f(p).
(ii)Sep < 0, ent˜ao lim
x→pf(x) =xlim→p
|x|
x =xlim→p
−x
x =xlim→p−1= −1=f(p).
x y
gráfico def
-1
1
0
Observa¸c˜ao importante: N˜ao faz sentido analisar continuidade emp=0pois0 /∈X.
(5)A fun¸c˜aof(x) =
0, sex2> 1
1, sex2< 1 1
2, sex 2=1
´e descont´ınua emp=±1e cont´ınua nos demais valores. De fato:
(i) Se p = −1, temos lim x→−1−
f(x) = lim x→−1−
0 = 0 e lim x→−1+
f(x) = lim x→−1+
1 = 1. Logo, lim x→−1
f(x) n˜ao existe. Portanto,f(x)´e descont´ınua emp= −1.
(ii)Sep=1, temos lim x→1−
f(x) = lim x→1−
1=1e lim x→1+
f(x) = lim x→1+
0=0. Logo, lim x→1
f(x)n˜ao existe. Portanto,f(x)
´e descont´ınua emp=1.
(iii)Se p > 1 oup <−1 (ou seja, p2 > 1), temos lim x→p
f(x) = lim x→p
0 = 0 =f(p). Logo, f(x)´e cont´ınua nesses pontos.
(iv) Se−1 < p < 1(ou seja,p2< 1), temos lim x→p
f(x) = lim x→p
1=1=f(p). Logo,f(x)tamb´em ´e cont´ınua nesses pontos.
y
gráfico def
1 2/ 1
0 1 x
-1
Exerc´ıcios.
(1)Analise a continuidade def(x) =
x2, sex ≥1
x+1, sex < 1 em seu dom´ınio.
(2)Idem paraf(x) =
x2, sex≥1
Proposi¸c˜ao. Sejam f, g:X⊂R→R fun¸c˜oes cont´ınuas em X. Ent˜ao: (i)f±g:X⊂R→Rtal que (f±g) (x) =f(x)±g(x)´e cont´ınua em X.
(ii) fg:X⊂R→Rtal que (fg) (x) =f(x)g(x)´e cont´ınua em X.
(iii) gf :X⊂R→R tal que f g(x) =
f(x)
g(x) ´e cont´ınua em X=X−{x∈X:g(x) =0}.
(iv) Se Img⊂X, ent˜ao f◦g:X⊂R→Rtal que f◦g(x) =f(g(x))´e cont´ınua em X. (4)
(v)Se existe f−1 (inversa de f) e X´e um intervalo, ent˜ao f−1 ´e cont´ınua em seu dom´ınio.
Com o aux´ılio da proposi¸c˜ao anterior, a partir de continuidade de fun¸c˜oes simples, podemos concluir continuidade de fun¸c˜oes mais complexas. Por exemplo, as fun¸c˜oesf(x) =k, k∈R ef(x) = xs˜ao cont´ınuas em R(verifique). A partir delas e da proposi¸c˜ao anterior, temos os seguintes exemplos de fun¸c˜oes cont´ınuas:
Exemplos.
(1)(polinˆomios s˜ao cont´ınuos). f(x) =a0+a1x+· · ·+anxn ´e cont´ınua emR, pois f´e soma e produto de fun¸c˜oes cont´ınuas.
(2)(fun¸c˜oes racionais s˜ao cont´ınuas). f(x) = QP((xx)), sendoP e Q polinˆomios, ´e cont´ınua em R−{x∈R:Q(x) =0}, pois f´e quociente de fun¸c˜oes cont´ınuas.
(3)f(x) = √n
x´e cont´ınua em
R+, senfor par
R, senfor ´ımpar . (f´e a inversa degtal que g(x) =x
n que ´e cont´ınua emR
+ ou
R)
(4)h(x) = √5
x2−5x´e cont´ınua emR. (hpode ser escrita como composta de f, tal que f(x) = √5
x, com g, tal que
g(x) =x2−5x, que s˜ao cont´ınuas emR)
(5)Consideremosf(x) = √xx−−11. TemosX=R+−{1}ef´e cont´ınua em seu dom´ınio. Al´em disso:
lim x→1
√
x−1 x−1 =xlim→1
√
x−1
√
x−1 √
x+1 = lim x→1
1
√
x+1 = 1
lim x→1
√
x+1 = 1 2.
