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Rosa Attié Figueira A FALA DA CRIANÇA: DOMÍNIO EMPÍRICO PARA A TEORIZAÇÃO SAUSSURIANA. DO JOGO PREVISÍVEL À IMPREVISIBILIDADE DO JOGO

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A FALA DA CRIANÇA: DOMÍNIO EMPÍRICO PARA A TEORIZAÇÃO SAUSSURIANA. DO JOGO PREVISÍVEL À IMPREVISIBILIDADE DO JOGO

Rosa Attié FIGUEIRA1 Resumo

O percurso da criança com a língua materna convoca os fundamentos da reflexão saussuriana, particularmente visíveis na estrutura da palavra e a sede de inovações rendem uma aproximação fecunda com as lições de Saussure. Ocorrências documentadas nos anos da infância oferecem marcos empíricos para a hipótese de que, neste cenário, os atos individuais de fala, singulares e divergentes da fala adulta, pedem uma abordagem teoricamente orientada para expor o jogo do mecanismo da língua, central no projeto científico saussuriano. Em destaque, o que está em sua base: as relações associativas (mises en rapport). Sem desconhecer o que deste movimento aflora na fala do adulto é adequado explorar o jogo previsível à imprevisibilidade do jogo, aspecto focalizado nesta apresentação.

Palavras-chave: relações associativas; mecanismo linguístico; (im)previsibilidade; jogo;

homonímia.

Primeiras Palavras

Neste trabalho focalizo um ponto central do pensamento de Saussure, deixando expresso no seu subtítulo: “do jogo previsível ao imprevisível do jogo” o interesse em mostrar o alcance da reflexão saussuriana, para abordar acontecimentos da fala da criança2, tanto quanto os da fala do adulto: o lapso3, o chiste e a prosa poética, nenhum deles menos devedor do mecanismo da língua, que põe em marcha relações

1 Universidade Estadual de Campinas. rosattie@yahoo.com.br

2 Os fundamentos saussurianos comparecem em análises da área de aquisição de linguagem, pelo esforço de teorização de De Lemos (2002). Meu interesse pelo léxico em “A palavra divergente. Previsibilidade e imprevisibilidade nas inovações lexicais da fala de duas crianças” (FIGUEIRA, 1995), levou-me ao Curso de Linguística Geral, ao focalizar as criações da fala infantil, sem ignorar que jogos de palavras acontecem na fala do adulto. Adiante, a exploração do aparato teórico saussuriano intensificou-se em: “Empiria e teoria na Aquisição de Linguagem”, pesquisa apoiada pelo CNPq, instituição à qual agradeço. 3 Em entrevista ao Jornal Nacional sobre as obras no aeroporto do Rio de Janeiro, então atrasadas para as Olimpíadas (2014), o presidente da INFRAERO proferiu tapear em vez de etapear, itens parônimos. Isto exigiu uma correção, ao final da edição, o que obviamente não mudou o destino do lapso ali consumado. Coloquei em discussão a inutilidade da “retificação de lapsos”, na ENANPOLL realizada em Cuiabá (2018).

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associativas. Buscarei tal ampliação, sem abandonar o vínculo que me liga ao processo

de aquisição da linguagem (em particular, do português brasileiro), tema de trabalhos nos quais o tratamento da (im)previsibilidade da fala da criança convoca Saussure e seu referencial teórico, via metodologia longitudinal4. Os achados documentados em fala de adulto são registros provenientes de minha observação mais informal.

Análise e discussão

No universo empírico acima delineado, busco um recorte que valoriza, no conjunto de dados disponível, aqueles que produzem um efeito de surpresa, pela novidade que encerram. As formações neológicas, assentadas num padrão gramatical recorrentenão são aquelas que despertam meu interesse, e sim outras que, pela surpresa que provocam, colocam em suspensão, no ato enunciativo, a evidência da fala ordinária; e, deste modo, revelam o funcionamento das relações em jogo num ponto do funcionamento da língua. Geralmente localizadas na palavra, elas tornam visível o tesouro da língua correspondente às relações de quaisquer latitudes de associação, resultando em ocorrências menos previsíveis, feitos da língua no cotidiano5. Sigo de perto aqui uma importante análise feita por Normand, a partir de um diálogo com seu fornecedor de carnes, em que este lhe deu notícias de seu aprendiz, dizendo: Il ne

progresse pas il dégresse (NORMAND 2001, p. 172).

