ImPrensa – Boletim Online do Instituto de Psicologia www.ip.usp.br/imprensa 28/10/2008
Aconteceu no IP
Profa. Ecléa Bosi Recebe o Título de Professor Emérito
Composição da mesa de honra
Prof. César Ades conduz a Profa. Ecléa Bosi à mesa de honra
Os convidados recebem a Profa Ecléa Bosi com aplausos
O Coral da Terceira Idade da USP
No dia 20 de outubro, em Sessão Solene da Congregação do Instituto de Psicologia da USP, Ecléa Bosi recebeu o título de “Professor Emérito”, em reconhecimento por sua obra e suas realizações na área da Psicologia Social.
O evento aconteceu na Sala do Conselho Universitário da Reitoria da USP e contou com a presença de diretores, docentes da Psicologia e de outras unidades, além de funcionários e estudantes do IPUSP. A mesa foi composta pelo vice-diretor, Prof. Yves de La Taille, pela Profa. Eda Tassara, chefe do Departamento de Psicologia Social, pelo Prof. Paulo de Salles Oliveira também do PST, proponente da homenagem, e pela Profa. Emma Otta, diretora do IPUSP, que abriu e presidiu os trabalhos.
Professor Emérito é um título outorgado
apenas em ocasiões especiais a professores aposentados que se notabilizaram por suas pesquisas, por sua prática docente e pela contribuição às atividades de extensão, engrandecendo o nome da USP. É o caso de Ecléa, professora titular desde 1982, que tem uma significativa obra no campo da psicologia social brasileira. Entre os seus livros, destacam-se Memória e sociedade
– Lembranças de velhos, Cultura de massa e cultura popular – Leituras de operárias, O tempo vivo da memória, Velhos amigos e Simone Weil, a razão dos vencidos.
Os trabalhos de Ecléa Bosi nascem na Psicologia Social e também são referência para outras áreas das ciências humanas. Possuem a rara capacidade de entrelaçar arte e ciência. São reconhecidos não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na Europa e se destacam pelo interesse na memória oral.
Das pesquisas sobre a memória dos
Leitura do termo de outorga
Assinatura do termo de outorga pelos membros
Prof. Paulo de Salles Oliveira
idosos, nasceu a Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), um programa iniciado em 1993 na USP e amplamente reconhecido pela sua importância como espaço de participação social e de ressignificação da vida. Já no livro Cultura
de massa e cultura popular – Leituras de operárias, Ecléa propõe uma discussão em
torno das chamadas culturas de massa, popular e erudita, valorizando as leituras de operárias.
César Ades, professor Decano da Unidade, conduziu a homenageada à mesa de honra. Em seguida, o Coral da Terceira Idade da USP convidou a todos os presentes para cantarem o Hino Nacional, tendo ao piano a aluna Karina Muniz Boscato.
Sob a regência de alunos do Departamento de Música da escola de Comunicação e Artes, o Coral da terceira Idade, apresentou cinco canções.
Após a leitura do termo de outorga pela Assistente Acadêmica, Cynthia Regina Borges Braga Mannini, foi entregue o diploma à Professora Emérita.
Num trecho de discurso emocionado, Paulo de Salles Oliveira assim se referiu à professora: “Ecléa, diante de sua luminosa trajetória, é como se nos encontrássemos com Noêmia, a personagem descrita por Cecília Meireles. Na casa de Noêmia havia ‘um jardim tão
bonito que fazia parar as criaturas que passavam por ele. Algumas pediam-lhe flores. Ela dava. Outras pediam-lhe mudas. E ela dava, dava sempre... De maneira que no seu jardim não havia agora quase nada... A bem dizer nada mesmo. Ela, porém, não estava triste. Porque as suas flores deviam estar noutros jardins.’ Hoje, cada um de nós -
alunos, amigos, colegas, funcionários, professores - nos unimos aos idosos, às operárias, aos militantes ecológicos e aos inúmeros desvalidos que você secretamente auxilia com regularidade.Trazemos conosco, é claro,
as flores de seu jardim, aquelas que você sempre nos oferece. Todas estão aqui, vivas, fulgurantes, a animar nossos
Profa. Ecléa Bosi em posse do diploma de Profa. Emérita
Profa. Ecléa recebe flores em nome da Congregação do IP
corações.”