2.4
Teorema do Confronto e Aplica¸c˜
oes
Teorema. (do confronto)Sejamf, g, h:X⊂R→Rea∈Rtais que g(x)≤f(x)≤h(x)para x∈X∩(a−r, a+r),
sendo r > 0fixo (5). Nestas condi¸c˜oes, se lim
x→ag
(x) = lim
x→ah
(x) =L,ent˜ao lim
x→af
(x) =L.
y
gráfico def
L
0 a x
gráfico deh
gráfico de
1a
. Aplica¸c˜ao do TC:As fun¸c˜oesseno ecossenos˜ao cont´ınuas em R.
Sejaa∈R. Devemos mostrar que lim x→asen
(x) =sen(a)e lim x→acos
(x) =cos(a).
4
O item(iv)desta proposi¸c˜ao pode ser enfraquecido, retirando-se a necessidade degser cont´ınua. O enunciado alternativo ´e: Sejam f:Y⊂R→Re g:X⊂R→Rfun¸c˜oes tais queImg⊂Y, lim
x→ag(x) =Lefcont´ınua emL.Ent˜ao,x→alimf(g(x)) =f(L). 5
y 1
0 1 x
sen a( )
sen x( )
cos a( ) cos x( )
x(o arco) a(o arco)
|cos x( ) -cos a( )| |sen x( ) -sen a( )|
| -x a| (o arco)
Inspirados na figura, temos paraxpr´oximo dea:
|sen(x) −sen(a)|<|x−a| |cos(x) −cos(a)|<|x−a|
ou seja (6):
−|x−a|<sen(x) −sen(a)<|x−a| −|x−a|<cos(x) −cos(a)<|x−a|
que implica
sen(a) −|x−a|<sen(x)<|x−a|+sen(a)
cos(a) −|x−a|<cos(x)<|x−a|+cos(a)
Definindo:
g1(x) =sen(a) −|x−a|,
f1(x) =sen(x),
h1(x) =|x−a|+sen(a),
g2(x) =cos(a) −|x−a|,
f2(x) =cos(x)e
h2(x) =|x−a|+cos(a), temos:
g1(x)< f1(x)< h1(x)
g2(x)< f2(x)< h2(x)
e
lim
x→ag1(x) =xlim→ah1(x) =sen(a)
lim
x→ag2(x) =xlim→ah2(x) =cos(a)
Pelo Teorema do Confronto: lim x→asen
(x) =sen(a)e lim x→acos
(x) =cos(a), ou seja, sen(x) e cos(x)s˜ao cont´ınuas em R.
2a
. Aplica¸c˜ao do TC:O Limite lim x→0
sen(x)
x . (1
o. Limite Fundamental)
Para0 < x < π
2 temos sen(x)< x <tg(x).
y
1
0 1 x
sen x( )
cos x( ) x
tg
tg x( )
6
Logo,
sen(x)< x <sen(x)
cos(x) ⇒
1 < x
sen(x) <
1
cos(x) ⇒
cos(x)< sen(x) x < 1.
Para−π2 < x < 0 temos tg(x)< x <sen(x)e, procedendo de modo an´alogo, temos a mesma desigualdade acima: cos(x)< sen(xx) < 1.
Definindog(x) =cos(x),f(x) = sen(xx) eh(x) =1, temos
g(x)≤f(x)≤h(x) e lim x→0
g(x) = lim x→0
h(x) =1.
Logo, pelo Teorema do Confronto,
lim x→0
f(x) =1,
ou seja,
lim x→0
sen(x)
x =1.
Exemplos.
(1) lim x→0
tg(x)
x =xlim→0
sen(x) cos(x)
x =xlim→0
1
cos(x) sen(x)
x =xlim→0
1
cos(x)xlim→0
sen(x)
x =1.1=1.
(2) lim x→0
1−cos(x)
x =xlim→0
(1−cos(x))(1+cos(x))
x(1+cos(x)) =xlim→0
1−cos2
(x)
x(1+cos(x)) =xlim→0
sen(x)
x
sen(x)
1+cos(x) =xlim→0
sen(x)
x xlim→0
sen(x)
1+cos(x) =1.
0 2=0.
(3) lim x→0
1−cos(x)
x2 = lim x→0
1−cos2
(x)
x2(
1+cos(x))=xlim→0
sen(x)
x
sen(x)
x 1
1+cos(x) =1.1.12= 1 2.
(4) lim x→0
sen(2x)
x =xlim→0
2sen(x)cos(x)
x =xlim→0
sen(x)
x 2cos(x) =1.2.1=2.