A autora hesita na classificação de seu achado (trocadilho? lapso?) e identificando a alternância dos prefixos pro- e dé-, reconhece que é deste lugar que emerge o comentário criativo; à margem de qualquer fundamento etimológico, mas inserido numa série globalmente negativa (déchet, défection, désarroi, désastre…). Na inovação: il dégresse, localiza a oposição formal "d’un pro- conquérant et d’un

dé-accablé"(NORMAND, 2001, p. 172)6. Destaca um ponto: os ouvintes, aqueles que “têm uma terceira orelha um pouco mais sensível", sentem o emprego estranho ou inesperado, efeito do prefixo que se instala na palavra, cuja complacência (acrescento este termo por conta própria) é a sede de uma resposta, captada como chiste ou como lapso (hesitação da autora). Resposta incomum, graças à associação que aflorou no

4 Os dados do universo infantil procedem de A, J e Al (3 a 5 de idade), crianças acompanhadas através de gravações e/ou de diário. Dois dados da aquisição do francês foram recolhidos da literatura geral da área. 5 Pode-se alternar feitos com o termo vicissitudes, que procede de De Lemos (2002).

6 Quando necessário conservei as citações do texto original, para manter a relação homofônica entre fr.

gresse (dé-gresse) e graisse (port. gordura), associável àquele contexto (o comerciante vendia produtos

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comentário sobre a atuação decepcionante do aprendiz, direção inversa ao progresso. Abre-se um lugar da cadeia sintagmática, capaz de despontar o novo sentido, correspondente a um possível na ordem da língua: il dégresse.

O sentimento de surpresa domina a cena. Sob este aspecto também os observadores da linguagem na infância experimentam sentimento parecido7, diante de episódios em que a fala da criança assume um caminho que diverge da fala do adulto. Para continuar com exemplo em língua francesa, tomo um achado que assenta sobre uma segmentação divergente da palavra primevère, fala de criança a um adulto.

(Delphine 3;4 a cueilli des fleurs)

X. Est-ce que tu sais comment s’appellent ces fleurs... Ça s’appelle

des primevères.

D. Non, c’est des primes jaunes. (

BONNET; TAMINE-GARDES 1984, p. 51)

A resposta de D mostra que a menina recebe primevère, como item que contém em sua sequência fônica o subsegmento vert (port. verde), o qual torna-se, então, alvo de uma fala em que contesta seu interlocutor: Non, c’est des primes jaunes, fazendo-lhe uma correção. A depreensão da cadeia sonora passou por um laço associativo, traçado a partir de aproximação de parte da palavra primevère, na qual se destacou como unidade:

vert, que vem a comutar com jaune, atendendo ao que a menina observa na entidade da

qual se fala naquele diálogo: uma planta cuja flor é amarela (fr. jaune). A materialidade sonora foi revestida de um significado alheio ao uso ordinário, que semantiza o material fônico “ocioso” 8 ou – como se pode também dizer, complacente – potencialmente capaz de acomodar um significado. O resultado é a emergência de uma unidade lá onde, na fala adulta, não é recortado como unidade. Fato nem um pouco negligenciável quando se investiga, o que hoje é nomeado equivocidade da lingua(gem); neste caso, aberta a elos associativos que deslocam os limites entre o que alçado a unidade de significação – em breve, um signo. Poderíamos falar numa homonímia em potencial, condição que, no percurso da criança com a língua, enseja tais movimentos singulares – capazes de recordar uma passagem que recolho de Hippolyte Taine: “S’il [l’enfant] apprend de nous notre langue, nous apprenons la sienne” (apud DELEFOSSE, 2010, p. 74).

O episódio de Delphine leva a uma pergunta: quantos jogos de palavras, entre adultos, incidem sobre estruturas sonoras que contemplam alternâncias onde se encaixam sentidos outros? Para dar um exemplo trivial, recorro a um feito sobre uma

7 A noção de sentimento linguístico, da reflexão saussuriana, tem se mostrado relevante nas análises desenvolvidas em nossos escritos (FIGUEIRA 2018).

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palavra, que corre da boca em boca, depois que para um primeiro falante, surgiu a ocasião de presentificar numa associação, um investimento semântico sobre parte da palavra... Hoje não vamos comemorar, vamos bebemorar. Na materialidade fônica se aloja um significante que desenha um significado novo, num movimento dinâmico que não deixa passar ou desperdiçar parte da palavra. O resultado se dá a proveito de um a-mais no sentido: diz-se de uma comemoração, em que os convivas vão se fartar: de beber e não de comer. Num artigo publicado em 2010, escrevi uma nota útil para o material em tela, pois contribui para explicar aspectos do domínio dos jogos de palavra.

