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(a) Teve um mau ano comercial, em 1996, com um rendimento anual de Pte.

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(1)

________________________________________________________________________ PN. 972/00; AG: TC Évora;

Ag.e1: José Manuel Pereira Rodrigues;

Ag.os2: M. P., Maria do Carmo Cuco Ramalho Figueira Guerreiro, Joaquim Fialho Figueira Guerreiro e Isabel Caeiro Cuco.

________________________________________________________________________

Em Conferência no Tribunal da Relação de Évora

1. José Manuel Pereira Rodrigues requereu a concessão do benefício de litigar em dispensa total do pagamento de taxa de justiça e custas, alegando, em síntese:

(a) Teve um mau ano comercial, em 1996, com um rendimento anual de Pte. 920 104$00;

(b) É casado, com mulher e filha menor estudante a seu cargo;

(c) Não paga todavia renda de casa, nem quaisquer contribuições e impostos (por não serem devidos);

(d) Aceitou a dação em cumprimento, referida na causa, para obter uma mais rápida recuperação do crédito que detinha sobre o R. marido.

1.1 Juntou cópia da declaração de IRS (1996)3.

2. Isabel Caeiro Cuco, oponente, contra-disse:

(a) Ele A. é proprietário de pelo menos um imóvel, onde mora, e possui ainda outros bens imóveis, um veículo automóvel, e contas de depósito bancário.

3. O rq.te respondeu:

(a) Não é proprietário de bens imóveis de grande valor, nem da casa onde vive;

1 Adv: Dr. Gregório Vicente Inês, Av. Padre Manuel da Nóbrega, 9, 5º Esq., Lisboa. 2 Adv: Dr. Luciano Barbio, Av. Luísa Tody, 33, 2ºD, ed. BNU, Setúbal.

(2)

(b) É dono de uma pequena casa em Paredes de Coura, provinda da herança dos pais, que não gera quaisquer rendimentos;

(c) Não tem automóvel;

(d) É titular de duas contas bancárias, ambas com saldos negativos. 3.1 Juntou documentos confirmativos4.

4. O MP pronunciou-se no sentido do indeferimento:

(a) A pretensão do A. é de todo incompatível com o rendimento declarado às finanças;

(b) E com o valor dos interesses que pretende fazer valer na acção;

(c) Até, com a profissão que declarou.

5. Ficou provado, com base nos documentos apresentados pelo A. e no inquérito da PSP:

(a) O A. trabalha como técnico de apoio jurídico para Zero Gest – Gestão Empresarial, L.da, auferindo mensalmente a quantia de Pte. 100 000$00;

(b) Tem como despesas certas: Pte. 3 000$00, de água; Pte. 5 000$00, de luz; Pte. 2 000$00, de gás; Pte. 5 000$00, de telefone; e o passe social da filha;

(c) Reside em casa que lhe foi cedida a título de comodato;

(d) Declarou ter como rendimentos relativos ao ano de 1997 um total bruto de Pte. 810 300$00.

6. Perante os factos assentes, a decisão recorrida, indeferiu:

(a) O A. não beneficia de nenhuma das presunções de insuficiência económica (art. 20º, DL 387B/87, 29.12);

(b) Cabia-lhe fazer convencer da sua incapacidade para suportar os encargos da acção, como não logrou;

(3)

(c) Na verdade, nos casos em que a taxa de justiça global atinge montantes como o destes autos (Pte. 120 000$00), a dispensa de pagamento, e das custas, só poderá ser concedida aos muito pobres, sob pena de se perverter o sistema construído pelo legislador sob o princípio de que quem recorre ao Serviço de Justiça, tem de satisfazer pelo menos uma pequeníssima parte dos seus custos efectivos, princípio de cuja boa aplicação depende, entre outros, o objectivo de evitar que os cidadãos usem e abusem dos tribunais com arma de arremesso uns contra os outros;

(d) Ora, grande parte da população não tem casa própria ou meios para arrendar uma;

(e) E o rq.te, no espaço de apenas dois anos (1999 e 1997), negociou e investiu capitais na compra de dois imóveis de habitação (logo em anos em que os seus rendimentos declarados mal lhe dariam para subsidiar as suas despesas mais básicas);

(f) Dado que vive em casa emprestada, conclui-se que não faz por necessidade, antes por mera conveniência;

(g) Se também tem meios para contratar advogado, também não deve ser dispensado do pagamento das taxas de justiça e das custas

7. Concluiu o recorrente:

(a) Requereu que lhe fosse concedido o benefício de apoio judiciário na modalidade de dispensa total do pagamento da taxa de justiça e custas, ao abrigo do disposto nos art.s 15º, 16º/1, 17º, 22º/1 e 23º, DL 387B/87, 29.12;

(b) Formulou tal pedido por lhe ser inteiramente impossível suportar tais dispêndios;

(c) O pressuposto básico da concessão do benefício da protecção jurídica é constituído pela insuficiência de meios económico-financeiros para custear o serviço do mandatário (art.s 7º e 15º, DL 387B/87, 29.12);

(d) Mas a razão de ser do apoio judiciário é reforçada no art. 20º CRP, quando aí se refere que o acesso ao direito e aos tribunais, para defesa de direito

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legalmente protegidos ou legítimos é assegurado a todos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios de fortuna;

(e) Ao ter indeferido, a decisão recorrida violou os já citados preceitos de lei, pois deveria ter considerada como provada a insuficiência económica do Ag.e;

(f) Entendeu o julgador, no entanto, que o rq.te possuía rendimentos suficientes para fazer face às despesas do pleito;