(5) lim x→0
sen(x)
5x =xlim→0
1 5
sen(x)
x = 1 5.1=
1 5.
(6) lim x→0
sen(x2) x =xlim→0
sen(x2) x2 x =
x2
=yylim→0+ sen(y)
y ± √y
=1.±√0=0.(7)
Proposi¸c˜ao. Se lim
x→af
(x) =0 e g(x)´e limitada (8), ent˜ao lim
x→af
(x)g(x) =0.
Demonstra¸c˜ao:
Comog(x)´e limitada, temos que∃M > 0tal que|g(x)|≤M. Logo:
|f(x)g(x)|=|f(x)|.|g(x)|≤M|f(x)|⇒
−M|f(x)|≤f(x)g(x)≤M|f(x)|.
Pelo Teorema do Confronto,
lim
x→af
(x)g(x) =0
pois:
lim
x→a
−M|f(x)|= −Mlim
x→a
|f(x)|= −M.|0|=0e
lim
x→aM
|f(x)|=Mlim
x→a
|f(x)|=M.|0|=0.
Exemplos.
7
Observe que neste caso,x→0⇒x2→0⇒y→0+(poisx2> 0). 8
(1) lim x→0
xsen 1 x
=0, poisf(x) =x´e tal que lim x→0
f(x) =0 eg(x) =sen 1 x
´e limitada. ( sen 1x
≤1)
Observa¸c˜ao: lim x→0
xsen 1 x
6
= lim x→0
x.lim x→0
sen 1 x
, pois lim x→0
sen 1 x
n˜ao existe. (veremos isso adiante)
(2) lim x→0
x3cos 1 x2
=0, pois f(x) =x3´e tal que lim x→0
f(x) =0eg(x) =cos 1 x2
´e limitada. ( cos x12
≤1)
(3) lim x→0
|x|f(x) =0, sendof(x) =
1, sex∈Q
−2, sex∈R−Q . De fato: limx→0
|x|=0 e|f(x)|≤2.
Observa¸c˜ao: lim x→a
|x|f(x)n˜ao existe sea6=0.
(4) lim x→0
xsen(|x|x) =0.De fato: lim x→0
x=0e
sen(x) |x|
=
|sen(x)| |x| ≤
|x| |x| =1.
Exerc´ıcio. Calcule:
(1) lim x→0
sen3 x 2
x3 . (Resposta: 1 8)
(2) lim x→0
cos(2x)−cos(3x)
x2 . (Resposta: 5 2)
2.5
Limites no Infinito
Defini¸c˜ao. Seja f:X⊂R→Rtal que X n˜ao ´e limitado superiormente (9). Dizemos que o limite de f(x)quando x
tende a infinito ´e L∈R, e escrevemos
lim
x→+∞
f(x) =L,
quando: Dado ε > 0,∃∆ > 0tal que
x > ∆⇒|f(x) −L|< ε.
x 0 D L y L-e L+e f x( )
gráfico def
x
De modo an´alogo,
lim
x→−∞
f(x) =L
quando: Dado ε > 0,∃∆ > 0tal que
x <−∆⇒|f(x) −L|< ε.
Exemplo. Demonstremos que lim x→+∞
1
xn =0, paran∈Nfixo, utilizando a defini¸c˜ao. De fato, observemos que
|f(x) −L|< ε⇐⇒
1 xn −0
< ε⇐⇒
x>0
1
xn < ε⇐⇒x > n r
1 ε.
Desta forma, dadoε > 0qualquer, fazendo∆= qn 1
ε, temos pela cadeia de equivalˆencias acima:
x > ∆⇒
1 xn −0
< ε,
9
que ´e exatamente a defini¸c˜ao de lim x→+∞
1 xn =0. De modo an´alogo, demonstra-se que lim
x→−∞
1 xn =0.
Observa¸c˜ao. As regras operat´orias para calcular limites s˜ao v´alidas para calcular limites no infinito. Vamos a alguns exemplos:
(1) lim x→+∞
x3−2x+5 2x3
+10x2
−2x =x→lim+∞
x3 1− 2x x3 + 5
x3
x32+10x2 x3 −
2x x3
= lim x→+∞
1− 2 x2 + 5
x3
2+10x − x22 =
lim x→+∞
1− lim x→+∞
2
x2+ lim x→+∞
5 x3
lim
x→+∞2+x→lim+∞
10
x −x→lim+∞
2 x2
= 1−0+0 2+0−0= 1
2.