Segundo nos parece, há no continuum sonoro, um quantumde matéria fônica, cuja similaridade material com outros elementos, postos em relação, torna-se responsável pela nova ordem semântica imposta à pauta sonora (FIGUEIRA 2010, p. 120).

Esta passagem explicaria também os casos chamados de etimologia popular? Como se sabe, no Curso de Linguística Geral (CLG, daqui em diante), abre-se um capítulo à parte para o fenômeno pelo qual “acontece-nos por vezes estropiar palavras”, inovações que, “por mais extravagantes que sejam, não se fazem completamente ao acaso” (CLG: p. 202). Um feito ou vicissitude da palavra no uso ordinário da língua.

De bebemorar, passo a um achado que surpreendi na fala de uma atendente da

SANASA, quando fui apresentar uma queixa de vazamento de água de meu jardim. Ao relatar o caso, ouvi: “E o lugar ficou imundado? A senhora observou onde começou a

imundar? A imundação foi antes ou adiante do cavalete?”, perguntas destinadas a

historiar o caso. Na fala fluente e espontânea da funcionária a associação de ideias apontava um fato capaz de se somar a tantos outros da chamada etimologia do povo.

Inundar, a forma esperada, deu lugar a imundar, alteração na raiz do verbo, nela

alojando-se imundo, o resultado do vazamento.

Trata-se de uma ocorrência que, dentro da reflexão de Saussure, pede discorrer sobre um modo de funcionamento da língua, que promove alinhamentos forma-sentido, como possibilidades de re-formar palavras. Legítimas ou não, sabemos de muitas que conheceram esta origem. Se veio para ficar ou será esquecida, trata-se de uma questão que o uso pela massa falante decidirá. Algumas cunhagens passam adiante, firmando-se no uso ordinário da língua. Pela limitação de espaço, reservo para um texto ampliado (de que este é uma parte) a discussão no CLG em torno da distinção entre analogia e etimologia popular. Adianto que, em ambos os fenômenos, são os elementos significativos fornecidos pela língua, que são mobilizados – aspecto a reter numa discussão acerca do que chamo de mise en rapport, fenômeno que pode estar tanto na

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fala da criança quanto na fala do adulto. A questão coloca-se, para nós, sempre no seio do mecanismo da língua: no bojo das relações, abertas a qualquer “latitude de associações”9, que se inscrevem na étoile associative. Nela encontramos explicação para qualquer sorte de criações. Aí se incluem certos termos do léxico infantil afetados por laços semanticamente motivados: chutebol, no lugar de futebol (J, 3 anos); caimbota por cambota (A, 3 até 4;6 de idade), para o movimento pelo qual se cai no chão. Altera-se a

fisionomia da palavra. Como também se nota em achados de Al (3 anos), em suas deliciosas designações, tão transparentes quanto sugestivas do enlace semântico de que são o efeito: cabeceiro para travesseiro e bebeçálio para berçário. Cabeceiro evoca

cabeça e não qualquer outra coisa. Bebeçálio evoca bebês, e não berço. Observação

relevante: Al, como J e A, não se dá conta da novidade que brota em sua fala.

Já é hora de colocar a fala de criança ao lado de achados exibindo associações que, na língua adulta, visam desestabilizar um sentido. Minha meta inclui considerar os jogos verbais, espaço em que a palavra jogo encontra lugar para explorar o movimento de que a linguagem é a sede e o meio. Os comentários que, neste escrito, seguem lado a lado com dados de crianças, destinam-se a constatar que, em nossa área de investigação - a Linguística - o termo jogo não tem que ser afastado. Este termo está presente em várias passagens da reflexão saussuriana (TESTENOIRE, 2020). Conservá-lo está a serviço da polissemia que ele próprio encerra, quando descortinamos o material a que nos dá acesso (FIGUEIRA, 2011): jogo no sentido de entretenimento, jogo no sentido de procedimento interno ao funcionamento afeito à língua.

A partir deste ponto, deixo os nomes comuns e volto-me para os nomes

próprios. Estes receberam no CLG um comentário que merece ser apreciado

criticamente. Segundo se lê, os nomes próprios não se deixam analisar, não permitindo “nenhuma interpretação de seus elementos” (CLG 1971 [1916], p. 201). Esta afirmação já tinha chamado minha atenção numa publicação antiga (FIGUEIRA, 1995), face a uma empiria constituída por nomes de pessoa, espaço onde significados transparecem na materialidade fônica, à guisa de trocadilhos. Exemplo: uma mulher chamada Maria

das Dores Jardim, ouviu de alguém que anotava seu nome: Mas você deveria se

chamar Maria das Flores Jardim! Ora, os nomes próprios se prestam a alterações que

os promovem a elogios: Teodora, te adoro, no poema laudatório de Manuel Bandeira10. Numa transposição menos respeitosa, mais abusiva, podem, contudo, desqualificar.

