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PODER JUDICIÁRIO SÃO PAULO

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PODER JUDICIÁRIO

SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL Décima Câmara

APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 565.514-0/3 – SÃO PAULO Apelante: Elena José da Costa Luz

Apelado : Instituto Nacional do Seguro Social

DOENÇA DO TRABALHO. Em infortunística o que se repara em forma de prestações mensais, é a incapacidade resultante do acidente ou da doença profissional, e não o fato em si mesmo considerado.

ASMA BRÔNQUICA. Nexo causal. Não restou comprovado que a asma seria de origem ocupacional. Era fato constitutivo do alegado direito da Segurada e ônus do qual não se desincumbiu, conforme dispõe o artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil.

Voto nº 3.847

Visto.

ELENA JOSÉ DA COSTA LUZ ingressou com Ação de Prestações por Acidente do Trabalho contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, qualificação e caracteres das partes nos autos, alegando que em razão do exercício de suas funções, tornou-se portadora de “asma ocupacional”.

Encartado o laudo pericial e vencida a instrução, houve entrega da prestação jurisdicional, sendo julgada improcedente a pretensão.

ELENA JOSÉ DA COSTA LUZ recorreu enfatizando

que “... crônica e totalmente incapacitante é a doença asmática apresentada

pela autora, sendo que o fator laboral deve prevalecer sobre qualquer outro

...” (folha 122).

O INSS apresentou contra-razões, sustentando o acerto da r. decisão.

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A PROMOTORIA DE JUSTIÇA e a PROCURADORIA DE JUSTIÇA opinaram pelo não provimento do apelo.

É o relatório, adotado no mais o da r. sentença.

A doença profissional ou do trabalho assenta-se nos requisitos de causalidade, de prejudicialidade e do nexo etiológico. Causalidade porque, em princípio, não há dolo. Prejudicialidade em razão da lesão corporal ou perturbação funcional que pode causar a morte, ou a perda, ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. A configuração do nexo etiológico ou causal, aliado aos demais elementos caracterizadores, conduz, inevitavelmente, à procedência da pretensão que for deduzida em Juízo .

NEXO, do latim nexu, significa vínculo ou ligação. ETIOLÓGICO refere-se à etiologia, do grego aitologia, que pode ser entendido em infortunística como o estudo sobre a origem do mal incapacidade. CAUSAL, do latim causale, é o que se relaciona com a causa. É essencial para o reconhecimento do acidente e da doença profissional ou do trabalho, a relação de causa e efeito, o nexo etiológico ou causal.

Está constitucionalmente garantido que todo dano decorrente de acidente do trabalho deve ser reparado, e que esse dano é coberto pelo seguro obrigatório acidentário a cargo do INSS. Dano, derivado do latim damnun, de forma genérica quer dizer todo o mal ou ofensa sofrido por alguém. No sentido jurídico é apreciado em razão do efeito que produz. É o prejuízo causado.

A perícia médica revelou:

“... as crises de asma brônquica que a Autora possa ter apresentado enquanto funcionária da empresa fosse decorrentes dos produtos de limpeza utilizados pela mesma no desempenho de suas atividades laborativas, estas teriam surgido antes de dois anos, ainda

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mais tendo em vista que a Autora anteriormente já tinha trabalhado em serviços de limpeza em outras empresas e os produtos normalmente usados nesses serviços são sempre os mesmos e são também os produtos correntes de uso doméstico.

Quanto a problemas ambientais, podemos afirmar que pela vistoria efetuada no local de trabalho da Autora não constatamos no mesmo presença de elementos que pudessem permitir o levantamento da hipótese de ter a Autora apresentado quadro de asma ocupacional (Vide vistoria em anexo).

As crises de asma que a Autora possa ter apresentado enquanto funcionária de empresa devem portanto ser de origem extra laborativa, sendo que os fatores heredoconstitucionais devem ter tido grande influência no caso, pois conforme declaração da Autora, em ‘Antecedentes’ referiu ser o pai portador de ‘bronquite’ e a filha apresentar ‘sintomas alérgicos’.

Temos também a considerar que as referidas crises não foram frequentes nem intensas, visto que não deixaram sequelas clínicas, radiológicas ou funcionais, encontrando-se a mesma atualmente bem da parte pulmonar, apta ao trabalho, sem restrições ...” (folha 53).

Asma, do grego asthma, é um dos males do aparelho respiratório. Caracteriza-se por acessos recurrentes de dispnéia paroxística que duram de alguns minutos até a alguns dias, com ofegos chiantes, tosse e sensação de constrição, que é originária das contrações espasmódicas dos brônquios. Brônquica é o que se relaciona aos brônquios.

Asma brônquica, assim, consiste na dispnéia paroxística recurrente, que se manifesta particularmente na fase expiratória, em razão de reação alérgica nos brônquios para a absorção de alguma substância à qual a pessoa é hipersensível.