(2) lim x→−∞
2x5
−2x2
+3
3x5+7x4+x2 = lim x→−∞
x5 2− 2 x3 + 3
x5
x5 3+ 7 x+
1 x3
= lim x→−∞
2− 2 x3 + 3
x5
3+7 x+
1 x3
= 2 3.
(3) lim x→+∞
x4
−2x2
+3 3x5+
7x2−
2x =x→lim+∞ 1− 2
x2 + 3 x4
3x+ 7 x2 − 2
x3 =0.
(4) lim x→+∞
sen(x)
x =0, pois limx→+∞
1
x =0 e|sen(x)|≤1.
(5) lim x→−∞
5−cos(x)
x2 =0, pois lim x→−∞
1
x2 =0e|5−cos(x)|≤6.
(6) lim x→+∞xsen
1 x
= lim x→+∞
sen 1 x 1 x =
y=1 x
lim y→0+
sen(y)
y =1. (1
o. limite fundamental)
Observa¸c˜ao.: quandox→+∞ ⇒ 1 x →0
+
⇒y→0+.
(7) lim x→0
sen 1 x
n˜ao existe. De fato:
Parax= 1
kπ,k∈Z, temos limx→0sen
1 x
= lim k→+∞sen
1
1 kπ
! = lim
k→+∞sen
(kπ) = lim k→+∞
0=0.
Parax= 1 π 2+2kπ,
k∈Z, temos lim x→0
sen 1 x
= lim k→+∞
sen 11 π 2+2kπ
! = lim
k→+∞
sen π 2+2kπ
= lim
k→+∞ 1=1.
-1 1
x y
2/p - /p2
gráfico def
Observa¸c˜ao. Seα > 0, ent˜ao lim x→+∞
1 xα =0.
(8) lim x→+∞
x√3 x+1 5x√3
x+3x−1 =x→lim+∞ x√3
x1+ 1 x√3
x
x√3
x5+ 3x x√3
x− 1 x√3 x
= lim x→+∞
1+ 1 x43
5+ 3 x 1 3 − 1 x 4 3 = lim x→+∞1
+ lim x→+∞
1 x43 lim
x→+∞
5+ lim x→+∞
3 x
1 3
− lim x→+∞
1 x 4 3 = 1 5.
Exerc´ıcio. Calcule lim x→+∞
8−x
√
2.6
Limites Infinitos
Defini¸c˜ao. Sejam f:X⊂R→Re a∈R tal que ]a−r, a+r[∩X6=∅para qualquer r > 0. Dizemos que o limite de f(x)quando xtende a a´e infinito, e escrevemos
lim
x→a
f(x) = +∞,
quando: ∀M > 0,∃δ > 0tal que
0 <|x−a|< δ⇒f(x)> M.
x
0 a x
y
a+d a-d
M f x( )
gráfico def
De modo an´alogo,
lim
x→a
f(x) = −∞ quando: ∀M > 0,∃δ > 0tal que
0 <|x−a|< δ⇒f(x)<−M.
Exemplo. Demonstremos que lim x→1
1
(x−1)2 = +∞, utilizando a defini¸c˜ao. De fato, observemos que
f(x)> M⇐⇒ 1
(x−1)2 > M⇐⇒x6=1
1
M>(x−1)
2
⇐⇒ r
1
M >|x−1|.
Desta forma, dadoM > 0qualquer, fazendoδ=q1
M, temos pela cadeia de equivalˆencias acima:
0 <|x−1|< δ⇒ 1
(x−1)2 > M,
que ´e exatamente a defini¸c˜ao de lim x→1
1
(x−1)2 = +∞.
Observa¸c˜ao 1. As regras operat´orias para calcular limites s˜ao v´alidas para calcular limites infinitos.
Observa¸c˜ao 2. O conceito de limite infinito pode ser considerado de forma a termos limite lateral a direita ou a esquerda de a. Exemplos: lim
x→2+
1
(x−2)3 = +∞ e lim x→2−
1
(x−2)3 = −∞. Naturalmente, para que exista lim
x→af(x), os
limites laterais dever˜ao existir e coincidir.
Observa¸c˜ao 3. O conceito de limite infinito comxtendendo a+∞ou−∞tamb´em pode ser considerado. Exemplo: lim
x→−∞ x2= +
∞.
Exemplos.