(g) Todavia, a jurisprudência tem sido unânime em considerar que a concessão ou não do apoio judiciário depende mais das disponibilidades financeiras do rq.te, do que do volume dos seus bens5;

(h) O Ag.e aufere um rendimento mensal de Pte. 100 000$00;

(i) Tem a seu cargo a mulher e a filha menor, que frequenta a escolaridade obrigatória;

(j) É dono de bens imóveis, mas que não lhe conferem quaisquer rendimentos; encargos, pelo contrário;

(k) Os seus rendimentos não são elevados, tal como facilmente se constata das declarações fiscais juntas;

(l) É improcedente, por outro lado, o argumento de ter constituído advogado, porque tal não implica que não exista carência económica para suportar os encargos normais da acção6;

(m) Resumindo: com o art. 20º, DL 387B/87, 29.12, o legislador quis evitar que a carência económica constituísse obstáculo à realização dos direitos dos cidadãos, mas caso este pedido de apoio judiciário não seja concedido ao Ag.e, o seu acesso ao direito (direito constitucional) será gravemente violado;

(n) Deve ser revogada a decisão recorrida e substituída por outra que conceda. 8. Nas contra-alegações disse o MP:

(a) Competia ao A. demonstrar que não dispunha de meios económicos suficientes para custear a acção;

(b) Mas a prova de insuficiência económica que o A. apresentou é irrisória;

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(c) E são equívocos muitos dos factos invocados para justificar a concessão do apoio judiciário;

(d) Bem andou pois o julgador ao recusá-lo.

9. O recurso está pronto para julgamento, nos termos do disposto no art. 705º CPC, dada a simplicidade de que se reveste a questão.

10. Perante os factos fixados, não é lícito concluir que o recorrente pretendeu obter ilegítima ou, no limite, temerariamente o benefício pedido, como aliás a decisão recorrida começa por afirmar, ao afastar in limine a condenação por má-fé7.

Todavia, o raciocínio sentencial parece afectado por algumas considerações de possível abuso, mas que não têm sustento, e por isso devem ser afastadas8.

Também, em boa verdade, e como é jurisprudência da Relação de Évora, deve ser tido como irrelevante o argumento de que se presume do mandato oneroso, conferido ao advogado, a possibilidade de custear as despesas da causa: o importante papel dos advogados na defesa dos direitos dos cidadãos não se compadece com a resignação de virem a ser pagos pelo erário; é legítimo o esforço de quem não tem meios suficientes para mais, no sentido de poder ainda assim manter a relação de íntima confiança com o mandatário forense que os honorários consubstanciam em propriedade.

Depurada a controvérsia, fica-nos que o recorrente aufere mensalmente Pte. 100 000$00, e para além das despesas apuradas terá naturalmente as de comparticipação na vida do lar, e as comuns consigo próprio.

Por fim, a circunstância de ter feito aquisições imobiliárias recentes, na ausência de dados sobre a fonte dos capitais investidos, e sobre a rendibilidade do investimento, remetem-nos apenas para o susodito quadro factual: ao rq.te cabe apenas o ónus de

7 Sent.: 1. Os factos provados são algo diferentes daqueles outros enunciados na réplica; acreditamos que tal

diferença possa radicar em factos supervenientes à dedução do pedido, pois que, a não ser essa a situação estaríamos perante litigância de má-fé, com as implicações conhecidas por todos os intervenientes, consequências cuja onerosidade supera em muito o valor que o A. suportará de custas em caso de total improcedência do pedido, a saber: Pte. 120 000$00.

8

Sent.: 2….cabia ao A. convencer, através da alegações de factos e não de conclusões, infelizmente tão falhas de

credibilidade para retratar uma situação económica (referimo-nos, por exemplo à circunstância do A. não pagar qualquer imposto sobre o rendimento)…;… 6. Os honorários [dos advogados] obedecem a tabelas aprovadas pela O.A; os honorários que o requerente terá de pagar à ilustre advogada que o patrocina serão, por força da supra-referidas tabelas, bastante superiores ao montante máximo de custas em que pode vir ser condenado.

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alegar a renda efectiva, e não de demonstrar porque razão não tem outros rendimentos.

Será este quadro suficiente para conceder-lhe razão, tendo-se em conta o nível de despesa judiciária fixada (máximo de Pte. 120 000$00)?

Parece que sim, pois representa mais de um mês de ordenado, e o que importa, insiste-se, são as disponibilidades de liquidez do beneficiário, nunca o património imobilizado, mas sem certificada renda: um mês de rendimento para quem o tem inferior à despesa judicial em concreto, pesa sem dúvida na economia individual, e faz barreira à predisposição para se defenderem, sem constrangimento, os direitos ou os legítimos interesses.

Ora, a directiva constitucional, de que a lei do apoio judiciário se nos apresenta como regulamentação estrita, é clara, quando institui como garantia fundamental que não se possa ser impedido, em qualquer medida, de aceder aos tribunais, por défice do estatuto económico-financeiro9: mesmo que dúvida houvesse deveria funcionar em benefício do interessado, logo se não deva curar de mistificação.

Concede-se pois valimento às conclusões do recurso.

11. Assim sendo, vistos os art.s 15º, 16º/1, 17º, 22º/1 e 23º, DL 387B/87, 29.12, concede-se provimento ao recurso, revogada a decisão recorrida, e substituída por esta em que se confere ao recorrente o benefício de litigar com dispensa do pagamento da taxa de justiça e custas.

12. Sem custas, por não serem devidas, dado não ter havido contra-alegação de parte.

9

Não se aceita a opinião de que é estruturante do sistema a preocupação de obter de quem recorre aos tribunais o pagamento de pelo menos uma pequena parte dos custos efectivos da administração da justiça, para se evitar um uso

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