Trata-se de doença pulmonar que se caracteriza pela diminuída ventilação resultante de uma obstrução bronquiolar difusa. É uma doença alérgica. A árvore brônquica acaba se encurtando e

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contrai no decorrer da expiração, os bronquíolos obstruídos reduzem o fluxo aéreo e, então, surge a explicação para as expirações prolongadas, sibilantes, com tosse e expectoração no fim do acesso.

Ocorre o aprisionamento do ar, que contribui para distensão e ruptura das paredes alveolares e, quando prolongado, a outras alterações características do enfisema pulmonar.

Consiste a lesão obstrutiva em edema e infiltração celular da parede, tampões mucosos e espasmo da musculatura lisa.

Encontra-se a árvore brônquica sob o controle do sistema nervoso autônomo, assim como todos os outros órgãos possuidores de musculatura lisa, que reage a diversos estímulos físicos, químicos e psicogênicos.

A umidade, o frio, o fumo, as poeiras irritativas, os odores fortes e os estímulos psicogênicos são responsáveis, freqüentemente, por uma ligeira contratura do bronquíolo normal que, acrescido do estreitamento bronquiolar, pode provocar ataques francos de asma brônquica.

Cuida-se de doença caracterizada por aumento da sensibilidade da traquéia e dos brônquios a diversos estímulos e traduzida pela constrição difusa das vias aéreas, cuja gravidade varia espontaneamente ou sob o efeito do tratamento. Manifesta-se como dispnéia episódica, tosse e espirros.

Quem sofre de asma acredita conhecer a causa: A alergia. Mas há quem afirme que a asma brônquica pertence à categoria das doenças sobre as causas desconhecidas pela medicina. É que qualquer tecido, ao menos em tese, pode reagir alergicamente, sendo correto que as partes mais sensíveis costumam ser a pele e o tecido subcutâneo.

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substâncias externas sem nocividade pode, com o tempo, provocar reações de alergia de diferentes formas, (v. g. no caso dos eczemas de profissão), iniciando-se pelo eczema do cimento no operário até o eczema de anestésico de dentista. O tratamento seguro será evitar rigorosamente a substância alergizante, mas, no caso de eczema profissional o remédio existente será a troca de profissão.

Essa a razão pela qual comumente dizem as pessoas relacionadas às áreas médicas, que a asma brônquica é uma doença alérgica e a asma alérgica não é curável, principalmente se se levar em conta que a alergia e a psique têm no complexo a asma como uma valorização de indivíduo para indivíduo.

O próprio nome diz: Brônquico. Vale dizer: As reações desenvolvem-se nos brônquios, provocando o espasmo, a tumefação, a secreção de muco. Afetam os órgãos respiratórios e, por isso, seriam causas alergizantes as substâncias que têm acesso aos pulmões pelo ar inspirado, que são denominados de agentes causadores da alergia.

Esses agentes causadores poder ser identificados, entre outros, como partículas de pós, ou de sujeiras, de penas de colchões, de pêlos de animais, de tapetes, ao lado de substâncias odoríferas (de cheiro bom ou ruim).

Não se deve, contudo, procurar as causas da asma brônquica apenas nos agentes alérgicos da inalação, pois, conhecidas as situações de pessoas que têm constatadas pela meteorologia e/ou clima, tanto ao desencadeamento como para o agravamento das doenças.

Há quem afirme que algo estranho ou grande choque emocional pode fazer desaparecer a asma, citando exemplos de pessoas que se libertaram do mal após uma catástrofe, (v. g. ir para a frente de batalha, para a prisão, para um campo de concentração),

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voltando, evidentemente, depois de algum tempo. Também, afirmam, que o contrário pode ser possível, pois a influência do sistema nervoso vegetativo e da psique numa doença alérgica deve estar fora de dúvida.

Na asma alérgica a doença está demonstrada em razão da hipersensibilidade, que não começa no sentido de um mecanismo simples, mas surge na dependência de vários fatores.

Em conclusão, pode-se afirmar que entre a asma alérgica e a asma psíquica não há nenhuma diferença. A alérgica é mais a expressão corporal de um distúrbio psíquico; a brônquica é uma doença de expressão.

Pessoas sensíveis a certas substâncias (alérgenos) desenvolvem ao contato com elas uma série de reações, isoladas ou em conjunto, que podem se caracterizar por processos eruptivos (urticária, por exemplo), irritações de mucosas (rinites, conjuntivites), espasmos brônquicos (asma brônquica), além de inúmeras outras manifestações menos comum.

Faz a asma brônquica parte das doenças alérgicas, sendo, assim, de origem heredo-constitucional.