(1)Param, n∈Nfixos, lim x→0+
1 n
√
xm = lim x→0+
1 x
m
n = +∞.
(2)Paran∈Nfixo, lim x→0−
1 xn =
+∞, senfor par
(3)Param, n∈Nfixos, lim x→+∞x
m
n = +∞.
(4)Paran∈Nfixo, lim x→−∞x
n=
+∞, senfor par
−∞, senfor ´ımpar .
Exerc´ıcios. Calcular:
(1) lim x→+∞
5x3−2x2 .
(2) lim x→−∞ 7x
5+6x2 .
(3) lim x→0
x3+x√x+ 1 x2
.
(4) lim x→+∞
3x4
−1 2x3
−7x.
(5) lim x→−∞
2x4
−3x
−x+1 .
(6) lim x→−1
5x+2
|x+1|. (7) lim
x→2
x2
+3x+1 x2
+x−6.
(8) lim x→0
|x|
x2.
(9) lim x→+∞
x√x+1 x√3
x−x.
(10) lim x→+∞
√
3x2+2x+1−√2x.
(11) lim x→4
3−x x2
−2x−8.
2.7
Ass´ıntotas Horizontais e Verticais
Defini¸c˜ao. Dizemos que a reta x=ae uma ass´ıntota vertical do gr´afico de uma fun¸c˜ao f:X⊂R→Rquando pelo menos uma das seguintes condi¸c˜oes for verdadeira:
(i) lim
x→a+f(x) = +∞. (ii) lim
x→a−f(x) = +∞. (iii) lim
x→a+f(x) = −∞. (iv) lim
x→a−
f(x) = −∞.
Exemplo. A retax=0´e ass´ıntota vertical def(x) = x1 pois lim
x→0+f(x) = +∞. (ou limx→0−f(x) = −∞)
-1
-1 0
1 1
x y
gráfico def
assíntotax=0(eixoy)
Defini¸c˜ao. Dizemos que a reta y=b´e uma ass´ıntota horizontal do gr´afico de uma fun¸c˜ao f: X⊂R→R quando pelo menos uma das seguintes condi¸c˜oes for verdadeira:
(i) lim
x→+∞
f(x) =b.
(ii) lim
x→−∞
f(x) =b.
Exemplo. A retay=0´e ass´ıntota horizontal def(x) = 1
x pois limx→+∞
f(x) =0. (ou lim x→−∞
-1 -1 0 1 1 x y
gráfico def
assíntotay=0(eixox)
Exerc´ıcios. Dˆe as ass´ıntotas (e trace os gr´aficos) de:
(1)f(x) = 1 x−2+3.
(2)f(x) =tg(x).
2.8
O Limite
lim
x→+∞
1
+
1
x
x(2
o. Limite Fundamental)
O valor deste limite segue de uma aplica¸c˜ao do Teorema do Confronto. Para apresent´a-lo, iremos abandonar um pouco o rigor matem´atico e assumir que a seq¨uˆencia de n´umeros reais
1+ 1
n
n
n∈N =
1+ 1
1
1
,
1+ 1
2
2
,
1+ 1
3
3
,
1+1
4
4
,
1+1
5
5
, . . . ,
1+ 1
n
n
, . . .
!
para n ∈ N ´e convergente. Intuitivamente, `a medida que n tende a infinito,
1+ 1
n
n
tende a um determinado
n´umero real irracional. Este n´umero ´e indicado poree seu valor aproximado ´e2, 718281828459045 . . .
Temos, desta forma, a motiva¸c˜ao para a seguintedefini¸c˜ao:
lim n→+∞
1+ 1
n
n
=e sendon∈N.
Agora, mostremos que lim x→+∞
1+ 1
x
x
=e parax∈R. Sejamx∈Ren∈Ntais que
n≤x < n+1⇒ 1 n+1 <
1 x ≤
1 n⇒1+
1
n+1 < 1+ 1 x≤1+
1 n.
Logo,
n≤x < n+1⇒
1+ 1
n+1
n
<
1+ 1
x
x ≤
1+ 1
n
n+1 .
Como
lim n→+∞
1+ 1
n+1
n =
m=n+1mlim→+∞
1+ 1
m
m−1
= lim m→+∞
1+ 1
m
m
1+ 1
m
−1
=e.1−1=e
e
lim n→+∞
1+ 1
n
n+1
= lim n→+∞
1+ 1
n
n
1+ 1
n
1
=e.11=e,
temos, pelo Teorema do Confronto que
lim x→+∞
1+ 1
x
x =e.
