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Este documento faz parte do

Repositório Institucional do

Fórum Social Mundial

Memória FSM

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Controle Social do Uso de Novas Tecnologias

Oficina CERIS - ITS

Eixo Temático: (4) Poder político, sociedade civil e democracia Coordenação: Rogerio Dardeau – CERIS – dardeau@ceris.org.br

Participantes: Gerson Guimarães (ITS); Adriane H. Rodrigues (Ceris); convidados

1. RESUMO1

A velocidade de desenvolvimento de novas tecnologias não vem permitindo nenhuma discussão sobre as mesmas, embora seja sempre possível discutir previamente seu uso, desde que se possa acompanhar as pesquisas em andamento, nos centros especializados das universidades e das empresas. O que se pretende com a oficina é propor uma rede que possa garantir a democratização das informações sobre pesquisa científica e aplicada, de tal modo que setores da sociedade civil interessados no tema ou atingidos pelo mesmo tenham oportunidade de se posicionar e escolher quando e como utilizar os novos conhecimentos. Na prática significa submeter à sociedade as decisões sobre adoção (quando e como) ou não de novos inventos. Seria algo como, observando-se os benefícios da automação bancária, por exemplo, se pudesse propor uma forma tal que os trabalhadores (também participantes do debate) pudessem ter um horizonte planejado de vida, ao invés do desemprego sumário e de súbito. Há muitos exemplos ocorridos no mundo do trabalho, na história recente, e outros por acontecer, além de situações em outros aspectos da vida, como, por exemplo, conseqüências danosas ao meio ambiente.

Mas porque controlar o uso de inovações?

Fundamentalmente por que somos pacientes das mesmas, nos aspectos ambiental, social (especialmente no que tange a oferta de trabalho e emprego), além de saúde etc.

1 CARVALHO, Rogerio Dardeau de. A sociedade em negociação. Inovações

(3)

E quem deve controlar? Governo, por meio de políticas públicas... Conselhos institucionalizados... Sociedade civil... Quem?

2. TEXTO BASE

A primeira observação que se impõe fazer é a de que não há tecnologia surpresa. Inovações tecnológicas não surgem do nada, de um dia para o outro. Embora seja cada dia mais reduzida a duração dos estágios de descobrimento, decisão e desenvolvimento, nos quais se pode monitorar a inovação, conhecendo-se tais processos sempre será possível antecipar-se à aplicação. Por isso lembramos a importância da interação entre trabalhadores, empresas e Universidade. A Universidade ainda é o local onde é concebida e realizada grande parte das pesquisas científicas, que conduzirão às novas tecnologias, e o lugar para onde, geralmente, convergem as discussões dos cientistas de outras instituições de pesquisas, como as mantidas por empresas. Somente através do acompanhamento dos caminhos da ciência será possível a antecipação de seus usos. Não se trata de sugerir aos trabalhadores a criação de centros sindicais de investigação científica. Tampouco a empresários, embora muitas organizações mantenham seus centros, mas de recomendar uma troca permanente de informações com a Universidade e toda a sociedade, de tal modo a evitar surpresas, como as que acometem muitos ambientes de trabalho, quando novos inventos são disponibilizados aos meios de produção. No caso do setor de informática a situação é ainda mais preocupante. As inovações não se restringem às inovações incrementais, mas, com freqüência, nos deparamos com as chamadas inovações radicais, que provocam verdadeiras rupturas nas formas de produção estabelecidas. Desta forma, o ambiente de negociação requer certo conhecimento das matérias em debate, além de uma percepção de cenários, pelos negociadores.

O pesquisador inglês Brian Wynne2 prescreve a negociação de tecnologia. Ele entende que o uso de tecnologias não dominadas determina a participação da sociedade, a qual

2 Brian Wynne, Uncertainty and Environmental Learning: Reconceiving Science and

Policy in Preventive Paradigm, Global Environmental Change - London, junho de 1992.

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deverá decidir sobre a adoção das mesmas, em função das incertezas em torno delas. Reconhece-se que não há tecnologia absolutamente controlada. Ao falar sobre a relação entre o conhecimento científico e a tecnologia, quando se observam indeterminações, ele afirma: "Os aspectos puramente técnicos de tal comprometimento intelectual se

perdem quando surgem perguntas epistêmicas como a de descobrir a razão pela qual tal conhecimento está sendo montado afinal. Isso está sempre aberto a avaliação e negociação pela sociedade, embora isso nem de longe queira dizer que a verdade científica possa estar sujeita à escolha da sociedade.”