Em sua fala, Ecléa pede permissão aos presentes para que, como estudiosa da memória, possa rememorar, evocando figuras que a acompanharam ao longo de sua vida.
Sua infância foi muito simples. Estudou no bairro de Campos Elíseos e, para fazer economia, caminhava até a Avenida São João, cruzava o Vale do Anhangabaú, ganhava a Praça das Bandeiras, percorria a Rua da Consolação inteira, entrava na Avenida Rebouças e seguia até o final, para chegar em sua casa. “No caminho
observava casebres e palácios e fui tomada por um horror da desigualdade. Quando expressava essa revolta, os adultos diziam: - Mas esta menina é comunista!” Na época de cursinho,
conheceu o futuro marido, Alfredo Bosi, hoje professor aposentado da USP, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos maiores críticos literários do Brasil, que naquela época foi seu professor.
Alunos, colegas e mestres, que fizeram parte de sua trajetória, também foram lembrados. “Fui colega de classe de Iara
Iavelberg e fui professora de Aurora Maria do Nascimento Furtado, nomes que pertencem à História da resistência à tirania. Quero na pessoa de Aurora, que para mim nunca morreu, homenagear todos os alunos: que eles se lembrem de sua fé e coragem e do amor que ela sentiu pelo seu povo.”
Com sua vida de lutas, ensina Ecléa: “Não
há destino melhor para nossas obras que inspirar políticas públicas e nos fazer exercer alguma militância que vá nos redimir de sermos apenas intelectuais”.
Finalmente, antes de concluir a sessão, a Profa. Emma Otta fez um pronunciamento no qual declara ter tido “o privilégio de
ser aluna da Professora Ecléa na década de 1970, no curso de graduação em psicologia do IPUSP. Ecléa é uma professora especial, que ensina o que não se sabe. Mas como é possível ensinar o que não se sabe?
Profa. Ecléa Bosi
Profa. Emma Otta
José Midlin, Prof. Celso Lafer e Prof. Alfredo Bosi
Profa. Ecléa e seus convidados
‘A isso se chama pesquisar’ – diz Roland Barthes – ‘e essa é uma das grandes alegrias do professor, somente comparável à do pai que vê o filho partindo sozinho como pássaro jovem que, pela primeira vez, se lança sobre o vazio com suas próprias asas. O professor vê o discípulo partindo para o desconhecido, para voltar com os mapas que ele mesmo irá fazer, de um mar onde ninguém mais esteve. É isso que deve ser uma pesquisa ou uma tese: uma aventura por um mar que ninguém mais conhece’. Ecléa orientou muitos estudantes a se aventurar por mares desconhecidos.
Teve também oportunidade de acompanhar várias fases da Universidade de São Paulo, incluindo períodos de dificuldade que puseram à prova a sua vitalidade e a firmeza das suas bases. Ela pode nos ajudar neste momento de planejamento do futuro, de revisão da sua orientação, procurando ajustar-se à evolução da ciência e da sociedade. Está atenta às questões do seu tempo e aos problemas da sociedade em que está inserida. É de pessoas como Ecléa Bosi que o Instituto de Psicologia e a Universidade de São Paulo precisam neste momento em que planejam como desejam ser em 2034. Portanto, Ecléa, não entenda este Título de ‘Professor Emérito’ como apenas uma homenagem pelas contribuições já feitas, mas como um convite para continuar colaborando. Há muito trabalho pela frente e precisamos de você.”
Exposição com obras e fotos da Profa. Ecléa Bosi
Por Cynthia Regina Borges Braga Mannini e Paulo de Salles Oliveira Colaboração: Islaine Maciel