Exerc´ıcios.
(1)Mostre que
lim x→−∞
1+ 1
x
Resolu¸c˜ao: ser´a feita em sala de aula.
(2)Mostre que
lim x→0
(1+x) 1 x =e.
Resolu¸c˜ao: ser´a feita em sala de aula.
(3)Mostre que
lim x→0
ax−1
x =ln(a),
sendoa > 0,a6=1.
Resolu¸c˜ao: ser´a feita em sala de aula.
2.9
Teorema do Valor Intermedi´
ario, Teorema do Anulamento e
Teo-rema de Weierstrass.
Teorema do Valor Intermedi´ario. Se f: [a, b]⊂R→R´e cont´ınua (10)e γ´e um valor entre f(a)e f(b),ent˜ao
existe c∈[a, b]tal que f(c) =γ.
y
x
a c b
f c( ) = g
f a( ) f b( )
gráfico def
Observa¸c˜ao. Casofn˜ao seja cont´ınua em[a, b], o teorema n˜ao vale. No exemplo abaixo n˜ao existec∈[a, b]tal que
f(c) =γ.
y
x
a c b
g
f a( ) f b( )
gráfico def f c( )
?
Teorema do Anulamento. Seja f: [a, b]⊂R→Rcont´ınua. Se f(a)e f(b)possuirem sinais opostos, ent˜ao existe
c∈]a, b[tal que f(c) =0.
10
y
x a
b c
0
f a( ) f b( )
gráfico def
Exemplos.
(1)Mostre que a equa¸c˜aox3−4x+8=0 admite ao menos uma raiz real.
De fato,f(x) =x3−4x+8´e cont´ınua emR. Parax= −3 (por exemplo), temosf(−3) = −7 < 0e parax=0,
temos f(0) =8 > 0. Logo, peloTeorema do Anulamento, existec∈]−3, 0[tal que f(c) =0, ou seja,c´e raiz def.
(2)Mostre que a equa¸c˜aox3−4x+2=0 admite trˆes ra´ızes reais.
De fato,f(x) =x3−4x+2´e cont´ınua emR.
Parax= 0, temos f(0) =2 > 0 e para x= 1, temos f(1) = −1 < 0. Pelo Teorema do Anulamento, temos que
existec1∈]0, 1[tal quef(c1) =0.
Parax= −3, temosf(−3) = −13 < 0e parax= −2, temosf(−2) =2 > 0. Pelo Teorema do Anulamento, existe
c2∈]−3,−2[tal quef(c2) =0.
Conclus˜ao: f(x)admite trˆes ra´ızes reais. (Demonstramos a existˆencia de duas ra´ızes. A terceira raiz ´e obrigatori-amente real. Por quˆe?)
(3)Mostre que existex0∈
0,π2
tal que cos(x0) =x0.
De fato, devemos mostrar quef(x) =cos(x) −x possui uma raiz no intervalo indicado. Observemos quef(x) =
cos(x) −x´e cont´ınua em R(em particular no intervalo
0,π 2
). Temos que f(0) =1 > 0e f π 2
= −π
2 < 0. Logo,
pelo Teorema do Anulamento, existe x0∈0,π2tal quef(x0) =0, ou seja, cos(x0) =x0.
Exerc´ıcios.
(1)Mostre que a equa¸c˜aox3+3x2−2x−6=0tem uma raiz entre1 e2.
(2)Mostre que todo polinˆomio de grau ´ımpar tem pelo menos uma raiz real.
(3)SejaP(x) =a2nx2n+a2n−1x2n−1+· · ·+a1x+a0coma2n> 0 ea0< 0. Mostre que esse polinˆomio tem pelo menos duas ra´ızes reais: uma positiva e uma negativa.
(4)Sejama > 0en∈N. Mostre que existe umα > 0tal que αn =a.
Resolu¸c˜ao: ser´a feita em sala de aula.
Teorema de Weierstrass. Se f: [a, b]⊂R→R´e cont´ınua, ent˜ao existem xm, xM∈[a, b]tais quef(xm)≤f(x)≤
f(xM), ∀x∈[a, b].
y
x f x( M)
f x( m)
a xM xmb gráfico def
Observa¸c˜ao:
xm: ponto de m´ınimo defem[a, b].
xM: ponto de m´aximo def em[a, b].
f(xm): valor m´ınimo defem[a, b].