9 Expressão usada para “regiões” abrangidas pelas associações (FIGUEIRA, 2018). 10 Ver a análise de Guimarães (2018).

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Trago um exemplo de Freud do livro “Os chistes e sua relação com o inconsciente”. Conta-se que circulou em certa ocasião a troca do “nome de um potentado de Leopold para Cleopold, devido às relações que ele mantivera certa vez com uma senhora cujo primeiro nome era Cleo” (Freud 1905, p. 105). Fez-se, então, uma ‘adulteração’ (termo conveniente para o cenário em tela), e isto se deu – prossigo com Freud – “às custas de uma única letra”, “mantendo viva uma perturbadora alusão”. Alusão (afirma o autor) como produto de uma condensação. O exemplo, aqui incluído11, mostra que o nome próprio pode se prestar ao elogio, mas também é alvo fácil de zombaria.

Ocorrências chistosas sobre nomes de pessoa comparecem em muitos jogos verbais, como as adivinhas, um tema que me atrai há tempo (FIGUEIRA, 2006), hoje restabelecido como projeto de pesquisa, devidamente inscrito num temário via fundamentos da teoria saussuriana. Adivinhas são perguntas que, no contexto do uso lúdico da linguagem, apresentam-se como desafios, geralmente iniciados por O que é?

O que é?, que se instalam entre duas pessoas (o desafiante e o desafiado), num jogo de

pergunta-resposta. Neste espaço inscrevem-se: segmentações divergentes, homonímias e outros fatos de língua. São, deste modo, uma fonte rica para o linguista, que se debruça sobre as relações semânticas que atravessam tal jogo. Não avançaremos aqui na exploração deste tema, deixando apenas anunciado o interesse por contribuir adiante a uma exploração deste material12, onde ocorrências homonímicas têm uma forte presença. Para esta apresentação, no que concerne a homonímia, é oportuno voltar ao cenário da criança, com um diálogo, no qual pela boca de V, no seu percurso com a língua materna (o francês), comparecem itens homófonos.

(en coloriant , V. prend un crayon de couleur) V. Je prends ce vert,

Pi un verre où on boit, Pi des vers dans la terre, Pi des verts crayons.

(AIMARD 1975, p. 37).

Após Je prends ce vert seguem-se enunciados contendo palavras de mesmo

som: verre e vers (port. copo e vermes), itens homófonos a vert. Os enunciados começam com pi que, segundo parece, é a forma infantil da negação pas. Cada ato de fala repete-se dentro do mesmo padrão gramatical, no qual os itens verre, vers e vert recebem uma especificação no interior de seu universo semântico próprio. Como é possível ver, nos complementos grifados: Pi un verre où on boit, Pi des vers

11 Caso exemplar de condensação, citei o chiste acima em artigo anterior (FIGUEIRA, 1995, p. 71). 12 Para tal, ver Marini-Iwamoto (1999). Ver também, Figueira (2006).

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dans la terre, encerrando com : Pi des verts crayons. Resta

acrescentar que a sequência, como um todo, entra pelos ouvidos de quem escuta, com um inegável toque de poesia, repercussão de sua estrutura paralelística, preenchida por signos de mesmo som. A criança está na língua, língua da qual ela já é cativa, do jogo que lhe

permite (associativamente) aproximar homófonos e

sintagmaticamente distingui-los pelo sentido.

Os signos podem se embaralhar. E no seu jogo mútuo de esconder e revelar, perguntamos: não é justamente deste movimento que se nutre o poeta, na sua escrita? Ilustro com os versos de Mario Quintana: Todos esses que aí estão / Atravancando meu caminho /

Eles passarão... / Eu passarinho. Muitos já se encantaram com a

associação que repousa nos dois últimos versos: eles passarão... / eu

passarinho. A quadrinha faz aparecer uma relação que conduz quem

lê ou escuta a uma emoção estética. De onde emerge? Observemos o verso: eles passarão. Neste, passarão tende a ser lido (interpretado) como futuro do verbo passar, referência ao destino daqueles que atravancam o caminho do poeta. Mas quando adiante se lê: eu

passarinho, numa predicação feita a si pelo poeta, outro é o foco

sobre o verso precedente, levantando-se o véu de uma associação que torna possível, retroativamente, reinterpretar passarão como aumentativo de pássaro, e não como verbo. Jogo revelado na alternância aumentativo-diminutivo, fica para o leitor a delicada e surpreendente auto-predicação: eu passarinho, verso com que se fecha o poema. É nesta esfera de deslocamento imprevisto – jogo sustentado pela e na língua – que flui o sentimento linguístico do falante.