Schumpeter nos lembrava que "a ética necessita dominar a técnica". É preciso dividir as responsabilidades pela aplicação de novos inventos, através de ampla negociação, a qual somente ocorrerá com o conhecimento (cultura técnica), pelas partes envolvidas, das implicações da inovação tecnológica sobre o trabalho humano, o meio ambiente, o nível de emprego etc.

Nesse sentido, invocamos a observação de Norberto Bobbio3 sobre um aspecto de liberdade que se precisa conquistar: “O que caracteriza a sociedade tecnocrática não é

o homem-escravo, ... mas o homem reduzido a autômato, a engrenagem de uma grande máquina da qual não conhece o funcionamento nem a finalidade.” E completa: “A potência que caracteriza a sociedade tecnocrática é a potência do conhecimento, que assegura o domínio mais irresistível sobre a natureza e sobre os outros homens e é, ao mesmo tempo, a potência mais impessoal...” Estas reflexões de Bobbio reivindicam o

sentido de liberdade de opção por determinada tecnologia pela sociedade que dela quiser dispor. Somente os grupos sociais interessados e/ou afetados pelo uso de certa tecnologia poderão decidir pela adoção da mesma. Não deve ser prerrogativa de empresários a decisão sobre 'como produzir'. Riscos e incertezas devem ser pesados com empregos e qualidade de vida. Spur, Specht e Herter4, em seus estudos sobre projeto de trabalho em sistemas avançados de produção, também entendem que somente a integração de atores sociais interessados em determinado processo produtivo pode

3 Igualdade e Liberdade, Ediouro - 1996, p. 87.

4

SPUR, G., SPECHT, D. & HERTER, P. J. Job design, in design of work and development of personnel in advanced manufactoring. New York : John Wiley & Sons,1994. p. 1-40.

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propiciar liberdade ao projeto e otimização dos sistemas de trabalho, através da incorporação de inovações tecnológicas.

Assim como se enfrenta o problema da ignorância5 ouvindo a sociedade, é preciso que se reconheça também a possibilidade de incorreções nas decisões de um colegiado sociotécnico. No entanto, entendemos infinitamente preferível tal processo que, democrática e livremente, partilha erros e acertos, a qualquer outro, discricionário, ainda que revestido da melhor técnica, a qual poderá ser sempre a melhor, pela ótica de determinado ator, nela interessado.

Leandro Konder afirma, em artigo publicado em O Globo de 10 de maio de 1999: "Sem

dúvida, existem formas e campos do saber que exigem conhecimentos especializados. Ninguém deve negar que, para abordar determinadas questões científicas, é necessária uma competência específica. Impõe-se, contudo, uma ressalva: os problemas cruciais da democracia e os temas essenciais com que os seres humanos se defrontam ao decidir quanto ao destino deles não se deixam reduzir a discussões de 'técnicos' e não podem ser monopolizados por nenhum grupo de pessoas 'competentes'." Concordamos com a

afirmação de Konder, entendendo que se trata da complexa questão de definir limites entre o que exige e o que não exige competências específicas, além de quando é e

quando não é exigível um conhecimento de certa técnica, no debate social.

3. DECISÕES

A oficina avançou para iniciar uma rede de interessados no tema, com a finalidade de amadurecer o assunto e propor novas iniciativas.

NOTAS DE RODAPÉ

1

CARVALHO, Rogerio Dardeau de. A sociedade em negociação. Inovações tecnológicas, trabalho e emprego. Mauad Editora. 151p. Rio de Janeiro, 2001.

5 IGNORÂNCIA, segundo Brian Wynne, é a "situação em que não se concebe o

desconhecido". A ignorância aumenta com o aumento de compromissos baseados num dado conhecimento.

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2

Brian Wynne, Uncertainty and Environmental Learning: Reconceiving Science and Policy in Preventive Paradigm, Global Environmental Change - London, junho de 1992.

3

Igualdade e Liberdade, Ediouro - 1996, p. 87.

4

SPUR, G., SPECHT, D. & HERTER, P. J. Job design, in design of work and development of personnel in advanced manufactoring. New York : John Wiley & Sons,1994. p. 1-40.

5

IGNORÂNCIA, segundo Brian Wynne, é a "situação em que não se concebe o desconhecido". A ignorância aumenta com o aumento de compromissos baseados num dado conhecimento.

Referências

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