Toda essas manifestações alérgicas são desencadeadas quando o organismo é atingido pelas substâncias alergizantes às quais é sensível, substâncias essas as mais variadas e que podem atingir ao obreiro por via sistêmica, através da ingestão de certos alimentos, medicamentos, ou por via cutânea, quando ele manuseia certos produtos que contém substâncias a que é alérgico (dermatites alérgicas de contato) ou, ainda, por meio da via respiratória, pela inalação dessas substâncias.

É comum também crises de alergia desencadeadas por processos infecciosos, principalmente por focos infecciosos das vias

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aéreas superiores, como sinusite, rinites, amigdalites.

No caso específico da asma brônquica, quando o organismo do obreiro é atingido pelas substâncias alergizantes, elas vão atuar sobre a musculatura brônquica, ou músculos de Reissensen, os quais se contraem e causam um espasmo brônquico, pois, essa musculatura é formada por pequenos fascículos circulares que envolvem os brônquios.

Quando essa musculatura causa o espasmo brônquico, diminui sensivelmente a sua luz e forma-se um sistema valvular, em que o ar penetra nos alvéolos com facilidade, mas não consegue sair, ocasionando, então, uma grande dificuldade expiratória. Como conseqüência ocorre uma distensão dos pulmões, com uma hiper reação alveolar e, ficam também retidas as secreções normais, o que vem causar uma maior dificuldade respiratória e prejudicar consideravelmente a hematose.

Uma vez cessada a atuação do elemento alergizante, cessará o espasmo brônquico, haverá uma melhora dos fluxos aéreos, as secreções retidas são expelidas e a respiração voltará ao normal.

É evidente que um obreiro suscetível à asma brônquica, sempre que entrar em contato com agentes alergizantes, aos quais seja sensível, irá apresentar esse quadro clínico (crise asmática), que poderá ser mais ou menos intenso conforme o agente alergizante e, ainda, a intensidade de contato com esse agente.

Crises repetidas e intensas poderão, com o decorrer do tempo, provocar alterações estruturais nos brônquios, bronquíolos e alvéolos devido a hipertensão do ar nos alvéolos durante as crises, bem como à hiperdistensão desses mesmos alvéolos em razão do esforço necessário que o obreiro executa através da musculatura torácica e abdominal, que, logicamente, influem na respiração para que se já mantido um fluxo aéreo mínimo e preciso para a respiração.

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Todo esse quadro clínico que se estabelece durante as crises, quando repetidos continuamente, além das alterações já descritas, favorecem também ao assentamento de processos infecciosos, o que vem a complicar ainda mais o quadro geral.

Vai, assim, o obreiro, caminhando para um processo crônico em que a obstrução brônquica passa a ser permanente, as infecções secundárias são freqüentes e os alvéolos passam a permanecer sempre distendidos, instalando-se uma bronquite obstrutiva crônica, podendo ocorrer o enfisema pulmonar.

Verifica-se, dessa forma, que a asma brônquica é uma doença única e exclusivamente de origem heredo-constitucional, não tendo as atividades laborativas participação alguma em sua etiologia.

Não obstante, trabalhadores sujeitos a asma brônquica colocados em locais ou em serviços onde haja contato com agentes alergizantes, poderão ter seu quadro agravado, provocando alterações irreversíveis em sua estrutura bronco-alveolar, que lhe vão ocasionar uma insuficiência respiratória obstrutiva e, em alguns casos, mais graves, até com componente restritivo.

A avaliação da incapacidade do obreiro portador de asma brônquica, como de todas as doenças vulneráveis, é feita pelos exames clínico, radiológico e pelas provas de função pulmonar.

Não restou comprovado que a asma é de origem ocupacional. Era fato constitutivo do alegado direito da Segurada e ônus do qual não se desincumbiu, conforme dispõe o artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil.

A teoria da concausa é admitida pela lei e pode ser definida como sendo o elemento que concorre com outro, formando o nexo entre a ação e o resultado, entre o acidente e/ou doença profissional ou do trabalho e o trabalho exercido pelo empregado.

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Deste modo, prescinde-se do nexo causal direto e exclusivo entre o dano e o trabalho, para a configuração do acidente ou da doença profissional ou do trabalho.

Pouco os esclarecimentos nesse sentido podem ser evidenciados dos depoimentos das testemunhas José Batista da Silva

(folhas 95/97), Marcelo Guerreiro (folhas 114/115) e Wilson dos Santos (folhas 116/117).

As provas não permitem concluir, com segurança, que o trabalho exercido pela Apelante agiu como concausa no agravamento da doença e não admitem a aplicação do princípio in dubio pro misero.

Em infortunística o que se repara em forma de prestações mensais, é a incapacidade resultante do acidente ou da doença profissional e não o fato em si mesmo considerado.

Em face ao exposto, nega-se provimento ao recurso.

IRINEU PEDROTTI Relator

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