Considerações finais

O recorte empírico, selecionado para esta apresentação, deu a conhecer o efeito imprevisível que se instala no fazer e desfazer dos

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valores, ao se“tocar em limites consolidados da língua13”. Este movimento chega para a criança, em sua trajetória com a língua materna e não está ausente na fala do adulto. Condiz com a afirmação de que é falso que “em matéria de linguagem o problema das origens difira das condições permanentes”(CLG 1971 [1916], p. 16). Com efeito, as relações associativas estão postas: tanto para criança, no seu caminho ou processo de captura da língua (reveja-se:

primes jaunes); quanto para o adulto, ao sabor dos meandros a que a

materialidade da língua lhe dá acesso, em ocorrências chistosas ou em achados poéticos. Isto tem me levado, na Aquisição de Linguagem, ao que pode ser apresentado como uma abordagem teoricamente orientada pelos fundamentos da reflexão saussuriana, a qual deixa-me, por outro lado, à vontade para prosseguir neste referencial, com a perspectiva aberta para agregar o material empírico descortinado pelos jogos de palavras, campo que se oferece à presença fecunda de Ferdinand de Saussure.

REFERÊNCIAS

AIMARD, Paule. Les jeux de mots de l’enfant. Simep Éditions: Ville Urbaine, 1975. BONNET, Clairlise ; TAMINE-GARDES, Joelle. Quand l’enfant parle du langage. Connaissance et conscience du langage chez l’enfant. Brusella: Pierre Mardaga, 1984. DELEFOSSE, J-M. Odéric. Sur le langage de l’enfant. Paris: l’Harmattan, 2010. DE LEMOS, Claudia Thereza Guimarães. Das vicissitudes da fala da criança e de sua investigação. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 42, p. 41-69, 2002. FIGUEIRA, Rosa Attié. A palavra divergente. Previsibilidade e imprevisibilidade nas inovações lexicais da fala de duas crianças. Trabalhos de Linguística Aplicada. Campinas, v. 26, p. 49-80,1995.

_____, Rosa Attié. As adivinhas das crianças: o que revelam sobre a mudança na fala da criança? In LIER-DEVITTO, Maria Francisca; ARANTES, Lúcia (org.), Aquisição,

Patologias e Clínica de Linguagem. São Paulo: EDUC, FAPESP. 2006. p. 109-133.

_____, Rosa Attié. O que a investigação sobre o erro na fala da criança deve a Saussure.

Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 52, n. 1, p. 115-143, 2010.

_____, Rosa Attié. Algumas considerações acerca das reformulações na fala da criança.

In LAMPRECHT, Regina Ritter (org.), Aquisição da Linguagem: Estudos Recentes

no Brasil. Porto Alegre: EdiPUCRS. 2011. p. 181-192

13 Retomo de outras publicações (FIGUEIRA, 1995 e FIGUEIRA, 2018), a expressão acima, usada para marcar aquilo que confere à fala da criança seu traço de singularidade,

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_____, Rosa Attié. Toucher du doigt le jeu du mécanisme linguistique: investigando a língua em movimento na fala da criança. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 34, n. 3. p. 43-176, 2018.

FREUD, Sigmund. Os chistes e sua relação com o inconsciente. Rio de Janeiro: Imago. 1996.

GUIMARÃES, Eduardo. Semântica: enunciação e sentido. Campinas: Pontes Editores. 2018.

MARINI-IWAMOTO, Daniela. Um estudo das adivinhas: o jogo verbal. (Dissertação de mestrado). Instituto de Estudos da Linguagem, UNICAMP, Campinas, 1999.

NORMAND, Claudine. De quelques effets de la théorie saussurienne sur une description sémantique. Cahiers Ferdinand de Saussure, v. 54. Genève: Droz. p. 163-175, 2001.

QUINTANA, Mário. Poeminha do contra. Caderno H, Poesia completa. São Paulo: Editora Nova Aguilar, 2005.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix. 1971 [1916]. (CLG)

TESTENOIRE, Pierre-Yves. Jeu de mots, jeu phonique et anagramme dans la réflexion linguistique de Saussure. In FULL, Bettina; LECOLLE, Michelle (ed.), Jeux de mots et

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